Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL INFANTIL SEGUNDO A TEORIA PSICANALÍTICA Luiza Vitória Argenta Bortolotto; Maria Eduarda de Castro Dias RESUMO Adentramos os conceitos da formação e desenvolvimento do mundo interno infantil, com foco maior na saúde e proteção da criança, efeitos da negligência parental, como também, perspectivas históricas do surgimento da infância na dinâmica familiar de cada época e como essa dinâmica entre gerações se dá nos dias atuais, a metodologia utilizada. Palavras-chave: Lacan; Psicose; Negligência; Klain; Inconsciente. 1. INTRODUÇÃO É inegável a importância da infância para toda a nossa vida, a neurociência afirma que a construção desse mundo interno é uma combinação genética, relações do ambiente e estímulos da cultura de cada época. Independente do modelo da família o que se torna relevante é a maneira de como se constroem os laços, e principalmente como se assume a responsabilidade do cuidado com as crianças, é nesse universo que vamos nos constituindo como sujeitos, com nossas singularidades. A partir disso, os estudos psicanalíticos do desenvolvimento infantil de grandes autores como Freud, Lacan, Winnicott e Melanie Klain contribuem para observarmos amplamente o mundo interno 1 infantil, como ele foi construído socialmente e o porquê da importância do cuidado nos primeiros anos de vida. 2. METODOLOGIA Revisão da literatura de Jacques Lacan, Melanie Klain, Diana Corso, Mario Corso, Donald Winnicott, Sigmund Freud. Revisão de Artigos Científicos 3.0 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DO SURGIMENTO DE CUIDADOS NA INFÂNCIA Por longos anos a fase de desenvolvimento e o cuidado com as crianças passou-se despercebida. Historicamente, a estrutura familiar passou por diversas modificações de cuidado, as dinâmicas familiares mudam a cada nova geração. O artigo A Construção Social do Conceito de Infância: algumas interlocuções históricas e sociológicas conta que nem sempre a infância foi vista como uma fase que se precisasse de cuidado, na verdade, na Idade Média as crianças eram tratadas como adultos, vestidas como adultos, e seus corpos eram extremamente violados. Não havia censura, não havia barreiras morais, elas podiam ser executadas ou torturadas. Esse cuidado da estrutura social com as crianças foi retratado com o conto de João e Maria, aproximadamente no século 14. Até o século 17 a infância não era vista como objeto singular, não havia existência de uma expressão particular, então, ocorria uma forte violação do corpo infantil, indicando que as crianças eram tratados como adultos, mas, sem autonomia sobre seus corpos. Em meados do século 18 e 19 a partir de esforços da arte, da filosofia de Rousseau e da igreja, em defesa da criança e da família, começou a surgir a personificação da criança como ser especial, o primeiro marco foram as roupas especiais para crianças. Segundo a psicanalista Maria Rita Kehl, essas percepções foram se tornando mais visíveis pela sociedade pelo surgimento da neurose, reflexo de grande repressão e opressão de uma estrutura cultural, muitos movimentos sociais que lutam por novas formas de expressar a sexualidade aconteceram nesta época, e complementa que nada é à toa. A psicanálise surge quando surge a doença. Sigmund Freud, psiquiatra e criador da teoria psicanalítica, em 1885, foi o primeiro a desvendar a origem de algumas doenças que eram encaradas pelo ponto de vista orgânico, mas que na verdade eram fruto do disfuncionamento mental, o que causava a neurose histérica, por exemplo. A histeria em mulheres era muito comum, os historiadores contam que era chamada de "doença do útero" mas era apenas um reflexo da opressão e repressão de uma sociedade extremamente doente, onde mulheres e crianças não eram vistas como seres íntegros e eram facilmente submetidos a situações de extremo stress e violação. Durante as últimas décadas, é quase certo que uma mulher histérica seria tratada como simuladora, do mesmo modo em que, em séculos anteriores seria julgada e condenada como feiticeira ou possuida pelo demonio (Freud, 1990 [1956 [1886], p.48) 2 Assim, nos seus primeiros anos de estudo, inspirado por Charcot e sua técnica de hipnose, Freud começa seus ensaios iniciais pela neurose histérica e neuroses traumáticas. Além de considerar fatores fisiológicos, os fatores da história de vida e suas circunstâncias eram fatores coadjuvantes que influenciavam na dinâmica originária das neuroses traumáticas. É neste dado momento que Freud introduz a noção de trauma como possível chave para