Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP Instituto de Ciências Humanas– ICH Curso de Psicologia CLEMILSON ADRIANO JERONIMO - R.A: A81AJI-4 CLEVER SONJA BARRA - R.A: B07EGC-9 SARA BONATES RAMOS - R.A: B03428-9 A MELANCOLIA NO PÓS-PARTO: Um estudo de caso BRASÍLIA 2015 ii UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP Instituto de Ciências Humanas– ICH Curso de Psicologia CLEMILSON ADRIANO JERONIMO - R.A: A81AJI-4 CLEVER SONJA BARRA - R.A: B07EGC-9 SARA BONATES RAMOS - R.A: B03428-9 A MELANCOLIA NO PÓS-PARTO: Um estudo de caso Projeto do trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Paulista – Campus de Brasília – como requisito parcial para conclusão do bacharelado em psicologia. Orientadora: Prof. Drª Marcela Abreu Rodrigues BRASÍLIA 2015 iii No luto, vimos a inibição e a ausência de interesse explicadas totalmente pelo trabalho do luto que absorve o Eu. Na melancolia, a perda desconhecida terá por consequência um trabalho interior semelhante, e por isso será responsável pela inibição que é própria da melancolia. Mas a inibição melancólica nos parece algo enigmático, pois não conseguimos ver o que tanto absorve o doente. O melancólico ainda nos apresenta uma coisa que falta no luto: um extraordinário rebaixamento da autoestima, um enorme empobrecimento do Eu. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio Eu. (FREUD, 1917/2010, p. 176/177). 4 SUMÁRIO RESUMO...............................................................................................................................................05 ABSTRACT...........................................................................................................................................06 1- APRESENTAÇÃO.............................................................................................................07 1.1 –INTRODUÇÃO.....................................................................................................08 1.2 - JUSTIFICATIVA..................................................................................................11 1.3 - OBJETIVO............................................................................................................12 1.3.1 - Objetivo Geral...........................................................................................12 1.3.2 - Objetivo Específico...................................................................................12 2 – METODOLOGIA.............................................................................................................13 2.1 - Sujeitos...................................................................................................................13 2.2 - Critério de Inclusão..............................................................................................13 2.3 - Critério de Exclusão .............................................................................................13 2.4 - Instrumentos..........................................................................................................13 2.5 - Ambiente................................................................................................................13 2.6 - Procedimento.........................................................................................................14 2.7 – Análise de dados....................................................................................................14 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................16 3.1 - Aspectos do Sujeito.............................................................................................16 3.2 - O Luto..................................................................................................................17 3.3 - A Melancolia........................................................................................................19 3.4 - O Tratamento......................................................................................................21 4 - CONCLUSÃO....................................................................................................................23 5 - REFERÊNCIAS.................................................................................................................25 6 - ANEXO ..............................................................................................................................26 6.1 – Anexo A...............................................................................................................26 6.2 – Anexo B...............................................................................................................28 5 RESUMO Os distúrbios psíquicos na mulher no pós-parto alcança um número significativo de mulheres em todo mundo, com destaque para o Baby Blues e a Depressão pós-parto. Suas consequências atingem não só a mãe, mas também o bebê e outros do círculo familiar. O problema é muitas vezes depreciado por profissionais da saúde e por gestantes nos cuidados puerperais. A conscientização dessa realidade é o principal objetivo deste trabalho de forma que além dos envolvidos diretamente, também estudantes e pesquisadores da área vejam que os distúrbios psíquicos na maternidade são uma possibilidade real que gera sofrimento e desgaste que poderiam ser minimizados por uma ação preventiva ou de pronto ajuda quando reconhecido rapidamente. Neste contexto, ressalta-se a importância de se distinguir o Baby Blues da Depressão Pós-parto, cujos sintomas muitas vezes se confundem não obstante as diferenças de gravidade e do cuidado e tratamento de ambos. A relação feita desses distúrbios com o Luto e a Melancolia conforme descrito por Freud em 1917 nos auxilia na medida que contribui para entender as diferenças entre esses diagnósticos. PALAVRAS CHAVES: Luto; Melancolia; Depressão; Pós Parto. 