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Psicodiagnóstico: Avaliação Clínica

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PSICODIAGNÓSTICO- 
 
CUNHA, Jurema Alcides. 
 
Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica feita com propósitos clínicos, visando 
identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um foco na existência ou 
não de psicopatologia. O fim do século XIX e começo do séc. XX foi marcado pelos trabalhos 
de Galton, que introduziu o estudo das diferenças individuais, Cattell, a quem se devem as 
primeiras provas designadas como testes mentais, e Binet, que propôs a utilização do exame 
psicológico, por meio de medidas intelectuais, como coadjuvante da avaliação psicológicas. 
A esses três autores é atribuída a paternidade do psicodiagnóstico. 
 
Embora a psicometria (difundida pelas escalas de Binet) tenha sido fundamental para a 
garantia de cientificidade dos instrumentos do psicólogo, é importante estabelecer a 
diferença entre o psicometrista e o psicólogo clínico: o primeiro tende a valorizar os aspectos 
técnicos da testagem, visando obter dados, enquanto no psicodiagnóstico há a utilização de 
testes e outras estratégias, para avaliar o sujeito de forma sistemática e cientifica, visando a 
resolução de problemas. 
 
Kraepelin, no século XIX, se notabilizou por seu sistema de classificação dos transtornos 
mentais, especialmente seus estudos diferenciais entre esquizofrenia e psicose maníaco-
depressiva. Assim também Freud, que contribuiu decisivamente para caracterizar a diferença 
entre estados neuróticos e psicóticos, dentre os transtornos classificados como funcionais 
(não-orgânicos). Logo em seguida, o teste de associação de palavras, de Jung, completou o 
lastro para o lançamento posterior das técnicas projetivas. O psicodiagnóstico surgiu, assim, 
como conseqüência do advento da psicanálise, que ofereceu novo enfoque para o 
entendimento e classificação dos transtornos mentais. 
 
Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes 
psicológicos, em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos 
teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu 
curso possível. O plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses 
iniciais, definindo-se não só os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los. 
Selecionada e administrada uma bateria de testes, obtêm-se dados que devem ser 
interrelacionados com as informações da história clínica, pessoal e outras, a partir do elenco 
das hipóteses iniciais, para permitir uma seleção e uma integração, norteada pelos objetivos 
do psicodiagnóstico. 
a) Classificação simples – comparação entre sujeitos (ex. nível intelectual). 
b) Descrição – além da classificação, interpreta diferenças de escores, identificando 
forças e fraquezas e descrevendo o desempenho do sujeito. 
c) Classificação nosológica – há testagem das hipóteses iniciais, tomando-se como 
referência critérios diagnósticos (uso preferencial de um modelo categórico para 
análise psicopatológica). 
d) Diagnóstico diferencial – são investigadas irregularidades ou inconsistência do 
quadro sintomático, para diferenciar alternativas diagnósticas, níveis de 
funcionamento ou a natureza da patologia. 
e) Avaliação compreensiva – é determinado o nível de funcionamento da 
personalidade, funções do ego e de insight e sistema de defesas, para a indicação de 
recursos terapêuticos e possível resposta aos mesmos. 
f) Entendimento dinâmico – há uma integração dos dados anteriores com base teórica, 
permitindo a explicação de aspectos comportamentais nem sempre acessíveis na 
entrevista, assim como a antecipação de fontes de dificuldades na terapia e a 
definição de focos terapêuticos (entendimento da problemática do sujeito numa 
dimensão mais profunda, na perspectiva histórica do desenvolvimento). 
g) Prevenção – identifica problemas precocemente, avalia riscos, faz uma estimativa de 
forças e fraquezas do ego e sua capacidade para enfrentar situações difíceis. 
h) Prognóstico – determina o curso provável do caso. 
i) Perícia forense – fornece subsídios para questões relacionadas com “insanidade”, 
competência para o exercício das funções de cidadão, avaliação de incapacidades ou 
patologias que podem se associar com infrações da lei etc. 
Resumidamente, os passos do diagnóstico com base em um modelo psicológico de natureza 
clínica são: a) levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e 
definição das hipóteses iniciais e dos objetivos do exame; b) planejamento, seleção e 
utilização de instrumentos de exame psicológico; c) levantamento quantitativo e qualitativo 
dos dados; d) integração de dados e informações e formulação de inferência pela integração 
dos dados, tendo como pontos de referência as hipóteses iniciais e os objetivos do exame; e) 
comunicação de resultados e orientação sobre o caso. 
 
O problema 
 
Um problema é identificado quando são reconhecidas alterações ou mudanças nos padrões 
de comportamento comum, que podem ser percebidas como sendo de natureza quantitativa 
ou qualitativa. Pode-se falar em alterações autolimitadas, verificadas pela presença de um 
exagero ou diminuição de um padrão de comportamento usual, observadas na atividade 
(motora, fala, pensamento), no humor (depressão, euforia), em outros afetos 
(embotamento, excitação) etc. Se a intensidade dos sintomas for desproporcional às causas 
e/ou persistir além da vigência normal dos efeitos das mesmas (no luto patológico, p. ex.), já 
há significação clínica. 
 
Quando as mudanças percebidas são de natureza qualitativa, chamam a atenção por seu 
cunho estranho, bizarro, idiossincrásico, inadequado ou esquisito e geralmente são 
associadas com dificuldades mais sérias. No entanto, um comportamento ou experiência 
subjetiva definidos como sintomáticos em um contexto podem ser aceitáveis em outro, 
devendo-se observar que um sintoma único não tem valor diagnóstico em si, sendo 
necessário que o paciente apresente um certo número de características sintomatológicas, 
durante um certo período de tempo, para se chegar a uma decisão diagnóstica. 
 
Na avaliação da existência de psicopatologia, têm sido destacado o uso de dois modelos: o 
modelo categórico, de enfoque qualitativo, exemplificado pelo julgamento clínico sobre a 
presença ou não de uma configuração de sintomas significativos (mais utilizado pelos 
psiquiatras); e o modelo dimensional, de enfoque quantitativo, exemplificado pela medida 
da intensidade sintomática (mais utilizado pelos psicólogos), embora na maioria das vezes 
esses enfoques sejam associados. 
 
Transtorno mental pode ser conceituado como uma síndrome ou padrão comportamental 
ou psicológico clinicamente importante, que ocorre no indivíduo, associado com sofrimento 
ou incapacitação. 
 
Na tarefa do psicodiagnóstico, o psicólogo sofre inúmeras pressões e pode ter dificuldades 
em reconhecer percepções e experienciar sentimentos de raiva e intolerância que, se não 
forem conscientizados, podem interferir e até invalidar o processo avaliativo. 
Shafer se refere a algumas necessidades inconsciente e permanentes (constantes) 
mobilizadas no psicólogo-pessoa durante a testagem: 
a) aspecto voyeurista – o psicólogo examina e perscruta o paciente, enquanto se 
mantém preservado pela neutralidade e curta duração do vínculo; 
b) aspecto autocrático – na medida em que diz ao paciente o que deve fazer, de que 
forma e quando; 
c) aspecto oracular – quando procede como se tudo soubesse, conhecesse e pudesse 
prever (dono da verdade); 
d) aspecto santificado – quando assume o papel de salvador do paciente; 
 
O autor aponta também algumas constantes do paciente na interação clínica: 
a) auto-exposição sem confiança/intimidade violada – o paciente se sente vulnerável, 
exposto ao psicólogo; 
b) perda de controle sobre a situação – por se sentir à mercê do psicólogo, o paciente passa 
a adotar uma postura defensiva; 
c) perigode autoconfrontação – ao mesmo tempo querendo ajuda e receando o confronto 
de aspectos rechaçados, a testagem implica ataque aos seus processos defensivos; 
d) tentação de reagir de forma regressiva – pela dificuldade de aceitação das próprias 
dificuldades; 
e)ambivalência diante da liberdade – pois tem que enfrentar o risco de se expor 
 
A entrevista clínica 
 
Em psicologia a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo 
delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, com o objetivo de descrever e avaliar 
aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um 
processo que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor intervenção em 
benefício do entrevistado. A entrevista é a única técnica capaz de testar os limites de 
aparentes contradições e de tornar explícitas características indicadas pelos instrumentos 
padronizados, dando a eles validade clínica. 
 
O entrevistador deve estar atento aos processos no outro, e a sua intervenção deve orientar 
o sujeito a aprofundar o contato com sua própria experiência. Todos os tipos de entrevista 
têm alguma forma de estruturação, na medida em que a atividade do entrevistador 
direciona a entrevista no sentido de alcançar os seus objetivos, sendo dele a 
responsabilidade pela condução do processo. 
 
Os tipos de entrevista podem ser classificados (no geral) a partir de dois eixos: quanto a 
forma (estrutura) e segundo o objetivo. Quanto ao aspecto formal, as entrevistas podem ser 
divididas em estruturadas, semi-estruturadas e de livre estruturação. As primeiras 
privilegiam a objetividade e geralmente se destinam ao levantamento de informações 
específicas, definidas pelas necessidades de um projeto (ex. entrevista epidemiológica). 
 
A grande maioria das técnicas de entrevista divulgadas em psicologia clínica enquadram-se 
como de livre estruturação, no entanto as técnicas de entrevista vêm sendo gradativamente 
especificadas, de modo que sua estrutura pode ser mais claramente definidas. As entrevistas 
semi-estruturadas são assim denominadas porque o entrevistador tem clareza de seus 
objetivos, que tipo de informação é necessária para atingi-los, como essa informação deve 
ser obtida, em que seqüência e em que condições deve ser investigada e como deve ser 
considerada (critérios de avaliação). Além de estabelecer um procedimento que garante a 
obtenção da informação necessária de modo padronizado, ela aumenta a confiabilidade ou 
fidedignidade da informação obtida e permite a criação de um banco de dados úteis à 
pesquisa, ao estabelecimento da eficácia terapêutica e ao planejamento das ações de saúde. 
 
