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Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos_SEC (1)

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Prévia do material em texto

EAD - NÚCLEO COMUM
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS 
 E DIREITOS HUMANOS 
André Aparecido Carlos
Adeilde Vieira Menegazzo
Silvana A. C. Furlan
http://www.unar.edu.br
 
 
1 
 
APRESENTAÇÃO 
Prezado aluno, 
A discussão em torno do tema raça e etnia é uma dos debates mais 
constantes na sociedade contemporânea. Sobretudo porque esta questão está no 
cerne dos conflitos que o mundo vem atravessando, seja por causa das guerras entre 
os povos, os constantes conflitos étnicos, por exemplo, no oriente médio, seja por 
causa da exclusão social pela qual alguns grupos raciais passam em diversos países; 
aqui no Brasil, negros e índios, nos EUA os latinos dentre outros. Contudo estes 
conceitos precisam ser bem compreendidos antes de adentrarmos nas principais 
pautas de discussão relacionadas a este tema. 
O conceito de raça está intimamente relacionado com o âmbito biológico, 
ou seja, com as diferenças de características físicas que fazem daquele grupo social 
um grupo particular. Pode-se compreender melhor o que se quer dizer, ao se falar 
de raça, quando se atenta para as questões de cor de pele, tipo de cabelo, 
conformação facial e cranial, ancestralidade e genética. O conceito de Etnia está 
relacionado ao âmbito da cultura. Dessa forma os modos de viver, costumes, 
afinidades linguísticas de um determinado povo criam as condições de 
pertencimento naquela determinada etnia. Podem-se compreender melhor as 
questões étnicas a partir dos inúmeros exemplos que enchem a televisão de 
manchetes, como os eternos conflitos entre grupos étnicos no oriente médio que 
vivem em disputa política por territórios ou por questões religiosas. 
Porém estes conceitos não são suficientes para que se possa compreender a 
realidade dos setores sociais que sofrem com estas questões, sobretudo os negros e 
indígenas aqui no Brasil. 
 No que tange à diversidade, nos dias de hoje, não é tão incomum essa 
abordagem, pois vivemos em uma sociedade que busca adequar e valorizar os 
diferentes e as diferenças de todo ser humano. 
 
 
2 
 
Todos têm algo diferente uns dos outros. Alguns são loiros, outros morenos, 
pessoas com estatura baixa, outros com estatura alta. Estes aspectos são vistos sem 
despertar curiosidade ou ainda preconceito. 
Mas, se falarmos em Deficiência Física, já encontramos pessoas com olhares 
preconceituosos, excluindo-os do grupo dos “normalmente aceitos”. 
Ao falar em Diversidade, também nos remetemos à Inclusão. Mas o que 
realmente tem a agregar a Inclusão? É possível encontrarmos escolas que pregam a 
Inclusão, porém “incluem” o diferente junto com o diferente. 
Ai surge à pergunta: Inclusão que Exclui? 
Esta disciplina tem por objetivo agregar a você, caro estudante, uma visão 
ampla sobre tudo o que consideramos por Diversidade, Inclusão e Educação. 
 Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
Ementa: Conceitos de classe, gênero, raça-etnia, geração e cultura. Processos de 
socialização no mundo contemporâneo e na sociedade brasileira. As perspectivas da 
inclusão educacional e cultural. Grupos minoritários e formas de inserção na 
sociedade. Direitos humanos e as facetas da exclusão social. 
 
Objetivo: Conhecer a definição dos conceitos de raça, étnico e etnia; Definir cultura 
em suas diferentes possibilidades de conceituação. Relacionar o conceito de cultura 
com sua função na constituição das identidades contemporâneas; Compreender o 
processo etimológico que deu origem a palavra cultura e como se deu a 
transformação de seus significados durante a história. Perceber os sentidos que a 
ideia de cultura adquiriu e sua relação com as teorias evolucionistas do século XIX, 
que procuravam identificar e estabelecer critérios de classificação para os diferentes 
grupos humanos; Conhecer o determinismo como uma corrente de pensamento 
destinada a pensar as raças humanas, sua origem e evolução, além de compreender 
suas derivações geográfica e biológica; Perceber o processo histórico de 
"estranhamento" entre os povos de diferentes origens étnicas; Analisar exemplos de 
discursos sobre o outro e sua função na constituição das identidades; Compreender 
o surgimento e difusão do conceito de raça durante o século XIX. Analisar as 
implicações dessas teorias sobre a vida das pessoas. Entender os princípios básicos 
de algumas dessas teorias e suas possíveis aplicações sociais; Compreensão de duas 
correntes de pensamento fundamentadas na Biologia, mas que tiveram 
desdobramentos políticos, administrativos e sociais: a eugenia e o darwinismo 
social; Analisar a composição étnica da sociedade brasileira, tendo como referência o 
estudo produzido por Von Martius sobre a contribuição das três grandes raças 
fundadoras na nacionalidade brasileira; Perceber a contribuição econômica e cultural 
para a formação do Brasil contemporâneo; Perceber a mudança de paradigma sobre 
 
 
4 
 
o conceito de raça durante o século XX, com atenção às mudanças científicas que 
colaboraram para essa reorientação sobre os estudos étnico-raciais; Definição do 
sujeito histórico em diferentes momentos, percebendo sua situacionalidade 
enquanto discurso socialmente construído; Refletir sobre as políticas públicas e ações 
sociais atuais destinadas às relações étnico-raciais; Conhecer teoricamente o caminho da 
inclusão, a política de Educação Especial e a perspectiva da Educação Inclusiva e o currículo; 
Conhecer a respeito de como aconteceu a estruturação da escola para que se tornasse um 
ambiente inclusivo e sugestões de trabalho; Apresentar uma cronologia a respeito da 
legislação que garante o direito das pessoas com deficiência; Apresentar conceitos, atitudes e 
práticas que são abordadas na gestão democrática, para a valorização da diversidade no 
contexto educacional; Apresentar alguns grupos minoritários e ações que são realizadas para 
a inclusão e cidadania. 
 
Conteúdo: O que é etnia e conceito de cultura; O evolucionismo cultural; O 
determinismo e a formação do sujeito na modernidade; Concepções não científicas; 
O conceito científico de raça; Darwinismo social e eugenia; A questão racial no Brasil: 
século XIX e as teorias raciais do século XX; Identidade e constituição racial no Brasil; 
Identidades culturais na pós – modernidade; Legislação e políticas públicas para as 
relações étnico-raciais; A inclusão; A escola inclusiva e o professor; As leis sobre 
diversidade; Gestão para a inclusão; Grupos minoritários; Inclusão, exclusão e 
cidadania. 
 
Metodologia: A presente disciplina adotará como metodologia a leitura 
individualizada do conteúdo programático bem como a utilização de ferramentas da 
tecnologia da Educação a Distância, como por exemplo, salas virtuais, fóruns de 
discussão, etc. Estão previstos também encontros presenciais e atividades individuais 
monitoradas para consolidação do conhecimento. 
 
 
 
5 
 
Avaliação: No sistema EAD o processo de ensino e aprendizagem faz com que o 
aluno seja protagonista, ou seja, sujeito ativo no processo. Assim, a avaliação levará 
em conta o processo de desempenho do aluno por meio das atividades oficiais 
desenvolvidas ao longo da disciplina. 
 
