Buscar

Roteiro da leitura extraclasse do 3º perÃ_odo - EAD

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

CENTRO EDUCACIONAL SIGMA
CENTRO EDUCACIONAL SIGMA
 Leitura de obras literárias - PAS/UNB 3ª etapa Subprograma 2018.
NOME: TURMA: NÚMERO: 
Atividade de Língua Portuguesa - 3ª série - Ensino Médio - 3º período – ago/2020
23M3Lit_03_2020_atv.docx
“O recado do morro”, Guimarães Rosa.
“Poemas aos homens do nosso tempo”, Hilda Hilst.
__________________________________________________________________
I. Os autores
1. João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, a 27 de junho de 1908. 
 Médico formado, trabalhou como voluntário na Força Pública, em Belo Horizonte, durante a Revolução Constitucionalista (1932). Por essa época, já se dedicava à literatura, tendo escrito vários contos. Aprovado em concurso, tornou-se oficial-médico do 9º Batalhão de Infantaria, em Barbacena.
 Devido ao seu grande conhecimento de línguas estrangeiras, prestou concurso para o Ministério do Exterior, foi aprovado e seguiu carreira diplomática: foi cônsul-adjunto em Hamburgo, Alemanha; Secretário da Embaixada do Brasil em Bogotá, Colômbia; 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada do Brasil em Paris; Ministro de 1ª classe (cargo que corresponde a embaixador).
 Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras (1963) e foi eleito por unanimidade. Durante quatro anos, adiou, sistematicamente, a posse. Quando enfim decidiu assumir, em 1967, a cadeira da Academia proferiu um discurso que, embora dedicado a João Neves, seu ministro no Brasil (1944), três dias depois soava como despedida premonitória: “a gente morre é para provar que viveu. (...) As pessoas não morrem, ficam encantadas.”
 Morreu de enfarte, a 19de novembro de 1967 — “encantou-se”. E, como disse Carlos Drummond de Andrade, “Ficamos sem saber o que era João e se ele existiu de se pegar.”
2. Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, nasceu em Jaú, São Paulo, em 21 de abril de 1930, e faleceu em Campinas, São Paulo, em 4 de fevereiro de 2004. 
Foi a única filha do fazendeiro de café, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst, descendente de imigrante germânico. Sua mãe, Bedecilda Vaz Cardoso, que tivera um relacionamento anterior, era filha de imigrantes portugueses. Estudou no Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, onde cursou o primário e o ginasial, com desempenho considerado brilhante. Em 1948, entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco), onde conheceu aquela que seria sua grande amiga ao longo da vida, a escritora Lygia Fagundes Telles.
 Poeta,  ficcionista, cronista e dramaturga brasileira é considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em Língua Portuguesa do século XX. Escreveu por quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil.
 Na década de 1990, Hilda Hilst anunciou o abandono da literatura "séria" e a entrada na literatura pornográfica. A opinião especializada, entretanto, não tarda em identificar o anúncio como manobra de marketing, apontando a qualidade de O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990), Cartas de um Sedutor (1991), Contos d'Escárnio. Textos Grotescos (1992) e os poemas Bufólicas (1992).
 Após seu falecimento, o amigo Mora Fuentes liderou a criação do Instituto Hilda Hilst. O IHH tem como primeira missão a manutenção da Casa do Sol, seu acervo, e o espírito de ser um porto seguro para a criação intelectual.
 II. O estilo de época e individual dos autores
 Guimarães Rosa constitui verdadeiro marco na história da prosa regionalista da 3ª fase do Modernismo brasileiro (“Pós-Modernismo” ou “geração de 45) pelo alto nível de elaboração estética que conseguiu atingir.
 O sertão criado por Guimarães Rosa extrapola limites geográficos para simbolizar o próprio universo onde se movem personagens representativas não mais de conflitos regionais, mas de conflitos eternos do homem como o sentido da vida, a existência do bem e do mal, a ideia de Deus, conferindo assim um caráter filosófico, uma dimensão metafísica a sua obra. Assim, apesar de G. Rosa focalizar o sertão de Minas Gerais, da Bahia e de Goiás, suas narrativas ultrapassam a problemática decorrente desses espaços físicos ou sociais, para refletir a respeito de questões de natureza filosófica, independentes de tempo e lugar. 
