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Daniela Carvalho - TLVI CETOACIDOSE (CAD) E SÍNDROME HIPEROSMOLAR HIPERGLICEMICA (SHH) É um tema muito comum no PS e exige um pensamento muito rápido (isto porque por exemplo o paciente irá chegar apenas com dispneia). CETOACIDOSE DIABETICA QUADRO CLÍNICO • Náuseas e/ ou vômitos • Anorexia • Dispneia – respiração de Cantani/ Kussmaul • Hálito cetônico • Desidratação -> começa a espoliar e perder água junto • Alterações do nível de consciência • Poliúria e polidipsia podem estar presentes (mas não é a “marca registrada” da cetoacidose) A cetoacidose é uma complicação aguda da DM que cursa com hiperglicemia, acidose metabólica, desidratação e cetose. • O paciente chega neste ponto pois existe uma deficiência profunda de insulina. • Ocorre mais frequentemente na DM do tipo I pois a deficiência de insulina é grave fazendo com que o organismo busque outras vias como fonte de energia, mas também pode estar presente no DM do tipo 2. • Pode ser a primeira manifestação da DM -> ocorre frequentemente de chegar jovens no PS que não eram sabidamente diabéticos e o que faz ele descobrir é a cetoacidose. • Pode acontecer tambn na DM tipo 2 -> se houver uma deficiência grande. o Quando há deficiência intensa de secreção insulínica em relação ao estado de stress catabólico. o Glicotoxicidade da célula beta. o DM Flatbush -> se apresenta como DM1 mas na realidade é DM 2. o Inibidores do cotransportador Na-glic 2 (SGLT-2) -> medicação que pode causar cetoacidose em pleno tratamento. EPIDEMIOLOGIA • Mortalidade < 5% • Discretamente > gênero feminino • Mais frequente em adolescentes o Mais frequente em adolescentes por mal adesão ao tratamento ou por não saber ser diabético. • Incidência anual 1-5% da população. • Na maioria das vezes – prontamente revertida o Porém o problema de base deve ser corrigido. CAUSAS • Infecções (30-39%) • Omissão do uso de insulina (21-49%) • Brasil – 2018 o Infecções – 50% o Má aderência ao tratamento – 33% o Primodescompensação – 8% Daniela Carvalho - TLVI Outras causas • Situações de stress agudo: acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), pancreatite aguda, traumatismo, choque, hipovolemia, queimaduras, embolismo pulmonar, isquemia mesentérica etc. • Problemas na bomba de insulina • Gestação • Abuso de substâncias (p ex álcool, cocaína) • Outras patologia associadas (acromegalia, hemocromatose, hipertireoidismo) • Uso de medicamentos: corticosteróides, diuréticos (tiazídicos, Clortalidona), agentes simpaticomiméticos (albulterol, dopamina, dobutamina, terbutalina, ritodrina), bloqueadores α- adrenérgicos, bloqueadores β-adrenérgicos, pentamidina, inibidores de protease, somatostatina, fenitoína, antipsicóticos atípicos, (loxapina, glucagon, interferon, bloqueador de canal de cálcio, clorpromazina, diazóxido, cimetidina, encainida, ácido etacrínico). • Transtornos alimentares (compulsão alimentar, bulimia). FISIOPATOLOGIA • Insulina -> hormônio anabólico • Ausência de insulina: o Ação dos hormônios contrarreguladores (glucagon, cortisol, catecolaminas). o Favorecimento de processos catabólicos: ▪ Lipólise ▪ Proteólise ▪ Glicogenólise • Lipólise: o Ácidos graxos → Acetil-CoA → corpos cetônicos: ▪ Ácido acetoacético ▪ Ácido beta-hidroxibutírico (BHB) ▪ Acetona o Aumento de corpos cetônicos → ACIDOSE METABÓLICA! • Glicogenólise: o ↓ da utilização periférica de insulina o ↑ secreção hepática de glicose (gliconeogênese, glicogenólise) o ↓ da excreção de glicose o Aumento da osmolaridade → deslocamento de fluidos LIC-LEC → desidratação celular. o Vence o limiar renal → diurese osmótica → desidratação. A insulina é um hormônio anabólico e na sua ausência ocorrerá a produção de hormônios contrarreguladores e aumento do catabolismo visando o aumento da produção de energia. É a insulina que