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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS – CESC LITERATURA PORTUGUESA DO SIMBOLISMO ÀS TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS PROFESSORA: LAYANA KELLE ALUNA: VALÉRIA DE CARVALHO SANTOS RESENHA CRÍTICA MARTINS, Fernando Cabral. Margens Portuguesas do Simbolismo. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 12, p. 179-188, jan. 2003. Professor de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa, Fernando Cabral Martins é, além disso, autor tanto de livros de ficção, como de artigos e livros sobre a literatura e a arte portuguesas, e coordenou o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português. Em seu artigo, Margens Portuguesas do Simbolismo, o autor apresenta o Simbolismo sob um novo prisma, não mais restrito a um momento da arte e da literatura, mas associado a grandes nomes da lírica portuguesa (transição do século XIX para o XX), e conferindo-lhes um certo teor de originalidade por conseguirem mesclar o Simbolismo a outras tendências e, ainda assim, manter vivos princípios e atitudes unicamente simbolistas. Divido em cinco capítulos, o artigo discorre, na primeira pessoa do plural, sobre a vida e a obra de três autores importantes para a lírica portuguesa e que, ao mesmo tempo que se inserem em diferentes tendências literárias, carregam em sua escrita características estética simbolista. Assim, ao longo de nove laudas, o autor embarca na tentativa de explicitar os aspectos originalmente simbolistas aos quais atribui-se a responsabilidade pela originalidade presente na produção literária de Cesário Verde, Teixeira de Pascoaes e Mário de Sá-Carneiro. Os três nomes mencionados são autores nascidos em épocas diferentes e que divergem quanto à forma de pensar sua produção literária, contudo, Martins (2003, p. 180) afirma haver um ponto central nessa divergência que estaria associada ao Simbolismo por princípios ou atitudes que compartilham em sua escrita, e que só essa escola literária é capaz de formular. Cesário Verde, possuía um lirismo mais inclinado ao baudelaireanismo e ao Realismo do que à tradição romântica clássica e, ao mesmo tempo, com uma visão particular das coisas, mais profunda que a dos demais, possuía uma visão da realidade como ela é, mas também a possibilidade de transfiguração da mesma, criando um ambiente de forças oníricas e invisíveis. Teixeira de Pascoaes, com seu Saudosismo que, assumindo a palavra “saudade” como o aspecto mais típico da cultura portuguesa por ser única entre todos os idiomas, faz dela o símbolo da singularidade portuguesa, adotando assim, um pensamento nacionalista e uma atitude metafísica e religiosa. A saudade se enche de simbolismos, uma vez que, nas palavras de Martins, se faz um paradoxo vivo, mesclando a tristeza e o desejo, a melancolia e o júbilo. Além dessa obsessão pela saudade, o autor ainda possuía, em sua narrativa, um lado alusivo e ambíguo e uma afirmação do indizível. Mário de Sá-Carneiro, por sua vez, tendo nascido no fim do século XIX, interessava-se profundamente pela arte da escrita, mas possuía uma inclinação maior ao Novo das vanguardas modernistas do que ao refinamento e obscuridade simbolistas em sua narrativa. Contudo, os pressupostos simbolistas continuavam presentes em sua escrita, ainda que metamorfoseados e submetidos a uma confusão de sentidos, reduzido a uma consciência interior e a uma confusão entre o Mundo e o Eu, que só existem através da palavra. O símbolo, a música e a escrita, segundo o professor Martins, são princípios partilhados pelos três autores em sua produção literária, mas manifestados de três modos diferentes. Por Cesário, em sua afeição baudelaireana, por Teixeira, em seu neo-romantismo e por Sá-Carneiro, com seu cubismo, os três tendo como centro de suas aspirações o Simbolismo, “a tendência que confia ao livre jogo das palavras a criação de todo o sentido” (MARTINS, 2003, p. 180). Apesar de toda essa exposição, que tinha como objetivo apresentar essa face mais abrangente do Simbolismo, através da exposição de suas características na escrita de autores divergentes em vários sentidos, o professor Fernando Cabral Martins acaba por concluir que, dentre os três, apenas Mário de Sá-Carneiro pode ser considerado genuinamente simbolista pois, segundo a sua concepção, a supremacia do símbolo só pode ser realizada por meio dessa confusão absoluta e insolúvel existente entre o Mundo e o Eu, a concepção que se tem deles. Ainda de acordo com tal conceito, por seus métodos de escrita e forma de expressão, Mário de Sá-Carneiro se tornara, merecidamente, “a figura mais poderosamente sugestiva da literatura portuguesa do século XX” (MARTINS, 2003, p. 188). De uma forma concisa e direta, Fernando Cabral Martins consegue libertar o Simbolismo das limitações impostas por sua denominação como “escola literária”, com a qual estaria restrito a uma época e limitaria a escrita de seus adeptos a um conjunto definido de características e à constante ausência de originalidade. Da mesma forma, o autor consegue libertar os três autores já apresentados de uma classificação que tornaria medíocre a amplitude de sua obra, e o alcance dos pensamentos compartilhados; com isso deixa claro que é no Simbolismo que sua originalidade mais se destaca. O artigo é voltado para estudantes e pesquisadores com algum conhecimento na área de Letras, especialmente aqueles interessados em se aprofundar no estudo da Literatura Portuguesa e, de maneira mais direcionada, no estudo do Simbolismo como escola literária e um modo dinâmico de pensar e produzir literatura. Texto resenhado por Valéria de Carvalho Santos, acadêmica do curso de Letras Língua Portuguesa, Língua Inglesa e respectivas Literaturas na Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias.
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