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Inventário Participativo 2 Memória e Memória Social ......................................................................................4 Memória e Narrativa: História Oral .........................................................................11 História Oral: Metodologia em Etapas ....................................................................15 Pesquisa do contexto ...........................................................................................16 Identificação de entrevistados ................................................................................17 Elaboração de roteiro ..............................................................................................19 Contato com entrevistados e agendamento da entrevista ...................................24 Elaboração de documentação ................................................................................24 Realização da entrevista ........................................................................................25 Local .........................................................................................................................25 Foco no entrevistado ...............................................................................................25 Respeito à narrativa do entrevistado .....................................................................25 Gravação ..................................................................................................................26 Transcrição ..............................................................................................................27 Arquivamento ...........................................................................................................28 Devolutiva para os entrevistados ...........................................................................28 História Oral: Ética e Generosidade .......................................................................31 Sugestão de atividade ...........................................................................................34 Referências ...........................................................................................................35 Sumário 3 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Olá! Para fazermos um inventário participativo, é útil compreender o que é a memória, como ela se estrutura socialmente e qual a sua relação com o patrimônio cultural e os museus. Além de entendermos o conceito, nesse módulo veremos como a elabora- ção da memória individual (que é sempre memória coletiva também) pode ser funda- mental para produzir fontes de informação e referências sobre aquilo que se pretende preservar, relembrar e pôr em evidência. Cientes da importância da memória e de sua relação com o inventário participativo, vamos tratar de uma metodologia chamada história oral, que é uma forma de produzir narrativas de memória na prática. Vamos nos dedicar ao passo a passo do processo de elaboração e realização de uma entrevista, seus conteúdos, sua dimensão ética e seus princípios. Excelente estudo! 4 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Memória e Memória Social A memória é objeto de estudo de diferentes campos de conhecimento, como a psi- cologia, psicanálise, biologia, medicina e as ciências sociais. Os estudos sobre a memória (em parte refletidos nas referências deste módulo) tomam em conta alguns aspectos fundamentais, todos relevantes para trabalharmos com os inventários par- ticipativos. É essencial para nossa reflexão a compreensão de que toda memória é coletiva. A pessoa que lembra o faz de acordo com as referências coletivas que adquiriu em sua vida, especialmente a partir da sua relação com a linguagem falada e depois escrita. O ato de recordar, que se realiza no tempo presente, sempre tomará como ponto de partida algo (um cheiro, um sentimento, uma imagem, uma palavra etc.) que tem seu sentido e significado estruturado coletivamente. Teóricos que exploram esse aspecto da memória (a exemplo de Maurice Halbwachs, 2004) observam que as primeiras memórias das crianças são elaboradas a partir das relações com seus familiares mais próximos. Muitas vezes, a construção des- sa memória é fruto da narrativa que a criança cresceu ouvindo sobre um episódio em particular, a tal ponto que já não se sabe se a lembrança é sua originariamente ou se ela construiu a cena com base naquilo que ouviu. Na prática, a memória de nos- sa infância mais distante sempre estará nessa condição, atrelada a essas narrativas que nós ouvimos alguém elaborar. A memória é necessariamente seleção, então, tem relação direta com recordar e com esquecer. A maior parte das coisas que vivemos não somos capazes de recordar. Sonhos de criança (CECIP/TV Maxambomba) https://www.youtube.com/watch?v=jaK5dVIg3vw Durante 16 anos (1986-2002), a TV Maxambomba conduziu, na Baixada Fluminense, atividades inéditas de TV comunitária, mobilizando os mora- dores para se expressarem e retratarem sua realidade por meio de vídeos produzidos por eles mesmos e exibidos em praças públicas. Assista https://www.youtube.com/watch?v=jaK5dVIg3vw 5 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Para além do resultado imediato de fortalecimento da cidadania e da co- municação comunitária, o acervo audiovisual produzido pela TV Maxam- bomba representa uma preciosidade para o público em geral e pesqui- sadores da história e da cultura da região, neste sentido, desde 2013, o CECIP vem realizando projetos voltados para a preservação e divulgação das memórias da TV. A ideia é preservar não apenas a memória social e cultural da região, mas as transformações no modo de lidar com a TV e o vídeo — suportes, am- bientes concebidos para veiculação, compartilhamento e interação com o público, fomento à vida comunitária e à participação política através de recursos audiovisuais. Em 2014, a iniciativa foi contemplada com o prê- mio Pontos de Memória (IBRAM/MinC). As ações do Ponto de Memória da TV Maxambomba buscam a continuidade da preservação e digitaliza- ção de acervo, ampliação de acesso, formação de público e divulgação. Acesse: http://cecip.org.br/tvmaxambomba/ Quando abrimos os olhos de manhã e iniciamos nossas atividades, nos deparamos com imagens, sons, cheiros, palavras, texturas. Diversas informações chegam aos nossos sentidos e jamais seríamos capazes de recordar de tudo que se passou nessas primeiras horas do dia. O conto Funes, o Memorioso do escritor argentino Jorge Luis Borges, é excelente para pensarmos a memória. Nele, Ireneo Funes foi acometido pela capacidade de recordar absolutamente tudo que havia vivido até ali. Contudo, sua incapacidade de esquecer era problemática, pois o personagem era soterrado pelo excesso de informações: necessitava de um dia inteiro para recordar um dia inteiro. http://cecip.org.br/tvmaxambomba/ 6 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos A fantástica história de Ireneo Funes Ireneo começou por enumerar, em latim e espanhol, os casos de memória prodigiosa registrados pela Naturalis Historia: Ciro, rei dos persas, que sa- bia chamar pelo nome todos os soldados de seus exércitos; Metríadates e Eupator, que administrava a justiça dos 22 idiomas de seu império; Simóni- des, inventor