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18/08/2019 1 Funções do material genético Profa Elizângela Emídio Cunha 2019 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Biociências Departamento de Biologia Celular e Genética DBG0051 – Genética para Ecologia O Código Genético • 1ª Hipótese: a proteína é um arranjo linear de aminoácidos, assim como um ácido nucléico é um arranjo linear de nucleotídeos. – Estudos de sequenciamento dos aminoácidos nas proteínas foram correlacionados com a sequência exata de nucleotídeos no DNA. – Logo, a informação genética codificada no DNA é repassada fielmente ao RNAm que, no citoplasma, é traduzida em uma cadeia polipeptídica (proteína). 2 18/08/2019 2 O Código Genético • 2ª Hipótese: existência de um código genético. – Problema básico: de que modo um código escrito com quatro nucleotídeos (A, T, G e C) corresponderia a um outro código com 20 aminoácidos diferentes que podem ser encontrados numa cadeia polipeptídica? ? 3 4 Fonte: Pierce (2012). 18/08/2019 3 5 Fonte: Pierce (2012). 6 Fonte: Pierce (2012). 18/08/2019 4 7 Fonte: Pierce (2012). Decifração do código genético • Duas etapas: • 1ª etapa (idéias e especulações): seria necessária, no mínimo, uma combinação de três nucleotídeos do RNAm para codificar cada aminoácido. • CÓDON: conjunto de nucleotídeos que codificam um único aminoácido. – Se um códon consistisse de UM ÚNICO NUCLEOTÍDEO, existiriam apenas QUATRO CÓDONS (A, G, C e U) diferentes, os quais codificariam apenas quatro aas diferentes. Mas, existem 20 aas diferentes para codificar! – Se um códon consistisse de DOIS NUCLEOTÍDEOS (tipo GU, AC, AA etc.), haveria 4 × 4 = 16 CÓDONS possíveis, o que seria insuficiente para codificar os 20 aas! – Com TRÊS NUCLEOTÍDEOS (tipo AGA, AUC, AAA etc.) haveria 4 × 4 × 4 = 64 CÓDONS POSSÍVEIS, sendo mais que suficiente para codificar os 20 aas! • De fato, um códon consiste da combinação de três nucleotídeos! 8 18/08/2019 5 Decifração do código genético • 2ª etapa: a decifração definitiva teve início em 1960. – Descoberta da síntese de cadeias polipeptídicas in vitro por meio do uso de RNAm sintético de composição de bases conhecida. – Síntese de RNAm pela enzima polinucleotídeo fosforilase, que não usa nenhuma fita de DNA como molde, e assim a sequência de nucleotídeos no RNAm depende exclusivamente da composição de bases no meio. • Ex: Se o único nucleotídeo presente for o UDP – difosfato de uridina – o RNAm sintético será um homopolímero contendo apenas uracila (U). 9 Decifração do código genético • CÓDON: sequência de três nucleotídeos que codificam um determinado aminoácido. – 1º códon descoberto: correspondente ao aminoácido fenilalanina. • Quando um RNAm sintético contendo apenas uracila (poli- U) era usado para dirigir a síntese protéica in vitro, a proteína formada continha apenas fenilalanina. Logo, o códon 5’ UUU 3’ codifica o aminoácido fenilalanina. • Depois: RNAm contendo apenas adenina (poli-A) produzia a lisina, cujo códon é 5’ AAA 3’; e RNAm contendo apenas citosina (poli-C) produzia a prolina, cujo códon é 5’ CCC 3’. 10 18/08/2019 6 Decifração do código genético • Os códons contendo mais de um tipo de nucleotídeo foram identificados usando-se RNAm sintéticos com dois tipos de base. – Ex: numa reação com os nucleotídeos adenina (ADP: difosfato de adenina) e citosina (CDP: difosfato de citosina) na proporção de 70% e 30%, respectivamente, o RNAm sintético conterá 70% de A e 30% de C. • OBS: Embora seja possível determinar a composição percentual do RNAm como um todo, a sua sequência de bases será desconhecida. 11 Decifração do código genético • Ex: no caso acima, a sequência 5’ AAA 3’ tem probabilidade de 0,7 X 0,7 X 0,7 = 0,343. Isto significa que 34,3% dos códons são presumivelmente deste tipo (5’ AAA 3’) . • As probabilidades dos demais códons são: • 5’ AAC 3’ = 5’ ACA 3’ = 5’ CAA 3’ = 0,7 X 0,7 X 0,3 = 0,147 • 5’ ACC 3’ = 5’ CAC 3’ = 5’ CCA 3’ = 0,7 X 0,3 X 0,3 = 0,063 • 5’ CCC 3’ = 0,3 X 0,3 X 0,3 = 0,027 • A probabilidade total será de 100%: 34,3% + 3x(14,7%) +3x(6,3%) + 2,7% = 100%. 