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“A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior SUMÁRIO CONTEÚDO ORÇAMENTO PÚBLICO: CONCEITOS E EVOLUÇÕES ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO 14 TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO 19 FUNÇÕES CLÁSSICAS DO ORÇAMENTO E ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO ESTADO TOTALITÁRIO 23 ESTADO LIBERAL 23 ESTADO SOCIALISTA 24 ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL OU ESTADO PROVIDÊNCIA 24 ESTADO NEOLIBERAL 24 FUNÇÕES DO ORÇAMENTO PÚBLICO 26 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 33 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS – PARTE I PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 35 PRINCÍPIO DA UNIDADE 37 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE 39 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO 40 PRINCÍPIO DA PERIODICIDADE OU ANUALIDADE 41 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE OU DA PUREZA 42 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS – PARTE II PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO 44 PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO, DETALHAMENTO, DISCRIMINAÇÃO OU ESPECIALIZAÇÃO 45 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE 46 PRINCÍPIO DA EXATIDÃO 47 PRINCÍPIO DA NÃO-AFETAÇÃO OU NÃO-VINCULAÇÃO 47 PRINCÍPIO DA CLAREZA OU DA INTELIGIBILIDADE 50 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE, CONSISTÊNCIA OU PADRONIZAÇÃO 50 PRINCÍPIO DA PROGRAMAÇÃO 51 PRINCÍPIO DA UNIDADE DE CAIXA 52 LEIS ORÇAMENTÁRIAS PLANO PLURIANUAL - PPA 55 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS - LDO 61 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL - LOA 65 RITO DE APROVAÇÃO E CICLO ORÇAMEMNTÁRIO FASES DO CICLO ORÇAMENTÁRIO TRADICIONAL 73 FASES DO CICLO ORÇAMENTÁRIO AMPLIADO 84 CRÉDITOS ADICIONAIS CRÉDITOS SUPLEMENTARES 89 CRÉDITOS ESPECIAIS 90 CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS 94 VIGÊNCIA DOS CRÉDITOS ADICIONAIS 96 RECEITAS PÚBLICAS: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES REGIME DE CONTABILIZAÇÃO 99 ESTÁGIOS DA RECEITA PÚBLICA 101 CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS 104 RECEITAS PÚBLICAS: CONTINUAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES DESPESAS PÚBLICAS: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES CLASSIFICAÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS 126 SUMÁRIO 5 DESPESAS PÚBLICAS: RESTOS A PAGAR E DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES 145 SUPRIMENTO DE FUNDOS E DÍVIDAS PÚBLICAS (ATIVAS E PASSIVAS) DÍVIDAS PÚBLICAS: ATIVAS E PASSIVAS 155 PROGRAMAÇÃO E EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA DESCENTRALIZAÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA 166 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL – PARTE I LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL – PARTE II TRANSPARÊNCIA, CONTROLE E FISCALIZAÇÃO 193 CONCLUSÃO 197 ELEMENTOS COMPLEMENTARES 199 REFERÊNCIAS 200 SUMÁRIO 6 7 INTRODUÇÃO Olá, tudo bem com você? Como é bom estar por aqui, podendo con- tribuir nesta importante jornada em sua vida! Vamos passar um bom tempo juntos a partir de agora, e durante esse tem- po, espero que aproveite ao máximo as aulas que preparei para estudarmos a disciplina de Finanças e Orçamento Público, na qual você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essa realidade: as finanças públicas. A linguagem será clara e objetiva, mas vamos aprofundar em diver- sos pontos, sempre que necessário for, combinados? Iremos iniciar com uma abordagem mais conceitual de orçamento públi- co e sua evolução, indo desde o orçamento clássico até o orçamento-progra- ma, o que utilizamos nos dias atuais, estudando inclusive as funções clássicas do orçamento público, por exemplo, quando o Governo através das finanças públicas busca diminuir a desigualdade social, distribuindo renda aos menos favorecidos, através de programas de governo e/ou impostos. Na sequência, iremos estudar os princípios orçamentários, o que na ver- dade causa confusão em muitos estudantes, por não terem um número exato e por encontrarmos diversas e distintas abordagens nos autores atuais. Continuando, iremos estudar as leis orçamentárias, certamente um dos principais pontos do nosso projeto, já que são as leis que direcionam o rumo da peça orçamentária. Vamos estudar as leis orçamentárias de acordo com a Constituição Federal e, também, de acordo com a famo- sa Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, as quais se complementam na melhoria dos processos constantes nas leis do orçamento. 8 As leis orçamentárias e suas alterações devem passar pelo que cha- mamos de rito orçamentário e consequentemente o ciclo orçamentá- rio, processos pelos quais as leis são submetidas para sua elaboração, análise, votação, aprovação, execução e controle: iremos estudar cada uma dessas fases de acordo com cada lei orçamentária. Visto isso, iremos estudar as receitas públicas que, sem dúvida, são um dos componentes mais importantes da peça orçamentária, afinal, sem dinheiro não conseguimos realizar nossos objetivos, que dirá os objetivos da sociedade; por isso que as receitas públicas engrossam os conceitos e aplicações das técnicas orçamentárias. Junto às receitas públicas iremos estudar também as despesas públi- cas, que tratam do principal elemento de um orçamento, quer seja ele pú- blico, quer seja privado: para onde o dinheiro vai, onde vai ser aplicado... Dentro das despesas públicas, iremos estudar algumas modalidades específicas de gastos, por exemplo, os restos a pagar e as despesas de exercícios anteriores e também os suprimentos de fundos. Na sequência, iremos estudar as programações e execuções orçamentá- rias e financeiras, bem como as suas respectivas descentralizações: processo pelo qual os órgãos responsáveis vão liberando as aplicações dos recursos. E para fechar nosso estudo com chave de ouro, vamos focar na Lei de Responsabilidade Fiscal, a famosa LRF, legislação criada em 2000, quando o Brasil estava com sérios problemas econômicos e precisou de recursos internacionais para equilibrar suas contas públicas e, para que os órgãos 9 internacionais concedessem os recursos, foi exigido uma legislação que organizasse a “bagunça institucional” que estávamos vivendo à época. Nosso estudo será embasado em 16 aulas, nas quais todos os temas são complementados e, de certa forma, ligados uns aos outros. Vale lembrar também que a distribuição programática foi feita de uma forma que, didaticamente, contribua com melhorias para o seu entendi- mento. Além disso, em vários momentos foram citados os trechos das le- gislações de referência para que você possa entender os embasamentos. Sendo assim, espero que goste e venha comigo nesta empreitada! Bons estudos! Abraços! ORÇAMENTO PÚBLICO: CONCEITOS E EVOLUÇÕES AULA 01 11 Orçamento é orçamento em todo e qualquer lugar! Exatamente isso! Você faz um orçamento quando confronta seus ganhos com seus gastos, vendo as possibilidades de cortes, reduções, e tentando fazer sobrar aquele “dinheirinho” no final do mês. As empresas também o fazem, com ainda mais técnicas e complexidade, e, claro, a administração pública também deve ter um bom e belo orçamento, para gerir com transpa- rência, eficácia e eficiência os recursos públicos. Agora, pense comigo: se em algumas vezes, gerenciar nosso próprio orçamento dá trabalho, tente imaginar a gestão do orçamento público?! Para isso, vamos começar nossos estudos. Orçamento Público é um dos conceitos centrais em Administração Financeira e Orçamentária. Mas o que ele vem a ser? Da mesma forma que acontece com um orçamento pessoal, familiar ou empresarial, o orçamento público preocupa-se com o levantamento de receitas, que basicamente são as entradas de recursos, e de despesas, que represen- tam as saídas de recursos, buscando, entre outros diversosobjetivos, evitar que se gaste mais do que se arrecada. Mais que isso, já que nos dias atuais o orçamento é visto também como um instrumento impor- tante de planejamento estatal – técnicas da Nova Administração Pública. No caso do orçamento público, ele é especialmente importante por- que vai prever de onde virão os recursos (o que iremos chamar de recei- tas públicas) e onde os mesmos serão aplicados (o que iremos chamar de despesas públicas) para atender às necessidades da sociedade de um modo geral, como vamos estudar nas próximas aulas. 12 Entre as várias definições que podem ser dadas ao orçamento pú- blico, uma ao mesmo tempo simples e completa é que “Orçamento é o ato através do qual são previstas as receitas a serem arrecadadas em um determinado período e autorizadas as despesas a serem realizadas, após aprovação do Poder Legislativo.” Calma! Vamos entender cada parte desse conceito a partir de agora. Inicialmente, o orçamento é a previsão de receitas e autorização de despesas para um determinado período: afinal de contas, não dá para fazer nada sem dinheiro, concorda? Logo, a cada período (conforme veremos à frente, nas aulas dos princípios orçamentários, no Brasil, esse período é de um ano e coincide com o ano civil), o Governo deve pre- ver o quanto de recursos terá para gastar e onde esses recursos serão aplicados, como por exemplo, em pagamento de pessoal, construção de escolas, construção de hospitais, pagamento de dívidas, etc. Quem apresenta a proposta de orçamento é o Poder Executivo, por exemplo, o Presidente da República, mas cabe ao Poder Legislativo, re- presentado por Deputados Federais e Senadores, aprová-la, com as al- terações que julgar necessárias, o que é uma verdadeira “briga de faca”. Veremos, inclusive, que o Poder Executivo não pode gastar um centavo que não esteja autorizado no orçamento. 