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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO FILOSOFIA DIEGO BUENO SANTOS FILOSOFIA DA RENASCENÇA RECORTE HISTÓRICO DO PENSAMENTO LÓGICO-CIENTÍFICO: A INVESTIGAÇÃO DA NATUREZA EM ARISTÓTELES E A CISÃO DE SEUS PARADIGMAS GUARULHOS – SP 2020 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO FILOSOFIA DIEGO BUENO SANTOS GUARULHOS – SP 2020 ‘’ Daí se houver uma ciência que abarca tudo – como alguns dizem – aquele que a estuda não poderá, de modo algum, ter conhecimento prévio. Mas todo aprendizado procede, total ou parcialmente, do que já é conhecido, quer seja através de demonstração, quer através de definição, posto que as partes da definição tenham que ser já conhecidas e familiares. ’’ (Aristóteles em Metafísica) RESUMO Este trabalho tem como intuito articular a tese de uma possível interdependência entre ciência e história. Visa-se, assim, desvelar o problema tão enraizado entre cientistas naturais e cientistas sociais. A soberania da ciência é algo inquebrantável, no entanto, para não categorizá-la a meros acúmulos de experiências e testes, tornando-a caricatural, é preciso buscar as causas exteriores que influenciaram nas revoluções dos antigos paradigmas. Para tal, partir-se-á das investigações cosmológicas, tão sustentadas pelo sistema de mundo aristotélico, e que teve seu declínio do século XV em diante. Dessa forma, será discutida a perspectiva histórica da mudança do paradigma do sistema geocêntrico para o heliocêntrico, bem como as implicações no contexto em que estavam situados seus principais personagens. Palavras-chaves: Ciência, história, filosofia, cosmos, metodologia, paradigma, revolução. 1.1 INTRODUÇÃO E SITUAÇÃO GERAL: A COSMOLOGIA E OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS DA NATUREZA. Os gregos foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento racional do ocidente. Sua emergência se deu à medida que o homem necessitava atribuir explicações para a ordem, a natureza e os elementos contidos na estrutura do cosmos. Suas abordagens, apesar de terem sido um grande passo à evolução do pensamento lógico-racional (ainda não havia o conceito de ciência como entendemos hoje), quase sempre vinham carregadas de concepções mágicas. Assim, tratar de pensamento racional e misticismo, não significava separá-los, no mundo antigo. É notório salientar também, que ainda nos séculos XVI e XVII, mesmo os mais engenhosos artífices das artes mecânicas e os físicos- matemáticos responsáveis pela revolução científica moderna não excluíam uma causalidade divina que articulava a natureza, considerar a crença religiosa e, por consequência, a fé em Deus, mesmo nos modernos, é algo ainda evidentemente importante. ‘’ Ora, só existem duas maneiras nas quais a ciência pode ser divina. Uma ciência é divina se for caracteristicamente posse da divindade, ou se disser respeito a assuntos divinos’’ (ARISTÓTELES, 2012) Tales de Mileto foi, no século VI a.C., um dos responsáveis pelo desenvolvimento da investigação racional. Mileto foi um técnico da construção, sendo ele o responsável pela elaboração de um modelo engenhoso para desviar às águas do rio Hilas para que o rei Creso atravessasse-o. Foi ele também que previu precisamente um eclipse solar, ainda no século VI a.C.. A ânsia humana pela investigação da natureza, dos pré-socráticos em diante, estava calcada na minuciosa observação dos dados naturais. Foi dessa forma que os filósofos, anteriores a Aristóteles, chegaram à conclusão de que o mundo era constituído de um único elemento; a água, e que toda a matéria era redutível a alguma espécie de energia. A partir da observação das temperaturas, ora altas, ora baixas, Tales notava que algo ocorria com os elementos afetados, por exemplo; sempre que chovia, plantas emergiam do solo, os seres vivos, necessitavam de uma ingestão suficiente de água para sobreviverem, e, assim, Tales chegara à conclusão de que o elemento fundamental da vida, era a água, bem como base de sustento para o mundo. Nem todos concordam, entretanto, quanto ao número e caráter desses princípios. Tales, fundador dessa escola de filosofia, afirma que esse princípio permanente é a água (razão pela qual ele igualmente propôs que a terra flutua na água). É presumível que tenha chegado a essa hipótese a partir da observação de que o nutriente de tudo é úmido, e que o próprio calor é gerado da umidade, sua existência dependendo dela (e aquilo de que uma coisa é gerada é sempre seu primeiro princípio). Extraía sua hipótese, portanto, disso e também do fato de as sementes de tudo apresentarem uma natureza úmida, e a água é o primeiro princípio da natureza de coisas úmidas. (ARISTÓTELES, 2012, p. 48) Ora, por mais que pareça extremamente simples e didático esse princípio elaborado por Tales, e que suas considerações tenham caído em erro, suas formulações serviram de sustento para sondagens posteriores, mesmo passíveis de misticismo. Foi o caso de Empédocles, famoso por ser um demagogo ( pois dizia possuir poderes mágicos), acreditava tudo que existia na terra era