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Distribuição, metabolismo e eliminação dos fármacos Distribuição Depois da absorção o fármaco distribui-se para os líquidos intersticiais e intracelulares, dependendo de alguns fatores fisiológicos como: débito cardíaco, fluxo sanguíneo regional, permeabilidade capilar e volume tecidual. Esses fatores determinam a taxa de liberação e a quantidade potencial do fármaco distribuído aos tecidos. O padrão de equilíbrio de distribuição entre os diversos compartimentos depende da permeabilidade através das barreiras teciduais, ligação dentro dos compartimentos, partição pelo pH e partição óleo/água. Para que o fármaco passe do sangue para o tecido ele precisa se desligar da proteína, mas quando ele estiver dentro do tecido a maior parte dele irá se ligar a outras proteínas, sejam elas citosólicas, nucleares ou aos fosfolipídios da membrana. Mas, alguma parte pode permanecer livre também. Para que o fármaco entre na célula, existem duas “vias de entrada”: ● Via transcelular (através das células endoteliais): difusão simples, pinocitose ou transporte ativo. Essa via contempla fármacos com alta lipossolubilidade/baixo grau de ionização. ● Via intercelular (através das fenestrações): difusão passiva. Depende da hidrossolubilidade do fármaco. Os capilares linfáticos apresentam uma maior facilidade para a absorção do fármaco visto que eles são mais permeáveis e possuem largas junções para celulares. Os compostos lipofílicos mais transportados pelo sistema linfático são os ácidos graxos de cadeia longa, triglicerídeos, éster colesterol, vitaminas lipossolúveis e xenobióticos como DDT (diclorodifeniltricloroetano). Primeiramente o compartimento central (fígado, rins e cérebro) vai receber esse fármaco e posteriormente o compartimento periférico (músculo esquelético, tecido adiposo, pele, etc) recebe. Em um segundo momento, o fármaco é distribuído do sangue para o espaço intersticial e para os tecidos, sendo que a distribuição p interstício é muito mais rápida devido a natureza altamente permeável da membrana endotelial dos capilares. Para o tecido, o fator determinante é se o fármaco está ou não ligado a proteínas plasmáticas (a albumina é o principal carreador dos fármacos ácidos, enquanto a glicoproteína ácida α1 liga-se aos fármacos básicos), o que limita a sua fração livre. O volume aparente de distribuição (Vd) é um volume hipotético de fluido corporal requerido para dissolver a quantidade total de fármaco na mesma concentração do que aquela que se encontra no sangue, expresso em litros: Cp = D/Vd , sendo Cp = concentração plasmática do fármaco, D= quantidade de fármaco injetado via IV, Vd = volume de distribuição. *Obs.: a fração de um fármaco ligado às proteínas é determinada pela concentração, pela afinidade e pelo número dos locais de ligação do fármaco. Em geral, a ligação tecidual dos fármacos ocorre com os componentes celulares como proteínas, fosfolipídeos ou proteínas nucleares e geralmente é reversível. Uma parte do fármaco pode estar ligada de forma reversível e funciona como reservatório (tecido adiposo), que prolonga a ação do fármaco nesse mesmo tecido ou em locais distantes. ● Transferência placentária: a lipossolubilidade, a extensão da ligação plasmática, peso molecular < 1000 (pequeno), o grau de ionização dos ácidos e das bases fracas são determinantes gerais importantes da transferência dos fármacos pela placenta. O plasma fetal é ligeiramente mais ácido do que o materno e, por esta razão, há sequestro iônico dos fármacos básicos. A passagem das drogas para o organismo fetal através da placenta se dá por difusão simples. A síndrome alcóolica fetal (SAF) é caracterizada pela agenesia de corpo caloso e os