Quanto aos objetivos, deve-se considerar primeiramente que a finalidade maior de uma 
entrevista é sempre a de descrever e avaliar para oferecer alguma forma de retorno, 
requerendo sempre uma etapa de apresentação da demanda, de reconhecimento da 
natureza do problema e da formulação de alternativas de solução e encaminhamento. Além 
desses objetivos-fins, existem objetivos instrumentais, que são muitos e variados (p. ex., 
quando se pretende avaliar um quadro psicopatológico, é necessário um exame detalhado 
dos sintomas; na entrevista psicodinâmica, é importante a investigação do desenvolvimento 
psicossexual etc). Por isso, estratégias diferentes de avaliação podem ser utilizadas para 
atingir os objetivos de cada situação, ou combinadas, para atingir objetivos diversos, além 
de considerar as variações de abordagem, de problemas apresentados e da clientela 
atendida. 
 
Alguns tipos de entrevistas quanto à sua finalidade, no entanto, devem ser ressaltados: de 
triagem, de anamnese, diagnósticas (sindrômicas ou dinâmicas), sistêmicas e de devolução. 
a) entrevista de triagem – tem por objetivo avaliar a demanda do sujeito e fazer um 
encaminhamento, sendo geralmente utilizada em serviços de saúde pública ou 
clínicas sociais, onde é necessário avaliar a adequação da demanda em relação ao 
encaminhamento pretendido. A triagem também é fundamental para avaliar a 
gravidade da crise, identificando a necessidade de apoio medicamentoso. 
b) entrevista de anamnese - objetiva o levantamento detalhado da história de 
desenvolvimento da pessoa, principalmente na infância, podendo ser estruturada 
cronologicamente. Fazer uma anamnese irá facilitar ao clínico a apreciação de 
questões desenvolvimentais importantes na história do paciente. 
c) Entrevista diagnóstica – exame e análise cuidados de uma condição na tentativa de 
compreende-la, explica-la e possivelmente modifica-la. Pode priorizar aspectos 
sindrômicos (descrição de sinais, como baixa auto-estima e sentimentos de culpa, e 
de sintomas, como humor deprimido e ideação suicida) para a classificação de um 
quadro ou síndrome, ou aspectos psicodinâmicos (descrição e compreensão da 
experiência ou modo particular de funcionamento do sujeito, tendo em vista uma 
abordagem teórica). Essas duas perspectivas devem ser vistas como 
complementares. É comum a existência de sinais e sintomas isolados ou subclínicos, 
que não são suficientes para dar configuração a uma síndrome, mas são importantes 
por sugerir uma dinâmica e indicar um modo particular de adoecer. 
d) Entrevista sistêmica – focalizam a avaliação da estrutura ou da história relacional ou 
familiar e também aspectos importantes da rede social de pessoas e famílias. 
e) Entrevista de devolução – tem por finalidade comunicar ao sujeito o resultado da 
avaliação e também permitir ao sujeito expressar seus pensamentos e sentimentos 
em relação às conclusões e recomendações do avaliação e ainda a reação do sujeito 
a elas. Destaca-se a importância de ajudar o sujeito a compreender as conclusões e 
recomendações e a remover distorções ou fantasias contraproducentes em relação a 
suas necessidades. 
 
A entrevista tem o potencial de modificar a maneira como o paciente se percebe (auto-
estima), percebe seu futuro pessoal (planos, desejos, esperanças) e suas relações 
significativas. Assuntos importantes, afetivamente carregados e associados a experiências 
dolorosas, muitas vezes aparecem nas entrevistas clínicas, devendo o entrevistador 
desenvolver a capacidade de tolerar a ansiedade e de falar abertamente sobre temas 
difíceis. 
 
Vale ressaltar que a observação do comportamento , da comunicação não-verbal e do 
material latente do paciente contribui de maneira especial para elucidações importantes 
sobre o entrevistados. Restringir o âmbito do interpretável somente ao conteúdo explícito 
da comunicação pode acarretar perda de informação clínica significativa. 
 
Ser capaz de compreender seus processos contratransferenciais é um dos recursos mais 
importantes do clínico. Reconhecer como os processos mentais e afetivos são mobilizados 
em si mesmo e ser capaz de relacionar esse processo ao que se passa na relação imediata 
com o sujeito fornece ao entrevistador uma via inigualável de compreensão da experiência 
do outro. 
 
História clínica 
Pretende caracterizar a emergência de sintomas ou de mudanças comportamentais, numa 
determinada época, e a sua evolução até o momento atual (ocasião em que o exame foi 
solicitado). As queixas, os motivos explícitos e até a não admissão de sintomas fornecem um 
ponto de partida, procurando-se localizar no tempo o aparecimento de mudanças 
sintomáticas, associa-los com as circunstâncias de vida no momento, analisando o seu 
impacto e repercussão em atividades e relações. 
 
História pessoal ou anamnese 
Pressupõe uma reconstituição global da vida do paciente, devendo ser enfocada conforme 
os objetivos do exame e dependendo do tipo e da idade do paciente. De acordo com a 
problemática e a estrutura de personalidade do paciente, certas áreas e conflitos deverão 
ser mais explorados do que outros, com atenção em certos pontos que possam indicar 
explicações para a emergência e o desenvolvimento do transtorno atual.Alguns tópicos 
podem servir de referência: contexto familiar, primeira infância (até 3 anos), infância 
intermediária (3 a 11 anos), pré-puberdade, puberdade e adolescência, idade adulta e fontes 
subsidiárias (familiar ou familiares, exames anteriores etc). 
 
Avaliação dinâmica 
Geralmente integrada com a história, busca-se relação entre os problemas específicos atuais 
e as experiências passadas da pessoa, colocando a problemática numa perspectiva histórica 
que permita compreender o transtorno dentro de um processo vital, em um contexto 
temporal, afetivo e social, com base num quadro referencial teórico. Partindo-se de queixas, 
são identificados conflitos e causas, interrelacionados conteúdos, reunidos e integrados 
informações que embasam o entendimento dinâmico no fluxo da história do paciente. 
 
Exame do estado mental do paciente 
 
No que diz respeito à ordenação metodológica do exame do estado mental, há um consenso 
de que as principais alterações envolvem sinais e/ou sintomas nas seguintes áreas da 
conduta humana: atenção, sensopercepção, memória, orientação, consciência, pensamento, 
linguagem, inteligência, afetividade e conduta. 
 
Atenção – é um processo psíquico que permite concentrar a atividade mental sobre um fato 
determinado, sendo importante considerar a capacidade de concentração; quanto tempo é 
mantida a atenção (persistência/fatigabilidade); em quantos objetos é capaz de estar focada 
simultaneamente (distribuição; quanto tempo demora para começar a efetiva atenção 
(excitabilidade). São considerados transtornos de atenção a aprosexia (ausência de atenção), 
hipoprosexia (atenção diminuída), hiperprosexia (atenção exagerada) e distraibilidade 
(atenção inconstante). A distração, entendida como a impossibilidade de manter constante 
atenção e também quando o indivíduo estão tão concentrado que não percebe o que se 
passa ao seu redor, é chamada de desatenção seletiva. 
 
Sensopercepção – é a capacidade de captar as sensações, através do receptores sensoriais, e 
transforma-las em imagens ou sensações no SNC. Os transtornos mais freqüentes são as 
ilusões (percepções deformadas de um objeto) e as alucinações (percepções sem objeto, 
podendo ser produzidas em relação a qualquer qualidade sensorial). 
 
As ilusões podem ser causadas por peculiaridades do sistema de refração; limitações 
naturais dos órgãos do sentido; alterações da consciência (turvação ou obnubilação da 
consciência, gerando as ilusões metamorfósicas – macroscopia, microscopia e porropsia1); 
falta de atenção; catatimias (influência exercida pela afetividade na percepção, na atenção, 
no julgamento e na memória, resultando em deformação da realidade em relação aos 
objetos que cercam); erros de julgamento (delírios); reconhecimento deficiente. 
As alucinações podem ser visuais, auditivas, gustativas, olfativas, táteis, térmicas, 
cenestésicas (sensibilidade dos órgãos viscerais) e cinestésicas ou motoras (falsa percepção 
de movimentos). Costuma-se falar também em alucinose, quando há todas as características 
da imagem alucinatória, menos a convicção da realidade ou participação da pessoa no 
processo (termo frequentemente empregado para designar delirium alucinatório por causa 
orgânica). Nas pseudoalucinações (alucinações psíquicas) falta também a convicção que 
caracteriza as alucinações, mas não há uma patologia orgânica comprovada (p. ex. visão do 
duplo). 
 
Memória – é a função que garante o elo temporal da vida psíquica. Costuma ser analisada 
em três dimensões: a fixação, a evocação e o reconhecimento.A fixação é a capacidade de 
gravar os dados; a evocação é a capacidade de atualizar os dados já fixados (esquecimento é 
 
1 Sensação de distanciamento e diminuição dos objetos que se movem. È um dos fenômenos de alteração 
perceptiva observados na epilepsia, onde os objetos parecem retroceder no espaço, sem modificar 
aparentemente o seu tamanho. 
a impossibilidade de evocar); e reconhecimento é a capacidade de recordar uma imagem 
(engrama). 
 
As alterações da memória quanto à fixação são a amnésia (abolição da memória); 
hipomnésia (enfraquecimento da memória); hipermnésia (exagero patológico da evocação); 
dismnésia (designação geral das perturbações da fixação e/ou evocação). É freqüente o uso 
de expressões hipmnésia anterógrada, retrógrada e retroanterógrada, correspondentes ao 
déficit de memória para os fatos ocorridos antes, depois ou antes e após o fator 
desencadeante do quadro. Há também ocorrência de amnésia lacunar nos estados 
crepusculares epilépticos (anterógrada) e amnésia lacunar histérica (retrógrada, explicada 
pela repressão). 
 