oriundo dos quatro elementos da natureza; o fogo, o ar, a água e a terra, sendo o fogo pertencente ao sol e a luz das estrelas. Observa-se, nesse contexto, a importância da investigação cosmológica em todo o mundo antigo. Dessa forma, temos Anaximandro, posterior a Tales, que também fora um dos grandes observadores do mecanismo da natureza, foi o responsável pela pioneira elaboração de um mapa do mundo, que afirmava ser a terra, uma substância solta ao espaço, sob o efeito da crença em uma terra plana. Nesse contexto, cabe agora se lembrar de um nome que ocupa lugar fundamental no mundo antigo; Pitágoras. Sua precisão matemática (tema determinante aqui) foi categórica os desenvolvimentos lógicos posteriores, mesmo dois mil anos após sua passagem pela terra, ainda estudamos nas escolas contemporâneas, o famoso teorema de Pitágoras. A ideia de quadrado, cubo e a palavra ‘’teoria’’, se devem a esse exímio espírito grego. Além do mais, o conceito de ‘’cosmos’’, também se atribui a ele. A filosofia e a matemática, com Pitágoras, andavam de mãos dadas. E Aristóteles, com magnífica autoridade, consolidou a divisão da filosofia em sua Metafísica, vigorando como legitimidade acadêmica por séculos, algo só viria a mudar com a ciência moderna de Galileu no século XVII. A abordagem do universo, os caminhos do homem em direção ao até então insondável mundo cosmológico, jamais seria possível sem uma linguagem lógico-matemática surgida em seio grego. Sua influência, assim como a de Aristóteles, tornou-se atemporal, ao menos até o século XVI, pois ainda no Renascimento, Pitágoras e Aristóteles eram pintados pelos grandes artífices como autoridades inexoráveis das artes liberais. Contemporaneamente, contudo, e mesmo antes, os chamados pitagóricos dedicaram-se às matemáticas e foram os primeiros a desenvolver essas ciências; estudando-as passaram a crer que os princípios delas são os princípios de tudo. E uma vez que os números são naturalmente os primeiros entre esses princípios, e eles imaginavam que poderiam detectar nos números, num grau maior do que no fogo, na terra e na água, muitas analogias cm o que é e vema ser (...) (ARISTÓTELES, 2012, p. 53) Dito isto, cabe lembrar que meu intuito neste trabalho, é abordar as concepções cosmológicas, suas metodologias e seus desdobramentos no pensamento racional-científico ao logo da história, e não meramente tratar das abordagens éticas centradas num sujeito isolado, como fizera Platão por meio de Sócrates, ou temas éticos formulados pelos céticos, epicuristas ou estoicos. Embora cada qual tenha uma doutrina física e lógica bem formulada, como é o caso dos estoicos e Epicuro. Infelizmente não haverá tempo o suficiente no calendário para tratar de todas. Além, é claro, do importantíssimo atomismo trabalhado por Demócrito, outro pensador preponderante para a concepção de Physis dos gregos. Sua concepção de realidade é aquela calcada nos átomos, isto é, etimologicamente, algo que não pode ser dividido. Tudo que existe, dizia ele, são compostos de micropartículas ocupantes do espaço. Os átomos são incriáveis e indestrutíveis e toda mudança que há no universo, são devidas a alterações atômicas. Vemos, assim, quão autênticas foram os caminhos trilhados pelos antigos em matéria de raciocínio. Caminho esse, por vezes, retomado por F.Bacon em sua empreitada metodológica que afrontou veementemente às autoridades peripatéticas da Igreja. ‘’Assim, evidencia-se, inclusive com base nas afirmações dos filósofos mais antigos, que toda investigação aparentemente é dirigida para as causas descritas na Física e que não podemos sugerir qualquer outra causa além dessas.’’ (ARISTÓTELES, 2012) Portanto, visarei tratar especificamente de Aristóteles e sua influência colossal no mundo escolástico-medieval devido a seu sistema físico de mundo e suas categorias de hierarquia das ciências, bem como os primórdios da ciência moderna, que outrora fora revolucionária e destronou a enraizada e obsoleta concepção de mundo criada por Aristóteles, que veremos mais adiante. Atentarei-me, fundamentalmente, no período da Grécia antiga entre a época de Aristóteles e os séculos XV a XVII, período no qual emerge o Renascimento cultural na Europa e com profundas consequências para o campo das artes mecânicas. Assim, passarei por Galileu, Bacon, Copérnico e seus contemporâneos responsáveis pelo conceito de engenharia e método, que proporcionou avanços inimagináveis nas investigações celestes. Ademais, ressalto da imprescindível necessidade de resgatar, dentro das ciências naturais, a perspectiva histórica, tal como aquela defendida por Thomas Kuhn, em Estrutura das revoluções científicas. 