permite a entrada da glicose nas células e quando ela está em baixa quantidade, as celulas irão promover a quebra de proteínas, lipídeos e glicogênio (para obtenção de energia por outras vias). A quebra de lipídeos leva a formação de Acetil- CoA, que em excesso não irá ser utilizada no ciclo de Krebs e com isto formará os corpos cetônicos. Este excesso de corpos cetônicos irá promover a acidose metabólica. Com o ph sanguíneo ácido, na tentativa de reverter isso o corpo tenderá a hiperventilação para “jogar ácido fora” tentando estabilizar o ph. A gliconeogênese a partir do glicogênio hepático, irá aumentar a glicemia. Isto irá gerar um aumento violento da osmolaridade que irá sobrecarregar os rins (passará a excretar glicose – normalmente não excreta) e as celulas passam a perder líquido do intracelular (desidratação intracelular) -> perda de osmolaridade e volemia. Daniela Carvalho - TLVI EXAMES LABORATORIAS • Dextro elevado – glicemia > 250 o Porém o paciente começa a passar mal mesmo com a glicemia não tão alta assim pois a glicose não tem “para onde ir” já que não tem a insulina e porque a cetonúria estará aumentada. • Cetonemia • Cetonúria 3 a 4+ • Ureia e creatinina -> elevação (desidratação -> insuficiência renal pré-renal) o Elevação da ureia e creatinina devido a desidratação. • Hemograma -> leucocitose, ↑ hematócrito • Na sérico - ↑, ↓ ou normal • K sérico - ↑, ↓ ou normal o O Na e K podem estar normais pois é a medida sérica (neste caso o corpo tenta mante – los em níveis normais, mesmo que seja retirando – o da reserva corporal). O Na pode estar reduzido pois quando há desidratação haverá uma tendência de concentração maior dos eletrólitos. O K pode estar diminuído por alguma contra regulação por exemplo. • Gasometria arterial -> irá mostrar acidose; se for só pela cetoacidose, o lactato pode estar normal mas se for em caso de sepse ele estará aumentado. o Ânion GAP o Lactato – geralmente baixo • ECG o E importante pois pode nos mostrar DD; não tem ECG típico de acidose mas pode demonstrar alteração eletrolítico como a hipocalemia (achatamento da onda T/ inversão). SÍNDROME HIPEROSMOLAR HIPERGLICEMICA • Anteriormente chamada de coma hiperosmolar -> nem sempre haverá coma. • Hiperglicemia severa > 600 mg/ dL o Aqui a glicemia é muito maior pois não há produção de corpos cetônicos ou outras substâncias que promovam algum quadro clínico e por isto o paciente só irá para o PS quando a glicemia já estiver extremamente alta. • Ausência de cetose ou cetoacidose • Desidratação profunda (comum insuficiência renal) o O paciente se queixará de muita sede e que toda a água que ingere é eliminada no xixi. • Depressão neurológica • Osmolaridade > 300 mOsm (mecanismo principal) o Neste caso a osmolaridade estará muito elevada. • Pacientes em meia idade, idosos, DM tipo 2 o É uma complicação que ocorre geralmente nos pacientes dos pacientes DM 2. o Geralmente o problema de base é mais complexo. • Mortalidade 40-70% o Possui alta mortalidade pois o quadro é de difícil reversão. • É comum ocorrer insuficiência renal aguda o O rim para de funcionar adequadamente pois não há sangue com pressão suficiente para ele. • Não há hálito cetônico nem respiração de Cantani ou Kussmaul Daniela Carvalho - TLVI o Não há produção de corpos cetônicos e como não há acidose metabólica, não haverá a necessidade de uma respiração compensatória e por este motivo não há respiração de Cantani ou Kussmaul. • Bicarbonato de Na geralmente > 15 o Isto porque não há acidose metabólica (quando há acidose, ocorre um consumo de bicarbonato na tentativa de regular o ph e por este motivo ele tenderá a estar reduzido). • Fórmula da osmolaridade: Osmolaridade = 2x (Na + K) + gli/18 + Ur/6 o Normal = 285 – 295 mOsm/kg o Osmolaridade > 330 → torpor e coma ▪ Se necessário intubamos TRATAMENTO – CAD SHH