13 Já que falamos do conceito e definições de orçamento público, temos outra definição igualmente importante para a Administração Financeira e Orçamentária, que é o de exercício financeiro: exercício financeiro é o prazo de vigência de orçamento, ou seja, é o período para o qual são previstas as receitas e autorizadas as despesas. No Brasil, esse período é anual, e coincide com o ano civil, isto é, vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Isso quer dizer que, até o final de cada ano, deve ser aprovado o orçamento do exercício financeiro seguinte. Assim, o orçamento de 2020, por exemplo, deve ser aprovado até o final de 2019; o de 2021 até o final de 2020; e assim por diante. Inclusive, vamos estudar esses prazos nas próximas aulas, aí eu retomo essas situações com você. As principais normas que regem o processo orçamentário no Brasil são a Constituição Federal, a Lei Complementar 101/2000 (Lei de Res- ponsabilidade Fiscal) e a Lei 4.320/64, mas não se preocupe em sair decorando ou lendo a legislação na íntegra, vamos fazer um compilado dos principais pontos aqui na nossa disciplina. O orçamento público é a previsão das receitas e a autorização das des- pesas, mediante legislação específica, para um determinado período de tempo. 14 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO Já na antiguidade, os diversos governantes tinham uma espécie de controle, sendo uma previsão de arrecadação e de gastos, podendo-se, nesse aspecto, dizer que o orçamento surge com os próprios Estados da Antiguidade. Contudo, o orçamento moderno, tal como concebido no conceito que expusemos, aquele com a subordinação à aprovação pelo Poder Legislativo, somente surge na Inglaterra, no início do século XIX. Aliás, o termo inglês para orçamento (“budget”) surge justamente em 1822, quando o Chanceler do Erário (equivalente ao nosso Ministro da Fazenda), passou a apresentar ao Parlamento uma exposição que trazia a previsão da receita e da despesa em cada exercício. Os papéis ficavam numa pequena maleta denominada budget, que vem do francês “bougette”, que significa “bolsa pequena”. Daí é que o orçamento acabou retirando o seu nome na língua inglesa. A partir da experiência inglesa, a prática de elaboração de um or- çamento formal e obrigatório acabou por se espalhar para os demais países ocidentais. Nessa história toda, podemos identificar três fases pelas quais o or- çamento passou até sua configuração e função atual: orçamento clássi- co ou tradicional, orçamento de desempenho e orçamento-programa. Vamos estudar cada um deles e suas principais características. 15 Orçamento clássico ou tradicional O orçamento clássico caracteriza-se por somente preocupar-se com a questão do equilíbrio fiscal (evitar que se gaste mais do que se espera arrecadar), embora tenha uma função política importante ao permitir que o Poder Legislativo exerça um controle prévio sobre os atos do Po- der Executivo, através da autorização ou não de gastos no orçamento. Além disso, continha uma linguagem contábil-financeira e tinha uma preocupação excessiva em não gastar mais do que se tinha arrecadado – mesmo que os gastos não fossem tão benéficos à sociedade. Ele surge na Inglaterra, no início do século XIX, na esteira das ideias iluministas de limitação do Poder do Estado, em que se passa a defender a ideia de que o povo, através de seus representantes eleitos, é quem deve definir as prioridades do Governo e a alocação dos recursos públi- cos. Nesse sentido, pode-se dizer que as funções do orçamento clássico eram duas: fiscal e política. Por outro lado, tal modelo de orçamento não exige uma prestação de contas por parte do gestor, e não se constitui em instrumento de pla- nejamento, uma vez que não traz metas e objetivos a serem alcançados, sendo, por conta disso, considerado bastante limitado. Além disso, utiliza-se de uma linguagem bastante técnica e específica, uma vez que a questão da transparência para com a sociedade em geral não era sua preocupação principal. Costuma-se dizer que a ênfase, no caso do orçamento clássico, é no gasto, na despesa, nas compras. 16 Orçamento de desempenho Tal modelo representa uma evolução em relação ao tradicional, indo além desse, porque passa a exigir do gestor uma prestação de contas, indicando o que foi realizado com os recursos disponibilizados. Observe aqui, então, uma grande evolução! Assim, não só prevê as receitas e autoriza os gastos, como também cobra uma aplicação adequada por parte do gestor dos recursos. Ou seja, não basta mais somente gastar até o limite estabelecido para cada despesa, como era feito no orçamento tradicional, mas deve-se também explicar quais realizações foram obtidas com esses gastos. A ideia é permitir que o Parlamento e, por extensão, a sociedade em geral, sejam informados a respeito dos resultados obtidos com os recursos aplicados, permitindo-se a análise se, no período seguinte, os recursos devem ou não ser mantidos. Desta forma, por exemplo, enquanto o orçamento clássico diz so- mente: o Governo pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde, o orçamento de desempenho diz: o Governo pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde, e deverá posteriormente explicar como os recursos foram gastos e quais os avanços obtidos: quantos hospitais e postos de saúde foram construídos, quanto gastou-se com pessoal, o quanto conseguiu-se reduzir de casos de determinadas doenças, etc. Consegue observar aqui a diferença? Não basta agora só gastar, mas nos contar onde foi gasto... 17 No entanto, assim como o orçamento tradicional, o orçamento de desempenho ainda não traz uma definição prévia de objetivos e metas a serem perseguidos pelo gestor, o que somente será feito pelo orça- mento-programa. No orçamento de desempenho, a ênfase é nos resultados, mas ainda sem vinculação com o planejamento. Orçamento-Programa O orçamento-programa, também chamado por alguns de orçamento dirigente ou orçamento moderno, é considerada a versão mais completa e eficiente de orçamento,sendo o atualmente utilizado no Brasil. Caracteriza-se por trazer uma vinculação prévia entre o orçamento e os resultados que o gestor deve buscar, ou seja, traz objetivos e metas a serem alcançados com os gastos autorizados. Desta forma, faz com que o orçamento seja de fato um instrumento de planejamento estatal (integração orçamento-planejamento). Agora temos o orçamento como uma ferramenta de administração, ligando o planejamento e a execução e, tão importante quanto isso, com o elo entre o acompanhamento dos gastos. Com ele, o orçamento torna-se um plano de trabalho que traduz a política econômica do governo para o período seguinte. Parte do con- ceito de programa, que pode ser definido como um conjunto de ações que devem ser empreendidas com o objetivo de alcançar-se um ou mais objetivos. 18 No orçamento-programa, então, define-se previamente o que se espe- ra que seja alcançado pelo Governo com o uso dos recursos destinados a cada área. Assim, por exemplo, o orçamento de desempenho diz ao Poder Executivo que ele pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde, e que deverá posteriormente explicar como os recursos foram gastos e quais os resultados obtidos; o orçamento-programa diz que, com esses recursos, deverá construir dois hospitais, seis postos de saúde e reduzir a mortali- dade infantil em dez por cento, sendo que, posteriormente, deverão ser prestadas contas a fim de se comprovar o atingimento dessas metas. Conseguiu ver agora, a magnífica diferença entre esse orçamento e os anteriores? No orçamento-programa, a ênfase é no planejamento. Em nosso país, o orçamento-programa foi introduzido no ordena- mento jurídico pela Lei 4.320/64. No entanto, somente passou a ser colocado em prática efetivamente após o advento da Constituição Fe- deral de 1988, que passou a prever melhor os mecanismos de sua im- plementação, especialmente a tríade: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. ORÇAMENTO INSTRUMENTO DE CONTRO- LE DO PODER EXECUTIVO PELO LEGISLATIVO? PRESTAÇÃO DE CONTAS FORMAL PELO EXECUTIVO? INSTRUMENTO DE PLANEJAMEN- TO DAS AÇÕES DO GOVERNO? TRADICIONAL SIM NÃO NÃO POR DESEMPENHO SIM SIM NÃO PROGRAMA SIM SIM SIM Tabela: comparativo entre o orçamento tradicional, de desempenho e programa. Fonte: o autor. 