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1 32 #4 A casa é o museu pág 22 Regina Silveira #5 Minha querida boneca pág 26 Jô da Sucata e Lia Menna Barreto #6 Que linha liga o meu coração ao teu? pág 30 Mitti Mendonça #7 Da terra ao prato pág 34 Jorge Menna Barreto #1 Mexendo o esqueleto pág 8 Maria Lídia Magliani #2 Vestígios dos dias pág 12 Marlies Ritter #3 Sento, logo desenho pág 16 Zoravia Bettiol #8 Caminhos coloridos pág 40 Bloco da Laje #9 Me conta uma história? pág 44 Anna Flávia Baldisserotto #10 Espalhando a palavra pág 48 Nervo óptico e Otacilio Camilo 1 a viagem Viagem para Dentro de Mim é um livro. Também é um exercício do olhar, um universo coletivo, uma forma de se relacionar com o dentro-fora. Viagem para Dentro de Mim foi construído a oito mãos e em poucos meses, fruto do desejo de dar às famílias e crianças um pouco de alento nesse período excepcional em que estamos vivendo. À ordem do dia - fique em casa -, propomos: viva a casa. Viagem para Dentro de Mim reúne dez exercícios lúdico-reflexivos que buscam explorar a expressão artística através da investigação de materiais e experiências cotidianas presentes no ambiente doméstico, tendo como inspiração obras de artistas locais. O livro é dividido em três esferas - corpo, casa e cidade -, que não deixam de ser três grandes casas (há tantas casas quanto ideias sobre o que consideramos um lar). Viagem para Dentro de Mim é um convite. Um aceno a vivermos nossos afetos, fazendo da casa espaço de troca e criação conjunta. Quantas coisas novas podemos encontrar nesse(s) território(s) tão comum(ns) a partir das lentes da arte? 32 como usar esse livro Viagem para Dentro de Mim é endereçado a crianças (de todos os tamanhos!) e também às suas famílias. Ele foi pensado para ser lido conjuntamente, convidando mães, pais e responsáveis a se engajarem nas criações propostas. Requer-se, sobretudo, a disponibilidade em acolher o que passa no mundo interno das crianças através de uma escuta ativa e participativa, fortalecendo os vínculos que nos unem, especialmente quando enfrentamos desafios juntos. Embora os exercícios não tenham sido pensados por faixa etária, acreditamos que ele pode ser melhor aproveitado por crianças a partir dos 5 anos. Aos adultos que irão ler este livro ao lado de uma criança, propomos algumas orientações de mediação das atividades: > não almeje um produto final a partir da proposição dos exercícios; o foco deve ser o processo e as descobertas que fazemos a partir dele > valorize as reflexões trazidas pela criança, elaborando novas perguntas a partir dos comentários tecidos por ela e instigando-a a compartilhar e registrar seu processo criativo > ao fazer uso de materiais tradicionais, como lápis ou canetinha, busque explorá-los ao máximo, tanto em relação à aplicação usual que deles se faz como à possibilidade de experimentá-los de outras formas > os exercícios são apenas um ponto de partida. incentive a liberdade e a autonomia da criança, dando-a espaço para seguir o exercício da forma que preferir, podendo, inclusive, subverter as orientações dadas e criar novas experiências a partir das propostas > embora o livro seja voltado às artes plásticas, ele dialoga com outras múltiplas formas do fazer artístico, como a música, a dança e a culinária. explore essas intersecções, expandindo as possibilidades de experimentação > ao final de cada atividade, dedique um tempo para conversar sobre as criações realizadas, lembrando que a leitura dos trabalhos jamais deve ser feita a partir de aspectos formais da produção artística, como algo ‘certo ou errado’, ‘feio ou bonito’ > com relação às obras-inspiração para as atividades, sugerimos que pais, mães e professores que vierem a utilizar esse livro em sala de aula, pesquisem sobre o artista e sua produção, localizando os contextos histórico, social, político e artístico com os quais ele se relaciona (no perfil do instagram do projeto @viagemparadentrodemim é possível acessar o perfil de todos os artistas que integram o livro) Além das orientações de mediação, todas as atividades presentes no livro contém um ou mais materiais de apoio endereçado às crianças e aos adultos como forma de expandir as reflexões propostas. 4 Eu sou muito diferente do meu corpo Ele é alto e magricela Eu sou de outras maneiras Ele caminha de frente Eu, para todos os lados Ele se banha em água Eu, me banho com risadas À noite ele dorme Eu, em sonho me transporto Ele fica mais velho Eu, estou sempre no zero Eu sou muito diferente do meu corpo Mas entre todos, o escolho Porque ele me deixa ver através dos seus olhos Jorge Luján Meu corpo e eu parte 1 76 Antes de se comunicarem com palavras, as pessoas se expressavam através de movimentos corporais. Podemos dizer muito sobre como nos sentimos a partir dos movimentos do nosso corpo, sem necessidade de falarmos em voz alta. Como quando estamos felizes, e damos pulos de alegria! É o corpo expressando nossos sentimentos. Obra-inspiração: Mundaréu (2006) Artista: Maria Lídia Magliani A dança é uma forma de arte baseada no movimento corporal. Ela está presente em diferentes situações da vida, dos rituais às festas. Quando dançamos, somos livres. Podemos dançar sozinhos ou acompanhados, com movimentos rápidos ou lentos. Em Mundaréu (2006), obra da artista Maria Lídia Magliani, vemos uma série de partes do corpo humano, objetos e formas não identificáveis. Podemos imaginar que são corpos dançantes, em uma grande festa. Pensando na situação evocada pela pintura, começamos nossa viagem soltando o corpo, fazendo da sala, do quarto ou mesmo da cozinha nossa pista de dança. material de apoio: Inspirada na pintura de Maria Lídia, criamos uma playlist para ser a trilha sonora da sua dança, com músicas que são uma delícia para mexer o esqueleto. Convidamos a Luanda Dalmazo, historiadora da arte e autora da pesquisa intitulada ‘Maria Lídia Magliani: uma trajetória