Nota: As atividades avaliativas serão desenvolvidas nas modalidades virtuais e 
presenciais, seguindo o calendário universitário da instituição. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
BORGES, E.; MEDEIROS, C. A; D’ADESKY, J. Racismo, Preconceito e intolerância. São 
Paulo: Atual, 2002. 
HAAL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. São Paulo. DP&A, 2006. 
MAIO, M. C.; SANTOS, R. V. (orgs.). Raça, ciência e sociedade. São Paulo: Contexto, 
1998. 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
LEVI-STRAUSS, C. Raça e História. In Antropologia Estrutural II. São Paulo: Saraiva, 
1998. 
MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem. São Paulo: Vozes,1999. 
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
UNIDADE 01 - O QUE É ETNIA E CONCEITO DE CULTURA. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Apresentação dos temas centrais que compõem a disciplina e definição dos 
conceitos de raça, étnico e etnia. Definir cultura em suas diferentes possibilidades de 
conceituação. Relacionar o conceito de cultura com sua função na constituição das 
identidades contemporâneas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Durante muito tempo a humanidade acreditou 
que os tipos físicos humanos representavam raças 
específicas, cada qual trazendo em sua constituição 
alguns códigos, símbolos e significados manifestados 
no corpo. Brancos, negros, amarelos e outras 
denominações representavam não apenas um tipo 
físico classificável e hierarquiza- do, mas, também, 
todo um complexo cultural associado às chamadas "raças". 
Iremos analisar o longo processo histórico de comparação entre os diferentes 
grupos humanos, prática realizada desde a antiguidade, até o processo de 
constituição, no século XIX, da ideia científica de raça baseada em novos preceitos 
biológicos que surgem neste momento, além de suas implicações políticas e sociais. 
 Percorreremos também a constituição das ciências humanas e sociais no 
século XX, como a Antropologia e a Sociologia, para perceber como a humanidade 
passa a ser compreendida a partir de seus indivíduos e grupos sociais. Essa nova 
orientação, na qual surge o conceito de "etnia", culminou nas lutas sociais 
contemporâneas, como o reconhecimento social dos negros e as políticas afirmativas 
de cotas raciais, tema polêmico e ainda contemporâneo, que tem suscitado diversos 
debates. 
http:www.fonaper.com.br/noticias.php?id=198 
 
 
7 
 
 Inicialmente, podemos analisar algumas definições para conceitos que serão 
bastante importantes no decorrer do nosso curso. Essas definições são, 
primeiramente, apenas apontamentos para uma discussão maior, que será 
desenvolvida nas unidades posteriores. Porém, como veremos, constituem um bom 
ponto de partida para a discussão de algumas ideias básicas. 
 A etimologia (ciência que estuda a origem das palavras e seus significados) da 
palavra etnia indica que ela tem origem na palavra grega "éthnos" que significa 
"povo", normalmente utilizada para designar povos estrangeiros, não pertencentes à 
cultura grega. Posteriormente, o latim também incorporou o termo ao seu 
vocabulário, com um significado que remetia a quem não compartilhava da religião 
cristã, ou seja, era associada aos chamados "pagãos". 
 Como vimos, os significados iniciais de etnia estavam quase sempre 
relacionados ao diferente, ao estranho, ao estrangeiro, o que difere substancialmente 
da ideia contemporânea que associa etnia à raça ou à nacionalidade, ou mesmo ao 
que podemos generalizar como sendo "cultura". Mas será que esse significado é 
mesmo tão diferente assim? Será que, quando pensamos em etnias, não pensamos 
em alguém diferente de nós? 
 Acompanhe algumas definições extraídas do dicionário Houaiss que nos 
ajudarão nesta unidade inicial: 
 Raça s. f. – 1. Divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, 
determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor da pele, 
formato da cabeça, tipo de cabelo etc.). Etnologicamente, a noção de raça 
é desconsiderada por se considerar a proximidade cultural de maior 
relevância que o fator racial. 2. Bio conjunto de populações de uma espécie 
que ocupam uma região em particular, e que diferem das populações de 
outras regiões. 3. Conjunto de indivíduos que se diferem. 3. Conjunto de 
indivíduos que se diferem por sua especificidade sociocultural, refletida 
principalmente na língua, religião e costumes. 4. Grupo étnico em relação 
com a nação e a região. 
 Etnia s. f.- Coletividade de indivíduos que se diferencia por sua 
especificidade sociocultural, refletida na língua, religião e maneiras de agir. 
Grupo étnico (para alguns autores, etnia pressupõe uma base biológica, 
podendo ser definida por uma raça, uma cultura ou ambas); o termo é 
evitado por parte da antropologia atual, por não ter recebido conceituação 
precisa. 
 
 
8 
 
 Como já vimos, a ideia de cultura aparece em alguns trechos, como na 
definição de etnia, que seria a composição de um grupo sociocultural específico, ou 
seja, um grupo que compartilha alguns códigos sociais. Isso remete à forma de 
organização de determinadas comunidades - e, também, a características culturais, o 
que implica dizer, como na definição da palavra étnico, que podemos afirmar que 
uma etnia compartilha também uma cultura específica, exemplificada na definição 
pela música e culinária. 
 No entanto, tais afirmações ainda não nos informam satisfatoriamente sobre a 
relação entre a cultura de um povo e sua composição étnica. Assim, cabe perguntar, 
o que é cultura? O sociólogo britânico Raymond Williams se ocupou do conceito de 
cultura em boa parte de sua carreira acadêmica, propondo algumas reflexões que se 
tornaram importantes para o pensamento social contemporâneo. 
Acompanhe o texto: 
 Sobre o Conceito de Cultura I 
No uso mais geral, houve grande desenvolvimento do sentido de "cultura" como cultivo 
ativo da mente. Podemos distinguir uma gama de significados desde (i) um estado mental 
desenvolvido - como em "pessoa de cultura", passando por (ii) os processos desse 
desenvolvimento - como em "interesses culturais", "atividades culturais", até (iii) os meios 
desses processos - como em cultura considerada como "as artes" e "o trabalho intelectual 
do homem". Em nossa época (iii) é o sentido mais comum, embora todos eles sejam usuais. 
Ele coexiste, muitas vezes desconfortavelmente, com o uso antropológico e o amplo uso 
sociológico para indicar "modo de vida global" de determinado povo ou de algum outro 
grupo social. 
WILLIAMS, Raymond Cultura, 2000, p. 11. 
 
Podemos perceber nesta definição algumas ideias que, de uma maneira geral, 
nos vêm à mente quando pensamos no que significa cultura. Primeiro, em alguém 
com cultura, como sinônimo de alguém com muitos conhecimentos, talvez uma 
pessoa sábia, ou mesmo com experiência sobre muitos assuntos considerados 
relevantes. Ainda, relacionada com a primeira impressão, temos as atividades que 
formam essa mesma cultura, como, por exemplo, professores de arte. Por fim, 
Williams enumera uma terceira convenção, que seriam os meios pelos quais as 
 
 
9 
 
pessoas teoricamente adquirem cultura, como, por exemplo, as artes, a literatura, o 
cinema ou qualquer trabalho intelectual. Tudo é e pode ser associado à ideia de 
cultura. Tudo isso é, por vezes, concebido como cultura. 
Porém, podemos destacar, em uma definição menos abrangente (e por isso 
mesmo mais precisa), duas grandes correntes que indicam o que é cultura: 
 Sob r e o C onc e i t o d e Cu l tu r a I I 
A dificuldade do termo é, pois, óbvia, mas pode ser encarada de maneira mais proveitosa 
como resultado de formas precursoras de convergência de interesses. 
Podemos destacar duas formas principais: (a) ênfase no espírito formador de um modo de 
vida global, manifesto por todo o âmbito das atividades sociais, porém mais evidente em 
atividades "especificamente culturais" - uma certa linguagem, estilos de arte, tipos de 
trabalho intelectual; e (b) ênfase em uma ordem social global no seio da qual uma cultura 
específica, quanto a estilos de arte e tipos de trabalho intelectual, é considerada produto 
direto ou indireto de uma ordem primordialmente constituída por outras atividades sociais. 
WILLIAMS, Raymond, Cultura, 2000, p. 11-12. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Os links a seguir contribuem para o conhecimento: 
Raça e Etnia « InfoJovem 
http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v15n3/15.pdf 
O QUE É CULTURA? VIDEO FINAL - YouTube 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.infojovem.org.br/infopedia/tematicas/diversidade/raca-e-etnia/
http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v15n3/15.pdfhttp://www.youtube.com/watch?v=YvYCFE_ELUI
 
