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PAULO RODINEI PAIXÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ADOÇÃO NO RELACIONAMENTO SOCIOAFETIVO E SUAS IMPLICAÇÕES NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
JULHO/ 2016 
PAULO RODINEI PAIXÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ADOÇÃO NO RELACIONAMENTO SOCIOAFETIVO E SUAS IMPLICAÇÕES NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apressentada ao curso de Direito da 
Faculdade Minas Gerais – FAMIG – como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
Orientação: Profa. Ms. Roberta Salvático 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
JULHO/ 2016 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, que nos fortalece com seu amor e pela graça de ter nos permitido concluir este trabalho, 
porque nada nos é possível se não for de sua vontade; 
 
A minha mãe, pela compreensão e amor por lhe furtar o convívio; 
 
A meus colegas, pela parceria e cumplicidade; 
 
A minha orientadora, sem a qual este trabalho não teria se concluído com êxito; 
 
Aos leitores. 
 
Este é mais um momento vitorioso em minha vida! 
 
Agradeço a Deus pela dádiva de vivê-lo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim, 
esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa, aquieta 
e depois desinquieta. O que ela quer da gente é 
coragem. O que Deus quer é ver a gente 
aprendendo a ser capaz de ficar alegre e amar, no 
meio da alegria. E ainda mais no meio da tristeza. 
Todo o caminho da gente é resvaloso, mas cair 
não prejudica demais, a gente levanta, a gente 
sobe, a gente volta”. 
 
(João Guimarães Rosa em “Grande Sertão 
Veredas”, 1956). 
 
“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um 
momento debaixo dos céus.” (Ecl.3:1). 
RESUMO 
 
 
Esse trabalho tem por objetivo estudar a adoção por casais homoafetivos e verificar se existe 
legislação específica que a regule. Inicialmente, apresenta o instituto da família no direito 
brasileiro, tendo em vista que no relacionamento familiar foi concebida a noção de filho, fazendo 
uma abordagem do Código Civil de 1916, do Código Civil de 2002, até o que temos atualmente. 
A seguir, apresenta a adoção no sistema jurídico brasileiro, os entraves enfrentados por casais 
heterossexuais e casais homoafetivos quando pretendem adotar e o posicionamento dos tribunais 
acerca do assunto. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Abstraiu-se de toda a 
pesquisa, que a regularização da adoção realizada por casais homoafetivos ainda enfrenta 
dificuldades por causa do preconceito ainda existente quanto às famílias formadas por pessoas do 
mesmo sexo. E que é urgente normatizar a questão com lei específica para por fim à decisões 
preconceituosas. 
 
Palavras-chave: Família. Adoção. Relacionamento Socioafetivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work aims to study the adoption by homosexual couples and see if there is specific 
legislation to regulate. Initially, it presents the family institute in Brazilian law, given that the 
family relationship is designed to son notion of making an approach to the 1916 Civil Code, the 
Civil Code of 2002, to which we currently have. The following presents the adoption of the 
Brazilian legal system, the barriers faced by heterosexual couples and homosexual couples when 
they want to adopt and positioning of the courts on the subject. The methodology used was 
literature. Abstracted is all the research, the regulation of adoption granted by homosexual 
couples still faces difficulties because of prejudice still exists as to the families formed by same 
sex. And it is urgent to regulate the issue with specific law to end the biased decisions. 
 
 
Keywords: Family. Adoption. Socio-affective relationship. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................08 
 
2 A FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO............................................................................10 
2.1 A família no Código Civil de 1916.........................................................................................11 
2.2 A família no Código Civil de 2002.........................................................................................12 
2.3 A família hoje..........................................................................................................................14 
 
3 A ADOÇÃO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO.......................................................16 
3.1 Conceito de adoção.................................................................................................................16 
3.2 Procedimento..........................................................................................................................19 
3.3 Quem pode adotar..................................................................................................................24 
3.4 Procedimentos pós doção.......................................................................................................26 
3.5 Efeitos da adoção....................................................................................................................26 
 
4 ENTRAVES NA ADOÇÃO POR CASAIS HETEROSSEXUAIS X CASAIS 
HOMOAFETIVOS.......................................................................................................................28 
4.1 Adoção por casais heterossexuais..........................................................................................28 
4.2 Adoção por casais homoafetivos............................................................................................29 
4.3 Influência na orientação sexual do adotado por casais homoafetivos...............................36 
4.4 Atualidades concernentes à adoção homoafetiva................................................................39 
 
5 POSICIONAMENTO DOSTRIBUNAIS ...............................................................................42 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................50 
 
REFERÊNCIAS............................................................................................................................52 
8 
 
INTRODUÇÃO 
Este trabalho tem como escopo a adoção, delimitando o universo de análise para as 
questões que envolvem a filiação sócio-afetiva. Pretende discutir os reflexos do seu 
reconhecimento no ordenamento jurídico brasileiro, bem como a desnecessidade do moroso 
processo de adoção para reconhecimento da paternidade ou maternidade do filho socioafetivo, e 
defende a urgência do reconhecimento legal desse instituto para legalizar esse tipo de filiação. 
O interesse pela temática foi motivado porque, no momento atual, novos modelos de 
relacionamento surgiram. A sociedade pós-moderna apresenta características peculiares que até 
então não existiam no que diz respeito aos relacionamentos afetivos e conjugais. Essas 
particularidades que hoje existem trouxeram um novo conceito de família, consequentemente isso 
refletiu no direito de família, principalmente no que diz respeito à legalização dos novos modelos 
de relações familiares e as possibilidades de adoção. 
O instituto da adoção de crianças por casais homoafetivos no direito brasileiro ainda causa 
polêmica no meio jurídico, e não há lei que regule a matéria. Como a existência desse modelo 
familiar na sociedade atual tem aumentado consideravelmente, carece urgentemente de 
reconhecimento e normatização, para que os casais homoafetivos possam ter a mesma proteção 
que goza as famílias tradicionais, oferecendototal segurança aos filhos que vierem a ter, bem 
como para que gozem dos mesmos direitos quando desejarem adentrar no moroso processo de 
adoção. 
Para tornar o estudo mais didático, optou-se por fazer o estudo em quatro capítulos. 
No primeiro capítulo será apresentado o instituto da família no direito brasileiro, numa 
perspectiva histórica, filosófica e jurídica, tendo em vista que no relacionamento familiar foi 
concebida a noção de filho, fazendo uma abordagem do Código Civil de 1916, do Código Civil 
de 2002, até o que temos atualmente. 
No segundo capítulo tratar-se-á da adoção no sistema jurídico brasileiro na mesma 
perspectiva abordada no primeiro capítulo. 
No terceiro capítulo serão colocados os entraves na adoção por casais heterossexuais x 
casais homoafetivos. 
Por fim, no quarto capítulo, trar-se-á para discussão o posicionamento dos tribunais 
acerca do assunto. 
9 
 
Deve-se, porém, ter bem claro, que não se tem a pretensão de esgotar o assunto, mas 
demonstrar em que bases se firmaram e ainda estão se firmando tais institutos. 
Utiliza-se, além do estudo de matéria doutrinária que aborda essa temática, da leitura, 
estudo e apresentação de jurisprudências, a fim de se estabelecer o estudo na perspectiva prática 
exemplificativa, além da legislação já vigente que regula a matéria. 
O objetivo geral pretende estudar a adoção por casais homoafetivos e verificar se existe 
legislação específica que a regule. 
Este estudo torna-se relevante na medida em que conduz a compreensão e conhecimento 
da família e da filiação por adoção para além do Código Civil, e a repercussão das normas que 
regulam tal instituto, contextualizando com o que a sociedade atual vivencia e necessita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
2 A FAMÍLIA NO DIREITO BRSILEIRO 
 
O conceito de família, instituto regulado pelo Direito, tem experimentado mutações em 
seu conceito ao longo dos anos, existindo algumas etapas históricas em que essas transformações 
são mais evidentes. 
Para Juiz de Direito Luciano Silva Barreto, a família, “primeira célula de organização 
social é formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligada pelos laços afetivos, surgiu 
há aproximadamente 4.600 anos.” (BARRETO, 2016, p.206). 
Nas variadas passagens históricas diferentes modelos conceituais se destacam. Ressaltam-
se apenas aqueles modelos e conceitos considerados mais importantes para a compreensão dos 
modelos atualmente existentes. 
Desde tempos imemoriais, uma família se forma pelo casamento, instituto concebido pelo 
envolvimento afetivo entre um casal que gera o desejo de constituir uma família, lugar onde este 
casal cultivará seus sentimentos e construirá seu projeto pessoal de felicidade, incluindo nesse 
projeto, além do afeto e do amor conjugal, seu patrimônio econômico. 
O sacramento matrimonial era a única forma de se dar início a uma família, sendo esta 
indissolúvel. Era uma entidade severa, e os vínculos de afeto sequer eram conhecidos como uma 
forma de se estender os laços familiares às pessoas sem vínculo de sangue direto. 
Todavia, o conceito de família foi evoluindo, e ganhou novos rumos na sociedade de hoje. 
O casamento não é mais a única maneira de constituição de uma entidade familiar. Significativas 
foram as mudanças do Código Civil de 1916 ao Código Civil de 2002, e até o ano de 2016. 
Hoje, não importa se a família se formou pelo casamento ou não, mas a dignidade 
daqueles que compõem o núcleo familiar, merecendo especial proteção do Estado, pois segundo 
o artigo 226 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, (CRFB/88), a família é a 
base da sociedade. 
Nesse sentido leciona Gonçalves: 
 
A família é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo fundamental 
em que repousa toda a organização social; sem sombra de dúvidas trata-se de instituição 
necessária e sagrada para desenvolvimento da sociedade como um todo, instituição esta 
merecedora de ampla proteção do Estado. (GONÇALVES, 2005, p. 1). 
 