2.1 A FUNÇÃO CRUCIAL DA HISTÓRIA PARA A CIÊNCIA. O trabalho de abarcar historicamente o percurso da ciência é o de tratar conceitos e linguagens relativos ao período em específico, ou seja, termos utilizados por determinados autores para se referir a seu devido tempo. Para isso, autores que tratam de novas formas metodológicas precisam atentar-se minuciosamente, às estruturas de pensamento mais antigas, que sustentam o paradigma a ser quebrado. Autores como Copérnico ou Galileu foram homens preocupados em se comprometer com a tradição para então refutá-las. Daí a importância de se fazer uma história da ciência, analisar os conhecimento e técnicas acumulados ao longo do desenvolvimento científico. Tomas Kuhn (1998) denomina essas condições de ‘’emergência’’ de uma descoberta nova. Não obstante, uma objeção apresenta-se prática e teoricamente, uma vez que há dissonâncias entre cientistas naturais e cientistas sociais para comprovar quem possui a resposta mais legítima acerca da natureza dos métodos e dos problemas científicos. (KUHN, 1998). Interessante o ponto de vista elaborado por Kuhn, dado que ao reivindicar para si a importância da perspectiva histórica, rebate-se a autoridade inexorável que os cientistas naturais têm em muitos aspectos. A acusação aos cientistas naturais, é àquela que na Física, na Química ou na Biologia., é inexistente o interesse pelas questões psicológicas ou sociais. Dessa forma, a ciência trabalha - como bem posto por Kuhn - com ‘’paradigmas’’, pois se constitui de valores universais, isto é, por realizações já consagradas. A ciência proposta por Kuhn é a que visa analisar os processos que emancipam uma crise no paradigma tradicional, gerando novas emergências de descobertas. A abordagem de períodos pós e pré-revolucionários são determinantes para compreender as mudanças da comunidade, que atesta e experimenta as recém-chegadas descobertas. Os meios onde tudo acontece são por publicações científico-acadêmicas, relatórios, toda uma literatura vem à tona, à medida que novas formas ou questionamentos metodológicos surgem. Contudo, não é preciso ir além de Copérnico e do calendário para descobrir que as condições externas podem ajudar a transformar uma simples anomalia numa fonte de crise aguda. O mesmo exemplo ilustra a maneira pela quais condições exteriores às ciências podem influenciar o quadro de alternativas disponíveis àqueles que procuram acabar com uma crise propondo uma ou outra reforma revolucionária. (KUHN, 1998, p.15) Observa-se, assim, a preponderância dos fatores externos ao inicio de toda e qualquer fagulha responsável pela explosão de uma nova crise no paradigma vigente. Ainda segundo as abordagens de Kuhn, o problema do espaço é ponto determinante nas pesquisas filosóficas que atravessam a história da ciência. O historiador deve, portanto, questionar, quando e por quem foi feita tal descoberta. Usualmente os livros didáticos de ciência tratam das transformações paradigmáticas como meros conglomerados de práticas laboratoriais. Todavia, é preciso dar lugar a uma concepção mais sólida, que sirva para fortificar as descobertas da ciência. Tomar a história da ciência como partida é dar importância aos momentos em que se registraram mudanças no paradigma científico, tanto para descrever os fatos que os impulsionaram, quanto para fatos os obstruíram. T. Kuhn descreve perfeitamente essa ideia: Preocupado com o desenvolvimento científico. O historiador parece então ter duas tarefas principais. De um lado deve determinar quando e por quem cada fato, teria ou lei científica contemporânea foi descoberta ou inventada. De outro lado, deve descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e superstições que inibiram a acumulação mais rápida dos elementos constituintes do moderno texto científico. (KUHN, 1998, p.20) Dessa forma, Kuhn demonstra que mesmo as teorias tidas como mitos, por exemplo, a dinâmica física de Aristóteles, não deve ser excluída do percurso científico, pois em algum momento foi sustentáculo para o acumulo do progresso. ‘’Portanto, a história da ciência reclama por uma nova imagem da ciência. ‘’ (KUHN, 1998). Portanto, para adentrar nessa tarefa de abordar as perspectiva histórica da investigação cosmológica e científica, se faz categórico analisar os pressupostos da filosofia aristotélica, que vigorou como hegemonia acadêmica por mais de mil anos nas universidades europeias. Assim, será evidenciado que toda a autoridade que a ciência detém, está fundamentada em acúmulos históricos de renovações de paradigmas tradicionais. 3.1 A DIVISÃO DA FILOSOFIA E AS CAUSAS NOBRES: A SUPERIORIDADE DA TÉCHNE OU DAS CIÊNCIAS ESPECULATIVAS. Uma das frases mais brilhantes da história da filosofia é àquela primeira linha que inicia o livro um, de a Metafísica: ‘’Todos os seres humanos naturalmente desejam o conhecimento ‘’ (ARISTÓTELES, 2012). Assim, adentrando em uma investigação de fôlego, Aristóteles inicia estabelecendo uma hierarquia dos saberes humanos, que iria vigorar por quase um milênio nas academias da Europa. A forma que o homem obtém conhecimento necessita fundamentalmente da percepção dos sentidos somado à sua memória. A experiência está calcada em lembranças de atividades já praticadas, o saber prático,portanto, é de suma importância para compreender os conceitos de Arte e Ciência, em Aristóteles. A experiência, diz Aristóteles, é muito semelhante à ciência e a arte, pois é por meio dela que os homens as possuem. ‘’ A experiência produz arte, mas a inexperiência, acaso’’ (ARISTÓTELES, 2012). O que é, exatamente, fazer arte para Aristóteles? É formar um juízo universal após muitas noções da experiência. A experiência é o que possibilita conhecimento das coisas particulares, enquanto a arte é o que conhece os universais. Assim, se alguém dispõe de teoria sem experiência, e conhece o universal, mas não conhece o particular nele contido, com frequência falhará em seu tratamento, uma vez que é o particular que tem que ser tratado, Entretanto, consideramos que o conhecimento e a competência pertencem antes á arte que a experiência, e supomos que artistas sejam mais sábios que homens de mera experiência, (o que significa que, em todos os casos, a sabedoria depende mais propriamente do conhecimento), e isto porque os primeiros conhecem a causa, ao passo que os segundos não a conhecem, uma vez que os homens de experiência conhecem o fato, mas não o porquê: os artistas, contudo, conhecem o porquê e a causa. Pela mesma razão, consideramos que os mestres, em todo ofício, merecem maiores apreços, conhecem mais e são mais sábios que os artesãos, porque conhecem as razões das coisas que são feitas; pensamos que os artesãos - como certos objetos inanimados – realizam coisas, mas sem saber o que realizam (como por exemplo, o fogo queima);somente que, enquanto os objetos inanimados executam todas suas ações devido uma certa qualidade natural, os artesãos executam as suas através do hábito. Assim os mestres dispõem de maior sabedoria, não devido à sua capacidade de fazer as coisas, mas porque possuem uma teoria e conhecem as causas. (ARISTÓTELES, 2012, p. 42- 43) Dessa forma, mesmo dando primazia à experiência, os sentidos não fornecem qualquer forma de sabedoria, como por exemplo, a razão do porquê o fogo é quente. O conhecimento científico, portanto, é a habilidade de saber fazer, a arte do homem sábio. Assim, temos a ciência contemplativa como suprassumo do saberes para Aristóteles. A causa mais nobre para se investigar é àquelas relacionadas ao ser, ou da metafísica e as especulações matemáticas. Tal discussão se refere às matérias puras, reais. A outra discussão que se segue nessa hierarquia, são as das causas materiais, ou seja, das coisas imperfeitas. Essas estão relacionadas às ciências práticas, como a ética, a política, ou a economia. Nesse contexto, para se chegar às discussões sublimes da metafísica, é preciso iniciar nos menores degraus da escala dos saberes, é preciso, portanto, iniciar-se nas ciências matemáticas, passando pela Aritmética, Música, Geometria e Astrologia, para então dedicar- se as ciências do ser. Categorias essas que fundamentaram toda a ciência medieval- escolástica, os famosos Trivium e Quadrivium. O sábio, então, é aquele capaz de tratar de coisas que ultrapassam o limite do homem comum, bem como é ávido nas ciências contemplativas, afastando-se por completo das ciências práticas. O homem elevado ao grau superior da ciência possui o conhecimento universal, algo que abarca a totalidade dos particulares. . (...) a razão da presente discussão deve-se ao fato de supor-se em geralmente que aquilo que é chamado de sabedoria diz respeito às causas primeiras e aos primeiros princípios, de maneira que, conforme já foi indicado, julga-se o homem da experiência mais sábio do que os meros detentores de qualquer faculdade sensorial, o artista mais do que o homem da experiência, o mestre mais do que o artesão; e as ciências especulativas mais ligadas ao saber do que as produtivas. Assim, fica claro que a sabedoria é conhecimento de certos princípios e causas. (ARISTÓTELES, 2012, p 43-44) A divisão aristotélica do saber, após o Renascimento, presenciará o seu completo declínio devido às novas artes mecânicas que emergirão após as descobertas de engenharia e observação cosmológicas de Copérnico, Galileu, Kepler, Brahe, dentre outros matemáticos e físicos que irão reverter o quadro de saberes estabelecido por Aristóteles, e consolidará os gérmens da ciência moderna. Veremos isso mais adiante após tratar da Física de Aristóteles. 3.2 ARISTÓTELES E SUA COSMOVISÃO; O ADVENTO DA AUTORIDADE FÍSICA E COSMO-LÓGICA. Posto a importância da história para o estudo da ciência, cabe agora demonstrar a ciência que vigorou por dezoito séculos. A física de Aristóteles visou explicar uma ontologia do ser, por meio dos conceitos de suas sólidas categorias. O ser é algo que se efetiva da potencia ao ato, sua natureza, portanto, é dinâmica. No entanto, a condição de substância não abarca completamente o ser. O ser possui, intrinsecamente, uma característica mutável, como tudo que se encontra no orbe terrestre, é passível de corrupção. No que diz respeito a sua cosmologia, Aristóteles acreditou que as matérias celestes eram incorruptíveis, pois seriam plenamente perfeita em sua essência. Muito disso se deve a sua divisão do mundo. Há, em Aristóteles, uma diferença entre mundo terrestre (sublunar) e o mundo celestial (supralunar). A física aristotélica trata especialmente do problema do movimento. As características do que está em potencia para ato são; a geração, corrupção, alteração