da mnemotecnia; Metrodoro, que professava a arte de repetir com fidelidade o escutado de uma só vez. Com evidente boa fé maravilhou-se de que tais casos maravilharam. Dis- se-me que antes daquela tarde chuvosa em que o azulego o derrubou, ele havia sido o que são todos os cristãos; um cego, um surdo, um tolo, um desmemoriado. (Tratei de recordar-lhe a percepção exata do tempo, a sua memória de nomes próprios; não me fez caso.) Dezenove anos havia vivido como quem sonha: olhava sem ver, ouvia sem ouvir, esquecia-se de tudo, de quase tudo. Ao cair, perdeuo conhecimento; quando o recobrou, o presente era quase intolerável de tão rico e tão nítido, e também as memórias mais antigas e mais triviais. [...] Sabia as formas das nuvens austrais do amanhecer de trinta de abril de 1882 e podia compará-los na lembrança às dobras de um livro em pasta espanhola que só havia olhado uma vez e às linhas da espu- ma que um remo levantou no Rio Negro na véspera da ação de Quebrado. Essas lembranças não eram simples; cada imagem visual estava ligada a sensações musculares, térmicas, etc. Podia reconstruir todos os sonhos, todos os entresonhos. Duas ou três vezes havia reconstruído um dia inteiro, não havia jamais du- vidado, mas cada reconstrução havia requerido um dia inteiro (BORGES, 1979). Acesse o texto completo do conto clicando aqui. Saiba mais http://ead.museus.gov.br/pluginfile.php/3272/mod_scorm/content/2/Funes_o_Memorioso.pdf 7 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Nós, que não temos o poder do personagem fictício do conto, lembramos de aspec tos de nossa vida que nos marcam objetiva e subjetivamente. Selecionamos cenas que desejamos lembrar e, a partir delas, elaboramos uma narrativa em que aquela memória se insere. Deixamos em segundo plano aquilo que desejamos esquecer ou que não importa recordar, em função de muitos motivos, que têm relação inclusive com aquilo que julgamos que somos frente àquilo que desejamos ser. Também há casos em que recordarmos insistentemente, de modo objetivo ou não, algo que em alguma medida gostaríamos de esquecer, algo que se ligue emocionalmente a algum trauma vivido, relacionado a grande emoção. Socialmente, a memória também é muito mais o esquecimento do que a lembrança. Aquilo que é recordado sempre é o resultado de um processo de seleção. A memória coletiva é sempre parcial, por ser comprometida com perspectiva daquelas e daque- les que têm o poder de fazer a seleção em nome dos interesses de um conjunto maior de pessoas. A memória é elaborada a partir de uma determinada perspectiva (mesmo que resulte de um conjunto de pessoas), portanto, nunca exprimirá a totalidade das verdades, pois sendo resultado da seleção, nunca abarcará todos os pontos de vista sobre um determinado assunto. Assim, no momento que elegemos algo como patrimônio, devemos ter clareza e consciência de que deixamos de lado outras escolhas. As memórias são construídas e compartilhadas em função de experiências viven- ciadas no presente daquele grupo que lembra. Isso explica porque os discursos de memória e as narrativas históricas, em determinados contextos sociais, dão ênfase a períodos específicos da história. Certamente, ao iluminar determinados passados, aqueles que detêm esse poder destacam determinadas características do presente. 8 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Assista ao filme “Narradores de Javé” e ob- serve como a elaboração da memória pode ser um importante instrumento de coesão social. Filme Narradores de Javé, Ano de Lançamen- to (Brasil): 2003, Estúdio: Bananeira Filmes / Gullane Filmes / Laterit Productions, Distri- buição: Riofilme, Direção: Eliane Caffé, Rotei- ro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé, Pro- dução: Vânia Catani, Música: DJ Dolores e Orquestra Santa Massa, Fotografia: Hugo Kovensky, Direção de Arte: Carla Caffé, Edição: Daniel Rezende. Assista A memória também é mobilizada e manipulada (não apenas no sentido pejorativo do termo) pelos campos de conhecimento e também pelos diversos agentes que a disputam, a exemplo das mídias; museus e outros agentes do campo cultural; a Educação, o Estado etc. O Estado tem sido, desde a Revolução Francesa, um dos importantes agentes de ela- boração da memória nacional e regional, inclusive por meio dos museus. Este foi o panorama do século XX. Essa capacidade nos dias atuais está em franca negociação com as mídias e, especialmente com os usos das mídias sociais e outras vias de co- municação na web. Com rápidas transformações, é difícil prever quem terá o poder de organizar as me- mórias no futuro imediato, mas é fato que os museus e o patrimônio ainda são agen- tes importantes na afirmação de memórias no espaço público. 9 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Leia a reportagem da BBC News Brasil, publicada em 2 de abril de 2019: “Nazismo é de direita, define Museu do Holocausto visitado por Bolsonaro em Israel” https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47784368 Exemplo Memória é poder. Quem consegue ela- borar uma narrativa de memória e dis- seminála de maneira que um grande número de pessoas reconheça a legi- timidade do que é narrado, mobiliza esse poder social. Esse poder sempre é utilizado quando um grupo domina e submete outro grupo. Vejamos uma evidência disso: no Bra- sil, estudamos no ensino fundamental e médio a história da colonização por- tuguesa, mas pouco estudamos essa história sob a ótica daqueles que so- freram os processos da colonização como vítimas da imposição violenta desse regime de conquista e de exploração do território. Em circunstâncias como estas, as culturas originais são impedidas de falar sua língua, de transmitir e praticar seus conhecimentos e cultuar seus ancestrais. Um povo sem memória perde a capacidade de se pensar historicamente, vive a vida sem se relacionar estruturalmente com aquilo que se passou antes de sua existência e aquilo que se passará depois dela. Controlar a memória de um grupo social pode impedir que os indivíduos desse grupo se identifiquem, se reconheçam enquanto conjunto social e se mobilizem coletiva- mente contrários ao sistema de dominação que vivem. Índios brasileiros escravizados. Foto do século XIX. Imagem de domínio publico (https://commons. wikimedia.org/wiki/File: %C3%8Dndios_ escravizados,_s%C3%A9culo_XIX.jpg) https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47784368 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%8Dndios_escravizados,_s%C3%A9culo_XIX.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%8Dndios_escravizados,_s%C3%A9culo_XIX.