sintomas apresentados são convulsões, dificuldade de alimentação e atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. O uso de ácido valpróico pela mãe durante a gravidez pode causar mielomeningocele; o uso de varfarina gera no bebê hipoplasia de nariz e alterações na calcificação dos ossos; o uso de antiepilépticos (hidantoina ou fenitoína) gera microcefalia, hipoplasia das unhas e retardo no desenvolvimento; o uso de ácido retinóico pode causar hidrocefalia e microfonia no bebê; a tetraciclina pode gerar uma intensa pigmentação do esmalte da criança, sendo que quanto menor for o bebê maior será o efeito. ● Barreira hemato-encefálica: nos capilares cerebrais está presente a Barreira Hemato-Encefálica (BHE) que não possui fenestrações, as células são fortemente unidas por junções contínuas. Além disso, os capilares são recobertos por astrócitos e células da glia, tornando ainda mais difícil a entrada. Para o fármaco entrar no SNC ele precisa ou atravessar essa barreira, ou seja, precisa ser muito lipossolúvel ou precisa ser transportado por alguns transportadores como o Polipeptídeo Transportador de Íons Orgânicos (PTAO) e carregadores de efluxo (glicoproteína P - Pgp). Contudo, alguns locais não apresentam essa barreira, são eles: hipófise, corpo pineal, área postrema, eminência mediana, capilares do plexo coróide e zona quimiorreceptora de gatitho (domperidona). Existem alguns fatores que aumentam a permeabilidade da BHE: bradicinina, encefalinas, estresse e meningite. ● Circulação entero-hepática dos fármacos: 94% dos fármacos absorvidos no TGI passam pelo sistema hepático cerca de 17 vezes. ● O grau de ligação entre a droga-proteína depende da afinidade entre elas e da concentração plasmática tanto da droga quanto da proteína. Fármacos ácidos => albumina. Ex.: barbitúricos, benzodiazepínicos, fenitoína, penicilinas, sulfonamidas, tetraciclinas, varfarina, etc. Fármacos básicos => 1-alfa-glicoproteína ácida. Ex.: beta bloqueadores, imipramina, lidocaína, metadona, propranolol, etc. *99% da varfarina e do diazepam circulam no sangue ligados a proteínas => baixa toxicidade. Assim como a furosemida (96%), do propranolol (93%) e da fenitoína (89%). Já compostos como gentamicina (3%), digoxina (25%) e a lidocaína (51%) podem desenvolver um alto grau de toxicidade. Interações medicamentosas da distribuição As sulfas e a tolbutamida atuam em concentrações plasmáticas nas quais a ligação a proteínas aproxima-se da saturação. É importante observar que a administração das sulfas em uma mulher no período de amamentação pode causar encefalopatia nos recém-nascidos pois as sulfas competem com a bilirrubina pela ligação com a albumina, e possuem afinidade maior então ganham a “competição”, fazendo com que a bilirrubina fique livre e se acumule no encéfalo do bebê, sendo depositado nos gânglios basais e nos núcleos do tronco cerebral: gânglio basal, núcleos talâmicos e córtex hipocampal Na fase aguda o bebê apresenta letargia, ficam hipotônicas e a sucção fica inadequada. Caso não seja tratada, a criança passa para um estágio de hipertonicidade, podendo desenvolver febre e choro opistótono (agudo). As crianças que sobrevivem desenvolvem forma severa de paralisia cerebral atetóide (tônus muscular diminuído), surdez, displasia dentária e paralisia do olhar para cima. A percepção clínica da hiperbilirrubinemia só é possível quando os níveis séricos ultrapassam 5-7mg. Alguns fármacos, como anti-inflamatórios não esteróides, podem deslocar anticoagulantes, como a varfarina, dos locais de ligação à albumina sérica. Dessa forma, a varfarina passa a circular em sua maior parte como fármaco livre, podendo causar alto grau de toxicidade. Metabolismo O metabolismo do fármaco em um composto