6 ABSTRACT Psychic disturbs reach a huge number of women around the world on post childbirth period, especially Baby blues and depression. Their side effects reach not only the mother, but the babies and their family members as well. The problem is, many times, deprecated by health professionals and pregnant women on puerperal care. The aim of this paper is to provide awareness of this reality, in a way that beyond the direct involved, students and researchers see that psychic disturbs during maternity are real possibilities that can lead to suffering that can be avoided and minimized preventive actions. In this context, the importance of distinguishing Baby blues from post childbirth depression, whose symptoms are many times the same, is highlighted, nevertheless, the differences in the and treatment cares. The relationship between the disturbs with mourning and melancholy, as described by Freud in 1917, helped us in a way that contributes to understand the differences between these diagnostics. KEY WORDS: Mourning; Melancholy; Depression; Post childbirth. 7 1 – APRESENTAÇÃO Ao longo da história da humanidade, sempre existiam registros sobre o luto, já que a morte é um elemento que acompanha o homem desde sempre. Entretanto, a elaboração da perda ocorre de maneira distinta conforme a época, a cultura e os demais elementos que constituem a identidade de povos e comunidades. Freud (1917/2010) introduz o conceito de luto na sua obra quando discute o conceito de melancolia em sua reflexão sobre as sociedades primitivas ligadas aos tabus dos quais se organizavam. A maternidade é tratada quase sempre com um olhar poético, como uma ocasião de nascimento, evolução e alegria.Entretanto, nesse momento a vida de um novo ser vem paradoxalmente acompanhada por uma morte, com todas as implicações advindas desse fato. Segundo Stern (1997) a morte seria da imagem mental do bebê construída no psiquismo da mãe durante a gravidez. De acordo com Ferrari e Piccinini e Lopes (2007) nasce um bebê, mas também para a mãe morre alguém que ela estava acostumada a ser, desaparecem sonhos e fantasias dos quais gostava e nos quais projetava seu futuro. Shmidt e Cols (2005) informa que faz-se necessário considerar com atenção o luto produzido por esta realidade, para descobrir a melhor forma de acolhê-lo, de criar condições para que seu ciclo seja processado, diminuindo seus efeitos colaterais na mãe e, sobretudo a suas implicações no desenvolvimento do bebê. O objetivo do trabalho foi analisar a experiência de uma mãe com diagnóstico de depressão pós parto e relaciona-la com os conceitos de Luto e Melancolia, na perspectiva de Freud. Buscará na experiência a gênese dos três principais distúrbios mentais da mãe no pós parto: baby blues, a depressão pós parto e a psicose puerperal, identificando os elementos que estruturam os conceitos e a visão de Freud sobre o luto e a melancolia, conforme delineados em sua de 1917 “Luto e Melancolia”. 8 1.1– INTRODUÇÃO De acordo com Cantilino (2010) após o parto, a mulher necessita realizar o luto de situações presentes, como a expectativa de um filho imaginário e o luto por antigas experiências. Segundo o autor, essa mãe precisará lidar com mudanças fisiológicas que ocorrem em seu corpo e com alterações psicológicas e sociais. Nesse contexto, Alt & Benetti (2008) afirmam que é alta a probabilidade das mulheres apresentarem na fase puerperal um quadro clínico caracterizado por um difuso sentimento de vazio, profunda tristeza, fadiga, irritabilidade, alterações de concentração e do pensamento, podendo chegar até sentimentos e ideação suicida, resultando enormes prejuízos na relação mãe-bebê e para o convívio familiar. Segundo Freud (1917/2010), a função do trabalho do luto é a elaboração e assimilação psíquica da perda, liberando a relação com objeto perdido e abrindo a possibilidade de um substituto para algo que não mais existe. Nesse contexto pondera que no luto acontece uma inibição da atividade do eu, ocorrendo uma perda temporária da capacidade de adotar um novo objeto de amor. Assim, o individuo após um período curto de tempo consegue investir no mundo superando o luto daquele objeto. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V – APA, 2014) existe a distinção entre um Episódio Depressivo Maior e Luto, no qual (p.155) “o luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar um episódio de transtorno depressivo maior”. Nesse último caso, há uma concordância com a definição descrito por Freud (1917) de que no processo chamado de luto, a variável foco é a perda real física de um ente querido ou de um objeto desejado. Entretanto, Freud (1917/2010) avança na sua definição apontando que o indivíduo entra em um estado de profunda tristeza pela perda do objeto imbuído da libido ou do desejo da pessoa, onde as suas expectativas, medos e possibilidades que haviam sido postas no outro são abruptamente interrompidos pela morte, o que obriga a pessoa enlutada a transferir essa carga emocional para diferentes aspectos de sua vida até que o processo de luto esteja concluído. A melancolia, por sua vez, de acordo com o DSM V (2014) tem como característica o Transtorno Depressivo Não Especificado onde como (p.185) critério A – “perda de prazer em todas ou quase todas as atividades”. De acordo Freud (1917/2010), o processo da melancolia ocorre de maneira diversa do luto. Nela o objeto perdido é o próprio pretexto da espécie de angústia vivida pelo sujeito que, ambivalente nos seus sentimentos, vive uma relação de violência e dubiedade com o objeto antes apenas desejado e amado. Tal ambivalência, como uma reação a perda, ocasiona um empobrecimento subjetivo do indivíduo. Identificado o 9 objeto perdido, o melancólico, diferentemente do enlutado mostra uma redução da autoestima. Como pontua Freud (1917/2010) “no luto, é o mundo do indivíduo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio eu. O doente nos descreve seu Eu como indigno, incapaz e desprezível; recrimina e insulta a si mesmo”(p. 175/176). Assim sendo, de acordo com a psicanálise Freudiana, a melancolia se caracteriza pelo fato de que para sua ocorrência não