possível’ para falar um pouco sobre a artista e a obra Mundaréu. Para conferir o relato em vídeo, clique aqui. Mundaréu (2006). Óleo sobre tela. Acervo do Museu Afro Brasil. https://open.spotify.com/playlist/4Q3OfxglqjCzHgJ7Yb9v8H?si=fo3OQRSUS0KuwBjSfNYFRA https://www.instagram.com/tv/CFlCzlBHsY9/ 98 1 2 3 4 5 6 7 exercício 1 Estabeleça um espaço de casa para ser a sua pista de dança. Pode ser o quarto ou a sala, ou ainda um lugar diferente, onde você nunca tenha dançado - dentro do box do banheiro, na área de serviço. Observe com atenção o lugar escolhido. Ele é grande ou pequeno? Que tipos de movimentos consigo fazer dentro desse espaço? Escolha uma música que você goste para ser a trilha sonora da sua dança. Você também pode experimentar dançar em silêncio. Faça pequenos movimentos para soltar o corpo, como mexer o pescoço de forma circular, com cuidado, ou balançar os braços ao redor do corpo. Sinta o ritmo da música e, aos poucos, ative cada pedacinho do corpo, envolvendo todas as partes dele na sua dança. Não fique parado no mesmo lugar! Aproveite o espaço escolhido para explorar cada canto dele na sua dança – seja esse espaço grande ou pequeno –, fazendo movimentos próximos do chão ou para cima, pulando. Escolha uma parte do corpo para comandar a dança e ditar os movimentos do resto do corpo (ex: nariz, joelho, mão). Imagine que essa parte está te puxando e conduzindo todos os seus movimentos corporais. Junto de alguém de sua família, experimente fazer uma dança a dois (ou três! ou mais!), criando movimentos que se combinam. 1110 Uma das coisas que mais fazemos em casa é tomar banho. Na hora de lavar os cabelos, alguns fios caem e vão embora pelo ralo. Quando penteamos os cabelos, é normal que alguns fios caiam também. Volta e meia encontramos eles perdidos pela casa, nossos e das pessoas que vivem com a gente. Onde será que eles vão parar? Obra-inspiração:Perdas (2019) Artista: Marlies Ritter Observe o seu cabelo e o de sua mãe, pai, irmãos, avós. Você consegue perceber a diferença de um fio de cabelo seu e de sua mãe, por exemplo? Seu cabelo é igual ou diferente do dela? Há alguém na família com o cabelo parecido com o seu? Quantos tipos de cabelo podem existir? Estamos tão acostumados com a presença desses fios que saem de nossas cabeças que muitas vezes não pensamos que o cabelo, além de ter funções próprias, como a de nos proteger dos raios de sol, também contam histórias sobre nós e nossos antepassados. Perdas (2019). Cabelos bordados em feltro. 1312 material de apoio: No curta-metragem de animação Hair Love, vemos a história da menina Zuri e sua relação com seus cabelos. Tudo começa quando Zuri pula da cama, veste sua roupa de bailarina e decide transformar seus cabelos crespos em um arranjo de tranças. Assim como a obra de Marlies, Hair Love nos diz sobre os pequenos sentidos da vida contidos em situações cotidianas como pentear os cabelos. 1 Observe os materiais, marcas, vestígios e pistas presentes na sua casa, sobretudo aqueles que não costumamos dar tanta atenção ou que se perdem nas atividades do dia-a-dia, como os fios de cabelo. Pode ser mesmo um resíduo reciclável ou orgânico - cascas de alimentos, embalagens de produtos, saquinhos de chá. 2 Convide os demais integrantes da sua família a fazerem o mesmo exercício de atenção e busca. Peça que eles separem uma ou mais coisas que podem servir de material para uma futura criação. 3 Dedique um tempo para compartilhar os achados de cada um. Pergunte a si e às outras pessoas que estiverem com você: por que determinado material foi escolhido? O que nesse material despertou a sua atenção? 4 A partir da conversa e dos materiais encontrados, desenvolvam uma criação coletiva. exercício 2Nossos fios de cabelo não caem somente quando tomamos banho ou o penteamos. Nas épocas frias do ano, como o inverno, é natural que os fios caiam com mais frequência. Se passamos por uma situação de estresse ou estamos muito sensíveis, nosso corpo sente e alguns fios podem cair. seu cabelo começou a cair. Ela passou a juntar os fios que se desprendiam, guardando eles em rolinhos dentro de uma caixa de sabonetes. Um dia, reuniu todos os rolinhos, e junto de um pedaço de feltro e de uma linha, construiu a obra Perdas (2019). Quando a artista Marlies Ritter saiu da casa onde passou toda a sua vida para viver em um apartamento, a mudança foi muito difícil para ela. Por causa do estresse, Assim como Marlies fez com seus fios de cabelos, o que mais podemos inventar e construir a partir de vestígios e pistas presentes no cotidiano de nossa casa? https://www.youtube.com/watch?v=kNw8V_Fkw28&feature=emb_title 14 É provável que nunca tenhamos passado tanto tempo dentro de casa. Na maior parte do dia, ficamos sentados. Comendo, lendo, conversando, assistindo tv… Quanto tempo de nossas vidas será que passamos sentados? E quantas são as possibilidades de coisas que podemos fazer quando estamos assim, seja sob o sofá ou a cadeira? Em Sentar, Sentir, Ser (2006- 2015), a artista Zoravia Bettiol reflete sobre a passagem do tempo. Ela se fotografa em situações engraçadas, Obra-inspiração: Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015) Artista: Zoravia Bettiol fazendo diferentes gestos, mas todos com uma característica comum: possíveis de serem feitos sentados. A partir da posição fotografada, a artista complementa a imagem com cenários, objetos e cores, misturando fotografia, desenho, pintura e colagem. Tendo como inspiração a obra de Zoravia, esse exercício propõe a criação de um autorretrato onde apareçamos sentados. Esse autorretrato pode ser em desenho, pintura ou mesmo fotografia*. Além de nos desenharmos, é interessante que exploremos o espaço do entorno, inserindo elementos, cores e formas que conversem com o nosso autorretrato, como Zoravia faz em suas obras. Eu sou só aquilo que vejo? Como os outros me vêem? 1 2 3 1 Estudar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica. 2 Trabalhar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica. 3 Criar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica. 17 1 Escolha um espaço de sua casa onde você possa se sentar. 