As disfunções do reconhecimento mais habituais são as agnosias (transtorno do 
reconhecimento da imagem, quando o objeto é familiar ao paciente); paramnésias 
(alucinações da memória: trata-se de imagens criadas pela fantasia e tidas como recordações 
de acontecimentos reais – fenômenos do déjà vu e jamais vu). 
 
Orientação – é uma das expressões da lucidez psíquica pela qual se identifica a capacidade 
de consciência temporo-espacial. Examina-se a orientação autopsíquica, relativa à 
identidade pessoal e as relações com o grupo social, e a orientação alopsíquica, referente à 
consciência do lugar, do tempo e da situação. As desorientações são classificas em seis tipos: 
apática (falta de interesse); amnésica (alterações da memória); confucional (turvação da 
consciência); delirante (ajuizamento patológico da realidade); histriônica (desorientação 
temporo-espacial limitada) e oligofrênica (dificuldade de aprender ou entender). 
 
Consciência – capacidade de o indivíduo dar conta do que ocorre dentro e ao seu redor. O 
estado de consciência é suscetível de alterar-se quanto à sua continuidade, amplitude e 
claridade, nos estados de obnubilação (ou turvação); estados de coma; estados de 
estreitamento da consciência (epilépticos) e estados de dissociação da consciência (casos de 
histeria). 
 
Pensamento – traduz a aptidão do indivíduo para elaborar conceitos (aptidão de relacionar a 
palavra com seu significado e relacionar os significados entre si), articular esses conceitos em 
juízos (capacidade de relacionar conceitos entre si) e, com base nisso, construir raciocínios 
(capacidade de concluir por indução, do particular para o geral, por dedução, do geral para o 
particular, e por analogia, do conhecimento particular para o particular). 
 
As manifestações qualitativas do pensamento incluem os conceitos, juízos e raciocínios, 
cabendo analisar as operações racionais: análise e síntese; generalização e sistematização; 
abstração e concreção e comparação. 
 
Nas manifestações quantitativas avalia-se a velocidade de associação das idéias ou o fluxo 
das idéias. De modo geral, a análise clínica do pensamento é baseada nos distúrbios de 
produção, curso e conteúdo do pensamento. 
 
Quanto à produção, costuma-se distinguir o pensamento mágico (predominância de idéias 
primitivas, selvagens ou infantis) e o pensamento lógico. 
No curso do pensamento observa-se as seguintes alterações: fuga de idéias (aceleração do 
pensamento, com exuberância e incontinência verbal); inibição do pensamento (oposto do 
anterior, podendo chegar ao mutismo); perseveração / verbigeração (persistência obstinada 
em determinados temas; pronúncia de frases ou palavras inúmeras vezes, sem relação 
identificável com a realidade); desagregação (perda da capacidade de estabelecer relações 
conceituais), bloqueio/interceptação ou detenção (bloqueio abrupto do curso do 
pensamento). No exame do conteúdo do pensamento encontram-se os delírios, as idéias 
supervalorizadas e o delirium. 
 
Os delírios podem ser classificados conforme a sua temática (de desconfiança, de 
perseguição, de influência, de prejuízo, de referência, de autopreferência, de ciúme, de 
grandeza, de descendência, de invenção, detransformação, de prestígio, de missão divina, 
de reforma social, de possessão diabólica ou divina, de culpa etc; quanto ao grau de 
elaboração (sistematizados e não-sistematizados) e conforme o curso evolutivo (agudos e 
crônicos). 
As idéias supervalorizadas são causadas por perturbação da capacidade de ajuizar e 
constituem uma tendência determinada mais por valores afetivos, passando a determinar a 
conduta do indivíduo. Quando tais manifestações se tornam irredutíveis e o indivíduo perde 
a capacidade de estabelecer o confronto entre o objetivo e o subjetivo, já se fala em juízos 
delirantes. 
 
Emprega-se o termo delirium para caracterizar uma alteração da consciência-vigilância de 
natureza orgânica, com a presença de delírios (ex. delirium tremens, delirium febril). 
 
Linguagem – os principais quadro patológicos da linguagem falada de causa orgânica são: 
a) disartria - dificuldade de articular palavras; em grau extremo é anartria). 
b) disfasia - dificuldade ou perda da capacidade de compreender o significado das 
palavras e/ou incapacidade de se utilizar dos símbolos verbais; em grau extremo é 
afasia. Existem três tipos básicos de afasia: 1) afasia de Werbucke (afasia nominal), 
essencialmente de compreensão, resultante da incapacidade de entender os 
símbolos verbais, falados ou escritos, resultando em fala incompreensível; 2) afasia 
de Broca (afasia mista), quando todas as modalidades de linguagem estão afetadas; 
e 3) afasia motora pura, em que o paciente pode entender o que lhe é dito, pode ler 
e escrever, só não pode falar. 
c) disfonia – defeito da fala que resulta em alteração da sonoridade das palavras, de 
causa periférica (traquéia, aparelho respiratório). 
d) dislalia – quando a linguagem resulta defeituosa, sem que haja lesão central. 
 
Os principais quadros patológicos da linguagem falada de causa predominantemente 
psíquica são: 
a) mutismo; 
b) logorréia – fluxo incessante, com comprometimento da coesão lógica (o estado mais 
grave é a fuga de idéias, quando a velocidade do fluxo do pensamento ultrapassa as 
possibilidades de expressão); 
c) jargonofasia – as palavras são pronunciadas corretamente, mas não combinam de 
forma lógica (salada de palavras); 
d) parafrasia – quando são inseridas numa frase correta uma ou mais palavras sem 
correspondência com as demais. 
e) neologismo – palavra nova utilizada em lugar de outra, cujo significado somente o 
paciente sabe qual é. 
f) coprolalia – uso incontrolável de linguagem obscena fora de contexto adequado. 
g) Verbigeração ou estereotipia verbal – repetição de sílabas, palavras ou frases de 
forma incontrolável e monótona. 
h) Pararrespostas – respostas não correspondentes à pergunta feita. 
 
Inteligência – diz-se que um indivíduo será tanto mais inteligente: 1) quanto melhor, mais 
rápido e mais facilmente compreenda: 2) quanto maior, mais extenso e variado for o 
número de enlaces e associações que estabeleça entre os dados da compreensão; 3) quanto 
mais pronta e espontaneamente elabore novas e originais idéias; 4) quanto melhor saiba 
ajuizar com segurança e raciocinar com lógica; 5) quanto melhor se adapte às exigências das 
situações vitais. As patologias mais freqüentes são os estados deficitários, congênitos ou 
adquiridos da atividade intelectual e os métodos utilizados para aferição são feitos por 
testes específicos. 
 
Afetividade – revela a sensibilidade interna da pessoa frente à satisfação ou à frustração de 
suas necessidades (tendências que impulsionam o indivíduo a praticar um ato ou a buscar 
uma categoria determinada de objetos). Os fenômenos afetivos mais elementares são as 
emoções (respostas afetivas resultantes da satisfação ou frustração das necessidades 
primárias, ou seja, biológicas ou orgânicas) e os sentimentos (vivências relacionadas com a 
satisfação ou frustração das necessidades superiores (de natureza estética, ética e moral). 
Fala-se em afeto para tipificar uma explosão incontida de emoções ou sentimentos, como 
medo, ira, alegria, angústia, paixão, desde que a lucidez de consciência seja mantida. 
As alterações patológicas mais freqüentes do humor são: 
1. distimia – alteração tanto no sentido de exaltação quanto inibição. Os graus mais 
comuns são a distimia depressiva (hipotímica ou melancólica) e a distima hipertímica 
(expansiva ou eufórica); 
2. disforia – tonalidade do mau humor (irritabilidade, desgosto e agressividade); 
3. hipotimia/hipertimia – tristeza e/ou alegria patológica (imotivada ou inadequada). 
 
As alterações mais freqüentes das emoções e dos sentimentos são: 
a) ansiedade – é a tensão expectante, que varia da apreensão à aflição. Há uma 
vivência de perigo iminente, de origem indeterminada, e um sentimento de 
impotência e insegurança diante do perigo, podendo chegar ao pânico; 
b) angústia – ocorre quando a ansiedade é acompanhada de sintomas físicos (sudorese, 
taquicardia, variação da pressão etc.); 
c) apatia – indiferença afetiva; 
d) fobia – medo patológico de um objeto específico, com reações inadequadas ao 
objeto amedrontador; 
e) ambivalência afetiva – sentimentos opostos em relação ao mesmo objeto; 
f) labilidade afetiva – mudança rápida e imotivadas das emoções e sentimentos. 
 
Conduta – refere-se a um padrão habitual de comportamento num determinado contexto. 
Os transtornos de conduta são classificados por alguns autores em: 
a) Alterações patológicas das pulsões (tendências) instintivas, divididas em: 
1) perturbações da tendência natural de conservação: condutas suicidas, automutilações, 
auto-agressões. 
2) perturbações da tendência natural do sono: insônia, hipersonia, cataplexia2. 
3) perturbações da tendência de alimentação: anorexia, bulimia, polidipsia3, dipsomania4, 
mericismo5, pica6. 
4) perturbações da tendência de expansão motora (impulso natural de poder, impulso 
agressivo), caracterizadas pelo exagero do impulso agressivo: crueldade (infligir ou mostrar-
se indiferente ao sofrimento alheio); agressividade auto ou heterodirigida (geralmente sob a 
forma de sintomas psicossomáticos). Formas particulares de agressividade são o furor 
epiléptico, o furor catatônico e o furor maníaco. Esses estados são frequentemente 
 
2 Rigidez provocada por espanto; paralisia causada por espanto. Em sentido amplo, desmaio passageiro 
provocado por vivência emocional. 
3 Ressecamento incômodo da boca; sede compulsiva, frequentemente de origem psicológica. 
4 Abuso periódico do álcool (bebedeira trimestral). 
5 Consiste em regurgitar repetidamente o alimento ingerido, voltando a mastigar para voltar a engolir. 
6 Gosto perverso. Prazer de comer coisas esquisitas e estranhas (ex. giz). 
associados a episódios de agitação psicomotora em pacientes oligofrênicos7, portadores de 
quadros demenciais e portadores de afecções do lobo frontal e temporal. 
5) perturbações da tendência sexual: impotência, frigidez, ejaculção precoce, 
sadomasoquismo, promiscuidade. 
6) perturbações da higiene corporal: incontinência fecal e/ou urinária; gatismo8. 
 
b) Alterações patológicas das necessidades ditas superiores (não-primárias): avareza, 
prodigalidade, cleptomania, hedonismo9, colecionismo patológico, imediatismo sociopático, 
egoísmo, narcisismo. 
 
