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PACOTE ANTICRIME NA PRATICA - Mod 1 a 5 (parcial)-1

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1 
PACOTE ANTICRIME NA PRÁTICA 
As novas práticas da advocacia criminal a partir do Pacote Anticrime 
 
MÓDULO 1 – As alterações no Código de Processo Penal 
Parte 1 – O Juiz das Garantias e o sistema acusatório 
Parte 2 – A obrigatoriedade de defesa ao Investigado Policial 
Parte 3 – O novo arquivamento do Inquérito Policial 
Parte 4 – O Acordo de não persecução penal 
Parte 5 – Nulidade por ausência de fundamentação das decisões 
 
MÓDULO 2 – As alterações no Código de Processo Penal 
Parte 1 – As novas regras Medidas Assecuratórias 
Parte 2 – O impedimento do juiz que conheceu a prova ilícita 
Parte 3 – A Cadeia de Custódia da Prova Penal 
Parte 4 – O novo sistema de medidas cautelares e prisão preventiva 
Parte 5 – Execução imediata das condenações no Júri 
Parte 6 – A aplicação do CPC/2015 ao recurso especial e extraordinário 
em matéria criminal 
 
MÓDULO 3 – As alterações no Código Penal 
 
 
2 
Parte 1 – Legítima Defesa do agente de segurança pública 
Parte 2 – Execução da pena de multa 
Parte 3 – O novo prazo máximo da pena privativa de liberdade 
Parte 4 – Aumento dos requisitos para o livramento condicional 
Parte 5 – Novos efeitos da condenação 
Parte 6 – Novas causas impeditivas da prescrição 
Parte 7 – Alterações na parte especial: novas majorantes no roubo; 
mudança na ação penal do estelionato e aumento da pena de concussão 
 
MÓDULO 4 – As alterações na Lei de Execução Penal 
Parte 1 – Identificação criminal e de perfil genético 
Parte 2 – Mudanças na regulamentação do RDD 
Parte 3 – O Novo sistema de progressão de regime 
Parte 4 – Limites a saída temporária 
Parte 5 – Endurecimento das regras nos Presídios Federais 
Parte 6 – Execução Penal nos crimes de Organização criminosa 
 
MÓDULO 5 – As alterações na Legislação Penal Extravagante 
Parte 1 – Novos crimes hediondos 
Parte 2 - Novo crime na Lei de Drogas 
 
 
3 
Parte 3 – Regulamentação da captação ambiental como meio de prova 
Parte 4 – Ação controlada e Infiltração de agentes na Lavagem de 
dinheiro 
Parte 5 – Tipificações, penas e medidas diversas no Estatuto do 
Desarmamento 
Parte 6 – As Varas Criminais Colegiadas 
Parte 7 – As Novas regras da Colaboração premiada 
Parte 8 – A Cyber Infiltração como meio de prova 
Parte 9 – Proteção do informante 
 
BÔNUS – A Nova Lei de Abuso de Autoridade na Prática 
 
 
 
4 
PACOTE ANTICRIME NA PRÁTICA 
As novas práticas da advocacia criminal a partir do Pacote Anticrime 
 
Introdução ao conteúdo 
Inicialmente advertimos que este material tem como objetivo 
fornecer um conteúdo prático a respeito do Pacote Anticrime, 
apresentando e explicando as necessárias mudanças na atuação da 
advocacia criminal a partir da reforma promovida pela Lei 13.964/2019. 
Com isso, não é o objetivo deste trabalho se alongar em discussões 
teóricas ou acadêmicas, demasiadamente relevantes, mas que não são o 
objetivo primeiro deste curso. 
Além disso, é importante salientar que vacatio legis prevista no Art. 
20 da Lei 13.964/2019 (publicada em 24/12/2019) prevê sua entrada em 
vigência 30 (trinta) dias após sua publicação, portanto todas as alterações 
que aqui explicaremos se tornarão obrigatórias a partir de 23/01/2020. 
Por fim, ressaltamos que ações ajuizadas no STF discutindo a 
constitucionalidade de institutos da presente Lei, bem como decisões do 
STF, STJ e do CNJ podem afetar a entrada em vigência e ou ainda o 
conteúdo, parcial ou total, da Lei 13.964/2019. 
Bons estudos! 
 
 
 
5 
MÓDULO 1 
As alterações no Código de Processo Penal I 
 
Parte 1 – O Juiz das Garantias e o sistema acusatório 
1) Sistema Acusatório e suas consequências no processo penal 
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na 
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. 
 
A primeira alteração a ser analisada mexe com toda a estrutura do 
processo penal brasileiro. Ainda que parte da doutrina apontasse nosso 
processo como acusatório ou ainda misto (parte acusatória e parte 
inquisitória), o processo penal brasileiro vigente até então era claramente 
um sistema inquisitório.1 
São várias as características necessárias para que se atribua a um 
sistema processual a natureza acusatória, mas existe um elemento 
 
1 Exemplificando isso, nossa investigação era administrativa e inquisitiva com a possibilidade de 
ingressar integralmente no processo contaminando o julgador; era permitido a figura de um juiz 
inquisidor que investigava e proferia decisões de ofício tomando lugar do acusador, pois poderia 
decretar a prisão preventiva de ofício e poderia condenar mesmo quando houvesse pedido 
absolutório da acusação ou ainda reconhecer qualificadora e causa de aumento não requerida 
pelo acusador. (MENDES, Tiago Bunning. Direito ao Recurso no Processo Penal. O duplo 
grau de jurisdição como garantia exclusiva do imputado. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 
54/55) 
 
 
6 
nuclear que distingue claramente o sistema acusatório do inquisitório e 
consequentemente impede que se pense na possibilidade de um sistema 
misto (pois, o sistema só pode tem único núcleo), conforme explica Aury 
Lopes Jr. “a posição do juiz é fundante na estrutura processual. Quando 
o sistema aplicado mantém o juiz afastado da iniciativa probatória (da 
busca de ofício) da prova, fortalece-se a estrutura dialética e, acima de 
tudo, assegura-se a imparcialidade do julgador.”2 
Portanto, o que define um sistema como acusatório é a separação 
das funções de acusar e julgar e, principalmente a carga da prova (carga 
e não ônus), de modo que a obrigação de provar deve ser atribuída 
exclusivamente a acusação não podendo o juiz produzir prova ou 
praticar qualquer ato atribuição do acusador. 
Por isso, o Art. 3o-A ao dizer que: “O processo penal terá estrutura 
acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a 
substituição da atuação probatória do órgão de acusação.”, pode se 
dizer que caminhamos para implementação de um processo acusatório e 
que este núcleo afetará toda estrutura de nosso processo penal na prática. 
 
2 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 46. 
 
 
7 
Na PRÁTICA essa estrutura afetará alguns outros dispositivos da 
nossa legislação processual penal. O primeiro dispositivo que será 
afetado é o Art. 5o, inciso II do CPP: 
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será 
iniciado: 
(...) II - mediante requisição da autoridade judiciária ou 
do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de 
quem tiver qualidade para representá-lo. 
 
Ora, se é vedada a atuação do juiz na fase de investigação, 
claramente não será mais permitido que o magistrado requisite 
(determine) a instauração do inquérito policial. 
Do mesmo modo, ainda que a Lei 13.964/2019 tenha alterado 
dispositivos relacionados as medidas assecuratórias sem alterar a 
redação do Art. 127 do CPP3, é possível defender que o juiz ficará 
impossibilitado de decretar o sequestro de bens de ofício no curso da 
investigação, considerando que lhe é vedada a iniciativa nesta fase, 
permitindo apenas a decretação de ofício se no curso do processo, pois 
não se trata de ato probatório e desta forma o juiz não estaria 
 
3 Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante 
representação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer fase do 
processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa. 
 
 
8 
substituindo a atuação probatória do órgão de acusação que também lhe 
é vedado. 
No que tange a produção probatória, a vedação a iniciativa do juiz 
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória encontra-
se revogado tacitamente o Art. 156 do CPP (bem como, o Art. 13, II na 
parte em que dava aplicabilidade ao Art. 156, I do CPP), vejamos: 
Art. 156. A prova da alegação incumbiráa quem a fizer, 
sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada 
pela Lei nº 11.690, de 2008) 
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a 
produção antecipada de provas consideradas urgentes e 
relevantes, observando a necessidade, adequação e 
proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 
2008) 
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir 
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida 
sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
Ou seja, não será mais permitido que o juiz atue de ofício 
ordenando a produção de prova antecipada ou determinando a 
realização de qualquer diligência, ainda que para sanar dúvida sobre 
ponto relevante, pois no caso de dúvida, em qualquer fase da 
investigação ou do processo, se faz necessário decidir em favor do 
investigado-acusado em face do in dubio pro reo que decorre da presunção 
de inocência. 
 