desencadear as manifestações patológicas do ser. A construção social da infância concretiza-se pelo estabelecimento de valores morais e expectativas de conduta para ela. Foi apenas em meados dos séculos 19 e 20 que este aspecto começou a ser visto como possível objeto de estudo, ainda que, demorasse um longo tempo para que isso pudesse acontecer efetivamente, o pensamento de proteger as crianças foi sendo difundido aos poucos na sociedade, pela ideia de serem seres mais dependentes, fracos e frágeis, então, foram reconhecidos como seres que necessitam de grandes cuidados e, também, de uma rígida educação (Levin, 1997). A criança então torna-se o centro de toda a atenção, e a pedofilia que não era crime na Idade Media passa a ser um dos crimes mais ediondos. Passou-se, então, a amarrar o corpo da criança de várias formas, o que, na época, era considerado necessário para controlar os seus movimentos, bem como para exercer uma fiscalização efetiva sobre a criança já que os cuidadores precisavam trabalhar e não podiam cuidar da mesma. Apenas com a institucionalização da escola e o interesse do governo na educação das crianças é que o conceito de infância começa a ser alterado, por meio da escolarização das crianças. (Corsaro, 2003). Mas é apenas no contexto familiar que ocorrem os encontros entre as gerações, ao menos por proximidade física, uma vez que em muitas prevalece o distanciamento afetivo. Por isso, a qualidade dessas relações tem sido alvo de muitas discussões entre especialistas. A eficácia da família como instância formadora de novos cidadãos tem sido muito criticada nos últimos anos. Principalmente pelas dificuldades da relação entre pais e filhos, que têm se caracterizado como o mais emblemático tipo de conflito de gerações (Adatto, 1998). Portanto, tomando consciência de que houve muitas mudanças sociais inserindo a criança na história do mundo, hoje, a neurociência afirma que é um ser construído pela genética, pelo meio em que ele vive e pela estrutura cultural do seu tempo, assim, torna-se um ser singular e subjetivo. Construímos socialmente a história da criança como objeto científico, este ser precisa ser amparado por algum adulto que assuma a responsabilidade de cuidado, pois sem alguém que ampare esta criança o mesmo não sobreviverá, para Freud o pequeno ser precisa de da mãe como objeto de satisfatório, o seio materno significa o alimento, o amparo. Nos dias de hoje, existe o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA),para garantir a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), marco legal que ratifica os direitos fundamentais da infância e da adolescência. O mesmo 3 assegura seus direitos e amplifica a visão de cuidado e educação, garantindo assim, ambos. 3.1 CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO PARA FREUD Trazendo a luz as interpretações do nascimento como trauma originário segundo Freud, podemos então desbravar o desenvolvimento da sexualidade infantil a partir da organização libidinal em fases psicossexuais, assim como também a importância do cuidado parental nessa esfera psíquica do desenvolvimento. Sua obra e vida foram dedicadas a estudar sobre as 4 pedras angulares da psicanálise, aspectos abrangentes que tratam de processos psíquicos como: processos inconscientes, complexo de édipo, resistência e repressão e sexualidade. Todos esses ensaios constituem a construção do inconsciente e consciente, e como se dá a dinâmica entre os mesmos. A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura psicanalítica onde o recalcamento é o pilar básico. O ato de nascer é, além disso, a primeira experiência acompanhada de ansiedade e constitui, portanto, a fonte e o modelo do sentimento de ansiedade. (Freud 1956). O recalque originário torna-se mais denso no ato de nascer, o bebê nasce com o Id que caracteriza-se por ser filogenético, ou seja, marcas comuns do totem, a noção de desamparo entra em cena neste momento e torna-se evidente que necessitamos de outros seres humanos, seguimos constituindo uma noção se sermos seres sociáveis e necessitamos de amparo ao nascer, diferente do animal. Esta mesma noção de amparo traz consigo a necessidade de uma ação específica, caracterizando-se assim, a vivência de satisfação, o exemplo em cena é o seio materno que ampara o bebe ao chegar no mundo, considerado a Fase Oral, que significa a primeira vivência de desamparo (o nascimento) e então, há um investimento de alimentos, olhares e trocas de carinho importantes para o início da formação das linhas psicossexuais do bebê. Essa