 “Todos os meus livros são simples tentativas de rodear e devassar um pouquinho o mistério cósmico, esta coisa movente, impossível, perturbadora e rebelde a qualquer lógica, que é chamada realidade, que é a gente mesmo, o mundo, a vida. Antes o absurdo que o óbvio, que o frouxo. Toda a lógica contém inevitável dose de mistificação. Toda mistificação contém boa dose de inevitável verdade.” (Guimarães Rosa)
 	Na elaboração de seu estilo, utilizou vários processos, como a criação de palavras (neologismo), o aproveitamento do linguajar regional (expressões recolhidas da fala do sertanejo de Minas Gerais e da Bahia) e a exploração dos aspectos sonoros da linguagem (aliterações, onomatopeias, etc.), impregnando sua prosa de elementos poéticos.
Para melhor entendimento do estilo de Guimarães Rosa, ouça o áudio “Os interiores de Guimarães Rosa” e leia a reportagem “A viagem de Guimarães Rosa ao grande sertão”, respectivamente, em
https://www.brasildefato.com.br/2017/10/03/os-interiores-de-guimaraes-rosa-a-sabedoria-popular-nas-estorias-do-escritor-mineiro/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/a-viagem-de-guimaraes-rosa-ao-grande-sertao.phtml
 A obra de Hilda Hilst pode ser pensada como uma ponte entre a poesia da década de 1930 e a literatura contemporânea, passando ao largo das principais tendências poéticas que se firmaram após 1950. Os primeiros trabalhos da autora estão repletos de ecos de poetas da segunda f ase do modernismo brasileiro, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Vinícius de Morais.
Hilda Hilst incorporou características da “geração de 45”, mas nunca traiu uma sensibilidade poética formada na leitura dos modernistas de 1930, temperando a arte dos modernistas de 45, voltados para a estética da palavra e da forma, com um espírito de liberdade no uso das formas tradicionais e um lirismo sem constrangimentos de sê-lo. Uma estranha no ninho, portanto.
 Sua temática é variada: aborda temas como misticismo, insanidade, erotismo e libertação sexual feminina. Hilst foi fortemente influenciada por James Joyce e Samuel Beckett, e essa influência aparece em temas e técnicas recorrentes em seus trabalhos como o fluxo de consciência e a realidade fraturada.
 Sua produção poética, da década de 1990, segundo o crítico literário Alcir Pécora, constitui “verdadeiras gemas da matéria baixa, como antes já fizeram em língua portuguesa autores excelentes como Gregório de Matos, Tomás Pinto Brandão, Bocage, Nicolau Tolentino, Bernardo Guimarães etc." 
 Hilda Hilst não se limitou à lírica. Sua obra compreende ficções, crônicas e peças teatrais. Fato interessante também é constatar que desafia as classificações clássicas dos gêneros literários. Por vezes, o leitor experimenta um misto de vários gêneros no mesmo texto.
III. A novela de Guimarães Rosa
*Situada entre o romance e o conto, a novela é um tipo de narrativa mais extensa do que o conto e menor do que o romance: apresenta vários enredos que, ao longo do relato, estabelecem conexões entre si.
 A novela “O recado do morro” foi publicada pela primeira vez, em 1956, no livro Corpo de baile, que reunia sete novelas. Em 1965, preparando a 3ª edição da obra, João Guimarães Rosa decidiu dividir Corpo de baile em três livros independentes, reunindo suas sete novelas de acordo com as semelhanças entre elas. Daí surgiram os volumes Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão. “O recado do morro” faz parte do segundo livro.
 A narrativa inicia da seguinte forma: “Sem que bem se saiba, conseguiu-se rastrear pelo avesso um casode vida e de morte, extraordinariamente comum, que se armou com o enxadeiro Pedro Orósio (…)” (Rosa, 2001a, p. 27). Nota-se, já no início, tratar-se de uma narrativa cujo significado será descoberto através do seu lado avesso, ou seja, do irracional, do ilógico. Também se pode notar que o fragmento “um caso de vida e de morte, extraordinariamente comum” tem relação com a viagem que percorrem todos na vida, por isso o comum. Esta viagem terá um ponto final ou de transformação na morte, a quem todos pagarão o seu tributo. 