mais hidrossolúvel possível é muito importante não só para a sua eliminação como também para que se encerre o efeito farmacológico. Contudo, em alguns casos, o organismo produz metabólitos com atividade biológica potente ou propriedades tóxicas, isso ocorre quando se forma um intermediário instável, que apresenta reatividade frente a outros componentes celulares. As substânciasquímicas que podem ser convertidas pelo metabolismo xenobiótico em derivados capazes de causar câncer são conhecidas como carcinógenos. O metabolismo de primeira passagem consiste no metabolismo dos fármacos administrados via oral que são absorvidos, passam no metabolismo inicial da mucosa intestinal, seguem pela veia porta até o metabolismo hepático e posteriormente entram na circulação sistêmica. Alguns fármacos que possuem considerável metabolismo de primeira passagem são: AAS, levodopa, lidocaína, metoprolol, salbutamol, nitroglicerina, morfina, propranolol, etc. Fases do metabolismo O metabolismo dos fármacos são classificados em dois tipos: 1. Reações de funcionalização da fase I (oxidação, redução ou reações hidrolíticas): introduzem ou expõem um grupo funcional do composto original. Em geral, resultam na perda da atividade farmacológica. As enzimas que atuam nessa fase possibilitam a entrada de grupamentos como –OH, –COOH, –SH, –O– ou NH2. Contudo, em alguns casos, o metabolismo resulta na bioativação do fármaco. Os fármacos inativos que são metabolizados a um composto ativo são conhecidos como pró-fármacos. Enzimas: ● CYP ou p450: oxidação de C ou O, desalquilação, etc. (CYP3A4 - CYP = citocromo; 3 família; A subfamília; 4 número do gene) A presença do grupamento heme ligado a uma cadeia polipeptídica na CYP é porque ele contém um átomo de ferro em uma estrutura de carboidrato, cuja função é ligar o oxigênio aos locais ativos do CYP como parte do ciclo catalítico dessas enzimas. As enzimas do CYP usam o O2 e o H+ derivado do fosfato dinucleotídeo de adenina e nicotinamida reduzido por cofator (NADPH) para realizar a oxidação dos substratos. O metabolismo via CYP consome uma molécula de O2 e produz um substrato oxidado e uma molécula de água como subprodutos. Entretanto, com a maioria das enzimas do CYP, a reação é “desproporcional”, consumindo mais O2 do que o substrato metabolizado e formando o que se conhece como oxigênio ativado ou O2 –. Normalmente o O2 – é convertido em água pela enzima dismutase do superóxido. Níveis altos de O2 –, podem aumentar o estresse oxidativo deletério à fisiologia celular e que está associado às doenças como a cirrose hepática. O fígado contém as maiores quantidades de enzimas do CYP metabolizadoras de xenobióticos, assegurando dessa forma a eficiência do metabolismo de primeira passagem dos fármacos. As enzimas do CYP também estão expressas em todo o TGI e em quantidades menores nos pulmões, nos rins e até mesmo no SNC. A expressão das diferentes enzimas do CYP pode variar bastante de acordo com as exposições ambientais e hábitos alimentares, ou devido às variações genéticas. Com relação a interação CYP e fármacos, é importante analisar o nível de especificidade do fármaco que será administrado com a enzima e se atentar para não administrar outro fármaco com o mesmo nível de especificidade com essa enzima. Mesmo que um fármaco seja o substrato desta enzima, ele não está impedido de bloquear sua ação, então caso seja administrado outra droga que também depende dessa enzima para metabolização vai ocorrer falha no processo pois a enzima está bloqueada, havendo acúmulo da droga e possivelmente um quadro de toxicidade. O contrário também é verdadeiro: um fármaco que seja substrato alvo da enzima também pode potencializar sua função, fazendo com que não só ele