19 TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO Elaborar um orçamento nada mais é do que prever as receitas que serão arrecadas e as despesas que deverão ser incorridas no período seguinte. Simples assim?! Obviamente que não, mas na teoria essa é melhor forma de entender o orçamento. A previsão da receita costuma ser mais fácil, uma vez que é feita tomando-se como base a arrecadação no período anterior, a partir da qual são feitos os ajustes que a equipe econômica entende que devam ser feitos, devido a fatores como: inflação, crescimento ou recessão eco- nômica, aumento ou redução de tributos, isenções, etc. Logo, como era de se imaginar, o “problema” está na autorização das despesas. Desta forma, pode-se dizer que a previsão da receita é basicamente empírica (baseada na experiência anterior de arrecadação). O mais difícil é a definição de onde os recursos arrecadados deverão ser gastos, isto é, as despesas. Isso porque, assim como acontece com as pessoas e as empresas, as necessidades de gastos dos Governos são muitas, mas os recursos são limitados. Assim, deve-se definir como as despesas serão dimensionadas e os recursos serão distribuídos. Existem basicamente duas formas de fazê- -lo, o que dará origem a dois “tipos” de orçamento (não confundir com as fases históricas do orçamento, que vimos no item anterior): o orçamento base-zero e o orçamento incremental. Vamos ver cada um agora: 20 a) Orçamento Base-Zero: possui esse nome porque, em cada período, o orçamento é refeito praticamente do zero, sendo que o administrador deve fundamentar e justificar a necessidade e a quantidade dos recursos solicitados, não havendo “recursos garantidos”. Por essa técnica de elabo- ração de orçamento, os projetos e atividades devem ser detalhados e clas- sificados obedecendo uma ordem de importância. Embora seja bastante interessante do ponto de vista da efetividade e economicidade do orçamen- to, o orçamento base-zero possui a desvantagem de ser de elaboração mais demorada, por ter que ser feito de forma bastante cuidadosa e detalhada. b) Orçamento Incremental: nesse tipo de orçamento, a definição dos montantes de recursos destinados a cada despesa é feita mediante a simples incorporação de acréscimos em cada item de despesa, man- tendo-se o mesmo conjunto de gastos do orçamento anterior, ou com pequenos ajustes. Nesse caso, o orçamento dos órgãos e entidades de cada ano mantém a mesma estrutura de despesas do orçamento do período anterior, realizando-se apenas incremento nos montantes das rubricas de cada despesa, daí o seu nome: incremental. Isso não quer dizer que no orçamento incremental não se possa incluir ou excluir despesas, mas que somente não há a obrigatoriedade de revisão de to- das elas a cada exercício financeiro, como ocorre com o orçamento base-zero. Consegue perceber que o orçamento base-zero seria melhor do que o incremental? Mas, devido à sua burocracia e lentidão, o Brasil não o adotou. Em relação à forma de elaboração do orçamento, temos também o chamado orçamento participativo, que pode ser utilizado tanto no caso 21 do orçamento incremental como no base-zero: cuidado com isso! O orçamento participativo caracteriza-se pela participação direta e efeti- va da comunidade na elaboração da proposta orçamentária. Normalmente essa participação é realizada por meio de audiências públicas ou por outros mecanismos de recebimento de propostas por parte da coletividade, por exemplo, o Prefeito de uma cidade ouve em reuniões os Presidentes dos bairros e/ou regiões para saber quais as suas necessidades. No entanto, mesmo quando há a utilização do orçamento participa- tivo, a competência para a aprovação do orçamento continua sendo do Poder Legislativo, não havendo uma delegação dessa atribuição direta- mente ao povo, pois não se trata de um referendo ou plebiscito. Orçamento público é o instrumento utilizado pelo Governo Federal para planejar a utilização do dinheiro arrecadado com os tributos (impostos, taxas, contribuições de melhoria, entre outros). Esse planejamento é es- sencial para oferecer serviços públicos adequados, além de especificar gastos e investimentos que foram priorizados pelos poderes. Essa ferramenta estima tanto as receitas que o Governo espera arreca- dar quanto fixa as despesas a serem efetuadas com o dinheiro. Assim, as receitas são estimadas porque os tributos arrecadados (e outras fontes) podem sofrer variações ano a ano, enquanto as despesas são fixadas para garantir que o governo não gaste mais do que arrecada. Uma vez que o orçamento detalha as despesas, pode-se acompanhar as prioridades do governo para cada ano, como, por exemplo: o investimento na construção de escolas, a verba para transporte e o gasto com a saúde. Esse acompanhamento contribui para fiscalizar o uso do dinheiro público e a melhoria da gestão pública, e está disponível aqui, no Portal da Trans- parência do Governo Federal. http://www.portaltransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/orcamento-publico FUNÇÕES CLÁSSICAS DO ORÇAMENTO E ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO AULA 02 23 Não é difícil, ainda mais nos dias atuais, vermos ou ouvirmos nos no- ticiários as medidas que o Estado, por exemplo, o Presidente da Repúbli- ca, toma para acelerar a economia ou corrigir falhas e outras situações. É isso que vamos estudar nesta aula! A relação do Estado com seu povo evoluiu, com o passar do tempo, em todos os seus aspectos. Nos nossos estudos aqui, interessa a forma como o Es- tado desenvolve sua atividade financeira, ou seja, a forma como são obtidos os recursos para mantersua estrutura, bem como as formas dos seus dispêndios. Podemos dividir essa evolução histórica em alguns momentos importantes, e como isso influencia diretamente os aspectos orçamentários. Vamos ver como isso funciona e a relação com as funções clássicas da peça orçamentária. ESTADO TOTALITÁRIO Conhecido por ser um Estado intrusivo e arbitrário, sem nenhuma garantia e publicidade e, principalmente, sem legalidade, na qual o di- rigente personificava o próprio Estado e, de forma arbitrária, retirava os recursos do povo, aplicando-os como bem entendia, sem nenhuma prestação de contas ou qualquer tipo de compromisso com a satisfação popular, da forma que melhor lhe era conveniente. ESTADO LIBERAL Conhecido por ser a presença do Estado mínimo regido pelo amparo da legalidade, garantindo apenas as necessidades públicas fundamen- tais à sua existência, por exemplo, justiça e segurança. Aqui, a peça 24 orçamentária era voltada apenas para a manutenção das atividades essenciais do Estado, buscando suprir as falhas de mercado com um mínimo de intervenção econômica. ESTADO SOCIALISTA Tem por características um Estado interventor, garantindo todas as necessidades públicas, sendo regido e atuando em todas as áreas e se- tores econômicos, sendo, então, um Estado máximo. Nesse sentido, o orçamento público também é máximo, envolvendo todas as atividades econômicas da sociedade. ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL OU ESTADO PROVIDÊNCIA Temos aqui um Estado participando ativamente da economia, in- tervindo, principalmente, em fases de recessão econômica, tendo por objetivo fomentar empregos e a renda nacional, oferecendo um conjun- to de garantias mínimas ao cidadão. Dessa forma, o orçamento aqui é aplicado como uma política fiscal, visando a estabilização, expansão ou retração da atividade econômica. Alguns autores tratam, aqui, o orça- mento sendo utilizado como instrumento de políticas anticíclicas. ESTADO NEOLIBERAL Nessa forma de organização, o Estado retira-se da economia, priva- tizando parte das suas atividades, mas se mantém regulando as áreas 25 mais importantes, por exemplo, energia e saúde, através das agências reguladoras. Nessa forma de organização, o orçamento permanece como forma de política fiscal, buscando a estabilização, expansão ou retração da atividade econômica, e continua sendo utilizado como ins- trumento de políticas anticíclicas, mas como uma intensidade menor. Sabendo disso, entende-se que a atuação do Governo na economia é algo extremamente importante, ao mesmo tempo que complexa, e necessita de recursos para o correto desempenho de suas funções. Analisando a maioria dos países do mundo, temos uma evolução para um sistema de economia misto, no qual a iniciativa privada existe, produzindo e consumindo bens e serviços, respeitando a livre concor- rência e objetivando a acumulação patrimonial e lucros nos seus resul- tados. Por outro lado, existe o setor público que exerce as atividades tipicamente complementares à iniciativa privada. Pode-se perceber que o Estado é caracterizado por ser um impor- tante agente econômico e o que se discute muito é a intensidade da sua interferência nas atividades econômicas, geralmente em grandes e calorosos debates teóricos entre os especialistas. As funções do Governo na atualidade são uma área de conhecimento hu- mano que tem por finalidade a análise e a interpretação dos fenômenos inerentes à atividade financeira do Estado, bem como a proposição de formas de intervenção à realidade econômica e social. 26 Nesse contexto, a responsabilidade do Estado pelo atendimento das ne- cessidades públicas é líquida e certa, bem como a promoção da paz social, de- senvolvendo ações e programas de governo que cooperem pelo bem comum. Para tal, o Governo se utiliza de recursos financeiros provenientes do orçamento e, claro, o seu poder sobre os recursos – o que alguns autores chamam de “poder de legislar” do Estado. FUNÇÕES DO ORÇAMENTO PÚBLICO Nos dias atuais, entende-se que o Estado possui três funções econô- micas, chamadas também de funções fiscais, ou ainda, funções clássicas do orçamento, as quais possuem reflexos sobre a peça orçamentária: função alocativa, função distributiva e função estabilizadora. Na função alocativa, o Estado atua diretamente na produção de bens, ofertando-os à sociedade. Entre as razões para essa atuação produtiva do Estado, temos as falhas de mercado, por exemplo, competição im- perfeita, existência de bens públicos, presença de externalidades e de mercados incompletos, informação imperfeita, desemprego e outros distúrbios macroeconômicos. Por meio do orçamento são feitas alocações de recursos, por exem- plo, para que empresas governamentais atuem diretamente na oferta de bens à sociedade. Também se considera que o Estado exerce a função alocativa quando estimula ou desestimula a produção de determinados produtos ou serviços, utilizando-se de institutos como a tributação ou concessão de crédito, por exemplo. 