 
A ENTREVISTA CLÍNICA ESTRUTURADA PARA O DMS-IV – SCID – é hoje o mais atual e 
abrangente para o diagnósticos dos transtornos mentais. Todas as versões da SCID são 
compostas por uma série de módulos, cada um destino à avaliação de conjuntos de 
categorias diagnósticas agrupadas nos mesmos padrões do DSM-IV. 
Os módulos estão organizados hierarquicamente, segundo uma ordem ou seqüência lógica 
(denominada algoritmo), que representa o raciocínio clínico completo, considerando as 
alternativas que possam (ou devam) ser antecipadas. Os algoritmos diagnósticos são 
integrados à estrutura da entrevista, de modo que as várias hipóteses diagnósticassão 
sucessivamente testadas. As questões que investigam cada quadro patológico estão 
organizadas em hierarquias, assim, a maioria das perguntas só é formuladas se o contexto é 
adequado. O primeiro módulo da SCID é a avaliação preliminar, destinada a obter 
informações gerais e facilitar o rapport. 
 
Um dos diagnósticos diferenciais mais difíceis de se estabelecer é o da depressão dupla, que 
ocorre quando há sobreposição de um Transtorno Depressivo Maior (TDM) à Distimia. Neste 
caso, é essencial para o diagnóstico final não só a gravidade dos sintomas, mas também o 
seu padrão temporal. Ou seja, o reconhecimento das variações dos quadros 
psicopatológicoas, levando em consideração outras informações relevantes, irá ajudar a 
desenvolver uma compreensão e uma terapêutica mais adequadas a cada situação. 
 
 
ENTREVISTA MOTIVACIONAL – EM (ou INTERAÇÃO MOTIVACIONAL) – tem como objetivo 
auxiliar nos processos de mudanças comportamentais, trabalhando a resolução da 
ambivalência, tendo sido delineada para ajudar na decisão de mudança nos 
comportamentos considerados aditivos, como transtornos alimentares, tabagismo, abuso de 
álcool e drogas, jogo patológico e outros comportamentos compulsivos. Inspira-se em várias 
 
7 Oligofrenia – deficiência congênita ou precoce de qualquer origem. Idiotia. Debilidade mental. 
8 
9 O prazer como causa e fim último. 
abordagens, como a terapia cognitivo-comportamental, terapia sistêmica, terapia centrada 
na pessoa, combinando elementos diretivos e não-diretivos. 
 
De acordo com Heather (1992) os transtornos aditivos são essencialmente problemas 
motivacionais, sendo a motivação para a mudança a chave do problema comportamental. O 
conflito motivacional (por que mudar?), presente no problema, instala a ambivalência. 
Assim, trabalhar a ambivalência nos comportamentos aditivos é trabalhar a essência do 
problema, pois nas concepções das terapias pós-comportamentais, a ambivalência não é 
considerada um traço de personalidade, mas uma interação dinâmica entre o paciente e 
uma situação aguda, imediata e com dimensões interpessoais e intrapessoais. 
 
Na EM os clientes são estimulados a articular para si mesmos suas razões para mudar, por 
meio de técnicas de aconselhamento, de feedback adequado e de análise de custo-benefício, 
entre outros. A balança decisional é uma estratégia fundamental, utilizada para mostrar os 
dois lados do conflito. Outro princípio norteador da EM é o modelo transteórico, composto 
por vários conceitos teóricos destinados a descrever os processos demudança do 
comportamento humano, baseado na premissa de que a mudança comportamental é um 
processo e que as pessoas têm diversos níveis de motivação, de prontidão para mudar. Este 
modelo está atualmente sendo empregado nos comportamentos sadios, na área de 
educação e da promoção da saúde. 
 
 
ENTREVISTA LÚDICA 
 
Freud foi o primeiro estudioso que refletiu sobre a função e o mecanismo psicológico da 
atividade lúdica infantil. É na situação do brinquedo que a criança procura se relacionar com 
o real, experimentando-o a seu modo, procurando construir e recriar sua realidade. Graças 
ao processo de projeção dos perigos internos sobre o mundo externo, ela domina a 
realidade e realiza seus desejos. O brinquedo é, então, um meio de comunicação; é a ponto 
que permite ligar o mundo externo e o interno, a realidade objetiva e a fantasia. Assim, 
Freud estabeleceu os marcos referenciais da técnica do jogo, demonstrando que brincar não 
é só um passatempo prazeroso, mas também uma maneira de elaborar circunstâncias 
traumáticas. 
 
Para Melanie Klein, o brincar é a linguagem típica da criança, equiparada à associação livre e 
aos sonhos dos adultos, portanto a neurose de transferência desenvolve-se da mesma 
maneira. Anna Freud, ao contrário, afirmava que a criança não possui consciência de sua 
doença, pelo que não pode estabelecer uma neurose de transferência com o terapeuta. 
Embora divergentes, o trabalho de ambas muito contribuiu para o desenvolvimento da 
psicoterapia infantil. 
 
Arminda Aberastury, por sua vez, afirma que a criança não estabelece uma transferência 
positiva com o psicoterapeuta, como também é capaz de estruturar, através dos brinquedos, 
a representação de seus conflitos básicos, suas principais defesas e fantasias de doença e 
cura. Evidenciou, assim, o valor diagnóstico da entrevista lúdica, considerando que qualquer 
tipo de brinquedo oferece possibilidades projetivas. 
 
A hora do jogo diagnóstica, fundamentada num referencial teórico psicodinâmico, é um 
recurso técnico que o psicólogo utiliza dentro do processo psicodiagnóstico, que tem 
começo, desenvolvimento e fim em si mesmo, operando com unidade para o conhecimento 
inicial da criança, devendo interpreta-la como tal, e cujos dados serão ou não confirmados 
com a testagem. A primeira hora do jogo terapêutico é apenas um elo dentro de um 
contexto maior, onde irão surgir novos aspectos e modificações estruturais em função da 
intervenção ativa do terapeuta. 
 
Uma entrevista lúdica consiste em oferecer à criança oportunidade para brincar, como 
deseje, com todo o material lúdico disponível na sala, esclarecendo sobre o espaço onde 
poderá brincar, o tempo disponível, os papéis dela e do psicólogo, bem como sobre os 
objetivos dessa atividade, que possibilitará conhecê-la mais para posteriormente ajudá-la. 
 
A entrevista lúdica refletirá o estabelecimento de um vínculo transferencial breve. Nos 
brinquedos oferecidos pelo psicólogo, a criança deposita parte dos sentimentos, 
representante de distintos vínculos com objetos de seu mundo internos. Assim, muitos 
fenômenos que não seriam obtidos pela palavra poderão ser observados através do brincar. 
 
Uma análise detalhada da hora do jogo permite: a) conceitualização do conflito atual do 
paciente; b) evidenciar seus principais mecanismos de defesa e ansiedades; c) avaliar o tipo 
de rapport que pode estabelecer a criança com o terapeuta e o tipo de ansiedade que 
contratransferencialmente pode despertar nele; d) manifestar a fantasia de doença e cura. 
Não existe um roteiro padronizado para analisar a entrevista lúcida, mas são proposto oito 
indicadores para orientar a análise com fins prognósticos e diagnósticos, especialmente para 
o nível de funcionamento da personalidade: 1. escolha de brinquedos e jogos; 2. modalidade 
do brinquedo; 3. motricidade; 4. personificação; 5. criatividade; 6. capacidade simbólica; 7. 
tolerância à frustração e 8. adequação à realidade. 
1. escolha de brinquedos e jogos – relaciona-se com o momento evolutivo emocional e 
intelectual em que a criança se encontra. 
2. modalidade de brinquedo – baseia-se nas formas de manifestação simbólica de seu 
ego e de seus traços de funcionamento psíquico. Entre as principais modalidades 
estão a plasticidade (fantasia expressa através de brincadeiras organizadas, com 
seqüência lógica, utilizando brinquedos que podem modificar a sua função de 
acordocom a sua necessidade de expressão), a rigidez (fixação de certos 
comportamentos ou ações lúdicas para expressar uma mesma fantasia; dificuldades 
para aproveitar ou modificar os atributos dos brinquedos), a estereotipia (falta de 
resposta afetiva e presença de maneirismos e movimentos estereotipados, assim 
como ações auto-agressivas, evidenciando desconexão com o mundo externo) e a 
perseveração (idem). 
3. motricidade – manejo adequado das possibilidades motoras, referente à integração 
do esquema corporal, organização da lateralidade e estruturação espaço-temporal, 
possibilitando à criança o domínio do mundo externo e satisfação de suas 
necessidades com autonomia. 
4. personificação – capacidade da criança para assumir e desempenhar papéis no 
brinquedo, mostrando o equilíbrio – ou não – entre o superego, o id e a realidade, e 
também a capacidade de fantasia nadefinição de determinados papéis. 
5. criatividade – processo mental de manipulação do ambiente do qual resultam novas 
idéias, formas e relações. 
6. capacidade simbólica – expressa pela habilidade no uso de uma variedade de 
elementos para se expressar no brinquedo; o simbolismo habilita a criança a 
transferir interesses, fantasias e ansiedades para outros objetos. 
7. tolerância à frustração e (8) adequação à realidade são indicadores que têm relação 
com a aceitação ou não de limites, do próprio papel e do papel do outro, assim como 
das possibilidades egóicas e do princípio de prazer e realidade. 
 