se faz necessário a existência de uma perda física ou de uma morte real, mas sim de um objeto idealizado não necessariamente consciente. Como exemplo, tem-se a sensação de "perda" que a mulher sente quando dá a luz ao seu bebê e a necessidade de abandonar diversos aspectos da vida. Muitas vezes são quebrados com o nascimento do bebê os sonhos e fantasias, que existiam durante a gravidez ou mesmo antes, quando idealizava sobre ser mãe. Nesse cenário, Alt e Benetti (2008), afirmam que existem vários transtornos emocionais da mãe no pós parto, os quais apresentam características diversas quanto ao comportamento e ao estado emocional, com destaque para o baby blues, a depressão pós parto e a psicose puerperal. Muitas vezes depreciado e/ou sub diagnosticado, o baby blues, também chamado de disforia puerperal e/ou pré depressão pós parto, segundo Cantilino (2010), ocorre logo após o parto, quando muitas mulheres apresentam choro sem relação com sentimento de tristeza, ficando muito sensíveis principalmente à rejeição. De acordo com Alt e Benetti (2008), o baby blues corresponde ao período, nos primeiros dias após o parto, no qual ocorre o reconhecimento mútuo entre a mãe e o bebê. A mãe incorpora o fato de que o bebê é um ser separado, definindo o fim da gravidez psíquica. Para Cantilino (2010) a depressão pós parto aparece entre duas semanas e três meses após o parto, podendo ocorrer um quadro de humor deprimido, perda de prazer, de apetite, problemas com o sono, agitação, fadiga, sentimento de culpa e falta de concentração. Segundo Alt e Benetti (2008), a depressão pós parto ocorre após o baby blues quando os sentimentos depressivos continuam duas semanas após o parto. Segundo as autoras (2008) é uma manifestação psicopatológica importante por sua incidência, sendo que 10 a 15% das mulheres apresentam quadro depressivos dentro dos três primeiros meses após o nascimento do bebê, acompanhado por forte sentimento de incapacidade de cuidar do filho e dificuldades para se adequar à nova configuração familiar. Já a psicose no pós parto, de acordo com Cantilino (2010), é o transtorno mental mais grave que pode ocorrer no puerpério. Seu início pode ser rápido, ocorrendo já nos primeiros dias e até duas semanas do pós parto. Os primeiros sintomas são euforia, humor irritável, logórreia, agitação e insônia, os quais depois evoluem par delírios persecutórios, alucinações, desorientação, confusão mental, perplexidade e despersonalização. Alt e Benetti (2008) 10 caracterizam a psicose pós parto indicando que a mãe apresenta, além de depressão e delírios, pensamentos sobre ferir o bebê ou a si mesma, chegando, em alguns casos, a fantasias homicidas em relação ao bebê. Destacaram ainda que existe a probabilidade das mulheres que tiveram psicose puerperal apresentarem outras doenças psiquiátricas ao longo da vida. Ressalta-se que, de acordo com Cantilino (2010), o total de mulheres que apresentam o baby blues fica entre 50 e 85%, entretanto como o quadro é leve e transitório não requer tratamento. A incidência da depressão pós parto é menor, gira em torno de 13%, mas as consequências na interação mãe-bebê que podem ocorrer como dificuldade na afetividade e nos cuidados direcionados a criança com prejuízo no desenvolvimento do bebê dentre outros aspectos implicam em necessidade de tratamento com profissionaiscapacitados. Do mesmo modo, a psicose pós parto, apesar de aparecerem em apenas 0,2% das puérperas, pela presença de sintomas psicóticos e de risco de suicido e infanticídio, requer cuidados especiais como a separação da mãe do bebê, podendo ser necessário, inclusive internação hospitalar. 11 1.2– JUSTIFICATIVA Conforme Alt e Benetti (2008), as consequências da depressão no pós parto atingem tanto a mãe como a criança, impactando em diversas áreas do desenvolvimento e interferindo na relação entre a mãe-bebê; prejudicando o desenvolvimento neurológico, cognitivo, psicológico e socioemocional da criança. Dessa forma, se faz necessário o desenvolvimento de estratégias de prevenção dirigidas a gestantes bem como o acompanhamento das próprias mães em sua trajetória durante e depois da gestação, mobilizando assim, uma equipe de profissionais para que possam ter o cuidado e o conhecimento dessas fazes. Diante deste cenário, faz-se necessário entender melhor o sofrimento psíquico na etapa puerperal, como uma questão atual e comum a vários contornos familiares, para instrumentalizar os estudantes, pesquisadores, familiares e profissionais da saúde que lidam com problema, a discussão aqui elencada visa minimizar as implicações da dor psíquica na vida de todos que diretamente ou indiretamente são afetados pelo quadro. Por esses motivos, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise de um relato de caso amparada nos conceitos de luto e melancolia de Freud, considerando pesquisas mais recentes e obras cientificas disponíveis que tratem dos transtornos mentais no pós parto na perspectiva psicanalítica contribuindo dessa forma para reflexões e futuros estudos sobre o tema. 12 1.3 – OBJETIVOS 1.3.1 – Objetivos Gerais Analisar a experiência de uma mãe com diagnóstico de depressão pós parto e relaciona-la com os conceitos de Luto e Melancolia, na perspectiva de Freud. 1.3.2 – Objetivos Específicos Verificar no relato da experiência elementos relacionados com a teoria sobre Luto e Melancolia descritos por Freud. Relacionar os padrões de comportamentos da mãe com os padrões descritos no DSM V no que se refere à depressão pós parto. A partir dos relatos da mãe, descrever diferenças entre baby blues, a depressão pó parto e a psicose puerperal. 13 2 – METODOLOGIA 2.1 – Sujeito Uma mulher com diagnostico de depressão pós parto. 