 
11 
 
Ainda sobre essa questão, assevera Gonçalves: 
 
O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam a 
família constituída unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal e hierarquizada, ao 
passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos elementos que 
compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos que norteiam a sua 
formação. (GONÇALVES, 2005, p. 16). 
 
Dias aduz: 
 
O Código Civil procurou atualizar os aspectos essenciais do direito de família, instituído 
com base em nossa atual Carta Magna, garantidora de nossos direitos, preservando a 
estrutura anterior do Código Civil, todavia, com a devida incorporação as mudanças 
legislativas ocorridas por meio da legislação esparsa. (DIAS, 2009, p. 31). 
 
Diante dessas premissas, julga-se relevante pontua-se qual a concepção de família trazida 
no Código Civil de 1916, no Código Civil de 2002 e nos dias hodiernos. 
 
2.1 A família no Código Civil de 1916 
 
O Código Civil de 1916, (Lei nº 3.071/16), no que se refere à família, trazia o conceito de 
família patriarcal, em que o homem era considerado o chefe da família, e a mulher casada era 
incluída no rol das pessoas relativamente incapazes. 
Esta legislação consagrou o casamento como o único instituto jurídico formador da 
família. Sendo assim, este conceito era um óbice a adoção. O reconhecimento de filhos só era 
legítimo quando nascidos após o matrimônio. Filhos adulterinos ou incestuosos não eram 
considerados filhos juridicamente falando. (WALD, 2002. p. 22). Este conceito de filiação era 
pautado na presunção pater is est, sendo considerados filho e detentor de todos os direitos e 
deveres inerentes à filiação, apenas aqueles nascidos na constância do casamento. O vínculo 
afetivo e biológico não era sequer mencionado, sendo que aqueles que fossem concebidos fora do 
casamento não eram considerados filhos, muito menos aqueles chamados de “filhos de criação”, 
hoje chamados de filho socioafetivo. 
Para Fugie, 
 
Na restrita visão do Código Civil de 1916, a finalidade essencial da família era a 
continuidade. Emprestava-se juridicidade apenas ao relacionamento matrimonial, 
12 
 
afastadas quaisquer outras formas de relações afetivas. Expungia-se a filiação espúria e 
proibiam-se doações extraconjugais. (FUGIE, 2002, p. 133). 
 
 
Durante décadas a legislação brasileira protegeu a instituição da família e os laços 
sanguíneos entre os parentes, vedando e criando impedimentos para a dissolução da relação 
conjugal e para a adoção, negando-se a aceitar a importância do afeto nesses relacionamentos. 
Dias coloca que: 
 
A negativa de reconhecer os filhos fora do casamento possuía nítida finalidade 
sancionatória, visando a impedir a procriação fora dos “sagrados laços do matrimônio”. 
Igualmente afirmar a lei que o casamento era indissolúvel servia como verdadeira 
advertência aos cônjuges de que não se separassem. Também negar a existência de 
vínculos afetivos extramatrimoniais não almeja outro propósito senão o de inibir o 
surgimento de novas uniões. O desquite – estranha figura que rompia, mas não dissolvia 
o casamento – tentava manter a todos no seio das famílias originalmente constituídas. 
Desatendida a recomendação legal, mesmo assim era proibida a formação de outra 
família. (DIAS, 2004, p. 34-35). 
 
Prossegue-se demonstrando as mudanças ocorridas com o advento do Código Civil de 
2002. 
 
 
2.2 A família no Código Civil de 2002 
 
O Código Civil brasileiro, Lei nº. 10.416, de 10 de janeiro de 2002, recebeu a influência 
histórica do Código anterior, mas absorveu as ideias Constitucionais, portanto, avançou no 
reconhecimento quanto ao reconhecimento do afeto como formador de relacionamentos 
familiares e inovou o conceito de família, trazendo a regulamentação da união estável comoentidade familiar. 
Este Código reconheceu a família moderna brasileira, que nasce a partir da valorização do 
elo do afeto. 
Segundo Theodoro Júnior: 
 
A Constituição de 1988 realizou enorme progresso na conceituação e tutela da família. 
Não aboliu o casamento como forma ideal de regulamentação, mas também não 
marginalizou a família natural como realidade social digna de tutela jurídica. Assim, a 
família que realiza a função de célula provém do casamento, como a que resulta da 
“união estável entre o homem e a mulher” (art. 226, §3º), assim como a que se 
13 
 
estabelece entre “qualquer dos pais e seus descendentes”, pouco importando a existência, 
ou não, de casamento entre os genitores (art. 226, §4º). (THEODORO JÚNIOR, apud 
GOMES, 1998, p. 34). 
 
 
O novo Código passou a reconhecer os filhos adotivos, em seu artigo 1596, a união 
estável, em seu artigo 1723, os direitos advindos das relações concubinas, em seu art igo 1727, 
reafirmou a igualdade entre os cônjuges, em seu artigo 1.511, e trouxe a possibilidade da 
dissolução do vínculo conjugal, pela da separação e do divórcio, em seu artigo 1.571, III e IV, 
consagrando as mudanças trazidas pela Magna Carta. 
Dentre essas mudanças trazidas pelo Código Civil de 2002 está a expressa igualdade dos 
cônjuges no seio familiar, extinguindo-se o poder patriarcal, bem como a atualização da 
dissolução do vínculo conjugal, por meio da separação e do divórcio; a atualização da adoção, 
sem qualquer distinção entre os filhos de sangue e os adotados; a regulamentação da união 
estável entre o homem e a mulher, bem como o reconhecimento de direitos decorrentes das 
relações concubinas. 
Assim leciona Fiuza: 
 
Com a constituição de 1988, atentou-se para um fato importante: não existe apenas um 
modelo de família, como queriam crer o Código Civil de 1916 e a Igreja Católica. A 
ideia de família plural, que sempre foi uma realidade, passou a integrar a pauta jurídica 
constitucional e, portanto, de todo o sistema. Reconhecem-se hoje não só a família 
modelar do antigo Código, formada pelos pais e filhos, mas, além dela, a família 
monoparental, constituída pelos filhos e por um dos pais; a família fraterna, consistente 
na vida comum de dois ou mais irmãos; até mesmo as famílias simultâneas, dentre 
outras, são reconhecidas. (FIUZA, 2007, p. 946). 
 
Sobre a visão afetiva familiar nos dias hodiernos, tem-se já firmado que “o afeto que se 
origina espontânea e profundamente, com significado de amizade autêntica, de reciprocidade 
profunda entre companheiros, vem sendo a principal motivação para o estabelecimento de uma 
união entre os seres humanos.” (MARIANO, 2009, p. 5). 
De acordo com Dias: 
 
A nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir o 
status de família, merecedora da proteção do Estado, pois a Constituição Federal, no inc. 
III do art. 1º, consagra, em norma pétrea, o respeito à dignidade da pessoa humana. 
(DIAS, 2010, p. 2). 
 
14 
 
A paternidade ou a maternidade socioafetiva veio a surgir como sendo aquela emergente 
da construção afetiva, através da convivência diária, do carinho e cuidados dispensados à pessoa. 
Surge dentro do conceito mais atual de família, ou seja, de família sociológica, unida pelo amor, 
onde se busca mais a felicidade de seus integrantes. 
Segundo Luciano Silva Barreto: 
 
A família contemporânea caracteriza-se pela diversidade, justificada pela incessante 
busca pelo afeto e felicidade. Dessa forma, a filiação também tem suas bases no afeto e 
na convivência, abrindo-se espaço para a possibilidade da filiação não ser somente 
aquela que deriva dos laços consanguíneos, mas também do amor e da convivência, 
como é o caso da filiação socioafetiva. (BARRETO, 2016, p. 208). 
 
Todavia, não obstante as evoluções legislativas trazidas pelo Código Civil de 2002, com 
tantas modificações, este não conseguiu abarcar todas as mudanças que se mostram necessárias 
na sociedade atual. Dentre as relações extramatrimoniais onde, hoje em dia, abstrai-se que o 
núcleo familiar pode ser formado pela união estável, pela união de um dos pais com seus 
descendentes (famílias monoparentais), e até mesmo pela união homoafetiva, e no que diz 
respeito à união homoafetiva trata-se de tema ainda omisso na lei, embora seja muito discutida 
pela doutrina e jurisprudência devido à sua própria existência na sociedade. Desta forma, merece 
que nossa legislação pátria venha regular a matéria, e se consolide as orientações jurisprudenciais 
a favor dessa pequena parte dos cidadãos brasileiros. 
Em capítulos posteriores, essa questão será levantada. 
 