2 Separe um espelho, grande ou pequeno, e coloque-o na sua frente. Caso você não consiga mover o espelho de casa, coloque um banco em frente à ele, ou sente-se no chão. 3 Passe um tempo olhando o seu reflexo no espelho, percebendo cada detalhe do seu rosto. Nesse exercício de auto-observação, repare em cada traço - olhos, boca, nariz. Não tenha pressa. (pense no exercício 2 do livro, onde falamos sobre fios de cabelo que contam histórias sobre nossa família. Tem algo do seu rosto que se pareça com o rosto da sua mãe ou do seu pai?) 4 Passado esse primeiro momento de observação, separe os materiais que você irá utilizar para criar o seu autorretrato. Pense sobre como deseja se desenhar, brincando com as possibilidades de movimentos que você pode fazer sentado, assim como Zoravia faz em sua obra. 5 Por fim, experimente colocar outros elementos, como cores e formas, ao redor do seu desenho, criando uma colagem a partir do retrato. Você pode desenhar o espaço da sua casa onde você se encontra ou inventar um novo cenário para ser o pano de fundo do seu autorretrato, como um lugar que você gosta de estar ou algum outro que desejasse que existisse. 6 Depois de fazer seu autorretrato, que tal desenhar um retrato de outra pessoa da sua família? Convide alguém que more com você para uma sessão de desenho, em que um desenha o outro. exercício 3 material de apoio Frida Kahlo foi uma artista mexicana que ficou conhecida pelos seus autorretratos. Ela sofreu um acidente ainda jovem, e teve que passar muito tempo de sua vida deitada. Como ela não podia se mover com tanta frequência, começou a pintar. Em episódio do podcast Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes, conhecemos um pouco sobre a vida e a obra de Frida. Você já ouviu falar em selfie? Selfie é o nome em inglês dado para uma fotografia, geralmente digital, que uma pessoa tira de si mesma. A selfie nada mais que é um autorretrato! Antigamente, quando não existiam celulares nem mesmo câmeras, a pintura e o desenho desempenhavam a função de retratar as pessoas. Esse exercício de pintar ou desenhar alguém levava bastante tempo. Com o surgimento da fotografia, a prática da pintura de retratos acabou se perdendo. Que tal criar uma série de autorretratos usando diferentes suportes? Caso você tenha uma câmera ou um celular à disposição, experimente se fotografar em diferentes ângulos e cenários, fazendo poses ou caretas engraçadas. https://open.spotify.com/episode/5s00dxXekVUi8IkMXx6I0g?si=qWzqcbUYRtSnCnKHGObS-g 1918 Ela procura estudar o modo como a luz se distribui pelos cômodos a certas horas e dar-se conta dos pontos de convívio entre o dentro e o fora (...) uma casa, uma membrana entre o corpo e a noite, um filtro para as formas do mundo anteparo contra os golpes do dia, onde as vigas se põem a cantar ela aqui se sente mais exposta mais exterior do que interior como se a casa não fosse doméstica como se morar fosse uma afronta à intensidade do dia Ana Martins Marques Como se fosse a casa (uma correspondência) parte 2 2120 Fios de cabelo, espelhos, música, dança. Agora que ativamos nossos sentidos, é hora de olharmos com mais atenção para eles: os objetos. Nossa casa é cheia de objetos! A panela que usamos para cozinhar, as cadeiras que usamos para sentar, o pente para pentear, a tesoura para cortar. Dos maiores aos menores, quantos objetos será que uma casa só pode guardar? Anamorfas (1990) é o nome dado a uma série de trabalhos da artista Regina Silveira, em que ela fotografa e desenha Obra-inspiração: Anamorfas(1990) Artista: Regina Silveira (Porto Alegre/RS, 1939) objetos cotidianos a partir de diferentes ângulos, brincando com a aparência das formas das coisas. Seus desenhos causam uma sensação de estranhamento, provocado pela representação de determinado objeto que em nada se parece com a imagem que temos dele. Se pararmos pra pensar, a ideia que temos de uma mesma coisa nem sempre é igual a das outras pessoas. Quando você pensa em uma xícara, por exemplo, que imagem lhe vem à cabeça? Experimente fazer essa pergunta a alguém da sua família e peça que cada um desenhe em detalhes a imagem que tem de uma xícara. Desenhe a sua também e compare os desenhos entre si. Será que as xícaras serão exatamente iguais? Partindo dessa nossa relação com os objetos, propomos que você explore os objetos presentes na sua casa, descobrindo qual ou quais histórias eles carregam consigo. material de apoio: o Museu das Coisas Banais, criado em 2014, busca preservar todo e qualquer objeto banal que tenha algum valor afetivo, pertencente a qualquer pessoa, como portadores de memória e formadores de identidade. O acervo do museu é inteiramente virtual, composto de eventos, lugares, pessoas, sentimentos, trecos, troços e coisas. No site, há uma espaço para você cadastrar seu objeto e integrá-lo ao acervo do museu. Para ver a série Anamorfas, clique aqui https://museudascoisasbanais.com.br/ https://reginasilveira.com/ANAMORFAS 2322 1 Olhe com atenção para os objetos presentes na sua casa e escolha um que tenha algum significado especial para você, como um brinquedo ou uma roupa que você goste. 