2.2 – Critérios de Inclusão Mulher, com idade entre superior a 18 anos, alfabetizada (terceira série do ensino fundamental) com diagnóstico de depressão Poá parto (feito por um profissional da medicina) há mais de seis meses, que esteja em acompanhamento psicológico há mais de 06 meses e que assine o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE – (Anexo A) 2.3 – Critérios de exclusão Mulheres sem o diagnóstico de depressão pós parto, que resida fora do Distrito Federal e que não assinem o TCLE. 2.4 – Instrumentos A técnica de entrevista utilizada foi aberta e compõe o principal instrumento para coleta de dados. O objetivo dessa entrevista foi verificar a experiência da participante com o diagnóstico de depressão pós parto com a seguinte pergunta: Você recebeu o diagnóstico de depressão pós parto: você pode nos contar como você chegou a esses diagnóstico? Segundo Boni e Quaresma (2005) na entrevista aberta, o entrevistador introduz o tema e a entrevistada tem a liberdade para falar sobre o assunto, suas experiências emocionais, físicas e sociais relacionadas ao tema. Cabe aos entrevistadores pontuar questões específicas se necessário, para esclarecer trechos que colabore no entendimento e nos objetivos do trabalho. A entrevista aberta tem como característica apreender o discurso fornecido na pesquisa permitindo ao pesquisador e ao entrevistado levantar novas questões acerca do tema proposto. Dessa forma, cumprir com o objetivo da entrevista original e ao mesmo tempo esclarecer pontos de vistas e perspectivas não consideradas anteriormente pelo pesquisador. 5.3 – Ambiente A entrevista foi realizada em local reservado, com condições adequadas de ventilação, iluminação e sigilo, que permitiu a entrevistada discorrer de forma espontânea e natural. 14 2.5 – Procedimentos Inicialmente, o projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Psicologia (CEPPE – UNIP) sob o protocolo: BRASNMARCELA14 003b. Posteriormente foi feito o contato com profissionais que atuam na área de psicologia, psiquiatria e/ou ginecologia a fim de localizar uma participante que se adeque aos critérios da pesquisa. Após a indicação do profissional e a aceitação da participante, foi marcado o dia e horário para a entrevista. Inicialmente, apresentou-se à participante da pesquisa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esse termo está de acordo com a resolução Nº 016/2000, do Conselho Federal de Psicologia e a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que regulamentam as pesquisas com seres humanos no âmbito da Psicologia, conforme (Anexo A). Após a assinatura do mesmo, a entrevista foi iniciada. O relato teve duração de 60 minutos. A entrevista foi gravada e transcrita para análise e interpretação de dados. 2.6 – Análise de Dados Roberto K. Yin (2005) faz uma reflexão sobre o estudo de caso como método de pesquisa, utilizando exemplos diversos e fazendo comparações com outros tipos de pesquisa. Um erro que se comente ao realizar estudos de caso é conceber a generalização estatística como método de generalizar os resultados do estudo. Isso ocorre porque os casos que você utiliza não são ‘unidades de amostragem’ e não devem ser escolhidos por essa razão. De preferência, os estudos de caso individual devem ser selecionados da mesma forma que um pesquisador de laboratório seleciona o assunto de um novo experimento. (YIN, 2005, p. 54). Dessa forma, é importante ter clareza que um caso de ser tratado em sua dimensão correta, estabelecendo limites, critérios e fundamentos lógicos. De acordo com Yin (2005, p. 55) “Sob tais circunstâncias, o método de generalização analítica, no qual se utiliza uma teoria previamente desenvolvida como modelo com o qual se devem comparar os resultados empíricos do estudo de caso”. Uma característica básica do estudo deste caso é que trata de uma pesquisa empregada para estudo de um acontecimento que ocorreu em seu ambiente natural, onde o fenômeno 15 sucedeu sem a interferência de variáveis artificiais possibilitando a análise a partir de fatos reais o que dá confiabilidade no confronte entre os dados obtidos e a teoria de referência. O estudo do presente caso é por sua natureza uma estrutura pesquisa qualitativa, de acordo com Gibbs (2009) “esse tipo de pesquisa visa abordar o mundo ‘lá fora’ (e não em contextos especializados de pesquisa, como laboratórios) e entender, descrever e, as vezes, explicar os fenômenos sociais ‘de dentro’ de diversas maneiras diferentes” (p. 8). Neste sentido, esta pesquisa qualitativa é a que mais se adéqua a este trabalho. Sabe-se que existem limitações quanto a pesquisa qualitativa, podendo citar a omissão de informações, Gibbis destaca que (p. 9)“A pesquisa qualitativa leva a sério o contexto e os casos para entender a questão uma questão em estudo. Uma grande quantidade de pesquisa qualitativa se baseia em estudos de caso ou em series desses estudos, e, para entender o que está sendo estudado”. Ainda segundo o autor sobre os dados na pesquisa qualitativa (p. 16) “os dados proporcionam boas evidencias de sustentação – é grande desafio e requer boa organização e uma abordagem estruturada dos dados”. Por fim, Gibbis ressalta que nos dados qualitativos (p.17) “não incluem contagens e medidas, mas sim praticamente qualquer forma de comunicação humana – escrita, auditiva ou visual; por comportamento, simbolismos ou artefatos culturais”,sendo assim, os dados coletados neste trabalho foram sistematicamente colocados em tópicos e trabalhados sobre a perspectiva do texto de Freud luto e melancolia (1917) bem como na relação que estes conceitos tem com a depressão pós parto. 