 
PASSOS DO PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO 
 
1) ‘Formulação das perguntas básicas 
2) Contrato de trabalho 
3) Estabelecimento de um plano de avaliação (bateria de testes padronizadas e/ou não-
padronizadas) 
4) Administração de testes e técnicas: particularidades da situação da interação com e 
examinando e do manejo clínico. 
5) Levantamento, análise, interpretação e integração dos dados. 
6) Diagnóstico e prognóstico (classificação diagnóstica cf. CID 10 e DSM-IV). 
7) Comunicação dos resultados. 
Roteiro: 
- Motivos de encaminhamento 
- Descrição 
- Plano de avaliação 
- Observação 
- História clínica 
- Integração e seleção dos dados 
- Entendimento dinâmico 
- Discussão sobre os achados nas técnicas e testes, em função das hipóteses e perguntas 
iniciais 
- Fundamentação das hipóteses diagnósticas 
- Laudo psicológico 
 
 
AVALIAÇÃO INTER E TRANSGERACIONAL DA FAMÍLIA 
 
Todo psicólogo solicitado a intervir num dado problema, deverá, em primeiro lugar, situar o 
ponto do ciclo vital em que o solicitante se encontra. Esse ciclo é constituídos pelos 
momentos mais significativos da vida pessoal/familiar, onde existem zonas de estabilidade 
e/ou inestabilidade, correspondentes a mudanças na organização pessoal/familiar, 
geradoras tanto de equilíbrio como de desequilíbrios. 
 
A organização da família está formada por uma rede de relações que é preexistente ao 
sujeito. O ser humano mantém vinculação com seus semelhantes, para uma adequada 
satisfação de suas necessidades múltiplas e diferenciadas e cada família desenvolve uma 
estrutura característica, um padrão de regras e papéis, dentro dos quais seus membros 
funcionam. São as regras ou normas estabelecidas pela família que nortearão a conduta de 
seus membros. Os ritos são moldados pelas regras estabelecidas pela família, cujos hábitos 
são exteriorizados através de ritos e ancorados nas regras por ela definidas. 
 
Os ritos são produtos da tradição, transmitidos culturalmente e sancionados pelo consenso 
grupal, e exigem, como condição básica, a crença em sua eficácia e a repetição constante. 
Tanto os mitos quanto os ritos são a expressão do aparelho psíquico da família e expressam 
sua dinâmica, sendo que eles podem ser tanto altamente criadores quanto destruidores, 
caso se tornem rígidos. (Bucher, 1985) 
 
Cf. Vilhena (1988), a família não é apenas entidade grupal ou social mas também uma 
entidade psíquica, onde os mecanismos de projeção são constantes e maciços, sendo as 
projeções múltiplas próprias do sistema, do grupo familiar. A família elabora uma imagem 
interiorizada, comum ao grupo, unindo seus membros em um projeto comum. Assim sendo, 
a perspectiva intergeracional considera os problemas individuais como familiares – com sua 
raiz em fatos passados, constituindo a história natural da família – transmitidos de geração 
em geração, por meio de condutas repetitivas. 
 
A abordagem intergeracional, desta forma, procede a uma análise da transmissão dessa 
cultura familiar, de uma geração para outra e entre os membros da mesma geração, 
identificando padrões, costumes, segredos, mitos e problemas que determinam o 
funcionamento pessoal/familiar. Assim, o psicólogo trabalha em dois eixos, o vertical, ou 
transgeracional, onde são identificados papéis e funções característicos da família, bem 
como o nível de autonomia e diferenciação de cada elementos face à sua família de origem; 
e o eixo horizontal, que inclui o estudo dos padrões da interação pessoal e familiar, bem 
como o modo como o indivíduo e/ou grupo familiar lida com as dificuldades da vida. 
 
O genetograma é um instrumento clínico de investigação inter e transgeracional, baseado na 
teoria sistêmica familiar de Murray Bowen, cujo formato padronizado registra informações a 
respeito dos membros da família e de seu relacionamento ao longo de três gerações, tendo 
como pilar de sustentação o retrato gráfico de como os diferentes membros de uma família 
estão biologicamente e legalmente relacionados uns com os outros, de uma geração para a 
outra. A identificação dos diferentes padrões de interação entre os membros da família, 
assim como os papéis de cada um deles e o traçado das mudanças que ocorreram ao redor 
dos diversos eventos e transições proporcionam indícios para a formulação de hipóteses a 
respeito do estilo adaptativo ou não da família. 
 
As avaliações dos padrões de funcionamento e relacionamentos, principalmente após 
determinados eventos e/ou transições, fornecem pistas sobre regras familiares, padrões de 
organização e fontes de recursos ou de resistência da família. Os princípios interpretativos 
do genetograma têm como base a teoria geral dos sistema e, nessa, a perspectiva que 
considera as relações familiares como determinantes da saúde emocional de seus membros. 
 
 
AVALIAÇÃO PROSPECTIVA: O EXAME PRECOCE DA CRIANÇA 
 
O modelo baseia-se em uma perspectiva de articulação cruzada dos procedimentos de 
avaliação com os de intervenção. À medida que é possível constatar os resultados da 
avaliação, vão sendo formuladas e aplicadas as estratégias de intervenção decorrentes, e 
seus resultados, por sua vez, consequentemente avaliados, configurando-se fases 
(avaliação/intervenção) até a conclusão do estudo. 
 
Entende-se por avaliação a compreensão do momento evolutivo da criança nas suas 
diferentes áreas do seu desenvolvimento, especificando aspectos significativos e suas 
interrelações com o ambiente sócio-familiar em que ela vive. Compreende as ações de 
compilar, analisar, interpretar e integrar dados que possam conduzir ao efetivo 
conhecimento das condições em que se apresenta o desenvolvimento da criança, inclusive 
seu progresso e limitações. Nessa atividade elaboram hipóteses que serão aceitas ou 
rejeitadas, identificam fatores de risco e proteção, manifestações de resiliência e indicadores 
da probabilidade prospectiva (sinais de alerta). 
 
O processo de intervenção tem por finalidade proporcionar à criança condições apropriadas 
ao seu desenvolvimento, incluindo desde pequenas mudanças no ambiente até a 
implementação de programas completos. 
 
AVALIAÇÃO PSICOMÉTRICA 
 
Em psicologia é usual a construção de escalas para medir variáveis, conceitos ou constructos 
teóricos não diretamente observáveis, como inteligência, depressão, traços de 
personalidade etc. O objetivo é que essas medidas sejam o mais precisas possível 
(fidedignidade e validade). A maioria das escala de medidas em ciências do comportamento 
são escalas aditivas, obtidas a partir da soma de vários itens selecionados. A construção de 
escalas aditivas é normalmente feita a partir de marcos teóricos estabelecidos e de 
resultados empíricos de pesquisas já realizados ou adaptadas de outros países para o 
contexto local. O processo de verificação da fidedignidade e de validação das escalas de 
medida segue alguns critérios. 
 
Os conceitos principais de fidedignidade de um teste dizem respeito ao problema de 
estabilidade no tempo e ao problema de consistência interna da escala. Diversos métodos 
para obter a fidedignidade são sugeridos, como: 
a) Método do teste-reteste – baseia-se na repetição de mensurações em condições 
constantes, i.é, pode-se estimar fidedignidade repetindo a aplicação da escala ou 
teste sobre a mesma pessoa usando os mesmosmétodos. 
b) Método das formas paralelas – versões supostamente equivalentes da escala são 
dadas aos mesmos indivíduos e os resultados correlacionados. 
c) Método das metades – é utilizado quando uma única forma do teste ou escala foi 
aplicada numa única sessão. O conjunto de itens do teste é dividido em duas 
metades e os escores para as duas metades são correlacionados. 
d) Coeficientes de consistência interna – a consistência interna do instrumento será 
maior quanto maior for a homogeneidade do conteúdo expresso através dos itens. 
 
 
PERÍCIA PSICOLÓGICA NA ÁREA FORENSE 
 
Sempre que questões de decisão judicial são colocadas, elas se referem a capacidades 
individuais físicas, mentais e/ou sociais, relacionada à vida passada, corrente ou futura do 
sujeito. As decisões na área criminal ou cível relacionam-se com a avaliação de competências 
legais. O objetivo é atribuir ou não ao sujeito um status de debilidade ou insuficência, que é 
percebido como comprometedor do bem-estar do indivíduo ou da sociedade. A construção 
dos limites da competência está ligada aos valores da sociedade e serve para reforçar ou 
restringir os direitos das pessoas para determinados propósitos. 
 
O papel do psicólogo junto ao pedido de uma avaliação forense pode se dar: a) como perito 
oficial, quando designado pelo juiz no decorrer do processo; b) em função de seu 
desempenho profissional, em uma instituição pública; c) a pedido de uma das partes 
litigantes, quando é conhecido como perito assistente. A legitimação do papel do psicólogo 
como perito se encontra no Decreto-lei 53.664, de 21 de janeiro de 1964. O cliente do 
psicólogo poderá ser tanto o sujeito (periciado) como o sistema mais amplo (sociedade). 
 
Na área penal o trabalho do psicólogo pode dar-se em dois momentos do andamento 
processual: primeiro, num período anterior à definição da sentença, quando se verificará a 
responsabilidade penal (imputabilidade) do acusado, ou durante a fase de execução da 
pena, através do exame criminológico. O exame para verificação de responsabilidade penal é 
realizado por peritos médicos (psiquiatras), estando o psicólogo em posição auxiliar 
(testagens). Esse exame tem por objetivo verificar se o culpado de um delito o cometeu em 
estado mental idôneo (capacidade para discernir sobre o seu ato). O exame criminológico 
visa a investigação da dinâmica do ato criminoso, de suas causas e dos fatores a ele 
associados, com o objetivo de determinar uma maior ou menor probabilidade de 
reincidência. (no Brasil este tem se restringido à concessão de benefícios, como o livramento 
condicional). 
 