 
10 
 
UNIDADE 02 - O EVOLUCIONISMO CULTURAL. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Compreender o processo etimológico que deu origem à palavra cultura e 
como se deu a transformação de seus significados durante a História. Perceber os 
sentidos que a ideia de cultura adquiriu e sua relação com as teorias evolucionistas, 
do século XIX, que procuravam identificar e estabelecer critérios de classificação para 
os diferentes grupos humanos. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Ao lançarmos nosso olhar para a história 
da cultura, iremos observar que a partir do 
século XVIII novos sentidos, para esta palavra, 
agregam em si tantos significados. Cultura, no 
sentido em que a hoje conhecemos, 
provavelmente é uma junção entre os dois 
termos na época recorrentes. O primeiro deles é Kultur, proveniente dos idiomas 
germânicos, que significava a reunião de todos os aspectos espirituais de uma 
determinada comunidade, uma espécie de clima intelectual, uma cultura do mundo. 
Esta é uma concepção bastante típica do romantismo, movimento cultural que teve 
em intelectuais alemães seus principais expoentes. 
O outro termo vem do francês, civilization, que se refere especialmente às conquistas 
materiais de um povo, no sentido de ilustrar o desenvolvimento social de um determinado 
grupo ou comunidade, se eram civilizados ou não. 
Nos anos 70 do século XIX, um antropólogo inglês chamado Edward Tylor 
usou pela primeira vez o termo cultura, com um sentido maior, que incluía os 
significados básicos encontrados nas expressões anteriores. Essa formulação foi a 
origem para o conceito moderno de cultura. Vejamos como Tylor inicia seu famoso 
artigo de 1871. 
http://www.pavablog.com/2012/06/01/livro-
aborda-o-dialogo-criacao-evolucao/ 
 
 
11 
 
A Ciência da Cultura 
Cultura ou civilização, tomada em seu amplo sentido etnográfico, é 
aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, 
costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem 
na condição de membro da sociedade. De um lado, a uniformidade que 
tão amplamente permeia a civilização pode ser atribuída, em grande 
medida, à ação uniforme de causas uniformes; de outro, seus vários graus 
podem ser vistos como estágios de desenvolvimento ou evolução, cada um 
resultando da história prévia e prontos para desempenhar seu próprio 
papel na modelagem da história do futuro. À investigação desses dois 
grandes princípios, em vários departamentos da etnografia, com atenção 
especial à civilização das tribos como relacionada com a civilização das 
nações mais elevadas, está dedicado este livro. 
(TAYLOR, Edward. A ciência da cultura, 1871, In: CASTRO, Celso. 
Evolucionismo cultural, p. 69.) 
 
Esse pequeno trecho contém em si algumas ideias importantes, que merecem 
nossa atenção por alguns instantes. A primeira questão é a associação entre cultura 
e civilização, como se fossem sinônimos, ou seja, é possível perceber inicialmente a 
permanência da ideia francesa de cultura como algo que se adquire, se desenvolve 
e, sobretudo, se manifesta pelo grau de complexidade social de uma comunidade 
humana. Podemos dizer, portanto, segundo essa definição, que cultura é algo 
pertinente a alguns grupos humanos, pois nem todos eles foram ainda civilizados. 
Outro ponto a ser observado trata das duas grandes correntes que o conceito 
de cultura traz consigo. Quando Tylor afirma que "a uniformidade, questão que 
amplamente permeia a civilização pode ser atribuída, em grande medida, à ação 
uniforme de causas uniformes" está querendo dizer que as causas do 
desenvolvimento da cultura (ou civilização) são as mesmas para toda a humanidade. 
Desta forma, existe primeiramente neste discurso a ideia de uma humanidade única, 
com todas as pessoas tendo uma origem comum, e também, neste sentido, um 
destino também comum, que é o de adquirir cultura. Porém, cabe aqui uma questão: 
se todas as pessoas têm a mesma origem e caminham para a mesma direção, por 
que existem grupos humanos menos desenvolvidos do que outros? Que fatores 
contribuíram para que ocorresse uma disparidade no processo de desenvolvimento 
humano? 
 
 
12 
 
 Para responder a essa questão podemos lembrar a outra grande corrente 
implícita no próprio texto de Tylor, quando ele afirma haver "vários graus que 
podem ser vistos como estágios de desenvolvimento ou evolução". Podemos 
dizer que temos uma origem comum, porém alguns grupos humanos se 
desenvolveram mais do que outros. Esse tipo de concepção é o que podemos 
chamar de evolucionismo cultural. 
 O evolucionismo cultural foi uma corrente de pensamento bastante popular 
na segunda metade do século XIX e que tinha como base de suas explicações que a 
diversidade humana, ou seja, o fato de existirem diferentes tipos humanos 
racialmente constituídos, era motivado pela desigualdade nos estágios da evolução. 
Assim sendo, algumas tribos indígenas, por exemplo, estariam vários estágios 
evolutivos atrás do europeu, mas poderiam futuramente chegar ao mesmo grau de 
civilização caso passassem pelos mesmos estágios de aquisição de cultura pelos 
quais o europeu passou. 
 Dentro desses estágios, uma classificação geral foi estabelecida, ordenando os 
grupos humanos em se lvagens (aqueles que não haviam tido contato com a 
civilização), os bá rbaros (que tinham contato com a civilização, mas ainda não a 
haviam adquirido como cultura) e os c i v i l i z ados (normalmente associados ao 
europeu ocidental). 
É importante lembrar que este tipo de pensamento, que contava com a 
confirmação de algumas correntes científicas (como veremos nas próximas 
unidades), foi responsável por uma série de práticas observadas durante o século XIX 
e início do XX, como, por exemplo, a escravização de povos considerados inferiores 
ou o colonialismo e exploração comercial das terras conquistadas, sempre com a 
missão de levar a cultura, o conhecimento e a civilização como forma de 
proporcionar a grupos humanos diferentes à evolução cultural. 
 
 
 
 
13 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Os links abaixo trazem conceitos importantes para seus estudos. 
http://www.pavablog.com/2012/06/01/livro-aborda-o-dialogo-criacao-evolucao/ 
http%3A%2F%2Fodiscursosocial.blogspot.com.br%2F2012%2F05%2Fevolucionismo-cultural-de-lewis-
h.html&h=XAQEuwjTt 
 
Uma boa sugestão para ampliar seus 
conhecimentos no assunto é o filme A Massai 
Branca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.pavablog.com/2012/06/01/livro-aborda-o-dialogo-criacao-evolucao/
 
 
14 
 
UNIDADE 03 - O DETERMINISMO E A FORMAÇÃO DO SUJEITO NA 
MODERNIDADE. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Conhecer o determinismo como uma corrente de pensamento destinada a 
pensar as raças humanas, sua origem e evolução, além de compreender suas 
derivações geográfica e biológica. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Antes de abordarmos os aspectos históricos da 
constituição científica do conceito de raça no século XIX, 
outros dois conceitos fundamentais merecem nossa atenção 
nesta unidade: são eles o determinismo geográfico e o 
determinismo biológico. Antes mesmo de as pessoas serem classificadas e 
identificadas, ou mesmo se identificarem com uma determinada raça, existiram 
teorias que procuravam estabelecer padrões de reconhecimento e, posteriormente, 
classificação, dos diversos grupos humanos. Os chamados "determinismos" talvez 
sejam as mais importantes e influentes dentre elas. 
Determinismo geográfico 
A definição mais objetiva do que seja determinismo geográfico diz que se 
trata de uma teoria que explica as diferenças físicas e culturais entre os seres 
humanos, usando como argumento o seu local de nascimento ou o ambiente físico 
em que vivem. Desta forma, as pessoas que nascem e crescem em um determinado 
ambiente acabariam desenvolvendo aspectos físicos semelhantes, constituindo assim 
uma "raça" únicavinculada ao local de nascimento. Este mesmo local também 
determinaria aspectos culturais das comunidades humanas que pertencessem e 
compartilhassem de um mesmo território. 
 