 
9 
Neste ponto, também sofrerá revogação tácita o parágrafo único 
do Art. 212 do CPP, vejam: 
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes 
diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que 
puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa 
ou importarem na repetição de outra já respondida. (Redação 
dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz 
poderá complementar a inquirição. 
 
Isso porque, ao vedar a iniciativa ao juiz e a substituição 
probatória busca-se um juiz inerte que tampouco pergunte ou pratique 
qualquer ato probatório destinado as partes em todo curso da persecução 
penal, obviamente se o juiz pergunta estará substituindo atuação das 
partes4. Por isso, o Art. 3o-A garante o cross-examination de forma pura 
não mais permitindo que o juiz elabore perguntas as testemunhas 
antes ou depois das partes, ainda que se argumente a necessidade de 
esclarecimento de algum ponto. 
Aliás nesse ponto, existe importante decisão do STF, ainda que 
isolada, reconhecendo a nulidade por insubsistência na oitiva das 
 
4 LOPES, Aury Jr. ROSA, Alexandre Morais da. A “estrutura acusatória” atacada pelo MSI 
– Movimento Sabotagem Inquisitória. Coluna Limite Penal. Consultor Jurídico (Conjur) em 
03 de janeiro de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-03/limite-penal-
estrutura-acusatoria-atacada-msi-movimento-sabotagem-inquisitoria. Consulta em: 09/01/2020. 
 
 
10 
testemunhas por violação ao Art. 212 do CPP especificadamente pelo fato 
de que no caso o Juiz formulou inicialmente as perguntas, e neste caso 
inclusive revogando a prisão preventiva do acusado da prática de 
homicídio.5 
Se a vedação da atuação probatória impede que o juiz pergunte as 
testemunhas das partes, obviamente também impede aquilo que 
costumeiramente atribuíamos o nome de “testemunha do juízo”, e por 
isso também encontra-se revogado tacitamente o Art. 209 e § 1o do CPP: 
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir 
outras testemunhas, além das indicadas pelas partes. 
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas 
a que as testemunhas se referirem. 
 
Fica vedada ao juiz a atuação probatória e, portanto, proíbe-se de 
fazer pergunta as testemunhas e consequentemente também fica 
proibido de arrolar testemunhas (assim como de determinar que se 
proceda novo interrogatório de ofício, tal como era permitido pelo Art. 
196 do CPP), ainda que julgar necessário para sanar alguma dúvida ou 
 
5 “HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO. ARTIGO 
121 DO CÓDIGO PENAL. PLEITO PELA REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. 
ALEGAÇÃO DE NULIDADES. ORDEM DEFERIDA PARCIALMENTE PARA 
DECLARAR INSUBSISTENTE A OITIVA DAS TESTEMUNHAS.” (STF, HC 111.815/SP, 
Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, Dje 14/02/2018). 
 
 
11 
por que a pessoa foi referida por uma das testemunhas arroladas pelas 
partes. 
Advertimos novamente, se forem necessários esclarecimentos é 
por que há dúvida e em caso de dúvida, decide-se em favor do acusado 
(in dubio pro reo). 
Por sua vez, no que diz respeito ao interrogatório em que pese 
ainda seja um dever do juiz interrogar o acusado, este interrogatório deve 
seguir uma postura acusatória, ou seja, sabendo que o juiz não pode 
substituir a atuação probatória do órgão acusador e, portanto, o 
magistrado não pode buscar induzir o acusado ou ainda buscar 
contradições ao questioná-lo, limitando-se a atuar na forma estritamente 
determinada pelo Art. 187, parágrafo 1o e 2o do CPP. 
Neste ponto, a Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 
13.869/2019) em seu Art. 15, parágrafo único, inciso I tornou crime, 
sujeito a pena de 1 (um) a 4 (quatro) anos, a conduta de prosseguir com 
o interrogatório de acusado que tenha decidido exercer seu direito ao 
silêncio, o que rotineiramente ainda ocorre (ou ao menos ocorria) em 
muitos interrogatórios e além de não anteder a estrutura acusatória 
atualmente tornou-se crime. 
 
 
12 
Também fica revogado de forma tácita o Art. 234 do CPP que 
permitia que o juiz, independentemente de requerimento das partes, 
determinasse a juntada de documento relativo a ponto relevante da 
acusação ou da defesa, ao menos em parte já que a vedação diz respeito 
a substituição da atuação probatória do órgão de acusação, cabendo 
exclusivamente ao MP, querelante ou assistente de acusação a juntada 
de documentos favoráveis a prova da acusação. 
Por esta mesma lógica, revoga-se tacitamente o Art. 242 do CPP e 
o Art. 3o da Lei 9.296/96 na parte em permitiam que se decretasse de 
ofício a busca e apreensão e a interceptação telefônica respectivamente, 
já que ambas têm natureza de meio para obtenção de prova. 
Resumidamente, no que diz respeito aos citados artigos 156, 187, 
196, 209, 212, 234 e 242 do CPP, bem como Art. 3o da Lei 9.296/96, ficará 
vedada ao juiz qualquer iniciativa ou atividade destinada a produção de 
provas, o juiz é o destinatário da prova e por isso não pode produzi-la, 
nas palavras de Geraldo Prado: “Quem procura sabe ao certo o que 
pretende encontrar e isso, em termos de processo penal condenatório, 
 
 
13 
representa uma inclinação ou tendência perigosamente comprometedora 
da imparcialidade do julgador.”6 
Também defendemos a revogação tácita do Art. 385 do CPP que 
dispunha o seguinte: 
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir 
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público 
tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer 
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. 
 
É demasiadamente lógico que condenar sem pedido e reconhecer 
agravantes que não tenham sido alegadas é substituir a atuação do órgão 
de acusação. 
Para aqueles que aleguem que o Art. 3o-A veda apenas a 
substituição da atuação probatória do órgão de acusação e ao condenar 
sem pedido do acusado o juiz não estaria produzindo ou colhendo prova, 
lembre-se que o mesmo dispositivo legal garante uma estrutura 
acusatória ao processo penal e como visto é característica fundante do 
sistema acusatória a separação das funções de acusar e julgar. 
Notadamente, juiz que condena quando a acusação pede 
absolvição ou reconhece agravante não alegada está acusando e 
 
6 PRADO, Geraldo. Sistema acusatório. A conformidade Constitucional das Leis Processuais 
Penais. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 137. 
 
 
14 
julgando simultaneamente e isso é vedado pelo Art. 3o-A, seja por 
substituir a atuação do órgão de acusação seja por romper com a 
estrutura acusatória de processo.7 
Por fim, o que mais nos importa na PRÁTICA são as 
consequências caso sejam violadas essas disposições. Antes disso é 
necessário advertir que caberá ao advogado criminalista diligente e 
atualizado com as reformas legislativas fiscalizar a atuação do juiz, 
sobretudo na audiência de instrução (durante o interrogatório e oitiva de 
testemunhas), garantindo o cumprimento da estrutura acusatória de 
processo. 
A Lei13.964/2019 não prevê consequência especifica, com isso é 
preciso se socorrer a análise jurisprudencial sobre o tema para concluir 
que ocorrerá nulidade – que acreditamos ser absoluta por desrespeitar o 
Art. 129, I da CF8 – pela violação da estrutura acusatória, pois assim já 
decidiu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: 
 
7 LOPES, Aury Jr. ROSA, Alexandre Morais da. A “estrutura acusatória” atacada pelo MSI 
– Movimento Sabotagem Inquisitória. Coluna Limite Penal. Consultor Jurídico (Conjur) em 
03 de janeiro de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-03/limite-penal-
estrutura-acusatoria-atacada-msi-movimento-sabotagem-inquisitoria. Consulta em: 09/01/2020. 
8 2. "A Constituição de 1988 fez uma opção inequívoca pelo sistema penal acusatório. Disso 
decorre uma separação rígida entre, de um lado, as tarefas de investigar e acusar e, de outro, a 
função propriamente jurisdicional. Além de preservar a imparcialidade do Judiciário, essa 
separação promove a paridade de armas entre acusação e defesa, em harmonia com os princípios 
 