Na área do direito de família, o trabalho do psicólogo envolve as questões familiares de 
maus-tratos, guarda de filhos, destituição do pátrio poder e interdições. O psicólogo atua 
também na avaliação de danos psíquicos para ressarcimento (dano moral ou psicológico). 
 
 
 
AVALIAÇÃO RETROSPECTIVA: AUTÓPSIA PSICOLÓGICA PARA CASOS DE SUICÍDIO 
 
Objetiva identificar comunicações prévias da intenção de se matar de um indivíduo, 
possibilitando observar pistas diretas ou indiretas relacionadas àquele comportamento letal 
que estava por vir. A autópsia psicológica busca compreender os aspectos psicológicos de 
uma morte específica, esclarecendo o modo da morte e a intenção letal ou não do morto, 
identificando motivação, intencionalidade, letalidade e precipitadores e/ou estressores. 
 
 
TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 
 
Bender (B-G) – Teste Gestáltico Visomotor – possibilita tanto uma exploração nomotética 
como idiográfica do indivíduo. Possibilita 1) medida de inteligência de crianças de 4 a 12 
anos ou de adolescentes e adultos, com idade mental correspondente; 2) medida de 
maturação visomotora ou perceptual, investigação de alterações do desenvolvimento 
neurológico e problemas de ajustamento; 3) triagem de disfunção cerebral e alguns tipos de 
lesão cerebral; 4) avaliação de déficits cognitivos etc. 
 
Binet – escala Binet-IV – Medida da capacidade intelectual global. 
 
CAT (Children Apperception Test) – Indicação do estádio de desenvolvimento infantil; 
indicação de necessidade de intervenção terapêutica e acompanhamento da evolução do 
processo terapêutico. 
 
Columbia (Escala de Maturidade Mental) – avaliação da capacidade de raciocínio geral em 
crianças normais ou com problemas de ordem motora; teste de triagem intelectual. 
 
Desenho da figura humana (Goodenough)– medida de desenvolvimento cognitivo. 
 
Desenho da figura humana (Machouver) – Avaliação da personalidade; identificação de 
indicadores emocionais e psicopatológicos. 
 
EFE – Entrevista Familiar Estruturada – avaliação das relações familiares facilitadoras ou não 
de saúde emocional. 
 
Escala de Desesperança de Beck (BHS) – avaliação do pessimismo ou expectativas negativas 
frente ao futuro em pacientes psiquiátricos; triagem de atitudes pessimistas em 
adolescentes e adultos normais. 
 
Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI) – identificação da presença ou não de ideação suicida 
ou intensidade (gravidade) da ideação. 
 
ESCALAS WECHSLER – avaliação do QI. 
 
Figuras complexas de Rey – avaliação neuropsicológica de funções de percepção e memória. 
 
HTP – avaliação da personalidade e de suas interações com o ambiente. 
 
IDATE – avaliação da ansiedade, como estado e como traço. 
 
INV – Teste de Inteligência Não-Verbal – medida de inteligência geral; avaliação do nível 
intelectual em analfabetos, sujeitos de língua estrangeira, surdos e sujeitos com problemas 
de linguagem; investigação de déficits neuropsicológicos. 
 
IFP – Inventário Fatorial de Personalidade – medida de variáveis da personalidade normal 
 
MMPI – Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade – criada para uso em grupos 
para identificar sintomas, comportamentos e características da personalidade 
 
PMK – Teste Psicodiagnóstivo Miocinético – avaliação clínica da personalidade, 
especialmente quanto à agressividade, emocionalidade, tônus psicomotor e aspectos 
psicopatológicos: avaliação de condições para orientação e seleção profissional. 
 
PROCEDIMENTO DE DESENHOS-ESTÓRIAS (D-E) – investigação da dinâmica inconsciente da 
personalidade 
 
RAVEN – Teste de Matrizes Progressivas – medida de inteligência; avaliação da capacidade 
de exatidão e clareza de raciocínio lógico com poder de discriminação nos níveis mais altos 
de inteligência. 
 
RORSCHACH – Diagnóstico de personalidade, em clínica, planejamento terapêutico, seleção 
profissional e na área forense. Detecção da dinâmica interpessoal e planejamento da terapia 
familiar na forma consensual. Prognóstico. 
 
TAT – Thematic Aperception Test (Teste de Apercepção Temática) – avaliação da 
personalidade, principalmente a natureza dos vínculos afetivos, identificação de conflitos e 
mecanismos de defesa. Subsídios sobre a função cognitiva de planejamento e capacidade de 
organização e manutenção de idéias. 
 
TESTE DAS FÁBULAS – método projetivo para investigação de conflitos inconscientes 
 
WARTEGG – avaliação da personalidade, em clínica, na área escolar e organizacional. 
 
DESIDERATIVO – avaliação dinâmica (hierarquia de desejos, condições de integridade do ego 
diante da morte etc.). 
 
WAIS – medida de inteligência geral, de indícios psicopatológicos e avaliação 
neuropsicológica. 
 
WAIS III – medida de inteligência geral; identificação de forças e fraquezas no 
funcionamento cognitivo; avaliação do impacto de problemas psicopatológicos sobre o 
funcionamento cognitivo. 
 
WAIS-R NI – avaliação neuropsicológica; triagem para avaliação mais completa. 
 
WISCONSIN – medida do pensamento abstrato; flexibilidade na resolução de problemas; 
déficits neuropsicológicos. 
 
ZULLIGER (Z-Teste) – técnica projetiva de avaliação da personalidade, recomendada para fins 
de seleção ou classificação de pessoal e de pesquisa.HISTÓRIA DO PSICODIAGNÓSTICO 
1 – Introdução: 
A palavra diagnóstico origina-se do grego diagõstikós e significa discernimento, faculdade de 
conhecer, de ver através de. Este seria o sentido mais amplo, e desta forma o diagnóstico é 
inevitável. Em sentido mais restrito, utiliza-se o termo diagnóstico para referir-se à 
possibilidade de conhecimento que vai além daquela que o senso comum pode dar, ou seja, 
a possibilidade de significar a realidade fazendo uso de conceitos, noções e teorias 
científicas. 
O diagnóstico psicológico busca uma forma de compreensão situada no âmbito da 
Psicologia. Em nosso país, é uma das funções exclusivas do psicólogo garantidas pela Lei nº 
4119 de 27/08/62, que dispõe sobre a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de 
psicólogo. 
Quando nos dispomos a realizar um psicodiagnóstico, presumimos possuir conhecimentos 
teóricos, dominar procedimentos e técnicas psicológicas. Devemos nos lembrar que devido 
ao grande número de teorias existentes, a atuação do psicólogo varia consideravelmente. 
Com isso o próprio uso do termo varia e muitas vezes, ao invés de “diagnóstico psicológico” 
encontra-se “psicodiagnóstico”, “diagnóstico da personalidade”, “estudo de caso” ou 
“avaliação psicológica”. 
Segundo Trinca (1984) na avaliação psicológica houve uma procura de integração das 
diversas abordagens e quando olhamos concretamente para a Psicologia Clínica, verificamos 
grandes variações de conhecimentos e atuações, e, portanto, na prática do psicodiagnóstico, 
temos também várias formas de atuação, muitas das quais não podem ser consideradas 
decorrentes de exclusivamente uma ou outra abordagem. 
Atualmente, todas as correntes em Psicologia concordam, embora partindo de pressupostos 
e métodos diferentes, que, para se compreender o homem é necessário organizar 
conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social não sendo 
possível excluir nenhum desses horizontes. 
Segundo Ocampo (1981) o processo Psicodiagnóstico era considerado, anteriormente, como 
uma situação em que o psicólogo aplicava um teste em alguém. Ele então cumpria uma 
solicitação seguindo os passos e utilizando os instrumentos indicados por outros 
profissionais, quase sempre da área médica (psiquiatra, pediatra, neurologista). Assim o 
psicólogo atuava como alguém que aprendeu a aplicar testes e esperava que o paciente 
colaborasse docilmente. 
O psicólogo trabalhou durante muito tempo com um modelo similar ao do médico clínico 
que, para proceder com eficiência e objetividade, toma a maior distância possível em relação 
a seu paciente a fim de estabelecer um vínculo afetivo que não lhe impeça de trabalhar com 
a tranqüilidade e objetividade necessárias. Ocampo (1981) atribui este fato à falta de uma 
identidade sólida por parte do psicólogo, que lhe permitisse saber quem era e qual era seu 
verdadeiro trabalho dentro das ocupações ligadas à saúde mental. Neste momento os testes 
eram utilizados no psicodiagnóstico como se eles constituíssem em si mesmos o objetivo do 
psicodiagnóstico e como escudo entre o profissional e o paciente, para evitar pensamentos e 
sentimentos que mobilizassem afetos. 
Observamos aqueles profissionais que buscaram uma aproximação autêntica com o 
paciente, mas para isso tiveram que abandonar o modelo médico sem estarem preparados 
para isso. Com a difusão da Psicanálise os psicólogos optaram por aceitá-la como modelo de 
trabalho, o que trouxe progressos e ao mesmo tempo uma nova crise de identidade no 
psicólogo, uma vez que este se esqueceu que a dinâmica do processo psicanalítico era muito 
diferente da dinâmica do processo psicodiagnóstico. 
Assim podemos perceber, como nos mostra Ocampo (1981), que o psicólogo teve que 
percorrer as mesmas etapas que um indivíduo percorre em seu crescimento. Buscou figuras 
boas para se identificar, aderiu ingênua e dogmaticamente a certa ideologia e identificou-se 
com outros profissionais, até que pôde questionar-se sobre a possibilidade de não ser como 
eles. Por fim entrou em um período de maturidade ao perceber que utilizava uma “pseudo” - 
identidade que distorcia sua identidade real, conseguindo assim uma maior autonomia de 
pensamento e prática. 
A palavra diagnóstico origina-se do grego diagõstikós e significa discernimento, faculdade de 
conhecer, de ver através de 
 
O diagnóstico psicológico busca uma forma de compreensão situada no âmbito da 
Psicologia. Em nosso país, é uma das funções exclusivas do psicólogo garantidas pela Lei nº 
4119 de 27/08/62, que dispõe sobre a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de 
psicólogo 
 
2 - FUNDAMENTOS DO PSICODIAGNÓSTICO E SEU HISTÓRICO 
“Os psicólogos, hoje em dia, não apenas administram testes; eles realizam avaliações”. 
Segundo Jurema Cunha e colaboradores “os psicólogos realizam avaliações; psicólogos 
clínicos, entre outras tarefas, realizam psicodiagnósticos”. A avaliação psicológica é um 
conceito muito amplo. O psicodiagnóstico é um capítulo dentro da avaliação psicológica, 
realizado com propósitos clínicos e, portanto não abrange todos os modelos de avaliação 
psicológica das diferenças individuais. Testagem é um método de avaliação psicológica. 
Psicodiagnóstico pressupõe a utilização de outros instrumentos, além dos testes, para 
abordar os dados psicológicos de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de 
problemas. 
 