2.3 A família hoje 
 
Hoje em dia não há que se falar apenas em família fundada sobre as bases do casamento 
civil e religioso. A solidez dos relacionamentos afetivos na atualidade não se constrói apenas 
sobre a égide deste instituto, que embora ainda exista, coexiste, ainda que não totalmente de 
forma harmoniosa, com outros modelos de união. 
Sobre núcleo familiar, Venosa (2008, p. 1), assevera que “o Direito Civil moderno 
apresenta como regra geral, uma definição restrita, considerando membros da família as pessoas 
unidas por relação conjugal ou de parentesco”. (VENOSA, 2008, p. 1). 
15 
 
Todavia, não mais se cogita que a família se funda apenas em uniões biológicas, de filhos 
nascidos de pai e mãe casados civilmente, nem de filhos nascidos de um casal heterossexual, com 
a mistura de sangue e genes de um pai e de uma mãe, mas também de famílias formadas sob as 
bases psicológicas e sociológicas, todos merecendo se regulados pelo direito. 
Muito embora, nos primórdios da história da evolução do conceito de família, a sociedade 
só aceitasse a família formada pelos enlaces do matrimônio, e a lei trouxesse regulação acerca do 
casamento e das relações de filiação e parentesco que havia entre os nascidos desse enlace, hoje 
esse modelo não é o único existente. Várias foram as mudanças ocorridas ao longo dos séculos, e 
variados modelos de agrupamento familiar surgiram, cabendo ao Estado o dever jurídico 
constitucional de proteger esses novos modelos de agrupamento familiar. 
Na constituição e desenvolvimento das famílias, a sociedade moderna viu nascer as 
relações extramatrimoniais, e não há motivos éticos, nem morais, nem religiosos, que os façam 
vedar os olhos para o reconhecimento destas uniões como legítimas. 
Nas relações extramatrimoniais o núcleo familiar se forma pela união estável, pela união 
de um dos pais com seus descendentes (famílias monoparentais), pela união homoafetiva, e 
nessas uniões surge a figura dos filhos de casais concebidos na união estável, dos filhos das 
famílias monoparentais e dos filhos de casais homoafetivos. 
Aos filhos de casais em união estável a lei não mais se omite na regulação dos direitos e 
deveres do pai e da mãe, e do relacionamento de ambos. Aos filhos das famílias monoparentais 
também já não há omissão legal. Mas para com os filhos de casais homoafetivos, apesar de ser 
impossível negar sua existência na sociedade, a lei ainda é omissa, muito embora seja uma 
celeuma já discutida pela doutrina e jurisprudência. 
Se não há proteção legal reconhecida ainda para esses filhos, mais grave ainda é quando o 
assunto é a adoção de crianças por casais homoafetivos. 
Para alcançar o objetivo maior que norteia essa pesquisa, deter-nos-emos nas linhas 
subsequentes, ao estudo da adoção no sistema jurídico brasileiro. 
 
 
 
 
 
16 
 
3 A ADOÇÃO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO 
 
3.1 Conceito de adoção 
 
A palavra „adoção‟, vem do latim, adaptio, e tem o sentido de escolher. 
Adotar é a maneira legal de recebimento da criança e do adolescente no seio de uma 
família substituta. É um ato jurídico pelo qual se criam relações que se assemelham àqueles 
advindos do parentesco natural, qual seja, de pessoas ligadas pelo vínculo de sangue ou vínculo 
biológico. O filho adotadopossui direitos e deveres recíprocos para com aquele que o adotou. 
Nos dizeres de Caio Mário Pereira, a “adoção é o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outro 
como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de parentesco consanguíneo 
ou afinidade”. (PEREIRA, 2007, p. 392). 
Conceituando adoção sob o aspecto subjetivo, Hália Pauliv de Souza leciona: “A adoção 
envolve vocação, vontade interior de desenvolver a maternidade e a paternidade instintivas, pelo 
real desejo de se ter um filho. Reflete o desejo de constituir família, por decisão madura, 
dialogada e refletida.” (SOUZA, 2001, p. 24). 
“[...] Adoção é um ato pelo qual um pater famílias recebe sob seu pátrio poder uma 
pessoa (adotada) que pertence à outra família.” (SZNIK, 1999, p. 28). 
O surgimento da adoção remonta aos tempos bíblicos e entre os hebreus já havia o 
instituto da adoção. Em Gênesis, capítulo 16, versículos, 1 e 2 e capítulo 30, versículos 1e 3, fala 
que a mulher estéril poderia adotar os filhos da serva que ela havia conduzido ao tálamo de seu 
marido. Temos também a história de Moisés, que foi encontrado em um cesto às margens do Rio 
Nilo e foi adotado por Termulus, a filha do Faraó. 
Num primeiro momento, a adoção relacionava-se a anseios de ordem religiosa, posto 
que os filhos fossem a garantia da continuidade do culto familiar. Desta maneira, objetivava 
atender unicamente aos interesses do adotante. 
A esse respeito: 
 
[...] a adoção surgiu da necessidade, entre os povos antigos, de se perpetuar o culto 
doméstico, estando assim ligada mais à religião que ao próprio direito. Havia, entre os 
antigos, a necessidade de manter o culto doméstico, que era a base da família, sendo 
17 
 
assim, a família que não tivesse filhos naturais, estaria fada à extinção. (BANDEIRA, 
2001, p. 17) 
 
Com o passar dos anos, essa visão mudou, variando desde sua finalidade até o 
procedimento para sua efetivação e as sucessivas leis trouxeram em seus textos modificações que 
ampliaram a sua utilização. 
Paulatinamente, percebeu-se que tanto adotantes como adotados se beneficiam com a sua 
efetivação e “a adoção deixou de ser vista como um ato de caridade, passando a ser uma forma de 
se ter filhos pelo método não biológico.” (PACHI, 2003, p. 165). 
Hoje está pacificado na doutrina e jurisprudência que “apenas será admitida a adoção que 
constituir efetivo benefício para o adotado.” (DINIZ, 2005, p. 208). E a Constituição Federal 
dispõe que entre o filho legítimo e o adotado não deve haver discriminação, tendo este último os 
mesmos direitos que aquele quanto ao uso do patronímico familiar e na sucessão em seu artigo 
227. 
O Código de Hamurabi, escrito aproximadamente em 1772 a.C, é considerado a primeira 
codificação jurídica sobre o instituto da adoção. Este trazia nove dispositivos sobre a adoção (185 
a 193) no capítulo XI, intitulado “Adoção, ofensas aos pais, substituição de criança.” 
Naquele tempo, o ato de dar o nome a uma criança e a criar como filho lhe ensinando uma 
profissão, era suficiente para que a adoção se efetivasse. E esta criança não poderia mais ser 
reclamada pelos pais biológicos. 
Código de Hamurabi, artigo 185º: “Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como 
filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.” 
Isso não impedia que o adotando regressasse à casa dos pais biológicos. Caso ele se 
insurgisse contra o seu pai ou mãe adotivos, restituído seria à sua origem. 
As hipóteses que possibilitavam aos pais biológicos reivindicarem o filho de volta 
estavam previstas nos artigos 186, 189, 190: 
Código de Hamurabi, artigo 186º: “Se alguém adota como filho um menino e depois que 
o adotou ele se revolta contra seu pai adotivo e sua mãe, este adotado deverá voltar à sua casa 
paterna.” 
Código de Hamurabi, artigo 189º: “Se ele não lhe ensinou o seu ofício, o adotado pode 
voltar à sua casa paterna.” 
18 
 
Código de Hamurabi, artigo 190º: “Se alguém não considera entre seus filhos aquele que 
tomou e criou como filho, o adotado pode voltar à sua casa paterna.” 
Já naquela época a adoção era um contrato em que adotante e adotando tinham deveres 
um para com o outro. 
A forma como é utilizada nos dias atuais teve sua origem em Roma. 
Foi introduzida no direito brasileiro com as características do direito português, porque as 
Ordenações do Reino vigoram no Brasil, até a entrada em vigor do Primeiro Código Civil, em 
1917, que sistematizou o instituto da adoção em sua Parte Especial, livro I (Direito de Família), 
Capítulo V, nos artigos 368 a 378. 
Com o advento da Lei 8.069de 13 de junho de 1990, Estatuto da Criança e Adolescente - 
ECA -, inspirado no artigo 227, caput, da Constituição Federal, de1988, este instituto passou a 
ser disciplinado por este Estatuto, em seus artigos 39 à 52, tendo como regra que toda a criança e 
adolescente têm direito à convivência familiar, seja ela em sua família biológica (ou 
consanguínea), seja em família substituta conforme se estatui do artigo 19 in verbis: 
 
Toda a criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família 
e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e 
comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias 
entorpecentes. (BRASIL, ECA 1990) 
 
 
Do artigo 39 do ECA, em seu parágrafo único, depreende-se que a adoção é ato 
personalíssimo e não deve ser vista como um ato de caridade, ou uma forma de se ter filhos por 
meios não naturais, mas, sim, como um ato de amor, de doação. 
Também no Estatuto supracitado, no artigo 41, em consonância com o artigo 227 da 
Constituição Federal, atribui a condição de filho ao adotado com os mesmos direitos e deveres, 
inclusive os sucessórios, rompendo-se qualquer vínculo com a família e parentes naturais, salvo 
os impedimentos matrimoniais. 
O artigo 43 do Estatuto da Criança e Adolescente, em igualdade com o Código Civil de 
2002, em seu artigo 1625, dispõe que a adoção só será deferida se trouxer reais vantagens para o 
adotado. 
Eduardo Pachi, Juiz de Direito do Estado de São Paulo, leciona que a adoção não deve ser 
vista como um ato de caridade, mas sim como uma forma de se ter filhos por outro método que 
não o biológico. (PACHI, 2006, p. 34). 
19 
 
Nas situações omissas do ECA, pelos artigos 1618 a 1629 do Código Civil, Lei nº 10.406, 
de janeiro de 2002.Também se aplicam subsidiariamente ao Estatuto da Criança e Adolescente as 
regras do Código de Processo Penal. 
A esse respeito, tecer-se-á comentários no procedimento para a adoção. 
Modernamente falando, a adoção pode ser entendida como uma forma de procriação. “A 
filiação adotiva neste final de século pode ser entendida como uma procriação juridicamente 
assistida. Ela busca uma família para a criança, não o contrário [...]”. (NABINGER, 1997, p. 83). 
Pela adoção, o adotado torna-se filho, por um ato de amor protegido juridicamente, sem o 
elo biológico ou heteroparental. 
 