e mudanças de tamanho, isto é, movimentos locais. Além disso, o cosmos de Aristóteles é algo finito, esférico e limitado em sua extensão, condição a qual era um paradigma entre os gregos, formulação cujo responsável fora Eudoxo. O universo aristotélico é, portanto, eterno, como também são eternos, segundo ele, o movimento e o tempo. Na cosmologia aristotélica, o Universo é único, contínuo e tem como estrutura básica o universo das duas esferas, composto por uma pequena esfera, a Terra, fixada no centro de uma segunda, vasta porém, finita esfera em rotação que leva consigo as estrelas fixas, e é dividido em duas regiões nitidamente distintas: a celeste e a terrestre, ocupadas por materiais distintos e governadas por leis distintas. Cada uma das coisas, sejam aquelas pertencentes à região celeste ou à região terrestre, tem, segundo Aristóteles, seu lugar ‘’natural’’ e seu ‘’movimento natural’’ para este lugar. (FÁTIMA, 2005, p.129) Nota-se, assim, de acordo com a tese central deste trabalho, que a Física aristotélica possuiu uma estruturação lógica capaz de sustentar as indagações científicas de seu tempo, que até a tradução de suas obras, eram vagas ou insuficientes. Dessa forma, suas abordagens do cosmos tornaram-se axiomas irrefutáveis, ao menos até a elaboração dos métodos de engenharia surgidos no período de Galileu. ‘’O conceito de movimento presente na física aristotélica permite sem dúvida entender a máxima medieval: quem não conhece o movimento não conhece a natureza’’ (FÁTIMA, 2005). Esse, portanto, é o Céu de Aristóteles, esférico e circularmente rotativo, onde a terra possui lugar no centro. E dado que a primeira figura corresponde ao primeiro corpo, e o primeiro corpo é o que se encontra na rotação extrema do mundo, segue que o que se move circularmente será necessariamente esférico. Consequentemente, também será esférico o que está em continuidade e aderindo a ele: pois o que está aderindo ao que é esférico também é esférico. De maneira análoga, também serão esféricas as coisas que estão no meio destas, pois aquelas coisas que estão limitadas por um corpo esférico e estão em contato com ele necessariamente serão todas esféricas, agora, as coisas que estão abaixo da esfera das estrelas errantes (planetas) tocam a esfera superior; Assim, portanto, o mesmo universo será esférico, pois todas as coisas estão em contato e continuidade com as esferas. (ARISTÓTELESapud FÁTIMA, 2005, p.135) A constituição do mundo celeste aristotélico, é aquele das estrelas, planetas, que são formados pela substância éter, uma espécie de quintessência pura, eterna e incorruptível. Por outro lado a terra seria composta de terra, fogo e água. Outra característica desse universo seria a força de seu movimento, cada círculo desse mundo agiria com potencias diferentes uns dos outros. O que se situa nas esferas superior tendia ao movimento para o alto, pois seriam substâncias puras e cristalinas, uma vez que os corpos da parte inferior, por serem pesados, tendiam a cair. Todo movimento é ou natural ou contrário à natureza e que o movimento que é contranatural para um corpo é natural para o outro, como é o caso do movimento para cima e para baixo, que é natural e contranatural para o fogo e para a terra, respectivamente; segue-se necessariamente que o movimento circular, sendo não natural para estes corpor, é natural para algum outro. E, além disso, se o movimento circular é o deslocamento natural para alguma coisa, está claro que haverá entre os corpos simples e primários algum que se moverá naturalmente em círculo, como faz o fogo para cima e a terra para baixo. (ARISTÓTELES apud FÁTIMA, 2005. p. 138) Dito isto, outro essencial fundamento da cosmologia aristotélica é a que resulta na origem da potência que mantém toda essa estrutura dinâmica em funcionamento, para Aristóteles, a causa primeira que rege todos esses movimentos, é o Primeiro Motor Imóvel. O raciocínio de Aristóteles é o de que, para procurar uma causa é necessário buscar as causas possíveis. Pois tudo que é movido, e movido por algo. Essa força primeira seria eterna, imutável e não submissa às leis da potencia e ato, dado que ela sua superioridade em perfeição, seria sempre atualidade. Se o movimento é eterno, deve haver algo que é necessariamente, um ato perpétuo que auto se projeta. Essa seria, portanto, a causa final do Universo. De acordo com ele: ‘’ dado que aquilo que é movido e propicia movimento é intermediário, há algo que propicia movimento sem ser movido, sendo uma essência e uma atividade eterna’’ (ARISTÓTELES). Assim, o Primeiro motor nada deseja e nada falta, mas é almejado por todos os seres do Universo. Ele existe à medida que é amado, desejado. Conclui-se, que toda essa organização científica que tratou Aristóteles, foi de suma importância para o progresso do homem em relação à noção de Cosmos. É claro que Aristóteles jamais possuiu instrumentos de observação, mas a potencia de seu pensamento sustentou por um milênio as crenças humanas acerca da constituição do mundo e de deus. 4.1 A CORROSÃO DO PARADIGMA ARISTOTÉLICO: O ALVORECER DA CIÊNCIA MODERNA Dados os princípios do paradigma vigente até o século de Copérnico, a então lei universal da natureza começa a esboçar seu fim, que será posta à prova com as descobertas dos séculos seguintes. A construção aristotélica de universo era de acordo a astrologia, que estabelecia: [...] 