 
15 
 
Como veremos na unidade seguinte, essa teoria foi bastante comum desde 
que os primeiros povos humanos passaram a observar outros grupos com um olhar 
comparativo, estabelecendo diferenças e semelhanças, obviamente tendo como 
ponto de partida do que seria normal ou correto à sua própria cultura. 
Porém, entre o final do século XIX e o início do XX, algumas correntes da 
geografia (área que neste período começa a ganhar contornos científicos) passaram 
a conceber o espaço como determinante de vários aspectos físicos ou culturais, só 
que desta vez com um fundamento pretensamente científico. Talvez a mais influente 
dessas correntes da geografia tenha sido a geopolítica, que tinha nas relações 
políticas internacionais pautadas pela ideia de "território" como espaço de poder, um 
dos seus principais fundamentos. 
Um exemplo desse tipo de determinismo pode ser encontrado no romance 
Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, que traz em si uma máxima, a de que "o 
sertanejo é, antes de tudo, um forte'' ou seja, por ter nascido no sertão e por 
compartilhar das dificuldades que o meio lhe impõe, a força deste sujeito merece ser 
considerada.” Acompanhe um trecho do livro: 
 
O Sertanejo 
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo 
dos mestiços neurasténicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao 
primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o 
desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É 
desgracioso, desengonçado, torto. Hércules quasímodo, reflete o aspecto, a 
lealdade típica dos fracos. Agrava-o a postura normalmente abatida, num 
manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. 
(...) É o homem permanentemente fatigado". (CUNHA, Euclides da. Os 
Sertões, 2002, p. 47) 
 
Durante o século XX o determinismo geográfico perde espaço, pois as 
considerações meramente geográficas para alguns fenômenos humanos não se 
mostram mais eficientes para explicar tamanha diversidade. Na verdade, chegou-se à 
conclusão de que não é possível que o meio exerça toda a influência fundamental 
para o desenvolvimento humano, que seria neste caso mero receptor do que a 
 
 
16 
 
natureza teria a lhe oferecer. Fato é que em um mesmo território ou ambiente físico, 
diferentes culturas podem surgir e se desenvolver, demonstrando uma relação mais 
complexa entre o ser humano e o meio onde vive. 
O antropólogo americano Felix Keesing traz um exemplo que pode ser 
interessante para ilustrar como o determinismo geográfico perde espaço como 
teoria científica, pois esquimós e lapões compartilham ambientes físicos parecidos, 
mas desenvolveram culturas e meios de adaptação bastante diferentes: 
 
Esquimós e Lapões 
Os esquimós constroem suas casas (iglu) 
cortando blocos de neve e amontoando-os num 
formato de colmeia. Por dentro a casa é forrada 
com peles de animais e com o auxílio do fogo 
conseguem manter o seu interior 
suficientemente quente. É possível, então, 
desvencilhar das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa a 
temperatura situa-se muitos graus abaixo de zero grau centígrado. Quando 
deseja, o esquimó abandona a casa tendo que carregar apenas seus 
pertences e vai construir um novo retiro. 
Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de pele de rena. Quando 
desejam mudar os seus acampamentos, necessitam realizar um árduo 
trabalho que se inicia pelo desmonte, pela retirada do gelo que se 
acumulou sobre as peles, pela secagem das mesmas e o seu transporte 
para o novo sítio. 
Em compensação, os lapões são excelentes criadores de renas, 
enquanto tradicionalmente os esquimós limitavam-se à caça desses 
mamíferos. ( L A R A I A , R o q u e . p . 2 2 a p u d F e l i x K e s s i n g , 
1 9 6 1 ) . 
 
Determinismo biológico 
 O determinismo biológico segue um princípio semelhante ao geográfico, só 
que fundamenta suas explicações em argumentos da biologia. Também são teorias 
bastante antigas, que desde sempre atribuíram a determinadas raças algumas 
capacidades ou habilidades características. Apesar deste tipo de argumento ter 
encontrado fundamentação científica, já há muito tempo (provavelmente desde as 
primeiras décadas do século XX), atribuições raciais vêm sendo questionadas por 
 
 
17 
 
diversas descobertas científicas, especialmente na área da genética e muitas outras 
que envolvem biotecnologia. 
 Porém, alguns resquícios destas teorias baseadas na ideia de raça 
permanecem no nosso imaginário e são responsáveis inclusive por manifestações 
infundadas de preconceito e xenofobia. 
 Por fim, vamos a mais um exemplo desta relação apresentado pelo 
antropólogo Roque Laraia: 
 
O Senso Comum do Dete rm in i smo B io lóg i co 
Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os 
negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são 
avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e 
interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que 
os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades 
por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a 
imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
https://docs.google.com/a/aedu.com/viewer?a=v&q=cache:-
NTous2PfZgJ:www.cefetsp.br/edu/geo/identidade_cultural_posmodernidade.doc+formacao+do+sujeito+na+mo
dernidade&hl=pt- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://docs.google.com/a/aedu.com/viewer?a=v&q=cache:-NTous2PfZgJ:www.cefetsp.br/edu/geo/identidade_cultural_posmodernidade.doc+formacao+do+sujeito+na+modernidade&hl=pt-
https://docs.google.com/a/aedu.com/viewer?a=v&q=cache:-NTous2PfZgJ:www.cefetsp.br/edu/geo/identidade_cultural_posmodernidade.doc+formacao+do+sujeito+na+modernidade&hl=pt-
https://docs.google.com/a/aedu.com/viewer?a=v&q=cache:-NTous2PfZgJ:www.cefetsp.br/edu/geo/identidade_cultural_posmodernidade.doc+formacao+do+sujeito+na+modernidade&hl=pt-
 
 
18 
 
UNIDADE 04 - CONCEPÇÕES NÃO CIENTÍFICAS. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Perceber o processo histórico de "estranhamento" entre os povos de 
diferentes origens étnicas. Analisar exemplos de discursos sobre o outro e sua função 
na constituição das identidades. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Nas unidades anteriores, procuramos 
definir alguns conceitos básicos que 
envolvem as relações étnico-raciais. A partir 
de agora, iniciaremos uma incursão pelo 
universo dos discursos sobre a raça, que 
abordam o diferente, o exótico, enfim, iremos acompanhar a evolução e formação 
das identidades humanas durante a história. Uma das grandes questões que 
envolvem o ser humano é a explicação da sua origem. Apenas recentemente (se 
levarmos em conta o tempo histórico), talvez há menos de 200 anos, temos contato 
com explicações pautadas em critérios científicos universalmente aceitos para a 
origem humana na Terra. 
Tais explicações contrastam com os argumentos até então universalmente 
aceitos, baseados na espiritualidade humana e nos discursos teológicos dela 
decorrentes. Podemos dizer que, durante grande parte da história da humanidade, a 
explicação mais aceita e difundida sobre nossa existência foi que ela era derivada 
dos desígnios de Deus. Assim, se temos uma origem comum, baseada na criação 
divina, o grande dilema antropológico era conceber uma explicação plausível para o 
fato de sermos tão diversos, de termos tantas diferenças culturais, étnico-raciais e 
comportamentais. Antes de a ciência questionar este postulado definitivamente, 
alguns grupos humanos produziam conhecimento sobre outros seres humanos e 
 
 
19 
 
suas comunidades, quase sempreusando o método comparativo nesse processo de 
análise. Dessa forma, temos esboçados os princípios das ciências humanas e sociais, 
constituídas como tal apenas na segunda metade do século XIX. 
 Vamos entender melhor como se dava a comparação entre os grupos 
humanos antes dos critérios científicos serem estabelecidos: 
O Estranhamento 
A descoberta de que os homens eram profundamente diferentes 
entre si sempre levou à criação de uma cartografia de termos e reações. Os 
romanos chamavam de "bárbaro" a todos aqueles que não fossem eles 
próprios, ou seja, toda a humanidade que surgia no frágil continente 
naquele contexto. A cristandade do Ocidente designou de pagão ao 
mundo todo que fugia do universo cristão, como se fosse possível dividir os 
homens a partir de um único critério religioso. 
SCHWARCZ, Lilio At Roço como negociação: sobre teorias raciais em finais 
do século XIX no Brasil. In: FONSECA, Maria Nazareth S. Brasilafro-
brasiteiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p. 14, 
 