fase é reconhecida pelo princípio de prazer obtido pela boca, com a sucção do leite materno, o bebê introjeta a comida, como também o mundo e o afeto. Caracterizada também como a fase canibalística. A segunda fase é a anal, caracterizada pelo controle dos genitais, como a hora de fazer xixi e coco, é uma fase expulsiva, o bebê começa a tentar a independencia em relação aos pais. É nessa fase que a criança começa a perceber as ansiedades do ambiente, Id. O Id é considerado o componente nato dos indivíduos, consiste em desejos, vontades e pulsões primitivas, sua formação se dá principalmente pelos instintos e desejos orgânicos pelo princípio de prazer. A terceira fase chama-se fase fálica, onde a libido é então direcionada a curiosidade sobre os seus genitais. Nesta fase o interesse e curiosidade sobre o próprio corpo surgem, e logo em seguida acontece o Complexo de Édipo, este momento diferencia-se para a menina e para o menino. 4 A fase da latência é caracterizada pela fase da aprendizagem e é o início da puberdade biológica do corpo. A partir disso, as outras partes do inconsciente se desenvolvem, o Ego e o Superego. O Ego forma-se a partir da interação do ser humano com a sua realidade, adequando seus instintos primitivos (o Id) com o ambiente em que vive, é também chamado de princípio da realidade, responsável pelo mecanismo de equilíbrio da psique, procurando regular os impulsos do Id, ao mesmo tempo que tenta satisfazê-los de modo menos imediatista e mais realista. Já o Superego se desenvolve a partir do Ego e consiste na representação dos ideais e valores morais e culturais do indivíduo, é o alerta sobre o que é ou não moralmente aceito, segundo os princípios que foram absorvidos pela pessoa ao longo de sua vida, esse desenvolvimento se dá a partir do quinto ano de vida. É quando o contato com a sociedade começa a se intensificar. Para discutir sobre a linha libidinal em fases psicossexuais, primeiro é importante esclarecer alguns termos psicanalíticos como os princípios que regem o inconsciente e consciente. O inconsciente é atemporal, amoral e é regido pelo princípio do prazer, é válido lembrar que o inconsciente é maior que o recalcamento. O princípio do prazer tem haver com o processo psíquico econômico, ou seja, necessário para determinar o quantum de afeto que está em jogo e quais suas forças resultantes. A pressão do inconsciente para o consciente, é uma descarga necessária, em outras palavras, é um prazer livrar-se do representante pulsional, quanto mais descarga ocorre menos angústia chega na consciência. O trauma para psicanálise significa um representante pulsional que é recalcado, ou seja, condensado e deslocado, que caminha para a consciência, um exemplo disso é a associação livre (manifesto latente). A neurose histérica é um exemplo de conversão da energia psíquica somática, ao qual depende dos mecanismos de defesa e das reminiscências. Podemos também dizer em outras palavras, que um trauma é demais para a consciência, ocorre então uma representação pulsional, o mesmo recalca o representante pulsional, ou seja, não chega exatamente a cena em si mas uma representação, porque houve um caminho de condensação e deslocamento do material (afeto intenso) que irá funcionar pelo princípio do prazer (descarga) e o inconsciente vai tentar descarregar esse material já foi recalcado. Freud separou o recalcamento em três tempos; o primeiro é da consciência que intermedia a realidade, com o trauma (afeto intenso que pode ser angustiante demais), recalca, e ocorre a atração e repulsão; o segundo tempo é o recalcamento propriamente dito ou secundário que atrai, puxa e depois tenta empurrar; o terceiro chama-se retorno do recalcado que é o somatório de tudo, um ato falho, um sonho e então manifesta-se na consciência como associação livre. O recalcamento se dá da seguinte forma: primeiro há o recalcamento, quando está recalcando já há uma questão econômica, ou seja, sai da consciência e vai para o 5 inconsciente. No inconsciente já há várias outras intensidades (afeto) o material então vai ficar deslocando e condensando para se livrar (descarga), ao longo do tempo se transforma em um material onde as repressões não vão deixar passar porque se deixar chegar na consciência vai ser tão angustiante quanto a cena em si. Existem resistências que não irão permitir que o inconsciente descarregue lá, então esse com muita energia psíquica e evidentemente, transbordará, isto é, ocorre a descarga do mesmo jeito, esse conceito é conhecido como angústia suportável. É válido lembrar que o recalcamento é diferente de repressão e censura. O recalcamento é considerado um mecanismo de defesa, porque alivia a consciência, já a repressão é considerado uma interseção, um mecanismo de defesa, uma barreira, e serve para reprimir o caráter inconsciente e a censura é a pré-consciência e segura a pulsão polida, poucas referências sobrea pré-consciência nas obras de Freud. 