2 Analise as características materiais desse objeto. Ele é grande ou pequeno? Novo ou velho? Leve ou pesado? Que textura ele tem? Existe nele alguma marca do tempo ou do uso? 3 Em seguida, pense sobre a história desse objeto. De onde ele veio? Quem o fabricou? Como esse objeto chegou até a minha casa? O que faz dele tão especial? O que ele diz sobre mim? 4 Depois de investigar cada parte do objeto escolhido, faça uma releitura dele ou a partir dele, isto é, crie uma obra sua tendo como inspiração o trabalho de Regina. Você pode observar esse objeto de diferentes ângulos e sob diferentes luzes, desenhando-o em perspectivas diversas, como a artista faz. Além do desenho, experimente outras formas de brincar e se relacionar com o seu objeto, como: * Crie uma história fictícia para aquele objeto, registrando-a em detalhes. (Ex: um vestido que você goste e que, antes de ser seu, pertenceu a uma rainha que vivia num planeta distante) * Utilize esse objeto para algo que não foi designado, explorando suas possibilidades de uso para além do utilitário. (Ex: o que posso fazer com um pente além de pentear o cabelo?) Você já pensou em como certos objetos podem ser vistos como coisas banais ou sem importância para algumas pessoas e para a gente terem um significado muito especial? Uma coisa pode ser banal e ao mesmo tempo não ser, dependendo da relação que estabelecemos com ela. Um brinquedo que você ganhou de presente no seu aniversário de alguém querido, por exemplo. Para uma outra criança, pode ser um brinquedo qualquer, mas para você não, pois existe um valor afetivo. Esse valor dificilmente pode ser medido ou mesmo entendido por quem não o sente. E será que esses objetos especiais para você, sua mãe ou seu pai poderiam estar em um museu? O que torna um objeto valoroso, digno de ser preservado? exercício 4 5 Convide as outras pessoas da sua família a também escolherem um objeto que seja especial para elas. Façam uma roda de conversa e compartilhem as histórias sobre os objetos selecionados. 6 A partir desses objetos, escolham um canto da casa para transformarem em um pequeno museu, onde ficam expostos os objetos mais especiais de cada um. 2524 Na lista dos nossos afetos de infância, os bonecos ocupam um lugar especial. Eles são o centro de muitas de nossas brincadeiras, nos acompanham na hora de dormir ou quando vamos à escola. Às vezes nos apegamos a certos bonecos de tamanha forma que eles deixam de ser apenas brinquedos, tornando- se amigos e fiéis companheiros. Você tem ou teve algum boneco que marcou a sua vida? Como ele se chama? De que modo se parece? Certo dia, a artista Lia Menna Barreto resolveu fazer uma boneca para sua filha, que há pouco viera ao mundo. Desse primeiro gesto, Lia iniciou Obras-inspiração: Diário de uma Boneca e Zabelê Beremi Bambata – a Menina de Sucata Artistas: Lia Menna Barreto (Rio de Janeiro/RJ, 1959) e Jô da Sucata (Cachoeira do Sul/RS, 1974) um hábito que manteria por mais de um ano: todos os dias, a artista ia ao seu ateliê e fazia uma boneca. Resistentes ou delicadas, tristes ou alegres, coloridas ou pálidas, cabeludas ou carecas. Para construí-las, a artista utilizava os materiais que tivesse em casa: papel alumínio, madeira, panos, pauzinhos de picolé. Ela recortava, costurava e remendava, dando a cada boneca características únicas. Desse exercício, gerou uma coleção de muitas bonecas (aproximadamente 400!), que participaram de uma fase importante de sua vida. Assim nasceu Diário de uma boneca (1998). No livro Zabelê Beremi Bambata – a Menina de Sucata, a artista Jô da Sucata explora as possibilidades da arte com sucata através da literatura, pensando temas como a diversidade humana e a educação ambiental. Zabelê Beremi Bambata é a protagonista da história; uma menina que vive uma vida feliz com sua família. Em busca de novas aventuras, ela resolve criar amigos a partir de sucatas. Delas surgem uma infinidade de bonecos - palhaços, animais, seres fantásticos. O livro é um convite a explorarmos nossa imaginação e darmos nova vida a materiais que poderiam parar no lixo, criando nossos próprios bonecos. Você sabe o que é um diário? Diário é um tipo de texto pessoal, geralmente em formato de caderno, onde escrevemos sobre sentimentos, pensamentos e acontecimentos da nossa vida. O diário, na maioria das vezes, é algo íntimo. Além de ser uma forma de registrarmos a passagem dos dias, ele permite que conversemos com nós mesmos através da escrita. Por que será que a artista Lia Menna Barreto deu nome de ‘Diário de uma boneca’ para a obra aqui mencionada? Será que é possível criarmos um diário que seja feito de alguma outra forma que não através da escrita em um caderno? Quais são as possibilidades de marcarmos a passagem do tempo e registrarmos os nossos sentimentos? Jô, acima, e Lia, na segunda imagem, com suas criações 26 1 Separe tecidos, revistas, sucatas, brinquedos que já não são usados e outros materiais que estiverem disponíveis na sua casa. 2 Com esses materiais em mãos, imagine o boneco que você gostaria de construir. Você pode começar desenhando o projeto do seu boneco no papel. 3 Pense sobre cada detalhe do boneco - cor, tamanho, expressão. Busque referência em corpos não humanos, como bichos e plantas, para inspirar a criação do seu boneco. Não se atenha a padrões - o divertido é subvertê-los. Lembre-se: um boneco não precisa ter dois olhos, um nariz e uma boca. (Já imaginou uma boneca com orelhas na barriga e pés que são como as raízes de uma árvore?) 4 Experimente criar uma história para esse boneco, dando a ele um nome e imaginando como seria a sua personalidade. exercício 5 material de apoio: Como trabalhar com bonecos para uma abordagem pedagógica multicultural e inclusiva discorre sobre a importância dos bonecos para a expressão dos sentimentos e construção de identidade das crianças. acima, Diário de uma boneca (1990), e abaixo, obras da Jô https://educacaointegral.org.br/metodologias/trabalhar-bonecos-abordagem-pedagogica-multicultural-inclusiva/ https://educacaointegral.org.br/metodologias/trabalhar-bonecos-abordagem-pedagogica-multicultural-inclusiva/ 2928 Registrar momentos especiais presentes no cotidiano e preservá-los é uma das principais intenções de quem tirauma fotografia. Tiramos fotos dos familiares e amigos, dos nossos animais de estimação, de viagens que fazemos durante as férias. Um tipo de fotografia que se popularizou há muitos anos é o retrato (falamos um pouco sobre