 Em “O recado do morro” é visível a imagem de centro e circunferência, ligada ao movimento dos planetas. Nessa narrativa, temos a representação da terra como o centro e os seus viajantes/dançarinos como a circunferência que se move. No relato, é possível identificar uma configuração astrológica, pois Rosa nomeia suas personagens e os espaços que elas percorrem no desenrolar da estória de acordo com os nomes dos sete planetas da astrologia clássica. (Daniela Severo de Souza Scheifler)
Tema – viagem* exploratória ao redor do Morro da Garça para tratar de uma questão, aparentemente, simples: opor dois homens numa emboscada, Pedro Orósio e Ivo Crônico. 
*Viagem de ida e volta de uma expedição, que vai da região de Cordisbugo e Maquiné, em Minas Gerais, até os gerais que entram por Goiás, de volta, em que cinco homens (dois guias e três patrões) percorrem o sertão numa região central de Minas Gerais. Ao lado da expedição, ocorrerá a viagem de um recado emitido pelo Morro da Garça. Recado que viajará junto à comitiva, esclarecendo-se ao final da narrativa.
 “E iam, serra acima, cinco homens, pelo espigão divisor. Dia a muito menos de meio, solene sol, as sombras deles davam para o lado esquerdo.” (Rosa, 2001a, p. 27) 
 O narrador relata a viagem, de cinco homens — Pedro, Olquiste, Sinfrão, Jujuca e Ivo — pelo Direito (o pensamento racional) e a viagem, pelo Esquerdo/ avesso (o pensamento irracional), de Guegue, Joãozezim, Nomindome, Coletor e Laudelim. 
 A narrativa está centrada na “viagem para além da releitura dos espaços físicos, apresentando-nos a trajetória dos personagens em busca de superação de vivências cristalizadas e de questionamentos do próprio ser.”
Foco narrativo – terceira pessoa do singular, narrador onisciente.
Personagens
Pedro Orósio/ Pedrão Chãbergo/ Pê-Boi – enxadeiro, guia, vaqueiro que viaja a pé e descalço (sua força era invencível quando estava em contato com o chão). Nasceu em um povoado pequeno, no sertão dos campos gerais. Despertava ciúmes nos homens, pois as moças queriam namorá-lo. Era muito alto e muito forte. “Demora a entender as coisas, as rumina primeiro, análogo ao signo de touro, que possui percepção profunda da matéria, pois a experimenta com os pés postos no chão. E, como o boi, é grande e apegado à solidez da terra.”
 Ana Maria Machado, jornalista, professora e escritora, em estudo sobre os nomes das personagens de Guimarães Rosa, explicita o nome de Pedro Orósio: 
A quem poderia o morro falar, se não àquele que é seu homólogo, que é pedra, montanha, terra? A quem é Pedro como pedra, Orósio com soma de oros (montanha) e ósio (escolhido). [...] E Pedro é Pedrão Chãbergo. Pedrão que é a grande pedra ou montanha. Chã que é chão, que é planície e que é simplicidade [...] Bergo que é berger, do francês, pastor, vaqueiro. [...] Mas Pedro Orósio é ainda Pê-Boi reiterando sua ligação com o gado e com a terra, seu tamanho, seu pé descalço.
 Ana Cristina Tannús Alves, em seu artigo “A viagem em ‘O recado do morro’: construção de espaços e identidades”, na revista Estação Literária esclarece: 
 Pedro Orósio é duas vezes o símbolo da terra, do sertão mineiro. O simbolismo está em Pedro enquanto solidez e movimento. Solidez porque em Pedro está a força, a noção de estabilidade, grafada em seu nome “Oros” – montanha (...) é um dos lugares onde reside o sagrado: não se pode nele penetrar sem um guia (o iniciador) [...]. Movimento, porque é Pedro que orienta o grupo nas estradas e na viagem, é ele que rastreia os caminhos, está em constante movimentação, pois é o guia. (...) Pedro Orósio é o guia dos caminhos a percorrer no sertão, pois o fato de conhecer a geografia do lugar o coloca em evidência, mas o que marca esse texto roseano é a escolha pelo movimento de um lavrador que se transforma em guia para, no final da estória, perceber que o rei da canção era ele. 
 Por essa relação estrita com a terra, Pedro Orósio recebe um alerta do Morro da Garça, da montanha que se esculpe na terra e simboliza o emissor singular do recado, lugar de epifania. (...).
