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Divórcio unilateral ou impositivo

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Universidade de Ribeirão Preto
Faculdade de Direito Laudo de Camargo
Curso de Direito
Divórcio unilateral ou impositivo: aplicabilidade no sistema jurídico brasileiro
MARIA EDUARDA CASTRO CORRÊA
RIBEIRÃO PRETO
Dezembro/2020
DIVÓRCIO UNILATERAL OU IMPOSITIVO: APLICABILIDADE NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
RESUMO
Este presente trabalho acadêmico tem como finalidade tratar sobre o divórcio, mais especificamente, o divórcio unilateral ou impositivo e sua aplicabilidade no Brasil. Para tanto, foram utilizadas doutrinas, jurisprudências e legislação vigente. 
1 INTRODUÇÃO
Com o advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, o direito de família brasileiro passou por uma grande e positiva transformação. Desde sua aprovação, a dissolução do casamento por meio do divórcio, não ficou mais dependente de prévia separação judicial por mais de um ano ou ainda de separação de fato por mais de dois anos. 
Esse progresso permite que agora o casamento possa ser dissolvido por divórcio, independentemente de qualquer condição e, a qualquer tempo. Sendo assim, os cônjuges podem se divorciar por mútuo acordo ou de forma litigiosa, nem a necessidade de consenso entre eles.
O retardo do Brasil sobre a pacificação desse tema é reflexo, sobretudo, da força social da igreja nos assuntos referentes a vida conjugal. A movimentação religiosa por muito tempo foi capaz de limitar e impedir os avanços da dissolução do matrimônio. Contudo hoje em dia é garantido constitucionalmente, a qualquer cidadão, o direito ao divórcio. 
2 CONSIDERAÇÕES 
2.1 Conceito de divórcio 
Divórcio é a medida que dissolve o vínculo matrimonial válido, resultando, consequentemente, na extinção dos deveres conjugais. De acordo com Pablo Stolze (2020, p. 2004), o divórcio: 
Trata-se, no vigente ordenamento jurídico brasileiro, de uma forma voluntária de extinção da relação conjugal, sem causa específica, decorrente de simples manifestação de vontade de um ou ambos os cônjuges, apta a permitir, por consequência, a constituição de novos vínculos matrimoniais.
Cabe, portanto, ao ordenamento jurídico, no sentido de promover a dignidade da pessoa humana, garantir meios diretos, eficazes e não burocráticos para a desvinculação do matrimônio irresolúvel. 
A aprovação da Lei nº 11.441, de 2007, foi umas medidas importantes que impulsionaram a celeridade desse direito. Essa Lei regulamentou a separação e o divórcio administrativos, ou extrajudiciais, no Brasil, permitindo que casais, que não tenham filhos menores ou incapazes, pudessem de forma consensual, lavrar escritura pública de separação ou divórcio, em qualquer Tabelionato de Notas. 
Outra medida significativa, foi a promulgação da Emenda Constitucional nº 66/210, chamada de “PEC do Divórcio” modificando §6º do artigo 226 da Constituição Federal e, estabelecendo uma revolução na disciplina no País. Vejamos a atual redação do aludido artigo: “§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. 
2.2 Modalidades e efeitos do divórcio 
No que concerne ao procedimento do divórcio, divide-se em duas modalidades: o divórcio judicial (consensual ou litigioso) e divórcio extrajudicial. 
O divórcio judicial se torna obrigatório quando houver filhos menores ou incapazes, neste caso poderá ser consensual ou litigioso. Será consensual quando o casal decidir de forma pacífica e conjunta, colocar fim ao matrimônio, contudo, não desejam ou não podem se valer do divórcio extrajudicial consensual, por terem filhos menores, por exemplo. É necessário que os envolvidos concordem em todos os termos do divórcio, isso torna o processo mais célere, pois diminui a atuação do juiz. 
Por outro lado, o divórcio judicial será litigioso quando as partes não estiverem de acordo com os termos do divórcio, ou ainda, quanto ao divórcio em si, isso torna o processo mais lento e custoso. Importante salientar que a decretação do divórcio independe da aceitação da outra parte, ambos são livres para requerer. Nesse caso será apreciado os demais pontos, como: partilha de bens, regime de guarda, alimentos etc. 
Por último, existe a modalidade do divórcio extrajudicial, que acontece em cartório de notas via Escritura Pública, ou seja, pela via administrativa. No entanto, há requisitos indispensáveis a serem cumpridos, como: ausência de filhos menores ou incapazes, a consensualidade das partes, que o acordo seja celebrado por escritura pública, com o patrocínio de advogado comum ou particular, no qual conste as questões essenciais do divórcio. Caso haja discordância, o processo é remetido a via judicial. Para gerar os efeitos pessoas da dissolução, é necessário levar a escritura constando o acordo do casal para registro no cartório de registro civil, e no cartório de registo de imóveis 
2.3 Aplicabilidade do divórcio unilateral no sistema jurídico brasileiro
Em decorrência da constante evolução social, não basta que as tradições ou costumes se transforme, também se faz necessário que o poder judiciário e legislativo se moldem ao atual cenário, buscando sempre abranger as necessidades da coletividade. 