27 Imagem: função alocativa do orçamento público. Fonte: https://pixabay.com Uma outra forma do Estado oferecer bens e serviços à sociedade é de maneira indireta, quando concede condições para que a iniciativa privada o faça. Por exemplo, a responsabilidade sobre as estradas é do Governo, mas constantemente vemos os famosos pedágios, que são cobrados da sociedade e que são, ou pelo menos deveriam ser, devol- vidos na manutenção das rodovias. Nesse sentido, com o intuito de minimizar as falhas de mercado, o Governo atua ajustando a alocação dos recursos produtivos na econo- mia, isto é, aplica os recursos disponíveis buscando estimular a cons- trução de obras e produção de bens e serviços que o setor privado não tem interesse ou, então, o faz de maneira ineficiente. 28 Logo, frente à necessidade do interesse coletivo em assumir os riscos e a responsabilidade de se promover o bem comum, é o Governo quem toma a iniciativa, por exemplo, de construir estradas, hidrelétricas, fer- rovias, portos, aeroportos e outras grandes obras de infraestrutura. No entendimento de Mendes (2016, p. 195), temos que: [...] visa à promoção de ajustamentos na alocação de recursos. É o Estado oferecendo determinados bens e serviços necessários e desejados pela sociedade, porém que não são providos pela inicia- tiva privada. O setor público pode atuar produzindo diretamente os produtos e serviços ou via mecanismos que propiciem condições para que sejam viabilizados pelo setor privado. Tal função é eviden- ciada quando no setor privado não há a necessária eficiência de infraestrutura econômica ou provisão de bens públicos [...] Ainda, com relação à produção de bens e serviços, é o Estado quem assume o compromisso de prover a população com bens e serviços es- senciais, por exemplo, segurança, saúde e educação, na qual o custo no setor privado nem sempre é acessível para a grande maioria da sociedade. De acordo com a função distributiva, o Estado atua redistribuindo os bens e recursos da sociedade, retirando dos que mais possuem (prin- cipalmente através da tributação, nas suas mais diversas formas) e re- passando-os para os que menos possuem (através de serviços públicos e programas de redistribuição de renda). Atualmente, no Brasil, existem diversos programas com essa finalidade. 29 A função distributiva é importante porque através dela o Estado combate as desigualdades extremas, permitindo que a sociedade seja mais igualitária e que mais pessoas possam usufruir do cresci- mento econômico. A execução das atividades econômicas gera excedentes que são apropriados por aqueles que atuam dentro do sistema econômico. Con- sequentemente, nesse processo, são favorecidos aqueles que controlam os meios e as respectivas atividades, já que ficam responsáveis pela maior parte do retorno. Mesmo que de maneira utópica, para que haja paz social, é neces- sário que todos tenhamuma renda que supra as suas necessidades, ou seja, o excedente deve ser distribuído a todos da sociedade. Nesse sentido, tão importante quanto gerar corretamente as riquezas, é fazer a sua distribuição de maneira adequada, levando em consideração que a insatisfação na distribuição pode gerar descontentamentos que podem levar ao rompimento da paz social. Isso posto, o Governo é o responsável pelos ajustes necessários, que podem ocorrer de várias formas, normalmente por meio da sua política tributária, criando impostos progressivos sobre a renda: quem mais ga- nha, mais paga! Impostos recolhidos, entra em cena também a política de gastos, na qual serão realizadas transferências para a população mais carente, através dos programas sociais. 30 Sobre a função distributiva, Mendes (2016, p. 196) afirma que: Os instrumentos mais usados para o ajustarmos são os sistemas de tributos e as transferências. Cita-se como exemplo de medi- da distributiva o imposto de renda progressivo, realocando as receitas para programas de alimentação, transporte e moradia populares. Outro exemplo é a concessão de subsídios aos bens de consumo popular financiados por tributos incidentes sobre os bens consumidos pelas classes de rendas mais altas. Na prestação de serviços públicos, podemos citar ainda a construção de escolas e de hospitais públicos, o que constitui também uma forma de se fazer essa redistribuição de renda dos mais favorecidos para as camadas mais pobres da sociedade. De igual modo, pela função estabilizadora, o Estado utiliza-se da peça orçamentária para promover ajustes para que a economia atinja adequado nível de estabilidade. Essa função estabilizadora é importante com vistas a um alto nível de emprego, um grau razoável de estabilidade nos preços, equi- líbrio no balanço de pagamentos e uma aceitável taxa de crescimento eco- Vale lembrar que nem todo tributo tem o “poder” de distribuição de renda. A maioria dos tributos sobre o consumo, por exemplo, não promove a distribuição de renda com eficiência. Diferente dos tributos sobre a renda e patrimônio que, quando progressivos, desenvolvem bem essa função. Por exemplo, o Imposto de Renda da Pessoa Física, cobrado com alíquotas progressivas e diferenciadas, conforme a faixa de renda do contribuinte. Dessa forma, quem mais ganha mais paga! 31 nômico – observe que todas as preocupações aqui são macroeconômicas. Para que haja crescimento e desenvolvimento, o ambiente econô- mico precisa se manter estável, concorda? A estabilidade é sentida por meio de variáveis, por exemplo, inflação, taxa de juros, níveis de empre- go, crescimento econômico, consumo e tantas outras. Nesse sentido, o Governo desenvolve um papel fundamental na ma- nutenção favorável desses níveis e, para isso, deve utilizar as ferramentas que possui para zelar por eles, assumindo um papel de acompanhamento. Por isso, ao Estado cabe a função responsável do gerenciamento macroeconômico, tomando, sempre que necessárias, medidas que in- fluenciem direta e/ou indiretamente as variáveis econômicas. Imagine comigo, por exemplo, que seja necessário aumentar o nível de emprego; para isso o Governo pode adotar medidas expansionistas, como a redução de tributos sobre o consumo ou a redução da taxa básica de juros. Essas medidas reduzem o preço de determinados produtos, fazendo seu con- sumo aumentar e, por consequência, impedir o aumento do desemprego. De igual modo, quando é necessário reduzir o nível da atividade eco- nômica, para conter diversos níveis de inflação, por exemplo, o governo pode vir a adotar medidas que chamamos de contracionistas, como aumento da tributação sobre determinada atividade ou aumento da taxa básica de juros. Uma outra forma também do Estado intervir na economia é por meio de suas compras, já que, por ser um importante agente econômi- 32 co, o Governo interfere diretamente na economia, por meio dos seus gastos: comprando mais, expande-se o nível de atividade econômica e comprando menos, provoca-se uma redução no nível geral econômico. Mendes (2016, p.196), apresenta a função distributiva: O campo de atuação dessa função é principalmente a manuten- ção de elevado nível de emprego e a estabilidade nos níveis de preços. Destaca-se, ainda, a busca do equilíbrio no balanço de pagamentos e de razoável taxa de crescimento econômico. O me- canismo básico da estabilização é a atuação sobre a demanda agregada, que representa a quantidade de bens ou serviços que a totalidade dos consumidores deseja e está disposta a adquirir por determinado preço e em determinado período. Diante dessa importância, a participação do Governo no PIB (Produto Interno Bruto) dos principais países do mundo, inclusive no Brasil, tem aumentado significativamente, principalmente em tempos mais recen- tes, onde a peça orçamentária passou a ser considerada um instrumento de planejamento e gestão da administração pública. Tendo por base o que acabamos de estudar, com relação às funções clássicas do orçamento, conseguimos imaginar o quão complexo é o papel do Estado na economia de um país, por exemplo, o nosso Brasil. É nesse cenário que entra em cena o orçamento público, como principal ferramenta das intervenções estatais na sociedade. 33 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO Diante do conceito que já temos sobre orçamento, que é a previsão das receitas e a autorização das despesas para um determinar período de tempo, podemos aplicar agora os conceitos e entendimentos sobre a atividade financeira do Estado, pela qual o Estado capta e gera os recur- sos e promove as aplicações em bens e serviços em prol da sociedade. Aqui, começa uma diferença importante que eu preciso que você já vá se acostumando: a ótica orçamentária é diferente da ótica financeira. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS – PARTE I AULA 03 35 Princípios são princípios em toda e qualquer disciplina, e aqui não é diferente. Os princípios orçamentários são regras gerais de observância obrigatória pelos três Poderes quando da elaboração, aprovação, execu- ção e avaliação do orçamento público, embora alguns deles apresentem exceções, conforme iremos estudar nesta aula. Eles são importantes porque, entre outras razões, garantem uma maior efetividade do orçamento e uniformizam sua elaboração, permi- tindo ainda um melhor controle sobre a peça orçamentária. Alguns desses princípios constam expressamente da Constituição Federal, outros das leis, e ainda outros são estabelecidos pela doutrina (conjunto de ensinamentos dos estudiosos do Direito Orçamentário). A desobediência a alguns desses princípios pode, inclusive, ensejar res- ponsabilização penal e civil ou mesmo crime de responsabilidade. Justamente por vários deles serem estabelecidos pela doutrina, não existe consenso sobre o seu número exato e nem sequer sob a sua nomen- clatura, sendo que estudaremos neste capítulo-aula aqueles princípios que são considerados mais relevantes para fins de entendimento da disciplina. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE De acordo com o princípio da legalidade, o orçamento público e suas alterações devem ser aprovados por lei. Essa lei é chamada pela nossa Constituição Federal de “Lei Orçamentária Anual”. Isso permite um controle político importante do Legislativo sobre o Poder Executivo, uma vez que, 36 através do orçamento, o Poder Legislativo acaba por autorizar a aplicação dos recursos públicos nas mais diversas áreas. A ideia desse controle é a de que os gastos do Governo sejam aprovados pelos representantes do povo. Vale lembrar que, embora seja o Poder Legislativo que aprove o orça- mento, sua iniciativa, ou seja, a apresentação da proposta, compete ao Poder Executivo, em cada esfera de Governo: Prefeito, Governador do Estado e Presidente da República. Assim, o Poder Executivo apresenta a proposta de orçamento e o Legislativo a aprova, com as alterações que entender necessárias, comas restrições impostas pela Constituição Federal, nos prazos que também iremos estudar. Na esfera federal, o orçamento é aprovado em sessão conjunta do Congresso Nacional, ou seja, deputados federais e senadores votam juntos a lei orçamentária, não havendo uma votação separada em cada Casa Legislativa. Quando estudarmos o Ciclo Orçamentário veremos em mais detalhes as fases de apresentação de proposta (elaboração) e aprovação do orçamento. A lei orçamentária é considerada uma lei formal, porque se distingue das demais categorias de leis, apresentando algumas peculiaridades, como por exemplo: a) a iniciativa para sua propositura é privativa do Chefe do Poder Executivo, cuja omissão configura crime de responsa- bilidade; b) na esfera federal, sua aprovação é em sessão conjunta do Congresso Nacional; c) durante seu trâmite na Casa Legislativa, passa por somente duas instâncias: comissão de orçamento e plenário; e d) é sempre uma lei temporária, válida por um exercício financeiro. 37 PRINCÍPIO DA UNIDADE De acordo com tal princípio, o orçamento público deve ser uno, ou seja, deve haver um só orçamento para cada Ente da Federação em cada ano, proibindo-se, assim, a existência de múltiplos orçamentos (um para o Poder Executivo, outro para o Legislativo e outro para o Judiciário, por exemplo). Assim, todos os anos, haverá um só orçamento federal, com todas as receitas e despesas da União. Haverá também 27 orçamentos estaduais, um para cada Estado, e mais de 5.000 orçamentos municipais, um para cada Município. O princípio da unidade encontra previsão expressa no art. 2º da Lei 4.320/64, que assim dispõe: “Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade.” (BRASIL, 1964). O objetivo do princípio da unidade é permitir um melhor acompa- nhamento e controle da execução orçamentária, uma vez que todas as receitas e despesas públicas irão constar de uma única peça. Apesar de seu uno, o art. 165, §5º, da CF afirma que ele deve ser apresentado em três partes: 38 “Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. (...) § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as en- tidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou in- direta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.” (BRASIL, 1988). Importante ressaltar que essa tríplice divisão da Lei Orçamentária não descaracteriza o princípio da unidade, uma vez que as três partes (ambi- guamente denominadas de “orçamentos”) são aprovadas conjuntamente. Imagem: princípio da unidade. Fonte: o autor. 39 Devido à previsão constitucional dos três orçamentos: fiscal, de inves- timentos e da seguridade social, alguns preferem denominar o princípio da unidade de princípio da totalidade. PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Também previsto no art. 2º da Lei 4.320/64, o princípio da universa- lidade estabelece que o orçamento deve prever todas as receitas que o Estado espera arrecadar e todas as despesas que serão incorridas. Ou seja, o orçamento deve trazer todas as receitas e despesas do período. Não se permite a realização de nenhuma despesa que não esteja previs- ta no orçamento, sob pena de responsabilização penal do ordenador (art. 359-D do Código Penal), sendo que o art. 11 da Lei 1.079/1950 considera tal situação também como caracterizadora de crime de responsabilidade. Em caso de surgimento de despesas imprevistas ou no caso de in- suficiência dos recursos previstos para determinadas despesas, o or- çamento primeiramente precisará ser alterado, antes que as despesas sejam executadas. Já em relação às receitas, embora o orçamento deva procurar pre- vê-las todas, nada impede que o Governo arrecade mais do que consta do orçamento. Essa situação, inclusive, recebe um nome especial na legislação: excesso de arrecadação. As receitas e despesas extra orçamentárias, também chamadas de ingressos e dispêndios extra orçamentários, não constam do orçamento, podendo ser consideradas uma exceção ao princípio da universalidade. 40 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO Esse princípio determina que todas as parcelas da receita e da des- pesa devem aparecer no orçamento em seus valores brutos, vedada qualquer dedução. É o que diz o art. 6º da Lei 4.320/64: “Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções.” Isso porque existem algumas receitas que, em sua arrecadação, ge- ram despesas e, por sua vez, existem despesas que geram receitas, sendo que os valores de cada uma dessas receitas e despesas não po- dem constar do orçamento pelos seus valores “líquidos”, mas devem aparecer separadamente. Imagine, por exemplo, que a despesa da União com o pagamento de servidores (despesa com pessoal) gera para a mesma duas receitas: receita de imposto de renda retido na fonte (IRRF) e receita com contri- buições previdenciárias. Consideremos os seguintes valores hipotéticos: DESPESA COM PESSOAL 100.000 RECEITA COM IRRF 20.000 RECEITA COM CONTRIBUIÇÕES PREVID 11.000 DESPESA LÍQUIDA COM PESSOAL 69.000 Em obediência ao princípio do orçamento bruto, no orçamento, não deverá ser lançado o valor líquido da despesa com pessoal, mas sim o valor bruto e, na parte da receita, deverão ser lançadas as receitas com IRRF e Contribuições Previdenciárias. 41 O princípio do orçamento bruto tem por objetivo propiciar uma maior clareza à peça orçamentária, visto que, se fossem lançados os valores líquidos das receitas e despesas, não se saberia quais seriam seus componentes. Alguns autores defendem que esse princípio deve ser respeitado para evitar a dupla contagem das verbas orçamentárias. PRINCÍPIO DA PERIODICIDADE OU ANUALIDADE Previsto expressamente no art. 2º da Lei 4.320/64, tal princípio esti- pula que o orçamento deve prever a receita e autorizar a realização das despesas por um período determinado, chamado de exercício finan- ceiro. Os créditos orçamentários terão vigência durante esse período. No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil, indo de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano, razão pela qual também é conhecido como princípio da anualidade. Sendo assim, o orçamento em nosso país é aprovado até o final do ano anterior, para ter vigência durante o ano corrente. Uma exceção ao princípio da anualidade é a prorrogação, para o exercício seguinte, de créditos adicionais especial ou extraordinários autorizados nos últimos quatro meses do ano, os quais iremos estudar em aula específica, fique tranquilo! No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil, indo de 1º de janeiro a 31 de dezembro, mas isso pode não acontecer em outros países. 42 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE OU DA PUREZA Esse princípio, previsto no art. 165, §8º, da CF, estabelece que a lei orçamentária não poderá conter dispositivo estranho à previsão da re- ceita e à fixação da despesa. Ou seja, o orçamento deve ser uma lei específica, somente podendo prever as receitas e autorizar as despesas para o exercício seguinte, evitando-se a introdução de outros assuntos. É que, no processo legislativo, é comum a aprovação de leis que tratam de vários assuntos diferentes. No caso da lei orçamentária, tal não pode ocorrer. Isso é importante por duas razões: a) para evitar que a discussão sobre oorçamento seja contaminada com outros assuntos; e b) para evitar burla ao processo legislativo, uma vez que as leis orçamentárias são aprovadas por rito próprio. No entanto, o próprio art. 165, §8º, da CF, traz duas exceções, per- mitindo que o orçamento, além de receitas e despesas, traga também: a) autorização para abertura de créditos suplementares: falaremos so- bre créditos suplementares no capítulo sobre créditos adicionais; e b) autorização para contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita: toda operação de crédito (empréstimo) tomada pelo Governo deve ter autorização do Poder Legislativo. Essa autorização pode já vir na própria lei orçamentária. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS – PARTE II AULA 04 44 Iremos, nesta aula, dar continuidade ao estudo dos princípios or- çamentários, lembrando que sua base pode ser tanto a Constituição Federal quanto outras legislações e, ainda, entendimentos doutrinários. PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO Para alguns, o princípio do equilíbrio determina que o total de re- ceitas não pode exceder o de despesas, o que é bastante óbvio em qualquer orçamento. Alguns ainda o definem como o princípio que de- termina que, em um orçamento, o total de despesas correntes não deve ultrapassar o de receitas correntes. No entanto, uma outra definição mais disseminada do princípio do equilíbrio, e que vem sendo cada vez mais cobrada em provas afirma que, por ele, o total de receitas no orçamento deve ser igual ao de des- pesas. Ou seja, por esse segundo conceito, as receitas totais não podem exceder as despesas totais e vice-versa. Inclusive essa versão se coadu- na mais com o nome do próprio princípio. Imagem: princípio do equilíbrio orçamentário. Fonte: o autor. 