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Civil II @piluladc Fraude Contra Credores e Simulação Fraude contra credores é um pouco mais complexa e tem uma concepção diferenciada. Nela, não tenho exata- mente um vício do consentimento como ocorre nos outros, é mais uma ideia de um vício social, que afeta o bom funci- onamento da sociedade, do que do prejuízo àquela pessoa com quem eu contrato. Parte do princípio que vai tra- zer prejuízo contra terceiros. Seção VI Da Fraude Contra Credores “Art. 158. Os negócios de trans- missão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já in- solvente, ou por eles reduzido à insol- vência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirogra- fários, como lesivos dos seus direitos. § 1 Igual direito assiste aos cre- dores cuja garantia se tornar insufici- ente. § 2 Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.” Primeira hipótese diz respeito à trans- missão gratuita de bens (doação) ou remissão de dívida (perdão da dívida). Devedor insolvente é um que tem um passivo maior que o seu ativo - muito mais dívidas do que o seu patrimônio e não tem como saldar sua dívida. Credores quirografários: são aqueles que têm uma dívida garantida pura e simplesmente por um documento es- crito, mas não tem nenhuma garantia preferencial/especial, como por exem- plo uma hipoteca ou penhor. Exemplo: O devedor está devendo pra alguém, vai pegar o seu imóvel/bem e vai transferir de forma gratuita para um terceiro, e vai ficar sem patrimônio para saldar a dívida, ou ele já era insolvente e, ou realizou esse ato e se tornou in- solvente. Se ele fizer isso contra qual- quer credor, esse ato pode ser anulado conforme o código civil. Isso é escon- der o bem ao invés de pagar o credor, para que o meu credor não consiga me cobrar. O credor que tem uma garantia, no ina- dimplemento ele faz a alienação judicial dessa garantia e é pago. Isso leva à anulação do negócio. Se houve uma redução da garantia, também posso pedir a anulação Se ele já era meu credor, percebeu atos fraudulentos que estão levando à insol- vência, e que vão me impedir de saldar minha dívida com esse credor. Precisa já ser credor no momento desses atos. Se virou meu credor depois, não pode. Próxima hipótese: adiciona para os contratos onerosos então é uma trans- missão onerosa agora, mas também é Civil II @piluladc possível ter anulação do negócio quando a insolvência for notória, ou quando houver motivo para ser conhe- cida do outro contratante. Na doutrina tradicional, um dos ele- mentos necessários para o reconheci- mento é o consilium fraudis, que é aquela manifesta intenção de lesar o credor. Esse elemento está caindo na doutrina, hoje não defendem mais essa necessidade da intenção de lesar o credor, só precisa ter comprovação do conhecimento do terceiro adquirente dessa situação de insolvência do deve- dor, que é a scientia fraudis. Como identificar uma situação de in- solvência: indícios, várias cobranças judiciais no nome dela, tem uma mu- dança de vida, vende sua casa, seu carro, etc. Não é muito fácil. Como os tribunais têm entendido isso? Intenção de lesar credor não é impres- cindível para caracterizar fraude - STJ Maio/18. “Art. 159. Serão igualmente anu- láveis os contratos onerosos do deve- dor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser co- nhecida do outro contratante.” “Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não ven- cida, ficará obrigado a repor, em pro- veito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.” Próxima hipótese: prevista no artigo 162 - o devedor insolvente está pagando uma dívida para o credor e não tem ainda uma dívida vencida. Se a mesma pessoa deve para dois credores dife- rentes, e uma vence antes da outra, e o devedor insolvente está pagando pri- meiro a que vence depois, o credor da que vence antes tem o direito de entrar com uma ação pedindo a anulação desse pagamento, porque a dela seria a preferencial pela data, esse valor tem que voltar para o concurso dos credo- res, que serão pagos pela ordem. “Art. 163. Presumem-se frauda- tórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.” Tinha vários credores quirografários. Mas eu, insolvente, dou uma garantia pra um deles. Dessa forma, estou le- sando os outros credores e estes po- dem pedir então a anulação. “Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordiná- rios indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou in- dustrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.” Se estou insolvente e continuo reali- zando negócios que são indispensáveis para a minha subsistência ou para a manutenção da minha atividade econô- mica/estabelecimento, por exemplo no caso de agricultores, não estou sujeito a anulação por fraude contra credores. Presunção de boa fé, e os negócios são válidos. “Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproxima- damente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Civil II @piluladc Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes cor- responda ao valor real.” Uma forma de conservação do negócio jurídico. Adquirente pode pagar em ju- ízo, citando todos os envolvidos, pra que ele se desobrigue do pagamento do preço e tenha direitos sobre o bem que adquiriu. Pode fazer um depósito judicial, consignação. O que eu tinha que pagar, paguei, e aí vocês que são os credores que se resolvam. Se o de- vedor quiser vender por um valor muito inferior, o adquirente deposita o valor real e conserva os bens para si, e en- cerra assim. Ação própria e consequências da fraude contra credores. Ação revocatória ou ação pauliana: é a