3.2 Procedimento 
 
A adoção é um processo, e como tal deve obedecer ao procedimento legal, que vai desde a 
visita de assistentes sociais e psicólogos aos adotandos, o laudo pericial obrigatório, a oitiva dos 
adotantes e, em alguns casos, do adotado, até à sentença prolatada pelo magistrado e seus efeitos. 
Recursos cabíveis e em que momento estes deverá ser interposto. Questões processuais 
propriamente ditas, destacando-se o perfil do adotante e do adotado, idade de ambos, situação 
conjugal, bem como, e os requisitos que devem ser obedecidos ao formular o pedido de adoção. 
Todavia, os artigos 1618 à 1629 do Código Civil não tratam do procedimento da adoção. 
O artigo 1623 dispõe que: “a adoção obedecerá ao processo judicial, observando os requisitos 
estabelecidos neste código.” O ECA também não traz um procedimento específico para a adoção. 
Em sua Seção IV, Capítulo III, Título VI do Livro III intitulado: “Colocação em Família 
Substituta”dispõe sobre os institutos da guarda, tutela e adoção. Mas há que se observar que o 
instituto da adoção tem suas peculiaridades procedimentais próprias, posto que é um instituto que 
difere em muito dos institutos de guarda e tutela. 
A questão processual rege-se sob a égide dos artigos 141 e parágrafos, artigo 206, 148 
inciso III e artigo 147 do ECA. 
Quanto à formalidade do pedido de adoção, deve ser observado o que traz o artigo 50 do 
Estatuto que assim dispõe: “a autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional 
um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas e outros de pessoas 
interessadas na adoção”. 
20 
 
Sobre esse registro tem-se que: 
 
Conforme previsto pelo artigo 50 do Estatuto da Criança e Adolescente, será mantido em 
cada comarca ou foro regional um registro de crianças e adolescentes em condições de 
serem adotadas e outro de pessoas interessadas na adoção. A inscrição dar-se-á após a 
prévia consulta aos órgãos técnicos do juízo, ouvido o Ministério Público e não será 
deferida se o interessado não satisfizer os requisitos legais ou se presentes qualquer das 
hipóteses do artigo 29, ou seja, se o interessado revelar, por qualquer modo, 
incompatibilidade com a natureza da medida ou não oferecer ambiente familiar 
adequado. Refere-se o artigo 50 aos chamados cadastros de pessoas interessadas em 
adoção e de crianças ou adolescentes aptas à adoção. (GUIMARÃES, 2000, p.40). 
 
Um requisito essencial para quem possui o desejo de adotar é a prévia habilitação. O 
artigo 197 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA -, Lei nº 8.069/90, com as alterações 
da Lei 12.010, de 03 de novembro de 2009 elenca as etapas para que o adotante se habilite à 
adoção: 
 
Seção VIII. Da Habilitação de Pretendentes à Adoção 
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, apresentarão petição inicial 
na qual conste: 
I - qualificação completa; 
II - dados familiares; 
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa 
ao período de união estável; 
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas; 
V - comprovante de renda e domicílio; 
VI - atestados de sanidade física e mental; 
VII - certidão de antecedentes criminais; 
VIII - certidão negativa de distribuição cível. 
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista 
dos autos ao Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá 
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de 
elaborar o estudo técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei; 
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e 
testemunhas; 
III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras 
diligências que entender necessárias. 
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da 
Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá 
subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício 
de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta 
Lei. 
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da 
Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela 
execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua 
preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores 
ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de 
grupos de irmãos. 
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no 
§ 1º deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de 
21 
 
acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado 
sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da 
Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento 
familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à 
convivência familiar. 
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no 
art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, 
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a 
juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e 
julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009). 
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a 
autoridade judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista 
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. 
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no 
art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem 
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes 
adotáveis. 
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela 
autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando 
comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. 
§ 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou adolescentes indicados importará na 
reavaliação da habilitação concedida. (BRASIL, ECA 1990) 
 
 
Após concluso o cadastro, obedece-se a ordem cronológica da inscrição para se 
contemplar este ou aquele habilitado. Porém, se comprovado prejuízo à criança a ser adotada, 
esta ordem poderá ser desconsiderada. “Sendo assim, existindo uma criança ou adolescente em 
condições de ser adotada, caberá ao Juiz da Infância e Juventude verificar no seu cadastro aquele 
que mais se adapte às necessidades do adotando, independentemente da ordem de inscrição.” 
(PACHI, 2002, p.167). 
Deferida a inscrição de que trata o artigo 50, parágrafos1º e 2º, do ECA, inicia-se o 
processo de adoção. 
Sendo assim, o primeiro passo é procurar o Fórum da Comarca da residência do adotando 
e a Vara da Infância e Juventude, com os documentos elencados no artigo 197 e com 
requerimento dirigido ao Juiz que responde pela Vara da Infância e da Juventude. 
Existe ainda a Ficha de Cadastro de Pretendentes a adoção disponível na Vara da Infância, 
com os dados necessários para posterior inclusão no Cadastro Nacional de Adoção - CNA. 
A habilitação para adoção é um processo, portanto deve ser registrado no Sistema 
utilizado na comarca do adotando, SAIPRO, SAJ ou PjE. 
Somente a autoridade judiciária tem capacidade para conhecer de pedidos de habilitação 
para adoção. 
22 
 
A competência para se conhecer do pedido de adoção, é do juízo especial, nesse caso, o 
da Justiça da Infância e da Juventude, conforme dicção do artigo 148, inciso III do Estatuto da 
Criança e Adolescente: 
 
A justiça da Infância e da Juventude é competente para: III – conhecer dos pedidos de 
adoção e seus incidentes. Neste caso, a competência será em razão da matéria-ratione 
materiae, que é absoluta, podendo ser alegada de ofício, em qualquer tempo e grau de 
jurisdição, independente de exceção. (BRASIL, ECA 1990) 
 
A petição inicial deverá ser instruída por advogado, observando-se os requisitos gerais 
previstos do artigo 282 do Código de Processo Civil e dos requisitos específicos do artigo 165 do 
Estatuto da Criança e Adolescente. O artigo 166 do Estatuto da Criança e Adolescente traz uma 
exceção a esse regramento para os casos de pais falecidos, ou se esses forem destituídos ou 
suspensos do pátrio poder, ou, ainda, quando houverem aderido expressamente ao pedido de 
colocação do menor em família substituta. Apenas para essas situações, a petição poderá ser 
formulada diretamenteem cartório, assinada pelos requerentes. 
Por requisição do magistrado, os adotantes serão avaliados nos aspectos sociais e 
psicológicos por profissionais das áreas de Serviço Social e Psicologia. Há também a 
possibilidade de nomeação de peritos para a realização dos estudos social e psicológico nos 
processos de habilitação para adoção por meio do Programa de Apoio aos Órgãos Jurisdicionais 
na Realização de Perícias Judiciais, criado pela Resolução nº 01 do Conselho da Magistratura, de 
24.01.2011. 
Juntados os Relatórios de Avaliação Psicossocial, o Ministério Público os examinará e 
enunciará parecer, em seguida, o Juiz proferirá sentença. 
Depois de concluído o Processo de Habilitação, com sentença proferida pelo Juiz, 
transitada em julgado, realizar-se-á a inclusão do adotando no Cadastro Nacional de Adoção - 
CNA, por magistrado ou servidor autorizado. 
Incluído o adotando habilitado na comarca, no Cadastro Nacional de Adoção, este estará 
habilitado a adotar, tanto no estado em que reside quanto a nível nacional. Lembrando que o 
adotando só pode habilitar-se na comarca de sua residência. 
Os documentos necessários para Habilitação para Adoção, de acordo com art. 197 do 
ECA são: cópias autenticadas de Certidão de Nascimento ou Casamento, ou declaração relativa 
ao período de união estável; cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas 
23 
 
Físicas ( CPF);comprovante de renda e de domicílio; atestados de sanidade física e mental ( 
Atestados Médicos);certidão de antecedentes criminais e certidão negativa de distribuição cível. 
O Novo Código Civil, Lei nº 10.406, de janeiro de 2002 trata do instituto da adoção no 
Capítulo VI, “Da Adoção”, Livro IV, Do Direito de Família, nos artigos 1618 a 1629. Novas 
regras devem ser observadas de acordo o Código Civil, se surgirem dúvidas sobre a colocação 
dos dispositivos do ECA. 
Segundo Sílvio Rodrigues: “Omissa a lei, só devem ter por revogados os dispositivos 
incompatíveis com a nova legislação. No mais, ainda se preservarão os critérios estabelecidos 
pelo Estatuto da Criança e Adolescente, para a adoção nele prevista.” (RODRIGUES, 2003, 
p.389). 
No que tange ao requisito de natureza subjetiva, a vontade de adotar uma criança, 
reconhecendo-a como seu próprio filho, oferecendo-lhe saúde, lazer, família educação e amor. 
Apesar de que a Lei n° 12.010, de 03 de agosto de 2009, “Lei Nacional da Adoção”, foi 
elaborada com o objetivo de desburocratizar o processo de adoção, todo o processo de adoção no 
Brasil ainda é extremamente burocrático e moroso, abrangendo um lapso temporal bem extenso. 
A seguir será apresentado quem são as pessoas que podem adotar. 
 