ele no exercício 3, lembra?), de casais, crianças e famílias, que frequentemente o enviavam a parentes e amigos mais distantes. Os retratos de família também nasceram com o intuito de preservar a memória familiar ao longo do tempo. Geralmente reunidas em álbuns, essas fotografias permitem que cada família construa uma história de si mesma. Através dos álbuns, também podemos conhecer os rostos de nossos antepassados. Em Irani (2017), obra da artista Mitti Mendonça, vemos a fotografia de uma mulher. Essa mulher é a tia de Mitti por parte de mãe, que era benzedeira. Obra-inspiração: Irani (2017) Artista: Mitti Mendonça (São Leopoldo/RS, 1990) Irani foi um dos seus primeiros trabalhos baseados na história das mulheres de sua família. Mitti utiliza outros materiais para compor a obra, como lantejoulas e tintas, que conversam diretamente com a figura de Irani. É uma obra que fala de memória e afeto, convidando-nos a pensar sobre as pessoas que fazem parte de nossa família e como podemos ressignificar esses retratos familiares a partir da arte. material de apoio: Que tal explorar o universo de outras artistas cuja poética conversa com o trabalho de Mitti? Rosana Paulino é uma artista, pesquisadora e educadora que também incorpora em sua obra memórias pessoais, pensando temas como identidade e ancestralidade a partir de referências da cultura afro-brasileira. Ela também utiliza as técnicas de bordado e fotografia em suas produções. veja: vídeo Ateliê da Artista: Rosana Paulino; entrevista ‘Ser artista negra: o olhar de Rosana Paulino sobre passado, presente e futuro’. Outra artista que trabalha por meio da costura e do bordado é a mineira Sonia Gomes, que recria as tradições a partir de sua memória afetiva, construindo sua obra com aquilo que é rejeitado ou ignorado, emprestando uma nova vida a esses materiais. A partir de tecidos antigos, arames, rendas e linhas, Sonia borda e transforma. veja: vídeo Ateliê da Artista: Sonia Gomes. Uma das técnicas usadas em Irani é o bordado. No bordado, o pincel é a agulha, as tintas são a linha e a tela, o tecido. Mitti conta que essa técnica entrou na sua família há quase 100 anos, a partir de sua avó Castorina. Através do selo Mão Negra Resiste, a artista busca valorizar a história do bordado em suas produções. Ao longo do tempo, essa técnica passou a estar diretamente ligada às práticas associadas ao gênero feminino e questões do ambiente doméstico. No bordado, as histórias de vida de mulheres e os saberes ligados ao fazer artesanal são reconhecidos e interligados. Através dele, elas narram e bordam suas histórias. Existe alguém na sua família que saiba bordar? Como essa pessoa aprendeu esse ofício? Há quanto tempo ele circula dentro de sua família? (No perfil do Instagram do Viagem para Dentro de Mim, compartilhamos na íntegra um relato de Mitti sobre a obra. Para conferir, clique aqui) https://www.youtube.com/watch?v=lTdnSyqWv1A&feature=youtu.be https://www.sp-arte.com/editorial/ser-artista-negra-o-olhar-de-rosana-paulino-sobre-passado-presente-e-futuro/ https://www.sp-arte.com/editorial/ser-artista-negra-o-olhar-de-rosana-paulino-sobre-passado-presente-e-futuro/ https://www.youtube.com/watch?v=JoHMrbEWnZ4&feature=youtu.be https://www.instagram.com/tv/CFx5u71HKwk/ 3130 1 Pergunte para alguém de sua família se existem álbuns ou fotografias familiares na sua casa. Juntos, separem essas fotos e reservem um tempo para olhá-las com calma, observando as figuras presentes e descobrindo qual o seu grau de parentesco com elas. 2 Peça que sua mãe ou seu pai lhe conte as histórias dessas fotografias. Quem são as pessoas presentes nas fotos antigas de sua família? Como foram suas vidas? Quais histórias elas têm para lhe contar? O que elas podem lhe ensinar? (Ao olhar para essas fotos, pense nas redes em que estamos ligados, fazendo uma correlação com os exercícios 2 e 3, onde falamos sobre os fios de cabelo e os traços de nosso rosto que nos lembram de outras pessoas da família. Nas fotografias, é possível enxergar alguma semelhança entre você e algum antepassado? Há alguém na sua família que se pareça com você, com sua mãe, seu pai, seu irmão ou irmã?) 3 Escolha uma ou mais fotografias de algum desses álbuns e convide sua família para fazer uma criação conjunta a partir dela(s). Experimente utilizar diferentes técnicas e materiais na sua obra, como a colagem, a pintura e o bordado, inspirando-se no trabalho de Mitti. Pense sobre como esses materiais conversam com a fotografia escolhida. exercício 6 Irani (2017). Acrílica, bordado e colagem. 3332 Se tem uma coisa que todo mundo gosta de fazer é comer. Descobrir sabores, inventar receitas, dividir uma refeição com a família ou com os amigos. Do preparo à hora de ir para a mesa, todas os momentos que envolvem comida costumam ser repletos de carinho. E antes de chegar a nossa casa, quais caminhos os alimentos percorrem? Para a edição de 2016 da Bienal de São Paulo, uma grande exposição de artes que ocorre a cada dois Obra-inspiração: Restauro (2016) Artista: Jorge Menna Barreto (Araçatuba/SP, 1970) anos no Brasil, o artista Jorge Menna Barreto construiu um restaurante. Nele, eram servidos apenas alimentos orgânicos vindos de comunidades de pequenos agricultores. Além das comidas, preparadas a partir de ingredientes cuidadosamente escolhidos, no restaurante podiam-se ouvir gravações de sons registrados em agroflorestas, dando aos visitantes a sensação de se estar em meio à natureza, na companhia de plantas e bichos. A ideia do artista era criar uma experiência completa sobre o ato de comer, envolvendo todos os sentidos do nosso corpo, pensando a alimentação como uma questão coletiva, ambiental, cultural e social. Isso porque nossos hábitos alimentares têm consequências e impactam diretamente o meio ambiente. Você já parou para pensar de onde vem a comida? Do supermercado, da feira, da terra? Quem produz esses alimentos? De