O tratamento é geral para a CAD e a SHH. 1º Corrigir a desidratação 2 º Corrigir DHE (distúrbios hidroeletrolíticos– K e Na) 3º Correção da hiperglicemia e da osmolaridade Tratar a causa de base!!! É necessário corrigir a desidratação pois isto nos ajudará saber se poderemos usar a insulina ou não. Se o paciente estiver muito desidratado e damos insulina para o paciente, a insulina irá jogar glicose para dentro da célula, que junto com esta irá permitir também a entrada do K causando uma hipopotassemia importante -> se entramos com a insulina antes de corrigir a desidratação não teremos meios de corrigir este K, pois não é possível fazer isto rápido pois fazemos em bomba de infusão e o paciente irá morrer por arritmia fatal (não é possível fazer em bolus a reposição de K pois também pode matar o paciente). A própria hidratação pode reduzir o K e caso reduza muito, será possível repor por infusão contínua em um estágio em que ainda seja possível. Se houver uma hipernatremia importante, a própria hidratação já será com soro ao meio (soro com metade da concentração de Na de forma que dê mais água do que só Na). Por fim deve – se fazer a correção com insulina assim que tivermos segurança. • Hidratação vigorosa! o Expansores plasmáticos? – pode ser até um cristaloide o Alvo: até glicemia 250 mg/ dL ▪ O alvo é atingir a glicemia a 250 – tomar cuidado para não cair em hipoglicemia persistente (risco de lesão cerebral) e por este motivo ao atingir este valor já devemos deixar um soro glicosado gotejando. o Se Na+ aumentado → soro ao meio o Cuidado com insuficiência cardíaca. o Reposição de K! – atentar – se aos níveis. • Atenção ao Sódio!! -> hiperglicemia pode falsear o resultado do Na sérico. o Na corrigido = Na + 1,6 x (glicemia-100)/100 (Aumentamos o sódio encontrado em mais 1,6 para cada 100 de glicemia que esteja acima de 100) • Insulina (após a hidratação e a correção K+) o Após a segurança em relação ao K e hidratação. Daniela Carvalho - TLVI o 1ª opção - EV em bomba de infusão contínua (ataque EV deve ser evitado!). ▪ Geralmente faz – se 100 UI em mL de soro e vai aumentado ou diminuindo a velocidade de infusão conforme a necessidade. ▪ Se ao passar 1 hora e não diminuir pelo menos 50 da glicemia, devemos aumentar a dose. A depender do local que não permita fazer bomba de infusão de insulina pode – se fazer repique SC/ IM. ▪ Obs: Padrão ouro é a bomba de insulina mas se por exemplo, o médico estiver em uma situação que não dará para acompanhar (dando plantão sozinho), deve – se evitar pois o paciente pode fazer uma encefalopatia por hipoglicemia. o 2ª opção SC/IM: ▪ Insulina R – ½ em bolus EV, ½ IM ou SC (lembre – se, evitar conduta em bolus, se possível). o Manter bomba de insulina até glicemia ≤ 200 mg/ dL e normalização do bicarbonato, pH e ânion gap. ▪ Objetivo: manter glicemia 150 – 200 mg/ dL • Se a glicemia cair a baixo de 150 reduz – se a dose pela metade. o Se glicemia não cair 50-70mg/dL na primeira hora → dobrar dose da bomba (ou realizar bolus de 10UI de insulina R, se não houver bomba de insulina). o Se PH < 7 devemos fazer bicarbonato. • A monitorização é muito importante. o Glicemia de 1/1h o Cetonemia/ cetonúria de 1/1h o K+ 1/1h nas primeiras 4 horas e depois de 4/4h o Gasometria arterial na admissão o Gasometria venosa de 2/2h Complicações do tratamento • Hipoglicemia -> insulina de mais por exemplo • Hipocalemia o K cair -> atrapalha o potencial de membrana e com isto a contração cardíaca e por este motivo é mortal. • Edema cerebral o Dependendo do tempo de desidratação em que o paciente estava, ao receber a hidratação, as células cerebrais tenderão a um ingurgitamento. • SARA • Congestão pulmonar o Devido a uma hidratação excessiva. Obs: em caso de IC e IR devemos hidratar com cuidado!
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