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%8Dndios_escravizados,_s%C3%A9culo_XIX.jpg 10 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Cartaz, do acervo do Arquivo Nacional do Brasil, feito em 1888 por uma fábrica de tecidos em que mostra um cidadão branco e um cidadão negro se cumprimentando, com uma flâmula da Bandeira do Império do Brasil, pelo fim da escravidão do Brasil. Imagem de domínio público (https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cartaz_de_188 8_comemorativo_a_Abolição_da_Escravidão_no_Brasil.jpg) A Última Abolição (2018) - Trailer O Brasil tem o vergonhoso título de “último país ocidental a abolir a es- cravidão”, fato que se deu apenas em 1888. O documentário aborda a escravidão no Brasil com especial enfoque no período da abolição, desta- cando os movimentos abolicionistas, seus aliados e inimigos; as ligações da elite política e cultural do país com os movimentos mundiais contra a escravidão; a resistência, revoltas, lutas armadas, quilombos e os líderes da população negra escravizada; culminando com a Lei Áurea e suas con- sequências para a população negra do Brasil. Ao mostrar o protagonismo do povo negro na luta por libertação, o documentário contribuirá para o debate da história brasileira e da formação da nossa cultura, jogando um novo enfoque no tema e fortalecendo o combate ao preconceito racial. Direção e Roteiro: Alice Gomes e Alice Gomes Produção: Gávea Filmes, Esmeralda Produções e Buda Filmes Coprodução: Globo Filmes, Globo News e TV Escola Distribuição: Pipoca & Filmes https://www.youtube.com/watch?v=VOT2r-HKTsw Assista https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cartaz_de_1888_comemorativo_a_Abolição_da_Escravidão_no_Brasil.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cartaz_de_1888_comemorativo_a_Abolição_da_Escravidão_no_Brasil.jpg https://www.youtube.com/watch?v=VOT2r-HKTsw 11 Módulo 3 – O usoda história oral na elaboração dos inventários participativos Assim, o poder da memória é o poder de dominação e o de libertação, pois os grupos que conseguem elaborar e organizar suas memórias (inclusive por meio de seus patrimônios culturais) têm melhores condições para pensar sobre si mesmos, para se compreender dentro de um processo histórico mais amplo e, consequentemente, têm melhores condições para buscar seus direitos sociais e coletivos. A ONG Museu de Favela (MUF) integra moradores das comunidades do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo e desenvolve projetos com o objetivo de transformar o morro em um monumento turístico carioca. O MUF é o primeiro museu territorial de favela do mundo, onde residem mais de 20 mil pessoas. https://www.youtube.com/watch?v=5gvnrQMg_K8 Visite o site: https://www.museudefavela.org/sobre-o-muf/ Assista É importante considerar todos esses aspectos da memória quando iniciamos um processo museológico, quando estamos identificando, criando e reconhecendo patri- mônios e, nessa direção, quando estamos fazendo um inventário participativo. Estas questões sempre estarão presentes. O grupo que escolher os temas a serem tratados no inventário, conforme os patrimô- nios em questão, estará inevitavelmente decidindo a partir de suas opiniões, pers- pectivas e sentimentos do seu presente. Todos estes aspectos também aparecerão no momento em que formos fazer uma entrevista de história oral, pois o depoente vai elaborar a sua narrativa de memória de acordo com suas questões e sentimentos do presente. Vai contar aquilo que viveu, selecionando trechos e momentos. Vai compar- tilhar com as e os entrevistadores as suas verdades parciais. Memória e Narrativa: História Oral As entrevistas de história oral têm sido cada vez mais utilizadas para produzir e re- gistrar informações a respeito de passados que se pretende que sejam conhecidos, referenciados, detalhados, a partir de uma narrativa que constrói uma organização dos fatos. https://www.youtube.com/watch?v=5gvnrQMg_K8 https://www.museudefavela.org/sobre-o-muf/ 12 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Ao longo do século XX, percebeuse a potência de se utilizar os relatos orais como forma de investigar contextos que não estão suficientemente bem representados por outros tipos de fontes, como os documentos escritos. Além disso, quando se está pesquisando um determinado contexto e buscando o máximo de informações e registros sobre determinado tema, as entrevistas auxiliam na compreensão de aspectos que poderiam ser difíceis de entender. Assista o teaser do projeto História Oral do Supremo, com trechos de cada uma das 21 entrevistas realizadas com ministros do STF entre 1988 e 2013: https://www.youtube.com/watch?v=ip98LJKwOA0 Para mais informações acesse o site: https://historiaoraldosupremo.fgv. br/ Assista Um aspecto fundamental a ser considerado é que a história oral criou e cria a opor- tunidade de ouvir e registrar a voz de grupos de pessoas que são recorrentemente vítimas de silenciamento em processos de dominação. Essa dimensão tem dupla importância, tanto pela possibilidade de registrar depoi- mentos de protagonistas de determinados episódios, processos históricos, con- textos socioculturais, quanto pela capacidade de registrar as histórias das pessoas supostamente anônimas que, mesmo não sendo protagonistas (lideranças, mestres etc.), participaram dos processos em questão. Ao revelar aspectos das trajetórias dos indivíduos “supostamente comuns”, criase a possibilidade de analisar as parti- https://www.youtube.com/watch?v=ip98LJKwOA0 https://historiaoraldosupremo.fgv.br/ https://historiaoraldosupremo.fgv.br/ 13 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos cularidades de cada uma das trajetórias e os padrões sóciohistóricos que marcam as vidas que emergem de um mesmo contexto. O Museu da Pessoa é um museu virtual e colaborativo que constituiu um imenso acervo usando a história oral como metodologia. Ao mesmo tempo em que preserva as histórias em sua individualidade, contadas em primei- ra pessoa, o Museu também organiza coleções temáticas que, ao agrupar as histórias em conjuntos, abrem janelas para a compreensão de proces- sos históricos mais amplos. No site da instituição, é possível navegar entre muitas histórias, reunidas sob diversos recortes temáticos. Deixamos um exemplo de recorte temático no link abaixo. http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/colecao/povos-indigenas- -legado-e-resistencia-135874 Confira trecho de entrevista editada do Museu da Pessoa: http://www. museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/o-morro-tambem-foi-feito-de- -jongo-44620/colecao/117532 Saiba mais Assim, outro aspecto muito importante da história oral é que ao reunir histórias de vida, criase um recurso para pensar essas trajetórias em conjunto, comparando as- pectos de sua sociabilidade para compreender as recorrências. Vale também refletirmos que o contato com a história de vida de alguém é um meio potente para despertar o sentimento de empatia, seja com a pessoa em questão ou com o contexto que a pessoa narra. http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/colecao/povos-indigenas-legado-e-resistencia-135874 http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/colecao/povos-indigenas-legado-e-resistencia-135874 http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/o-morro-tambem-foi-feito-de-jongo-44620/colecao/117532 http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/o-morro-tambem-foi-feito-de-jongo-44620/colecao/117532 http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/o-morro-tambem-foi-feito-de-jongo-44620/colecao/117532 14 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Assista ao vídeo “Narrativa histórica e memória oral”, produzido pelo programa da disciplina Conteúdos e Didática da História, do Curso de Pedagogia Unesp/Univesp: Aqui o assunto central é a importância da narrativa, da história oral e de memórias pessoais para a construção da história social. Três exemplos conduzem o programa, mostrando a abrangência e as possibilidades da narrativa