Seo Alquiste/ Olquiste – naturalista alemão que pesquisa a geografia da região. “... representa na narrativa a percepção aguda e a objetividade da câmera. Ele carrega a máquina consigo o tempo todo para segurar, momentaneamente, o tempo, imobilizar o instante que passa, captar, fixar e revelar o que está por trás de tudo, inclusive do imediatamente visível. O nome Alquiste/Alquist evoca a sua condição de naturalista ou cientista interessado nas ciências naturais, por meio de uma alusão (em alemão) aos ramos do olmo.”
Frei Sinfrão – capucino, de origem italiana, que serve como tradutor para seu Alquiste. “... representa o pensamento que venera o desconhecido, o invisível que está fora da área dos sentidos e que é recebido como revelação.”
*Em sentido alegórico, Seo Alquiste e Frei Sinfrão simbolizam a colonização europeia no Brasil.
Seo Jujuca do Açude - fazendeiro de gado, filho de seu Juca Vieira/ seu Juca do Açude. Hospedava, em suas terras, tanto o clérigo quanto o pesquisador; “... representa o pensamento prático, que calcula, que planeja a vida para o futuro.”
Ivo Crônico/ Ivo de Tal/ Ivo da Tia Merência/ Crônico (apelido) – boiadeiro; guia que viajava a cavalo tangendo os burros cargueiros. Seu nome está ligado a Cronos ou Saturno, deus do tempo. Era empregado de seu Jujuca.
Segundo Ana Maria Machado, “é ele quem age sobre o tempo, quem altera a cronologia prevista para os acontecimentos, quem antecipa a festa [...] e prepara a cilada para o sábado, seu dia, sua plena dominação temporal”.
Gorgulho/ seu Malaquias – valeiro, lavrador, caçava pacas e fazia balaios para serem vendidos em feiras. Ermitão surdo que padecia de alucinação, que acompanha os viajantes até determinado ponto e conta sobre um recado que o morro teria lhe passado. Vivia em uma gruta conhecida como “Lapa dos urubus”/“Lapinha do Gorgulho”, razão provável de sua intimidade com o Morro da Garça ou, pelo menos, da possibilidade de ele ouvir e compreender o recado emitido pela natureza. 
Etimologicamente, Malaquias significa mensageiro de Javé, ou seja, mensageiro de Deus. Na Bíblia, é o último dos profetas menores do Velho Testamento (Bíblia Sagrada 1989: 1048). Ser o primeiro a receber o recado coloca Gorgulho na relação de personagens que, desligadas do plano racional, são dotadas de crença ilimitada, sem barreira lógica. Assim como Pê-Boi, Malaquias é um homem profundamente ligado à terra, e, por isso, está em condições de passar o recado a Pedro Chãbergo. (Ana Cristina T, Alves)
Zaquia/ Catraz/ Qualhacôco (apelido) – bocó, irmão de Gorgulho; também morava em uma gruta.
Guégue – gago, bobo e agregado da fazenda de dona Vininha; menino de recados, tem como função entregar encomendas, guiar viajantes.
Nomindome/ Jubileu ou Santos-Óleos – doido que fazia penitência para salvar a humanidade.
Laudelin/ Pulgapé – violeiro, único leal amigo de Pedro Orósio. Na festa de domingo, apresenta uma composição sua, justamente o recado do morro, agora transformado em canção.
Coletor – doido que imaginava ser rico, “milionário de riquíssimo”. 
Jovelino, Veneriano, Martinho, Hélio Dias Nemes, João Luanino, Zé Azouge – amigos de Ivo Crõnico. Os sete pretendem matar à traição Pedro Orósio.
Esclarecimentos:
1. A narrativa tem por epígrafe uma citação de Plotino, um dos principais filósofos de língua grega do mundo antigo, que, por sua vez, cita Platão:
 “O melhor, sem dúvida, é escutar Platão: é preciso – diz ele – que haja no universoum sólido que seja resistente; é por isso que a terra está situada no centro, como uma ponte sobre o abismo; ela oferece um solo firme a quem sobre ela caminha, e os animais que estão em sua superfície dela tiram necessariamente uma solidez semelhante à sua.”
 Essa citação está, diretamente, ligada à estória “O recado do morro”, uma vez que, nela, a terra irá, além de oferecer um solo firme para aqueles que nela habitam e proporcionando-lhes condições de subsistência e sobrevivência, atuar como protetora daqueles que com ela são irmanados.