3.3 Quem pode adotar 
 
A primeira consideração que se deve fazer a respeito de quem pode adotar é de natureza 
subjetiva, pois que pode adotar é aquela pessoa imbuída do desejo de fazer seu filho o filho de 
outrem, ainda que não tenha sido concebido por ele. 
Imbuído desse desejo, dessa vontade, há que se observar, em primeira mão, a idade do 
adotando, que, de acordo com o artigo 42do Estatuto da Criança e Adolescente: “Artigo 42. 
Podem adotar os maiores de 18 anos, independentemente do estado civil.” 
O parágrafo único do artigo 1618 reza que, quando a adoção for requerida por ambos os 
cônjuges ou companheiros, poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito 
anos. A idade de dezoito anos é requisito para o casal, bastando que somente um dos 
companheiros tenha a idade acima de dezoito anos. 
Outra questão que merece ser levantada diz respeito ao enfoque sobre a diferença etária 
entre adotante e adotado. O artigo 1619 do Novo Código Civil e o artigo 42, parágrafo segundo 
24 
 
do Estatuto da Criança e Adolescente, dispõem que o adotante deverá ser 16 anos mais velho do 
que o adotado. 
Mas, por ser o escopo da adoção trazer vantagens para o menor, a jurisprudência 
interpreta estes dispositivos de forma mais flexível, como se observa na decisão do Tribunal de 
Justiça de Minas Gerais: 
 
Adoção-Inobservância de requisito do § 3º do artigo 42 do Estatuto da Criança e 
Adolescente-Vantagem para o menor-Atenuação do rigorismo formal da lei. –Se a 
adoção é vantajosa para o menor, é de ser deferido seu pedido, ainda que não ocorra a 
diferença etária entre adotante e adotado, requisito constante do § 3º do artigo 42 do 
Estatuto da Criança e Adolescente, tendo em vista que, diante da finalidade precípua da 
adoção, que é o bem-estar do adotando, deve ser atenuado o rigorismo formal da lei. 
(TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS, Apelação Cível nº 4779/5-Comarca 
de Ponte Nova-Relator: Dês. CAETANO CARELOS-DJ de 4-11-94) 
 
A Constituição Federal, em seu artigo 226, § 3º, confere à união estável entre homem e 
mulher o status de identidade familiar. “Artigo 226, § 3º: Para efeito da proteção do Estado, é 
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei 
facilitar sua conversão em casamento.” 
Abstrai-se desse artigo que não há vedação legal para adotar nos casos de adotantes que 
vivem em união estável não legitimada legalmente. O § 4º deste artigo atribui essa adjetivação à 
família monoparental. 
A esse respeito tem-se: 
 
Não foge a lei do seu compromisso de considerar a adoção como uma das espécies de 
colocação em lar substituto, ao permitir que o adotante não seja casado, porque em 
consonância com o disposto no artigo 226 parágrafo 4º da Constituição Federal, que 
considera como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes. (OLIVEIRA, 2000, p.180). 
 
 
Como o instituto da adoção tem como objetivo trazer vantagens para a criança e 
adolescente e, se essas vantagens forem adquiridas com a adoção do menor em uma família 
monoparental, esta é bem aceita no ordenamento jurídico. 
O artigo 1622 do Novo Código Civil e 42, parágrafo 4º do Estatuto da Criança e 
Adolescente torna legítima a adoção por casais separados judicialmente ou divorciados. A esse 
respeito, a doutrina adiciona o concubinato, aduzindo que: 
 
25 
 
Questão não resolvida pela lei é saber se os concubinos que, depois de iniciado o estágio 
de convivência, vêm a se separar, podem adotar conjuntamente. Não vemos 
impedimento, se atendidos os mesmos requisitos para os divorciados e separados 
judicialmente. Isto é, estabelecimento de guarda e do regime de visitas. (OLIVEIRA, 
2000, p.183) 
 
A única exigência legal é que o casal separado esteja de acordo quanto a guarda e regime 
de visitas e que a convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. 
Resumindo, independentemente do estado civil, solteiro, casado, divorciado, ou vivendo 
em concubinato, se maior legalmente falando, pode haver adoção. Qualquer pessoa que seja pelo 
menos 16 anos mais velha que a criança a quem pretende adotar. 
Os menores de 18 anos não podem adotar. Os avós ou irmãos da criança pretendida 
também não podem adotar. Cabe a estes últimos o pedido de guarda ou tutela, a ser ajuizado na 
Vara de Família da cidade onde residem. O tutor também não pode adotar tutelado. 
Ainda não há adoção por homossexuais prevista em lei, ficando a decisão para estes casos 
a critério do Juiz responsável pelo processo, cabendo a este decidir se a união estável 
homossexual preenche os requisitos para a adoção. A lei se omitiu quanto à essa possibilidade de 
adoção conjunta por casais homossexuais. O legislador perdeu a oportunidade de regular a 
adoção de casais homossexuais. Este tema ainda é bastante polêmico no Brasil e a previsão legal 
acabaria de uma vez por todas com o preconceito que cerceia essa possibilidade de adoção. 
Adiante, os procedimentos pós adoção serão trazidos à baila. 
 
3.4 Procedimentos pós adoção 
 
Após sentença judicial, o vínculo da adoção se constitui, e esta será inscrita no Registro 
Civil, mediante mandado. Concomitante a esse ato, o registro original do adotadoserá cancelado. 
De acordo com o artigo 47 do ECA, as certidões de registro não poderão conter nenhuma 
observação sobre a adoção. 
Sobre a oitiva do adotando, o prenome deste poderá ser modificado, conforme dicção do 
artigo 47 em seu § 6º, do ECA: “§6 º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo 
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta 
Lei”. 
 
 
26 
 
3.5 Efeitos da adoção 
 
Os efeitos da adoção na legislação atual garantem aos filhos adotivos os mesmos direitos 
dos filhos naturais. 
Na atualidade: “[...] não há mais filho adotivo, mas adoção entendida como meio de 
filiação, que é única. A partir do momento em que a adoção se conclui, com a sentença judicial e 
o registro de nascimento, o adotado se converte integralmente em filho.” (LÔBO, 2008, p. 247). 
O filho adotivo é integrado à nova família com os mesmos direitos que são garantidos a qualquer 
outro filho, de qualquer origem. 
Sendo assim, os efeitos da adoção são de natureza pessoal e patrimonial. 
Sobre o parentesco entre o adotante e o adotado, efeito pessoal da adoção, que é a 
transferência do poder familiar: 
 
Somente o pátrio poder é que fica, durante a adoção, transferido do pai natural-legítimo-
para o pai adotivo-fictício; pois o único resultado sério da adoção é, por assim dizer, 
gerar um herdeiro com direitos de filho às pessoas que não tem descendentes. 
(CARVALHO, 1999, p. 133). 
 
No artigo 227 da Constituição Federal e no artigo 42 do Estatuto da Criança e 
Adolescente, está escrito que com a adoção, todos os laços de parentesco com a família biológica 
se desfazem, e a única exceção são os impedimentos para se contrair o matrimônio. 
De acordo com o artigo 1626 do Código Civil, o adotado se torna filho legítimo do 
adotante rompendo-se os vínculos com a família consanguínea, excetuando-se os impedimentos 
para o casamento. 
O dever de alimentar e a sucessão, efeito patrimonial da adoção, também vão existir na 
adoção, posto que seja uma obrigação da relação de filiação e paternidade. 
Outro efeito patrimonial da adoção diz respeito à administração dos possíveis bens do 
adotado pelos pais adotivos que passa a ser uma obrigação do pai adotivo. 
Quanto aos direitos sucessórios para com o filho adotivo, no que diz respeito à herança do 
adotante, reza o artigo 41 do Estatuto da Criança e Adolescente: Art. 41. A adoção atribui a 
condição de filho ao adotando com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, 
desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parenta, salvo os impedimentos matrimoniais. 
27 
 
Sendo assim, deve haver igualdade do filho adotivo com os descendentes biológicos do 
adotante. 
Findados os apontamentos sobre a adoção, prossegue-se, nas linhas subsequentes, 
apresentando os entraves na adoção por casais heterossexuais x casais homoafetivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
4 ENTRAVES NA ADOÇÃO POR CASAIS HETEROSSEXUAIS X CASAIS 
HOMOAFETIVOS 
 