 
15 
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE 
DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO 
ESPECIAL. AUSÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM 
TODA A INSTRUÇÃO CRIMINAL. JUIZ QUE 
SUBSTITUIU O ÓRGÃO ACUSATÓRIO, INQUIRIU A 
VÍTIMA, TESTEMUNHAS E INTERROGOU O RÉU. 
NULIDADE DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO 
CRIMINAL. VIOLAÇÃO DA ESTRUTURA 
ACUSATÓRIA DO PROCESSO PENAL. RECURSO 
NÃO PROVIDO. 1. Deve ser mantida a decisão agravada, 
que reconheceu a nulidade do processo desde a audiência 
de instrução e julgamento, porquanto a par de realizada 
sem a presença do Ministério Público, do início ao fim, o 
Juiz de Direito substituiu o órgão acusatório ao conduzir 
e colher todas as provas, em atividade probatória 
principal e não supletiva. 2. Cuidando-se de ação penal 
condenatória, na qual sobrelevam não apenas os interesses 
indisponíveis em disputa, mas valores afirmativos de um 
devido processo legal (tanto em sua ótica procedimental 
quanto sob o seu viés substancial), é de suma importância que 
se perceba, na condução da causa, a clara divisão desses 
papeis: um órgão que promove a acusação, mas que ao mesmo 
tempo fiscaliza o regular desenvolvimento da relação 
processual; um órgão ou profissional que defende o imputado 
e o acompanha durante os atos processuais; e um órgão, 
imparcial, que presta a jurisdição e que zela para que os 
direitos das partes sejam observados. 3. Não há ilegalidade no 
ponto em que o Tribunal Estadual, no exame de apelação da 
defesa, reconheceu, ex officio, a invalidade do ato. 4. O aresto 
recorrido, embora tenha deixado de conferir eficácia jurídica 
às provas produzidas em desacordo com o modelo legal, não 
determinou a renovação da instrução criminal, optando por 
 
da isonomia e do devido processo legal. Precedentes." (...) (ADI 5104 MC, Relator(a): Min. 
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2014) 
 
 
16 
absolver o réu, o que violou o art. 573 do CPP, segundo o qual 
os atos cuja nulidade não tiver sido sanada serão renovados 
ou retificados. 5. O reconhecimento do vício na apelação não 
favorece a acusação, o Juiz ou o réu; apenas tem o fim de 
restabelecer o válido desenvolvimento da relação processual, 
que se desenvolveu apenas entre juiz e uma das partes. 6. 
Agravo regimental não provido.’ (AgRg nos EDcl no AREsp 
528.020/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 
SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2015, Dje 05/10/2015, 
grifou-se) 
 
Desta forma, caso seja violada a estrutura acusatória atuando o 
juiz de ofício na fase de investigação ou substituindo a atuação 
probatória do órgão acusador é necessário requerer a nulidade absoluta9 
do ato com fundamento no Art. 564, IV c.c Art. 3o-A do CPP. 
 
 
9 “Não se verificou, no caso concreto, a indispensável separação entre o papel incumbido ao 
órgão acusador e ao julgador, principal característica do sistema acusatório, pois a 
fundamentação exposta na sentença condenatória permite concluir que os elementos do 
convencimento judicial decorreram, exclusivamente, de provas colhidas pelo julgador na 
audiência de instrução, hipótese de nulidade insanável, não sujeita, portanto, à 
preclusão.” (REsp 1.259.482/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE QUINTA 
TURMA Data do Julgamento 04/10/2011 DJe 27/10/2011, grifou-se). 
 
 
 
17 
 
2) O Juiz de Garantias e suas funções 
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da 
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha 
sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe 
especialmente: 
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do 
art. 5º da Constituição Federal; 
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, 
observado o disposto no art. 310 deste Código; 
III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja 
conduzido à sua presença, a qualquer tempo; 
IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal; 
V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, 
observado o disposto no § 1º deste artigo; 
VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las 
ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em 
audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial 
pertinente; 
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas 
urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência 
pública e oral; 
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em 
vista das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º 
deste artigo; 
IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento 
razoável para sua instauração ou prosseguimento; 
 
 
18 
X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o 
andamento da investigação; 
XI - decidir sobre os requerimentos de: 
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e 
telemática ou de outras formas de comunicação; 
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; 
c) busca e apreensão domiciliar; 
d) acesso a informações sigilosas; 
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do 
investigado; 
XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia; 
XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental; 
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 
deste Código; 
XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao 
investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas 
produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, 
às diligências em andamento; 
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção 
da perícia; 
XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de 
colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação; 
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo. 
§ 1º (VETADO). 
§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante 
representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma 
única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim 
a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. 
 
 
19 
 
Primeiramente, é preciso advertir que em decisão liminar 
proferida pelo Min. Luiz Fux em 20/01/2020 na ADI 6.299 e 6.305, 
suspendeu o Art. 3o-B ao Art. 3o-F que implantavam o Juiz de Garantias. 
Percebe-se que, além das demais funções elencadas nos 18 
(dezoito) incisos do Art. 3o-B, a finalidade principal do Juizde Garantias 
é controlar a legalidade da investigação criminal e proteger os direitos 
individuais (do investigado) nos atos sujeitos a reserva de jurisdição. 
Lembre-se que o STF no julgamento do RExt 593.727 decidiu que 
o Ministério Público tem poderes para investigar”10. Portanto, todas as 
disposições previstas nos artigos 3o-B a 3o-F relativas ao Juiz de 
Garantias e outros institutos também se aplicam a todas as espécies de 
investigação criminal realizadas por órgãos do Estado, que em nosso 
ordenamento jurídico terá as seguintes funções: 
 
I) Receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do 
inciso LXII do Art. 5o da CF e Art. 306, caput do CPP; 
 
10 Disponível em: 
http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=307671331&ext=.pdf. Acesso em: 
10/01/2020. 
 
 
20 
Neste momento o Juiz de Garantias atua como responsável pelo 
controle da legalidade do ato, verificando se não existem vícios formais 
ou materiais da prisão em flagrante, fato que lhe permitiriam relaxar a 
prisão de flagrante de ofício ou ainda propiciando que a defesa 
peticione requerendo o relaxamento da prisão em flagrante (Art. 5o, 
LXV da CF). 
 
II) Receber o Auto de Prisão em flagrante para o controle da 
legalidade da prisão, observando o disposto no Art. 310 do 
CPP; 
Neste ponto, acreditamos que o “controle de legalidade da prisão” 
a que se refere o legislador diz respeito exclusivamente a análise das 
providências do Art. 310 do CPP ou de alguma ilegalidade ocorrida após 
a comunicação da prisão em flagrante de forma superveniente a análise 
realizada no inciso LXII do Art. 5o da CF e Art. 306, caput do CPP. 
Resumidamente, o Art. 3o-B, inciso II esclarece que a realização da 
Audiência de Custódia é de competência do Juiz de Garantias, 
atualmente prevista expressamente no CPP em seu Art. 310 com a nova 
redação dada pela Lei 13.964/2019 e que será comentada em momento 
oportuno. 
 
 
21 
Ressalta-se que também cabe ao advogado criminalista fiscalizar 
a ocorrência de crimes previstos na Nova Lei de Abuso de Autoridade 
(Lei 13.869/2019), praticado pela autoridade que deixou de realizar a 
comunicação imediata da prisão em flagrante (Art. 12) ou deixou de 
encaminhar o preso a Audiência de Custódia (Art. 12, parágrafo único, 
inciso III), bem como do magistrado que não relaxou a prisão 
manifestamente ilegal (Art. 9o, parágrafo único, inciso I). 
 
III) Zelar pela observância dos direitos do preso, podendo 
determina que este seja conduzido à sua presença a qualquer 
tempo; 
Neste momento, o Juiz de Garantias atua na função de resguardar 
os direitos individuais do sujeito que se encontra preso em flagrante ou 
cautelarmente em decorrência de prisão preventiva ou temporária. 
A Constituição Federal em seu Art. 5o, incisos XLIX, LXI, LXII, 
LXIII, LXIV, LXVI prevê direitos relacionados aos sujeitos presos nesta 
condição e caberá ao Juiz de Garantias zelar pela observância desses. A 
violação desses direitos pode acarretar um vício formal tornando a 
prisão ilegal cabendo ao advogado requerer o relaxamento (Art. 5o, LXV 
da CF). 
 
 
22 
Além disso, a Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019) 
em seus artigos 13 ao 21 prevê diversos crimes praticados em desfavor 
do preso, cuja observância também deve ficar sobre a atribuição do Juiz 
de Garantias durante o curso da investigação. 
 
IV) Ser informado sobre a instauração de qualquer investigação 
criminal 
O Juiz de Garantias deverá ser comunicado acerca da instauração 
de qualquer investigação criminal, o que é necessário para propiciar 
toda sua atuação descrita nos incisos do Art. 3o-B. 
Aliás, este inciso está intimamente relacionado com a função 
prevista no inciso IX que dá poderes ao Juiz de Garantias para arquivar 
o inquérito policial carente de justa causa. Perceba-se que o inciso IV 
diz que o juiz será informado de sua instauração, assim percebendo a 
ausência de motivos razoáveis para o prosseguimento da investigação o 
Juiz de Garantias deverá, desde logo, ou seja, de ofício determinar o 
trancamento da investigação (competência que lhe é atribuída pelo inciso 
IX independentemente de provocação). 
 
 
23 
Além disso, o Art. 27 da Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 
13.869/2019) torna crime a conduta dolosa de requisitar ou instaurar 
investigação quando não houver qualquer indício da prática de crime. 
 
V) Decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra 
medida cautelar; 
A partir de agora, o magistrado responsável pela análise de 
requisitos que permitem a decretação de qualquer medida cautelar 
contra o investigado será o Juiz de Garantias, um magistrado diferente 
daquele que conduzirá a instrução processual e será responsável por 
decidir o caso ao proferir a sentença. 
Pela leitura do Art. 3o-B, caput a finalidade precípua do Juiz de 
Garantias não é prender ou decretar medidas cautelares, e sim o 
contrário, ou seja, evitar que prisões e outras medidas cautelares sejam 
decretadas ao arrepio da lei ou violando direitos fundamentais. 
Ressalta-se ainda que o texto aprovado da Lei 13.964/2019 em seu 
Art. 3o-B, inciso V prevê que será observado o disposto no parágrafo 1o, 
contudo esse foi objeto de veto presidencial. 
No PL 6341/2019 o parágrafo 1o dispunha que “O preso em 
flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será 
 
 
24 
encaminhado à presença do juiz de garantias no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas, momento em que se realizará audiência com a presença 
do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado 
constituído, vedado o emprego de videoconferência.”. 
Atualmente, o STF no julgamento da Reclamação 29.303/RJ o 
Relator Min. Edson Fachin negou seguimento ao pedido por entender 
que o STF no julgamento da Medida Cautelar na ADPF 347 somente 
fixou a obrigatoriedade da audiência de custódia para os casos de prisão 
em flagrante. Enquanto o Agravo Regimental não for apreciado pelo 
Pleno do STF, permanece a orientação no sentido da não obrigatoriedade 
a Audiência de Custódia no caso de prisões cautelares. 
 
VI) Prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem 
como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro 
caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, 
na forma do disposto neste Código ou em legislação especial 
pertinente; 
Existe ainda neste ponto uma importante mudança prática, qual 
seja, o surgimento de uma nova audiência realizada ainda na fase de 
 
 
25 
investigação com a finalidade propiciar um contraditório antes da 
prorrogação da medida cautelar. 
Portanto, na PRÁTICA passa a existir uma nova audiência, além 
Audiência de Custódia, para a atuação do advogado criminalista. 
Notadamente, será necessário apresentar-se nessa audiência munido de 
documentos (exemplo: Certidão da Antecedentes, comprovantes de 
residência, ocupação lícita, família constituída, 
declarações/testemunhos favoráveis) e com um roteiro de argumentos 
preparados para a defender a revogação da prisão ou de outra medida 
cautelar provando sua desnecessidade (exemplo: oitiva de todas as 
testemunhas nos casos de prisão para conveniência da instrução 
criminal), evitando sua prorrogação. 
A jurisprudência precisará decidir o que se entende por 
“prorrogação da prisão provisória ou outra medida cautelar”. No que se 
refere a prisão temporária isso fica claro pela previsão expressa de prazo 
de duração e possibilidade de prorrogação no Art. 2o da Lei 7.906/89 
(cinco dias prorrogáveis por igual período) e Art. 2o, parágrafo 4o da Lei 
8.072/90 (trinta dias prorrogáveis por igual período). 
Contudo quanto a prisão preventiva (e outras medidas cautelares) 
presumimos que o legislador esteja se referindo ao novo prazo instituído 
 
 
26 
pelo parágrafo único do Art. 316 do CPP que passa a exigir a revisão da 
prisão preventiva a cada 90 (noventa) dias. Não fosse assim, ao em vezde usar o gênero “prisão provisória” teria se referido apenas a espécie 
“prisão temporária” excluindo a prisão preventiva. 
 
VII) Decidir sobre o requerimento de produção antecipada de 
provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o 
contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; 
Novamente destacamos o surgimento de uma nova audiência que 
irá requerer a atuação de um advogado criminalista. A priorização da 
oralidade é característica na Lei 13.964/2019, ao instituir: (a) Audiência 
de Custódia (agora prevista no CPP); (b) Audiência de Prorrogação de 
Medidas Cautelares; (c) Audiência de Produção da Prova Antecipada ou 
Não repetíveis. Para a atuação nesta nova estrutura será necessário o 
domínio de técnicas de oratória. 
Ressaltamos aquilo que já foi advertido anteriormente para 
lembrar que o Art. 3o-A revoga tacitamente o Art. 156 do CPP na parte 
em que permitia que o juiz determinasse de ofício a realização de provas 
urgentes. Perceba que caberá ao Juiz de Garantias decidir sobre o 
requerimento de provas urgentes e não repetíveis apresentado pelas 
 
 
27 
partes, mas não requerer ou produzir de ofício tais provas, sob pena de 
violar a estrutura acusatória. 
Outrossim, perceba que surge uma nova possibilidade de atuação 
do advogado, ao requerer desde a fase de investigação a produção de 
uma prova considerada urgente ou não repetível (exemplo: oitiva em 
juízo de uma testemunha senil ou portadora de doença grave). 
 
VIII) Prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o 
investigado preso, em vista das razões apresentadas pela 
autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo; 
Caberá ao Juiz de Garantias decidir sobre o pedido de prorrogação 
do inquérito policial, ressaltando que ao determinar que a prorrogação 
ocorrerá “em vista das razões apresentadas” fica claro que a Autoridade 
Policial deverá fundamentar o requerimento de prorrogação da 
investigação. 
A ausência de fundamentação pode possibilitar a impetração de 
habeas corpus requerendo o trancamento da investigação. Além disso, o 
Art. 31 da Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019) torna 
crime a conduta dolosa de estender injustificadamente a investigação, 
 
 
28 
garantindo o respeito da garantia da razoável duração do processo (Art. 
5o, LXXVIII da CF). 
É importante verificar que o parágrafo 3o do Art. 10 do CPP 
sempre permitiu a prorrogação do inquérito policial se o investigado 
estiver solto (cujo prazo é de 30 dias podendo ser prorrogado por igual 
período), o que na prática ocorre reiteradas vezes. A novidade do 
parágrafo 2o do Art. 3o-B é permitir a prorrogação do inquérito policial, 
uma única vez, se o investigado estiver preso (cujo prazo é de 10 dias), 
permitindo-se a prorrogação por até 15 (quinze dias).11 
O próprio parágrafo 2o do Art. 3o-B esclarece que nos casos de 
investigado preso após a prorrogação do inquérito policial se não for 
concluída a investigação a prisão será imediatamente relaxada, e caso 
isso não ocorra será possível requerer o relaxamento diretamente ao Juiz 
de Garantias ou ainda impetrar habeas corpus. 
 
 
11 Antes da Lei 13.964/2019 a única previsão legal para prorrogação de inquérito policial estando 
preso o investigado se dava nos casos dos crimes previstos na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), 
tal como permitido em seu Art. 51, parágrafo único da Lei. A jurisprudência precisará decidir se 
o previsto no Art. 3o-B, parágrafo 2o será aplicado aos casos de competência da Justiça Federal 
cuja prorrogação do inquérito de investigado preso resultava em sua soltura, tal como previsto 
no Art. 66, parágrafo único da Lei 5.010/66. 
 
 
29 
IX) Determinar o trancamento do inquérito policial quando não 
houver fundamento razoável para sua instauração ou 
prosseguimento; 
Já foi alertado nos comentários ao inciso IV que o Juiz de Garantias 
como controlador da legalidade da investigação criminal tem a 
competência de determinar o trancamento do inquérito policial, quando 
não houver justa causa para sua instauração ou para o seu 
prosseguimento. 
Lembre-se que a Autoridade Policial não pode arquivar o 
inquérito policial (Art. 17 do CPP) e com a nova redação do Art. 28 o 
arquivamento do inquérito será realizado diretamente pelo Ministério 
Público (ressaltando que o Art. 28 foi suspenso em decisão liminar do 
Min. Luiz Fux nas ADI’s 6.299 e 6.300). Desta forma, a única forma do 
Juiz de Garantias findar a investigação criminal é determinando seu 
trancamento. 
Trata-se de decisão irrecorrível, mas que em regra não faz coisa 
julgada material, permitindo a instauração de nova investigação se 
surgirem provas substancialmente novas (Art. 18 do CPP e Súmula 524 
 
 
30 
do STF), salvo nos casos de trancamento do inquérito policial por 
atipicidade12. 
Na PRÁTICA se o juiz não atuar de ofício caberá ao advogado 
impetrar habeas corpus requerendo o trancamento da investigação por 
ausência de justa causa, que será apreciado pelo próprio Juiz de 
Garantias (Art. 3o-B, inciso XII). 
 
X) Requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de 
polícia sobre o andamento da investigação; 
A compreensão deste inciso depende de sua análise sob a égide do 
Art. 3o-A que tal como visto, implementa uma estrutura acusatória, veda 
a iniciativa do juiz da fase de investigação e o proíbe de substituir a 
atuação probatória da acusação. 
 