45 Isso ocorre porque, na verdade, as despesas representam a aplica- ção ou destinação das receitas arrecadadas, e todo valor que se espera arrecadar deve ser destinado a um determinado fim, mesmo que seja uma aplicação financeira ou destinação a uma reserva, por exemplo. É para garantir a obediência ao princípio do equilíbrio que a Consti- tuição Federal, por exemplo, proíbe a concessão ou utilização de créditos ilimitados (art. 167, VI). Além disso, em caso de necessidade de gastos com despesas além do previsto no orçamento, devem ser apontadas as fontes de receitas para fazer frente aos novos gastos. O princípio do equilíbrio visa evitar que haja, no orçamento, despesas sem receitas correspondentes. PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO, DETALHAMENTO, DISCRIMINAÇÃO OU ESPECIALIZAÇÃO Conhecido por vários nomes, tal princípio determina que as receitas e despesas devem ser devidamente discriminadas (detalhadas) no or- çamento, não podendo ser feitas dotações genéricas. Isso é importante para que o orçamento traga de forma clara e con- clusiva a origem das receitas e a natureza dos gastos públicos. Nesse aspecto, o art. 5° da Lei n° 4.320/64 estipula que: “A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras (...)” 46 A Lei estipula o grau de detalhamento mínimo das receitas e despesas, mas o orçamento pode trazer um detalhamento maior. No entanto, existe uma ex- ceção a essa regra, prevista no art. 20, parágrafo único da própria lei 4.320/64: “Art. 20. Os investimentos serão discriminados na Lei de Orçamen- to segundo os projetos de obras e de outras aplicações. Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas ge- rais de execução da despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital.” (BRASIL, 1964). No caso das despesas, por exemplo, o art. 15 da Lei 4.320/64 exi- ge que a mesma deverá ser especificada pelo menos por elemento de despesa. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE O princípio da publicidade exige que o conteúdo do orçamento e suas posteriores alterações sejam de conhecimento público, divulgado pelos meios oficiais e outros meios efetivos, possibilitando o controle social por parte dos cidadãos. Atualmente, inclusive, o art. 48 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), a qual iremos estudar com mais detalhes em aulas específi- cas, determina que deve ser dada divulgação do orçamento em meios eletrônicos de acesso público, o que inclui a internet. 47 PRINCÍPIO DA EXATIDÃO Tal princípio estipula que as receitas e despesas devem ser previstas no orçamento da forma mais exata possível, ou seja, o Governo deve es- merar-se na previsão das receitas e trazer as despesas de forma realista. Isso é importante para que o orçamento e as próprias ações do Governo possam ter credibilidade e expectativas concretas de realização. Assim, o Poder Executivo deve, por exemplo, ao prever as receitas que espera arrecadar, colocar um valor que seja uma estimativa con- fiável, pois, por um lado, uma previsão exagerada de receitas levaria também a uma previsão exagerada de despesas, o que dificultaria a execução orçamentária, quando a arrecadação começasse a ser realiza- da; e de outro, uma previsão excessivamente baixa de receitas levaria a uma diminuição nos gastos do Governo em relação ao que seria possível de fato realizar. PRINCÍPIO DA NÃO-AFETAÇÃO OU NÃO- VINCULAÇÃO Previsto no art. 167, IV, da Constituição Federal, o princípio da não- -afetação veda a vinculação da arrecadação de impostos a órgão, fundo ou despesa, exceto nos casos que a própria Constituição prevê. Ou seja, a receita de impostos não pode estar previamente destinada a nenhuma despesa específica. 48 Para entender adequadamente esse princípio, devemos primeira- mente compreender a diferença entre impostos e tributos. A definição de tributo nos é dada pelo art. 3º do Código Tributário Nacional, que assim dispõe: “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade adminis- trativa plenamente vinculada.” (CTN, 1965). Sendo assim, tributos são valores cobrados pelo Estado, com base em previsão legal, e que os contribuintes são obrigados a pagar, uma vez ocorrido o fato gerador. Por outro lado, os impostos são um tipo específico de tributos (ao lado de outros, como as taxas e contribuições de melhoria), definidos pelo art. 16 do mesmo CTN, que dispõe da seguinte maneira: “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação indepen- dente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.” Ou seja, os tributos são gênero do qual os impostos são uma espécie. O princípio da não-afetação aplica-se somente aos impostos, ou seja, não se aplica aos demais tributos. Isso quer dizer que os demais tribu- tos podem, sim, ter sua arrecadação vinculada a determinada despesa, como ocorre com as taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais e empréstimos compulsórios. Já os impostos, não. 49 Importante observar que, no entanto, esse princípio não é absoluto, existindo certas exceções previstas no próprio inciso IV do art. 167 da Constituição Federal, que são as seguintes: a) parcelas repassadas aos Estados e Municípios a título de re- partição de impostos federais e estaduais. b) destinação de recursos mínimos para ações de saúde, confor- me determinado pelo art. 198, §2º, da Constituição Federal. c) destinação de recursos para a manutenção e desenvolvimen- to do ensino. d) destinação de recursos para realização da administração tri- butária, a qual deve ser considerada prioritária, de acordo com o art. 37, XXII, da Constituição. e) prestação de garantias às operações de crédito por anteci- pação de receita. f) prestação de garantia ou contragarantia à União e para pa- gamento de débitos para com esta. g) destinação de recursos aos Fundos de Participaçãodos Es- tados e dos Municípios, bem como a programas de desen- volvimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, exceção esta prevista no art. 159, I, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). O princípio da não afetação aplica-se somente aos impostos, não se apli- cando às demais categorias tributárias, como as taxas e as contribuições de melhoria. 50 Essa desvinculação da receita dos impostos é importante para que os Poderes Executivo e Legislativo tenham a liberdade para, na definição do orçamento, destinar esses recursos para as necessidades da coleti- vidade naquele momento. PRINCÍPIO DA CLAREZA OU DA INTELIGIBILIDADE O princípio da clareza estabelece que a lei orçamentária deve ser de fácil compreensão para seus usuários. Sendo assim, a própria apresenta- ção do orçamento, assim como os termos utilizados por ele, devem per- mitir um entendimento claro por parte da sociedade de seu conteúdo. É claro que, como uma peça técnica, o orçamento também trará ter- mos técnicos e específicos. No entanto, a utilização desses termos não deve prejudicar o entendimento da lei orçamentária por quem detiver conhecimentos básicos de Administração Financeira e Orçamentária. O que deve existir, então, é um ponderamento da linguagem técnica, culta e coloquial para o bom entendimento da peça orçamentária. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE, CONSISTÊNCIA OU PADRONIZAÇÃO De certa forma consequência do princípio da clareza, o princípio da uniformidade exige que o orçamento apresente e conserve ao longo dos diversos exercícios financeiros uma estrutura que permita comparações entre os sucessivos mandatos. 51 Nesse aspecto, o art. 22, inciso III, da Lei 4.320/64 traz uma padroni- zação mínima na apresentação das informações pelo orçamento: “Art. 22. A proposta orçamentária que o Poder Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos estabelecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, compor-se-á: (...) III - Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesa, constarão, em colunas distintas e para fins de comparação: a) A receita arrecadada nos três últimos exercícios anteriores àquele em que se elaborou a proposta; b) A receita prevista para o exercício em que se elabora a proposta; c) A receita prevista para o exercício a que se refere a proposta; d) A despesa realizada no exercício imediatamente anterior; e) A despesa fixada para o exercício em que se elabora a proposta; e f) A despesa prevista para o exercício a que se refere a proposta.” (BRASIL, 1964). É um elemento importante para que as informações contidas na peça orçamentária possam ser devidamente compreendidas e analisadas pelas partes interessadas. PRINCÍPIO DA PROGRAMAÇÃO Tal princípio exige que os gastos previstos no orçamento sejam es- pecificados por programas de trabalho, permitindo a identificação de objetivos e metas a serem alcançados. Está relacionado à chamada “clas- sificação programática” da despesa pública. 