4.1 Adoção por casais heterossexuais 
 
Conforme já explanado no capítulo 2, a habilitação para a adoção encontra-se no artigo 
197 do ECA, com as alterações da Lei 12.010, de 03 de novembro de 2009. 
O magistrado que estiver com a incumbência de acompanhar e analisar o processo de 
adoção, dentre outras providências, requisitará aos profissionais da área de Serviço Social e 
Psicologia, ou nomeará Peritos por meio do Programa de Apoio aos Órgãos Jurisdicionais na 
Realização de Perícias Judiciais, para que os adotantes sejam avaliados nos aspectos sociais e 
psicológicos. Somente depois de realizada a avaliação Psicossocial supra, e juntados os 
Relatórios dessa Avaliação, o Ministério Público os examinará e enunciará parecer, para em 
seguida, o Juiz proferir a sentença. 
De acordo com o artigo 42do ECA, “Podem adotar os maiores de 18 anos, 
independentemente do estado civil”. O $ 2º desse artigo dispõe que “Para a adoção conjunta é 
indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou que mantenham união estável, 
comprovada a estabilidade da família”. E ainda, o $ 4º desse mesmo artigo elenca as condições 
para que os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros possam adotar 
conjuntamente. Sendo assim, solteiros, casados civilmente, vivendo em união estável, 
divorciados, judicialmente separados, ex-companheiros, se maior legalmente falando, ou seja, se 
completos os dezoito anos, estas pessoas podem adotar. Veja que em nenhum momento a lei 
menciona que estes casais devam ser de sexos opostos. 
Na verdade, toda a legislação é silente ao tratar da adoção conjunta de casais 
homossexuais casados ou vivendo em união estável. Como o artigo 226, § 3º, da CF/1988, 
confere o status de entidade familiar à união estável entre homem e mulher (grifo nosso), 
excluem-se os casais homossexuais do rol do conceito de entidade familiar, muito embora, nos 
dias hodiernos, essa seja uma realidade frequente. Isso reflete na habilitação para adoção. “Artigo 
226, § 3º: Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a 
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.” Como se 
percebe, o dispositivo traz a expressão homem e mulher para se elevar à condição de família a 
29 
 
união estável. Daí se depreende que a adoção por casais heterossexuais não encontra nenhum 
óbice legal, a não ser aqueles que impedem qualquer pessoa de adotar, qual seja, a menoridade 
civil, o laudo negativo da avaliação psicossocial, dentre outros. 
Os casais hétero têm sido beneficiados na habilitação, ferindo os princípios da igualdade e 
da equidade disciplinada pela Magna Carta de 1988. 
 
4.2 Adoção por casais homoafetivos 
 
Embora a contemporaneidade seja contemplada com um momento ímpar na história com 
relação ao conceito do instituto da família, pois a realidade social impôs o enlaçamento das 
relações afetivas pelo Direito de Família, e hoje, o conceito de família já não pode ser o mesmo 
de alguns séculos atrás, posto que, novos modelos de relacionamento familiares surgiram e 
convivem paralelamente aos modelos tradicionais, a Constituição prevê somente três tipos de 
família: a decorrente do casamento (Artigo 226, §§ 1º e 2º);a decorrente da união estável (Artigo 
226, §3º) e a decorrente da entidade familiar monoparental (Artigo 226, §4º). 
Isso tem provocado intensos debates e acirrado a discussão em defesa do igual 
reconhecimento dos dois tipos de relacionamento interpessoal: as uniões heteroafetivas e as 
uniões homoafetivas, já que casais homossexuais vivendo juntos como uma entidade familiar é 
bastante comum na atualidade. 
O não reconhecimento em lei dessas uniões como uma entidade familiar, tem trazido 
reflexos negativos para estes casais quando desejam aumentar sua família pela adoção, o que não 
se justifica, pois vive-se hoje o advento da diversidade no contexto do pluralismo do direito de 
família. 
Nos dizeres de Grisard Filho (2003), presencia-se hoje o advento da diversidade dos 
modelos familiares, vivemos numa época de mudanças que não acaba com o modelo clássico de 
família da era moderna, mas que também não pode mais ser usado como o único modelo para a 
sociedade atual e para as futuras gerações, pois atualmente novas estruturas familiares estão 
surgindo, saindo da família nuclear e entrando em uma sociedade que sinaliza a pluralidade de 
novas organizações familiares. 
Na verdade, é como se a sociedade nadasse contra a maré, aparentemente aceita e convive 
bem com esse pluralismo, mas não pôs fim ao paradigma clássico de família. A família formada 
30 
 
por um pai (sexo masculino) e uma mãe (sexo feminino), com os filhos biológicos nascidos dessa 
união, é o modelo tido como ideal. 
Quanto à família formada por dois pais (sexo masculino), ou duas mães (sexo feminino), a 
estes o direito de ter filhos pela adoçãoé quase sempre negado, sendo limitado pelo preconceito 
da sociedade e daquele que está à frente do processo de adoção. Como a lei é silente sobre esta 
celeuma, cabe ao julgador decidir. 
Já foi mencionado nas linhas supra que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 
226, arrola diversas formas de entidades familiares, porém, como o texto legal traz os vocábulos 
“homem e mulher” ao se referir ao reconhecimento da união estável como entidade familiar, 
percebe-se que os preceitos canônicos ainda prevalecem sobre as normas estatais, e resquícios da 
doutrina da igreja católica, que defende como família legítima apenas a que é constituída sob as 
bases do casamento civil e religioso, formada por um homem e uma mulher, com fins de 
procriação, ainda prevalece como modelo a ser seguido. É o que aduz Dias: “Toda atividade 
sexual com uma finalidade diversa da procriação constitui pecado, infringindo o mandamento 
„crescei e multiplicai-vos” (DIAS, 2000, p. 65). Esse raciocínio conduz à condenação da 
homoafetividade. 
As modificações sociais forçaram o surgimento da sociedade homofóbica na metade do 
século XVII diante da fraqueza dos laços entre o Estado e a Igreja. Durante a segunda guerra 
mundial, tanto judeus quanto homossexuais foram cruelmente assassinados pelos nazistas. Houve 
uma época em que a homoafetividade era considerada uma anomalia. 
A intolerância a homossexualidade e a homoafetividade diminuiu no final do século XX, 
e os movimentos Gays surgiram buscando o rompimento do preconceito. 
Quanto ao Movimento Gay este: 
 
[...] passou a considerar como seu insight mais importante a constatação de que muito 
mais prejudicial do que a homossexualidade em si é o avassalador estigma social de que 
são alvo gays, lésbicas e travestis. Trata-se de indivíduos que, se experimentam alguma 
forma de sofrimento, originado pela intolerância e injustificado preconceito social. 
(DIAS, 2000, p. 65) 
 
O século XXI trouxe uma nova postura em relação a esses pares afetivos, e a 
homoafetividade passou a ser encarada como uma “mistura de fatores, resultado de influências 
biológicas, psicológicas e socioculturais, sem peso maior para uma ou para outra – nunca uma 
determinação genética ou uma opção racional.” (DIAS, 2009, p. 75). 
31 
 
Na contramão dessa nova postura introduzida pelo XXI, o Vaticano ainda declara sua 
contrariedade à homossexualidade e à adoção de crianças por pares homoafetivos, e ainda há um 
grande número de pessoas que consideram a homossexualidade como uma ameaça à sociedade e 
à família. 
Tudo isso reflete na adoção por casais homoafetivos, que enfrentam inúmeras dificuldades 
de cunho religioso, sociais e jurídicas, quando desejam adotar um filho. Isso porque, os 
relacionamentos homossexuais são tidos como uma afronta à moral, a ética, e ao que se 
consideram como bons costumes. 
Os homossexuais são estigmatizados. Esse estigma causa discrepância entre a identidade 
social virtual (preconcepções sobre um indivíduo) e a identidade social real (atributos que a 
pessoa realmente possui). O estigma é algo que transforma uma pessoa comum em uma pessoa 
vista como diminuída e menos capaz. (GOFFMAN, 1988.) 
Como se não bastasse o enfrentamento ao preconceito, o texto da Magna Carta de 1988, 
quando trata do reconhecimento da união estável como uma entidade familiar, os vocábulos 
“homem e mulher”, que são os detonadores da interpretação restritiva que esconde o preconceito, 
rejeitando os novos modelos familiares. Os princípios como os da igualdade e dignidade são 
menosprezados quando se parte dessa interpretação restritiva do texto legal, para disfarçar o 
preconceito que ainda reprime a sociedade brasileira e boa parte dos legisladores e juristas. 
Embora já seja reconhecida a existência da família constituída pela união estável, a 
família mononuclear, a família definida somente pela presença de um vínculo de afeto, o texto 
constitucional não tratou das uniões homoafetivas de forma direta. 
Não há como negar que inexista preconceito quando o casal que pleiteia a adoção foge ao 
modelo tradicional de família, um homem (pai) e uma mulher (mãe) como tronco familiar. 
Sobre a questão, o Estatuto da Criança e do Adolescente que autoriza a adoção por uma 
única pessoa, ou por pares que convivem em família, mas em momento algum se menciona sobre 
a orientação sexual de quem pretende adotar. O artigo 43 do ECA dispõe que: “A adoção poderá 
ser deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos 
legítimos”. E ainda, a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, que deu nova roupagem ao sistema 
de adoção, visando proteger o melhor interesse da criança e do adolescente. 
A lei nada impõe como possibilidade jurídica da adoção à orientação sexual dos 
adotantes, ou qualquer proibição expressa da adoção por casais do mesmo sexo. A lei 
32 
 
simplesmente permite a adoção por solteiros e casais, formados pelo casamento ou união estável. 
Desta forma, a possibilidade jurídica da adoção por homossexuais depende tão somente da 
interpretação e dos valores do julgador. 
Na lei falta reconhecer a possibilidade do casal de adotantes ser homossexual, todavia, na 
análise do ordenamento como um todo, não há que se falar em tal impedimento. O magistrado 
que busca nos costumes, princípios e analogia, de acordo com o art. 4º, LICC, e outros métodos 
de integração, confere a seu julgamento efetividade aos princípios e normas existentes no 
ordenamento jurídico. Assim dispõe o artigo 4º da LICC: “Quando a lei for omissa, o juiz 
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” 
Aqueles que se baseiam nas lacunas da lei, as utilizam apenas para legitimar o preconceito 
que, infelizmente, ainda cerceia o assunto. 
Se feita uma análise gramatical do artigo 226, § 3º e § 4ºda CF/88, chega-se a conclusão 
que a união homossexual não pode ser equiparada à união estável porque envolve duas pessoas 
do mesmo sexo, logo, também não pode ser uma entidade familiar. Todavia, se feita uma análise 
contextualizada com as condições históricas, ideológicas, culturais e políticas, com o escopo de 
conferir à lei um sentido que abranja todo o contexto sociopolítico-econômico para que a mesma 
atinja a sua eficácia plena, a interpretação tomará outro viés. 
Sobre essa visão analítica ampla da norma constitucional: 
 