histórica e da memória oral: a pesquisadora Marcela Boni e as entrevistas para o mestrado “Mães de jovens em conflito com a lei”; a experiência da historiadora Sonia Maria Freitas na constituição do acervo de memória oral do Museu da Imigração e o arquivo do CPDOC, no Rio de Janeiro. https://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk&feature=youtu.be Assista A história oral é um meio aparentemente simples de buscar informações a respeito de um determinado contexto e período histórico, que depende, inicialmente, apenas da disposição do entrevistado em partilhar a sua verdade com seu interlocutor. Con- forme veremos adiante, a aparente simplicidade esconde aspectos mais complexos que fazem parte da história oral e que se impõem antes e depois da tomada dos de- poimentos. Esta complexidade não deve ser vista como um obstáculo, mas apenas como parte da condição das entrevistas. Diversos campos de conhecimento e seus agentes, que têm lidado com a história oral na prática, têm se empenhado em construir um roteiro de orientações, explicitan- do uma metodologia. Além de nossa própria experiência prática, tomamos por base aqui a metodologia aplicada e organizada pelo Museu da Pessoa, referida e popularizada pelas publi- cações que estão na bibliografia, bem como a prática e a reflexão desenvolvida a partir da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, também nas referências. https://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk&feature=youtu.be 15 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Conheça o Programa de História Oral da Fundação Getúlio Vargas: https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral No contexto da produção intelectual e aca- dêmica, a história oral é compreendida tanto como uma parte teórica, relacionada à His- tória como campo de conhecimento, quanto reconhecida e bastante utilizadacomo uma metodologia de trabalho com as fontes, por diferentes áreas das ciências humanas e so- ciais. Para aqueles que quiserem saber mais a esse respeito, a complexidade deste debate pode ser observada no livro “Usos e Abusos da História Oral”. Acesse o link: https:// editora.fgv.br/produto/ usos-e-abusos-da-histo- ria-oral-1827 Saiba mais História Oral: Metodologia em Etapas As etapas seguintes são indispensáveis para a utilização da metodologia que iremos apresentar: • Pesquisa do contexto • Identificação de entrevistados • Elaboração de roteiro • Contato com entrevistados e agendamento da entrevista • Elaboração de documentação • Realização da entrevista • Transcrição • Arquivamento • Devolutiva para os entrevistados https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral https://editora.fgv.br/produto/usos-e-abusos-da-historia-oral-1827 https://editora.fgv.br/produto/usos-e-abusos-da-historia-oral-1827 https://editora.fgv.br/produto/usos-e-abusos-da-historia-oral-1827 https://editora.fgv.br/produto/usos-e-abusos-da-historia-oral-1827 16 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Vamos observar cada uma destas etapas agora. Pesquisa do contexto Quando queremos entrevistar uma pessoa ou um conjunto de pessoas em razão de experiências que elas viveram, por exemplo, por terem participado na fundação de uma manifestação artística ou por terem atuado em algum movimento de resistência, devemos inicialmente fazer uma pesquisa sobre este contexto. Na pesquisa, focase o acontecimento em si, mas buscase também outras referên- cias que possam favorecer a análise de conjuntura. Se queremos registrar histórias de vida de pescadores tradicionais, é importante com- preender previamente as questões relacio- nadas à ocupação de seu território, nos ní- veis micro e macro, como a valorização ou não da pesca (expressa, por exemplo, pelas políticas públicas) marcou os ciclos dessa cultura no país e na região. Outro exemplo: se quisermos registrar a narrativa de um agente importante na ma- nutenção de uma manifestação artística e cultural, como o Jongo, é fundamental conhecer o contexto histórico em que ori- ginalmente foram desenvolvidas suas refe- rências. Neste caso, será importante refletir sobre o processo de escravização e, mais ainda, sobre os mecanismos de resistência. Exemplo 17 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Um último exemplo: quando as entrevistadas são mulheres de um deter- minado grupo social, é importante que os pesquisadores e entrevistado- res reflitam sobre a condição social das mulheres naquele período e es- paço, para ter a possibilidade de compreender melhor, por exemplo, suas relações com o núcleo familiar, suas relações de trabalho, e as violências presentes nessas relações (física, sexual, moral, patrimonial, psicológica, simbólica), aspectos recorrentes na vida das mulheres. Para uma pesquisa como esta podem ser buscados livros, teses e outros materiais de referência sobre o tema, mas também outras fontes, como jornais e dados estatís- ticos, que podem auxiliar o pesquisador/entrevistador a construir uma visão do seu objeto de investigação. Esta pesquisa poderá ser mais ou menos profunda, de acordo com as condições reais que a equipe, o grupo ou a comunidade tem para trabalhar. A pesquisa prévia possibilitará que o grupo conheça mais sobre o contexto em que a narrativa do entrevistador estará ancorada. Esta etapa é fundamental inclusive para apontar e definir critérios sobre quem serão as pessoas entrevistadas, especialmente quando esse recorte ainda não está muito claro. É sempre importante ter em conta a idade das pessoas que se quer entrevistar, pois isso influencia na decisão das priori- dades, já que é possível que as testemunhas estejam em idade avançada e assim, há esse imperativo do tempo. Identificação de entrevistados Cabe ao conjunto de pessoas que está à frente do inventário participativo decidir co- letivamente quais serão os depoentes prioritários para cada etapa do inventário. De acordo com os objetivos da pesquisa, as entrevistas podem ter perfis variados, com duração e profundidades diferentes. Em termos objetivos, podemos pensálas divididas entre entrevistas temáticas ou de história de vida. 18 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Entrevista de história de vida A entrevista de história de vida é aquela em que o registro da memória da pessoa foca a sua trajetória como um todo. Normalmente, decide-se por registrar a história de vida daquelas pessoas que tiveram protagonismo em seu território, por sua liderança ou por alguma condição específica. Por exemplo, se o inventário participativo tem como objetivo a memória LGBTQ+ e vamos entrevistar uma pessoa transexual, que viveu sua idade adulta nos anos 1960 – 1970, nossa opção será pela história de vida, pois será importante conhecer as imposições, decisões e circunstâncias da vida dessa depoente em toda sua dimensão. Outro exemplo: quando se está pesquisando sobre uma manifestação artístico- cultural e se tem a possibilidade de entrevistar o mestre ou a mestra desse conhecimento, a melhor opção também é a história de vida. Isto porque será importante conhecer os caminhos que levaram àquele conhecimento e também como, ao longo desta trajetória, o entrevistado partilhou sua sabedoria. Confira no link algumas entrevistas realizadas pela FGV: https://cpdoc.fgv.br/ acervo/historiaoral/entrevistas