12 Neste caso a decisão judicial de trancamento do inquérito fará coisa julgada material, assim 
como faria a decisão judicial de arquivamento por atipicidade antes da Lei 13.964/2019, sobre o 
tema o STF já decidiu que: Suprema Corte: “não se revela cabível a reabertura das investigações 
penais, quando o arquivamento do respectivo inquérito policial tenha sido determinado por 
magistrado competente, a pedido do Ministério Público, em virtude da atipicidade penal do fato 
sob apuração, hipótese em que a decisão judicial – porque definitiva – revestir-se-á de eficácia 
preclusiva e obstativa de ulterior instauração da ‘persecutio criminis’, mesmo que a peça 
acusatória busque apoiar-se em novos elementos probatórios. Inaplicabilidade, em tal situação, 
do art. 18 do CPP e da Súmula 524/STF” (HC nº 84.156/MT, Segunda Turma, Relator o Ministro 
Celso de Mello, DJ de 11/2/05). 
 
 
 
31 
Logo os documentos, laudos e informações a que se refere dizem 
respeito a elementos já produzidos, inclusive os sigilosos (lembre-se: 
falamos do acesso ao Juiz) no curso da investigação cujo acesso se faz 
necessário ao Juiz de Garantias para proferir alguma decisão ou apenas 
para o cumprimento de uma de suas funções como controlador da 
legalidade da investigação. 
Ou seja, este inciso não permite que o Juiz de Garantias requisite 
a produção de qualquer ato probatório no curso da investigação (ou do 
processo). 
 
XI) Decidir sobre os requerimentos de: a) interceptação telefônica, 
do fluxo de comunicações em sistemas de informática e 
telemática ou de outras formas de comunicação; b) 
afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; 
c) busca e apreensão domiciliar; d) acesso a informações 
sigilosas; e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam 
direitos fundamentais do investigado; 
Do mesmo modo que a lei atribuiu ao Juiz de Garantias a 
competência para decidir sobre o requerimento de prisão ou outra 
medida cautelar, todas as demais restrições a direitos fundamentais 
 
 
32 
também serão de sua competência, tal como descreve de forma 
subsidiaria a própria alínea “e” do Art. 3o-B, inciso XI. 
As alíneas “a”, “b” e “c” tratam-se de meios probatórios, 
respectivamente interceptação telefônica e de outas formas de 
comunicação, quebra de sigilos em geral e busca e apreensão, as quais 
sempre precisarão ser requeridas pela Autoridade Policial ou pelo 
representante do Ministério Público, não podendo o Juiz de Garantias 
decretá-las de ofício,em observância ao Art. 3o-A. 
No que diz respeito a alínea “d” a redação é vaga, podendo 
concluir que se falam de outras informações sigilosas que possam ser 
utilizadas como meio de provas – ainda que seja difícil pensar em 
informações que decorram de outras fontes para além das elencadas nas 
alíneas “a”, “b” e “c” – já que o acesso a informações sigilosas é direito 
do advogado com procuração nos autos e independe de autorização 
judicial (Súmula Vinculante 14 e Art. 7o, XIV e parágrafo 10 e 11 da Lei 
8.906/94). 
A única mudança prática neste sentido está intimamente 
relacionada ao próximo inciso, ou seja, a forma de combate a decisão do 
Juiz de Garantias que decidir a respeito de tais provas, seja negando-as 
ou decretando sua colheita. Neste caso, para impugnar a decisão do Juiz 
 
 
33 
de Garantias será necessário impetrar habeas corpus perante o Tribunal 
competente. 
 
XII) Julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da 
Denúncia; 
Caberá ao Juiz de Garantais julgar os habeas corpus, bem como o 
mandado de segurança criminal em analogia, impetrados antes do 
oferecimento da Denúncia, desde que o Impetrado seja autoridade cuja 
competência não extrapole a do Juiz de Garantias. 
A jurisprudência do STJ e STF há algum tempo entende que é de 
competência dos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais o 
julgamento de habeas corpus impetrado contra representante do 
Ministério Público13, portanto as hipóteses de habeas corpus julgados pelo 
Juiz de Garantias resumem-se basicamente ao ataque de atos praticados 
pela Autoridade Policial. 
 
13 “1. Conforme pacífico entendimento deste Tribunal Superior, compete ao Tribunal de Justiça 
local processar e julgar habeas corpus contra ato imputado a membro do Ministério Público 
estadual. (HC 136.370/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 
22/02/2011, DJe 14/03/2011).” e “Ambas as Turmas desta Corte (assim, nos RREE 141.209 e 
187.725) têm entendido que, em se tratando de "habeas corpus" contra ato de Promotor da Justiça 
Estadual, a competência para julgá-lo é do Tribunal de Justiça por ser este competente para seu 
julgamento quando acusado de crime comum ou de responsabilidade. (RE 285569, Relator: Min. 
MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 18/12/2000, DJ 16-03-2001)”. 
 
 
34 
Convém lembrar que, contra decisão do Juiz de Garantias 
proferida no julgamento do habeas corpus, negando ou concedendo a 
ordem de HC, cabe recurso em sentido estrito ao Tribunal, com 
fundamento no Art. 581, inciso X do CPP. 
 
XIII) Determinar a instauração de incidente de insanidade mental; 
O Art. 149, parágrafo 1o do CPP permite que durante o inquérito 
policial a Autoridade Policial represente requerendo a instauração de 
incidente de insanidade mental, neste caso a competência para apreciar 
o tema (antes do oferecimento da Denúncia) será do Juiz de Garantias. 
Ainda que não esteja previsto no parágrafo 1o do Art. 149 do CPP, 
seria impensável, dentro de uma estrutura acusatória de processo (Art. 
3o-A), não conceder legitimidade ao advogado do investigado para 
requerer o incidente, além do que questões formais de legitimidade não 
podem permitir o prosseguimento da investigação contra pessoa 
incapaz, sob pena de violar direitos individuais do investigado, o que é 
vedado pelo Art. 3o-B, caput. 
Por isso, acreditamos que com fundamento no Art. 3o-A c.c Art. 
149, caput do CPP o advogado possa requerer ao Juiz de Garantias a 
instauração de incidente de insanidade mental. 
 
 
35 
Ressalta-se que a decisão que defere a realização do incidente é 
irrecorrível, em contrapartida contra decisão que indefere o pedido é 
cabível Apelação, nos termos do Art. 593, II do CPP. 
 
XIV) Decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos 
termos do Art. 399 deste Código; 
Para garantir a imparcialidade, o Juiz de Garantias ficará 
responsável pelo juízo de admissibilidade da Denúncia ou Queixa, 
evitando a contaminação do juiz que realizará a instrução do processo e 
proferirá sentença de mérito pelos elementos da investigação, pois como 
será visto o caderno de investigação não será mais integrado ao processo 
(Art. 3o-C, parágrafo 3o). 
Na PRÁTICA é possível defender que ao prever que o Juiz de 
Garantias receba a Denúncia ou Queixa na forma do Ar. 399 do CPP – 
que é posterior a resposta à acusação, prevista nos Art. 396 e 396-A – a 
Lei 13.964/2019 está determinando que somente seja recebida a inicial 
acusatória após a apresentação da resposta à acusação, assim como já 
ocorre no Art. 56 da Lei 11.343/2006 e Art. 514 do próprio CPP. 
Ou seja, existe um contraditório prévio ao recebimento da 
Denúncia ou Queixa. 
 
 
36 
Por isso, potencializa-se a importância da resposta à acusação, 
sobretudo no que tange as teses de rejeição da inicial acusatória (Art. 395 
do CPP), que agora serão apreciadas pelo magistrado competente (Juiz 
de Garantias) antes de qualquer contato prévio com a Denúncia. 
 
XV) Assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito 
outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos 
os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da 
investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às 
diligências em andamento; 
O direito de acesso a todos elementos já documentados no curso 
da investigação pelo investigado e seu defensor, ressalvadas as 
diligências em andamento (exemplo: interceptação telefônica em curso) 
não dependem de autorização judicial (Súmula Vinculante 14 e Art. 7o, 
XIV e parágrafo 10 e 11 da Lei 8.906/94). 
Contudo, se for negado o acesso aos autos, caberá a Juiz de 
Garantias garantir o acesso de ofício ou mediante provocação do 
investigado ou de seu defensor que neste caso não precisará impetrar 
habeas corpus ou mandado de segurança, bastando apresentar simples 
 
 
37 
requerimento ao Juiz de Garantias para ter assegurado seu direito de 
acesso aos autos. 
Aliás, a negativa de acesso ao inquérito policial, inclusive sigiloso, 
ressalvado os casos de diligência em andamento cujo acesso prejudique 
sua conclusão, foi tipificada como crime pelo Art. 32 da Nova Lei de 
Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019), sendo este mais um artificio 
importante para garantir o fornecimento de todos os elementos ao 
investigado e sua defesa. 
 