O psicodiagnóstico nasceu (derivou) da Psicologia Clínica que foi criada sob a tradição da 
psicologia acadêmica e da tradição médica e é um ramo da Psicologia que tem por finalidade 
básica o desenvolvimento e a aplicação das técnicas de diagnóstico e psicoterapêuticas para 
a identificação e tratamento de distúrbios do comportamento. Entre essas técnicas ¾ 
usualmente designadas pelo nome de método clínico ¾ salientam-se as entrevistas, os 
testes, as técnicas projetivas e a observação diagnóstica. 
Pode-se dizer que as primeiras sementes do psicodiagnóstico foram lançadas no final do 
século XIX e no início do século XX, através dos trabalhos de Galton que introduziu o estudo 
das diferenças individuais, de Cattell, a quem se devem as primeiras provas, designadas 
como testes mentais, e de Binet, que propôs a utilização do exame psicológico (através da 
mensuração intelectual) como coadjuvante da avaliação pedagógica. Por tais razões, foi 
atribuída a paternidade do psicodiagnóstico a esses três autores: Galton, Cattell e Binet. 
A tradição psicométrica (medida quantitativa dos fenômenos psíquicos) foi desta maneira 
fundada e ficou sedimentada pela difusão das escalas de Binet que em 1905 apresenta um 
teste de inteligência para separar crianças com retardo mental, seguidas pela criação dos 
testes do exército americano em 1906 que foi o primeiros teste coletivos para selecionar 
recrutas. 
Por outro lado, na medicina, após a reabilitação moral dos casos psiquiátricos (abolição dos 
métodos terapêuticos brutais ¾ eletrochoque), iniciada por Philippe Pinel, a necessidade de 
compreender o doente mental, obrigou o meio médico a estudar a doença mental. Como 
seria de esperar, as causas da doença mental foram buscadas no organismo e, em especial, 
no sistema nervoso, e, como decorrência disso, “os pacientes psiquiátricos, não mais 
considerados lunáticos, se tornaram ” nervosos “ou” neuróticos “. 
Desta época, data a divisão dicotômica dos transtornos psiquiátricos em “orgânicos” e 
“funcionais”. Foi nessa escala pré-dinâmica da psiquiatria que surgiu Emil Krapelin, que se 
notabilizou por seu sistema de classificação dos transtornos mentais e, especialmente, por 
seus estudos diferenciais entre esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva. Em 
conseqüência, as classificações nosológicas e o diagnóstico diferencial ganharam ênfase. 
É importante lembrar que ao mesmo tempo Freud publica “A interpretação dos sonhos”, 
que provinha da melhor tradição neurofisiológica, mas querepresentou o primeiro elo de 
uma corrente de conteúdo dinâmico, logo em seguida com o aparecimento do teste de 
associação de palavras, de Jung, fornecendo a base para o lançamento, mais tarde, das 
técnicas projetivas. 
A expressão psicodiagnóstico é utilizada pela primeira vez por Hermann Rorschach quando 
publica em 1921 seu teste de manchas de tinta. O teste passou a ser utilizado como um 
passo essencial (e, às vezes, único) do processo psicodiagnóstico. A grande popularidade 
alcançada nas décadas de quarenta e cinqüenta é atribuída ao fato de que os dados gerados 
pelo método eram compatíveis com os princípios básicos da teoria psicanalítica. 
Esse foi o tempo áureo das técnicas de personalidade. Embora o teste de Rorschach e o 
Teste de Apercepção Temática (Apercepção ¾ a partir da apresentação de um estímulo em 
forma de tema por exemplo, leva o sujeito a aperceber nele necessidades e motivos que 
existiam no seu inconsciente e que projeta no tema, assim facilitando o diagnóstico de seus 
ajustamentos e desajustamentos) fossem os instrumentos mais conhecidos, começaram a se 
multiplicar rapidamente as técnicas projetivas, como o teste da figura humana, o Szondi 
(protótipo do BBT: teste de fotos de profissões) e tantos outros. Entretanto, a partir de 
então, as técnicas projetivas começaram a apresentar certo declínio em seu uso, por 
problemas metodológicos, pelo incremento de pesquisas com instrumentos alternativos, 
como o MMPI e outros inventários de personalidade, por sua associação com alguma 
perspectiva teórica, novamente a psicanalítica e pela ênfase na interpretação intuitiva 
apesar de esforços para o desenvolvimento de sistemas de escores. Apesar disso, essas 
técnicas ainda são bastante utilizadas, embora com objeções por parte dos psicólogos que 
lutam por avaliações de orientação condutista (behaviorista) e biológica. 
Atualmente, há indiscutível ênfase no uso de instrumentos mais objetivos e entrevistas 
diagnósticas mais estruturadas, notadamente com o incremento no desenvolvimento de 
avaliações computadorizadas de personalidade que vêm oferecendo novas estratégias neste 
campo. 
Também, as necessidades de manter um embasamento científico para o psicodiagnóstico, 
compatível com os progressos em outros ramos da ciência, têm levado ao desenvolvimento 
de novos instrumentos mais precisos, especialmente após o advento do DSM-IV e de 
baterias padronizadas, que permitem nova abordagem na área diagnóstica da 
neuropsicologia, constituída pela confluência da psicologia clínica e da neurologia 
comportamental 
Por outro lado, pode-se afirmar, que “o campo da avaliação psicológica da personalidade 
tem feito contribuições vitais para a teoria, prática e pesquisa clínica”. 
Mas alguns autores propõem uma questão: terá o psicodiagnóstico o impacto que merece? 
Neste sentido, algumas pesquisas foram desenvolvidas, uma delas com 70 pacientes, 
encontrando concordância entre as recomendações diagnósticas do psicólogo e do 
psiquiatra, em 94% dos casos, mesmo quando havia ocorrido uma discordância inicial. 
Considera que o reconhecimento da qualidade do psicodiagnóstico tem que ver, em primeiro 
lugar, com um refinamento dos instrumentos e, em segundo lugar, com estratégias de 
marketing de que o psicólogo deve lançar mão para aumentar a utilização dos serviços de 
avaliação pelos receptores de laudos. 
Também se levantou outra questão: observando que muitas vezes psicólogos competentes 
acabam por “fornecer uma grande quantidade de informações inúteis para as fontes de 
encaminhamento”, por falta de uma compreensão adequada das verdadeiras razões que 
motivaram o encaminhamento ou, em outras palavras, por desconhecimento das decisões 
que devem ser tomadas com base nos resultados do psicodiagnóstico. 
As sugestões apontadas, de conhecer as necessidades do mercado e de desenvolver 
estratégias de conquistas desse mercado, parecem se fundamentar na pressuposição de que 
o psicólogo, sobrecarregado com suas tarefas, não está avaliando a adequabilidade de seus 
dados ao público consumidor. 
Mas que público é este? Que profissionais ou serviços podem ter necessidade de solicitar 
psicodiagnósticos? Primeiramente, vejamos onde costuma trabalhar um psicólogo que lida 
com psicodiagnósticos. Mais comumente exerce suas funções numa instituição que presta 
serviços psiquiátricos ou de medicina geral, num contexto educacional ou legal ou numa 
clínica ou consultório psicológico, em que o psicólogo recebe encaminhamento 
principalmente de psiquiatras, de outros médicos (pediatras, neurologistas, etc.), da 
comunidade escolar (de orientadores, professores, etc.), de juízes ou de advogados, ou 
atende casos que procuram espontaneamente um exame, ou são recomendados por algum 
familiar ou amigo. 
 A questão básica com que se defronta o psicólogo é que, embora um encaminhamento seja 
feito, porque a pessoa necessita de subsídios para basear uma decisão para resolver um 
problema, muitas vezes ela não sabe claramente que perguntas levantar ou, por razões de 
sigilo profissional, faz um encaminhamento vago para uma “avaliação psicológica”. Em 
conseqüência, uma das falhas comuns do psicólogo é a aceitação silenciosa de tal 
encaminhamento, com a realização de um psicodiagnóstico, cujos resultados não são 
pertinentes às necessidades da fonte de solicitação. 
É, pois, responsabilidade do clínico manter canais de comunicação com os diferentes tipos 
de contextos profissionais para os quais trabalha, familiarizando-se com a variabilidade de 
problemas com que se defrontam e conhecendo as diversas decisões que os mesmos 
pressupõem. Mais do que isto: deve determinar e esclarecer o que dele se espera, no caso 
individual. Esta é uma estratégia de aproximação, que lhe permitirá adequar seus dados às 
necessidades das fontes de encaminhamento, de forma que seus resultados tenham o 
impacto que merecem e o psicodiagnóstico receba o crédito a que faz jus. 
“Os psicólogos, hoje em dia, não apenas administram testes; eles realizam avaliações”. 
 