 Nesse primeiro quadro podemos perceber que há uma relação parecida com 
a que pudemos observar na unidade 1, quando acompanhamos a definição de etnia. 
O que Lilian Schwarcz chama de "cartografia de termos e reações" é a cultura do 
estranhamento sendo desenvolvida, percebido nos diferentes elementos para a 
construção da própria identidade. Os romanos, por exemplo, apesar do domínio na 
Europa, no Mar Mediterrâneo e no atual Oriente Médio, não conseguiram conquistar 
alguns povos. Entre eles estão os gauleses e os germânicos. São povos que sempre 
despertaram a atenção dos romanos, mais ricos e poderosos, mas que tinham alguns 
de seus costumes incorporados de outros povos. 
Vejamos alguns trechos, em diferentes momentos históricos, de registros 
sobre esta cultura do estranhamento: 
Exemplos de Comparação Étnica 
HERÓDOTO (484-424 a.C) - "Sobre os Licios" 
 
"Eles têm o costume singular pelo qual diferem de todas as outras nações 
do mundo. Tomam o nome da mãe, e não do pai. Pergunte-se a um licio 
quem é, e ele responde dando o seu próprio nome e o de sua mãe, e assim 
por diante, na linha feminina. Além disso, se uma mulher livre desposa um 
homem escravo, seus filhos são cidadãos integrais; mas se um homem 
 
 
20 
 
desposa uma mulher estrangeira, ou vive com uma concubina, embora seja 
ele a primeira pessoa do Estado, os filhos não terão qualquer direito à 
cidadania." 
 
TÁCITO (55-120 d, C) "Sobre os Germanos" 
 
"O casamento na Alemanha é austero, não há aspecto em sua moral que 
mereça maior elogio. São quase únicos, entre os bárbaros, por se 
satisfazerem com uma mulher para cada. As exceções, que são 
extremamente raras, constituem-se de homens que recebem ofertas de 
muitas mulheres devido ao seu posto. Não há questão de paixão sexual. O 
dote é dado pelo marido á mulher, e não por esta àquele". 
 
MARCO POLO (1254 -1324) "Sobre os Tártaros" 
 
"Têm casas circulares, de madeira e cobertas de feltro, que levam consigo 
onde vão, em carroças de quatro rodas... asseguro-lhes que as mulheres 
compram, vendem e fazem tudo o que é necessário para seus maridos e 
casas. Os homens não se têm de preocupar com coisa alguma, exceto a 
caça, a guerra e a falcoaria... Não tem objeções a que se coma a carne de 
cavalos e cães, e se tome leite de égua... Coisa alguma no mundo os faria 
tocar na mulher do outro: têm extrema consciência de que isso é um erro e 
uma desgraça." 
 
JOSÉ DE ANCHIETA (1534-1597) "Sobre os Tupinambás" 
"O terem respeito às filhas dos irmãos é porque lhes chamam filhas e nessa 
conta as têm, e assim neque fornicae as conhecem, porque têm para si que 
o parentesco verdadeiro vem pela parte dos pais, que são agentes; e que 
as mães não são mais que uns sacos, em respeito dos pais, em que se 
criam as crianças, e por causa os filhos dos pais, posto que sejam havidos 
de escravas e contrárias cativas são sempre livres e tão estimados como os 
outros; e os filhos das fêmeas, se são filhos de cativos, os têm por escravos 
e os vendem, e às vezes matam e comem, ainda que sejam seus netos, 
filhos de suas filhas, e por isto também usam das filhas das irmãs sem 
nenhum pejo ad copulam, mas não que haja obrigação e nem o costume 
universal de as terem por mulheres verdadeiras mais que as outras, como 
dito é." (LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 11-13.) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 Aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. 
Link: identidade_cultural_posmodernidade.doc 
 
https://docs.google.com/a/aedu.com/viewer?a=v&q=cache:-NTous2PfZgJ:www.cefetsp.br/edu/geo/identidade_cultural_posmodernidade.doc+formacao+do+sujeito+na+modernidade&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESiAPSkf6oWnWEWaKBdFRJg9z0CN2v_bJug36B0MsWAzEr36LpQIMGwPEbRGazkrQLOmX17Mf6lKfuDhdPGBUTEror1ITHDAvjm9kzsFwHcDDLiwo5mNToqjMhBe0xOi_hrhg41W&sig=AHIEtbStJ9ei3Vj79uxLI1x3qU-aMnET-Q
 
 
21 
 
UNIDADE 05 - O CONCEITO CIENTÍFICO DE RAÇA. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Compreender o surgimento e difusão do conceito de raça durante o século 
XIX. Analisar as implicações dessas teorias sobre a vida das pessoas. Entender os 
princípios básicos de algumas dessas teorias e suas possíveis aplicações sociais. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
As situações de comparação entre os povos apresentados na unidade anterior 
nos proporcionam perceber como, em diferentes momentos históricos, a percepção 
das diferenças foi sempre uma referência para a própria construção das identidades. 
Apesar de termos exemplos desde a Antiguidade Clássica (como os textos de 
Heródoto e Tácito), podemos dizer que as grandes navegações (séculos XV e XVI) 
constituem momentos importantes neste processo de comparação entre as culturas. 
A conquista de novas terras e o contato com outros grupos humanos até 
então desconhecidos, como o caso que originou o Brasil, foi um divisor de águas 
entre a antiga concepção divina (teocêntrica) e a busca de novas explicações, 
especialmente a partir da verificação da grande diversidade humana. 
Entretanto, podemos dizer que foi alguns séculos depois, no período 
conhecido como Iluminismo, que algumas correntes filosóficas passaram a conceber 
o homem como uma unidade, que por sua vez comporia o todo, a humanidade. A 
ideia de individualismo surge nesse momento, compreendendo cada sujeito como 
uma peça da engrenagem social. Essa corrente iluminista contrastava com as 
primeiras teorias científicas baseadas em critérios biológicos, que emergiam no início 
do século XIX. 
A passagem abaixo ilustra como se deu o embate entre estas duas 
concepções: 
 
 
 
22 
 
O Iluminismo e as Primeiras Teorias Raciais 
Delineia-se a partir de então certa reorientação intelectual, uma reação ao Iluminismo em sua 
visão unitária da humanidade. Tratava-se de uma investida contra os pressupostos igualitários das 
revoluções burguesas, cujo novo suporte intelectual concentrava-se na ideia de raça, que em tal 
contexto cada vez mais se aproximava da noção de povo. O discurso racial surgia, dessa maneira, 
como variante do debate sobre cidadania, já que no interior desses novos modelos discorria-se mais 
sobre as determinações do grupo biológico do que sobre o arbítrio do indivíduo entendido como "um 
resultado, uma retificação dos atributos específicos de sua raça" (Francis Galton, Hereditary Genius,1869, 
p. 86). SCHWARCZ, L M. O espetáculo das roças. São Paulo: Ga das Letras, 1993,47. 
 