52 Esse princípio é típico do chamado “orçamento-programa”, que vin- cula os gastos a programas, objetivos e metas. A ideia é que, para cada despesa, possa-se identificar a qual progra- ma de Governo está a mesma associada, e quais os resultados finais que se espera com sua realização. PRINCÍPIO DA UNIDADE DE CAIXA Também chamado de princípio da unidade de tesouraria, este, na verdade, é um princípio de gestão financeira do orçamento, mas que normalmente é es- tudado junto aos princípios orçamentários, tendo em vista a sua estreita relação. Segundo ele, via de rega, os recursos arrecadados pelo Governo de- vem ingressar por meio de uma única conta bancária em cada ente da Federação, que é a chamada “conta única do tesouro”. Na esfera federal, a conta única do Tesouro Nacional deve ser man- tida no Banco Central do Brasil, sendo operacionalizada pelo Banco do Brasil. No caso dos Estados e Municípios, suas respectivas contas únicas devem ser mantidas em bancos públicos. Importante observar que esse princípio apresenta algumas exceções, como por exemplo, as receitas de contribuições previdenciárias e as receitas de juros de aplicação de recursos de convênios. O princípio da unidade de caixa visa conferir um maior controle dos saldos das disponibilidades financeiras dos entes da Federação, dife- rentemente do que ocorria antes de sua obrigatoriedade, em que os recursos públicos ficavam “espalhados” entre diversas contas bancárias. LEIS ORÇAMENTÁRIAS AULA 05 54 As leis que regem o orçamento público têm sua base tanto na Consti- tuição Federal como na Lei de Responsabilidade Fiscal, a conhecida LRF, a Lei Complementar nº 101/2000. Vou tentar fazer uma abordagem mais específica de acordo com a Carta Magna, mesmo sendo necessário em diversos momentos a citação da LRF. Vamos nessa? O art. 165 da Constituição Federal, assim como a Lei de Responsabi- lidade Fiscal, definem que o processo orçamentário no Brasil envolve a elaboração e a aprovação de 3 (três) leis distintas: a) Plano plurianual - PPA; b) Lei de diretrizes orçamentárias - LDO; e c) Lei orçamentária anual – LOA (BRASIL, 1988). Essas são as chamadas leis orçamentárias, embora somente a lei orça- mentária anual seja de fato o orçamento, conforme vamos ver na sequência das nossas aulas, sendo que as duas primeiras servem, basicamente, para estabelecer os parâmetros e orientações para a lei orçamentária anual. Aliás, os princípios orçamentários que já estudamos aplicam-se em sua totalidade somente à lei orçamentária anual, uma vez que esta é que o orçamento de fato. Cuidado com isso! A ideia é que o planejamento estatal, que se refletirá no orçamento, deve ser um ciclo de médio prazo (quatro anos), começando com o PPA e terminando na LOA, passando pela LDO. Vale lembrar aqui que alguns autores consideram esse ciclo orçamentário como sendo de longo prazo, mas isso seria a mesma coisa que discutir os sexos dos anjos! 55 O rito para aprovação das três leis orçamentárias é semelhante ao aplicável às leis ordinárias, embora cada uma tenha suas peculiaridades, conforme veremos adiante e, assim como ocorre com a lei orçamentá- ria anual, também cada esfera de governo deverá aprovar seus planos plurianuais e suas leis de diretrizes orçamentárias. A elaboração da pro- posta das três leis orçamentárias cabe ao Poder Executivo, que deve encaminhá-las ao Legislativo nos prazos previstos e que serão vistos adiante, isso graças ao tipo misto de orçamento: elaboração pelo Poder Executivo e aprovação pelo Poder Legislativo. PLANO PLURIANUAL - PPA O plano plurianual terá validade de 4 (quatro) anos, isto é, acompa- nha o tempo de mandato do chefe do Poder Executivo, traçando um planejamento de médio prazo para as ações da Administração Pública. O PPA é considerado um planejamento estratégico do Governo, defi- nindo, em linhas gerais, suas ações, organizadas em programas, para o quadriênio seguinte. A existência das três leis orçamentárias visa permitir uma plena integração entre o orçamento (lei orçamentária anual - LOA) e o planejamento (plano plurianual - PPA). Assim, enquanto o PPA traz os objetivos, metas e ações do Governo, consubstanciadas nos programas nele previstos, a LOA traz a previsão dos recursos que serão utilizados naquele ano para atingi-los, permitindo a operacionalização do chamado orçamento-programa. E a lei de diretrizes orçamentárias - LDO? Funciona como um meio de interme- diação entre o PPA e a LOA. 56 De acordo com o art. 165, parágrafo 1º, da Constituição Federal, a lei que instituir o plano plurianual deverá estabelecer, de forma regionali- zada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. A partir de agora, quando eu citar despesa de capital, leia-se inves- timentos, até que eu melhore um pouco esse conceito, combinados?Assim, o PPA estabelecerá as diretrizes, objetivos e metas da ad- ministração pública para os quatro anos seguintes, o que orientará a elaboração das leis de diretrizes orçamentárias do quadriênio. Ao determinar que as diretrizes, objetivos e metas sejam estabele- cidas de forma regionalizada, o que pretende a Constituição é que o Poder Público leve em conta as diferenças que ocorrem nas diversas regiões brasileiras, permitindo um planejamento que atenda também às necessidades locais. Aqui vale uma observação: esse planejamento regionalizado não ne- cessariamente precisa levar em consideração a divisão clássica do País em cinco regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), mas poderá adotar outros critérios, de acordo com as necessidades de cada programa e de cada governo. Além disso, o dispositivo constitucional determina que tais diretrizes, objetivos e metas devem ser estabelecidos para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada: vamos entender melhor essas determinações? 57 As despesas de capital são as despesas do Governo com a criação de bens ou serviços públicos novos (investimentos) ou com a aquisição de bens já existentes no mercado (inversões financeiras). Imagine que o orçamento da União tinha previsão para a construção de um hospital em determinada região, podemos afirmar então que essa construção é uma despesa de capital. Todavia, ao construir um hospital você concorda que os gastos não serão somente com a construção? Ou pode o poder público construir e inaugurar o projeto e simplesmente ir embora e não deixar condições para que a sociedade usufrua do bem? Digo isso porque essa construção irá gerar outras despesas correntes, ou seja, despesas de manutenção, por exemplo, água, energia elétrica, remuneração dos servidores, com- pras de medicamentos etc. Nesse sentido, esses investimentos e inversões financeiras, porém, gerarão mais despesas, que serão necessárias para manter, como vimos agora: as despesas de capital com a construção de um hospital ocasio- narão o surgimento de despesas com manutenção das atividades desse hospital depois de pronto, como pagamento de pessoal, de contas de consumo, de manutenção de equipamentos etc. Por conta disso, exige a Constituição Federal que também sejam incluídas as despesas decorrentes dessas despesas de capital, o que chamamos de despesas de manutenção. Por fim, o Governo também não deve se esquecer que precisa manter os programas já existentes. 58 Por isso, também devem ser incluídas no PPA as despesas relativas aos programas de duração continuada, os quais, de acordo com o art. 17 da Lei de Responsabilidade Fiscal, são aqueles que se estendam por um período superior a dois exercícios financeiros. Orçamento público não é nada fácil, concorda? O que deve ficar claro é que a Constituição Federal determina que seja feita uma relação entre as despesas públicas e as diretrizes, obje- tivos e metas, ligando o orçamento ao planejamento, o que advém do princípio orçamentário da programação e que caracteriza o chamado “orçamento-programa”. Por conta disso, o PPA também deve trazer as ações que serão executadas para cada programa de Governo. As disposições do PPA têm caráter informativo e de orientação, mas não tem caráter impositivo nem autorizativo, ou seja, o fato de uma despesa ou programa estarem previstos no PPA não significa que obri- gatoriamente devam ser executados ou nem mesmo que estejam au- torizados, uma vez que a autorização para o gasto deve constar das leis orçamentárias anuais. Fique ligado nisso! O parágrafo primeiro do art. 167 da Constituição Federal estabe- lece que nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exer- cício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual. 59 Na prática, isso significa que, se o investimento puder ser executado dentro de um mesmo exercício financeiro, não haverá necessidade de prévia inclusão no Plano Plurianual, o que representa uma exceção à regra de que todos os investimentos devem estar no PPA. Imagine que determinada cidade seja dividida por um rio, e havia uma ponte que ligava as margens para que a população pudesse circular livremente. Considere que por conta de fortes chuvas na região, essa ponte veio a desmoronar, ficando então a população ilhada. Cabe agora ao poder público resolver a situação o quanto antes! Segundo o que reza a CF, se a construção da nova ponte for concluída até 31 de dezembro do mesmo exercício financeiro, não precisa de alteração no PPA, somente na LOA. Agora, caso a construção ultrapasse 31 de dezembro, e seja concluída, hipoteticamente, em fevereiro do próximo exercício, aí sim precisamos alterar além da LOA o PPA. Ao estabelecer que o PPA deve trazer as “despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada” para o período de quatro anos, a Constituição Federal, na verdade, está dizendo que o PPA deve procurar trazer todas as despesas do período, com exceção: a) dos investimentos cuja execução possa ser executada dentro de um mesmo exercício financeiro; b) das despesas com a manutenção de programas de curta duração. 