próprio seja rapidamente metabolizado como também outra droga também especifica para essa enzima que foi administrado simultaneamente. *Os CYPs também participam da produção dos ácidos biliares a partir do colesterol. *Cada CYP contém uma molécula ferroprotoporfirina IX. *Nos seres humanos são conhecidas 12 enzimas do CYP (CYP1A1, 1A2, 1B1, 2A6, 2B6, 2C8, 2C9, 2C19, 2D6, 2E1, 3A4 e 3A5). As enzimas do CYP mais ativas no metabolismo dos fármacos pertencem às subfamílias CYP2C, CYP2D e CYP3A. A CYP3A4 é a enzima expressa mais abundantemente e está envolvida no metabolismo de mais de 50% dos fármacos usados na prática clínica e está localizada no epitélio intestinal, no fígado e nos rins. *Oxidações p450 dependentes: hidroxilações aromáticas, hidroxilações alifáticas, epoxidação, s-oxidação, dessulfuração, desalquilação oxidativa (N, O, S desalquilação; n-oxidação de aminas primárias, secundárias e terciárias), desaminação, descloração, flavina monooxigenase fígado MO3, amina oxidases, desidrogenações. *Reduções p450 dependentes: azorreduçoes, nitroreduções e carbonilreduções. *Hidrólises p450 dependentes: ésteres e amidas. ● Monooxigenases que contêm flavina (FMO): oxidação do N, S ou P. Também uma grande família de enzimas que estão expressas em níveis altos no fígado e ligadas ao retículo endoplasmático, local que favorece a interação e o metabolismo dos substratos hidrofóbicos. Existem seis famílias de FMOs, sendo a FMO3 a mais abundante no fígado. Essa enzima é capaz de metabolizar a nicotina e também os antagonistas dos receptores H2 (cimetidina e ranitidina), os antipsicóticos (clozapina) e os antieméticos (itoprida). As FMOs não são induzidas por quaisquer receptores xenobióticos e não são inibidas facilmente. Assim, ao contrário das enzimas dos CYPs, não se deve esperar que as FMOs estejam envolvidas nas interações medicamentosas. ● Epóxido hidroxilases (EH): hidrólise de epóxidos. O epóxido hidrolase solúvel (sEH) está expresso no citosol, enquanto o epóxido hidrolase microssômica (mEH) está localizado na membrana do retículo endoplasmático. Os epóxidos são compostos eletrofílicos altamente reativos, que podem ligar-se aos nucleofílicos celulares encontrados nas proteínas, no RNA e no DNA, acarretando toxicidade e transformação celulares. Os epóxidos hidrolases participam da desativação dos metabólitos potencialmente tóxicos gerados pelas enzimas do CYP. Ex.: O fármaco antiepiléptico carbamazepina é um pró-fármaco, que é convertido ao seu derivado farmacologicamente ativo 10,11-epóxido carbamazepina pela enzima do CYP. Esse metabólito é hidrolisado de forma efi caz a um diidrodiol pela mEH, o que leva à inativação do fármaco. A inibição da mEH pode aumentar as concentrações plasmáticas do metabólito ativo e causar efeitos adversos. 2. Reações de biossíntese da fase II/conjugação (enzimas catalisam o substrato/produto da reação 1 com uma segunda molécula): resultam na formação de uma ligação covalente entre um grupo funcional do composto original ou do metabólito da fase I e compostos formados pelos processos endógenos, como o ácido glicurônico. Em geral, esses conjugados altamente polares são inativos e excretados rapidamente na urina e nas fezes. As reações que ocorrem nessa fase são: glicuronidação, acetilação, conjugação com o glutation/glicina/sulfato e metilação. A glicuronidação e sulfatação resultam na formação de metabólitos com coeficientes de partição hidrolipídica significativamente mais altos, gerando um composto altamente hidrofílico e, assim, facilitando a acumulação dos metabólitos nos compartimentos aquosos das células e do corpo. Embora a sulfatação e a acetilação bloqueiem a atividade biológica dos fármacos, as propriedades de solubilidade