[...] as cláusulas constitucionais, por seu conteúdo aberto, principiológico e 
extremamente dependente da realidade subjacente, não se prestam ao sentido unívoco e 
objetivo que uma certa tradição exegética lhes pretende dar. O relato da norma, muitas 
vezes, demarca apenas uma moldura dentro da qual se desenham diferentes 
possibilidades interpretativas. À vista dos elementos do caso concreto, dos princípios a 
serem preservados e dos fins a serem realizados é que será determinado o sentido da 
norma, com vistas à produção da solução constitucionalmente adequada para o problema 
a ser resolvido. (BARROSO; BARCELLOS, 2004, p. 222). 
 
E ainda: 
O argumento jurídico mais consistente, contrário à natureza familiar da união civil entre 
pessoas do mesmo sexo, provém da interpretação do Texto Constitucional. Nele 
encontram-se previstas expressamente três formas de configurações familiares: aquela 
fundada no casamento, a união estável entre um homem e uma mulher com ânimo de 
constituir família (art. 226, §3º), além da comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes (art. 226, § 4º). Alguns autores, em respeito à literalidade da dicção 
constitucional e com argumentação que guarda certa coerência lógica, entendem que 
„qualquer outro tipo de entidade familiar que se queira criar, terá que ser feito via 
emenda constitucional e não por projeto de lei. O raciocínio jurídico implícito a este 
posicionamento pode ser inserido entre aqueles que compõem a chamada teoria da 
33 
 
„norma geral exclusiva‟ segundo a qual, resumidamente,uma norma, ao regular um 
comportamento, ao mesmo tempo exclui daquela regulamentação todos os demais 
comportamentos. Como se salientou em doutrina, a teoria da norma geral exclusiva tem 
o seu ponto fraco no fato de que, nos ordenamentos jurídicos, há uma outra norma geral 
(denominada inclusiva), cuja característica é regular os casos não previstos na norma, 
desde que semelhantes a ele, de maneira idêntica. De modo que, frente a uma lacuna, 
cabe ao intérprete decidir se deve aplicar a norma geral exclusiva, usando o argumento a 
contrario sensu, ou se deve aplicar a norma geral inclusiva, através do argumento a 
símile ou analógico. (BODIN, 2006, P. 89/112). 
 
 
Sobre invocar o artigo 4ª da LICC para a solução de lides que tratam dessa adoção, Maria 
Berenice Dias, Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiçado Rio Grande do Sul, em seus 
estudos jurídicos, trouxe a expressão relação homoafetiva, adverte: “A interpretação, portanto, 
deve ser axiológica, progressiva, na busca daqueles valores, para que a prestação jurisdicional 
seja democrática e justa, adaptando-se às exigências e mutações sociais”. (DIAS, 2005). 
Ainda de acordo com a desembargadora: “A falta de previsão específica nos regramentos 
legislativos não pode servir de justificativa para negar prestação jurisdicional ou ser invocada 
como motivo para deixar de reconhecer a existência de direito merecedor de tutela.” (DIAS, 
2005, p.11-12). 
Sobre não existir o reconhecimento expresso sobre a união estável homoafetiva, o 
Tribunal Gaúcho considerou-a análoga à união entre pessoas de sexos diferentes, aduzindo que 
sobre estas deve ser dado tratamento igualitário, em termos patrimoniais, às relações 
heterossexuais e homossexuais, com amparo no artigo 4º da LICC. 
Seguindo esse raciocínio, ignorar a existência de entidades familiares formadas por 
pessoas do mesmo sexo e deixar de conceder-lhes o amparo jurídico que é conferido às uniões 
heteroafetivas, seria o mesmo que ocultar partes do texto constitucional, encobrindo-o com o véu 
do preconceito. E sendo reconhecidas como união estável, terá o direito à adoção. 
A lei, em toda a sua essência e plenitude, por vezes explicitamente, outras implicitamente, 
enaltece o Princípio da Isonomia ou Princípio da Igualdade, e em nenhum momento lê-se sobre a 
proibição expressa da lei com relação à homoafetividade e as possibilidades de relacionamento 
advindas dessa forma de amar, logo, também não lemos nada a respeito da vedação legal quanto 
à adoção por conviventes homoafetivos ou homossexuais. E ainda que houvesse, essa vedação 
seria inconstitucional, porque estaria ferindo de morte o Princípio da Isonomia. Portanto, devem 
ser aplicados os mesmos direitos conferidos à união heterossexual àqueles de mesmo sexo que 
comprovem ter uma convivência duradoura. Se aos casais heterossexuais é conferido o direito de 
34 
 
adotar, aos casais homossexuais também ser estendidos os mesmos direitos, posto que todos 
sejam iguais perante a lei. Este é o entendimento da E. Desembargadora Maria Berenice Dias, do 
Tribunal de Justiça gaúcho: 
 
A homossexualidade é um fato social que se perpetua através dos séculos, não mais 
podendo o Judiciário se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a uniões que, 
enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família. A união pelo amor é que caracteriza a 
entidade familiar e não apenas a diversidade de sexos. É o afeto a mais pura 
exteriorização do ser e do viver, de forma que a marginalização das relações 
homoafetivas constitui afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do direito 
à vida, violando os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. (ap. cível 
nº. 70012836755, j. 21/12/2005). 
 
E nos dizeres de Mônaco da Silva: 
 
O que impedirá, pois, o acolhimento do pedido de colocação em família substituta será, 
na verdade, o comportamento desajustado do homossexual, jamais a sua 
homossexualidade. Assim, se ele cuidar e educar a criança dentro dos padrões aceitos 
pela sociedade brasileira, a sua homossexualidade não poderá servir de pretexto para o 
juiz indeferir a adoção [...] pleiteada. (MÔNACO DA SILVA, 1995, p. 117). 
 
 
Mariana de Oliveira Farias e Ana Cláudia Bortolozzi colocam: 
 
Ora, se o que se busca com a adoção é o bem-estar da criança, como prevê o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, poderíamos dizer que o não reconhecimento das famílias 
compostas por pais/mães homossexuais e, assim, a impossibilidade da adoção por ambos 
os (as) parceiros (as) iria contra os princípios legais, já que facilitaria o fato de a criança 
se sentir diferente e discriminada. Assim, a criança poderia se sentir estigmatizada não 
por ser adotada por pessoas homossexuais, mas pela lei de seu país não considerar sua 
família como tal. (FARIAS; MAIA, 2005, p. 217). 
 
Caio Mário da Silva Pereira assim leciona: 
 
A adoção conjunta por duas pessoas do mesmo sexo foi objeto de reconhecimento pelo 
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, tendo como relator o Desembargador Luis 
Felipe Brasil Santos. A Sétima Câmara Cível, por unanimidade, confirmou a sentença de 
primeira instância proferida pelo Juiz Júlio César Spoladore Domingos, da Comarca de 
Bagé, concedendo a adoção de dois irmãos, à companheira da mãe biológica. A decisão 
reconheceu como entidade familiar, merecedora da proteção estatal, a união formada por 
pessoas do mesmo sexo, com características de duração, publicidade, continuidade e 
intenção de constituir família, decorrência inafastável é a possibilidade de que seus 
componentes possam adotar. Não identificando os estudos especializados qualquer 
inconveniente para que crianças fossem adotadas, e comprovado o saudável vínculo de 
afeto existente entre as crianças e as adotantes, destacou o ilustre Relator: “é hora de 
abandonar de vez preconceitos e atitudes hipócritas desprovidas de base científica, 
adotando-se uma postura de firme defesa da absoluta prioridade que constitucionalmente 
é assegurada aos direitos das crianças e dos adolescentes (art. 227, CF)”. Não se pode 
35 
 
usar como argumento contrário à adoção por casal homoafetivo a impossibilidade do 
registro do filho. O art. 54 da Lei nº 6.015, de 1973, conhecida como “Lei de Registros 
Públicos”, dentre os elementos de identificação, indica os nomes e prenomes dos pais, e 
os nomes e prenomes dos avós paternos e maternos. Nada impede a simples menção dos 
“pais”, atendida a ordem alfabética e respectiva filiação biológica (PEREIRA, 2007, p. 
422). 
 
