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FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO MARIANNA CAJAZEIRA CAMPELO RESENHA CRÍTICA “DESPESAS PÚBLICAS” Salvador - Bahia 2020 MARIANNA CAJAZEIRA CAMPELO RESENHA CRÍTICA “DESPESAS PÚBLICAS” Atividade nº 1 da segunda unidade apresentada ao professor Ângelo Boreggio como parte das exigências para a obtenção da nota final da unidade. Salvador, 01 de Novembro de 2020. O tema das despesas públicas é de grande importância para o Estado, visto que é como devolve para a sociedade os recursos que recebe como receita. É um assunto de extrema relevância prática porque a despesa pública nada mais é do que o ato de gastar o dinheiro público, ou seja, como o gestor pode efetivamente tirar o dinheiro da conta pública e gastá-lo. A despesa pública pode ser definida como o conjunto de gastos do Estado, cujo objetivo é promover a realização de necessidades públicas, o que implica o correto funcionamento e desenvolvimento de serviços públicos e manutenção da estrutura administrativa necessária para tanto 1 . Assim como as receitas, as despesas públicas devem estar previstas a Lei Orçamentária Anual (LOA), o que evidencia que o gasto público não pode ser aleatório de modo que o gestor gaste como bem entender; os gastos têm que ser, em verdade, estudados e calculados. É, assim, o desembolso definitivo realizado pelo Estado para atender os serviços públicos e os encargos assumidos no interesse local da sociedade 2 . Como a premissa da atividade financeira do Estado é fazer o mais com o menos, ou seja, fazer o máximo possível para satisfazer as necessidades e propor os melhores serviços para a sociedade com os recursos que possui, percebe-se que o equilíbrio deve ser buscado. Deve haver, dessa forma, a “expectativa do zero” – todo recurso que entra tem que sair como um retorno para a sociedade, não é bom que tenha superávit e nem déficit. É preciso salientar, como já exposto, que as despesas devem estar previstas na lei; e em regra, algumas dessas despesas são obrigatórias, ou seja, tem-se a ideia de que existe um valor mínimo necessário que o gestor precisa investir em setores específicos, quais sejam: os setores de educação e saúde – é a chamada vinculação constitucional. Regis Fernandes de Oliveira 3 sobre o assunto: A despesa é vinculada em relação ao ensino e também no tocante à saúde. Deve o administrador efetuar o pagamento das despesas legais, tais como os servidores públicos, bem como o serviço da dívida que não pode ser contingenciado. De outro lado, deve efetuar previsão orçamentária do pagamento dos serviços públicos e consumá-lo. Logo, pouco resta ao Poder Público como eleição de despesa, tirante obras e serviços e compras que deva realizar. 1 PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro. 6ª Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018. p 2105. 2 LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro. 5ª Edição. Revista Ampliada e Atualizada. Salvador: Juspodivm, 2016. p 260. 3 OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 3ª Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2010. p 95. É importante esclarecer que essa vinculação constitucional das despesas públicas independe do governo que esteja sendo exercido no país – significa dizer que independentemente de o caráter governamental ser social, liberal, democrático, autocrático, etc. essa vinculação é uma garantia prevista pela Constituição e deve ser seguida independentemente do viés político adotado pelo governante. Discute-se, nesse contexto, a necessidade de se garantir o mínimo existencial (e assistencial) nas áreas da saúde e da educação para que sejam prestados serviços que possuam qualidade mínima nesses setores. Assim, a atual Carta Magna prevê que o Governo Federal deve gastar, no mínimo, 20% das contas públicas com a saúde e, no mínimo, 18% com educação; já os Governos Estaduais e Municipais têm de gastar no mínimo 25% com educação e 20% com saúde, sob pena de crime de responsabilidade fiscal – ou seja, a prestação de contas pode “voltar” e até mesmo ser considerada inconstitucional. Uma situação que reflete exatamente isso foi a tentativa do atual Presidente Jair Bolsonaro, em seu primeiro ano de governo, de reduzir os gastos com educação, saúde e segurança para direcionar os recursos para a área de Defesa. Essa medida claramente não obteve sucesso, justamente por conta dessa vinculação constitucional, o que fez com que o Presidente tivesse que voltar atrás em relação à sua decisão. Pode-se fazer uma análise crítica a respeito dos benefícios e malefícios desse ditame constitucional. Por um lado, é muito positivo e benéfico porque não importa quem é o gestor ou o chefe do executivo, sempre vai haver uma prestação mínima nessas áreas – que é algo muito bom para a população. O lado negativo disso está na vinculação constitucional dos Municípios, e explicar-se-á o porquê. Uma coisa é determinar que a União, que tem um cofre público muito grande, destine tal porcentagem para as áreas de saúde e educação, e a mesma lógica se aplica aos cofres públicos dos Estados, visto que ainda vai ter muito dinheiro sobrando para outras áreas quando houver o abatimento desses valores vinculados. No entanto, quando se pensa nessa vinculação constitucional para os Municípios, tem-se que ter em mente que o Brasil é um país que tem mais de cinco mil municípios, e a maioria deles é de pequeno porte e com cofres públicos municipais pequenos (com exceção das grandes capitais), e a porcentagem respectiva dessas áreas de saúde e educação acaba se tornando muito grande, de modo que haveria um risco muito grande de faltar recursos