16 3 – RESULTADO E DISCUSSÃO 3.1 - Aspectos do Sujeito Helena 1 é uma mulher de 33 anos, nascida em Brasília, filha mais nova de um casal de classe média que tem mais um filho. Graduada em psicologia, casada, com três gestações e dois filhos, sendo que recebeu o diagnóstico de depressão pós-parto no nascimento do terceiro filho. Os pais são de nível superior. Helena sempre foi uma menina muito ativa, estudou em bons colégios, teve a infância e adolescência marcadas pelo intenso cuidado da mãe e também pelas expectativas impostas pela mesma. A mãe é uma pessoa de “personalidade forte” que gosta de manter o controle nas situações, adotando sempre a postura de “super mãe”. O seu relacionamento com a filha foi sempre forte, dominador e extremamente atento. Segundo Helena, seu pai tem uma “personalidade tranquila”, e seu relacionamento com a filha foi sempre amoroso. Ainda na adolescência, com 16 anos, Helena ficou grávida do primeiro filho. A mãe de Helena tomou para si parte das responsabilidades e obrigações da maternidade da filha, de modo que Helena não teve a necessidade de “pular etapas” de forma brusca no seu processo de maturação; continuou sendo a jovem que gostava de festas, amigos e teve o suporte da mãe em grande parte dos encargos com o filho. O relacionamento com o pai de seu filho lhe era uma preocupação com respeito às expectativas adolescentes pós-maternidade, o que o mesmo sentiria a seu respeito após G 2 nascer? Hoje relata que este relacionamento não perdurou, porém a relação com o pai de G é “muito boa” e o enaltece como figura paterna. Durante os períodos iniciais G apresentou um problema cardíaco o que segundo Helena gerou “muita tensão”. Já na vida adulta, casou-se com 27 anos com o atual marido e depois de 04 anos de casada, planejaram uma nova gestação. De acordo com Helena: “E, detalhe, no meu primeiro filho ele teve um...um problema cardíaco, né, o G teve um problema cardíaco muito sério. E isso gerou muita tensão, muito nervosismo, então, assim, a palavra gravidez, a palavra filho, pra mim é uma coisa que é motivo de tensão”. No sexto mês de gravidez Helena “perdeu este bebê”, o que causou um grande impacto na vida do casal e da família como um todo. Na palavras de Helena: “Mas aí a segunda gravidez eu tive, foi uma gravidez complexa, eu perdi com 6 meses de gravidez, foi um sofrimento muito grande pra mim, e pra minha família...é, 1 Objeto de estudo. Identidade dos sujeitos preservada de acordo com código de ética. 2 Primeiro filho de Helena. Identidade dos sujeitos preservada de acordo com código de ética. 17 foi...nossa, acho que foi a pior coisa que aconteceu...na minha vida. Sabe ? Senti que foi uma das piores coisas que aconteceu na minha vida. E...assim, superei isso, não queria mais filhos, mas meu marido não é pai, não era pai na época e queria muito ter um filho, e aí passamos por...né, nos unimos, buscamos a religião, e decidimos engravidar de novo.” A terceira gestação de Helena, dois anos depois, começou com o “fantasma” da gestação anterior. O golpe da perda da criança criou aflições e medos que não estiveram presentes nos períodos anteriores. Com o auxílio de uma médica de sua estrita confiança passou o processo de gestação, com todos os cuidados necessários, uma combinação de idealizações somadas ao medo de uma nova interrupção da gravidez e de um “sonho”. De fato, a gravidez de M 3 foi conturbada, pois Helena necessitou de cuidados especiais para prevenir complicações, como o uso de medicamentos e acompanhamento médico mais recorrente, o que naturalmente acarretou em um maior nível de ansiedade acerca de todo o processo gestacional. Helena relata que durante este processo tinha intenso medo da morte no parto. M então nasceu: saudável e sem complicações no parto. Segundo a entrevistada: “nada saiu fora do planejamento, o, o que aconteceu, é, como eu tive a perda anterior, né... com 6 meses de gravidez, que a gravidez do L 4 , segundo filho, foi uma gravidez muito desejada (ênfase), né... foi aquela coisa... a gente foi pros Estados Unidos, fizemos enxoval, e tudo, e eu perdi. E aí o medo de perder... o medo de, de, de... não ter, de não acontecer de novo, de sofrer, entendeu? Então foi uma gravidez estressante, foi uma gravidez, não foi uma gravidez boa, não... assim, foi tudo dentro dos conformes, não, foi horrível, foi horrível, eu não curti, a gravidez, porque era o tempo todo com medo, eu tinha um aparelhinho, que botava na barriga pra escutar o batimento cardíaco do neném, eu botava esse aparelhinho na barriga umas oito vezes ao dia.” (Helena). 3.2 - O Luto Apesar do sucesso do processo de gestação e do parto, elementos imprevistos no comportamento de Helena não refletiam o estado de espírito de alguém que deveria estar aliviada por ter alcançado um objetivo tão aguardado depois de meses de tensão durante a gestação. De Acordo com Helena: “(...) mas eu comecei a me perceber um pouco irritada, mas não, tentava não... transparecer... tentava não me impor, e tudo, com medo de secar o 3 Filho da terceira gestação. Identidade dos sujeitos preservada de acordo com código de ética. 4 Segunda gestação. Identidade dos sujeitos preservada de acordo com código de ética. 18 leite, né... eu então eu tentava sempre ficar... numa boa, mas eu tava irritada, comecei a perceber uma certa irritabilidade. Comecei a não dormir, uma preocupação excessiva com o neném, e eu ficava botando - o dedo no nariz - dele para ver se ele estava respirando” O desconforto de Helena, comum às mães nos primeiros dias após o parto, poderia à primeira vista ser classificada com o “Baby Blues” que, segundo de Alt e Benetti (2008), “o Baby Blues corresponde ao período, nos primeiros dias após o parto, no qual ocorre o reconhecimento mútuo entre a mãe e o bebê. A mãe incorpora o fato de que o bebê é um ser separado, definindo o fim da gravidez psíquica”. O quadro se aproxima do luto tal como é visto pela psicanálise onde existe a perda de um objeto facilmente identificado e o mecanismo de superação ocorre de forma natural sendo preferível que não se interfira nesse processo. De acordo com Freud (1917/2010), pode-se imaginar que esse rompimento ocorra de modo tão lento e gradual que ao fim do trabalho, também o dispêndio que ele requeria foi dissipado. "Na superação do luto a cada uma das lembranças e expectativas que mostram a libido acoplada ao objeto perdido na realidade traz o veredicto de que o objeto não mais existe, e o eu, como que posto diante da questão de compartilhar ou não esse destino, e convencido, pela soma das satisfações do Eu em estar vivo, a romper seu vínculo com objeto eliminado". (Freud, 1917/2010, p. 171/172) Ainda segundo Freud (1917/2010, p. 172) “confiamos em que será superado após certo tempo, e achamos que perturbá-lo é inapropriado, até mesmo prejudicial”, contraindicando tratamento específico para o problema. Contudo, Helena continuou a se irritar com tudo e com todos em volta. O cachorro de estimação virou um bicho inaceitável, a voz da sogra tornará se desagradável, o marido ficara inconveniente e as visitas tornaram-se inoportunas. A irritação veio acompanhada por desanimo, insônia e angustia profunda sem uma causa definida, neste contexto Helena afirma: “comecei a dar patada nos outros, comecei a ficar muito grossa, eu tenho um cachorro, e eu comecei a querer que esse cachorro fosse lá pra longe, que eu ia dar chute nesse cachorro, porque ele tava muito nervoso, muitoansioso...e aí eu comecei a cortar as pessoas, assim...aí eu comecei a ver aquela melancolia, né...um choro muito fácil, isso foi o que? (...) MI* tinha uma semana.” Desta forma, a continuação dos sintomas passaram a indicar a descaracterização dos distúrbios como Baby Blues. 19 3.3 A Melancolia O desconforto de Helena não diminuíram com o passar dos dias como deveria ser natural para alguém que encerrou um processo de gestação com final feliz, mas se estenderam por um período demasiadamente longo, como bem a entrevistada relata: "no dia em que o MI* completou 21 dias. Foi no dia que ele completou 21 dias porque eu lembro que na minha agenda tava escrito pra ele tomar vacina uma semana depois, e eu tinha ido no posto de saúde naquela manhã, pra ver que horário que... que era melhor pra eu levar o neném, e o posto de saúde é na minha quadra, entendeu? Então eu lembro que era 21 dias... (...) eu sab... eu não queria tomar banho, ta? Então tinha essa questão de eu não querer tomar banho, a minha mãe fa... tipo assim, eu, eu me sentia obrigada em ta feliz, com o neném, mas eu não tava (...) tipo assim... (respiração profunda) eu tava ‘ eu tenho que ta feliz, era tudo o que eu queria na minha vida, era esse bebê. Né... tipo eu, tudo o que eu desejei na minha vida, era esse neném, e eu não tô feliz ? (...) Eu não tava. E eu falava isso pro R 5 , que eu não...’R,- eu não tô feliz". À medida que se analisa os elementos colhidos no relato de Helena, podemos identificar o seu caso mais próximo da Melancolia na mesma medida que se distância do Luto como descrito por Freud; A melancolia se caracteriza, em termos psíquicos, por um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição da autoestima, que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa e pode chegar a uma delirante expectativa de punição. (Freud, 1917/2010, p. 171/172) No contato com a médica ao ser recebido o diagnóstico de Depressão Pós-parto e indicação para terapia a entrevistada relata “Aí eu... fiquei meio resistente, tudo... eu falei ‘- não, me passa um remedinho aí...e tal...’ ela falou assim –‘não, não vou passar remédio’, mas eu... ‘-você tá com diagnóstico, você tem depressão. Você está entrando em depressão." A ida a um psicólogo foi a providência tomada para se entender o que estava ocorrendo. A médica não demonstrou nenhuma dúvida quando a precisão do seu diagnóstico. Helena, estava vivendo um problema que acontece com 13% das parturientes no mundo todo segundo Cantilino (2010). A depressão está descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e relacionado aos termos luto e melancolia. No DSM V discute-se sobre depressão e faz ressalvas quanto ao luto e melancolia os quais estão citados 5 Marido de Helena. Identidade dos sujeitos preservada de acordo com código de ética. 20 como características nos diagnósticos de Episodio de Depressão Maior e Transtorno Depressivo não Especificado. Segundo DSM V (2014, p. 161) “ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior (EDM), é útil considerar que, no luto, o afeto predominante inclui sentimento de vazio e perda, enquanto no EDM há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer”. A depressão com características melancólicas segundo DSM V (2014, p. 185) “existe uma ausência quase total da capacidade para o prazer, não meramente uma diminuição” o que seria um dos critérios para o diagnóstico de Transtorno Depressivo não especificado. De acordo com Freud (1917, p. 175) “achamos que é preciso manter a hipótese de tal perda, mas não podemos discernir claramente o que se perdeu, e é licito supor que tampouco o doente pode ver conscientemente o que se perdeu. Como o exemplo no relato de Helena: “Minha família materna tem casos de depressão” (...) “Depressão pós parto, assim, diagnosticada, não” a entrevistada relata sobre a mãe “ela teve esse diagnóstico por conta dos padrões de comportamento que eu tava apresentando, que eram... é, irritabilidade, insônia, é... é, é.... choro fácil, né? não queria... tomar banho, né? Então, falta de autocuidado... que mais... apatia em determinadas situações...”. A depressão com características melancólicas segundo DSM V (2014, p. 185) “existe uma ausência quase total da capacidade para o prazer, não meramente uma diminuição” o que seria um dos critérios para o diagnóstico de Transtorno Depressivo não especificado (311 [F32.9]). 