2. Nessa narrativa, há os representantes da ordem: o corpo que guia (Pedro Orósio), o pensamento/alma (Alquiste, Sinfrão, Jujuca) e o humano que viaja no tempo (Ivo). Nessa viagem de vida e de morte/transformação anunciada pelo morro, Pedro Orósio se dirige ao passado, à infância e ao país de origem. Além disso, Pedro se dirige para o futuro que o levará para o seu destino, para as transformações que ele lhe reserva.
 Cada personagem do lado direito tem sua contrapartida no lado esquerdo: 
A) Seo Alquiste tem seu reflexo irracional no Coletor que, como naturalista, anota tudo, desta vez sem qualquer ordem ou sentido;
B) Seu Jujuca tem seu reflexo irracional em Guégue, que cuida dos afazeres práticos da fazenda de D. Vininha, a seu modo;
C) A religiosidade prática de Frei Sinfrão espelha-se de modo contrário na irracionalidade do misticismo de Nominedômine;
D) Pedro tem seu reflexo contrário em Laudelim Pulgapé (Pedro tem a alcunha de Pê-boi e Laudelim, de Pulgapé: um boi, o outro pulga), que, ao contrário de Pedro (que rastreia a terra, o corpo, o sensível), “dava de com os olhos não ver, ouvido não escutar, e se despreparava todo, nuvejava.”;
E) o contrário de Ivo parece ser Joãozezim: Ivo é o que viaja atrás de todo o grupo, está por último; Joãozezim é menino pequeno, é o primeiro, está no início da vida.
3. O recado do morro é transmitido “pela oralidade, prática comum na tradição popular não letrada, o que faz com que se possibilitem variações de conteúdo, tanto pela perda de informações na memória, quanto pela perspectiva subjetiva pela qual é recebido e complementado no ato da fala, diferente do que ocorreria se o recado fosse escrito”: Gorgulho é o primeiro a contar aos viajantes sobre um recado que o morro lhe teria passado. A viagem do recado passará por Catraz, irmão de Gorgulho, que relata para o menino Joãozezim que dá continuidade à mensagem contando-a para o menino de recados chamado Guegué, que passa para o Nomindome. O Coletor se impressionou com as palavras de Santos-Óleos (que invade a vila para proclamar o fim do mundo, calcado no recado do morro) e dá sequência ao recado. Por fim, na festa do domingo, Laudelin transforma o recado em canção e a mensagem fica clara para Pedro Orósio.
Espaço – sertão de Minas Gerais, mais especificamente, entre as cidades de Cordisburgo e a região dos Gerais, ao redor do Morro da Garça (acompanha a viagem de ida e de volta dos viajantes), e fazendas (sete) por onde passam os viajantes. 
 Essas fazendas podem representar espaços de repouso para a comitiva e constituir locais em que a mensagem cifrada será expandida: Apolinário (Sol), Nhá Selena (Lua), Marciano (Marte), Nhô Hermes (Mercúrio), Jove (Júpiter), Dona Vininha (Vênus) e Juca Saturnino (Saturno). As fazendas simbolizam o espaço em que os donos redesenham a região como novo Olimpo, lugar em que se evidencia algum acontecimento relativo a Pedro Orósio, representante do planeta Terra. (Ana Cristina T, Alves) 
Linguagem – na narrativa, cada palavra, cada nome tem uma função particular. 
 O autor descreve a região central mineira de maneira, extremamente, contemplativa e levando em consideração seus aspectos físicos, sendo bastante explorada a sua topografia. Também relata a vida do sertanejo e seus costumes, Com isso, essa novela literária apresenta interdisciplinaridade com diversos aspectos da Geografia: a Geologia, a Rural, a Cultural.
IV. Os poemas de Hilda Hilst
O conjunto de poemas intitulado “Poemas aos homens do nosso tempo” fecha o volume Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão. publicado por Hilda Hilst, em 1974, sob a Ditadura Militar, e marca a volta da autora à poesia depois de um intenso período de teatro político de conscientização e resistência ao regime. 
Cabe lembrar que, em 1974, houve o auge da repressão no regime militar, o final dos “anos de chumbo”. Tais poemas podem ser relacionados, com algum atraso, ao engajamento político proposto pelos artistas de esquerda ligados ao Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, entre os quais se contavam poetas como Ferreira Gullar pós-neoconcretismo e Affonso Romano de Sant’anna, cujos trabalhos foram reunidos nos três volumes da coletânea Violão de rua (1962), que contou com a adesão de escritores de gerações anteriores, como Joaquim Cardozo e Geir Campos. 