Pelo exposto, pode-se afirmar que há qualquer vedação legal para o reconhecimento de 
qualquer união. O que deve ser respeitado é a observância dos requisitos legais. A lei traz em seu 
bojo a possibilidade de união estável entre homem e mulher que preencham os requisitos de 
convivência pública, duradoura e contínua, sem mencionar proibição ou restrição de união entre 
dois homens ou duas mulheres. O seu escopo maior é conferir aos companheiros os direitos e 
deveres trazidos pelo artigo 2º da Lei 9.278/96, não se mencionando em momento alguma 
vedação expressa para que esses efeitos alcancem uniões entre pessoas do mesmo sexo. Se não se 
menciona nada a respeito, é porque não é proibida, apenas a matéria em si ainda não está 
expressamente regulada. 
A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos 
princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, sendo assim, não há porque negar a 
adoção a pessoas do mesmo sexo, se estas manifestam desejo de adotar, e vivem como uma 
família. 
O que deve observar é a imprescindibilidade da prevalência dos interesses dos menores 
sobre quaisquer outros, o direito de filiação é que deve ser sacramentalizado, pois deste decorrem 
inúmeras consequências que refletem por toda avida de qualquer indivíduo. 
Em julgado da Vara Judicial da Comarca de São Francisco de Assis/RS, analisado pela 
assessoria de comunicação do IBDFAM(2013), a juíza, que presidia o processo, em decisão 
favorável à coexistência de dois vínculos maternos de uma criança, asseverou que “afinal, não são os 
fatos que se amoldam às leis, mas sim, estas são criadas para regular as consequências que advêm dos 
fatos, objetivando manter a ordem pública e a paz social”. E que “é preciso amadurecimento da 
sociedade para que se exija uma conduta ativa dos legisladores a ponto de regulamentarem matérias 
polêmicas”. 
Essa assertiva contempla a questão aqui levantada, podendo até se considerar tardia a atuação 
dos legisladores no sentido de regulamentar a adoção de crianças por pares homossexuais. 
Isso acabaria de vez com o preconceito que ronda esses casais, além de por fim à 
discussão de alguns que aduzem que crianças adotadas por pais ou mães homossexuais sofrem 
36 
 
influencia (os tem como exemplo a ser seguido) em sua orientação sexual. Sobre essa posição 
serão traçadas alguns apontamentos. 
“O Direito é (...) uma força de transformação da realidade. É sua a tarefa “civilizatória”, 
reconhecida através de uma intrínseca função promocional, ao lado da tradicional função 
repressiva, mantenedora do status quo.” (BODIN DE MORAES, 2003, p. 71). 
 
4.3 Influência na orientação sexual do adotado por casais homoafetivos 
 
A homossexualidade, segundo DURKHEIN, é um fato social que existe desde que o 
mundo é mundo. 
Leciona Rodrigo da cunha pereira: 
 
A homossexualidade existe desde que o mundo é mundo. Em algumas culturas são mais 
rechaçadas, em outras, menos. Desde a Grécia antiga os registros são vários e apontam, 
naquela civilização, um comportamento em padrões de normalidade. (CUNHA 
PEREIRA, 1997, p. 43.) 
 
 
É sabido que a homossexualidade sempre existiu, logo, não há como associar a 
homossexualidade de uns, ao fato da adoção por casais homossexuais. Isso não reflete nem mais 
nem menos na propensão à homossexualidade. A homossexualidade dos pais, por si só não 
determina a identidade do gênero e orientação sexual da criança. 
Toda essa discussão preconceituosa nasceu das religiões, em especial, a católica. A 
religião prega a procriação, como entre os homossexuais há a impossibilidade de gerar 
descendência, esse relacionamento é tido como pecaminoso. 
A Psicologia já tem firmado que: 
 
[...] os filhos de pais ou mães homossexuais não apresentam comprometimento e 
problemas em seu desenvolvimento psicossocial quando comparados com filhos de pais 
e mães heterossexuais. O ambiente familiar sustentado pelas famílias homo e 
heterossexuais para o bom desenvolvimento psicossocial das crianças parece ser o 
mesmo. (FARIAS; MAIA, 2009, pp.75/76). 
 
Paulo Nader, citando Paulo Luiz Netto Lobo, ensina: 
 
Não há fundamentação científica para esse argumento (de que a criança pode sofrer 
alterações psicológicas porque é criada por homossexuais), pois pesquisas e estudos nos 
37 
 
campos da psicologia infantil e da psicanálise demonstram que as crianças que foram 
criadas na convivência familiar de casais homossexuais apresentaram o mesmo 
desenvolvimento psicológico, mental e afetivo das que foram adotadas por homem e 
mulher casados. 
(NADER, 2006, p. 391). 
 
Mas na contramão há aqueles que entendem de forma diversa. 
 
[No caso de dois homossexuais que vivam juntos,] muito embora não haja nenhum 
impedimento legal, entendemos que essa adoção não deveria ser possível, pois o adotado 
teria um referencial desvirtuado do papel de pai e de mãe, além de problemas sociais de 
convivência em razão do preconceito, condenação e represália por parte de terceiros, 
acarretando um risco ao bem-estar psicológico do adotado que não se pode ignorar. 
(BRITO, 2000, p. 55) 
 
 
[...] se de um lado não há impedimento contra o impotente, não vale o mesmo quanto aos 
travestis, aos homossexuais, às lésbicas, às sádicas, etc., sem condições morais 
suficientes. A inconveniência e a proibição condiz mais com o aspecto moral, natural e 
educativo. (MARMITT, 1993, p. 112/113). 
 
 
 
Todavia, não há nada que comprove esses argumentos. Pelo contrário, de acordo com a 
Psicóloga Tereza Maria Machado Lagrota Costa (apud. NAHAS, 2008) já está comprovado que a 
homossexualidade é fruto de relações entre heterossexuais em sua constante maioria, no entanto, 
tiveram uma orientação sexual diferente da dos seus pais, o que ratifica que o fato dos pais serem 
homossexuais não define nem interfere na orientação sexual dos filhos, nem causa transtornos 
psicológicos na criança, visto que papeis sociais desempenhados por homens e mulheres é um 
paradigma que já vem sendo quebrado há muitas décadas. A diferença é sempre num primeiro 
momento rejeitada, seja ela física, mental, ou mesmo de orientação sexual, o que é extremamente 
repugnante, não aceitarmos as pessoas como elas são. 
São milhares de crianças que anseiam por um lar e a discussão sobre a orientação sexual 
de seus pais não tem a menor importância. 
Sobre a necessidade de duplo gênero no desenvolvimento psicossocial dos filhos, as 
Psicólogas Mariana de Oliveira Farias e Ana Cláudia Bortolozzi Maia, ensinam: 
 
No entanto, segundo Zambrano, os conceitos da Psicanálise deveriam ser interpretados 
como funções e não como o sexo biológico das pessoas. Considera-se, socialmente, que 
aquela pessoa que impõe as regras à criança e se ocupa dos fatores objetivos estaria 
associada ao masculino, enquanto aquela que cuida da criança e dos cuidados da casa 
estaria mais ligada ao sexo feminino. Sabemos que é importante que a criança tenha 
38 
 
acesso às duas funções (masculina e feminina), mas estas não precisam estar associadas 
ao sexo biológico das pessoas que a acercam. (FARIAS; MAIA, 2009, pp.75/76.) 
 
As características pessoais dos pais (ou dos candidatos à adoção), sua capacitação, sua 
habilidade nos âmbitos emocional e patrimonial é o que deve ser levado em conta. 
As autoras afirmam ainda que: 
 
Não há diferenças significativas no desenvolvimento físico e psicossocial entre filhos 
criados por pessoas gays e lésbicas e filhos criados por pessoas heterossexuais. Além 
disso, possíveis diferenças podem até ser identificadas, mas não são atribuídas às 
características da orientação sexual dos cuidadores e sim, às condições diversas como: 
orgânicas, econômicas, educacionais, sociais, etc. (FARIAS; MAIA, 2009, pag.88). 
 
Segundo Maria Berenice Dias: 
 
Existe grande resistência em aceitar a possibilidade de homossexuais ou parceiros do 
mesmo sexo habilitar-se para adoção. Há a equivocada crença de que a falta de 
referências comportamentais de ambos os sexos possa acarretar sequelas de ordem 
psicológica e dificuldade na identificação sexual do adotado. 
Também causa apreensão de o filho ser alvo de repúdio no meio que frequenta ou 
preconceito por parte de colegas ou vizinhos, o que poderia lhe acarretar perturbações 
psicológicas ou problemas de inserção social. 
 
Segundo estudo das famílias homoafetivas com prole, as evidências trazidas pelas 
pesquisas não permitem vislumbrar a possibilidade de ocorrência de distúrbios ou 
desvios de conduta pelo fato de alguém ter dois pais ou duas mães. Não foram 
constatados efeitos danosos ao normal desenvolvimento ou a estabilidade emocional 
decorrentes do convívio de crianças com pais do mesmo sexo. (DIAS, 2001, p. 54). 
 
 
Pelo exposto, percebe-se que o que na verdade existe, são falácias sem embasamento 
científico ou psicológico. Se as pesquisas já feitas sobre tais assertivas provam o contrário, o que 
ainda se fala se fundamenta apenas em preconceitos. 
Oportuno colocar: 
 
 
A adoção por homossexuais, os que criticam a possibilidade defendem que a adoção por 
casais homossexuais permitiria a influência na formação da personalidade da criança, 
contudo jamais se provou de fato alguma influência no comportamento das crianças 
adotadas por homossexuais, não prevalecendo estudos psicológicos nesse sentido. 
(JUSBRASIL,