XVI) Deferir pedido de admissão de assistente técnico para 
acompanhar a produção da perícia; 
Até então em observância ao parágrafo 3o do Art. 159 do CPP a 
admissão do assistente técnico somente seria possível no curso do 
processo, mas não durante a investigação criminal. 
Contudo, com a nova redação do Art. 3o-B, XVI permite-se que ao 
investigado, ao Ministério Público, ao ofendido e ao Querelante a 
indicação de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia 
realizada no curso da investigação criminal, ficando a decisão a este 
respeito ao encargo do Juiz de Garantias. 
 
 
38 
A jurisprudência precisará decidir acerca da possibilidade de 
indicação de assistente técnico realizada pelo assistente de acusação, já 
que este só pode ser admitido no curso do processo, na forma do Art. 268 
e seguintes do CPP. 
Além disso, encontra-se revogado de forma tácita o parágrafo 4o 
do Art. 159 do CPP que previa a atuação do assistente técnico somente 
após a conclusão dos exames, pois o Art. 3o-B, XVI prevê expressamente 
a possibilidade de que o assistente técnico acompanhe a produção da 
perícia, novamente potencializando o contraditório desde a colheita 
probatória, tal como já era previsto no Art. 466, parágrafo 2o do 
CPC/2015 cuja aplicação analógica dificilmente era permitida no 
processo penal. 
Não há recurso previsto contra a decisão que indeferir a admissão 
do assistente técnico, sendo necessário impetrar habeas corpus em razão 
do cerceamento de defesa. 
 
XVII) Decidir sobre a homologação de acordo de não persecução 
penal ou os decolaboração premiada, quando formalizados 
durante a investigação; 
 
 
39 
O instituto do acordo de não persecução penal será estudado mais 
adiante, cabendo neste ponto apenas ressaltar novamente a evolução ao 
se prever que o acordo de colaboração premiada realizada no curso da 
investigação será homologado ou não pelo Juiz de Garantias, 
ressalvado os casos de figurarem entre as pessoas delatadas autoridades 
com prerrogativa de foro.14 
Desta forma, fica mantida a imparcialidade do juiz que 
posteriormente julgará o processo e não terá acesso ao conteúdo da 
colaboração que será acautelado juntamente com os autos da 
investigação (Art. 3o-C, parágrafo 3o). 
Além disso, com a homologação realizada pelo Juiz de Garantias 
prevalece aquilo que o STF já tinha entendido ao determinar que “o 
acordo de colaboração, como meio de obtenção de prova, não constitui 
critério de determinação, de modificação ou de concentração da 
competência.”15 
Posteriormente serão analisadas as mudanças a Lei 12.850/2013, 
que em no parágrafo 16o do seu Art. 4-A prevê que as decisões sobre 
medidas cautelares reais ou pessoais, recebimento da denúncia e 
 
14 STF, Pet. 5.244, Rel. Min. Teoeri Zavascki, j. 19/12/2014. 
15 STF, Inq. 4.130 QO/PR, Plenário, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 23/09/2016. 
 
 
40 
sentença condenatória, as duas primeiras de atribuição do mesmo Juiz 
de Garantias que homologará o acordo, não podem ser fundamentadas 
apenas nas declarações do colaborador. 
 
XVIII) Outras matérias inerentes às atribuições definidas 
no caput deste artigo. 
Resumidamente, este inciso encerra esclarecendo aquilo que 
anunciamos na análise inicial do Art. 3o-B, no sentido de que todos os 
atos que dependerem de decisão judicial no curso da investigação serão 
de competência do Juiz de Garantias. 
 
3) A Competência material (ratione materiae), o momento de 
atuação do Juiz de Garantias e a Exclusão física do inquérito 
policial 
Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, 
exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia 
ou queixa na forma do art. 399 deste Código. 
§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo 
juiz da instrução e julgamento. 
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da 
instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá 
 
 
41 
reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 
10 (dez) dias. 
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias 
ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público 
e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da 
instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas 
irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que 
deverão ser remetidos para apensamento em apartado. 
§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria 
do juízo das garantias. 
 
O Art. 3o-C ao dizer em seu caput que o Juiz de Garantias abrange 
todas infrações penais está reconhecendo a obrigatoriedade de sua 
atuação em todos os procedimentos (ordinário e sumário, júri, crimes 
funcionais, tráfico de drogas e inclusive nos casos de competência 
originária dos tribunais), excetuando-se o procedimento comum 
sumaríssimo nos Juizados Especiais Criminais, o que parece correto já 
que a Lei 9.099/95 não comporta as medidas de restrição a direitos 
fundamentais que exigem a atuação do Juiz de Garantias (exemplo: 
prisão preventiva e interceptação telefônica). 
Contudo, em decisão liminar proferida pelo Min. Dias Toffoli em 
15/01/2020 na ADI 6298 afastou (ao menos liminarmente), até o 
julgamento de mérito das ADI’s 6298, 6299 e 6300, a aplicação do Juiz de 
 
 
42 
Garantias de 04 procedimentos. São eles os casos de: (a) competência 
Tribunal do Júri; (b) violência doméstica e familiar contra a mulher; (c) 
crimes de competência originária dos Tribunais; e (d) crimes de 
competência da Justiça Eleitoral. 
Lembrando que posteriormente o Min. Luiz Fux proferiu nova 
decisão liminar no julgamento das ADI’s 6.299 e 6.300 e suspendeu por 
completo a implementação do Juiz de Garantias até o julgamento de 
mérito. 
A atuação do Juiz de Garantais se encerra com o recebimento da 
Denúncia ou Queixa, ou seja, se for rejeitada a inicial acusatório o recurso 
em sentido estrito (Art. 581, I do CPP) será interposto perante o Juiz de 
Garantias, afinal é cabível o juízo de retratação (Art. 589 do CPP) que 
neste caso consistiria no em receber a acusação que é ato de sua 
competência (Art. 3o-B, XIV). 
 Recebida a Denúncia todas as questões futuras de competência 
do juízo de 1a Instância serão decididas pelo Juiz que ficará responsável 
pela instrução e julgamento do caso (Art. 3o-C, parágrafo 1o). 
 Segundo o parágrafo 2o do Art. 3o-C o recebimento da acusação, 
o Juiz da Instrução e Julgamento no prazo máximo de 10 (dez) dias 
 
 
43 
precisará reavaliar a necessidade das medidas cautelares em curso que 
foram decretadas pelo Juiz de Garantias. 
Neste ponto, é preciso fazer uma interpretação sistemática com o 
Art. 315, parágrafo 2o, inciso que exige fundamentação da decisão não 
sendo suficiente fazer referencias aos mesmos argumentos utilizados 
pela decretação realizada pelo Juiz de Garantias, sob pena de nulidade 
de acordo com a nova redação do inciso V do Art. 564, cabendo habeas 
corpus para garantir a liberdade do acusado (Art. 648, VI do CPP) 
Se não for realizada o reexame da necessidade das medidas 
cautelares no prazo de 10 (dez) dias a consequência deve ser a mesma 
prevista no parágrafo único do Art. 316, ou seja, a ilegalidade da prisão 
sendo necessária a impetração de habeas corpus requerendo seu 
relaxamento (Art. 648, II do CPP). 
Por fim, é importante a alteração trazida pelo parágrafo 3o do Art. 
3o-C que ao dizer que: “Os autos que compõem as matérias de 
competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria 
desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão 
apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e 
julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, 
medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que 
 
 
44 
deverão ser remetidos para apensamento em apartado” está adotando 
aquilo que Aury Lopes Jr. defende há anos como a exclusão física do 
inquérito policial16. 
Resumidamente, fica vedado que o inquérito policial acompanhe 
a Denúncia ou a Queixa. Por sua vez, o parágrafo 4o do Art. 3o-C reitera 
que as partes poderão ter acesso aos autos do inquérito policial, mas não 
poderão utilizá-los como prova, por exemplo, fazendo a juntada de 
elementos do inquérito ao processo durante a instrução como se prova 
documental fossem. 
Afinal, não seria razoável defender que a lei determina o 
acautelamento do inquérito policial para continuar permitindo seu 
ingresso por via transversal, bastaria que o MP, logo após o oferecimento 
da Denúncia realizasse a juntada do inteiro teor do inquérito policial aos 
autos do processo. 
Com isso, é possível defender a revogação tácita de parte do Art. 
155 do CPP que elucida: 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação 
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo 
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos 
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as 
 
16 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 169. 
 