 “Poemas aos homens de nossos tempos” contém uma poesia participante que denuncia a barbárie contemporânea, voltando-se contra o autoritarismo e a tirania; que revela uma consciência aguda do quadro social e político de um país em que a arte estava sob censura:
 No poema I, por exemplo, homenagem a Alexander Solzhenitsyn — escritor russo que resistiu ao que os comunistas tinham feito ao seu povo e ao seu amado país —, o eu lírico convida o leitor do agora a refletir a missão de pensar o mundo, e ainda pede uma certa atenção ao que antes eram os filtros das palavras na garganta do povo.
 No poema II, o eu lírico questiona: o que a sociedade do progresso suporta e o que o poeta deve dizer a ela? quais as verdadeiras possibilidades de intervenção política do poeta em um mundo guiado pela ganância e violência? Nesses versos, “os homens do nosso tempo” são os homens políticos, mergulhados em sua “rapacidade”, movidos por “Ouro, conquista, lucro, logro”, e que detêm “[...] a vida dos homens/Entre os vossos dentes”.
 No poema III, homenagem à Natalia Gorbanievskaya — poeta, tradutora de literatura polaca e ativista dos direitos civis na Rússia — a voz dos que proclamam os ardores ou o acordar de uma coletividade torna-se a base da tessitura poética do eu-lírico, que afirma, nos versos 10 a 15, uma inexorável profecia.
 No poema IV, Hilda Hilst proclama a dor de seus poetas e ainda acrescenta serem estes lembrados apenas por quem consegue estar em estado poético, para compreender as inconstâncias de um poeta em um espaço de deslocamento social e esquecimento das potencialidades de sua poesia.
 No poema VIII, sem cair na melancolia niilista, o canto de Hilst vê esperança na união dos “poucos lúcidos” e no poder da palavra.
 No poema X, por exemplo, lê-se um libelo contra a censura: “Amada vida:/ Que essa garra de ferro/ Imensa/ Que apunhala a palavra/ Se afaste/ Da boca dos poetas”; já no XII, há uma denúncia da tortura: “ Vou indo recortando/ Alguns textos antigos/ Onde a faca finíssima/ Sublinhava/ As legendas políticas/ E um punhal incisivo/ Apunhalava/ Um corpo amolecido/ O olho aberto, uma bota/ Pontiaguda/ Entrando no teu peito”.
 No poema XIII, a poetisa desafia as mulheres “a abrir mão da superficialidade do consumo daquilo que vem “pronto” e fácil para investir em uma criação própria — ainda que difícil — de si mesmas.” 
 Por fim, no penúltimo poema, o XVI, o eu lírico “se dirige, diretamente, a um “irmão do seu tempo”, e reafirma o valor de dedicar a vida a um ofício não-alienante como o de ser poeta, em oposição ao desenfreado e mesquinho desejo burguês de ter ‘mais ouro’.”
______________________________________________
EXERCÍCIOS
1.UEMG 2008 Sobre a obra “O recado do morro”, de Guimarães Rosa, todos os comentários apresentados nas alternativas abaixo são pertinentes, exceto 
(A) Apesar da presença de várias personagens, a narrativa gira em torno da figura de Pedro Orósio, então caracterizado como personagem central da trama. 
(B) A narrativa traz marcação cronológica que, acompanhada das referências espaciais, constrói a trajetória de ‘viagem’ da personagem central, em seu sentido mais amplo. 
(C) No deslocamento espaciale temporal de Pedro Orósio, ao longo da narrativa, é possível perceber investimentos linguísticos que levam a reflexões existenciais. 
(D) O número de fazendas por onde passa a comitiva guiada por Pê-Boi e os nomes dos donos dessas fazendas carecem de valor significativo na obra.
2. Julgue os itens a seguir tendo como base “O recado do morro”, de Guimarães Rosa.
I. O enigmático recado do morro é decifrado, ao final da narrativa, pelo poeta Laudelin.
II. Um cantador de rua transmite, inconscientemente, o recado do morro a Pê-Boi, através de uma cantiga.
III.O recado do morro tenta chegar a seu destinatário por meio de personagens que estão no avesso da normalidade, ou seja, o recado passa por marginalizados que são loucos o suficiente para captar e transmitir a mensagem da natureza.