Temos, portanto, o surgimento de um discurso racial no século XIX, baseado 
nos novos campos da ciência que surgem neste momento, como a genética, que 
estuda a transmissão dos genes. Assim, não mais o sujeito é entendido apenas como 
pertencente a uma única linha evolutiva, da selvageria à civilização, mas suas 
aptidões genéticas passam a ser consideradas, em uma relação que vai cada vez 
mais associar o patrimônio genético das pessoas com sua futura capacidade 
intelectual e comportamento social. 
 Vejamos, ainda, outrotrecho sobre este período de transição: 
 
Monogenismo & Poligenismo 
Duas grandes vertentes aglutinavam os diferentes autores que na 
época enfrentaram o desafio de pensar a origem do homem. De um lado, a 
visão monogenista, dominante até meados do século XIX, congregou a 
maior parte dos pensadores que, conforme as escrituras bíblicas, 
acreditavam que a humanidade era uma. O homem, segundo essa versão, 
teria se originado de uma fonte comum, sendo os diferentes tipos humanos 
apenas um produto "da maior degeneração ou perfeição do Éden". Neste 
tipo de argumentação vinha embutida, por outro lado, a noção de 
virtualidade, pois a origem uniforme garantiria um desenvolvimento (mais 
ou menos) retardado, mas de toda a forma semelhante. Pensava-se na 
humanidade como um gradiente que iria do mais perfeito (mais próximo 
do Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração) sem pressupor, num 
primeiro momento, uma noção única de evolução. 
 Esse mesmo contexto propicia o surgimento de uma interpretação 
divergente. A partir de meados do século XIX, a hipótese poligenista 
transformava-se em uma alternativa plausível, em vista da crescente 
sofisticação das ciências biológicas e, sobretudo diante da contestação ao 
dogma monogenista da Igreja. Partiam esses autores da crença na 
existência de vários centros de criação, que corresponderiam, por sua vez, 
às diferenças raciais observadas. (SCHWARCZ, L Maças, 1993) 
 
 
23 
 
 Estas duas correntes, a monogenista e a poligenista, representam as duas 
grandes tendências do pensamento científico europeu do século XIX. Enquanto o 
monogenismo ainda estava ligado às concepções religiosas que advogavam uma 
origem comum ao ser humano, o poligenismo se atrelava ao avanço científico e 
propunha diferentes núcleos geradores das raças observadas como componentes do 
género humano. Algumas destas ciências se desmembraram em diferentes áreas do 
conhecimento, influenciando decisivamente o universo político e social das décadas 
posteriores. 
 Já o conceito moderno de raça, atualmente em desuso nas ciências humanas 
e sociais, substituído pelo conceito de etnia (mais complexo e abrangente), retoma a 
ideia de uma humanidade única, com uma origem comum. No entanto, 
diferentemente dos períodos anteriores, o que confirma nossa origem comum é a 
própria ciência atual, que ao mapear nosso código genético, identificou 
insignificantes diferenças neste patrimônio, diferenças estas que, por sinal, são 
responsáveis pela coloração da pele, cor dos olhos, cabelos, contornos do rosto, etc. 
Acompanhe uma definição de raça dos anos 60 do século XX: 
 
Sobre o Conceito de Raça. 
 A concepção moderna de raça, fundada sobre os fatos reconhecidos 
e sobre as teorias da hereditariedade, priva de toda a justificação antiga a 
concepção segundo a qual existiriam diferenças fixas e absolutas entre as 
raças humanas e, por conseguinte, uma hierarquia de raças superiores e 
inferiores. Para os sábios atuais, as raças são subdivisões biológicas de uma 
mesma espécie única, a do Homo Sapiens, dentro da qual as características 
hereditárias e toda a espécie ultrapassam de longe as diferenças relativas e 
mínimas que separam as subdivisões. 
 Esta mudança de perspectiva biológica tende a revalorizar a 
concepção de unidade humana que se encontra nas antigas religiões e 
mitologias, e que tinha desaparecido durante o período separatismo 
geográfico, cultural e político, do qual saímos atualmente. (DULL, L. C. Raça 
e biologia. In: Raça e ciência IL São Paulo: Perspectiva, 1960. p. 8) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/368594 
 
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/368594
 
 
24 
 
UNIDADE 06 - DARWINISMO SOCIAL E EUGENIA. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Compreender o fenômeno do Darwinismo social e seus reflexos no século 
XIX. . 
 Nesta unidade analisaremos o Darwinismo social que provocou o avanço da 
industrialização em países subdesenvolvidos, levando uma ideologia capitalista para 
povos tribais, reorganizando-os, para que isso pudesse acontecer, era necessário 
estudos sociais daqueles povos, o investimentos em estudos sociais foi bastante 
significativo para a sociologia que ainda não tinha se consolidado como uma ciência 
da sociedade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A expansão da indústria, resultado das revoluções burguesas e industriais, 
trouxe um amadurecimento do capitalismo e estabeleceu bases industriais de 
produção, todavia com todo esse avanço europeu, um novo problema surge, a 
economia passa por um crescimento do mercado que não obedece ao ritmo de 
implantação da indústria, ocasionando em crises de superprodução. Esse problema 
leva a milhares de falências de pequenas indústrias e negócios, as empresas 
sobreviventes se unem, disputando entre elas o mercado existente e a livre 
concorrência. 
Essas empresas começam a se tornar grandes monopólios associados a 
poderosos bancos, que passam a financiar a produção por meio do capital 
financeiro, gerando dívidas crescentes que só poderiam ser pagas com a expansão 
do mercado e da produção. Ultrapassar os limites da Europa era a única saída para 
garantir a sobrevivência dessas indústrias e os lucros desses bancos. Para evitar 
novas crises, o objetivo era investir na expansão e a conquista de novos mercados 
 
 
25 
 
consumidores. A Europa se volta para a conquista de impérios, tendo como 
principais alvos, a Ásia e a África. 
Nesses continentes, as empresas podiam obter matéria-prima e mão de obra 
a baixíssimos custos. Existiam também pequenos mercados consumidores e grandes 
áreas para construção de industriais e empresas de serviços, porem houve certa 
resistência dos povos em se adequar aos moldes do capitalismo europeu. Essa 
resistência se dava pelo fato de ambos os povos terem costumes diferentes, religiões 
diferentes, modos de se relacionar diferentes. Assim, tornava-se necessário 
organizar, sob novos moldes, as nações que conquistavam, para que possa tornar 
possível a racionalização do trabalho e sua exploração e criar consumidores para 
seus produtos. 
Essa exploração tinha que 
ultrapassar o caráter egoísta das 
grandes empresas para que se ganhem 
prestígios, por isso essas grandes 
empresas assumiram uma imagem 
humanitária que ocultava a ação 
violenta da ação colonizadora e 
transformava em “missão civilizadora”. 
Essa “civilização” que era oferecida, mesmo contra a vontade dos nativos, era para 
elevar essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido. Tal 
argumento baseava-se na ideia inquestionável que a civilização europeia era o auge 
de modernidade e desenvolvimento. 
Essa forma de pensar apoiava-se em modelos teóricos desenvolvidos pelas 
ciências naturais, principalmente pelo modelo teórico desenvolvido pelo cientista 
inglês Charles Darwin (1809 – 1882), que explica a evolução biológica das espécies 
animais. Segundo o biólogo, a seleção natural pressiona as espécies no sentido da 
sua adaptação ao ambiente, obrigando-a a se transformar continuamente com a 
A “partilha do mundo” (1870-1914) (fonte: 
 http://historiacsd.blogspot.com.br/2011/11/i
mperialismo-neocolonialismo-partilha.html) 
 
 
26 
 
finalidade de se aperfeiçoar e garantir a sobrevivência. Vários políticos e cientistas 
leram essa tese e consideraram como uma explicação teleológica das espécies. Tais 
ideias levadas para o âmbito social resultaram no darwinismo social, partindo do 
principio do qual as sociedades se modificam e se desenvolvem de forma 
semelhante, e que as passagens sempre representam a saída de um estágio inferior 
para um superior, sendo a missão dos “superiores” ajudarem os “inferiores” a saírem 
de seu atual estado. 
Os cientistas sociais da época viam os continentes asiáticos e africanos como 
“fosseis vivos”, exemplares do passado primitivo da humanidade. Assim, as 
sociedades menos tecnológicas deveriam evoluir em direção ao nívelmais complexo, 
onde se encontra a sociedade europeia do século XIX. 
 
BUSCANDO O CONHECMENTO 
 A utilização de conceitos das áreas biológicas e naturais para os estudos das 
sociedades trouxeram certas interpretações errôneas no campo social, ocasionando 
ações preconceituosas, frutos de interesses particulares. O caráter cultural é 
brutalmente negando pelas essas primeiras escolas sociológicas. Os princípios 
naturais são aplicados em formas de vidas completamente naturais, sem qualquer 
relação com o artifício, ou seja, mesmo as sociedades mais “primitivas” não podem 
ser julgadas por princípios de evolução natural, pois já existe uma separação com a 
natureza. 
 A complexidade da cultura humana tem 
limitado cada vez mais a seleção natural como 
princípio de compreensão da realidade. A 
adaptação do homem nos mais variados 
ambiente denuncia o grau de relatividade das 
teorias evolutivas. 
A teoria da evolução natural trouxe 
(fonte: 
http://guides.wikinut.com/img/2gxo
r5p1-4s0kktn/Charles-Darwin!) 
http://guides.wikinut.com/img/2gxor5p1-4s0kktn/Charles-Darwin!
http://guides.wikinut.com/img/2gxor5p1-4s0kktn/Charles-Darwin!
 