que forma eles são plantados e cultivados? Hoje, vemos crescer ao redor do mundo um modo de cultivo e produção de alimentos extremamente prejudicial à natureza, que acaba por reduzir a biodiversidade do nosso planeta e provocar desastres ambientais, como queimadas e desmatamento de florestas. Como alternativa a esse modelo, surgem iniciativas de pequenos agricultores que buscam estabelecer uma relação mais próxima e responsável com o alimento e com a natureza, respeitando os seus ciclos. Depois de cultivados e colhidos, parte desses alimentos viaja até às cidades para ser vendido em feiras de agricultura familiar. Assim como em Restauro (2016), esse exercício propõe que criemos uma relação atenta com a comida, convidando-nos a refletir sobre nossas escolhas alimentares. Para ver o registro da obra Restauro, clique aqui http://cargocollective.com/jorgemennabarreto/Restauro-32-Bienal-SP 3534 1 Pesquise as feiras ecológicas que existem na sua cidade. Há alguma perto da sua casa? Escolha uma delas e combine uma ida com a sua família. (No site feirasorganicas.org.br é possível localizar as feiras ecológicas da cidade de Porto Alegre) exercício 7 material de apoio: Comida Que Alimenta, desenho animado sobre agroecologia, fruto do projeto Trabalho, Renda e Sustentabilidade no Campo. Com linguagem acessível, o vídeo aborda a importância de se valorizar a produção local, o comércio solidário, a agricultura agroecológica e a cultura das feiras, trazendo informações importantes para crianças e adultos. Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento que reúne os princípios e as recomendações de uma alimentação adequada e saudável para a população brasileira,configurando-se como instrumento de apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS e de outros setores. Comidas Sensoriais: aroma, textura e sabor para todo o lado - receitas gostosa de comidas características das festas juninas, umas das principais festas da cultura brasileira. 4 No momento da refeição, compartilhem suas impressões sobre os sabores presentes na comida. Para criar uma experiência completa, como Jorge Menna fez em Restauro, você pode escolher uma trilha sonora especial para acompanhar o momento da refeição, com alguma música ou som que você imagine combinar com a receita escolhida. 5 Finalizada a refeição, observe os resíduos orgânicos provenientes dos alimentos que por algum motivo não foram utilizados na receita, como cascas e caroços. O que podemos fazer com o que sobra? (Lembre do exercício 2, em que a artista Marlies Ritter utiliza materiais provenientes de atividades cotidianas para a criação de seu trabalho) 2 Ao chegar na feira, observe com atenção a movimentação de quem passa. Perceba os sons e cheiros do entorno. Passeie pelas bancas e olhe as frutas e verduras disponíveis. Converse com os produtores e peça que eles lhe contem sobre o seu processo de plantio e cultivo. Pergunte como e com quem eles aprenderam a plantar. 3 Em casa, pense em uma receita que você goste e convide sua família para um preparo coletivo, utilizando os alimentos provenientes da feira. https://feirasorganicas.org.br/ https://www.youtube.com/watch?v=z6xAkNPV3QI&feature=emb_title https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf https://lunetas.com.br/comidinhas-sensoriais-diversao-e-sabor-para-todo-o-lado/ 3736 (...) Olha aquela bola A bola pula bem no pé No pé do menino Quem é esse menino? Esse menino é meu vizinho Onde ele mora? Mora lá naquela casa Onde está a casa? A casa tá na rua Onde está a rua? Tá dentro da cidade Onde está a cidade? Tá do lado da floresta Onde é a floresta? A floresta é no Brasil Onde está o Brasil? Tá na América do Sul No continente Americano Cercado de Oceanos E das terras mais distantes De todo o planeta E como que é o planeta? O planeta é uma bola Que rebola lá no céu Palavra Cantada, Ora Bolas parte 3 3938 Quando você pensa na maior festa popular brasileira, qual nome lhe vem à cabeça? Difícil que não seja esse: carnaval. De norte a sul do Brasil, o carnaval movimenta multidões. Quando se aproxima o mês de fevereiro, preparamos nossa melhor fantasia e nos dirigimos às ruas para pular essa grande festa. Obra-inspiração: cortejo do Bloco da Laje Artista: Bloco da Laje Em Porto Alegre, os cortejos pré-carnavalescos contam com uma presença especial: o Bloco da Laje, um coletivo teatral e movimento cultural urbano que, a cada ano, sai pela cidade buscando sua própria forma de brincar. Colorido e pulsante, o Bloco nos convida a celebrar a vida através de uma experiência artística compartilhada, onde cada um e cada uma se torna parte da festa. Fo to : M ar tin o Pi cc in in i 4140 exercício 8 Pensando nesses movimentos coloridos de ir e vir entre bairros, ruas e vielas, esse exercício propõe que você construa um trajeto/ mapa pessoal e afetivo de Porto Alegre, como faz o Bloco da Laje em sua saída anual. Afinal, o que faz de Porto Alegre a sua cidade, além do fato de você morar nela? Qual relação você estabelece com esse lugar? Quais aspectos de Porto Alegre você gostaria de mudar e por que? Não seria a cidade nossa grande casa? 1 Pense sobre os pontos da cidade que ocupam um lugar especial no seu coração. Pode ser um parque que você goste de visitar, a casa de um amigo, a escola onde você estuda. Você pode registrar esses lugares em uma folha conforme eles vierem à mente, ou experimentar olhar para o mapa de Porto Alegre e anotar esses pontos a partir de cada bairro ou região. 5 Crie um nome especial para o seu bloco de carnaval, pense sobre as cores das fantasias e nas músicas que você gostaria que fizessem parte do repertório da sua festa. 