desses metabólitos são alteradas por pequenas alterações na carga global da molécula. Uma característica das reações da fase 2 é a dependência que as reações catalíticas mostram por cofatores como UDP-ácido glicurônico (UDP-GA) e 3′-fosfoadenosina-5′-fosfossulfato (PAPS), nos casos da UDP-glicuronosiltransferases (UGTs) e sulfotransferases (SULTs). Todas as reações da fase 2 ocorrem no citosol da célula, com exceção da glicuronidação, que acontece na superfície interna do retículo endoplasmático. Reações: Glicuronidação - catalisam a transferência do ácido glicurônico do cofator UDP-ácido glicurônico para um substrato para formarglicuronídeos, que são metabólitos sensíveis à clivagem pela β-glicuronidase. Do ponto de vista clínico, a expressão da UGT1A1 assume um papel importante para o metabolismo dos fármacos, porque a glicuronidação da bilirrubina pela UGT1A1 é a etapa da taxa limite que assegura a depuração eficaz da bilirrubina. A bilirrubina é o produto da degradação do heme, do qual 80% originam-se da hemoglobina circulante e 20% de outras proteínas que contém heme (inclusive as enzimas do CYP). A bilirrubina é hidrofóbica, combina-se com a albumina sérica e precisa ser metabolizada ainda mais por glicuronidação para facilitar sua eliminação. A incapacidade de metabolizar eficazmente a bilirrubina por glicuronidação aumenta seus níveis séricos e causa um sinal clínico conhecido como hiperbilirrubinemia ou icterícia. Enzimas: ● Glutationa-S-transferases (GST) ● UDP-glicuronotransferases (UGT) ● Sulfotransferases (SULT) ● N-acetiltransferases (NAT) ● Metiltransferases (MT) Resumindo: a fase I tem a função de inativar biologicamente o fármaco e a fase II tem a função de transformar esse composto no mais hidrossolúvel possível e com um peso molecular maior, tornando a sua eliminação pelo tecido mais fácil. Locais de metabolismo Os níveis mais altos das enzimas do metabolismo são encontrados nos tecidos do TGI (fígado e intestinos delgado e grosso). O fígado é considerado o principal local de metabolismo tanto de substâncias endógenas quanto de fármacos. O intestino delgado desempenha papel crucial no metabolismo dos fármacos, porque os adm por via oral são absorvidos no intestino e levados ao fígado pela veia porta. Ainda, no intestino estão presentes algumas enzimas que INICIAM o metabolismo de fármacos adm via oral. O fármaco passa pelo fígado sucessivas vezes até que seja completamente eliminado do organismo. Os tecidos da mucosa nasal e dos pulmões, que desempenham funções importantes no metabolismo dos fármacos administrados por aerossóis, contendo uma significativa quantidade de enzimas do metabolismo. Dentro da célula, as enzimas metabolizadoras dos xenobióticos são encontradas nas membranas intracelulares e no citosol. As enzimas da fase 1 como CYP, FMO e EH e algumas enzimas de conjugação da fase 2 (principalmente as UGT) estão presentes no retículo endoplasmático da célula. Essa localização na membrana é especialmente adequada para a função metabólica dessas enzimas: as moléculas hidrofóbicas entram na célula e ficam embebidas na bicamada lipídica, onde entram em contato direto com as enzimas da fase 1. Depois da oxidação, os fármacos podem ser conjugados diretamente pelas UGTs (no lúmnen do retículo endoplasmático) ou pelas transferases citosólicas como as GST e SULT. Em seguida, os metabólitos podem ser transportados para fora da célula através da membrana plasmática, quando então são transferidos para a corrente sanguínea. FASE I → RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO. FASE II → CITOSOL. Indução enzimática O metabolismo pode ser induzido por meio da ativação da transcrição e da indução da expressão dos genes que codificam as enzimas