3.2 FASES DO DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA E ASPECTOS PSICOLÓGICOS Na sua teoria sobre o desenvolvimento emocional, Winnicott (1945) destaca que no primórdio o bebê não constitui uma unidade em si mesmo, ele não possui garantia de uma unidade psicossomática, pois encontra-se em um ambiente que pode ser contributivo ou não para o processo de vinculação psique-soma. Quando essa vinculação psique-soma acontece de forma não satisfatória, por determinação de um ambiente inadequado às demandas do bebê, este pode se desenvolver de maneira ineficiente, sendo incapaz de alcançar a maturidade necessária para que suas potencialidades fluam. O bebê depende inicialmente de um adulto que contribua para atender as necessidades dessa criança. A psique, que para Jung é considerada o eixo do mundo, é desenvolvida através de um processo gradativo, até que ocorra a individualização e aí o real surgimento da psique. Para Winnicott, o sucesso de processos ambientais é o caminho para o desenvolvimento e a estruturação de um ser distinto, autêntico e criativo, enquanto o fracasso dos processos ambientais como as negligências, intrusões ou desastres, levam ao tipo de desenvolvimento adaptativo e reativo ao ambiente. O real self juntamente com a sensação de que a vida vale a pena, apontada pelo autor, é o resultado de nossas tendências e potenciais de desenvolvimento saudável, o oposto disso, são as criações defensivas do self, as neuroses, a sensação de futilidade, isso ocorre por características de um falso self que precisou desenvolver-se em um ambiente falho. Sabe-se que o bom desenvolvimento infantil é de extrema importância, nos primeiros anos de vida são formadas em média, 700 novas sinapses a cada segundo, as primeiras experiências vivenciadas pela criança afetam a natureza e a arquitetura cerebral, determinando o reforço de alguns circuitos e facilitando a poda sináptica de outros. 6 O estresse crônico é tóxico ao desenvolvimento cerebral. Fatores socioeconômicos, negligência, situações repetitivas de abuso ou depressão materna, por exemplo, podem ocasionar esse estresse tóxico. Geralmente essa condição é gerada como resposta fisiológica de curta duração a experiências desagradáveis. Neurônios submetidos a esse tipo de estresse apresentam desenvolvimento insatisfatório, principalmente na área do hipocampo e no córtex pré frontal. É mais fácil e eficaz influenciar a estrutura cerebral que está em desenvolvimento em um bebê do que fazer o mesmo em um adulto, por exemplo. É mais valioso e seguro assegurar condições favoráveis ao bom desenvolvimento infantil, do que tratar a redução de danos em um adulto. Jean Garrabé (1992), constatou que as doenças mentais são representações culturais simbólicas dos medos fundamentais do ser humano, ele chamou essas representações simbólicas de “metáforas do inominável”. Com isso, Garrabé conclui que com o passar do tempo e o amadurecimento, essas crenças passam a ter significados racionais, perdendo sua característica ameaçadora e dando espaço para outro fenômeno, a doença mental. Foucault reitera sobre a importância dos fatores socioculturais nesse processo, já que, segundo ele, a doença toma o aspecto em reflexo à história cultural. O fracasso ambiental nesse ponto do desenvolvimento acirra o potencial paranóide, já que, a criança se vê obrigada a reagir de forma defensiva em resposta às intensas ansiedades paranóides. Após essa resposta, o indivíduo pode entrar em estado de introversão patológica, onde se coloca em um ambiente que ainda não está devidamente organizado, ficando alheio aos processos de crescimento e autonomia. Para Winnicott, o fracasso ambiental nos primórdios do desenvolvimento leva à essa organização defensiva, diferentemente de Klein, que atribui à herança filogenética, aos precursores do ódio e aos sentimentos de inveja, as matrizes de impulsos, defesas e ansiedade profundas. Para Winnicott, para compreendermos as desordens do tipo da esquizofrenia, é necessário examinarmos os processos de maturação nos estágios iniciais do desenvolvimento emocional (parentalidade, afeto, segurança…). 