https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral/entrevistas https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral/entrevistas 19 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Entrevista temática As entrevistas temáticas, como o nome sugere, terão como objetivo ouvir a narrativa da pessoa entrevistada a respeito de algum processo do qual ela tenha participado e o objetivo será o registro de suas memórias pontualmente a esse respeito. Em termos objetivos, o depoente será uma espécie de informante sobre algum fato específico, um processo que tenha testemunhado ou participado. Por exem- plo, quando o inventário participativo tem foco em uma festa ou celebração, e se tem a oportunidade de entrevistar a pessoa que organizou ou organiza o evento. Claro que, mesmo nesses casos, a equipe pode optar por fazer entrevistas de his- tória de vida. Mas de qualquer modo, é importante dimensionar bem o trabalho do inventário, de acordo com os objetivos de cada uma das etapas. Isto porque, as entrevistas de história de vida são mais longas, geralmente mais aprofunda- das, gerarão arquivos de vídeo e áudio muito maiores e com transcrições tam- bém maiores. Veja uma entrevista temática de história oral feita pelo Museu da Pessoa: http:// www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/e-deslumbrante-ne-145759 Exemplo de entrevista temática em vídeo: http://www.museudapessoa.net/pt/ conteudo/historia/uma-vida-politica-4451/colecao/97503 Elaboração de roteiro Outro aspecto fundamental para o êxito do processo de história oral – e que decor- re da pesquisa prévia – é a elaboração do roteiro de entrevista. Esta sequência de perguntas deve corresponder bem àquilo que o grupo quer saber do entrevistado, de modo objetivo. As perguntas devem ser formuladas para estimular que o entrevista- do relembre, recorde o seu passado, e para evitar respostas muito objetivas, como “sim” ou “não”. O roteiro normalmente segue uma ordem cronológica, que visa justamente conduzir o depoente pelo caminho de sua memória, auxiliando que ele acesse e reconstrua suas imagens mentais para contar como era sua infância, sua família, casa, bairro, escola etc. http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/e-deslumbrante-ne-145759 http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/e-deslumbrante-ne-145759 https://youtu.be/fx_7eo8uCMc http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/uma-vida-politica-4451/colecao/97503+ http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/uma-vida-politica-4451/colecao/97503+20 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos É útil estruturar o roteiro em núcleos de interesse, a exemplo de: Infância – Família – Escola – Estudos continuados – Trabalho etc. Essa divisão pode favorecer a inti- midade com o roteiro. 1. É importante que as perguntas sejam elaboradas e pensadas de acor- do com o perfil da resposta que se deseja; 2. Devem ser evitadas perguntas longas e que deixem o entrevistado em dúvida sobre o que se quer saber; 3. Também devem ser evitadas perguntas que estimulem o entrevistado a dar sua opinião ou fazer uma releitura objetiva de sua narrativa à luz dos fatos do presente; 4. Mesmo sabendo que a memória estará sempre sendo reelaborada subjetivamente a partir do presente, toda vez que o entrevistado se vol- tar ao tempo atual se distanciará das suas lembranças e exigirá um novo esforço de concentração nessa elaboração do passado. Atenção No momento da entrevista, é importante que o entrevistador mantenha a atenção no depoente e na sua narrativa, e isso implica inclusive evitar ficar desviando o olhar com frequência para o roteiro ou outras direções. Quanto mais naturalmente o entrevistador conseguir conduzir a conversa, interpon do as perguntas de maneira natural, mais fácil será para o entrevistado. O entrevistador deve estimular seu próprio interesse pela narrativa do depoente a tal ponto que consiga, se possível e necessário for, inserir outras perguntas na entrevis- ta, a fim de explorar com mais profundidade o universo que o depoente apresenta. 21 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos O primeiro núcleo de questões deve partir desse ambiente da família, da infância, da casa e das memórias mais remotas do entrevistado. Retomar esse contexto inicial socioeconômico e cultural é fundamental para uma boa capacidade interpretativa da trajetória do indivíduo. Também, nesse primeiro momento, é importante que o entrevistado se sinta à vontade para compartilhar aspectos de sua vida pessoal com o interlocutor. A tendência é que o desconforto inicial passe gradualmente, na medida em que são respondidas as perguntas e que se estabelece uma interlocução dinâmica. Dica Num contexto ideal, o entrevistador teve acesso à pesquisa e com base nela formu- lou o roteiro. Sua compreensão sobre aspectos mais gerais e mais específicos vai influenciar a qualidade do roteiro e os conectivos de memória de que disporá durante a entrevista. Por exemplo, quando se trata de uma trajetória marcada pela atuação política, poderá ser útil associar as perguntas a determinados marcos, vejamos: “E isso foi na época da redemocratização nos anos 1980?” Ou, aspectos mais específicos da história comum daquele território, que ao serem conhecidas pelo entrevistador, facilitarão a comunicação com a(o) entrevistada(o). Vejamos: “E como foi quando vocês conquistaram o direito de permanecer aqui em 1985?” Exemplo É importante registrar as informações básicas sobre o depoente, ditas por ele mes mo, ainda que ele já tenha preenchido uma ficha com seus dados e um documento com a autorização de uso de imagem. Assim, o conteúdo de áudio e de vídeo são autônomos e com as informações básicas completas. Também é fundamental que o depoente parta do seu nome. Dizer seu próprio nome é, nesse contexto, um gesto simbólico que o autoriza enquanto narrador de sua pró- pria história, que diz “eu sou”, “eu me chamo”. 22 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Também a partir dessa pergunta, ao se apresentar, o entrevistador ficará mais à vontade sobre como deve chamar o entrevistado, se pelo nome ou apelido, por exem plo. Além disso, o nome e/ou o apelido podem render uma boa história, que pode ser um excelente primeiro momento de interação da entrevista. Ao longo da entrevista, o pesquisador poderá se dirigir ao entrevistado pelo seu no me, reatando essa conexão de proximidade, por exemplo: “Então, dona Maria, como era a casa em que vocês moravam na infância?” É possível que ao recordar o espaço físico da casa, a depoente acesse as imagens, cheiros e afetos da sua infância. Para descrever, vai se concentrar nas imagens que seu cérebro evoca e esse é também um bom recurso para que concentre sua atenção no passado. Exemplos de perguntas para o roteiro: Infância 1 – Por favor, nos diga seu nome e sua data de nascimento. 2 – Em qual cidade você nasceu? 3 – Como era a casa de sua infância? 4 – Quem morava junto contigo na mesma casa? 5 – Quem era a autoridade em sua casa? 6 – Como é o nome dos seus pais? Eles trabalhavam em quê neste período? (outras perguntas) Exemplo 23 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Escola/Bairro/Amigos 7 – E onde você estudava, era perto de sua casa? Você ia só? 8 – Qual matéria você mais gostava de estudar? 