metabolizadoras. Uma consequência potencial disso é a redução da concentração plasmática do fármaco ao longo do tratamento, levando à perda da eficácia, à medida que o metabolismo autoinduzido do fármaco ultrapassa a taxa à qual o novo composto entra no organismo. Um receptor específico, quando ativado por um ligando, pode induzir a transcrição de um conjunto de genes-alvo. Entre esses genes estão algumas enzimas do CYP e transportadores dos fármacos. Dessa forma, qualquer fármaco que seja um ligando para determinado receptor que induz as enzimas do CYP e os transportadores pode causar interações farmacológicas. A indução enzimática aumenta velocidade de metabolização hepática, a velocidade de produção de metabólitos e a depuração plasmática da droga; diminui as concentrações séricas da droga livre e total, a meia vida e os efeitos farmacológicos. AHR: superfamília de fatores de transcrição cuja função principal é a de regulação no desenvolvimento do SNC e na modulação da resposta aos estresses químico e oxidativo. Essa família inclui o Period (Per) e o Simpleminded (Sim), que são dois fatores envolvidos no desenvolvimento do SNC, além da família HIF (fator indutível pela hipóxia) dos fatores de transcrição que ativam genes em resposta aos níveis baixos de O2 celular. O AHR induz a expressão dos genes que codificam a CYP1A, a CYP1A2 e a CYP1B1. Fatores nucleares tipo 2: fazem parte da mesma superfamília dos receptores dos hormônios esteróides. Os mais importantes dessa família são: o receptor X da pregnona (PXR), o receptor constitutivo do androstano (CAR) e o receptor ativado pelo proliferador de peroxissomos (PPARs). O PXR ativado é um indutor do CYP3A4, que pode metabolizar os esteróides presentes nos anticoncepcionais orais. O receptor nuclear CAR foi descoberto por sua capacidade de ativar genes mesmo sem um ligando. O CYP3A4 é induzido pelo PXR e CAR e, sendo assim, seu nível é altamente influenciado por alguns fármacos e outros xenobióticos. O androstanol, clotrimazol e meclizina são agonistas inversos (impedem a ativação do gene). Indutor → enzima induzida CYP3A4/5 Fenobarbital CYP2B1 Glicocorticóides Macrolídeos Anticonvulsivantes CYP3A Isoniazida Etanol (crônico) CYP2E1 Clofibrato CYP4A INDUTORES INIBIDORES Barbitúricos Azamulina Carbamazepina Claritromicina Glicocorticóides Eritromicina Pioglitazona Diltiazem Fenitoína Fluconazol Rifampicina Suco de pomelo (furanocumarinas) Interações medicamentosas do propranolol e da varfarina Possui interação medicamentosa com fármacos que induzem a produção de enzimas microssomais. Propranolol - rifampicina, fenitoína e barbitúricos. Varfarina - rifampicina, griseofulvina, carbamazepina e barbitúricos. Mecanismos de inibição enzimática É uma inativação enzimática irreversível, resultado da competição pelo mesmo sítio de ligação. Ocorre a formação de um complexo ferro-heme (cimetidina, cetoconazol) pelo metabolismo onde o grupo heme pode ser destruído e assim gera a depleção dos cofatores da fase II do metabolismo. Na inibição enzimática os efeitos observados são todos contrários ao da indução enzimática: ● Aumento da meia vida, das concentrações séricas livres e totais e os efeitos farmacológicos. ● Diminui a velocidade de produção de metabólitos e a depuração total. Competitiva: quinidina -> CYP2D6 Não competitiva: cetoconazol -> CYP3A4 Oxidação por enzima p450: gestodene -> CYP3A4 / dietilcarbamato -> CYP2E1 Interações medicamentosas do propranolol e da varfarina Possui interação medicamentosa com fármacos que inibem a produção de enzimas microssomais. Potencializam o efeito desses fármacos por que esses dois medicamentos são alvos de enzimas microssomais, então se ela está inibida, seu efeito será maior. Propranolol - cimetidina, furosemida e clorpromazina → AUMENTO DOS EFEITOS ANTI-HIPERTENSIVOS. Erva de São João Itraconazol Cetoconazol Ritonavir Troleandomicina Varfarina - cimetidina, ciprofloxacina, imipramina, cotrimoxazol, cloranfenicol, salicilatos, metronidazol, amiodarona, azóis. Inibidores suicidas São inibidores que atacam diretamente o grupo heme ou a metade proteica da enzima. São eles: esteroides, fluroxeno, alobarbital, sedativos analgésicos, dietilpentenamida e etclorvinol, bissulfeto de carbono, ticlopidina, clopidogrel, ritonavir propiltiouracila e secobarbital. Fatores que influenciam na metabolização do fármaco a) Variabilidade individual: mesma quantidade por kg de peso. b) Fatores genéticos: traços que são herdados de modo recessivo autossômico e podem gerar variações enzimáticas (alélicas) que podem culminar na perda completa da atividade,redução da capacidade catalítica ou aumento da atividade (caso haja duplicação do gene). A resposta anômala gerada por uma alteração genética é denominada Idiossincrasia. Ex 1.: a deficiência hereditária da glicose-6-fosfato desidrogenase causa a não redução da glutationa oxidase, que gera hemólise nos pacientes que fazem uso de primaquina (antimalárico). Ex 2.: os diferentes tipos de raças podem causar polimorfismos entre os gentes CYP2A6, CYP2C9, CYP2C19 e CYP2D6. Ex 3.: polimorfismo da enzima de fase 2 N-acetiltransferase 2 que gera um fenótipo de acetilação lenta. c) Fatores ambientais: tendo como exemplo operários de indústrias que estão frequentemente expostos a certos pesticidas, pode-se afirmar que eles metabolizam alguns tipos de drogas mais rapidamente do que indivíduos não expostos visto que pesticidas são agonistas da CAR (fator nuclear do tipo 2) que é um indutor de enzimas do metabolismo. d) Idade e sexo: em indivíduos saudáveis, a idade está relacionada com a capacidade de realização do metabolismo visto que recém nascidos prematuros ainda possuem os principais órgãos envolvidos no metabolismo não totalmente desenvolvidos e os idosos possuem capacidade diminuída (função renal diminui cerca de 50% e ocorre uma redução não só do fluxo sanguíneo hepático como também das enzimas p450). e) Fatores mórbidos: doenças como doença hepática por álcool, hepatite, cirrose, esteatose hepática e hepatocarcinomas causam um comprometimento das enzimas p450. A insuficiência cardíaca grave causa diminuição da perfusão hepática. Hipertireoidismo pode aumentar a intensidade do metabolismo de alguns fármacos, enquanto o hipotireoidismo pode diminuir. o uso crônico de álcool pode induzir a oxidação de outros fármacos, enquanto altas concentrações circulantes podem inibir o metabolismo. ; causar disfunção hepática grave, comprometendo a capacidade metabólica hepática. Além disso, a intoxicação alcoólica aguda tende a inibir o metabolismo de fármacos, seja o indivíduo alcoólatra ou não f) Interações medicamentosas g) Dieta: uma dieta rica em proteínas aumenta a taxa de P450, já uma dieta rica em carboidratos diminui a taxa de P450. Outro exemplo são os alimentos grelhados com carvão e vegetais crucíferos que são indutores da enzima CPY1A. A ingestão de zinco, magnésio, ácido ascórbico e riboflavina também é um ponto fundamental na metabolização de fármacos pois são substratos para algumas reações ou constituinte de enzimas. Alguns fármacos (como fenobarbital e fenitoina), ainda, podem aumentar o metabolismo de nutrientes como a vitamina D, vitamina K e o ácido fólico. Excreção Os fármacos podem ser excretados sem nenhuma alteração ou na forma de metabólitos. Exceto os pulmões, os órgãos excretores eliminam mais eficazmente os compostos polares (hidrossolúveis) do que as substâncias altamente lipossolúveis. Assim, os fármacos lipossolúveis