21 3.4 - O Tratamento Na melancolia segundo Freud (1917/2010) existe uma predisposição patológica, o que diferencia do luto, um processo caracterizado por um processo ‘normal’, o qual segundo o mesmo no luto “confiamos em que será superado após certo tempo, e achamos que perturbá- lo é inapropriado, até mesmo prejudicial”. (p. 172) A ajuda do psicólogo tornou-se necessária e passou a ser o principal instrumento para Helena superar o problema que embora estivesse sido diagnosticado com precisão, a sua causa ainda eram um enigma. De acordo com Freud (1917/2010) na melancolia não descobrirmos exatamente o que se perdeu como no luto. No luto, nada é inconsciente na perda. Já na melancolia pode até ser identificado o objeto da perda, porém não se sabe o que do objeto se perdeu. Se os sintomas de Depressão não deixavam dúvidas quanto ao diagnóstico do problema, a identificação das causas, no entanto é bem mais complexa, mas no relato de Helena podemos encontrar algumas variáveis: de acordo com Helena: “...teve essa questão de não ter o controle da situação, que muita gente na minha casa, todo mundo pegando no neném, todo mundo fala uma coisa, dá pitaco, issoé um saco! Todo mundo fala uma coisa diferente, aí você acaba... não fazendo o que você quer, mas eu acho que o principal no meu caso, foi o fato, de que outra coisa, um serzinho ali controlou meu comportamento, ta controlando tudo na minha vida.” Na história de Helena, podemos observar que o elemento “controle” esteve presente na fala por várias vezes, como na sua relação com a mãe: “Que minha mãe sempre muito controladora... saber onde tava, igual eu sou com o G... (risos), ela era comigo, né... mas, ao mesmo tempo foi a pessoa que sempre me ajudou, sempre teve ali do meu lado... mesmo me criticando, ou mesmo sabendo... né... que, que, não foi legal, mas ela sempre teve do meu lado, então assim, isso... minha mãe sempre foi uma pessoa muito exigente. Cobrou demais da gente, demai.”. E também no pós-parto quando a entrevistada resume o trabalho da psicóloga “ela não trabalhou focado nisso com diagnóstico, ela trabalhou muito com a questão de controle” e na análise de Helena sobre o tratamento, “Controle de tudo... eu tenho visto isso na terapia, né? Eu não sabia disso antes não (risos), agora que eu tô vendo isso. Sabe? cara, cê ta igual a sua mãe..., tudo que eu criticava nela! Né...que é ter controle de tudo, a gente tem que se ver pelo menos 2 vezes na semana...e quer saber como ta, se ta precisando de dinheiro, se não ta precisando de dinheiro, se pagou isso, se pag...quer ter controle de tudo. Ela melhorou bastante.” . 22 E por fim o “controle” voltou na fala sobre a solução do distúrbio: “Fui começando a ficar melhor. E também a própria terapia foi me ajudando né... a ver que, que, é... eu comecei a deixar mais o neném com, com...a minha sogra, com a minha mãe...com, comecei a deixar com outras pessoas, não, não querer ter tanto controle, entendeu?” 5.6.6 - Pós Depressão A entrevistada reconhece que o problema podia ter sido evitado e que a ajuda do psicólogo durante a gestação possivelmente teria uma ação preventiva. “Eu tinha que ter feito terapia, durante a gravidez, ou antes, ou no dia em que eu planejei ter esse menino eu tinha que ter começadoa fazer”. Helena, mesmo após ter equacionado o problema da Depressão Pós Parto, continua com a terapia e reconhece que nos cuidados durante a gestação faltou a o preparo psicológico, como se vê na fala: “a terapia em si tem me ajudado a ver que eu não sou super mulher, e que eu tenho que deixar os outros cuidarem dele, eu não deixava ninguém cuidar dele, tinha isso, só minha mãe”. Helena apresenta seu balanço da experiência ressaltando “(risos), mas eu tô começando a, mas eu admito que isso é uma coisa errada, que eu tenho que começar a aprender a lidar com frustrações, que eu não tenho controle de tudo, então eu tô... eu tô trabalhando isso muito bem. Sabe? Eu acho que eu melhorei bastante nisso. E aprendi a dizer não também (risos).” 23 4. CONCLUSÃO Helena é uma mulher instruída, bem informada e cuidou de todos os detalhes corporais da sua gestação, entretanto as questões psicológicas foram negligenciadas. Não obstante, a avó e a mãe do bebe serem profissionais com auto grau de instrução, e que o histórico de duas gestações com problemas, principalmente pela segunda gestação ter passado por um processo de perda e luta o que seria um indicativo de que a questão psíquica era um ponto sensível e merecia uma atenção especial. Tem-se como um fato destacado em estudos referenciados neste trabalho a elevada proporção de mães que passam pelo Baby Blues, pela Depressão Pós- parto e com menor incidência a Psicose Puerperal não deixando dúvidas que este é um problema a ser considerado como um cuidado básico e necessário durante a gestação e também no pós parto. No relato de Helena há o reconhecimento que se a ida ao psicológico tivesse ocorrido antes do parto, o desgaste e o sofrimento com a Depressão pós-parto poderiam ter sido minimizados ou mesmo evitados. É objetivo deste trabalho a conscientização dos profissionais da saúde, pesquisadores e estudantes que a depressão pós-parto é uma possibilidade real que leve sofrimento e desgaste para a mãe e em consequência para o bebê, demais pessoas próximas e que pode ser evitado e/ou minimizado por uma ação preventiva ou de pronto ajuda quando reconhecido rapidamente. Em caso de não tratamento ou de um diagnóstico tardio pode deixar sequelas graves que vão desde a saúde dos envolvidos como nas relações afetivas e sociais dos envolvidos. Destaca-se ainda, a importância de se distinguir o Baby Blues da Depressão Pós-parto, cujos sintomas muitas vezes se confundem não obstante a diferença de gravidade e a diferença entre o cuidado e o tratamento de ambos. A correlação feita com o Luto e a Melancolia conforme descrito por Freud em 1917 nos ajuda na medida que contribui para entender as diferenças entre esses diagnósticos, pois apontam as diferenças na gênese do problema, bem como apontam as diferenças no cuidado e tratamento. No luto do mesmo modo que no Baby Blues, o sujeito tem um mecanismo "natural" para preencher o "vazio" deixado por uma perda "objetiva" de fácil identificação. Na Melancolia do mesmo modo que na Depressão Pós-Parto o sujeito precisa de ajuda porque "naturalmente" não tem como preencher uma perda "desconhecida" causada por "algo" que não se sabe exatamente o que é. Sempre há o risco de num estudo de caso ceder à tentação de generalização para toda população, Conclusões que poderiam ser específicas do sujeito analisado sendo com certeza, uma limitação deste trabalho, bem como as dificuldades naturais do sujeito de se colocar 24 pleno diante do entrevistador sem nenhum filtro nas suas informações muitas vezes de natureza intima e pessoal. Desta forma sugerimos mais pesquisas sobre o tema, com mais mães que passaram pelo problema ou que conseguiram evitar o sofrimento seja pela prevenção, seja pelo diagnóstico precoce que resultaram num tratamento rápido e eficaz. Faz- se interessante acrescentar a sugestão de pesquisas longitudinais que trariam detalhes da evolução do distúrbio ao longo do tempo e ainda com mães com histórias e culturas diferentes que acrescentariam e enriqueceriam com dados e informações de grande auxilio para os profissionais de saúde na prevenção, no diagnóstico e no tratamento de questões que afeta tantos e esteve, está e estará presente na realidade de muitas famílias que vivem o sonho da natividade. 