IV. A personagem Pedro Orósio simboliza seu país de origem, nação marcada por uma natureza exuberante e sensual, pela força, pelo gigantismo. 
3.Responda ao que se pede em relação à novela “O recado do morro”, de Guimarães Rosa.
A) Por que Ivo Crônico, integrante da comitiva e que era tão amigo de Pedro, em outros tempos, andava bastante aborrecido com o companheiro?
B) Qual a origem da viagem do recado destinado a Pedro Orósio?
C) Ao final da narrativa, o que provocou uma espécie de epifania em Pedro Orósio, abrindo sua mente para a compreensão do recado do morro?
As questões a seguir referem-se à obra “Poemas aos homens do nosso tempo”, de Hilda Hilst.
4. Encceja 2019 
Poemas aos homens do nosso tempo
II
Amada vida, minha morte demora. 
Dizer que coisa ao homem, 
Propor que viagem? Reis, ministros 
E todos vós, políticos, 
Que palavra além de ouro e treva 
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE 
O que sabeis 
Da alma dos homens? 
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos 
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
 HILST, H. Poesia. São Paulo:Quíron, 1980 (fragmento). 
A palavra destacada no poema resume a condição dos “homens do nosso tempo”, aos quais o eu lírico 
(A)convida a repensar seus hábitos de consumo.
(B)condena pelos seus efeitos sociais de egoísmo.
(C) quer resgatar pela esperança no amor.
(D)atribui a confiança na vida moderna. 
5.
Poemas aos homens do nosso tempo
III
E enquanto estiverdes 
À frente da pátria
Sobre nós, a mordaça.
E sobre as vossas vidas
—Homem político —
Inexoravelmente, nossa morte.
		 Hilda Hilst. Ob. Cit.
 Nesses versos, o que o poeta profetiza?
6. Considerando os versos do poema XIII, identifique o desafio que o eu lírico faz às mulheres contemporâneas.
7. Nos versos do poema XVI, o eu lírico contrapõe quais ofícios?
_____________________________________________
Gabarito
1. (D)
2. E C C C
3. A) Ivo estava com ciúme de Pedro Orósio: os dois gostavam de uma mocinha, Maria Melissa.
B) A origem da viagem do recado é o Morro da Garça.
C) Pedro Orósio sussurra, constantemente, os versos da cantiga do amigo Laudelin e, finalmente, entende o recado do morro e se dá conta da emboscada preparada por seus companheiros.
4. (B)
5. Nesses versos, o poeta faz duas profecias: enquanto o “homem político” estiver no poder, o povo será reprimido, silenciado e sobre o “homem político” recairá a responsabilidade da morte dos cidadãos.
6. Nesse poema, o eu lírico desafia as mulheres “a abrir mão da superficialidade do consumo.
7. Nesse poema, o eu lírico contrapõe o ofício do poeta, que denuncia a crueldade, a violência, a tirania, o autoritarismo contemporâneo ao ofício do burguês, que tem um desejo incontrolável de acumular bens.
_____________________________________________
Bibliografia 
“A viagem em O recado do morro: construção de espaços e identidades.” Ana Cristina Tannús Alves. Revista Estação Literária. Londrina, Volume 10B, p. 20-32, jan. 2013.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_recado_do_morro_conto/
https://www.revistaamalgama.com.br/06/2017/resenha-da-poesia-hilda-hilst/
“O real daquela terra: no tempo em que tudo era falante no inteiro dos Campos Gerais”. Fábio Borges da Silva. Dissertação de Mestrado. UNB, 2011.
“O recado do morro: o bailde Guimarães Rosa”. Daniela Severo de Souza Scheifler. Mafuá. Revista de literatura em meio digital. Edição 5, Ensaios.
“Um recado de mãe para filho”. Fabrício César de Aguiar e Larissa Walter Tavares de Aguiar. 
“Poemas aos homens do nosso tempo”, de Hilda Hilst. Revista Forum.com.br
“Questionamentos ao poeta: um estudo de ‘Poemas aos homens do nosso tempo’, de Hilda Hilst. XV abralic. https://abralic.org.br/anais/arquivos/2016_1491433962.pdf
“Um recado de mãe para filho”. Fabrício César de Aguiar e Larissa Walter Tavares de Aguiar. Caletroscópio - ISSN 2318-4574 - Volume 4 / n. 7 / jul. – dez. 2016
	
	pág.2 de 7
	
	pág. 7 de 7

Continue navegando