não são facilmente eliminados até que sejam metabolizados em compostos mais polares. Para os pulmões, o coeficiente de partição é o sangue e o ar. Por essa via são eliminados principalmente anestésicos locais como halotano, éter, etanol, óxido nitroso, sulfanilamida e sulfapiridina. Na bile são excretados fármacos como adriamicina, vincristina, estradiol. estriol. testosterona, digoxina, indometacina e clomifeno. O rim é o órgão que predomina a função de excreção dos fármacos, sendo os eliminados pelas fezes geralmente os fármacos de via oral ou que não conseguiram ser absorvidos corretamente no TGI. Para que o fármaco consiga ser excretado na urina é importante que ele esteja na sua fração livre, visto que a passagem de proteínas para a o filtrado glomerular é mínima. O aumento do fluxo sanguíneo, da taxa de filtração glomerular e a diminuição da ligação as proteínas plasmáticas são fatores que levam a uma excreção mais rápida de alguns fármacos. A excreção renal das drogas apresenta uma correlação com a capacidade de excreção de creatinina pelos rins (cp, cr = creatinina plasmática). ??????? Alguns fármacos (penicilinas, diuréticos tiazídicos e ácido úrico) podem ser transportados diretamente do sangue para o néfron por transporte ativo através de alguns transportadores como P-gp, MRP2, ATP (ABC), OAT e OCT. Obs.: os mecanismos de secreção tubular das drogas ácidas são independentes daqueles das drogas básicas. Importante: pacientes com comprometimento da função renal e pacientes idosos têm mais tendência a acumular fármacos em níveis tóxicos. A excreção dos fármacos pelo suor, pela saliva e lágrimas é quantitativamente desprezível. A eliminação por essas vias depende principalmente da difusão transcelular passiva de fármaco livre da forma lipossolúvel não ionizada pelas células epiteliais das glândulas e depende do pH. ● Excreção no leite materno: há uma tendência em ser excretado no leite fármacos básicos (como a eritromicina 8x) devido ao caráter básico do leite, assim como substâncias pequenas e não eletrolíticas (hidrossolúveis). Alguns dos fármacos excretados, que geram efeitos moderados a severos no lactente, são: álcool, sulfonamidas, barbitúricos, nicotina, hormônios esteróides, penicilina, cloranfenicol, tetraciclina, diazepam, etc. ● Reabsorção enterohepática = reciclagem do medicamento porque quanto mais reabsorver mais tempo vai durar o efeito. ● Os anticoncepcionais orais estão ligados a bile e é isso que faz eles serem eliminados nas fezes, mas as bactérias saprófitas intestinais desfazem a ligação do AC com a bile e isso faz com que ele seja reabsorvido. Quando se faz uso de antibióticos junto com o anticoncepcional ele perde a eficácia porque os antibiótico geralmente destroem a flora intestinal, fazendo com que não haja quebra da ligação do AC com a bile e ele rapidamente seja excretado. Drogas secretadas pelos túbulos renais Drogas que alcalinizam a urina: ● Inibidores da anidrase carbônica ● Citratos ● Bicarbonato de sódio ● Antiácidos com cálcio ou magnésio Ácidos que são depurados rapidamente e tornam a urina mais alcalina: ● Acetazolamida ● Nitrofurantoína ● Fenobarbital (ácido fraco) ● Probenecida ÁCIDOS ORGÂNICOS BASES ORGÂNICAS Ácido Salicílico Levorfanol Ácido P-aminossalicílico Pempidina Vermelho fenol Hexametônio Clorotiazida Procaína Fenobarbital Quinina Penicilina Quimacrina Tolazolina Petidina Anfetamina Mecamilamina ● Salicilatos ● Sulfatiazol Drogas que acidificam a urina: ● Cloruro amônico ● Ácido ascórbico ● Fosfatos de sódio ou potássio Bases que são depuradas rapidamente e tornam a urina mais ácida: ● Anfetamina ● Cloroquina ● Imipramina ● Levorfanol ● Mecamilamina ● Quinidina
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