 
27 
 
fundamentos para teorias sociais, como por exemplo, as evoluções das sociedades. 
No link a seguir, está disponível um artigo dos pesquisadores brasileiros 
André Strauss e Ricardo Waizbort sobre o darwinismo social. No artigo, os 
pesquisadores fazem uma crítica a concepção de darwinismo social de um outro 
pesquisador brasileiro. 
LINK: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010269092008000300009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010269092008000300009
 
 
28 
 
UNIDADE 07 - A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL: SÉCULO XIX E AS TEORIAS 
RACIAIS DO SÉCULO XX. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Analisar a composição étnica da sociedade brasileira, tendo como referência 
o estudo produzido por Von Martius sobre a contribuição das três grandes raças 
fundadoras na nacionalidade brasileira. Perceber a mudança de paradigma sobre o 
conceito de raça durante o século XX. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O Brasil foi privilegiado para várias experiências raciais durante o século XIX. A 
questão racial sempre esteve entre os temas fundamentais no Brasil por conta de sua 
própria constituição. Somos uma nação propensa à miscigenação por causa da 
colonização português, que trouxe consigo outros reinos europeus, da presença 
anterior de diversas nações indígenas, que ocupavam a terra que veio a ser a 
chamada América portuguesa. Assim, mesmo enquanto uma nação racialmente 
misturada, no Brasil colonial pouco se discutia a importância desse fator, pois não 
interessava à administração portuguesa. Entre finais do século XVIII e início do XIX, 
tivemos no Brasil revoltas que eclodiram, entre elas a Inconfidência Mineira, e foram 
as primeiras manifestações da busca por uma identidade própria. 
No início do século XIX, particularmente nos anos 20, tivemos o processo de 
independência brasileiro em relação à metrópole portuguesa. Houve uma tentativa, 
por vários setores da sociedade brasileira, de se pensar uma identidade própria. 
Um exemplo desse processo que marcou a segunda metade do século XIX foi 
a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838. Pensar uma 
história e geografia próprias, sem a influência portuguesa, foi o primeiro desafio do 
Instituto. Em 1845, foi lançado um concurso destinado a premiar a melhor e mais 
original monografia escrita sobre a história do Brasil. O vencedor do concurso foi 
 
 
29 
 
Carl Friedrich Philipp Von Martius, ou Carlos Frederico Von Martius, apresentado 
oficialmente pelo instituto. Von Martius já vivia no Brasil e integrou expedições 
científicas exploradoras no norte, especialmente na Amazônia. Foi responsável por 
identificar e catalogar uma série de plantas da fauna brasileira. Era também um 
interessado na cultura do Brasil, no folclore e manifestações populares e nos seus 
tipos peculiares que compunham nossa gente. 
Trecho de Von Martius chamado "Como se deve escrever a história do Brasil". 
 Nota - se uma visão da "verdadeira" história brasileira para Von Martius. Ao 
invés de fazer uma história cronológica da América Portuguesa desde sua ocupação, 
V. Martius afirmou que a nossa história é a história da contribuição das três grandes 
raças fundadoras da nacionalidade brasileira: o português, o negro e o índio. 
 No trecho selecionado, o português, a quem atribui a descoberta, formação e 
manutenção do "motor" que move a nação brasileira e destaca a contribuição de 
negros e índios para entender nosso passado e o que fomos na época em que 
escreveu. Em sua tese, observa-se que Von Martius restringe a contribuição indígena 
e negra para a identidade brasileira a questões como o idioma, pois o português 
brasileiro já havia incorporado várias palavras destes povos, além da culinária, 
musicalidade e outros aspectos culturais que seriam muito mais adereços da grande 
cultura nacional, esta sim herdada diretamente da influência europeia. 
 A s T r ê s R a ç a s F u n d a d o r a s d a N a c i o n a l i d a d e B r a s i l e i r a 
Cada uma das particularidades físicas e morais, que distinguem as diversas raças, 
oferece a este respeito um motor especial: e tanto maior será a sua influência para o 
desenvolvimento comum, quanto maior for a energia, número e dignidade da sociedade de cada 
uma dessas raças. Disso necessariamente se segue o português que, como descobridor, 
conquistador e senhor, poderosamente influiu naquele desenvolvimento; o português, que deu as 
condições e garantias morais e físicas para um reino independente; que o português se apresenta 
como o mais poderoso e essencial motor. Mas também de certo seria um grande erro para todos os 
principais da historiografia-pragmática, se se desprezassem as forças dos indígenas e dos negros 
importados, forças estas que igualmente concorreram para o desenvolvimento físico, moral e civil 
da totalidade da população. 
 
 
30 
 
 Na transição entre os séculos XIX e XX uma série de políticas governamentais 
que ainda se baseavam em critérios de raça e em ideais eugênicos. Tanto o governo 
imperial, na figura de Dom Pedro II, quanto os governos republicanos, no período 
conhecido como República Velha (1889-1930), incentivaram a imigração europeia 
para o Brasil. Mas havia uma forte corrente eugenista nas administrações públicas 
que via na imigração de europeus a possibilidade de se iniciar uma política de 
"branqueamento" da nação brasileira, evitando a chamada “degeneração racial” que 
a miscigenação traria. Tal política imigratória foi refreada na Era Vargas (1939-45), 
quando o presidente Getúlio Vargas criou medidas protecionistas para preservar 
nossa nacionalidade, sem deixar de lado a necessidade do "branqueamento" 
observado na famosa lei 7967 que reproduzimos (em parte) no quadro abaixo: 
 
Sobre a Imigração e a Constituição Racial Brasileira 
 
Decreto-lei n° 7,967 de 18 de setembro de 1945 
Dispõe sobre a Imigração e Colonização, e dá outras providências. 
O Presidente da República; usando da atribuição que lhe confere o artigo 
180 da Constituição e considerando que se faz necessário, cessada a guerra 
mundial, imprimir à política imigratória do Brasil uma orientação racional e 
definitiva, que atenda à dupla finalidade de proteger os interesses do 
trabalhador nacional e de desenvolver a imigração que for fator de 
progresso para o país, DECRETA: 
Art. 2o - Atender-se-á, na admissão dos imigrantes, à necessidade de 
preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as 
características mais convenientes da sua ascendência europeia, assim como 
a defesa do trabalhador nacional. 
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1945,124° da Independência e 57° da 
República. 
GETÚLIO VARGAS. 
Fonte: http://wwwjusbrasiLcom.br/legislacao/126587/decreto-lei-7967-45Nos anos posteriores à II Guerra Mundial, com os horrores dos campos de 
concentração ainda recentes no imaginário das pessoas, teve início uma onda de 
trabalhos que vieram a questionar a ideia de raça ou mesmo afirmar a sua 
inexistência. Veja as conclusões do professor Guido Barbujani, geneticista da 
Universidade de Ferrara (Itália) e muito importante para a genética humana. 
http://wwwjusbrasilcom.br/legislacao/126587/decreto-lei-7967-45
 
