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Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 Terapêuticas II Tratamento da tuberculose A tuberculose é uma doença curável em praticamente todos os casos, em pessoas com bacilos sensíveis aos medicamentos antituberculose (antiTB), desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento. Doença grave, porém curável **O tratamento dos bacilíferos é a atividade prioritária de controle da tuberculose, uma vez que permite interromper a cadeia de transmissão Para diminuir a possibilidade de surgimento de microorganismos resistentes, com frequência recorre- se ao tratamento combinado de fármacos, o qual, em geral, envolve: Fase inicial (cerca de dois meses) com uma combinação de isoniazida, rifampicina e pirazinamida (mais entobutol, no caso de suspeita de se tratar de um microrganismo resistente) Segunda fase (cerca de quatro meses) de tratamento com isoniazida e rifampicina; são necessários tratamentos mais prolongados em pacientes com meningite, problemas nas articulações, osseos ou infecções resistentes A tuberculose é causada pelo M. tuberculosis que é uma bactéria aerobia estrita, de multiplicação lenta e de alta proporção de mutantes resistentes Para sua sobrevivência ela necessita de oxigênio sendo encontrada em: Macrófagos: meio ácido, pouco oxigenado e por isso terá um crescimento lento Lesões caseosas/fechadas: pH neutro ou ácido que necessita do O2 proveniente do metabolismo tecidual Com a liquefação ou esvaziamento da lesão caseosa, o bacilo encontra na parede da cavidade condições ideais para sua multiplicação, tanto pela boa oferta de oxigênio e pelo pH neutro como pela presença de substâncias nutrientes, desenvolvendo então um crescimento rápido. A atuação dos medicamentos antiTB difere conforme o metabolismo bacilar: Na população intramacrofágica, agem os fármacos que melhor se difundem no meio intracelular e em pH ácido: rifampicina, pirazinamida e etambutol. Nas lesões caseosas fechadas, o fármaco mais efetivo é a rifampicina, sendo a ação da isoniazida mais lenta e demorada. Na lesão cavitária, a rifampicina, isoniazida e estreptomicina são muito efetivas e atuam em pH neutro Tratamento padrão ou primeira escolha Isoniasida (representada pela letra H) Atividade exclusiva contra micobacterias Bacteriostática: interrompe o crescimento dos microorganismos em repouso Bactericida: Atua na parede dos microorganismos em divisão Efetiva nos microorganismos que estão dentro dos macrófagos Mecanismo de ação Esse fármaco inibe a síntese do acido micolico que é um importante constituinte da parede celular das micobactéricas. Sem esse ácido a parede não é plenamente formada Interações Diminue o metabolismo da fenitoína, etossuximida e carbamazepina (risco de toxicidade) Mecanismo de resistência Bacterias que desenvolvem alterações em sua membrana e diminuem a permeabilidade do fármaco através das membranas Reações adversas Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 2 Terapêuticas II Erupções cutâneas alérgicas Febre Hepatotoxicidade Sintomas artríticos e vasculite Farmacocinetica Farmaco administrado por VO Distribuição ampla, incluindo LCR Penetra bem nas lesões caseosas (necróticas) Metabolismo hepático (acetilação) Eliminação renal Rifampicina (R) Amplo espectro de ação: ativo para as micobactérias, maioria gram + e muitas gram – Entra nas células fagociticas e pode destruir MO intracelulares, incluindo o bacilo da tuberculose Mecanismo de ação Inibe a RNA polimerase, interferindo na síntese de proteínas e na formação do DNA bacteriano Mecanismo de resistência Alteração química na RNA-polimerase Efeitos adversos Erupções cutâneas Febre Disturbios gastrointestinais **Lesão hepática com icterícia (avaliar função hepática) Farmacocinética Administrado VO Ampla distribuição Alcança 10-40% concentração sérica no LCR Metabolismo hepático Eliminado: urina e bile Interações Indutor enzimático/aumento do metabolismo (diminui a ação): varfarina, corticoides, opioides, hipoglicemiantes e contraceptivos orais Etambutol (E) Efeitos sobre as micobactérias; Bacteriostático, mecanismo desconhecido; Mecanismo de ação Inibe a incorporação de ácido micólico à parede celular das micobactérias. Farmacocinética Administrada oralmente; Ampla distribuição Concentrações terapêuticas no plasma e LCR Metabolismo hepático; Eliminada: urina (meia-vida 3-4h).