para outras áreas que também carecem de investimento público mas que não estão abarcadas pela vinculação constitucional. A Lei 4.320/64, em seus artigos 1º e 2º, e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), em seus artigos 15 e 16, também possuem a previsão da vinculação constitucional. Percebe-se, então, que essa vinculação constitucional não foi uma novidade da Constituição Federal de 1988, pois a lei 4.320/64 é mais antiga – havendo então uma recepção constitucional dessa lei – e, depois, a LRF trouxe isso mais uma vez. Em segundo plano, pode-se tratar, ainda, das classificações das despesas públicas. Despesas Correntes são aquelas despesas que o Estado faz, durante um período financeiro, e que servem para a manutenção e o custeio do Estado e da sua estrutura – ou seja, é uma despesa que mantém o Estado como ele é e não o aumenta do seu patrimônio; são gastos esperados. As Despesas de Capital, por sua vez, são aquelas em que o Estado está investindo em aumento do patrimônio público, investindo em equipamento público ou urbano. Há, também, as Despesas Ordinárias e Extraordinárias: as Ordinárias são aquelas comuns - é todo e qualquer dispêndio que está previsto na LOA; já as Extraordinárias são aquelas não previstas na LOA, como os créditos adicionais. Crédito adicional é todo aquele crédito que não tem o financeiro previsto na LOA, seja no todo ou em parte. A Lei Orçamentária Anual é concebida um ano antes, e por isso há despesas que não têm como ser previstas nesse período e, assim, há a necessidade de abrir créditos adicionais que, em regra, precisam ser aprovados pelo Congresso Nacional justamente para não gerar crime de responsabilidade, ou seja, para que o gasto seja constitucional. Há previsão dos créditos adicionais nos artigos 40 a 46 da Lei 4320/64, e pode-se trazer à baila os tipos de créditos: Créditos Suplementares, que são aqueles destinados a reforço de dotação orçamentária, reforço no sentido de que já tem a dotação orçamentária,mas vai ser necessário mais dinheiro, por conta de alguma ocasião não prevista – assim, pede- se ao Congresso Nacional esse crédito suplementar, que pode ser concedido mediante despacho fundamentado pelo próprio chefe do executivo, que segue para o poder legislativo para aprovação; Créditos Especiais, que são os destinados às despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica, é o caso de não ter dotação orçamentária para determinado gasto que se faz necessário agora – nesse também é necessário um despacho fundamentado do chefe do poder executivo, sendo autorizados por lei e abertos por decreto executivo; por fim, os Créditos Extraordinários, que são os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública – diferentemente dos dois anteriores, são abertos através de Medida Provisória, respeitando os requisitos e pressupostos do art. 62 da CF/88, e é a única possibilidade em que não precisa de autorização do CN. Por fim, há que se citar ainda as principais características das despesas públicas. A despesa econômica seria toda despesa que possui a necessidade do gasto público, ou seja, quando a despesa tem a intenção puramente de gasto para manter o Estado ou investir nele mesmo. A despesa pública é também política, pois toda despesa irá se identificar com o seguimento político do Chefe do Estado. E a despesa pública é, também, jurídica, pois há obrigação judicial para o seu cumprimento. Diante do aparato mais conteudista a respeito das despesas públicas, pode-se perceber que, em tese, existe uma grande rigorosidade e preocupação com o fluxo financeiro do Estado, ainda mais no que diz respeito à saída definitiva de recursos. Toda essa necessidade de justificação e demonstração de despesas públicas advém de inúmeras revoluções econômica se sociais que se sucederam ao longo do tempo, de modo que o povo sempre buscou a erradicação da discricionariedade do gestor e a diminuição da carga tributária e financeira. O aparato constitucional e legal que versa sobre as despesas públicas e o seu controle é muito bom e fortemente estudado, o que não explica e nem justifica as incongruências e escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro e alta discricionariedade dos governantes que, a todo tempo, são revelados na mídia. O Brasil é um país grande que possui uma diversidade financeira enorme, com uma carga tributária altíssima, e ainda assim parece que, para determinadas parcelas da população, os serviços não melhoram ou as necessidades públicas não deixam de aumentar. A sociedade não pode e nem merece ficar sujeita a tamanha vulnerabilidade. As despesas públicas devem seguir as normas da Lei de Responsabilidade Fiscal, que tem por finalidade controlar os gastos públicos para que os gastos com o setor estatal não excedam sua real necessidade e tenham como objetivo principal alcançar o equilíbrio financeiro e o melhor provimento de serviços públicos e atendimento de necessidades populacionais possíveis. Nesse contexto evolucionista e atual é que as despesas publicas se justificam como imprescindíveis para a construção de um Estado seguro, estável e coeso que busca inesgotavelmente exaurir as discrepâncias socioeconômicas tão marcantes presentes em todos os entes federados. REFERÊNCIAS PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro. 6ª Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018. LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro. 5ª Edição. Revista Ampliada e Atualizada. Salvador: Juspodivm, 2016. OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 3ª Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2010.
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