2 Depois de anotar cada um dos lugares, desenhe a rota do seu cortejo. Escolha um ponto da cidade para começar e outro para terminar, escolhendo cada uma das paradas. Você pode procurar por um mapa da cidade e desenhar sua rota diretamente nele. 3 Ao traçar o trajeto do seu bloco, pense sobre as características do entorno desses lugares. Como é o cenário dessas ruas? Existem mais prédios ou mais casas? As ruas são largas ou estreitas? Quando você pensa nesses pontos, que outras lembranças vêm à sua cabeça? Algum cheiro ou som familiar que você relacione a eles? 4 Converse sobre esses lugares da cidade com as pessoas da sua família e as convide para também desenharem um mapa afetivo. Será que existem pontos iguais ou próximos com o seu? É possível que seus cortejos se encontrem entre um percurso e outro? material de apoio: A publicação O Glicério por suas crianças, fruto do projeto Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério, reúne relatos, desenhos e memórias de crianças sobre o bairro Glicério. A iniciativa é fruto do trabalho de educadores, urbanistas e psicólogos que, ao lado dos pequenos, elaboraram um mapeamento afetivo da região. https://issuu.com/portalaprendiz/docs/publica____o-online-glic__rio-por-s https://issuu.com/portalaprendiz/docs/publica____o-online-glic__rio-por-s 4342 Você já deve ter visto circular pela cidade aquelas carrocinhas que vendem churros, pipoca, algodão doce ou cachorro-quente. Já imaginou se existisse uma carroça que vendesse desenhos, fotografias e outras miudezas em troca de uma história? Essa é a aventura que A Carroça de Histórias Ambulantes vive pelas ruas de Porto Alegre. A experiência começou em 2007, a partir do desejo da artista e professora Ana Flávia Baldisserotto. Nessa carroça não circula dinheiro. Ela funciona assim: você conta uma história (qualquer história!) e, em troca, recebe um desenho, um cartão postal, uma fotografia – peças únicas, feitas de forma artesanal, que são oferecidas àqueles que sentirem de compartilhar sua história com A Carroça, que pode ser tanto falada quanto escrita. Todos esses relatos são incorporados ao acervo d’A Carroça, gerando uma microeconomia poética que faz circular pedaços de memórias, sonhos e experiências. Obra-inspiração: A Carroça/Armazém de Histórias Ambulantes (2007 -) Artista: Ana Flávia Baldisserotto (Caxias do Sul/RS, 1972) a ilustração acima foi retirada do site do projeto A Carroça Para essa atividade, propomos que você seja a sua própria carroça de histórias ambulantes, oferecendo algo feito por você em troca de um relato (escrito ou falado). Quantas histórias não estão por aí esperando para serem contadas? http://www.historiasambulantes.com.br/ 4544 exercício 9 1 Pense sobre onde, quando e com quem você vai iniciar sua busca por histórias. Você pode começar pela sua família e vizinhos, sejam eles de porta, rua ou bairro. Peça que eles te contem a história sobre como e quando eles se mudaram para o mesmo edifício/rua/bairro que você. Ligue para seus familiares e amigos que você não vê há bastante tempo. (No exercício 8, propomos a criação de uma rota/mapa pessoal da cidade. Que tal construir um mapa afetivo do seu bairro a partir desse contato com os seus vizinhos? Com base nas histórias de cada um, você pode explorar mais da relação dessas pessoas com o entorno, quais percursos fazem parte do seu dia-a-dia, que lugares do bairro elas costumam frequentar, etc.) 2 Elabore a sua moeda de troca - aquilo que você vai dar às pessoas em troca delas te contarem uma história. Ela pode ser material, como um desenho ou uma comida preparada por você, ou algo subjetivo, como um abraço ou uma dica de leitura. Dá até para pensar em algo relacionado à história contada, do tipo: a pessoa te conta determinada história e você faz um desenho inspirado nela, a serentregue como forma de retribuição. 3 Crie um acervo dessas histórias. Reúna esses relatos compartilhadas com você e registre-os de alguma forma, em texto, áudio ou vídeo. material de apoio: A escuta é um encontro e a Rádio Carroça é um podcast nascido da vontade de registrar as escutas que permeiam o projeto Carroça de Histórias Ambulantes. Ao longo de oito episódios, a artista Ana Flávia Baldisserotto conta sobre a sua experiência de andar pelas ruas da cidade com uma banca de escuta e de trocas. O podcast é resultado da parceria entre o coletivo A Carroça, o Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura de Porto Alegre e o grupo de pesquisa em Jornalismo Digital da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. http://www.historiasambulantes.com.br/radio-carroca/ 4746 Faça-você-mesmo. Um movimento que nos convida a fazer as coisas com nossas próprias mãos, de forma caseira, a partir de materiais que temos à nossa disposição. Por volta de 1950, o conceito de faça-você-mesmo se espalhou por vários cantos do mundo, sendo um grande aliado do movimento anti consumismo - ao invés de comprar, por que não criar? A ideia de construirmos algo com nossas próprias mãos, reaproveitando materiais cotidianos e inventando diferentes formas de fazer essas criações se espalharem, teve profundos reflexos nas artes plásticas e na música, expandindo suas fronteiras. Obras-inspiração: cartazetes do Nervo Óptico e as caixinhas de fósforo de Otacílio Camilo Artistas: Nervo Óptico e Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959 - 1989) Em meados dos anos 1970, no Rio Grande do Sul, nascia o Nervo Óptico, um movimento de artistas de vanguarda. Durante pouco mais de um ano, o coletivo de artistas produziu, a cada mês, uma publicação em formato de pequenos cartazes, que eram distribuídos de forma gratuita. Esses cartazes continham trabalhos especiais de artistas do grupo ou convidados. Algum tempo depois, surgia em Porto Alegre o Espaço N.O (em referência ao grupo Nervo Óptico), centro cultural alternativo que organizava uma série de eventos multi artísticos - cursos, palestras, concertos musicais, exposições - e por onde circulavam artistas de todo o canto. Mais do que tudo, o Espaço N.O funcionou como um lugar de encontro e experimentação, onde artistas se reuniam para compartilhar suas ideias e criações. Um dos artistas que frequentava o Espaço N.O era Otacílio Camilo. Ele adorava fazer experimentos com as artes visuais, a música e o teatro, utilizando diferentes técnicas e linguagens, como gravura, poesia, colagem e fanzines* para produzir obras que denunciavam questões sociais e políticas da época. Pensando em fazer suas produções circularem, Otacílio criou uma forma própria para distribuir seus trabalhos, com forte influência do movimento faça-você- mesmo. Seus poemas e desenhos vinham em suportes inusitados, como caixinhas de fósforo e guardanapos. *fanzine ou zine é um tipo de publicação despretensioso, de baixo custo e possível de ser feito em casa, cujo principal objetivo é ‘espalhar a palavra’ de suas e seus autores. 