 
45 
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação 
dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
A abertura retórica do Art. 155 do CPP sempre permitiu que se 
argumentasse que “os elementos colhidos no curso do inquérito policial 
foram confirmados pelas provas produzidas em contraditóriojudicial”, 
mesmo que não houvesse prova alguma. Isso se torna impossível na 
medida que os elementos informativos colhidos na investigação ficam 
acautelados e não integram mais o processo, logo não poderão ser 
utilizados para fundamentar sentença ainda que confirmados pela prova 
produzida no curso da instrução. 
Acredita-se que essa vedação se estende ao julgamento em 
Plenário do Tribunal do Júri, não sendo permitido na fase do Art. 479 do 
CPP realizar a juntada de elementos colhidos na fase de investigação. 
Entretanto a decisão liminar proferida pelo Min. Dias Toffoli em 
15/01/2020 na ADI 6298 afastou (ao menos liminarmente) a aplicação do 
Juiz de Garantias dos procedimentos de competência do Tribunal do Júri 
até o julgamento de mérito das ADI’s 6298, 6299 e 6300. 
 
4) O impedimento do Juiz de Garantias: evitando o confirmation 
bias 
 
 
46 
Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas 
competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo. 
Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão 
um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo. 
 
Essa previsão também renova uma das principais regras de 
determinação da competência, a prevenção prevista no Art. 83 do CPP, 
já que o Juiz de Garantias ao atuar entre o curso da investigação e o 
recebimento da acusação não se tornará prevento para a instrução e 
julgamento. 
Pelo contrário, o Art. 3o-D expressamente declara o impedimento 
do Juiz de Garantias para funcionar no curso do processo, tratando-se de 
nova hipótese de impedimento a ser somada aquelas previstas no Art. 
252 do CPP, tornando claro que a função do Juiz de Garantias é garantir 
a imparcialidade do Juiz de Instrução e Julgamento que não terá contato 
com os elementos indiciários (Art. 3o-C, parágrafo 3o)17. 
Existem pesquisas que comprovam a ocorrência de distorções 
cognitivas que provocam decisões “bloqueadas” ou “cegas” por uma 
 
17 Esse alerta já era feito há muito tempo pela doutrina crítica: MAYA, André Machado. 
Imparcialidade e processo penal. Da prevenção da competência ao juiz de garantias. 2a Ed. 
São Paulo: Atlas, 2014, p. 104 em diante, e LOPES JR. Aury; GLOECKNER, Ricardo 
Jacobsen. Investigação preliminar no processo penal. 6a ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 
405. 
 
 
47 
tendência confirmatória (confirmation bias) que afeta o magistrado que na 
fase preliminar profere decisões analisando a autoria e materialidade em 
casos que serão levados a seu julgamento de mérito no futuro.18 A 
implementação do Juiz de garantias tenta evitar essa ocorrência. 
Resumidamente, a prevenção decorrente da atuação na fase de 
investigação deixa de ser critério de fixação da competência e torna o 
magistrado impedido de atuar no curso do processo. 
Ao mudar a figura (pessoa) do julgador surgem novas 
perspectivas, ou seja se até então operava-se uma carga negativa ao 
investigado diante de determinado Juiz de Garantias a alteração do 
julgador pode permitir novas perspectivas e com isso novas chances e 
oportunidades. 
 
5) O funcionamento e implementação do Juiz de Garantias 
Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização 
judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos 
a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal. 
 
18 Nos referimos a pesquisa de Gloeckner que identificou: “Em números brutos, das 90 
sentenças e dos 90 acórdãos analisados, chegou-se à conclusão de que de forma direta ou 
indireta a prisão processual (como regra geral a prisão em flagrante) foi utilizada como 
elemento formador de convicção judicial em todos os casos.” (GLOECKNER, Ricardo 
Jacobsen. Prisões cautelares, confirmation bias e o direito fundamental à devida cognição no 
processo penal. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol 117, nov-dez, 2015. 
 
 
48 
 
O Art. 3o-E juntamente com o parágrafo único do Art. 3o-D 
disciplinam a aplicabilidade do Juiz de Garantias, esclarecendo que “nas 
comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um 
sistema de rodízio de magistrados”, da forma que já ocorre em diversos 
Estados no período de recesso forense. Ou seja, o Juiz de Garantias não 
aumentará os gastos do Poder Judiciário, salvo se assim escolherem seus 
dirigentes e o Poder Executivo. 
Advertimos que em decisão liminar proferida no julgamento das 
ADI’s 6298, 6299 e 6300 o Min. Dias Toffoli presidente do STF suspendeu 
até o julgamento de mérito o parágrafo único do Art. 3o-D por entender 
que o dispositivo “viola o poder de auto-organização dos Tribunais e 
usurpa sua iniciativa para dispor sobre organização judiciária”19. 
Entretanto, acreditamos que a opção dada pelo legislador é bastante 
viável e como dito já adotada por alguns Tribunais durante o recesso 
forense. 
 
19 Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-15/toffoli-suspende-implementacao-
juiz-garantias. Acesso em: 15/01/2020. 
 
 
49 
Ressalta-se que, posteriormente o Min. Luiz Fux em decisão 
liminar nas ADI’s 6.299 e 6.305 suspendeu por completo a aplicabilidade 
do Juiz de Garantias. 
As demais previsões acerca da organização do Juiz de Garantis 
será prevista nos Regimentos Internos dos Tribunais e normas de 
organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, 
observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo 
respectivo tribunal. 
 
6) A preservação dos direitos dos presos e a relação do Juiz de 
Garantias com a Nova Lei de Abuso de Autoridade 
Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o 
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com 
órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena 
de responsabilidade civil, administrativa e penal. 
Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 
180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da 
prisão e a identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a 
programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, 
assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade 
da pessoa submetida à prisão. 
 
 
 
50 
Por fim, o Art. 3o-F prevê como última atribuição do Juiz de 
Garantias impedir acordo ou ajuste entre autoridades e órgãos de 
imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob 
pena de responsabilidade civil, administrativa e penal. 
Ainda que os indicativos “acordo ou ajuste” sejam termos vagos, 
o Art. 13, inciso I da Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019 
em vigência desde o dia 03/01/2020) traduz com clareza que caracteriza 
crime “Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave 
ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a exibir-se ou ter 
seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública.”, 
independentemente da existência de acordo ou ajuste entre a autoridade 
e o órgão de empresa que realizar a divulgação. 
Inobstante, considerando que o direito a informação tem previsão 
constitucional (art. 5o, XIV da CF) o parágrafo único do Art. 3o-F traz uma 
norma de transição que concede 180 dias para regulamentação da forma 
que será realizada a comunicação a imprensa acerca da prisão de 
determinada pessoa e sua identidade, obviamente dentro dos limites do 
caput do Art. 3o-F e de forma a não incorrer no crime do Art. 13 da Lei 
13.869/2019. 
 
 
51 
Acreditamos que o ponto de equilíbrio será a divulgação do 
prenome da presa, evitando a divulgação de seu nome completo e 
vedada de qualquer forma a exposição de sua imagem (corpo) total ou 
parcial. 
 
Parte 2 – A obrigatoriedade de defesa ao Investigado Policial 
 
“Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculadosàs instituições dispostas no art. 
144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, 
inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for 
a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício 
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 
23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado 
poderá constituir defensor. 
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da 
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de 
até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. 
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de 
defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar 
a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, 
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a 
representação do investigado. 
§ 3º (VETADO). 
§ 4º (VETADO). 
§ 5º (VETADO). 
 
 
52 
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares 
vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os 
fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.” 
 
De forma tardia o Art. 14-A regulamentou expressamente o direito 
de defesa (Art. 5o LV da CF) aos investigados policiais (Art. 144 da CF) 
em qualquer investigação, restringido aos casos de investigação de fatos 
relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional. 
Idêntica previsão também foi incluída pela Lei 13.964/2019 no Código de 
Processo Penal Militar Decreto-Lei 1.002/69) em seu Art. 16-A.20 
 
20 “Art. 16-A. Nos casos em que servidores das polícias militares e dos corpos de bombeiros 
militares figurarem como investigados em inquéritos policiais militares e demais procedimentos 
extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados 
no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas 
nos arts. 42 a 47 do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal Militar), o 
indiciado poderá constituir defensor. 
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração 
do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) 
horas a contar do recebimento da citação. 
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, 
a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o 
investigado à época da ocorrência dos fatos, para que esta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, 
indique defensor para a representação do investigado. 
§ 3º, 4o e 5o (VETADO). 
§ 6º As disposições constantes deste artigo aplicam-se aos servidores militares vinculados às 
instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam 
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 
 
 
 
53 
Não entendemos a necessidade desta nova previsão e da 
supramencionada restrição, pois desde a reforma promovida pela Lei 
13.245/2016 na Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e a Ordem dos 
Advogados do Brasil), foi incluído o inciso XXI ao Art. 7o do Estatuto 
prevendo a possibilidade do advogado assistir seus clientes no curso de 
qualquer investigação, sob pena de nulidade. 
Trata-se de direito público e subjetivo, ou seja, existe a faculdade 
(possibilidade) de ter um advogado acompanhando a investigação. 
Desta forma, acreditamos que já era previsto o direito do investigado 
militar ser acompanhado por um defensor no curso da investigação, 
inclusive no inquérito policial militar, se assim desejasse, sendo inclusive 
mais ampla a previsão do Aet. 7o, XXI da Lei 8.906/94 em face a limitação 
imposta pelo Art. 14-A. 
A novidade na PRÁTICA é que o investigado será citado acerca 
da instauração do procedimento investigatório (Art. 14-A, parágrafo 1o) 
possibilitando de fato que o investigado constitua um defensor. Seria 
importante que existisse essa previsão para todas as pessoas, incluindo 
os investigados não militares, mas não foi a opção da Lei 13.964/2019 que 
restringiu esse direito tornando-o uma prerrogativa exclusiva dos 
militares. 
 