ação própria que o credor vai pedir a anulação daquele negócio fraudulento. “Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159 , poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.” O Art. 161 diz contra quem: o devedor, a pessoa com quem ele fez negócio, terceiros adquirentes. Entenda o poderá como DEVERÁ. To- dos os que têm interesse PRECISAM participar da ação. A coisa julgada só faz coisa julgada entre aqueles que participaram daquele processo. Se o adquirente compra do devedor, e de- pois vendo pra um quarto, se ele tinha conhecimento da fraude, preciso sempre incluir todos, porque se esse quarto não estiver incluso ele não é obrigado a cumprir nada. “Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante re- verterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negó- cios tinham por único objeto atribuir di- reitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade im- portará somente na anulação da prefe- rência ajustada.” Depois de anulado o negócio, a vanta- gem que foi recebida pelo terceiro agora participa do concurso dos credo- res. Cai no bolo pra ver de quem é o direito de receber. Ação de insolvência civil - como uma falência da pessoa física. Quem faz isso na prática? Ninguém. A pessoa vai esperar o credor entrar com a ação, cada um por si. Posso ter um negócio jurídico que não fala bem de transferência, só entra na preferência para um credor. Nessa hi- pótese, não houve uma transferência, então anulasó essa preferência. A doutrina tem uma divergência muito grande sobre a natureza da fraude em si, se leva à anulação ou se leva à ine- ficácia desse negócio. A anulação teria que afetar toda e qualquer pessoa que esteve envolvida nesse negócio. A doutrina já compreendeu que a fraude contra credores não anula um negócio em si, retira parcialmente a eficácia do negócio em relação a determinados credores. Para os que não alegaram, não afeta, o negócio continua valendo Civil II @piluladc e produzindo seus efeitos. Para muitas doutrinas e para o STJ, essa fraude contra credores leva à retirada parcial da eficácia do negócio. Para outros, leva à anulação do negócio. Outra questão é a diferença entre fraude contra credores e fraude à exe- cução. Fraude contra credores (Art 158 a 165 CC) • Instituto de direito material • Não pressupõe ação judicial de execução em curso • Vício do negócio jurídico que leva à sua anulação (discussão dou- trinária sobre eficácia) • Reconhecimento em ação pró- pria (Ação revocatória ou pauli- ana) Fraude à execução (Art 774 e 792 CPC) • Instituto de direito processual • Pressupõe ação judicial em curso • Ato atentatório à dignidade da justiça e crime, que leva à sua ineficácia (crime conforme o có- digo penal, muito mais grave, multa de 20%) • Reconhecimento incidental na ação judicial em curso Reipersecutória: de perseguição a um bem, objeto corpóreo. Art 179 do CP: Detenção de 6 meses a 2 anos e multa. Simulação “Art. 167. É nulo o negócio jurí- dico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negó- cios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se confe- rem, ou transmitem; II - contiverem declaração, con- fissão, condição ou cláusula não ver- dadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos con- traentes do negócio jurídico simulado.” Teve uma mudança significativa no CC, deixou de ser considerada um ato pas- sível de anulação e se tornou então um ato passível de nulidade, muito mais grave. Revaloração da simulação. Existe um conluio entre as duas partes no negócio jurídico. Exemplo: Zé está se divorciando e não quer que a ex-esposa fique com um bem X, invento que tenho uma dívida com um amigo, que não existe de ver- dade, então uso isso, a dívida simulada, só para prejudicar a esposa. Essa é a simulação absoluta. Simulo um negócio jurídico sem haver por trás um negócio dissimulado. Na simulação relativa eu declaro que estou realizando um negócio sendo que na verdade ele é outro, estou mentindo. Exemplo: Combino com a outra parte que estou pagando um valor X no imó- vel sendo que eu paguei Y, apenas pra pagar menos imposto. Existe um negó- cio verdadeiro por trás. Essa transmissão do bem na simulação absoluta tem validade? Não tem. Os Civil II @piluladc bens precisam ser corretamente dividi- dos antes. A simulação relativa pode ser objetiva ou subjetiva. Objetiva é quando o conteúdo do ne- gócio em si está sendo simulado, e não a pessoa através da qual estamos transmitindo os direitos. E quando os instrumentos particulares forem ante datados ou pós datados para prejudicar terceiros. Subjetiva você declara que está pas- sando pra uma pessoa mas na verdade está passando para outra. Descobriu a simulação, dá pra salvar o negócio dissimulado? Dá? Então man- tém o que dá. Objetiva envolve objeto e a subjetiva envolve o sujeito. Quando estamos diante de um terceiro de boa-fé, que não sabia da simula- ção, ele não pode ser prejudicado pela nulidade desse negócio. O seu direito (aquilo que ele recebeu) continuará em seu poder. Não se envolve nessa ques- tão. Questão: O que é e quais são os efeitos da chamada simulação inocente? Simulação é uma declaração enganosa da vontade visando produzir outros efeitos que não os indicados ostensi- vamente, para iludir terceiros ou burlar a lei. É um negócio jurídico aparente- mente normal. A simulação inocente é a que não é feita com o objetivo de iludir terceiros e burlar a lei e, assim, não constitui de- feito do ato juridico. Dessa forma, como efeito, não leva à anulação do ato por sua característica de não trazer prejuízo a terceiros.
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