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MÓDULO DE: LEGISLAÇÃO E FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL AUTORIA: CASTORINA DO NASCIMENTO CALENZANI Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: LEGISLAÇÃO E FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Autoria: Castorina do Nascimento Calenzani Primeira edição: 2009 CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS Várias Marcas Registradas São Citadas No Conteúdo Deste Módulo. Mais Do Que Simplesmente Listar Esses Nomes E Informar Quem Possui Seus Direitos De Exploração Ou Ainda Imprimir Logotipos, O Autor Declara Estar Utilizando Tais Nomes Apenas Para Fins Editoriais Acadêmicos. Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. E Por Fim, Declara Estar Utilizando Parte De Alguns Circuitos Eletrônicos, Os Quais Foram Analisados Em Pesquisas De Laboratório E De Literaturas Já Editadas, Que Se Encontram Expostas Ao Comércio Livre Editorial. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................... 6 Segundo Rust (1999): ........................................................................................ 6 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 10 Aspectos Históricos e Legais da Educação Infantil ......................................... 10 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 13 Objetivos e Tendências da Educação Infantil ................................................. 13 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 17 O Direito à Educação Infantil ........................................................................... 17 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 21 Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 ......................................................... 21 UNIDADE 6 ......................................................................................................... 26 Educação Infantil na LDB 9394/96 .................................................................. 26 UNIDADE 7 ......................................................................................................... 29 UNIDADE 8 ......................................................................................................... 33 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ................................................. 33 UNIDADE 9 ......................................................................................................... 38 Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001 ............................................................ 38 O Plano Nacional de Educação ............................................................................................................... 39 O Plano Nacional de Educação e os Planos Estaduais e Municipais ........................................................ 39 UNIDADE 10 ....................................................................................................... 42 As ideias vêm de longe, mas o que o atual Plano Nacional de Educação herda dessa história? ....................................................................................... 42 UNIDADE 11 ....................................................................................................... 47 A EDUCAÇÃO INFANTIL NO PNE ................................................................. 47 UNIDADE 12 ....................................................................................................... 52 1.2 Diretrizes .................................................................................................... 52 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 56 A seguir serão apresentados os objetivos e metas do PNE para a Educação Infantil. .............................................................................................................. 56 UNIDADE 14 ....................................................................................................... 60 A Política de Assistência Social no Contexto da Educação Infantil: possibilidades e desafios um trabalho socioeducativo .................................... 60 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 69 DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais) ....................................................... 69 UNIDADE 16 ....................................................................................................... 75 RCNEI e Educação Infantil: desencontros e confrontos ................................ 75 UNIDADE 17 ....................................................................................................... 80 Financiamento e Gestão Orçamentária da Educação ..................................... 80 UNIDADE 18 ....................................................................................................... 84 Origem dos Fundos para a Educação: breve histórico ................................... 84 UNIDADE 19 ....................................................................................................... 89 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA EDUCAÇÃO BÁSICA E O FUNDEB ............... 89 UNIDADE 20 ....................................................................................................... 92 Financiamento da Educação no Brasil ............................................................ 92 UNIDADE 21 ....................................................................................................... 96 Vinculação de Recursos de Impostos para a Educação ................................. 96 UNIDADE 22 ..................................................................................................... 100 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE MUDA COM O FUNDEB? ....................................................................................................... 100 UNIDADE 23 ..................................................................................................... 104 2.1.3 A Composição das Fontes de Recursos .............................................. 104 UNIDADE 24 ..................................................................................................... 109 2.1.7 A Implementação Gradativa do Fundeb ............................................... 109 UNIDADE 25 ..................................................................................................... 112 GESTÃO ORÇAMENTÁRIA DA EDUCAÇÃO .............................................. 112 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 UNIDADE 26 ..................................................................................................... 116 EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL ............................................. 116 UNIDADE 27 ..................................................................................................... 120 Conselho Municipal de Educação (CME) e Fundo de Manutenção da Educação Básica (FUNDEB) ......................................................................... 120 UNIDADE 28 .....................................................................................................126 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............. 126 UNIDADE 29 ..................................................................................................... 130 FINANCIAMENTO E QUALIDADE SOCIAL DA EDUCAÇÃO ...................... 130 UNIDADE 30 ..................................................................................................... 133 VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL NA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL ........ 133 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 UNIDADE 1 Objetivo: Identificar a relevância de conhecer a legislação educacional. Segundo Rust (1999): O Educador e o Texto da Lei A função do Educador, além do conhecimento teórico- conceitual necessário à prática pedagógica, exige um mínimo de conhecimento das leis que regulamentam a organização e o funcionamento dos sistemas de ensino e das unidades escolares. Entretanto, o contato com os textos legais não ocorre de maneira uniforme; quer dizer, são diversas as reações dos educandos em face desses textos. Essas reações diversas podem ser agrupadas em pelo menos três tipos: a) Aqueles que acreditam que todos os problemas que afligem sua escola ou sua categoria profissional se resolvem a partir de uma lei. A esses podemos chamar de idealistas. b) Aqueles que não acreditam que seus problemas possam ser resolvidos por qualquer instrumento legal. A esses podemos chamar de pessimistas. c) Aqueles que conseguem perceber o alcance real de um texto legal, isto é, que tipos de questões se resolvem a partir da promulgação de uma lei e aqueles que dependem de outras formas de intervenção. Os dois primeiros grupos apresentam posturas radicalmente opostas: ou se atribui ao texto legal um poder absoluto, ou nega-se totalmente qualquer possibilidade de mudança a partir da lei. No que se refere ao terceiro grupo, podemos chamá-lo de crítico. Crítico é aquele que diante de texto legal é capaz de distinguir: 1 – O contexto histórico no qual a lei foi promulgada ou outorgada; 2 – O momento político que determinou a aprovação do texto; 3 – A diferença no texto, entre o discurso proclamado e os objetivos reais nem sempre explícitos. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 Como exemplo, trataremos a seguir de cada um dos itens expostos acima: 1.1 Contexto Histórico Decreto nº 11 530 de 18 de março de 1915. DA POLÍCIA ACADÊMICA Art. 115 A polícia acadêmica tem por fim manter no seio da corporação acadêmica a ordem e a moral. Art. 116 Ao diretor, à congregação e ao Conselho Superior do Ensino caberá providenciar sobre a política acadêmica. Art. 117 As penas disciplinares são as seguintes: a) advertência particular feita pelo diretor; b) a advertência pública, feita pelo diretor na presença de certo número de docentes; c) suspensão por um ou mais períodos letivos; d) expulsão da faculdade; e) exclusão dos estudos e todas as faculdades brasileiras. Os três artigos do decreto citados acima lidos e analisados de forma descontextualizada são inadmissíveis hoje; por isso, antes de qualquer julgamento em relação à polícia acadêmica e ao rigor das punições, o leitor deve analisá-los à luz do seu tempo, isto é o ano de 1915, quando o decreto entrou em vigor. No surto de industrialização do início do século, o eixo Rio – São Paulo recebeu um contingente significativo de trabalhadores urbanos, constituído, principalmente por imigrantes europeus (na sua maior parte italianos). Estes imigrantes, predominantemente trabalhadores industriais que já convivam e conheciam o ambiente fabril, trouxeram para o Brasil, além de sua experiência profissional, a organização dos trabalhadores nos moldes sindicais e com grande influência do pensamento anarquista. Paralelamente difundiram-se também junto ao operariado mundial as ideias marxistas (a ascensão do comunismo) principalmente na década de 10, que culmina com a Revolução Russa de 1917. Estas novas ideias políticas se expandem, chegando aos intelectuais e jovens de nível superior, que passam a organizar e liderar manifestações de cunho político. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 Os estudantes das escolas superiores não estavam indiferentes aos conflitos político-sociais e sua participação assumia diferentes formas, desde manifestações de rua contra o aumento dos preços dos bondes até aquelas que diziam respeito à própria dominação das oligarquias, como a campanha pelo voto direto. Foi a partir deste panorama que o Decreto nº 11530 foi outorgado, na tentativa de conter a infiltração das ideias trazidas pelo movimento operário nas faculdades. Ao transcrevermos os artigos 115 a 117 deste governo observamos que a instituição da Polícia Acadêmica reflete a preocupação do governo em tentar impedir o avanço dessas ideias e o clima de agitação que caracterizou o período. 1.2 Momento Político Comparando o tempo de tramitação da lei 4024/61 e a lei 5692/71 constatamos que a primeira foi lida em plenário pela primeira vez em 1948, e sua aprovação final só aconteceu em 1961. Isto significa que a lei demorou nada menos do que treze anos para ser aprovada. A leitura da mensagem para apreciação do texto da lei 5692/71 foi feita em 29 de junho de 1971 e sua promulgação se deu em 11 de agosto de 1971. Isto significa que o texto da lei 5692 tramitou no congresso até à sanção presidencial exatamente quarenta e três dias. Esta diferença significativa no prazo de tramitação das duas leis se deve ao fato de que o país atravessava em 1971. Um período de exceção no qual o Governo Federal controlava as decisões do Congresso Nacional principalmente através do partido que lhe dava sustentação política. A Aliança Renovadora Nacional – ARENA tinha a maioria absoluta. Qualquer projeto oriundo do executivo teria aprovação certa. Naquele momento interessava ao executivo a aprovação daquele texto porque ele se ajustava aos objetivos políticos e econômicos colocados no Plano Nacional de Desenvolvimento – PND. O terceiro e último item: é diferenciar o discurso proclamado do discurso real. A lei 5692, aprovada e sancionada em dezembro de 1971, estabeleceu a compulsoriedade do ensino profissionalizante para o segundo grau. A justificativa apresentada não deixava dúvida quanto a necessidade de mão de obra qualificada porque, a partir de 1968, o país atravessava um período de crescimento econômico sem precedentes na história, período conhecido: Milagre Econômico. Os três exemplos citados ilustram cada item apresentado como sendo característica do grupo considerado portador de uma postura crítica em relação ao texto da lei. Estudar a lei 9394/96 contribuirá para a construção de uma visão crítica na análise dos temas propostos. BIBLIOGRAFIA RUST. Professor Demóstenes. EDU 141 – Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus. 4 . ed. Viçosa, MG. 1999. p. 12-14. Mimeografado. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 Para ampliar seu conhecimento e facilitar a análise da legislação. Artigo, parágrafo, inciso, alínea O site do Ministério Público: (http://www.mp.pr.gov.br/imprensa/pil0711.html) contribuirá para a compreensão das divisões e subdivisões da legislação e, sobretudo, da forma como se deve ler seu número ou ordem. Divisões A elaboração das leis e códigos segue uma sistemática chamada de técnica legislativa, que prevê subdivisões no texto, a fim de detalhar as previsões legais e facilitar a interpretação da legislação. Assim, os artigos de uma lei podem ser divididos em parágrafos, incisos e alíneas. Artigo (art. / Art.) O artigo é expresso com a abreviatura (“art.” ou “Art.”), seguido de um número natural. Por exemplo: art. 1 ou art. 1º, art. 10 (ou Art. 1, Art. 1º, Art. 10). Pode-se ler tanto como “artigo um”, “artigo dez”, como “artigo primeiro”,“artigo dez” (de um a nove pode-se ler como número ordinal: artigo primeiro, segundo, terceiro, quarto... nono, ou, simplesmente, artigo um, dois, três... nove. Do dez em diante, deve ser lido normalmente: artigo dez, onze, vinte, etc. Não se diz artigo décimo primeiro, por exemplo). Parágrafo (§) Da mesma forma acontece com o parágrafo, que é representado pelo símbolo § (no computador, geralmente utiliza-se como atalho para § a tecla “Alt GR” e o símbolo “+”). Para § 2 ou § 2º, podemos dizer: parágrafo dois ou parágrafo segundo. De dez em diante, parágrafo dez, onze, doze... Inciso (I -, II -, III -, IV -) O inciso é diferente. É expresso em números romanos, mas, na hora da leitura, também pode ser lido das duas formas até o número 9, ou seja “II –” é inciso dois ou inciso segundo). Alínea ( a), b), c) ) A alínea é representada por letras minúsculas: alínea a, alínea b, c, d, etc. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 UNIDADE 2 Objetivo: Apropriar-se de informações históricas a respeito dos aspectos históricos e legais da Educação Infantil. Aspectos Históricos e Legais da Educação Infantil A Pré-escola surgiu no século XVII, na França e na Inglaterra, com a função de “guardar” as crianças pobres, filhas dos que integraram no mundo do trabalho servil, que o sistema capitalista em, expansão, lhes impunha. A partir do século XIX, a Educação das crianças pequenas passa a ter uma nova função, mais integrada à ideia de Educação e de assistência, tendo com função compensar as deficiências, a miséria, a pobreza e a negligência da família. Essa função compensatória assume caráter mais relevante após a II Guerra Mundial, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, onde a Pré-escola era identificada como alternativa para resolver o fracasso escolar, a essa ideia somava-se a da compensação de carências infantis através do adestramento de habilidades. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a Educação Infantil assume certa relevância, principalmente por garantir condições para que as mulheres deixassem suas atividades domésticas e se tornassem profissionais, disputando vagas de emprego. Diante dessa nova realidade, os países mais desenvolvidos perceberam a necessidade de discutir políticas públicas de Educação e cuidado para a Primeira Infânci, considerando-a como parte integrante de seu sistema mais amplo de apoio à promoção do bem-estar das crianças e de suas famílias. Etapas que marcaram o início formal da Educação Infantil: 1. Nascimento das creches: Muitas mulheres, a partir da Revolução Industrial, precisaram se ausentar do lar e das manufaturas caseiras e ocupar espaço nas fábricas. Para cuidar das crianças são criados, em fins do século XVII, os “refúgios”, que consistiam Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 em uma sala, cozinha ou mesmo outro cômodo, na residência de uma mulher que não trabalhava fora, onde as crianças eram alimentadas e cuidadas, surgindo daí, o embrião das creches. Surgem na França, por volta de 1840, as primeiras instituições que cuidavam de crianças recém-nascidas até completarem cinco anos de idade. Pela Europa e pela América estabeleceram-se creches com as funções de cuidar da alimentação e guardar as crianças pequenas. Posteriormente, a essas funções somaram-se o cuidado com a saúde da criança e com as condições de um ambiente saudável que se assemelhasse em tudo a um lar e mantivesse sob controle as doenças mais comuns na Primeira Infânci. Atualmente, outra modalidade moderna de creches são denominadas “hoteizinhos infantis”, que se destinam a prestar atendimento ocasional às crianças, sem horário sistemáticos, enquanto as mães precisam viajar, ausentarem-se para uma festa ou outro evento, ou mesmo para ir às compras. 