9 – Teve alguma professora ou professor que te marcou nesse período? 10 – E tinha muitos amigos, da escola e no bairro? 11 – Vocês brincavam de quê? (outras perguntas) Trabalho 12 - Quando você começou a trabalhar? 13 – E qual era sua rotina de trabalho? 14 – Como era conciliar o trabalho com os estudos? 15 – Quais eram as dificuldades que vocês enfrentavam nesse momento? (outras perguntas) Conclusão 16 – E hoje como é a sua rotina? 17 – Tem algo que eu não te perguntei que você gostaria de deixar regis- trado? 18 – Como foi para você participar desse inventário, dando sua entrevis- ta? Esta última pergunta pode ser uma excelente oportunidade para registrar as falas de avaliação dos entrevistados sobre essa experiência de prota- gonizar a história coletiva, compartilhar suas memórias e influenciar na narrativa sobre determinados acontecimentos e processos. 24 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Contato com entrevistados e agendamento da entrevista O primeiro contato entre o pesquisador e o entrevistador pode ser um bom momento para explicar bem os objetivos da ocasião e a importância do registro da memória, esclarecendo inclusive que outras pessoas terão acesso àquele conteúdo. Também poderá ser uma excelente ocasião para coletar material, como documentos, fotos ou outros objetos, que poderão ser importantes para o processo de pesquisa em desenvolvimento. Vale lembrar que cada item, documento, foto, deve ser docu- mentado, registrando sua origem, se é original, a data da doação ou empréstimo. No contexto deste contato, deve ser considerado e agendado o local da entrevista. Este é um aspecto importante, pois muitos fatores influenciam essa escolha: con- dição de mobilidade da pessoa entrevistada; acústica e condição de iluminação do local e controle dos eventos que podem interferir na entrevista. A etapa de agendamento deve estar prevista no cronograma do projeto. Na prática, a data do depoimento deverá obedecer prioritariamente a agenda do entrevistado, conjugando com a agenda de todas as demais pessoas envolvidas (um ou dois entrevistadores e idealmente mais uma pessoa responsável pela gravação). Elaboração de documentação Para que a entrevista seja depois arquivada com os dados básicos necessários, é importante que seja preenchida uma ficha contendo: nome do depoente, endereço, email, telefone, data de nascimento, data da entrevista, tipo da entrevista (história de vida, temática), etapa do inventário ou tema do inventário, duração, nome dos entre- vistadores. Também é fundamental que o depoente leia e assine, antes da entrevista, um termo em que autoriza o uso e a divulgação do seu conteúdo. Há diversos modelos de auto- rização de uso de imagens disponíveis nas universidades e centros de pesquisa, que podem inclusive ser consultados na internet. Mais do que uma mera formalidade, esse é o momento no qual quem vai entrevis tar assegurará que o depoente compreendeu que sua entrevista será gravada, transcri ta, utilizada pelo grupo e assistida depoisna íntegra ou em parte por outras pessoas que não estão ali, partilhando aquele instante em que o depoimento foi dado. 25 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos É importante ter em conta que mesmo depois de estar ciente e ter as- sinado a autorização de uso de som e de imagem o depoente pode se arrepender de algo que disse ou mesmo da entrevista como um todo. Em termos éticos, nesse caso, é totalmente aconselhável respeitar a vontade do depoente e suprimir o trecho ou mesmo não utilizar o depoimento, mesmo que isso implique em perda de tempo e de trabalho do grupo. Compreendemos que a vontade do depoente é o critério principal da ética da história oral. Importante Realização da entrevista Local O local da entrevista pode influenciar nos resultados. Se estiver em um ambiente pú- blico, por exemplo, pode ser que o depoente não se sinta plenamente à vontade para compartilhar algo que considera muito pessoal. Também é possível que haja um pou- co mais de trabalho para a captação do áudio e que as memórias se percam nas re- ferências que o entrevistado terá em seu campo visual. Por outro lado, pode ser que o local, mesmo sendo um local público, traga excelentes elementos de memória para o depoente e que o ambiente como um todo componha bem com relação à narrativa que desejamos registrar. É algo a ser avaliado objetivamente pela equipe do inventário. Foco no entrevistado Também é importante que as pessoas que acompanharem a entrevista evitem movi- mentos desnecessários que distraiam o depoente. Idealmente devem buscar manter a atenção à entrevista. Tratase de estabelecer efetivamente uma atitude de comu- nicação com a pessoa que está narrando sua memória, que nesse caso, deve implicar na atenção, no olhar, no silêncio, em um comportamento que exprime o respeito que se tem pela trajetória da outra pessoa. Respeito à narrativa do entrevistado Toda memória exprime alguma parcialidade, portanto, o entrevistador não deve contradizer o entrevistado interpelando ou julgando sua narrativa. Caso queira pre- 26 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos cisar alguma informação, deve buscar formas delicadas de especificar a pergunta. Também deve evitar interromper o entrevistado e se mesmo assim precisar fazêlo, deverá buscar uma pausa na fala e trazer algum outro conectivo de memória que lhe estimule a retomar alguma etapa de sua trajetória. Entrevistador - “Seu Joaquim, mas voltando àquele ano em que o senhor estava trabalhando na fábrica, como vocês organizaram os debates sobre as condições do trabalho?” Exemplo Gravação Havendo possibilidades e as condições ideais, a entrevista deve ser gravada em vídeo e em áudio. A câmera poderá ficar posicionada ao lado de quem está entrevis- tando, com foco no entrevistador. É importante que ambos utilizem microfone para que a gravação do áudio seja a melhor possível, especialmente pensando na possi- bilidade de utilizar o material para produtos audiovisuais. Se for possível, é também reco mendável gravar todo o áudio separadamente com um gravador, assegurando um arquivo separado de áudio com qualidade que poderá ser utilizado imediatamente para a transcrição. É fundamental assegurar a guarda dos originais das gravações, pois esta será a fonte principal da entrevista. As imagens em vídeo possibilitam que depois o conteúdo seja acessado na íntegra da narrativa e da lingua- gem do depoente. É importante lembrar que a linguagem não é expressa apenas em palavras. Durante o depoimento, a pessoa poderá rir, chorar, gesticular, fazer longas pausas em determinados assuntos etc. Tudo isso comporá a sua narrativa. Por isso mesmo é que o vídeo (ou na sua au- sência, o áudio) será considerado a principal fonte primária da entrevista. Atenção 27 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Transcrição A transcrição é uma etapa muito importante do processo de história oral. O texto transcrito é considerado a segunda fonte para acessar o conteúdo da entrevista. A primeira transcrição deve ser o mais literal possível, sem alterar nada do discurso do entrevistado. Deve manter as frases, mesmo que pareçam desordenadas ou in- conclusas, o que é muito comum no discurso oral. Deve também manter as palavras como foram ditas pelo entrevistado, mesmo que haja “erro” de pronúncia ou concor- dância. A transcrição deve