1. Cartaz Nervo Óptico, nº 6 (1977). Fonte: Galeria Superfície. 2. Sem título (1986). Objeto-xilogravura sobre caixa de fósforo. Acervo pessoal Hélio Fervenza. http://www.galeriasuperficie.com.br/artistas/grupo-nervo-optico/fotos/ 48 material de apoio: a matéria Zine de Criança fala sobre como a autopublicação de zines e as feiras de publicação independentes são uma deixa para criações colaborativas entre as crianças e suas famílias. A reportagem também contempla uma entrevista com Eleonora, uma menina de 12 anos criadora do zine independente EGG. A Capitolina, revista online voltada a garotas adolescentes, disponibilizou em seu site dois conteúdos sobre criação de zines. Por que zine é tão daora? e Tutorial de Zines: parte II, reúne dicas e ilustrações que exemplificam diferentes tipos de dobradura possíveis de serem feitas com o papel. exercício 10 1 Tire um momento para pensar sobre alguma ideia ou mensagem que você considere importante de ser passada adiante. Algo que você gostaria que outras pessoas vissem e soubessem, um assunto que seja do seu interesse e que você deseje compartilhar. Tendo como inspiração as produções independentes do grupo Nervo Óptico e do artista Otacílio Camilo, essa atividade propõe que você construa uma publicação sua. Qual mensagem você gostaria de espalhar por aí? 3 Defina o suporte da sua produção. Você pode escolher um suporte mais tradicional, como um cartazete, ao estilo das publicações do Nervo Óptico, ou algo inusitado, como as caixinhas de fósforo e os guardanapos de Otacílio Camilo. Use a criatividade. 2 Depois de ter escolhido o seu tema, converse com sua família a respeito. Pense sobre a forma que você deseja passar essa ideia adiante - escrevendo um texto, fazendo um desenho. (Ex: caso o tema escolhido seja a importância de cuidarmos do meio ambiente, você pode optar por escrever um poema defendendo a sua ideia ou criar um desenho que simbolize essa mensagem, com alguma frase de efeito) 4 Para fazer seu material, você também pode usar outras publicações, como um jornal da sua cidade. Dê uma olhada em algum jornal impresso ou digital e selecione uma imagem e/ou título de alguma matéria que chame a sua atenção. Você pode tanto se inspirar nessa matéria para criar a sua publicação, quanto utilizar elementos dela (recortando alguma imagem ou palavra do texto, por exemplo), brincando com os elementos e situações apresentadas. 5 Caso você tenha uma impressora em casa e opte por fazer sua publicação em papel, escaneie e imprima algumas unidades do seu zine para distribuir aos seus vizinhos. https://gente.globo.com/zine-de-crianca/ http://www.revistacapitolina.com.br http://www.revistacapitolina.com.br/por-que-zine-e-tao-daora/ http://www.revistacapitolina.com.br/tutorial-de-zines-parte-ii/ http://www.revistacapitolina.com.br/tutorial-de-zines-parte-ii/ 5352 Fernanda Marczak é graduanda em Relações Públicas na UFRGS, porém devaneia mais nos estudos de semiótica da moda, artes e cultura. Já trabalhou com produção de eventos e exposições e com criação de conteúdo para redes sociais. Hoje trabalha como stylist na FARM Rio. É fã de leituras, risadas e cozinhas coletivas, além de escrever sobre viagens no seu blog nas horas vagas. Aqui, foi responsável pela comunicação do nosso livro: planejamento, redes sociais e atendimento. Maria Júlia Rêgo é recifense, graduanda em Design pela UFPE, mas hoje mora e trabalha em São Paulo. Nos fazeres gráficos, trilha um caminho mais próximo com o Design Editorial, tendo passado dois anos na redação do Suplemento Pernambuco e atualmente fazendo livros & outras peripécias no Estúdio Tereza Bettinardi. No Viagem, foi a responsável pela criação da nossa identidade visual, artes, ilustras e diagramação. Kátia Vielitz estuda Pedagogia na UFRGS e é estagiária do Caps II HCPA, onde trabalha ministrando oficinas terapêuticas para jovens e adultos, mas também já trabalhou em escolas, casas colaborativas, grupos autônomos e projetos de extensão; se envolvendo com diversos coletivos que buscam criar brechas entre as estruturas, abrindo percepções para novas possibilidades de estar no mundo. Assim ela está aqui: é a outra metade do time de criação das atividades, junto com a Sofia. Pedagogicamente idealizam, buscam e criam juntas as atividades que formam o Viagem. Sofia Perseu é museóloga em formação pela UFRGS e trabalha com produção cultural e patrimônio, atualmente experimentando um pouco de tudo no Vila Flores, onde também coordena o núcleo educativo. Além de incursionar pela arte educação, tendo ministrado aulas de artes para pitocos na Casa Elétrica, é idealizadora do Orelha (@orelhalivros), onde pesquisa e escreve sobre literatura e sua relação com a vida. Neste livro, ela tambémse desdobrou entre o time de criação das atividades e as demandas da comunicação do projeto. as mãos que construíram essa viagem 54 esse livro foi viabilizado através do Edital FAC Digital, da Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul em parceria com a Universidade Feevale, e feito entre agosto e outubro de 2020, durante a pandemia de Covid-19. até a próxima!
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