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Ana Luiza Bittencourt DIREITO CIVIL II – TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO II Defeitos do negócio jurídico - Art. 138 a 165 do Código Civil. - Situações em que, se elas ocorrerem, o negócio jurídico não é válido. Geralmente são vícios na vontade (vícios do consentimento) > prejudica a validade do negócio jurídico. Muitos desses defeitos apresentam ausência de boa-fé. - Vícios de consentimento (vícios na vontade): ● Erro ● Dolo ● Coação ● Lesão ● Estado de perigo - Vícios sociais (não tem intenção pura): ● Simulação ● Fraude contra credores Vícios de consentimento Erro ou ignorância: - Você se engana (interno = voluntário = você erra sozinho) > pensa estar praticando um ato jurídico quando na realidade está praticando outro > falsa percepção da realidade. Causa de anulação. Ex.: compra um colar de bijuteria achando ser ouro. - O erro não tem má-fé da parte contrária > foi um problema seu. - O erro só é considerado como causa de anulabilidade do negócio jurídico se for essencial (substancial = determinante na manifestação de vontade). O erro escusável (acidental/perdoável) não anula o negócio. - Pode ser um erro na natureza, no objeto e na pessoa. - Ignorância: não entender aquilo que está acontecendo. Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Pessoa de diligência normal é o juiz que vai decidir no caso concreto, observando se a pessoa tinha condições de saber do ato > brecha pro juiz interpretar se teve erro ou não. Sem o erro substancial o negócio não seria realizado. Somente com o erro substancial que pode se anular > se não ocorresse o erro, você não teria contratado > se você soubesse o que era, isso não teria ocorrido. Erro acidental – perdoável > apesar do erro, você ainda quer concluir o negócio jurídico > não é anulado. Não se refere às características essenciais. Art. 139! O erro é substancial quando (é um erro tão grave que se você soubesse dele, não teria praticado o negócio jurídico): I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; - Interessa à natureza: erro no negócio > você quer um negócio e contratou outro. Ex.: confundir comodato com doação; idoso que contrata empréstimo no caixa eletrônico sem saber que o está fazendo - Ao objeto principal da declaração: erro no objeto > Ex.: comprar um lote no lugar do outro. - A alguma das qualidades a ele essenciais: erro de substância > Ex.: comprar anel de cobre achando que era ouro (mas errar por conta própria > você se ferra sozinho). O erro você erra sozinho. II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; Erro in persona (erro sobre a pessoa) > você celebra o negócio jurídico com uma pessoa achando que era outra. Ex.: doar uma quantia para uma pessoa imaginando outra. Ex: Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro. III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Erro de direito = quando você descumpre a lei, achando que não está descumprindo. Confronto com o art. 3º da LINDB > esse é o erro mais difícil de caracterizar. Precisa analisar a boa-fé em cada caso. Ex.: "alguém que eventualmente celebra um contrato de importação de uma determinada mercadoria, sem saber que, recentemente, foi expedido decreto proibindo a entrada de tal produto no território nacional." (GAGLIANO, 2020, p.757). Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. Motivo: a razão de realização do negócio jurídico. É interno. O motivo só interessa para o negócio jurídico se estiver expresso. Ex.: doação de um imóvel para um médico que salvou sua vida. Posteriormente descobriu-se que foi outro médico. O motivo da doação era pro médico que salvou a vida. Logo, há um falso motivo que anula o negócio. Seria diferente se não deixasse o motivo expresso. Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. Meios interpostos são quaisquer meios que não seja a celebração. Ex.: utilizar o whatsapp > ao digitar uma palavra, digita-se errado > anulável. É a mesma coisa de errar pessoalmente. Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. É uma EXCEÇÃO. Princípio da conservação do negócio jurídico: o CC vai buscar ao máximo que o negócio jurídico seja efetivado, ainda que com pequenos defeitos > se as partes não ligam para esses pequenos defeitos, esse negócio continuará. Erro acidental (não é um erro tão grave, é meramente acidental > apesar do erro, você ainda quer celebrar o negócio jurídico). Ex.: Ao redigir o contrato um dos dados dos contratantes é escrito errado, porém é perfeitamente possível identifica-lo por outros dados. O CC permite que os pequenos erros sejam relevados (desculpados). Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. Não precisa anular o negócio jurídico inteiro. É só corrigir os valores. Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Princípio da conservação. Ex.: José comprou o lote X acreditando ter comprado o lote Y. A empresa vendedora pode se oferecer a fornecer o lote Y e ser mantido o negócio jurídico. Essencial que a outra parte concorde. Dolo: - Dolo civil ≠ Dolo criminal - Dolo = erro induzido por terceiro > prejudicar terceiro. O dolo sempre vai ter má-fé da outra parte (no erro não). Deve ser essencial para ser causa de anulabilidade. - Ex.: vender um colar de prata afirmando ser de ouro. - O dolo pode ser: ● Principal – art. 145 > aquele que anula o negócio jurídico > se essa enganação não existisse, você não teria praticado o negócio jurídico. É determinante o suficiente para anular o negócio. ● Acidental – art. 146 > aquele que não impede você de realizar o negócio jurídico > não anula > apenas responsabilização por perdas e danos. Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. Você não celebraria o negócio jurídico se você soubesse da realidade > você só celebrou porque foi enganado > sem o dolo não se realizaria o negócio. PRINCIPAL/ESSENCIAL. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Você sabe do dolo, mas quer da mesma forma. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Negócio jurídico bilateral é quando tem obrigação de ambas as partes. Ficou calado de sacanagem > silêncio intencional. Omissão dolosa, provando que sem ela, o negócio não teria sido realizado. Pode pedir anulação por omissão. Dolo por omissão é má-fé. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; // em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 1ª parte: pra anular o negócio jurídico por dolo de terceiro você tinha que ter conhecimento desse dolo > conluio da parte e terceiro para enganar. 2ª parte: o negócio subsiste eo terceiro indenizará perdas e danos. Ex.: Caio, colecionador de vasos antigos, contrata os serviços de Tício, profissional especializado em intermediar a compra e venda de objetos raros. Tício, atuando dolosamente e objetivando não perder a sua remuneração, promoveu a negociação de um falso jarro entre Caio, tomador de seus serviços, e Orfeu, proprietário do artefato. Nota-se que Caio fora induzido a erro pelo intermediário Tício, pessoa em que depositava sincera confiança. Logo: - Se Orfeu tinha conhecimento da atuação maliciosa de Tício, caracterizando verdadeiro conluio entre ambos, o negócio pode ser anulado; - Se Orfeu não tinha conhecimento direto do dolo de Tício, mas podia presumi-lo, em face das circunstâncias do fato, o negócio pode ser anulado; - Se Orfeu não sabia, nem tinha como saber da atuação dolosa de Tício, em face da boa-fé de Orfeu o negócio subsiste, respondendo apenas Tício pelas perdas e danos devidos a Caio. Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Dolo do representante legal: pai vende um bem do filho por valor superior com dolo. Você só vai responder se ganhou algo com o dolo de seu representante legal, sabendo disso. Representado responde só pelo lucro e o representante responde pelo prejuízo. Dolo do representante convencional: Eduardo nomeia João seu procurador para vender seu carro e João vende com dolo por valor acima do mercado. Os dois vão responder pela dívida toda. Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Um enganou o outro > uma coisa anula a outra, então o negócio é válido. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Coação - Violência capaz de influenciar na vontade da realização do negócio jurídico. A manifestação de vontade de negócio jurídico deve ser livre. ● Física (vis absoluta) ● Moral (vis compulsiva) > psicologicamente. - Interpretação à luz do caso concreto. Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Paciente é o que sofre a coação. Coação é quando causa medo à alguém, sua família e suas coisas. Ex.: negócio jurídico celebrado sob ameaça de morte; negócio jurídico celebrado sob ameaça de publicação e fotos íntimas na internet Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Olhar no caso concreto. Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. Paciente = vítima. Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Ex.: um pai obrigar o filho a praticar um ato legal, desde que não vá além > exercício normal de um direito. Exercício normal de um direito – ex.: locação e ameaça de despejo. Temor reverencial – respeito pela autoridade ex.: ameaça de despedida por descumprimento de ordem legal. Temor reverencial é o medo por autoridade. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta (parte que tinha conhecimento) responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. “Vai lá cobrar a dívida pra mim, pode até ameaçar de morte”. 1ª: o negócio jurídico pode ser anulado se você tem conhecimento da coação de terceiro e você responde por perdas e danos. Só anula o negócio jurídico se a parte sabe ou devia saber da coação. Nesse caso, ela também responde por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. Você está de boa fé, é o terceiro que está de má-fé. Se a parte não sabe, o negócio jurídico subsiste e o autor da coação responde por perdas e danos. Estado de perigo Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Ex.: pessoa num estado de saúde limitada que toma uma decisão que ela mesma não consegue lidar, como gastar muito mais do que é capaz > contrato feito em meio a estado de perigo > anulável. O dano tem que ser conhecido pela outra parte > a parte sabe que você está numa situação delicada e ainda assim cobra excessiva e maliciosamente. Assumir obrigação que não é capaz de cumprir. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Lesão Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. A lesão é quando você assume uma obrigação desproporcional por ser inexperiente ou por necessidade. Solução: anulação do negócio. Ex.: aplicação no Direito do Consumidor: art. 6º CDC - São direitos básicos do consumidor: V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Pacta sunt servanda – princípio do direito civil: os contratos vinculam (obrigam) as partes. Esse princípio NÃO é absoluto > em alguns casos, você pode ter assinado um contrato que posteriormente pode ser considerado nulo. §1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. A desproporção verifica-se no momento da formalização do contrato. §2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Princípio da conservação (se a outra parte concordar, o negócio continua). Vícios sociais Fraude contra credores - Alienação ou oneração de bens para prejudicar credores. Má-fé com consequência para a sociedade (envolve várias pessoas). - Conceitos: ● Credor = aquele que empresta o dinheiro. ● Devedor = aquele que deve pagar alguém. ● Insolvência = é o estado daquele devedor que não tem como arcar com suas dívidas (não tem mais patrimônio). Se refere à pessoa física. Falência é para pessoa jurídica. ● Credor quirografário = é aquele que não tem uma garantia para o recebimento de uma dívida. Poder ser pessoa física ou jurídica. ● Credor com garantia = é quando o devedor dá uma garantia (pode ser bem, chamados de reais, ou pessoa, chamada de pessoal/fidejussória) que irá pagar sua dívida. ● Responsabilidade solidária = é quando há mais de um devedor que responde pela dívida toda (é um dos tipos de responsabilidade solidária). Ex.: duas pessoas devendo mil reais > se um devedor pagou a dívida toda, ele pode ir cobrar do outro. ● Responsabilidade subsidiária = é preciso acionar o devedor principal e depois o subsidiário > você busca primeiro o devedor, e na falta dele, deve-se buscar o fiador. Ex.: caso de uma empresa A que possui uma terceirizada trabalhando em seu local e fere direitos trabalhistas > quem deve responder é a terceirizada, mas na falta dela, é a empresa A que irá ser responsabilizada. ● Fraude contra credores: alienação (passar para outra pessoa) ou oneração (coloca obrigações de outros negócios em bens) de bens para prejudicar credores > é quando você tá cheio e dívida e “se livra” de seus bens > passa seu patrimônio para outras pessoas para ocultar. ● Garantia real: bens dados em garantia do cumprimentode uma obrigação. Ex.: hipoteca (Bem imóvel; não há transferência do bem ao credor), penhor (bem móvel; em regra há transferência do bem ao credor), anticrese (Bem imóvel; há transferência do bem ao credor, podendo retirar da coisa os frutos para pagamento da dívida) ● Garantia pessoal: pessoa dada em garantia ● Fiança: Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. ● Aval: Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Pode ir direto dos bens do avalista. “Constitui fraude contra credores a atuação maliciosa do devedor, em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-se, que dispõe de maneira gratuita ou onerosa o seu patrimônio, para afastar a possibilidade de responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à transmissão”. (TARTUCE, p. 638). Se livra de seu patrimônio para não pagar seus devedores. Não existe um processo judicial ainda > são vários credores que a pessoa tem, mas que não buscaram o Poder Judiciário ainda. Quando já tem um processo chama fraude à execução. Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita (ex.: doação) de bens ou remissão de dívida (perdão), se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Os credores quirografários podem buscar a anulação dos negócios jurídicos fraudulentos (quando o devedor abre mão de seu patrimônio) do devedor insolvente. §1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. Garantias reais e pessoais. Ação Pauliana: ação através da qual os credores buscam a anulação dos negócios fraudulentos. O autor da ação pauliana são os credores quirografários. §2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. Você já tem que ser credor na época dos fatos para buscar a anulação > marco temporal. Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, // ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Insolvência notória é algo conhecido da sociedade de forma geral (juiz analisa no caso concreto) > ex.: todos sabem da condição do devedor. A insolvência notória é presunção relativa // pode buscar a anulação quando você deveria saber do estado de insolvência do outro (ex.: a pessoa que adquire o bem do devedor é um parente próximo, que deveria presumir o seu estado de insolvência). Presunção relativa (iuris tantum) = presunção que admite prova em contrário. Ex.: se você ficou em silêncio é porque você concordou > tem como provar o contrário > se ela não provar fica por isso mesmo. Ex.: boa-fé. Presunção absoluta = não admite prova em contrário > é a exceção. Ex.: quando a lei fixa que determinada conduta deve ser punida de uma forma e não dá possibilidade de minorar essa punição > é quando a lei é taxativa. Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente (preço do mercado), desobrigar-se-á (o adquirente) depositando-o em juízo, com a citação (início ao processo) de todos os interessados. Ao invés de passar o valor (conforme preço de mercado) pra pessoa que vai praticar a fraude, você deposita em conta judicial. O dinheiro vai ficar preso no judiciário e o judiciário vai distribuir aos prejudicados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159 (ação pauliana = busca anular os negócios jurídicos fraudulentos), poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. Apresenta os réus da ação pauliana. O autor são os credores quirografários. Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo (demais credores > conjunto de credores) sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. Favorecimento de um credor e prejuízo dos demais > não pode. Se você é um credor de um devedor fraudulento e você recebe qualquer valor, esse valor não é seu > você deve dividir com os outros credores (pela justiça) > aquilo que ainda não venceu deve ser repartido entre todos os credores. A fraude nunca é contra um credor só > envolve mais. Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. Se for pra dar garantia, é preciso dar garantia a todos os credores > se um só credor aceita, ele está presumidamente fraudando. O devedor não aliena os bens, porém ele os dá em garantia de dívidas. Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. O devedor não pode sair praticando fraude contra todos os credores, mas ele deve poder fazer negócios indispensáveis a sua sobrevivência e à sua família > meio termo. Alguns negócios devem continuar a ser exercidos e não serão fraudulentos. Você não pode presumir que tudo que a pessoa faz é fraudulento. Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. O patrimônio do devedor não volta pra ele, vai para os credores de modo a ser efetuado o pagamento da dívida. Efeito da fraude contra credores quando reconhecida judicialmente > anulação dos negócios fraudulentos e a restituição dos bens para o acervo de devedores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese (garantias), sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. Exemplo de fraude contra credores: - João prestou um serviço para José, que pagou com um cheque de 50 mil reais para 30 dias. Decorridos os 30 dias, João depositou o cheque, mas o cheque foi devolvido sem fundos > João é credor de José na quantia de 50 mil reais. - Após emitir o cheque, José com o objetivo de não pagar a dívida que possuía com João (evitar a penhora de seu patrimônio), doou seu único bem imóvel, um terreno baldio, para o seu filho de 3 anos de idade. - Credor quirografário: João - Devedor insolvente: José - Ato fraudulento: José doou seu único imóvel para seu filho de 3 anos de idade. - Ação: Pauliana ou Revocatória. - Objetivo: anular a doação que José efetuou para o filho, para que o imóvel retorne para o patrimônio de José e satisfaça o crédito do Credor.
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