´ Pirazinamida (Z) Dependendo da dose pode ser bactericida ou bacteriostatico Mecanismo de ação É um pró-fármaco que para exercer seu mecanismo de ação deve se converter a sua forma ativa, ácido propiônico O ácido propiônico vai reduzir o pH local impedindo o crescimento do microorganismo Efeitos adversos: Gota, Distúrbios TGI Mal-estar e febre Avaliar a função hepática Farmacocinética Administrada oralmente; Ampla distribuição Concentrações terapêuticas no plasma e LCR Eliminada: urina (meia-vida 3-4h). Tratamento de 2 escolha Cicloserina (Cs) Utilizado quando o paciente é sensível a um dos fármacos de 1 escolha ou quando 1 deles promove falha terapêutica Amplo espectro de ação: gram+, gram- e micobacteria Mecanismo de ação Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 3 Terapêuticas II Inibe a síntese da parede através da inibição das ligações cruzadas dos peptideoglicanos Não pode ser administrada por VO, pois é bastante hidrossolúvel e degradada pelo meio ácido Farmacocinetica Administrada por via IM Ampla distribuição entre os tecidos, LCR também Eliminada na urina Efeitos adversos Irritabilidade Cefaleia Depressão Convulsões Psicose Escolha do esquema terapêutico Leva em consideração o comportamento metabólico e a localização do bacilo, o esquema vai ter 3 objetivos: 1. Atividade bactericida precoce: Aqueles pacientes bacilíferos e que são altamente infectantes vamos usar fármacos com alta capacidade de matar bacilos ((Isoniazida, estreptomicina e rifampicina) 2. Ser capaz de prevenir a emergência de bacilos resistentes (a forma de evitar a seleção de bacilos resistentes é a utilização de esquemas terapêuticos com diferente fármacos antiTB simultaneamente). 3. Ter atividade esterilizante (capacidade de eliminar virtualmente todos os bacilos de uma lesão. A adequada esterilização de uma lesão é a que impede a recidiva da tuberculose após o tratamento). Período de transmissão após o início do tratamento Na prática, quando o paciente não tem história de tratamento anterior, nem outros riscos conhecidos de resistência, pode-se considerar que, após 15 dias de tratamento e havendo melhora clínica, o paciente pode ser considerado não infectante. **Devido a resistência bacteriana, recomenda-se que seja também considerada a negativação da baciloscopia. Regime terapêutico Regime ambulatorial Esquemas de tratamento Intensiva (ou de ataque): objetivo de reduzir rapidamente a população bacilar e a eliminação dos bacilos com resistência natural a algum medicamento (reduz contágio e usa-se fármacos bactericidas). Manutenção: objetivo de eliminar os bacilos latentes ou persistentes e a redução da possibilidade de recidiva da doença. Nessa fase, são associados dois medicamentos com maior poder bactericida e esterilizante. Esquema básico para tratamento em adultos e adolescente (≥ 10 anos de idade) 2 meses de RHZE, seguido de 4 meses de RH Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 4 Terapêuticas II Esquema Básico para tratamento da TB meningoencefálica e osteoarticular em adultos e adolescentes (≥ 10 anos de idade): 2 meses de RHZE, seguido de 10 meses de RH Observações: Quando existirconcomitância entre a forma meningoencefálica ou osteoarticular e quaisquer outras apresentações clínicas, utilizar o esquema para TB meningoencefálica ou osteoarticular. Quando TB osteoarticular de baixa complexidade, pode-se tratar por 6 meses, a critério clínico. Associar corticosteroide: Prednisona (1 a 2 mg/kg/dia) por quatro semanas ou, nos casos graves de TB meningoencefálica, dexametasona injetável (0,3 a 0,4 mg/kg/dia), por quatro a oito semanas, com redução gradual da dose nas quatro semanas subsequentes. Para evitar sequelas, recomenda-se aos pacientes que a fisioterapia, em casos de tuberculose meningoencefálica, seja iniciada o mais cedo possível. Esquema básico para crianças (<10 anos) 2 meses de RHZ, seguido de 4 meses de RH **Crianças com TB, infectadas por HIV ou desnutridas: receber suplementação de piridoxina- vitamina B6 (5 a 10mg/dia) Esquema para a forma meningoencefálica da tuberculose em crianças(< 10 anos de idade): Utilizar o mesmo esquema básico para crianças, prolongando-se a fase de manutenção Observações: Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e qualquer outra localização, usar o esquema para a forma meningoencefálica. Na meningoencefalite tuberculosa deve ser associado corticosteroide ao esquema antiTB: prednisona oral (1 mg-2 mg/kg/dia) por quatro semanas ou dexametasona intravenoso, nos casos graves (0.3 a 0.4 mg/kg/dia), por quatro a oito semanas, com redução gradual da dose nas quatro semanas subsequentes. A fisioterapia na tuberculose meningoencefálica deverá ser iniciada o mais cedo possível. Considerações sobre o tratamento Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 5 Terapêuticas II Efeitos Adversos Podem ser divididos em: 1. Reações adversas menores, em que normalmente não é necessária a suspensão do medicamento antiTB 2. Reações adversas maiores, que normalmente causam suspensão do tratamento Fatores adversos para o desenvolvimento de tais efeitos: Idade (a partir da 4 decada) Ingestão de álcool >80g Perda de mais de 15% do peso corporal Historia de doença hepática prévia Co-infecção pelo HIV, em fase avançada de imunossupressão Se o esquema básico não puder ser reintroduzido após a resolução da reação adversa e com a relação bem estabelecida entre esta e o medicamento causador, pode substituir por Estreptomicina (S) Tratamento em condições especiais Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 6 Terapêuticas II