 
54 
Segundo parágrafo 2o do Art. 14-A, não sendo constituído 
advogado no prazo de 48 horas após a citação da instauração a 
Autoridade responsável pela investigação deverá comunicara a 
instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência 
dos fatos, para que esta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique 
defensor para a representação do investigado. 
Por fim, esclarece o parágrafo 6o do Art. 14-A que todas as 
disposições previstas neste dispositivo se estendem aos servidores das 
forças armadas elencados no Art. 142 da CF. Mas, novamente há uma 
restrição há uma restrição da prerrogativa desta vez para os investigados 
digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 
 
 
Parte 3 – O novo arquivamento do Inquérito Policial 
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos 
informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, 
ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de 
revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. 
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do 
inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da 
comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão 
ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. 
 
 
55 
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados 
e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada 
pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. (NR) 
 
1) O Arquivamento direto pelo Ministério Público 
Inicialmente esclarecemos que a decisão liminar proferida pelo 
Min. Luiz Fux no julgamento das ADI’s 6.299 e 6.305 suspendeu a eficácia 
do Art. 28 até o julgamento de mérito pelo Plenário, por entender que sua 
adoção causaria impacto financeiro ao órgão ministerial, além de 
entender que se trata de norma vaga, por exemplo pelo fato de não 
definir quem seria a “instância de revisão ministerial”.21 
A alteração trazida pela Lei 13.964/2019 modifica de forma 
significante o procedimento de arquivamento do inquérito policial ou 
qualquer outra forma de investigação criminal que, anteriormente eram 
promovidas pelo Ministério Público e determinadas pelo Juiz. 
A nova redação do Art. 28 passa a prever um arquivamento direto 
realizado pelo Ministério Público, sem a necessidade de intervenção ou 
qualquer análise judicial e que ocorrerá em 02 (duas) etapas: (a) o 
 
21 Disponível em: 
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15342203609&ext=.pdf. Acesso em 
30/01/2020. 
 
 
56 
promotor natural do caso manifesta-se pelo arquivamento da 
investigação; (b) logo após será realizada a comunicação da vítima, do(s) 
investigado(s) e da autoridade policial, submetendo o arquivamento 
para homologação pela instância de revisão ministerial (que já existia no 
MPF sendo intitulado de Câmara de Coordenação e Revisão22). 
Lembre-se ainda que a redação original do Art. 28 permitia que o 
Juiz discordasse do arquivamento, oportunidade em que remeteria os 
autos ao Procurador-Geral que, por sua vez, poderia decidiria sobre a 
necessidade de oferecimento de Denúncia (pelo próprio PGJ ou outro 
Promotor) ou insistiria no arquivamento que somente neste caso 
vincularia o Juiz. A possibilidade de o Juiz discordar do arquivamento 
não subsiste no arquivamentorealizado diretamente pelo MP. 
A lei foi omissa ao não esclarecer qual será a providencia caso a 
instância de revisão ministerial não concorde com o arquivamento, 
acredita-se que será adotada a mesma providencia realizada pela redação 
original do Art. 28 no caso em que o PGJ discordasse do arquivamento, 
de modo que deve ser indicado outro Promotor para oferecer a 
Denúncia. 
 
22 Sobre o tema veja: http://www.mpf.mp.br/o-mpf/sobre-o-mpf/atuacao/camaras-de-
coordenacao-e-revisao. Acesso em 14/01/2020. 
 
 
57 
 
2) O Direito de Revisão do arquivamento do inquérito policial 
Até o surgimento da Lei 13.964/2019 não havia providencias 
processuais a serem praticadas pela vítima ou seu representante legal 
caso não concordassem com a promoção do arquivamento do inquérito 
policial. 
A partir de agora, o Art. 28 além de prever a obrigação de 
comunicação da vítima em seu parágrafo 1o cria a possibilidade da vítima 
ou seu representante legal requerem a revisão do arquivamento da 
investigação. 
 Podemos dizer que surge com isso uma espécie de Recurso 
Administrativo contra o Arquivamento do inquérito policial, cujo 
prazo é de 30 (trinta) dias, contados a partir da comunicação do 
arquivamento e na forma do Art. 798 do CPP, tendo legitimidade a 
vítima ou seu representante ilegal. 
O parágrafo 1o fala que o recurso será apreciado pela “instância 
competente do órgão ministerial”, o que provavelmente será definido 
pelo Ministério Público em Resolução, evitando que o pedido de revisão 
seja apreciado por quem homologou o arquivamento, ou seja, as 
chamadas Câmaras de Coordenação e Revisão. 
 
 
58 
Por fim, o parágrafo 2o esclarece que nas ações penais relativas a 
crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios a 
legitimidade para promover a revisão do arquivamento fica ao encargo 
de seu representante legal. 
 
 
 
59 
 
Parte 4 – O Acordo de não persecução penal 
“Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal 
e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e 
com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor 
acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e 
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e 
alternativamente: 
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; 
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público 
como instrumentos, produto ou proveito do crime; 
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente 
à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser 
indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 
de dezembro de 1940 (Código Penal); 
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei 
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse 
social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como 
função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo 
delito; ou 
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, 
desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. 
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste 
artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso 
concreto. 
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: 
 
 
60 
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, 
nos termos da lei; 
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem 
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as 
infrações penais pretéritas; 
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da 
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão 
condicional do processo; e 
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou 
praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do 
agressor. 
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado 
pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. 
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência 
na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado 
na presença do seu defensor, e sua legalidade. 
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições 
dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério 
Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do 
investigado e seu defensor. 
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá 
os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de 
execução penal. 
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos 
legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. 
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a 
análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da 
denúncia. 
 
 
61 
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de 
seu descumprimento. 
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução 
penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e 
posterior oferecimento de denúncia. 
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também 
poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não 
oferecimento de suspensão condicional do processo. 
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão 
de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 
2º deste artigo. 
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente 
decretará a extinção de punibilidade. 
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não 
persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, 
na forma do art. 28 deste Código.” 
 
1) Justiça Negocial: um caminho sem volta para um sistema 
dominado pela negociação nos processos criminais 
Dentre todos OS tipos penais previstos no Código Penal (Art. 121 
ao 359-H do CP) somente 45 crimes não permitirão o acordo de não-
persecução penal (doravante abreviado como ANPP). 
Ou seja, menos de 20% dos crimes do Código Penal não 
permitirão a realização do ANPP por não preencherem seus requisitos 
(objetivos) que serão analisados no tópico seguinte. São eles: 
 
 
62 
 
→ Os crimes contra vida (Art. 121 ao 126 do CP), com exceção do 
homicídio culposo (Art. 121, parágrafo 3o do CP); 
→ A lesão corporal (Art. 129 do CP), com exceção da lesão culposa 
(Art. 129, parágrafo 6o do CP); 
- Abandono de incapaz com resultado morte (Art. 133, parágrafo 
2o do CP); 
→ Maus tratos quando ocorrer lesão ou resultado morte (Art. 136, 
parágrafos 1o e 2o do CP); 
→ Rixa (Art. 137 do CP); 
→ Constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), Ameaça (art. 147 do 
CP) e Sequestro e Cárcere privado qualificado (Art. 148, parágrafo 
2o do CP); 
→ Roubo (Art. 157 do CP), Extorsão (Art. 158 do CP) e Extorsão 
mediante Sequestro (Art. 159 do CP); 
→ Esbulho possessório com violência (Art. 161, parágrafo 2o do 
CP); 
→ Dano com violência ou grave ameaça (Art. 163, parágrafo único, 
inciso I do CP) 
 
 
63 
→ Os crimes contra a organização do trabalho (Art. 197 ao 207 do 
CP), com exceção aos artigos 201, 202, 205, 206 e 207 do

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