60 Prazos para elaboração e aprovação Na esfera federal, o Presidente deve apresentar a proposta de PPA até o dia 31 de agosto do primeiro ano de seu mandato, sendo que o Con- gresso Nacional deve analisá-la, eventualmente alterá-la e devolvê-la para sanção até o final do ano, mas como o ano legislativo termina em 22 de dezembro, na prática esta é a data final para a aprovação pelo Congresso. Assim, o PPA passará a valer a partir do segundo ano de mandato, sendo válido até o final do primeiro ano do mandato subsequente. Per- ceba que o prazo de duração do PPA é de quatro anos, mas ele começa a vigorar no segundo ano de mandato e termina no primeiro ano do mandato subsequente, ou seja, no primeiro ano de mandato, o Presi- dente da República trabalha com o PPA elaborado pelo seu antecessor. Isso acontece para que a população não seja prejudicada com even- tuais disputas políticas de oposição, por exemplo, e os serviços iniciados pelo Presidente anterior sejam concluídos. Imagine se a legislação não tivesse esse cuidado? Uma dúvida que sempre paira quando estudamos esse assunto é: se o Presidente da República for reeleito, ele precisará elaborar um novo PPA para seu segundo mandato ou poderá aproveitar o PPA elaborado no primeiro? Nesse caso, ele precisará fazer um novo PPA, até porque o anterior foi elaborado para o período de somente quatro anos, e será necessário apresentar uma nova proposta de PPA para o quadriênio seguinte. 61 Se o nosso orçamento, particular, passa por constantes mudanças e adaptações, imagine a peça orçamentária pública? LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS - LDO A Lei de Diretrizes Orçamentárias funciona como uma intermediária entre o planejamento de médio prazo do PPA e o de curto prazo, ex- presso na Lei Orçamentária Anual. Tanto a Constituição Federal, como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) trazem disposições sobre a LDO. Vamos estudar os principais aspectos dela, a partir de agora. A LDO na Constituição Federal O parágrafo 2º do art. 165 da Constituição Federal, a LDO estipula do que deve tratar a LDO: “§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despe- sas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.” Vejamos cada uma dessas funções da LDO: a) Definição das metas e prioridades da administração pública para o exercício financeiro subsequente: uma das funções da LDO é selecionar, dentre as açõesplanejadas para o quadriênio no PPA, aque- 62 las mais prioritárias, que deverão ser realizadas no exercício financeiro seguinte. Por exemplo, o Presidente da República disse em sua campa- nha que iria construir 400 (quatrocentos) hospitais públicos durante o seu governo (isso é PPA, já que se trata de planejamento para os quatro anos). Mas, necessariamente, devem ser construídos 100 (cem) hospitais a cada ano de mandato? Não! Quem irá trazer essas prioridades é a LDO, e quem irá, de fato, liberar os recursos para as construções será a LOA. b) Orientação para elaboração da Lei Orçamentária Anual: a LDO estabelece regras e diretrizes que deverão ser observadas quando da elaboração da lei orçamentária. Entre vários outros exemplos de parâ- metros e diretrizes estabelecidas pela LDO para a LOA, podemos citar: metas de arrecadação, metas de despesas, metas de dívida pública, valor e hipóteses de utilização da reserva de contingência, prazo máximo para envio e limites de gastos para as propostas orçamentárias pelos demais poderes, que serão encaminhadas ao Executivo para consolidação e envio ao legislativo, etc. c) Disposição sobre alterações na legislação tributária: alterações na legislação tributária costumam impactar diretamente o orçamento, pois normalmente alteram a expectativa de arrecadação, como ocorre, por exemplo, com a criação ou aumento de tributos e com a concessão de isenções. Por conta disso, é importante que a LDO disponha sobre as alterações que o Poder Executivo pretende propor ou realizar na legis- lação tributária, além de analisar o impacto de alterações já efetuadas. 63 Importante observar que a LDO não altera a legislação tributária, mas simplesmente dispõe sobre as alterações que se pretende realizar, mas serve como uma prévia para que o Poder Executivo, nos casos em que a alteração depender da concordância do Congresso Nacional, perceba se a alteração tem ou não chances de ser aprovada. Isso porque, na análise da LDO, os parlamentares já se manifestarão se concordam ou não com as alterações propostas. d) Definição da política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento: definir a política de aplicação das agências finan- ceiras oficiais de fomento, e isso significa dizer estabelecer as diretrizes que devem ser seguidas por essas agências ao emprestarem recursos financeiros. Agência de fomento é a instituição com o objetivo principal de financiar capital fixo e de giro para empreendimentos previstos em programas de desenvolvimento. Na esfera federal, entre outros temos Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. A LDO na Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF É valido pontuar que não existem divergências entre os dispositivos expressos na CF e na LRF, mas sim uma espécie de complemento para as leis orçamentárias e diversos outros temas da nossa disciplina. O art. 4º da LC 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) estabelece que, além de atender ao disposto no parágrafo 2º do art. 165 da CF (visto anteriormente), a LDO também disporá sobre: 64 a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, em caso de necessidade; c) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resul- tados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; e d) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas. Além disso, a LRF também estipula que a LDO deverá trazer o Anexo de Metas Fiscais e o Anexo de Riscos Fiscais. O Anexo de Metas Fiscais deve estabelecer metas anuais, em valores correntes e constantes, re- lativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. Tal anexo deverá também trazer avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior, e o seu não cumprimento acarretará a limitação de empenhos e de movimentação financeira, ou seja, o ente federativo pode ser punido caso não cumpra as metas fiscais. Já no Anexo de Riscos Fiscais devem ser avaliados os passivos con- tingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, infor- mando as providências a serem tomadas, caso se concretizem, ou seja, situações que, caso concretas, podem vir a impactar as contas públicas. E o parágrafo 4º do mesmo art. 4º da LRF estipula que a mensagem que encaminhar o projeto da União apresentará, em anexo específico, os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus principais agregados e variáveis, e ainda as metas de inflação, para o exercício subsequente. 65 Sendo assim, podemos afirmar que a LDO possui três anexos, fique atento! Prazos para elaboração e aprovação Na esfera federal, valem os seguintes prazos para a LDO: o projeto da LDO deve ser encaminhado pelo Presidente da República ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano. Esse projeto deve ser aprovado pelo Con- gresso Nacional até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (atualmente 17 de julho), sendo que, de acordo com o art. 57, parágrafo 2º, da CF, a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias, ou seja, não haverá recesso parlamentar enquanto a LDO não for aprovada no Congresso Nacional. Viu o que acontece aqui? Segundo a CF, caso o Poder Legislativo não aprove a LDO até o prazo estabelecido, que é até a última sessão legis- lativa antes do recesso, em 17 de julho, eles serão punidos, castigados e não poderão sair para o recesso. LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL - LOA A lei Orçamentária Anual – LOA – é o orçamento propriamente dito, sendo nela a aplicação de todos os princípios orçamentários dos quais já estudamos. A LOA deverá ser elaborada em consonância com o PPA e a LDO e deve trazer todas as receitas que se espera arrecadar e as despesas que serão incorridas no exercício financeiro subsequente. Lembre-se sem- pre disso: as receitas são previstas e as despesas são fixadas/autorizadas. 66 Nenhuma despesa que não esteja prevista na LOA poderá ser exe- cutada, sob pena de responsabilização criminal do agente (art. 359-D do Código Penal). Além disso, são vedadas a concessão de créditos ilimita- dos (art. 167, VII, da CF), o que quer dizer que toda despesa prevista no orçamento deverá ter um limite máximo de gasto. O parágrafo 6º do art. 165 da Constituição Federal estabelece que o projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo re- gionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isen- ções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. Observe aqui uma preocupação maior, bem como mais exigências por parte da legislação, já que estamos tratando especificamente do orçamento agora... Divisão da LOA De acordo com o § 5º do art. 165 da Constituição Federal, a lei orça- mentária anual deve compreender três partes: a) Orçamento Fiscal; b) Orçamento de Investimento das Empresas Estatais; e c) Orçamento da Seguridade Social. Cuidado com isso, já que essa divisão não fere o princípio da unidade orçamentária, já discutida em momentos anteriores. Mesmo com essa tríplice divisão, a peça orçamentária permanece sendo única. Vamos ver, de maneira rápida, o que significa cada uma dessas partes. 67 O orçamento fiscal deve trazer todas as despesas (e as receitas que lhe custeiem) referentes aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações ins- tituídas e mantidas pelo Poder Público, desde que tais despesas não constem dos outros dois orçamentos – ou seja, o orçamento fiscal é o que chamamos de orçamento residual. No orçamento de investimento das empresas estatais devem constar
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