1. Que o céu e os corpos celestes eram inalteráveis e imutáveis; 2. Que o seu movimento era eterno, circular e perfeito; 3. Que existia uma quinta- essência superior, distinta do mundo inferior da terra e seus elementos; 4. Que neste mundo inferior prevaleciam os processos de geração, alteração e decomposição, como as mudanças das estações, os movimentos geológicos, o nascimento e a morte das plantas e dos animais. (ROSSI, 1992, p. 29) Dessa forma, a crença estabelecida era a de que o homem era governado pelas leis celestes que governam também o mundo superior. A astrologia na época não era meramente um sistema de fé cósmica, mas sim uma organização científica que explicava as causalidades do mundo. Sua queda foi um processo lento, gradual, dado que sua autoridade era secular, ao menos até o século de Newton, que foi um dos principais precursores da ciência moderna com sua revolucionária descoberta da gravitação. ‘’ A derrota da astrologia foi repetidamente apresentada como devida à substituição do sistema aristotélico pelo sistema copernicano’’. (ROSSI, 1992). O advento do livro de Copérnico sobre as revolução dos orbes celestes iria colocar toda a tradição escolástica em ruína. Copérnico ainda possuía certas crenças antigas, como, por exemplo, a crença em mundo fechado, finito, todavia, sua força revolucionária consistiu em colocar o sol no centro do universo, e descolar a terra para sua órbita, assim como todos os outros planetas do sistema solar. Nesse sentido, mesmo toda a ebulição científico-intelectual que estava por florescer, não foi o suficiente para desmoronar o castelo milenar da astrologia. A nova astronomia caminhava a passos lentos até sua completa inversão nos valores metodológicos. O lento processo de substituição do geocentrismo pelo heliocentrismo, a substituição da concepção tradicional do ser como uma ‘’grande cadeia’’ pela imagem do mundo como ‘’ máquina’’ não podem absolutamente representar uma pura e simples substituição de uma ‘’verdade científica’’ por outra ‘’verdade científica.’’. [...] A chamada Revolução Científica – que muitos ‘’medievalistas’’ procuraram apagar da história do Ocidente – teve realmente caráter ‘’ revolucionário’’ que foi tantas vezes sublinhado, porque não consistiu na modificação de resultados parciais no âmbito de um sistema aceito, mas no questionamento de todo esse sistema, na adoção de princípios contrários à razão e à experiência, tal como vinham se configurando dentro da tradição, na construção de um novo quadro do mundo no qual se tornam problemáticas ou privadas de sentido muitas verdades que tinham sido óbvias por quase dois milênios, enfim, na elaboração de um novo conceito de razão de experiência, de natureza, de lei natural. (ROSSI, 1992, p. 33-34) Assim, seguiu-se o caminho de reversão no quadro dos saberes humanos por uma concepção efetivamente mais científica do homem e da natureza. A perspectiva tradicional estava calcada em uma unificação da revelação bíblica com a filosofia aristotélica que, ainda assim, tiveram influência no nascimento da nova ciência, mas a imagem do homem frente ao mundo levou rumos incontornáveis. A tradição, como dito, via o mundo como uma fusão religiosa e astronômica, já a revolucionária tese que estava germinando, via o universo submetido às leis da química, da física e da biologia, problemas, portanto, que ultrapassam os limites da fé. As práticas responsáveis pelo sustento dessas metodologias só podiam ser representadas pela engenharia e seus instrumentos observacionais, as Escrituras não possuíam mais a verdade sobre o mundo. A separação entre filosofia e a ciência se deu justamente à medida que Galileu inicia suas observações sobre as manchas lunares, seu livro, Siderius Nuncius abre o horizonte para o progresso do entendimento humano. As observações da superfície lunar foi um trabalho monumental, no sentido de aparatos de engenharia, captou evidencias e comprovou experiências jamais antes vista, e graças à luneta. Há cerca de dez meses chegou aos nossos ouvidos o rumor de que um belga havia construído uma luneta com o auxílio da qual os objectos visíveis, mesmo que estivessem muito afastados da vista do observador, se viam distintamente, como se estivessem próximos. Acerca deste admirável efeito circularam alguns relatos, uns dando-lhe crédito e outros negando-o. Isto mesmo me foi confirmado passados poucos dias por uma carta enviada de Paris pelo nobre francês Jacques Badovere , o que finalmente me fez dedicar-me completamente a descobrir as razões e a conceber os meios pelos quais pudesse chegar à invenção de um instrumento semelhante, o que consegui passado pouco tempo, baseado na teoria das refracções. Inicialmente, preparei um tubo de chumbo emcujas extremidades ajustei duas lentes de vidro, ambas