25 5 - REFERÊNCIAS ALT, Melissa dos Santos; BENETTI, Silvia Pereira da Cruz. Maternidade e depressão: impacto na trajetória de desenvolvimento. Psicologia em Estudo, v. 13, n. 2, p. 389-394, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 73722008000200022 BONI, V; QUARESMA, J. Aprendendo a Entrevistar: Como Fazer Entrevistas em Ciências Sociais. Revistados Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC Vol. 2 n° 1 (3), p. 68-80, Janeiro/2005. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/article/viewFile/18027/16976 CANTILINO, Amaury et al. Transtornos psiquiátricos no pós-parto. Rev psiquiatr clín, v. 37, n. 6, p. 288-94, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v37n6/a06v37n6.pdf FERRARI, A. G.; PICCININI, C. A.; LOPES, R. S. O bebê imaginado na gestação: aspectos teóricos e empíricos. Psicologia em estudo, v. 12, n. 2, p. 305-313, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a11 FREUD, S. (1856-1939) Observações Luto e Melancolia (1917 [1915]). In_____ Introdução ao Narcisismo, Ensaios de Metapsicologia e Outros Textos (1914-1916). Obras Completas, Vol. 12. Tradução e notas Paulo Cesar de Souza. 1ª ed. São Paulo. Companhia de Letras, 2010. GIBBIS, G. Análise de Dados Qualitativos. In_____ Coleção de Pesquisa Qualitativa coordenada por Uwe Flick. Editora: Artmed. Porto Alegre, 2009. Manual diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.]. – 5.ed. – Porto Alegre: Artmed, 2014. SCHMIDT, E. B.; PICCOLOTO, N. M.; MÜLLER, M. Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico USF, v. 10, n. 1, p. 61-8, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a08.pdf STERN, Daniel N.; VERONESE, Maria Adriana Veríssimo. A constelação da maternidade: o panorama da psicoterapia pais/bebê. Artes Médicas, 1997. YIN, Robert K. Estudo de Caso-: Planejamento e Métodos. Bookman editora, 2015. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722008000200022 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722008000200022 http://www.scielo.br/pdf/rpc/v37n6/a06v37n6.pdf http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a11 http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a08.pdf 26 6 - ANEXOS 6.1 - Anexo – A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Caro Participante: Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa intitulada “AS VIVÊNCIAS DO LUTO NO PÓS-PARTO”, que se refere a um projeto de pesquisa para trabalho de conclusão de curso dos participantes Clemilson Adriano Jerônimo, Clever Sonja Barra e Sara Bonates Ramos, os quais pertencem ao Curso de Psicologia – Formação de Psicólogoda Universidade Paulista - UNIP - Campus Brasília. O objetivo deste estudo é analisar a experiência de uma mãe com diagnostico de depressão no pós-parto e relacionar com os conceitos de Luto e Melancolia, na perspectiva de Freud. Os resultados contribuirão para pesquisa de graduandos e psicólogos interessados na área de saúde. Sua forma de participação consiste em responder a uma entrevista, que será gravada e transcrita para posterior análise. A entrevista será aberta e envolverá os temas relacionados a vivência do luto no pós-parto. Seu nome não será utilizado em qualquer fase da pesquisa, o que garante seu anonimato, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. Não será cobrado nada, não haverá gastos e não estão previstos ressarcimentos ouindenizações. Considerando que toda pesquisa oferece algum tipo de risco, nesta pesquisa o risco pode ser avaliado como ínfimo. Gostaríamos de deixar claro que sua participação é voluntária e que poderá recusar-se a participar ou retirar o seu consentimento, ou ainda descontinuar sua participação se assim o preferir, sem penalização alguma ou sem prejuízo ao seu cuidado. Desde já, agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à disposição para maiores informações. Você ficará com uma cópia deste Termo e em caso de dúvida(s) e outros esclarecimentos sobre esta pesquisa você poderá entrar em contato com o pesquisador principal: Marcela Abreu Rodrigues (marcelabreu81@gmail.com) Eu ____________________________________________________________ (nome do participante e número de documento de identidade) confirmo que Clemilson Adriano Jerônimo, Clever Sonja Barra e Sara Bonates Ramos explicaram-me os objetivos desta pesquisa, bem como, a forma de participação. As alternativas para minha participação mailto:marcelabreu81@gmail.com 27 também foram discutidas. Eu li e compreendi este Termo de Consentimento, portanto, eu concordo em dar meu consentimento para participar como voluntário desta pesquisa. Local e data: Brasília DF, de de 2015. _____________________________ (Assinatura do sujeito da pesquisa ou representante legal) ______________________________ (Assinatura da testemunha para casos de sujeitos analfabetos, semianalfabetos ou portadores de deficiências auditiva, visual ou motora). Eu,______________________________________________________________ (nome do membro da equipe que apresentar o TCLE) obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido do sujeito da pesquisa ou representante legal para a participação na pesquisa. ______________________________________________ (Assinatura do membro da equipe que apresentar o TCLE) ____________________________________________ (Identificação e assinatura do pesquisador responsável) 28 6.2 – Anexo B 29 30
Compartilhar