O psicodiagnóstico é um capítulo dentro da avaliação psicológica, realizado com propósitos 
clínicos e, portanto não abrange todos os modelos de avaliação psicológica das diferenças 
individuais. Testagem é um método de avaliação psicológica. Psicodiagnóstico pressupõe a 
utilização de outros instrumentos, além dos testes, para abordar os dados psicológicos de 
forma sistemática, científica, orientada para a resolução de problemas. 
 
3 - O PSICODIAGNÓSTICO CLÍNICO NA ATUALIDADE 
Segundo Arzeno (1995), o psicodiagnóstico está recuperando-se de uma época durante a 
qual poderíamos dizer que havia caído no descrédito da maioria dos profissionais da saúde 
mental. 
É imprescindível revalorizar a etapa diagnóstica no trabalho clínico, e um bom diagnóstico 
clínico está na base da orientação vocacional e profissional, do trabalho com peritos 
forenses ou trabalhistas, etc. 
Se o psicólogo é consultado é porque existe um problema, alguém sofre ou está incomodado 
e deve indagar a verdadeira causa disso. 
Fazer um diagnóstico psicológico não significa necessariamente o mesmo que fazer um 
psicodiagnóstico. Este termo implica automaticamente a administração de testes e estes 
nem sempre são necessários ou convenientes. 
Um diagnóstico psicológico tão preciso quanto possível é imprescindível por diversas razões: 
• Para saber o que ocorre e suas causas, de forma a responder ao pedido com o qual 
foi iniciada a consulta. 
• Porque iniciar um tratamento sem o questionamento prévio do que realmente 
ocorre representa um risco muito alto. Significa, para o paciente, a certeza de que se 
pode “curá-lo” (usando termos clássicos). E o que ocorre se logo aparecem 
patologias ou situações complicadas com as quais o psicólogo não sabemos lidar, 
que vão além daquilo que podemos absorver, através de supervisões e análises? 
Buscaremos a forma de interromper (conscienteou inconscientemente) o 
tratamento com a conseguinte hostilidade ou decepção do paciente, o qual terá 
muitas duvidas antes de tornar a solicitar ajuda. 
• Para proteger o psicólogo, que ao iniciar o tratamento contrai automaticamente um 
compromisso em dois sentidos: clínico e ético. Do ponto de vista clínico, deve estar 
certo de poder ser idôneo perante o caso sem cair em posturas ingênuas nem 
onipotentes. Do ponto de vista ético, deve proteger-se de situações nas quais está 
implicitamente comprometendo-se a fazer algo que não sabe exatamente o que é. 
No entanto, a conseqüência do não cumprimento de um contrato terapêutico é, em 
alguns países, a cassação da carteira profissional. 
Por estas razões explica-se a importância da etapa diagnóstica, sejam quais forem os 
instrumentos científicos utilizados na mesma. Freud já falava da importância desta etapa, à 
qual ele dedicava os primeiros meses do tratamento. Coloca que ela é vantajosa tanto para o 
paciente quanto para o profissional, que avalia assim se poderá ou não chegar a uma 
conclusão positiva. 
Quando se dedica muito tempo ao diagnóstico acaba-se estabelecendo uma relação 
transferencial muito difícil de dissolver caso a decisão de interromper o processo for 
tomada. Além do mais, dispomos na atualidade de muitos recursos que permitem solucionar 
as dúvidas em um tempo menor. 
Vejamos agora, segundo Arzeno (1995) com quais finalidades pode ser utilizado o 
psicodiagnóstico. 
1) Diagnóstico. Conforme o exposto acima é óbvio que a principal finalidade de um estudo 
psicodiagnóstico é a de estabelecer um diagnóstico. E cabe esclarecer que isto não equivale a 
“colocar um rótulo”, mas a explicar o que ocorre além do que o paciente pode descrever 
conscientemente. 
Durante a primeira entrevista elaboramos certas hipóteses presuntivas. Mas a entrevista 
projetiva, mesmo sendo imprescindível, não é suficiente para um diagnóstico 
cientificamente fundamentado. 
Lembremos o que diz Karl Meninger, no prefácio do livro de David Rapaport: 
Durante séculos o diagnóstico psiquiátrico dependeu fundamentalmente da observação 
clínica. Todas as grandes obras mestras da nosologia psiquiátrica foram realizadas sem a 
ajuda das técnicas de laboratório e de nenhum dos instrumentos de precisão que atualmente 
relacionamos com o desenvolvimento da ciência moderna. Tanto a psiquiatria do século XIX 
como a da primeira parte do século XX, era uma psiquiatria de impressões clínicas, de 
impressões colhidas graças a uma situação privilegiada: a do médico capacitado para 
submeter o paciente a exame. Mas esse exame à sua disposição não era de modo algum 
uniforme ou estável; e tampouco poderia ter sido padronizado de forma que fosse possível 
comparar os diferentes dados obtidos. Com o advento dos modernos métodos de exame 
psicológico através de testes, a psiquiatria atingiu a idade adulta dentro do mundo científico. 
Sem medo de exagerar pode-se afirmar que é o campo da ciência mental que tem tido o 
maior progresso relativo nos últimos anos. 
Meninger foi durante muitos anos chefe da clínica que leva seu nome. Ele apoiou e animou a 
criação e o desenvolvimento dos testes tanto projetivos como objetivos. Cada paciente que 
ingressava na clínica era submetido a uma bateria completa de testes. 
Ainda hoje esse modelo de trabalho é eficiente, porque a entrevista clínica não é uma 
ferramenta infalível, a não ser quando em mãos de grandes mestres, e às vezes, nem mesmo 
nesses casos. Os testes tão pouco o são. Mas se utilizarmos ambos os instrumentos de forma 
complementar há uma margem de segurança maior para chegar a um diagnóstico correto, 
especialmente se incluirmos testes padronizados. 
Além do mais, a utilização de diferentes instrumentos diagnósticos permite estudar o 
paciente através de todas as vias de comunicação: pode falar livremente, dizer o que vê em 
uma lâmina, desenhar, imaginar o que gostaria de ser, montar quebra cabeças, copiar algo, 
etc. Se por algum motivo o domínio da linguagem verbal não foi alcançado (idade, doença, 
casos de surdos-mudos, etc.) os testes gráficos e lúdicos facilitam a comunicação. 
 A bateria de testes utilizada deve incluir instrumentos que permitam obter ao máximo a 
projeção de si mesmo. Por isso, se pedirmos ao paciente que desenhe uma figura humana, 
sabemos que haverá uma projeção, mas muito mais se lhe pedirmos que desenhe uma casa 
ou uma árvore, já que ele não pode controlar totalmente o que projeta. 
Como dito antes, é importante incluir testes padronizados porque nos dão uma margem de 
segurança diagnóstica maior. 
Outro elemento importante que nos é dado pelo psicodiagnóstico refere-se à relação de 
transferência-contratransferência. 
Ao longo de um processo que se estende entre três e cinco entrevistas, aproximadamente, e 
observando como o paciente se relaciona diante de cada proposta e o que nós sentimos em 
cada momento, podemos extrair conclusões de grande utilidade para prever como será o 
vínculo terapêutico (se houver terapia futura), quais serão os momentos mais difíceis do 
tratamento, os riscos de deserção, etc. 
Porém, nem todos os psicólogos, psicanalistas e psicólogos clínicos concordam com esse 
ponto de vista. Alguns reservam a utilização do psicodiagnóstico para casos nos quais 
surgem dúvidas diagnósticas ou quando querem obter uma informação mais precisa, diante, 
por exemplo, de uma suspeita de risco de suicídio, dependência de drogas, desestruturação 
psicótica, etc. Em outras ocasiões o solicitam porque têm dúvidas sobre o tratamento mais 
aconselhável, se a psicanálise ou uma terapia individual ou vincular. Finalmente, existe outro 
grupo de profissionais que não concordam em absoluto com este ponto de vista e 
prescindem totalmente do psicodiagnóstico. Ainda mais, não concedem valor científico 
algum aos testes projetivos. Alguns vão mais longe, dizendo que de forma alguma é 
importante fazer um diagnóstico inicial, que isso chega com o tempo, ao longo do 
tratamento. 
Todas as posições são respeitáveis, porém devem ser fundamentadas cientificamente e, até 
o momento, não foram encontradas demonstrações, baseadas na teoria da projeção e da 
psicologia da personalidade, que os testes projetivos carecem de validade. 
2) Avaliação do tratamento. Outra forma de utilizar o psicodiagnóstico é como meio para 
avaliar o andamento do tratamento. É o que se denomina “re-testes” e consiste em aplicar 
novamente a mesma bateria de testes aplicados na primeira ocasião. Havendo suspeita de 
que o paciente lembre perfeitamente o que fez na primeira vez e se deseje variar, pode-se 
criar uma bateria paralela selecionando testes equivalentes. 
Algumas vezes isto é feito para apreciar os avanços terapêuticos de forma mais objetiva e 
também para planejar uma alta. Em outras palavras é para descobrir o motivo de um 
“impasse” no tratamento e para que, tanto o paciente como o terapeuta possa falar sobre 
isso, estabelecendo, talvez, um novo contrato sobre bases atualizadas. Em outros casos 
ainda, é porque existe disparidade de opiniões entre eles. Um deles acredita que pode dar 
fim ao tratamento, enquanto que o outro se opõe. 
Estes casos representam um trabalho difícil para o psicólogo, pois passa a ocupar o papel de 
um árbitro que dará a razão a um dos dois. É então conveniente esclarecer ao paciente que o 
psicodiagnóstico não será realizado para demonstrar-lhe que estava enganado, mas, como 
um fotógrafo, ele registrará as situações para depois comentá-las. O mesmo esclarecimento 
deve ser dado ao terapeuta. Obviamente, é conveniente que a entrevista de devolução seja 
feita por aquele que realizou o estudo, tendo um cuidado muito especial em mostrar uma 
atitude imparcial e fundamentando as afirmações no material dado pelo paciente. 
Nos tratamentos particulares, o terapeuta é que decide o momento adequado para um novo 
psicodiagnóstico (ou, talvez, para o primeiro). No entanto, nos tratamentos

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