buscar registrar as reações do entrevistado, exprimindo suas pausas e emoções. Assim, recomendase que a pessoa responsável pela transcrição insira essas observações ao longo do texto, por exemplo: “Eu vivia numa casa pequena, mas muito alegre... [choro].” “Sim... [gargalhada], a gente fez essa festa acontecer...” Exemplo Esse registro é importante para que quem vier a pesquisar o conteúdo possa ter uma compreensão o mais fiel possível do que foi a entrevista, mesmo sem acessar o con- teúdo audiovisual. A transcrição literal também é uma forma ética de preservar o conteúdo da entrevista. Além disso, o conteúdo transcrito será de grande auxílio para os usos posteriores, facilitando a escrita de textos e a inserção das legendas em futu ros produtos audiovisuais, por exemplo. A transcrição deve conter as informações de referência da entrevista, como data, nome completo da pessoa entrevistada, local da entrevista e nome das pessoas que participaram como entrevistadores/pesquisadores. Mesmo sendo uma segunda fon- te, criada a partir da entrevista, é importante que seja um documento completo, com todas as informações necessárias para que esse conteúdo seja compreendido num futuro, quando, por exemplo, já tiverem se passado muitos anos da realização da en- trevista. 28 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Nossa fala é sempre menos formal que a nossa escrita. É comum que nas transcrições apareçam frases incompletas ou mesmo erros de pro- núncia ou concordância. Ao selecionar um trecho, deve-se cuidar para não expor o depoente através de hábitos de fala que, no texto escrito, fi- carão muito evidentes. Diante da necessidade de utilizar trechos assim, deve-se avaliar se esses supostos erros depreciarão o depoente ou não. Em caso afirmativo, é re- comendável que se faça uma edição no conteúdo, deixando o discurso objetivo e sem erros de concordância. Ainda assim, será fundamental in- dicar (em nota de pé de página ou parênteses, por exemplo) que o trecho corresponde a uma edição da transcrição original. Importante Arquivamento É claro que como todo conteúdo importante que queremos guardar, precisaremos de cuidado e método para tratar o conteúdo proveniente do inventário participativo e da entrevista de história oral propriamente. É fundamental gerar e arquivar cópias (inclusive em papel para a parte de texto). No caso de arquivos digitais, recomendase ao menos uma cópia, com os arquivos renomeados, de acordo com o padrão estabelecido no início dos trabalhos. Além disso, sendo fruto do trabalho participativo, é importante que a guarda do ma- terial assegure boas condições para a sua consulta posterior, pois o grupo se respon- sabilizou por uma determinada memória e, pelo interesse da coletividade, constituiu um acervo público. Devolutiva para os entrevistados Em todo o processo do inventário participativo e isso se reforça no contexto da en- trevista de história oral, é fundamental prever e realizar os retornos para as pessoas que participaram. Uma boa maneira de conjugar isso é com os produtos do próprio inventário. 29 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos As pessoas que participaram diretamente do processo devem ser as primeiras a co- nhecer os produtos, em texto, como pesquisa, em livro, em vídeo ou outros formatos. Claro, todos os créditos de participação devem ser dados. O lançamento e a distribui- ção ou venda dos produtos deve também manter essa dinâmica horizontal e coletiva.Inventário Participativo no Museu de Arqueologia de Itaipu (Niterói, RJ, MAI/Ibram). Em 2018, a equipe do Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI), juntamente com moradores atuantes na comunidade de pescadores tradicionais do Canto da Praia de Itaipu, em Niterói, Rio de Janeiro, fizeram a primeira eta- pa do seu inventário participativo. Alguns dos resultados são apresentados no livro Inventário Participativo de Pessoas e Memórias: Museu de Arqueo- logia de Itaipu (2018). Este é um excelente exemplo, quanto à utilização da história oral no processo de inventariação. Mirela Araujo (museóloga no MAI, articuladora da Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro), uma das agentes do inventário em Itaipu, registrou o se- guinte sobre esta experiência: Por que vocês entrevistaram os moradores da re- gião? Após uma série de atividades e oficinas sobre patri- mônio, território e memória, os próprios participan- tes indicaram que as histórias de vida e memórias locais eram o patrimônio mais urgente de ser regis- trado. Percebemos juntos que havia uma série de informações importantes – sobre fauna, flora, conhecimentos tradicionais, transformações do territó- rio – que somente quem vive ali poderia informar. Saiba mais 30 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Com isso, hoje temos, por exemplo, informações sobre as parteiras e ben- zedeiras, os tipos de pescado de acordo com o período do ano, as festas e comidas tradicionais, as técnicas usadas para construção das casas, enfim, um vasto repertório de informações sobre os habitantes, hábitos e costumes locais. Quais os principais desafios enfrentados para a realização das entrevis- tas? Os desafios foram diferentes em cada etapa do processo. Desde uma mu- dança de compreensão, porque estamos habituados a não nos perceber como agentes da história, e refletir sobre a nossa trajetória de vida é tam- bém ter consciência sobre como nossas ações se refletem na transforma- ção do território comum. Também houve dificuldades operacionais, como organizar as agendas de entrevistas ou armazenar de forma segura e de fácil recuperação os regis- tros realizados. Qual a importância das entrevistas que foram feitas? São vários aspectos. Elas foram importantes para registrar informações que estavam para se perder sobre o território, pela necessidade de ter nar- rativas elaboradas a partir da vivência dos próprios moradores, pelo es- treitamento de laços afetivos entre o Museu e os moradores, pelo registro da voz em primeira pessoa como acervo do Museu, para refletirmos sobre patrimônio e construirmos memórias locais de forma horizontal, coletiva e democrática. Alguma dica para quem ainda não fez entrevistas e vai fazer? Não tenha pressa. O inventário participativo é um instrumento de escuta e de aprendizado coletivo e precisa ser realizado no ritmo das pessoas en- volvidas. As entrevistas são um momento de troca e confiança, por isso é preciso ter sensibilidade, interesse e atenção. Saber ouvir e trabalhar de forma coletiva são, nesse processo, as capaci- dades que mais se precisará desenvolver. 