12 18/08/2019 7 Decifração do código genético • A identificação dos códons e dos seus respectivos aminoácidos pode ser feita correlacionando-se a frequência esperada de um tipo de códon com as frequência de cada aminoácido encontrado na cadeia polipeptídica. – Ex: para o RNAm anterior (70% A : 30% C), a determinação de que o aminoácido asparagina se encontra na frequência de aproximadamente 14,7% indica que ele é codificado por um códon contendo 2A e 1C. • OBS: esse método não identifica a sequência correta dos nucleotídeos nos códons com a mesma composição de bases. Assim, não se sabe qual códon é o da asparagina: ou 5’ AAC 3’ ou 5’ ACA 3’ ou 5’ CAA 3’. 13 Decifração do código genético • Niremberg & Leder (1964): desenvolveram um método mais eficiente para determinar os 64 códons. – Descobriram que moléculas de RNAt carregadas com seu aminoácido específico se ligam ao complexo ribossomo – RNAm. • Ex: quando um RNAm poli-U (homopolímero) é misturado aos ribossomos, somente RNAt da fenilalanina se prende àquele complexo. – A ligação específica do RNAt não requer longas moléculas de RNAm, sendo suficiente apenas um trinucleotídeo para a ligação. Ex: o trinucleotídeo 5’ UUU 3’ resulta na ligação RNAt – fenilalanina; e o trinucleotídeo 5’ AAC 3’ promove a ligação RNAt – asparagina. – Assim, eles decifraram os 61 códons que codificam todos os 20 aminoácidos. 14 18/08/2019 8 15 Fonte: Pierce (2012). Decifração do código genético 16 18/08/2019 9 Propriedades do código genético • Na síntese de proteínas a partir da informação genética do DNA, o código genético obedece a algumas propriedades: 1ª) O códon ou unidade do código genético é constituído de três nucleotídeos; – Crick et al. (1961): induziram mutações não-funcionais no fago T4 pela retirada ou inserção de 1 a 2 nucleotídeos. Quando retiravam ou inseriam três, a funcionalidade do gene era restabelecida. – Khorana (1966): RNAm de sequência 5’ UGU GUG UGU 3’ produzia uma cadeia polipeptídica com dois tipos de aminoácidos: cisteína – valina – cisteína, indicando que o códon 5’ UGU 3’ era o da cisteína e o códon 5’ GUG 3’ o da valina. 17 Propriedades do código genético • 2ª) O código tem ponto inicial: 5’ AUG 3’ no RNAm , que se liga ao aminoácido formil-metionina (procariontes) e metionina (eucariontes). • OBSERVAÇÕES: Nem todas as proteínas se iniciam com este aminoácido, pois existem enzimas que o removem. Assim, a sequência peptídica funcional pode se iniciar no 2º aminoácido. Além disso, proteínas que serão exportadas para organelas ou para o exterior da célula podem se iniciar a partir do 16º até o 31º aminoácido (após a eliminação de uma sequência de 15 a 30 aminoácidos na sua sequência guia - extremidade amino-terminal) . 18 18/08/2019 10 Propriedades do código genético • 3ª) O código não é sobreposto: – Cada grupo de três nucleotídeos especifica somente um aminoácido, enquanto num código sobreposto codificaria vários aminoácidos. – Ex: a sequência 5’ ACUGCA 3’ codifica sem sobreposição apenas dois aminoácidos: 5’ ACU 3’ = treonina e 5’ GCA 3’ = alanina. Ex: Se o código fosse sobreposto em dois nucleotídeos, esta mesma sequência codificaria quatro aminoácidos: 5’ ACU 3’ = treonina; 5’ CUG 3’ = leucina; 5’ UGC 3’ = cisteína; e 5’ GCA 3’ = alanina. Se fosse sobreposto em um nucleotídeo, seriam codificados dois aminoácidos: 5’ ACU 3’ = treonina e 5’ UGC 3’ = cisteína; e sobrariam os nucleotídeos 5’ CA 3’ que não encaixam aa. 19 Propriedades do código genético • 3ª) O código não é sobreposto: – A conclusão sobre a não sobreposição foi obtida mediante estudos da sequência de aminoácidos em mutantes para a capa protéica do vírus do mosaico do tabaco – TMV. A mutação alterava apenas um aminoácido. – Veja no caso anterior (5’ ACUGCA 3’): se G for trocada por C e se não existe sobreposição, então a alanina (5’ GCA 3’) será trocada por prolina (5’ CCA 3’). • Se houvesse sobreposiçãoem dois nucleotídeos, seriam alterados vários códons e, consequentemente, mais de um aminoácido, assim: 5’ ACU 3’ = treonina; 5’ CUC 3’ = leucina; 5’ UCC 3’ = serina; e 5’ CCA 3’ = prolina. Note que 5’ CUG 3’ = 5’ CUC 3’ = leucina. 