2. Escolas Maternais: instituição mais antiga do que a creche. As primeiras notícias que se tem de uma ação educativa institucionalizada para crianças, resultam da ação do senhor Oberlin, pastor luterano, que se dedicou a cuidar das crianças pequenas, livrando-as dos percalços da rua durante o tempo que suas mães cuidavam dos afazeres domésticos. Foram espalhadas por todo o território francês com o nome de “Écoles à Tricoter” (Escolas de Tricotar), caracterizando o predomínio dos trabalhos manuais nas atividades desenvolvidas. Nessa mesma época, na Inglaterra, Robert Owen, proprietário de um tear de algodão, criou as primeiras escolas infantis inglesas, denominadas de “Salas de Asilo” ou “Escola Preparatória para Crianças”, nas quais admitiam crianças na faixa etária de um a seis anos, geralmente órfãs pobres. Seu objetivo era combater os nefastos efeitos do sistema fabril em relação às crianças, para isso cuidava para que elas adquirissem bons hábitos e boa convivência uma com as outras. A partir de 1870, as Escolas Infantis ou Maternais passaram a fazer parte do sistema educacional inglês. Com finalidades semelhantes aos países europeus, de cuidar dos filhos de operários e estimular a evolução socioemocional das crianças da classe média, surgem nos Estados Unidos, a partir da década de 20, as Escolas Maternais. Após a Segunda Guerra Mundial, os cuidados já mencionados são acrescidos da necessidade de atenção à saúde emocional das crianças em razão dos reflexos da morte ou ausência dos pais ou mesmo pelo afastamento diário das mães, originando o Serviço de Psiquiatria preventiva Infantil. Na tentativa de reverter o quadro do fracasso escolar, a partir da década de 50, cresce a preocupação em ampliar o atendimento às crianças de baixa renda. Surgindo, nesse contexto, a Pré-escolar com o objetivo de preparar as crianças para a Educação elementar. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 3. Jardins de Infânci: foram criados por Friedrich Froebel, diferenciando-se das creches e escolas maternais por serem quase todos mantidos pelo capital privado, pelo alto custo das mensalidades cobradas e por ter como público alvo a elite. Assume maior destaque no Estado de São Paulo, inicialmente na capital e depois abrangendo as cidades de Campinas, Piracicaba, Sorocaba, Araraquara, entre outras. 4. Parques Infantis: instituições bem mais recentes têm sua origem no movimento de Educação Física, a partir de 1870, na Alemanha. As crianças eram conduzidas pelos professores para praticar esportes nos parque dos arredores da cidade. Somente no ano de 1935, foi criado em São Paulo o primeiro Parque Infantil, com o objetivo de fortalecer o gosto pelos esportes, desenvolvendo hábitos saudáveis e de grande alcance moral e higiênico. Leia um fragmento escrito por Rubem Alves em Educação dos Sentidos. Caixa de ferramentas Resumindo: são duas, apenas duas, as tarefas da Educação. Como acho que as explicações conceituais são difíceis de aprender e fáceis de esquecer, eu caminho sempre pelo caminho dos poetas, que é o caminho das imagens. Uma boa imagem é inesquecível. Assim, ao invés de explicar o que disse, vou mostrar o que disse por meio de uma imagem. O corpo carrega duas caixas. Na mão direita, mão da destreza e do trabalho, ele leva uma caixa de ferramentas. E na mão esquerda, mão do coração, ele leva uma caixa de brinquedos. [..] assim, diante da caixa de ferramentas, o professor tem de se perguntar: “Isso que estou ensinando é ferramenta para quê? De que forma pode ser usado? Em que aumenta a competência de meus alunos para viver a sua vida?” se não houver respostas, pode-se estar certo de uma coisa: ferramenta não é. Mas outra caixa, na mão esquerda, a mão do coração. Essa caixa está cheia de coisas que não servem para nada. Inúteis. Lá estão um livro de poemas de Cecília Meireles, a “Valsinha”, do Chico, um cheiro de jasmim, um quadro de Monet, um vento no rosto, uma sonata de Mozart, o riso de uma criança, um saco de bolas de gude... Coisas inúteis. E, no entanto, elas nos fazemsorrir. E não é para isso que se educa? Para que nossos filhos saibam sorrir. ALVES (2005, p.9- 12). Qual a escola que queremos? Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 UNIDADE 3 Objetivo: Identificar objetivos e tendências da Educação Infantil a partir da análise dos principais documentos legais referentes à Educação Infantil. Objetivos e Tendências da Educação Infantil O atendimento às crianças de 0 a 6 anos em instituições especializadas tem origem com as mudanças econômicas e sociais, provocadas pelas revoluções industriais em nível mundial. A entrada das mulheres no mundo do trabalho provoca alteração na organização familiar, pois deixam de ser apenas as cumpridoras de afazeres domésticos, junto a isso a pressão dos trabalhadores urbanos, que viam nas creches um direito, seus e de seus filhos, por melhores condições de vida, deu-se início ao atendimento da Educação Infantil (termo atual referente ao atendimento de crianças de 0 a 6 anos) no Brasil. A partir de 1920, a Educação para a ser defendida como direito de todas as crianças e identificada como possibilidade de ascensão social, com isso as instituições de atendimento às crianças na Primeira Infânci vão alterando seu perfil exclusiviamente filantrópico. A década de 30, é marcada pela criação de órgãos estatais voltados à assistência Infantil: Ministério da Saúde; Ministério da Justiça e Negócios Interiores, Previdência Social e Assistência social, Ministério da Educação. Com foco na redução mortalidade Infantil, inicia- se, de forma desordenada, a organização de creches, jardins de Infânci e Pré-escolas. Em 1940 é criado o Departamento Nacional da Criança, visando organizar o atendimento à Infânci, maternidade e adolescência, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde. A década de 50 é fortemente marcada pela ação do Departamento Nacional da Criança no combate à desnutrição e na vacinação. Na década de 60, ocorre o enfraquecimento do Departamento Nacional da Criança, cujas responsabilidades são divididas com outros órgãos, restanto apenas as de caráter médico- assistencialista, enfocando suas ações em reduzir a morbimortalidade materna Infantil . Decreto nº 17698, de 26 de novembro de 1947 Trata especialmente das Escolas Maternais e aos Jardins de Infânci. Segundo o artigo 130, é finalidade das Escolas Maternais é oferecer às crianças, na Primeira Infânci oportunidade de se desenvolverem em ambiente que se assemelham ao do lar. Refletindo a concepção de Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 Pré-escola como prolongamento do lar, desenvolvendo, prioritariamente, atividades lúdicas, de manipulação, construção, expressão além de hábitos de higiene. Em relação aos Jardins de Infânci, estruturados em classes experimentais, destinavam-se a oportunizar situações para que as crianças praticassem a autodireção e o autocontrole, desenvolve-se a iniciativa, a invenção, aprendessem a coordenar esforços e interesses com seus companheiros, demonstrando preocupação com o desenvolvimento individual e a interação social. Portarias do Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho A primeira portaria normatiza a instalação de creches em estabelecimentos em que trabalham mulheres. Já a segunda, delega a responsabilidade de fiscalizar as creches à Coordenação de Proteção Materno-Infantil, que também deveria cuidar do planejamento, orientação, coordenação e controle das atividades de proteção à maternidade, à Infânci e à adolescência. Lei 5692/71 Aprovada em 11 de agosto de 1971, fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, alterando a estrutura estabelecida pela Lei nº 4 024/61. Em relação à Educação de crianças até 7 anos, a Lei define que deve ocorrer em escolas maternas, jardins de Infânci ou outras equivalentes. Recomenda cuidados e atenção com esta fase da Educação, porém, de forma extremamente tímida, instruindo as entidades educacionais para que “velassem”, a fim de que as crianças com idade inferior a sete anos recebessem “conveniente Educação” e (cf. art. 19, § 2º, Lei 5692/71). . Em outro artigo, sugere que as empresas privadas, as quais têm mulheres com filhos menores de sete anos, ofertem atendimento (educacional) a estas crianças, podendo ser auxiliadas pelo Poder público. Tal lei recebeu inúmeras críticas, quanto sua superficialidade, sua dificuldade na realização pois, não havia um programa mais específico para estimular as empresas a criação das Pré-escolas, nem a definição se o papel do professor era ocupar o tempo da criança ou prepará-la para a escolarização obrigatória. Parecer 970/72 do Conselho Estadual de Educação de São Paulo Esse parecer concede maior clareza ao que propõe Lei 5692/71, definindo alguns aspectos relevantes: Escolas Maternais: com a função de atender classe menos favorecidas, objetivando a preservação do desenvolvimento orgânico; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 Jardins de Infânci: focados no atendimento de crianças de 4 a 6 anos, organizados em três fases. Articulando a terceira fase com o Ensino Primário. Parecer CFE 201/74 Preconiza a urgência do fortalecimento e da difusão da Educação Pré-escolar em todo o território brasileiro. Segundo esse Parecer, a Educação Pré-escolar tem como objetivos: O desenvolvimento intelectual e a socialização; Preparação para a escola elementar; Vida física; Papel do infantário; Desenvolvimento da linguagem; Aspectos afetivos, morais e religiosos. A visão da Educação enquanto elemento de desenvolvimento e preparação da criança para o Ensino Fundamental é fortalecida a partir da década de 80, cujo fortalecimento é comprovado na atual LDB. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 Leitura da Lei 5692/71. Análise do contexto histórico quando da promulgação dessa Lei. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 UNIDADE 4 Objetivo: Analisar a Educação Infantil no contexto da Constituição Federal de 1988. O Direito à Educação Infantil No período que antecedeu a aprovação da Constituição de 1988, muitos foram os debates e discussões realizados em torno dos caminhos da Educação Infantil, principalmente os defendidos pelos movimentos sociais, com destaque os ligados aos direitos das mulheres, os quais buscavam o reconhecimento da Educação Infantil enquanto direito. O esforço não foi em vão, pois a Constituição atual reconhecer como dever do Estado o atendimento em creches e Pré-escolas. [...] No contexto da democratização do País, surgiram reivindicações de maior atenção do poder público para a questão da Infânci, entendida como parte da questão familiar, inserida na questão social, surgida em determinado contexto político e econômico. Na oportunidade, Sônia Kramer defendia a ideia de que: “Uma Constituinte que se pretenda democrática deverá, no que se refere à população Infantil, postular a obrigatoriedade por parte do Estado de oferecer creches e Pré- escolas para as crianças de 0 a 6 anos, de todas as classes sociais, garantindo que seja da família a decisão de efetivar ou não a matrícula.” A universalização da Educação Infantil, destinada a todas as crianças, sem distinção de raça, cor, sexo, classe ou religião, sem nenhum tipo de discriminação, passou a ser considerada uma exigência das sociedades democráticas, confirmando o que disse Dieuzeide: “Antes de Froebel a Educação Pré-escolar era prerrogativa das elites e de certa forma conservou esta orientação. As classes sociais mais favorecidas – como também os países mais ricos – tiveram acesso mais fácil à Educação Pré-escolar que as pobres, mas hoje, o princípio dessa Educação é aceito por todos, e considerando cada vez mais como um instrumento essencial de democratização da sociedade.”[...] A falsidade da polarização e da dicotomia entre cuidado e Educação, bem como a distinção entre assistência e assistencialismo foram analisadas, imprimindo-se uma visão crítica, não conspiratória. Análises consistentes foram aos poucos superando as concepções ingênuas, simplistas, dogmáticas, rotuladoras, preconceituosas e autoritárias, arrefecendo-se também o antidemocrático discurso da competência. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Dramas e tragédias como: o trabalho Infantil, os meninos e as meninas de rua, os maus- tratos domésticos, o abuso sexual e a prostituição Infantil, entre outros, mostraram a necessidade de o Estado e a sociedade empreenderem enorme esforço para a conquista da cidadania por esse significativo contingente populacional. Cresceu a consciência de que, sendo a situação da Infância parte de um todo, é preciso interferir sobre os condicionantes dessa realidade para sua transformação. FONSECA (2002, p. 199-200). Podem ser considerados como relevantes avanços da Constituição de 1988, na área da Infância, os seguintes aspectos: 1. garantir à criança direitos específicos – reconhecendo-a como sujeito de direitos e pessoa em real processo de desenvolvimento, para além de uma concepção em que o direito da criança derivava dos direitos da família (arts. 6, 205 e 227); 2. atribuir ao Estado, além de à família e à sociedade, a responsabilidade de assegurar o cumprimento dos direitos da criança com absoluta prioridade, garantindo, entre outros aspectos, a oferta de creches e pré-escolas (arts. 208 e 227); 3. atribuir aos municípios a responsabilidade de concretização dessa oferta, com cooperação técnica e financeira da União e do Estado (arts. 30 e 211), ao mesmo tempo em que define como prioridade municipal o atendimento educacional: art. 2ll, parágrafo 2.º: .Os municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e Pré-escolar; 4. caracterizar a creche e a Pré-escola como instituições educativas: art. 208 IV: O dever do Estado com a Educação9 será efetivado mediante a garantia de (...) atendimento em creche e Pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade. A importância da Educação Infantil Pesquisas científicas sobre desenvolvimento Infantil deixam evidente a real importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social dos seres humanos. A Educação Infantil tem um papel fundamental na formação do indivíduo e reflete em uma melhora significativa no aprendizado da criança. Dados do IBGE mostram que apenas 40% das 21,7 milhões de crianças brasileiras entre 0 e 6 anos estavam matriculadas em creches ou escolas em 2004 e cerca de 13% daquelas de 0 a 3 anos frequentavam creches. Ou seja, a universalização da Educação não vale para todos os segmentos. Trabalhar a democratização do ensino nos primeiros 6 anos de vida é essencial para melhorar o índice de aprendizado dos alunos, estimular desde cedo a busca pelo Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 conhecimento e eliminar as diferenças de origem socioeconômica no desempenho de crianças de 1ª série. Não é por acaso que, na França, os professores precisam ter mestrado para trabalhar com os pequenos e são tão bem remunerados quanto os que lecionam no nível superior. Uma amostra de como o ingresso na escola desde cedo faz diferença é o índice de repetentes na 1ª série do Ensino Fundamental, monitorado pela UNESCO e pelo OCDE em 48 países. O Brasil tem a taxa mais alta com 32%, ante 1% da Rússia e China. Essa realidade condena um terço da população brasileira ao atraso e mexe desde cedo com a autoestima das crianças. É na creche ou Pré-escola que os pequenos começarão a se conhecer e a conhecer o outro, a se respeitar e a respeitar o outro, e a desenvolver suas habilidades e construir conhecimento. *(Autora do texto: Regina Scarpa é Coordenadora Pedagógica da Fundação Victor Civita). Obs: Texto publicado no Jornal da Tarde, 30/08/06. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 Ampliando conhecimentos Segundo Mendes (1993): Constituição – lei fundamental do Estado; é o documento que contém os princípios e as instituições que o governam; Normas constitucionais – são normas superiores a todas as outras. A norma jurídica que a contrariar, total ou parcialmente, será considerada inconstitucional e não será aplicada; Normas complementares – são as previstas na Constituição e se destinam a complementar as normas constitucionais; Normas ordinárias – são as regras jurídicas, elaboradas, principalmente, pelo poder do Estado, que têm como função preponderante a elaboração do Direito, o Poder Legislativo. Como exemplos, podemos citar os diversos códigos: Civil, Penal, Tributário, etc.; Normas regulamentares – são as elaboradas pelas autoridades administrativas, partindo da lei ordinária e tendo em vista a sua aplicação, como: decretos, portarias, instruções normativas, normas reguladoras, etc.; Normas atitudinais – resultam da aplicação do Direito a casos concretos particulares, como: cláusulas contratuais, regulamentos internos de pessoal, estatutos de associações, sentenças, etc. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 UNIDADE 5 Objetivo: Localizar no tempo a LDB nº 9394/96. Segundo Rust (1.999): Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 Histórico O debate em torno de uma nova lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tomou considerável impulso em 1988, no clima gerado pela elaboração de uma nova Constituição brasileira. Depois de uma ampla consulta aos segmentos organizados da sociedade, um primeiro projeto de lei foi apresentado, ainda naquele ano; todavia, este primeiro projeto sofreu inúmeras críticas que apontavam principalmente para o excesso de detalhes numa lei que deveria ter um caráter normativo mais geral, e para o fato de, no conjunto, ter assumindo o aspecto de uma “colcha de retalhos”, inclusive com contradições no seu próprio conteúdo, na medida em que procurou atender a interesses, às vezes diferenciados e até conflitantes. Com isso, esse primeiro projeto sofreu várias modificações e, durante sua tramitação no Congresso Nacional, foram apresentados outros projetos de lei, tratando da mesma questão, isto é, dispondo sobre a estrutura e o funcionamento do sistema educacional brasileiro. Após cinco anos de discussões e propostas de alterações, foi aprovado na Câmara dos Deputados, por consenso, o Projeto de Lei nº 101, que seguiria então para a discussão e votação em plenário ao nível do Senado. Entretanto, subvertendo a trajetória natural dos projetos de lei, que primeiro são apresentados e discutidos na Câmara dos Deputados e, só depois de ali aprovados, são remetidos à Câmara Alta (o Senado) para votação. Foi apresentado nessa mesma época o projeto de lei do Senador Darcy Ribeiro que, tratando da mesma matéria, mas apresentando diferenças profundas em relação ao PL 1010, foi aprovado pelo Senado e remetido à Câmara dos Deputados. Paralelamente, a Comissão de Educação do Senado, que teve como relator o Senador Cid Sabóia, realizou também modificações substanciais no PL 101, que passou então a ser conhecido com o “Parecer Cid Sabóia”. Embora modificado, esse Parecer ainda guardava alguns aspectos importantes, não só em termos de conteúdo, mas também pelo fato de, como já citamos, ter sido produto de um amplo debate nacional. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 Finalmente, após oito anos de tramitação, o Parecer Cid Sabóia foi rejeitado pelo Senado sendo então aprovado no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senador Darcy Ribeiro, produto quase que exclusivo de sua percepção dos problemas da Educação brasileira, o que significa dizer que não foi um projeto de lei aberto à discussão e opinião da sociedade.A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394 foi sancionada na íntegra pelo Presidente da república em 20 de dezembro de 1996. O significado da expressão “Diretrizes e Bases” “Entende-se por “diretriz” uma linha de orientação que defina a direção geral a ser seguida e não as “minudências do caminho”; e entende-se por “base” a superfície de apoio, isto é, o alicerce do edifício e não o próprio edifício. Daí derivou a conclusão de que “a Lei de Diretrizes e Bases” conterá tão somente preceitos genéricos e fundamentais”. (SAVIANI. 1988: 5) O regime militar de 1964 apresentava para o Brasil um novo projeto de desenvolvimento econômico e de modernização do país, no qual, segundo as concepções da época, se conferia à Educação escolar um importante papel na disseminação de novos valores, mas ajustados aos objetivos políticos do regime de crescimento e modernização da economia. Foi, principalmente, com estes objetivos que foram feitas profundas modificações na legislação educacional brasileira a partir de 1968, com a Reforma do Ensino Superior (lei 5540/68) que apresentava como inovações principais: a criação do vestibular classificatório, acabando então com os excedentes – candidatos aprovados que ultrapassavam o número de vagas oferecidas e, por isso, pressionavam o Governo para o aumento da oferta de vagas nas universidades públicas; o estabelecimento do sistema de créditos, buscando racionalizar as vagas ociosas na matrícula por série; a implantação de programas de pós-graduação; a eliminação da estrutura de cátedra. Em 1971 foi a vez da Educação Básica. A Lei 5692/71 modifica a estrutura que vigorava até então com a Lei 4024/61, criando então o Ensino de 1º Grau (junção do antigo Curso Primário com o Curso Ginasial ou primeiro ciclo do ensino médio) e o Ensino de 2º Grau, nova denominação dada ao segundo ciclo do Ensino Médio ou Curso Colegial. Como se tratava de um período ditatorial, em que o Congresso apenas legitima os atos do Poder Executivo, o projeto da Lei 5692/71 foi discutido e aprovado em tempo recorde, tendo como pontos principais: Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 a ampliação do período de obrigatoriedade escolar, que até então era de 4 anos (a duração do antigo Curso Primário), para 8 anos (aos 4 do curso primário foram somados os quatro anos do antigo Curso Ginasial); a consequente ampliação da oferta de escola pública e gratuita por parte do Estado, antes restrita ao antigo Curso Primário e, com a nova lei estendida do antigo Curso Ginasial; o Ensino de 2º grau passa a ser obrigatoriamente profissionalizante, acabando-se então a separação do 2º grau em dois ramos distintos, um de Educação Acadêmica, e outro de Educação Técnico-profissional. Em meados dos anos 70 a economia mundial sofre séria crise, determinada pela crise do petróleo, e seus reflexos chegam até o Brasil, afetando decisivamente o projeto de desenvolvimento econômico do regime militar e, por extensão, ao projeto educacional que vinha sendo executado. A expansão do Sistema Educacional privilegiou apenas os aspectos quantitativos – expansão da rede física, com consequente aumento da oferta de vagas no Ensino de 1º graus – sem melhoria significativa do ponto de vista qualitativo; em outras palavras, o acesso à escola melhorou mas os índices de evasão e repetências nas primeiras séries continuaram dramáticos. No Ensino de 2º grau constatou-se o fracasso da tentativa de profissionalização obrigatória, já que de um lado, a classe média continuava buscando o acesso à Universidade e, de outro lado, a expansão da economia não resultou nem no aumento da oferta de vagas para técnicos de nível médio nas empresas e nem na melhoria dos salários dos cargos técnicos existentes. Assim, o Ensino Superior continuou sendo a principal meta dos jovens que chegavam do Ensino Médio, em busca de ascensão social e melhores salários. Assim, em 1982, a Lei 5692/71 foi modificada pela Lei 7044/82, que tratava especificamente do Ensino de 2º Grau. A partir de 20 de dezembro de 1996, o Brasil passou a ter uma única lei nacional que dispõe sobre todo o Sistema Educacional Brasileiro, da Pré-escola ao Ensino Superior, incluindo-se aí os cursos de pós-graduação. Características gerais da nova Lei a) mantém a estrutura curricular; b) dá liberdade às escolas para novas experiências de organização escolar; c) aumenta o ano letivo para 200 dias e a carga horária mínima para 800 horas de trabalho efetivo; d) diminui a idade mínima exigida para a realização de exames supletivos; e) reintroduz o ensino de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio; f) mantém os oito anos de escolarização obrigatória, isto é, a oferta para todos de Ensino Fundamental público e gratuito por parte do Estado; g) adapta o texto da lei aos princípios constitucionais contidos no Capítulo III da Constituição Brasileira de 1988; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 h) sugere a introdução de uma segunda língua estrangeira moderna no Ensino Médio, sabendo-se que a intenção é oferecer o ensino da Língua Espanhola, com vistas à integração das economias sul-americanas; i) o texto da Lei dispensa leis complementares, que regulamentem sua aplicação, já que estabelece princípios gerais, deixando a cargo dos Estados o detalhamento dessa aplicação e a consequente regulamentação para as situações específicas de cada unidade da federação para os Conselhos Nacional e Estaduais de Educação. Conclusão O novo texto é de inspiração liberal; eivado de intenções nobres, tais como: universalização, gratuidade e obrigatoriedade do Ensino Fundamental, princípio estes proclamados desde a Constituição de 1824, primeira Constituição Brasileira que, até o presente momento, não passaram de intenção, sem efetivar-se na prática o que constitui ainda inspiração da população brasileira. Escola gratuita de qualidade para todos. Conquistas já efetivadas no mundo chamado desenvolvido desde o século XIX. BIBLIOGRAFIA RUST. Professor Demóstenes. EDU 141 – Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus. 4 . ed. Viçosa, MG. 1999. p. 15-17. Mimeografado Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 Sociedade Alfabetizada O sentido da Escola está na transformação da vida, na transformação da sociedade, na transformação do trabalho e sua relação com o tempo livre. A sociedade, como é de conhecimento geral, passou de um arranjo industrial, centrado na produção de bens materiais, para um arranjo pós-industrial, centrado na a produção de bens imateriais: símbolos, informações, estéticos e valores. Paralelamente, cresceu a preparação intelectual de cada um. Na Itália, há cem anos, os analfabetos eram 45% da população; hoje são menos de 3%. Todos os anos se imprimem 200 milhões de livros; 10.000 jornais e três bilhões de cópias de periódicos. Nas bibliotecas públicas são consultados três milhões de livros por ano. Dezesseis milhões de italianos assinam TV a cabo; 90% dos adultos assistem o telejornal todos os dias. A quase totalidade dos trabalhadores é alfabetizada, e a grande maioria exerce funções preponderantemente intelectuais. À medida que aumenta a potência das máquinas, é possível delegar a elas grande parte do trabalho intelectual do tipo executivo; as atividades que se tornam monopólio do homem são preponderantemente criativas. Domenico de Mais Artigo publicado originalmente na Revista Digital, sob a forma de Tendências Especial, em 24/03/1999 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 UNIDADE 6 Objetivo: Analisar a Educação Infantil na LDB 9394/96. Educação Infantil na LDB 9394/96 Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: ... IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às criançasde zero a seis anos de idade; Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: ... V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. ... Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: I - as instituições do Ensino Fundamental médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada; ... Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I - Educação Básica, formada pela educação infantil, Ensino Fundamental e ensino médio; ... Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental. Art. 62. A formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I - cursos formadores de profissionais para a Educação Básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a Educação Infantil e para as primeiras séries do Ensino Fundamental; ... Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei. 3º. Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá: I - matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e, facultativamente, a partir dos seis anos, no Ensino Fundamental: Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino. Os artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional evidenciam a importância da Educação Infantil, que passou a ser considerada como primeira etapa da Educação Básica. Sendo assim, o trabalho pedagógico com a criança de 0 a 6 anos adquiriu maior significância e ganhou uma dimensão mais ampla no sistema educacional, devendo: atender às especificidades do desenvolvimento das crianças dessa faixa etária e contribuir para a construção e o exercício de sua cidadania. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 No capítulo II que dispõe sobre a Educação Básica, essa lei define a finalidade da Educação Infantil como “o desenvolvimento integral da criança até 6anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”, viabilizando seu desenvolvimento integral e sua inserção social. O art. 62 trata do papel do profissional que atua na educação infantil, exigindo formação em “nível superior, admitindo-se, como formação mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”. Sendo essa formação compatível com o compromisso social e educativo que espera dele. Ao longo desses mais de 10 anos de promulgação, a LDB vem sendo regulamentada por diretrizes, resoluções e pareceres do Conselho Nacional de Educação pelas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais e pelas normas estabelecidas pelos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação. Os arts. 12 e 13 da lei incumbem as instituições de Educação Infantil de elaborar as próprias propostas pedagógicas com a participação efetiva dos professores, possibilitando a construção democrática e a conquista de um certo grau de autonomia. Essa lei estabelece em seu art. 11, inciso V, que os municípios incumbir-se-ão de “oferecer a Educação Infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino apenas quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e ao desenvolvimento do ensino”. Leitura e análise da LDB 9394/96. Identificar na referida Lei as competências da União, dos Estados e dos Municípios. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 UNIDADE 7 Objetivo: Analisar a organização administrativa e o papel dos entes federativos. Sugestões para uma Política Pública de Educação da Criança de 0 a 6 anos [...] Dessa forma, mesmo que diferentes contingentes ingressem no sistema com idades diversas, dentro da faixa etária mais ampla de 0 a 6 anos, a partir desse ingresso adquirem direito ao mesmo tipo de atendimento. Ou seja, evita-se assim a consagração de diversos tipos de carreiras escolares, com as crianças marginalizadas sendo identificadas como “crianças de Creche” e as demais sendo valorizadas pelo Sistema Educacional como egressas da Pré-escola, o que ocorre atualmente. Organização Administrativa A responsabilidade do Estado, em relação à educação da criança pequena, se expressa através de diversas tarefas: a) aquelas referentes à legislação, regulamentação e fiscalização dos serviços prestados por instituições públicas, privadas e comunitárias; b) as relativas à arrecadação e distribuição de recursos; c) o planejamento e a avaliação de políticas públicas, seja através de atuação direta, seja através de convênios com entidades sem fins lucrativos; d) implementação e administração de programas de ação do setor público. A Constituição contém duas diretrizes fundamentais para a organização do Estado no que se refere à educação da criança pequena: a inclusão da creche e da Pré-escola na área de competência da Educação e a descentralização na gestão desses serviços. Por outro lado, a nova Carta afirma a inclusão da assistência à Infância no Sistema de Seguridade Social, indicando que parte de seus recursos devem ser destinados a essa função. A partir dessas premissas, existem várias formas possíveis de se encaminhar uma reorganização do Estado, com vistas a dar melhores condições de eficiência e qualidade para uma Política Educacional voltada para a criança menor de 7 anos. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 As sugestões apresentadas, a seguir, constituem em uma tentativa, ainda preliminar, de propor uma definição de áreas de competência e níveis de responsabilidade entre os vários setores governamentais. Como orientação básica, cabe reportar-se ao documento da área da Saúde que institui os SUDS – Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde nos Estado (Decreto nº 94657, de 20/7/1987). O sistema, aí proposto, procura superar a “atual organização sanitária, centralizada e desordenada”, na direção de “uma unificação com descentralização” (Brasil, Ministério da Previdência e Assistência Social, 1987, p.4). Para isso, o documento estabelece uma redefinição das atribuições dos três níveis federativos, propondo “um processo de estadualização e, através deste, de municipalização das ações da saúde” (p.4). Esta diretriz parece bastante sugestivapara a questão, dados os problemas apresentados pela situação vigente e as novas perspectivas abertas pela Constituição. CAMPOS (1992, p. 109-110). Atribuições da União De acordo com a orientação adotada, à União compete: - elaboração do Plano Nacional de Educação, que deverá incluir, entre suas metas principais, a Educação Pré-escolar da criança de 0 a 5 anos. - gestão, coordenação, controle e avaliação do Sistema Nacional de Educação Pré-escolar (incluindo as Creches); - normatização nacional dos serviços de saúde, Educação, Assistência Social e alimentação, dirigidos para a faixa de 0 a 6 anos, incluindo-se aí os serviços prestados por instituições privadas com e sem fins lucrativos e empresas, no que se refere ao cumprimento dos direitos sociais definidos na Constituição; - regulamentação das relações entre o setor público e privado na oferta de vagas em Creches e Pré-escolas; - garantia de repasse de recursos devidos a Estados e Municípios através de mecanismos eficientes e transparentes; - execução de serviços regulares de coleta e divulgação de dados estatísticos; - regulamentação da formação e carreira dos profissionais que trabalham em Creches e Pré- escolas; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 - execução de uma política de apoio à pesquisa e à formação de recursos humanos de alto nível para a análise e o aperfeiçoamento das diversas formas de Educação da criança pequena. Atribuições dos Estados Seguindo a mesma orientação, aos Estados competem: - gestão, coordenação, controle e avaliação dos Sistemas Estaduais de Educação, que devem incluir, entre seus objetivos, a Educação em Creches e Pré-escolas; - elaboração e coordenação dos Planos Estaduais de Educação; - adaptação das normas e diretrizes federais na organização dos Sistemas Estaduais de Educação; - participação na gestão e no controle de convênios entre órgãos públicos e entidades privadas; - execução de uma política de formação de recursos humanos para Creches e Pré-escolas; - definição de critérios para recrutamento e credenciamento de profissionais que atuam em Creches e Pré-escolas; - elaboração de propostas curriculares para Creches e Pré-escolas; - execução direta supletiva de serviços de Creches e Pré-escolas nas regiões e Municípios que não demonstrem condições de garantir esse atendimento. Atribuições dos Municípios Cabe aos Municípios: - gestão, coordenação, controle e avaliação do Sistema Municipal de Educação, o que deve priorizar a Educação Básica e Pré-escolar, inclusive em Creches, garantindo a continuidade e integração entre os três níveis; - elaboração e coordenação do Plano Municipal de Educação; - participação na gestão e no controle de convênios entre órgãos públicos e instituições privadas sem fins lucrativos, integrando-os ao Sistema Municipal de Educação; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 - fiscalização e supervisão de Creches e Pré-escolas conveniadas e, em colaboração com o nível estatal, de Creches e Pré-escolas privadas e de empresas, de acordo com normas federais e municipais existentes; - recrutamento, contratação, avaliação e treinamento em serviço de recursos humanos para Creches e Pré-escolas, incluindo-se neste último as unidades conveniadas, obedecidos os critérios e disposições estatais; - garantia de participação da comunidade no planejamento e na gestão da política de Creches e Pré-escolas, tanto em nível municipal, como no nível das unidades individualmente; - colaborar com a atuação direta e supletiva do Estado, quando houver. BIBLIOGRAFIA CAMPOS.Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez: Fundação Carlos Chagas, 1995. p. 110 -116. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 UNIDADE 8 Objetivo: Ampliar conhecimentos a respeito do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente Lei Federal 8069, aprovada em 13 de julho de 1990, criou o Estatuto, que está vigorando para toda a população entre 0 e 17 anos de idade. Fruto da luta da sociedade pelos direitos infanto-juvenis, o ECA garante que todas as crianças e adolescentes, independente de cor, raça ou classe social, sejam tratados como cidadãos que precisam de atenção, proteção e cuidados especiais para se desenvolverem e serem adultos saudáveis. Até a criação do ECA, existia o Código de Menores, uma lei apenas para pobres, abandonados, carentes ou infratores, que deixava quase tudo nas mãos dos juízes e das FEBEM´s e não oferecia possibilidades de participação da sociedade. Direitos assegurados pelo ECA Direito à vida e à saúde – toda criança tem direito a ser protegida desde a barriga da mãe para ser gerada com segurança e saúde. A criança e o adolescente também têm direito à assistência médica e odontológica de graça e prioridade em casos de ajuda ou socorro. Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade - a criança e o adolescente têm direito de ir e vir e de permanecer em locais públicos ou comunitários; têm direito de expressar suas opiniões, de ter uma religião, de brincar, praticar esportes e se divertir; eles também não podem ser humilhados, agredidos, discriminados ou maltratados por qualquer pessoa, inclusive da família. Direito à convivência familiar e comunitária - toda criança e adolescente têm direito de ser educado em uma família, de preferência a natural, que não poderá ser desfeita por falta de dinheiro, cabendo ao governo garantir apoio às famílias em dificuldades. Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer - o direito de acesso à educação significa poder estudar em uma escola perto de casa (caso não seja possível, ter acesso a transporte escolar), totalmente gratuita e com professores e condições físicas e materiais para o ensino de qualidade. O direito à cultura, ao esporte e ao lazer complementa o direito à educação e ao desenvolvimento. Direito à profissionalização e à proteção no trabalho: o trabalho é permitido somente aos maiores de 16 anos, quando deverão ser garantidos os mesmos direitos trabalhistas de qualquer adulto, ficando proibido apenas o trabalho noturno (das 22h Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 até às 5 horas), insalubre ou perigoso. Antes dos 16 anos é permitido ao adolescente participar de cursos profissionalizantes. Deveres O ECA não assegura só os direitos, mas, também, os deveres. Exatamente como os adultos, crianças e adolescentes não podem praticar nada daquilo que a lei brasileira diz que é crime. Além disso, cada direito corresponde a um dever. E onde está a lista dos deveres? No mesmo lugar onde estão os direitos. Se um adolescente tem direito à vida também tem o dever de não tirar a vida de ninguém; ter direito à saúde é ter o dever de conservar o ambiente limpo. Se é garantido o direito de não ser discriminado, o adolescente está proibido de humilhar ou agredir outras pessoas. Ter direito a uma boa Educação é ter o dever de zelar pela escola, não depredando e respeitando colegas e professores. A Educação e o ECA Apesar das conquistas legais obtidas a partir da Constituição de 1988 e ao longo dos anos de 1990, na qual o ECA representa um marco fundamental, o direito à Educação pública de qualidade segue sendo algo muito distante para a gigantesca maioria da população brasileira. Como em outras áreas sociais, a avaliação de movimentos, organizações e redes de Educação, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, é a de que os avanços conquistados na legislação, nas últimas décadas, não se traduziram em políticas públicas consistentes e com condições de financiamento para a universalização da Educação como direito humano fundamental de todos e todas. Na última década, o país ampliou o acesso ao Ensino Fundamental,chegando a matricular 97% das crianças de 7 a 14 anos, avanço obtido graças a uma política pública que garantiu a expansão baseada em um limitado investimento por aluno (comparado a outros países no mesmo patamar de desenvolvimento) e na oferta de uma escola de baixa qualidade para a maioria. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP/MEC), somente 2,79% e 10,29% daqueles que conseguem chegar ao final do Ensino Fundamental atingem patamares adequados em Matemática e Língua Portuguesa, respectivamente. Dados como esses também aparecem em muitas outras pesquisas nacionais e internacionais, nas quais a posição do Brasil com relação à aprendizagem ocupa sempre um lugar crítico. Além dos problemas de qualidade, o país tem gigantescos desafios de acesso e permanência, sobretudo com relação à educação infantil, ao ensino médio, à Educação de Jovens e Adultos, à Educação Especial, à Educação do Campo, sem falar, do Ensino Superior. Mesmo no Ensino Fundamental, na faixa etária de 7 a 14 anos, foco de políticas nos anos 90, ainda permanecem mais de 1 milhão e meio de crianças e adolescentes fora da Escola. A Educação de crianças de 0 a 3 anos constitui uma das situações mais vulneráveis da Educação Pública. Segundo IBGE, somente 11,7% da população de 0 a 3 anos têm acesso às Creches. Avaliação técnica realizada pela Câmara dos Deputados no início de 2005 apontou que a meta do Plano Nacional de Educação (lei aprovada em 2001) de chegar a Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 50% de cobertura na Educação Infantil de 0 a 3 em 2011 não será alcançada caso não ocorra uma mudança significativa das condições de financiamento da área, sob responsabilidade constitucional dos municípios. A decisão do governo federal de excluir as Creches da proposta do novo fundo para toda a Educação Básica (FUNDEB), atualmente em tramitação no Congresso, inviabiliza a possibilidade da meta das creches ser alcançada e fere o conceito de Educação Básica, excluindo aquela que seria parte de sua primeira etapa. Tal decisão tem impacto negativo na vida de milhões de crianças e de mulheres trabalhadoras, sobretudo, as de baixa renda. Desigualdades sociais As desigualdades sociais de renda, raça/etnia, gênero, regional, entre outras, presentes na sociedade brasileira, estão refletidas na Educação Pública. De acordo com os estudos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/2002), apenas 7,3% das crianças de baixa renda, na faixa etária de 0 a 3 anos de idade, frequentavam um estabelecimento de Educação (a média nacional é de 11,7%). As pessoas afrodescendentes constituem a maior parte dos analfabetos no Brasil e das crianças e adolescentes que enfrentam problemas para a permanência e aprendizagem na escola. Enquanto 44% das crianças brancas e pobres entre 10 e 14 anos estão matriculadas entre a 5ª a 8ª série, apenas 27% das crianças negras e pobres dessa idade frequentam a escola. Os negros têm em média 1,6 ano a menos de estudo que os brancos (4,3 e 5,9 respectivamente). A diferença é maior ainda entre mulheres brancas e negras: 1,8. Enquanto os brancos formam 7,5% dos analfabetos com mais de 15 anos, os negros somam 17,2%. A discriminação racial está presente em grande parte das instituições de Educação do país, mantida sob um manto de invisibilidade em que ninguém admite discriminar. Embalado pelo “mito” de que no Brasil não há racismo, o silêncio sobre o preconceito e a discriminação alimenta situações absurdas e produz efeitos terríveis na autoestima de crianças, jovens e adultos negros e não contribui para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva que respeite e valorize as diferenças. Quebrar o silêncio e assumir o problema da discriminação constitui o primeiro passo para superá-la. A lei 10.639, de 2003, representa uma conquista do movimento negro ao estabelecer o ensino e valorização da cultura e da história afro- brasileira na Educação de todo o país. Na última década, os indicadores educacionais tiveram melhoria em todas as regiões do país. Porém, os indicadores educacionais dividem o Brasil em dois grandes blocos. Um deles é formado pelas regiões mais desenvolvidas: Sudeste e Sul. O outro, pelas regiões Norte e Nordeste. O descompasso entre os dois blocos é de cerca de uma década. Subordinada à lógica do ajuste fiscal, que impõe a limitação de recursos às políticas sociais, a educação pública segue sendo tratada como uma política destinada a “aliviar a pobreza” e não a garantir o direito à Educação para todos como base de projeto de desenvolvimento que enfrente as profundas desigualdades no país. A mudança dessa realidade é o desafio Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 assumido por diversos movimentos, organizações e redes da sociedade brasileira que desenvolvem experiências inovadoras e ações políticas locais, regionais, nacionais e internacionais. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação representa um desses esforços de articulação de diferentes atores destinada a aumentar a força política daqueles e daquelas que atuam por uma Educação Pública de qualidade para todas as pessoas. Denise Carreira Coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Articulação que reúne 200 organizações, redes e movimentos do país. http://www.campanhaeducacao.org.br/cgibin/search/search.pl?p=1&lang=br&include=& exclude=%28%28middle%7Cleft%29_*%7Ctop.php%29&penalty=0&sort=&mode=any& q=Denise+Carreira – Acesso em 15jul. 2007. No ECA, o Capítulo IV trata Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, com destaque os artigos 53 3 54. Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus Educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: IV - atendimento em creche e Pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 Analise o Estatuto da Criança e do Adolescente, concedendo destaque ao Capítulo IV. Atente para a necessidade de atualização, no que se refere à ampliação do Ensino Fundamental. Após a análise, estabeleça a comparação da situação das crianças e adolescentes antes e depois dessa Lei. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 UNIDADE 9 Objetivo: Analisar aspectos da Lei 10 172, de 9 de janeiro de 2001. Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001 Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Educação, constante do documento anexo, com duração de dez anos. Art. 2º A partir da vigência desta Lei, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com base no Plano Nacional de Educação, elaborar planos decenais correspondentes. Art. 3º A União, em articulação com os Estados, o Distrito Federal, os municípios e a sociedade civil, procederá a avaliações periódicas da implementação do Plano Nacional de Educação. § 1º O Poder Legislativo, por intermédio das Comissões de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados e da Comissão de Educação do Senado Federal, acompanhará a execução do Plano Nacionalde Educação. § 2º A primeira avaliação realizar-se-á no quarto ano de vigência desta Lei, cabendo ao Congresso Nacional aprovar as medidas legais decorrentes, com vistas à correção de deficiências e distorções. Art. 4º A União instituirá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos necessários ao acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 Art. 5º Os planos plurianuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão elaborados de modo a dar suporte às metas constantes do Plano Nacional de Educação e dos respectivos planos decenais. Art. 6º Os Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios empenhar- se-ão na divulgação deste Plano e da progressiva realização de seus objetivos e metas, para que a sociedade o conheça amplamente e acompanhe sua implementação. Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2001; 180º da Independência e 113º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza O Plano Nacional de Educação O Plano Nacional de Educação e os Planos Estaduais e Municipais Vital Didonet * O maior acontecimento para a Educação brasileira, no ano 2000, deveria ser o Plano Nacional de Educação, no entanto, esse plano não foi bem divulgado e a maioria dos dirigentes da Educação e dos professores ainda não o leu. A falta de iniciativa e empenho na sua divulgação é lamentável. O País merece, e os estudantes têm direito a um, Sistema Educacional mais eficiente e a uma Educação de melhor qualidade. Em 9 de janeiro de 2001 o presidente da República sancionou a Lei nº 10.172, que aprova o Plano Nacional de Educação e define os mecanismos necessários para colocá-lo em prática. Esse Plano deve orientar toda a atividade educacional dos Sistemas de Ensino nos próximos dez anos, em todo o País. Se cumprir as diretrizes e alcançar os objetivos e metas, nele fixados, o Brasil terá, no ano 2010, um quadro educacional muito melhor do que o atual. Estará à altura dos desafios do nosso tempo. Mas, para isso, é preciso agir logo, e coordenadamente, num esforço conjunto da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 municípios. A responsabilidade é de todos os entes federados, segundo o regime de colaboração estabelecido pela Constituição Federal. Todos nós já ouvimos falar de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Junior e do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, escrito em 1932... Mas o que estes Educadores têm a ver com um plano de Educação que surgiria 68 anos depois? 1. Uma conquista histórica O Plano Nacional de Educação não apareceu de repente nem é fruto de iniciativa particular de alguns idealistas da Educação. Ele é resultado de um esforço histórico da sociedade brasileira, especialmente dos Educadores, que lutaram mais de sessenta anos para chegar a esse momento. Esse esforço começou em 1932, quando um grupo de Educadores, intelectuais e escritores, preocupados com o desenvolvimento do país e com a causa da Educação Nacional, lançaram o Manifesto dos Pioneiros pela Educação. De lá até aqui, diversos passos foram dados, tanto no âmbito da legislação quanto no da administração pública da Educação, que foram construindo o patamar sobre o qual o PNE pôde ser formulado e aprovado. O quadro abaixo apresenta os principais momentos dessa trajetória. 1932 - Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, expressando a necessidade de um plano amplo e unitário para promover a reconstrução da Educação no País; 1934 - A Constituição Federal incluiu um artigo determinando como competência da União fixar o Plano Nacional de Educação, abrangendo o Ensino em todos os graus e ramos, comuns e especializados; 1946 - Constituição Federal reintroduz o dispositivo, que fora omitido na CF de 1937; 1962 - Foi elaborado pelo MEC e aprovado pelo Conselho Federal de Educação o primeiro Plano Nacional de Educação, para um período de 8 anos; 1965 e 1966 - Revisões do plano, incluindo normas descentralizadoras, para elaboração de planos estaduais e destacando novas prioridades; 1967 - Constituição Federal repete o dispositivo sobre o Plano Nacional de Educação; 1970 a 1984 - Planos Setoriais de Educação, Cultura e Desporto - PSECD, no contexto dos Planos Nacionais de Desenvolvimento. O III PSECD contou com a participação dos estados; 1988 - Constituição Federal determina o estabelecimento, por lei, do Plano Nacional de Educação, com duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do Ensino em seus diversos níveis; 1993-94 - Processo de elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos, sob a égide da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada pela UNESCO, em Jomtien (Tailândia), em 1990; Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 1996 - LDB determina que a União encaminhe ao Congresso Nacional, no prazo de um ano após a promulgação dessa Lei, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos; 1998 - Apresentação ao Poder Legislativo de dois Projetos de PNE: do II CONEG e do MEC; 1998-2000 - Processo legislativo, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, com debates, emendas, sugestões, apresentação de substitutivo e aprovação do PNE; 9/1/2001 - Sanção da Lei nº 10.172, que aprova o Plano Nacional de Educação. REFERÊNCIAS * Professor. Ex-consultor legislativo da Câmara dos Deputados e consultor especial para o PNE. Atualmente é consultor do Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED. http://www.redebrasil.tv.br/salto/boletins2002/eqq/eqqtxt1.htm - Acesso em 16 jul. 2007. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 UNIDADE 10 Objetivo: Continuar a identificar as características e objetivos do PNE. As ideias vêm de longe, mas o que o atual Plano Nacional de Educação herda dessa história? 2. Características novas do Plano Nacional de Educação Essa sequência de acontecimentos mostra que o PNE responde a uma expectativa da sociedade brasileira e que ele se constrói sobre um patamar de experiências em Planejamento e Administração Educacional. A reflexão sobre essas experiências, que mesclam êxitos e frustrações, é capaz de descortinar uma visão ampla das necessidades e das possibilidades da Educação em nosso País, neste início do novo século. Dessa forma, o PNE é tributário de uma longa história e, ao mesmo tempo, é uma novidade, pelas características próprias que agrega. "O PNE entra na história da Educação brasileira com seis qualificações que o distinguem de todos os outros já elaborados: a) é o primeiro plano submetido à aprovação do Congresso Nacional, portanto, tem força de lei; b) cumpre um mandato constitucional (art. 214 da Constituição Federal de 1988) e uma determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, art. 87, 1º); c) fixa diretrizes, objetivos e metas para um período de dez anos, visando à garantia de continuidade da política educacional e coerência nas prioridades durante uma década; d) contempla todos os níveis de ensino e modalidades de Educação e os âmbitos da produção de aprendizagens, da gestão e financiamento e da avaliação; e) compromete o Poder Legislativo no acompanhamento de sua execução e f) convoca a sociedade para acompanhar e controlar a sua execução" (Vital Didonet, PNE - Apresentação. Editora Plano). Essas características não são uma garantia de que o Plano vai ser aplicado integralmente, de que suas diretrizes orientarão a prática educacional durante toda a década e, ainda, de que as metas serão atingidas. Como todo Plano, é um documento de trabalho e, portanto, um instrumento que orienta a ação política
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