planas numa face, sendo uma delas convexa na outra face, e a outra côncava. Aproximando o meu olho da lente côncava observei os objetos bastante maiores e mais próximos. Na verdade, surgiam três vezes mais próximos e nove vezes maiores do que quando vistos a olho nu. Construí, depois, um outro [instrumento] mais exato que apresentava os objetos sessenta vezes maiores.36 Finalmente, sem poupar qualquer trabalho ou dinheiro, foi-me possível construir um instrumento tão excelente que as coisas com ele vistas apareciam quase mil vezes maiores e mais do que trinta vezes mais próximas do que quando observadas apenas com as faculdades naturais. (GALILEU, 2010, p. 151) Desse modo, foi possível a constatação das características da superfície lunar, colocando abaixo qualquer tipo de tradição sustentada por palavras de autoridade. Vendo a superfície lunar de forma não lisa e repleta de erupções como a superfície terrestre. As controvérsias sobre os planetas e a via láctea estavam esboçando sua – mesmo que provisória – resolução. As pesquisas de Galileu acerca do cosmos e a nova astronomia custaram caro a Galileu, sua liberdade foi posta à prova por tamanha heresia. Isso prova o quanto os valores escolásticos, sustentado pela filosofia de Aristóteles, eram inexoráveis nas acadêmias. Como dito, por mais evidentes que tenham sido as novas descobertas astronômicas, o antigo paradigma ainda demorou a ser dissolvido, somente após as descobertas de Newton que o antigo sistema chegou a sua convulsão. Galileu discorre boa parte de seu livro sobre os mecanismos usados, as funcionalidades do novo instrumento de teste. Assim, a luneta mostrou sua força de precisão com Siderius Nuncius. Depois de colocada as bases da concepção escolástica, tomada pelo hibridismo metodológico - pois na junção da fé cristã com o conjunto de obras de Aristóteles, tinha-se um mundo completamente limitado, circundado por outras esferas sublimes, e causada pelo Primeiro Motor imóvel – nota-se a magnitude dos trabalhos realizados por Galileu, e como isso causou profundos abalos em sua época. As minuciosas investigações sobre a superfície lunar foi um passo gigantesco para ciência, compara-se até ao que o telescópio Hubble representou na contemporaneidade, aquela imagem do conglomerado de galáxias captando a ‘’totalidade do universo’’ visível, é tão impactante quanto às observações de Galileu para o século XVII. Além disso, não parece coisa de somenos ter eliminado as controvérsias acerca da Galáxia ou Via Láctea e ter revelado a sua natureza aos sentidos, quanto mais à inteligência; e será' maravilhoso e sumamente belo. demonstrar claramente, como se apontando com um dedo, que a substância dessas estrelas, que até ao presente todos os astrônomos chamavam nebulosas, é muito diferente do que até agora se pensou. Mas aquilo que excede imensamente toda a admiração, e o que especialmente nos impeliu a dar notícia a todos os astrónomos e filósofos, é que descobrimos quatro estrelas errantes, nem conhecidas nem observadas por ninguém antes de nós, que, tal como Vénus e Mercúrio em torno do têm os seus períodos em torno de um certo astro insigne entre o número dos conhecidos, ora o precedendo, ora o seguindo, e nunca ficando afastadas dele para .além de certos limites. Todas estas coisas foram descobertas e observadas há alguns dias por meio de uma luneta concebida por mim depois de ter sido iluminado pela graça divina. (GALILEU, 2010, p. 150) Dito isto, fica notório a incapacidade do conjunto aristotélico em lidar tamanha controvérsia. Assim, o universo não mais era limitado e circundado por outras esferas sublimes, não havia elementos etéreos ao redor da terra, o sol não girava em torno da terra, pois o homem nunca foi o centro do universo. E a deterioração do sistema medieval tinha uma causa ainda mais obscura para solucionar: o Primeiro Motor não era a causa do movimento dos seres. As formulações da Potencia ao Ato viram sua derrocada com as leis do cálculo. A fabulosa Metafísica aristotélica e suas categorias viram-se agora na parte inferior do quadro dos saberes. A dicotomia entre questões especulativas e questões prático-científicas se consolidou, Aristóteles portanto, não era a autoridade, a hegemonia escolástica presenciara seu fim. Galileu foi ainda mais longe, ele ousou associar a nova razão heliocêntrica do copernicanismo às Sagradas Escrituras. Como posto acima, Galileu foi um homem de fé, apesar de acusado de heresia, para ele, ainda assim a divindade era a causa do universo, e suas descobertas seriam iluminações divinas. Nesse sentido é possível perceber que em Galileu havia um certo sendo neoplatônico, o que por sinal, não era de surpreender, pois mesmo naquele contexto renascentistas repleto de inovações metodológicas e culturais, havia muitos aspectos do mundo antigo. ‘’Em relação a um texto seu publicado em 1613, acerca da História e demonstrações, Galileu afirma que a divina bondade o tinha levado à difusão de suas teorias’’ (ROSSI, 1992). Nesse texto, Galileu afirmava, ao contrário da lei vigente, que o céu era tão corruptível quanto os elementos terrenos, isto é, dado suas observações, ele notara que os astros e outros elementos eram passíveis de transição. Galileu, por tal afirmação, que outrora fora interpretada como inteiramente herege foi obrigado a revisar o texto então redigir sob as rédeas da igreja. ‘’ Galileu preparou então um novo texto, que mantinha a referência aos textos sagrados, mas acrescentava homenagem à autoridade teológica, além de um alto elogio à acuidade e à sublimidade de engenho dos sutis intérpretes da bíblia das Escrituras.’’ (ROSSI, 1992). Em ouro texto famoso envolvendo Galileu, é sua carta a Castelli. Nela, Galileu afirma a necessidade da exclusão das interpretações bíblicas sobre o universo. A ciência deve seguir autônoma, guiada somente pelos dados testáveis. As investigações sobre a natureza em nada contribuem para sondar a essência divina, os processos físico-químicos não possuem relação alguma com as ideias defendidas pelos homens. A obra de Deus é revelada pela verificação física e matemática. O mundo para Galileu era um livro de ciências, nele estava contido toda a obra divina. As Escrituras devem tratar somente da salvação das almas, portanto, uma questão estritamente de fé. Já o papel dos cientistas naturais é o de desvendar as leis do universo. Outro passo perigoso, ousado de Galileu, foi afirmar que a Bíblia possuía a verdade copernicana. A começar: 1. Oferecendo uma interpretação sua da passagem de Josué e dos versículos do salmo 18 – que estão entre os textos aparentemente menos conciliáveis com a visão copernicana do mundo – Galileu pretende também demonstrar que nesses textos estão presentes, numa forma adaptada ‘à incapacidade do vulgo, ’’ algumas verdades próprias do sistema copernicano. 2. Essas estão de certo modo ocultas dentro do texto bíblico e podem ser cautelosamente decifradas apenas por aqueles que indicarem os verdadeiros sentidos que estão sob as palavras do texto. (ROSSI, 1992, p. 108) A Escritura possuía o saber acerca da centralidade do sol e da rotação dos planetas em sua órbita. É fato, como dito, que Galileu possuía ainda certo neoplatonismo em sua posição pessoal, condição na qual não interferiu nos grandes passos que suas abordagens garantiram à humanidade. Portanto, mesmo se tratando de uma mirabolante retórica, Galileu não só foi defensor do copernicanismo como foi também o responsável pela reversão do paradigma científico, sobretudo pelas suas investigações com a luneta, que foi o suficiente para o total abalo da cultura de sua época. As evidências expostas no Mensageiro das Estrelas foi o desmonte – mesmo que não imediatamente – do mundo antigo.5.1 A GUISA DE CONCLUSÃO Conclui-se, assim, que o percurso feito neste trabalho foi o de brevemente abordar a problemática envolvida entre a investigação do cosmos, que teve inicio na Grécia antiga, e como a filosofia de Aristóteles teve capital importância para o desenvolvimento científico do Ocidente, afirmando a tese principal de que é preciso fazer um resgate historiográfico para tal abordagem. As ciências naturais e as sociais devem trabalhar lado a lado se quiserem emancipar o saber humano, assim, onde uma termina se inicia a outra. Essa é a abordagem defendida por Kuhn, que tratamos de expor neste trabalho. Vimos também, que o tratado filosófico de Aristóteles, foi matéria irrefutável até o século XIV e XV, e daí em diante a autoridade escolástica viu seu declínio. A escala dos saberes estabelecido na Metafísica aristotélica, onde os saberes especulativos tinham lugar supremo na hierarquia dos saberes, passou por tornar-se obsoleto à medida que o avanço científico, com instrumentos de testes e observações, emergia com a engenharia moderna. As ciências práticas passaram a serem as principais responsáveis pela autoridade científica, deixando isolada a palavra da Sagrada Escritura. Assim, representa-se o rompimento do paradigma, tal como nos mostra Kuhn. Os limites da antiga tradição revelados com a insurgência de novas metodologias, não descartam sua importância no plano do desenvolvimento humano. Pelo contrário, foram partindo de suas teses que outros puderam elaborar novas estruturas. Sendo assim, buscou-se tratar aqui, que a ruptura com as ciências especulativas, se consolida à proporção que o quadro dos saberes se invertem, e as ciências práticas tomam a dianteira do progresso técnico-científico. BIBLIOGRAFIA ARISTÓTELES, Metafísica. Trad: Edson Bini. Ed: São Paulo: Edipro, 2012. ÉVORA, F. Regina. Natureza e movimento: Um estudo da física e da cosmologia aristotélicas. Cad. Hist. Ci., Campinas, Série 3, v. 15,n. 1, p. 127-170, jan.-jun. 2005. GALILEI, Galileu. Siderius Nuncius: O mensageiro das estrelas. Trad. Henrique Leitão, 3 edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. KUHN, Thomas. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Ed: Perspectiva, 1998. MAGEE, Bryan. História da filosofia. São Paulo, ed: Loyola, 2013. ROSSI, Paolo. A ciência e a filosofia dos modernos: aspectos da revolução científica. São Paulo, Ed: UNESP, 1992.
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