3.3 PSICOSE INFANTIL NO PONTO DE VISTA PSICANALÍTICO Para alguns autores, como Sauvagnat (2005), o autismo e a psicose não são diferentes porque a ecolalia demorada dos autistas tem a mesma estrutura linguística que a alucinação auditiva dos psicóticos. Alguns pesquisadores afirmam que os fatores que acentuam o autismo estão relacionados às falhas na função materna enquanto que as psicoses estão relacionadas às falhas na função paterna. Segundo Lacan, o bebê é aquilo que torna a mãe completa; aquilo que, se ela possuir, nada mais ela desejaria ter. O seio da mãe e o desejo desta pela amamentação do bebê, é vista de forma mítica, como a experiência de completude. O bebê é um ser de necessidade. Essa mãe nomeia as sensações físicas do bebê e supõe o que são essas necessidades expressadas por essas sensações, o que era necessidade, agora torna-se demanda. Na vida desse bebê, por momentos a mãe comparece e por outros, se ausenta, 7 nesse momento a mãe demonstra seu interesse não só apenas pelo bebê, possibilitando a entrada da função paterna, ou seja, a mãe elege o Pai, como o terceiro elemento que se insere na relação mãe e bebê. Na psicose, a operação de desatino é bem sucedida, o desconforto está nesse segundo momento, onde há a separação do Outro. O sujeito psicótico é atravessado pelo delírio. É a maneira como o sujeito se defende da castração, que é o trauma, que constitui a estrutura psíquica: a neurose apresenta o mecanismo de defesa acontecer pelo recalque; a perversão ligada a renegação; ou a psicose pela foraclusão. Seguindo daí pode-se perceber que há um critério alusivo à condição enquanto sujeito. A lei das relações subjetivas, ou seja, as que envolvem o Sujeito, são passadas ao bebê porque funcionam como uma regra social, e como a regra social afeta todos à volta do bebê, afeta também o mesmo. A castração pode ser pensada como uma poda na relação com a mãe, apresentada por um terceiro sujeito eleito pela mesma, o Pai. Isso coloca mãe e filho em posição de déficit, levando-os à inerente busca por algo que preencha este espaço, possibilitando a mais variada escolha de objetos que satisfaçam os desejos de movimento da criança, já que, o Sujeito em si, se constitui a partir da separação do Outro. O processo envolve fatores que são possibilitadores da escolha de um objeto do âmbito angústia. Se há alguma falha neste processo de castração, ou seja, a falha da castração, pode ter início uma psicose. Quinet diz que a foraclusão psicótica é, na verdade, a negação da castração que não deixa vestígio do que é negado ao Sujeito 3.4 Agradecimentos Agradecemos uma à outra pela colaboração, parceria e engajamento neste artigo. 4. CONCLUSÃO As perspectivas da personalidade seguindo o rumo histórico da pioneira Melanie Klein, que foi a primeira pessoa que ousou a terapia psicanalítica com crianças, usou a técnica de brincar, que consiste em considerar a associação livredo adulto equivalente ao ato de brincar na sessão terapêutica, portanto, ao analisar o funcionamento emocional do self infantil, Klein desenvolveu um entendimento muito significativo e profundo do mesmo. A partir deste, ficou claro como traçar um entendimento do mundo interno infantil e por meio de formas das quais as emoções ali adquirem significado contribuem para o entendimento da personalidade adulta e com seus núcleos infantis incrustados que persistem por toda a vida. 8 O estudo da arquitetura emocional do bebê abriu as portas para a investigação das atividades mentais primitivas características dos estados psicóticos, e em alguns casos, permitiu tratá-los. Suas observações proporcionaram um desenvolvimento muito grande das possibilidades de se falar a ester aspectos mais infantis e a núcleos mais primitivos da personalidade. Klein é referência em psicanálise infantil, mas reiteramos a extrema importância dos escritos de Winnicott, Lacan, Freud, Charcot, entre outros. Pois percebe-se que o tema abrange diversas áreas e gera distintas opiniões entre pesquisadores e estudiosos do tema Fatores Ambientais para o Desenvolvimento das Psicopatologias de Início Precoce. REFERÊNCIAS. LEVIN, Esteban. A infância em cena – constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MELANIE KLEIN 1995, Congresso Associação Internacional de Psicanálise (IPA) Genebra, MALLET ELIAS; ROCHA ELIZABETH. NASCIMENTO, Cláudia Terra do; BRANCHER, Vantoir Roberto; OLIVEIRA, Valeska Fortes de. A construção social do conceito de infância: algumas interlocuções históricas e sociológicas. Contexto & Educação. Editora Unijuí, ano 23, no 79, Jan/Jun 2008. 9
Compartilhar