20 18/08/2019 11 Propriedades do código genético • 4ª) O código não tem vírgulas: – Na leitura correta dos códons não há nenhum nucleotídeo no RNAm diferente dos quatro (A, G, C e U) normais que funcione como vírgula, separando os códons um do outro, ou seja, “v” em 5’ vACUvGCAv 3’ funcionaria como vírgula. – Isto não existe! Pois todos os polinucleotídeos sintéticos formados a partir de um único nucleotídeo (poli-A, poli-G, poli-C e poli-U) são traduzidos. 21 Propriedades do código genético • 5ª) O código é degenerado: – Pela tabela do código genético notamos que a maioria dos aminoácidos é codificada por mais de um códon diferente. • 61 códons para 20 aminoácidos (média de 3,05 códons/aa). – A degenerescência é variada entre os 20 aminoácidos. Ex: serina, arginina e leucina são codificadas por 06 códons diferentes; valina é codificada por 04 códons diferentes; isoleucina por 03 códons etc. – Apenas metionina e triptofano são codificados por um único códon cada: 5’ AUG 3’ e 5’ UGG 3’, respectivamente. 22 18/08/2019 12 Propriedades do código genético • 5ª) O código é degenerado: – Sobretudo para a 3ª base, na posição 3’. Pela tabela, todos os aas para os quais o código é degenerado têm as duas primeiras bases em comum, exceto leucina, serina e arginina (com seis códons cada). – O pareamento do códon do RNAm com o anticódon do RNAt ocorre de forma antiparalela entre a 3ª base do códon na posição 3’ e a 1ª base do anticódon na posição 5’. – Existem pareamentos fortes (entre A e U; e G e C) e fracos ou oscilantes (os demais). Os pareamentos oscilantes aumentam a degenerescência do código na 3ª base do códon. 23 24 Fonte: Pierce (2012). 18/08/2019 13 Propriedades do código genético • 5ª) O código é degenerado: – Se as duas primeiras bases que codificam um aa são diferentes, então há necessidade de RNAts diferentes, e o pareamento com o RNAm será forte. • Ex: serina (os códons 5’ UCU 3’ e 5’ AGU 3’ do RNAm requerem RNAts com os anticódons 5’ AGA 3’ e 5’ ACU 3’, respectivamente). – Vantagem evolutiva da degenerescência: tornar o código mais estável e protegido contra os efeitos da mutação. Ex: no códon 5’ GCU 3’ a troca de U por C ou A ou G não faria diferença, uma vez que 5’ GCC 3’ ; 5’ GCA 3’ e 5’ GCG 3’ codificam o mesmo aminoácido: alanina. 25 Propriedades do código genético • 6ª ) O código não é ambíguo: – Em condições naturais, um códon não codifica dois ou mais aminoácidos diferentes. Exceção: em certas condições artificiais (alterações no pH, temperatura ou presença de estreptomicina no meio de cultura) o códon 5’ UUU 3’ da E. coli codifica tanto fenilalanina como leucina, treonina e isoleucina. 26 18/08/2019 14 Propriedades do código genético • 7ª) O código é universal: – Os códons especificam sempre os mesmos aminoácidos em todos os organismos vivos. – Ele é UNIVERSAL, porque é DEGENERADO. Demonstração: RNAm e ribossomos de reticulócitos de coelhos foram corretamente reconhecidos por RNAts de E. coli, com síntese da hemoglobina. Exceções: alguns códons assumem significados diferentes em mitocôndrias de algumas espécies. 27 28Fonte: Pierce (2012). protozoários 18/08/2019 15 Propriedades do código genético • 7ª) O código é universal: – Consequências: • Evolutiva: a origem da vida na terra deve ter sido única, sendo o conjunto de proteínas e enzimas necessárias para a sobrevivência similar em todos os seres vivos. No entanto, os seres vivos exibem uma diversidade extremamente grande tanto de aspectos e comportamentos quanto das proporções A/T e G/C. • Obtenção dos organismos transgênicos. 29 Propriedades do código genético • 8ª) O código tem ponto final: – O término da leitura da fita de RNAm é determinado por três códons de terminação: 5’ UAA 3’; 5’ UAG 3’ e 5’ UGA 3’, que não são lidos por RNAts. – Em vez disso, estes códons possuem afinidade para se ligar a proteínas específicas conhecidas como fatores de ligação. 30
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