Desta forma, o direito de família vem ganhando destaque por suas alterações e inclusões. Dentre elas, analisaremos a regulamentação do divórcio impositivo ou unilateral.
Tudo teve início com a edição do provimento de número 06/2019, pela Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça de Pernambuco. A proposta de redação do provimento partiu do Des. Jones Figueiredo Alves: 
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA, PROVIMENTO n. 06 /2019. Ementa: Regulamenta o procedimento de averbação, nos serviços de registro civil de casamentos, do que se denomina de “ divórcio impositivo ” e que se caracteriza por ato de autonomia de vontade de um dos cônjuges, em pleno exercício do seu direito potestativo, no âmbito do Estado de Pernambuco, e dá outras providências.
Simplificando, bastaria que qualquer um dos cônjuges se dirigisse diretamente ao Cartório de Registro Civil e requeresse de forma unilateral o divórcio. O Desembargador considerou, para tomada dessa edição, as seguintes circunstâncias: a necessidade de se estabelecer medidas desburocratizantes ao registro civil, nos casos do divórcio; o fato de que a própria EC 06/2019 e o artigo 226, §6º da CF não determinarem exigências objetivas ou subjetivos, exceto a demonstração de vontade do requerente e; o princípio da autonomia privada. 
RESOLVE: Art. 1º. Indicar que qualquer dos cônjuges poderá́ requerer, perante o Registro Civil, em cartório onde lançado o assento do seu casamento, a averbação do seu divórcio, à margem do respectivo assento, tomando-se o pedido como simples exercício de um direito potestativo do requerente.
O deferido requerimento seria facultado apenas àqueles que não possuam filhos menor de idade ou incapazes, por se tratar de ato unilateral se inferi que o requerente optou por partilha dos bens, caso haja, subsequente. É necessário que o interessado seja assistido por advogado ou defensor público, que assinara o pedido e a averbação. Por se tratar de ato unilateral independe da presença ou concordância do outro cônjuge, sendo necessário apenas a sua notificação pessoal. Após efetivada a notificação, em cinco dias de procede a averbação. 
Outras questões pertinentes de direito, tal como, tutelas, alimentos, partilhas de bens, deveram ser tratadas em juízo competente, com as partes em situação jurídica estabilizada e reconhecida como divorciadas. 
Contudo, o provimento ainda dispõe de algumas nuances, e vem sofrendo muitas decisões e apontamentos quanto a sua aplicabilidade. O Corregedor Nacional de Justiça manteve a decisão que proibiu o divórcio impositivo no país, entendendo que a matéria afeta a competência legislativa federal, pertence à União, como prevê o artigo 22 da CF: “compete privativamente à União legislar sobre: (…) XXV – registros públicos”. 
Como argumento alegou que o provimento não poderia elaborar novas atribuições para os serviços extrajudiciais, sem que haja expressa previsão legalnesse sentido. 
3 CONCLUSÃO
Ante ao exposto, se faz necessário agora analisar a viabilidade ou não dessa nova espécie de divórcio chamado impositivo ou unilateral. 
Este provimento, assim como os anteriores a ele, necessita de melhor regulamentação, para se sanar possíveis erros e desvios. Mas ainda assim, não se pode negar o grande impulso que essa medida proporcionou no judiciário. Nossa sociedade, como já dizia Bauman, é uma sociedade líquida, ou seja, se encontra em constante mudança, não seria diferente no contexto dos relacionamentos matrimoniais. 
A finalidade do judiciário é atender aos anseios da sociedade, e garantir meios seguros e eficientes para que todos alcancem seus direitos. Burocratizar ainda mais as atuais normas, ou ainda, limitar uma desburocratização dificulta a busca por esses direitos, indo na contramão do princípio da celeridade do processo e dignidade da pessoa humana. 
O divórcio no Brasil, sempre foi muito moroso, e isso se torna ainda pior por se tratar de assuntos tão delicados e íntimos aos envolvidos. As varas de família estão amontoadas de processos, litígios que crescem a cada dia mais, sendo nítido a necessidade de novos meios processuais que tornem esse processo célere. 
O divórcio impositivo tem grande viabilidade para se tornar uma ferramenta importante de desafogamento do judiciário. Já está em tramitação o Projeto de Lei n. 3.457/2019, que tende incluir o artigo 733-A no CPC. O caput do aludido artigo estabelece que, caso não haja aprovação de um dos cônjuges, o outro poderá, de forma unilateral, requerer averbação do divórcio no Cartório de Registros do local de lançamento do casamento. Desde que os envolvidos não possuam filhos nascituro ou incapazes. 
Nos resta agora, aguardar a tramitação do deferido projeto e caso aprovado torcer para que sua aplicação seja conveniente e legítima, e que acima de tudo beneficie o judiciário e consequentemente as partes envolvidas no processo. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família. 16. ed. São Paulo. Saraiva Educação, 2019.
STOLZE, Pablo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único. 4. ed. São Paulo. Saraiva Educação, 2020.

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