31 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos História Oral: Ética e Generosidade “As pessoas têm que ter consciência, independente da sua condição social, do seu grau de instrução, religião, que o direito de cada um tem que ser respeitado, o espaço. As pessoas têm que entender, que todos têm direito à terra. Isso é um direito incondicional. Deus fez um espaço adequado para todos! As pessoas têm que respeitar o direito do próximo. Essa coisa do rico achar que pobre não pode morar no mesmo bairro que ele, isso é ignorância e egoísmo. Se morrer, ele vai pro mesmo lugar do pobre. As pessoas têm que ter consciência dessa coisa de achar que eu tenho mais direito, porque eu tenho condições. Isso é muito relativo, porque, nessa vida, ele tem o direito de utilizar um bem que ele tem. Um bem que Deus lhe permitiu ter hoje. Então, quando ele morrer, não vai levar nada daquilo. Então, não adianta bater no peito e dizer que eu tenho dinheiro, que sou rico! Morreu, acabou. Então, as pessoas têm que ser mais solidárias, respeitar mais ao próximo, pra termos uma convivência melhor. Por que nesse mundo há tanta tristeza, violência contra os pobres? Não querem servir aqueles que precisam... De repente, hoje ele tem a permissão de usufruir muito… Tem que saber que foi permitido… Tem que ser inteligente… Que essa permissão poderá vir em outros tempos. É um ciclo. Nada acaba. Morreu, não acaba, alguma coisa vai continuar. Temos que pensar em doar mais, ser mais solidário, pra ver se a gente consegue amenizar o sofrimento do mundo.” Emília de Souza Depoimento de Emília de Souza, liderança entre as e os moradores do Horto Flo- restal, no Rio de Janeiro, que lutam por sua permanência neste território, local onde além deles, nasceram e viveram seus pais e avós. A entrevista com Emília e com as demais mulheres do Horto e da Rocinha foram feitas no contexto da pesquisa A Participação das Mulheres na Construção do Território (2018), realizada pela Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, o Museu Sankofa Memória e História da Rocinha e o Museu do Horto. 32 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos O trecho em destaque, transcrição da entrevista de Emília de Souza, nos faz pensar em alguns aspectos importantes que entrelaçam o tema do inventário participativo e história oral. Observase aqui um ponto de vista generoso, um compartilhamento de sabedoria que a entrevistada fornece ao entrevistador. Quem pesquisa e entrevista deve se abrir igualmente à generosidade da escuta, sem incorrer em qualquer juízo à narrativa do seu interlocutor. Mais do que partilhar suas memórias com objetividade, as pessoas ao serem en- trevistadas oferecem sua visão de mundo, suas verdades, motivações, sistemas de crença, sabedorias. Eventualmente compartilham segredos, porque o momento da entrevista também costuma ser um espaço de intimidade. Por isso, um dos princípios fundamentais da história oral é o compromisso com consentimento do depoente. Em termos éticos, é imprescindível respeitar a vontade do depoente de suprimir um trecho ou mesmo não utilizar o depoimento. A vontade do depoente é o critério principal da ética da história oral. Vídeo “Saudade” elaborado a partir do acervo 2011 da iniciativa Ponto de Memória: Memória Oral da Imigração Brasileira na Espanha. https://www.youtube.com/watch?v=-RGm_WZHmTU&t=142s Assista A maneira generosa com que Emília projeta as relações sociais nos faz pensar que a generosidade também é uma boa palavra para exprimir o inventário participativo, em seus métodos e intenções, pois é um dos princípios éticos para o trabalho cole- tivo. O testemunho de Emília de Souza também evidencia a força do depoimento oral, como um modo de colocar em destaque, em primeira pessoa, a voz de pessoas que fa zem a história, apesar de pouco aparecerem na história oficial. https://www.youtube.com/watch?v=-RGm_WZHmTU&t=142s 33 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos A céu aberto | Projeto Memória Rocinha O curta-metragem “A céu aberto: memória e história de favelas” apresenta concepções e práticas da museologia social exercida no Rio de Janeiro. Destaca especialmente a atuação do Museu de Favela (MUF) e do Mu- seu Sankofa Memória e História da Rocinha, a importância e os desafios desses trabalhos. Trata-se de um dos filmes feitos na oficina de vídeo por celular, do projeto Memória Rocinha, uma parceria do IMS Rio com institui- ções locais. Assista, compartilhe e saiba mais em www.memoriarocinha. com.br https://www.youtube.com/watch?v=Qxl4_p6SAUY&list=PLC90FSGUm- LhTopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=12 Memória Rocinha: introdução Depoimentos de moradores da Comunidade da Rocinha e de áreas pró- ximas sobre a história do local e as transformações feitasao redor. O ví- deo faz parte do Memória Rocinha, um projeto desenvolvido pelo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha e o IMS para discutir as trans- formações da paisagem da região e sua relação com a cidade. Veja fotos dessas transformações ocorridas ao longo dos anos: http://goo.gl/d0H- knY https://www.youtube.com/watch?v=sy7e5MP-uxc&list=PLC90FSGUmLh TopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=1 Assista http://www.memoriarocinha.com.br http://www.memoriarocinha.com.br https://www.youtube.com/watch?v=Qxl4_p6SAUY&list=PLC90FSGUmLhTopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=12 https://www.youtube.com/watch?v=Qxl4_p6SAUY&list=PLC90FSGUmLhTopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=12 http://goo.gl/d0HknY http://goo.gl/d0HknY https://www.youtube.com/watch?v=sy7e5MP-uxc&list=PLC90FSGUmLhTopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=1 https://www.youtube.com/watch?v=sy7e5MP-uxc&list=PLC90FSGUmLhTopbPbB8IDxANI8KUG8Cdp&index=1 34 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Sugestão de atividade As pessoas que atuarão como entrevistadores e pesquisadores podem se reunir um dia exclusivamente para que uma delas seja entrevistada pelo grupo. Mais do que simular a experiência, devese buscar mesmo mergulhar na memória de quem está sendo entrevistado. Após a entrevista todos poderão falar das potências e desafios daquela experiência. Será que o grupo conseguirá se concentrar no passado do entrevistado? Boa entrevista! Pergunta Parabéns! Encerramos o módulo 3. Esperamos que este conteúdo lhes auxilie e lhes encoraje às escutas e registros dos depoimentos de história oral, como parte do inventário participativo. 35 Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos Referências ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2004. Araujo, Mirela e Primo, Bárbara (Org.). Inventário Participativo de Pessoas e Memó- rias: Museu de Arqueologia de Itaipu. Rio de Janeiro: Data Coop, 2018. Disponível em;http://www.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2018/08/livro_pem_dupla.pdf Último Acesso em 15/03/2019. BORGES, Jorge Luis. Prosa Completa. Barcelona: Ed. Bruguera, vol. 1, 1979, p. 477 484. FERREIRA, Maria de Moraes; AMADO, Janaína. (Org). Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 2006. GOUVEIA, Inês. REMUSRJ, Museu Sankofa e Museu do Horto: A Participação das Mulheres na Construção do Território. 1. ed. Rio de Janeiro: Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://goo.gl/cVWKSQ. Último Acesso em 15/03/2019. HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. LOPEZ, Immaculada. Memória Social: Uma metodologia que conta histórias de vida e o desenvolvimento local. São Paulo: Museu da Pessoa, Senac, 2008. Memória e Memória Social Memória e Narrativa: História Oral História Oral: Metodologia em Etapas Pesquisa do contexto Identificação de entrevistados Elaboração de roteiro Contato com entrevistados e agendamento da entrevista Elaboração de documentação Realização da entrevista Local Foco no entrevistado Respeito à narrativa do entrevistado Gravação Transcrição Arquivamento Devolutiva para os entrevistados História Oral: Ética e Generosidade Sugestão de atividade Referências
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