 
31 
 
A Invenção das Raças 
 Em conclusão, pelo final dos anos 60 do século passado, o conceito 
de raça está muito mal definido, e sobre o número de raças cada um dá 
uma opinião. Para essa grande confusão contribuíram não só fatores 
psicológicos, pressões políticas e mitos de identidade nacional, mas, 
também, dificuldades científicas reais. (...) Nenhum grupo humano, seja 
qual for a definição que damos dele, é constituído por pessoas todas iguais, 
e foi descoberto que traçar linhas divisórias ao seu redor é um 
empreendimento problemático ou proibitivo. (...) Esses problemas são 
agravados por uma segunda dificuldade, a saber, o fato de que os 
caracteres morfológicos variam de maneira discordante. Dois caracteres 
muito presentes nos primeiros estudos raciais são a cor da pele e a 
estatura. As regiões em que a pele é mais escura ficam na África Centro-
Ocidental e na Nova Guiné. Isso que dizer que seus habitantes pertencem à 
mesma raça? Seria preciso que eles também se assemelhassem por outros 
caracteres. Mas se passarmos às estaturas veremos que não é assim. 
Usando a estatura como critério de comparação, as populações da África 
central seriam mais facilmente aparentadas com algumas populações 
indígenas da América do Norte e do Sul, que são, porém, de pele clara. 
Existem métodos estatísticos que tentam organizar essas comparações, 
mas, não são de muita utilidade. (BARBUJANI, 2007) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/12708-pensando-e-repensando-a-questao-
racial-no-brasil 
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:8FAuSB9G7esJ:www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/31
p261.pdf+teoria+raciais+do+seculo+xx&hl=pt-BR&gl=br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/12708-pensando-e-repensando-a-questao-racial-no-brasil
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/12708-pensando-e-repensando-a-questao-racial-no-brasil
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:8FAuSB9G7esJ:www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/31p261.pdf+teoria+raciais+do+seculo+xx&hl=pt-BR&gl=br
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:8FAuSB9G7esJ:www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/31p261.pdf+teoria+raciais+do+seculo+xx&hl=pt-BR&gl=br
 
 
32 
 
UNIDADE 08 - IDENTIDADE E CONSTITUIÇÃO RACIAL NO BRASIL. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE. 
Objetivo: A partir do exemplo africano, perceber a contribuição econômica e cultural 
para a formação do Brasil contemporâneo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO. 
Carta dos Ex- Escravos do Engenho Santana ao seu Antigo Senhor-1789 
Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se o 
senhor quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar que 
nós quisermos a saber: 
Em cada semana nos há de dar os dias de sexta feira e de sábado 
para trabalharmos para nós, não tirando um destes dias por causa do dia 
santo. Para podermos viver, nos há de dar rede, tarrafa e canoas. (...) Faça 
uma barca grande para quando for para Bahia nós metermos nossas cargas 
para não pagarmos fretes. (...) Os atuais feitores, não os queremos, faça 
eleição de outros com a nossa aprovação. (...) O canavial de Jabiru o iremos 
aproveitar por esta vez, e depois há de ficar para pasto porque não 
podemos andar tirando canas por entre mangues. Poderemos plantar 
nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso 
peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquer pau 
sem darmos parte disso. 
A estar por todos os artigos acima, (...) estamos prontos para 
servirmos como dantes, porque não queremos seguir os maus costumes 
dos mais Engenhos. Podemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos 
que quisermos sem que nos impeça e nem seja preciso licença. (REIS, João 
José e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. 
São Paulo: Cia das Letras, 1989, p. 123-124.) 
 
Quando falamos em escravidão no Brasil, logo nos remetemos a alguns temas 
que estão associados a este processo, como castigos físicos, violência, maus tratos, 
além das derivações posteriores, como racismo, preconceito e exclusão social. A 
partir de um olhar panorâmico sobre a história do Brasil, contemplando as fontes 
deixadas e especialmente algumas obras produzidas sobre o tema, as características 
acima apontadas realmente fazem sentido. A violência é, sem dúvida, um traço 
marcante do processo de escravidão no Brasil, e negá-la ou relativizá-la não condiz 
com o que é possível extrair da documentação e da significativa historiografia 
disponível. 
 
 
33 
 
Porém, a carta que abre nossa unidade atesta uma relação entre senhores e 
escravos um pouco diferente daquela que povoa nosso imaginário e que recheia 
alguns manuais didáticos de história usados em nossas escolas. Podemos perceber 
um processo de negociação por melhores direitos de trabalho no final do século 
XVIII, época em que o abolicionismo era ainda uma tímida discussão restrita aos 
círculos intelectuais. 
 O Brasil ainda não existia enquanto nação independente, mas tínhamos aqui 
negros escravizados de diferentes regiões da África e que constituíam um corpo de 
resistência ao domínio português e a exploração indiscriminada da mão de obra 
escrava. De uma maneira geral, é possível dizer que temos nessa relação os 
primeiros traços da nossa formação identitária. 
 Nesse processo que nos tornou uma nação e um povo de várias origens 
étnicas, o naturalista alemão Von Martius, que estudamos na unidade anterior, 
chamou a atenção, em seu premiado artigo, para a questão de as línguas africanas e 
indígenas terem influenciado decisivamente para a constituição de uma variante do 
português falado em Portugal, o português brasileiro. 
Alguns linguistas, etnólogos e folcloristas estudam desde essa época essa junção 
linguística, e um bom exemplo podemos encontrar em Câmara Cascudo, quando 
procura desvendar as origens da palavra "banana": 
O Mais Popular Africanismo no Brasil 
Banana é o mais popular dos vocábulos africanos no Brasil. À 
popularidade verbal corresponde o consumo diário. Banana é a fruta 
preferida, indispensável para o paladar brasileiro, inarredável sua presença 
cotidiana na alimentação trivial. Fruta dos ricos e dos pobres, refeição, 
sobremesa, merenda, engana-fome. Todos a conhecem. Sua ausência é 
inconcebível. Ku'xiiâ kueniê mahonjo, na terra deles não há bananas? 
Perguntavam surpresos, os pretos de Luanda, sabendo do cardápio inglês. 
A frase seria tipicamente brasileira, como os indígenas do alto Rio Negro 
perguntavam, em 1850, a Alfred Russell Wallace. 
 Na linguagem vulgar tem significações incontáveis, ápodos, gestos, 
obscenidades. Representa o homem apático, moleirão, despersonalizado. 
Um “banana.” 
 Há realmente um folclore da banana. Possuímos duas de uso secular, 
a brasileira, nativa, participando do passadio ameraba, e a outra, trazida 
pelos portugueses, meados do século XVI. A primeira, Pacova. A segunda, 
 
 
34 
 
Banana. Pacova, pacoba, pac-oba,a folha de enrolar ou que se enrola. 
Nome comum das musáceas. Alteração para pacó: Pará, Amazonas, 
segundo Teodoro Sampaio. 
 Dalziel (1937) crê banana originar-se nos idiomas do oeste africano; 
a bana, plural de e bana, do timé; bana, plural, mbana, do sherbro. Timé 
fala-se no Estado de Samori, Costado Marfim, compreendendo também 
mandingas e bambaras. Sherbro, cherbro, diz-se na ilha do mesmo nome, 
adjacente à Serra Leoa, ambas na África Ocidental. (CASCUDO,L. da C. 
2002, p. 17) 
 
Todavia, como já ressaltamos anteriormente, esta contribuição cultural e 
material não se resume à culinária, música ou idioma. Temos hoje estudos que 
apontam a participação dos africanos escravizados, por exemplo, em alguns setores 
fundamentais para a economia do Brasil, em suas fases colonial e imperial. Talvez o 
exemplo mais importante seja o das Minas Gerais no século XVIII, quando a 
migração para as recém descobertas áreas de mineração gerou a necessidade de 
exploração dessas riquezas, além do incremento na atividade agrícola, encarregada 
de alimentar uma população que cresceu em poucos anos a níveis quase 
insuportáveis para a estrutura colonial do período. A tecnologia de domínio da forja, 
pertencente a algumas comunidades africanas, foi usada como conhecimento 
indispensável para a formação do Brasil que conhecemos hoje. 
Acompanhe o texto: 
As Artes do Ferro e a Economia Brasileira 
A fundição e forja do ferro se constituíram em atividades econômicas 
básicas no interior dessas diferentes sociedades atlânticas, desde bem antes 
do advento da época moderna, no caso das áreas africanas, e desde a fase 
da exploração colonial nas diferentes sociedades americanas. Segundo 
Douglas C. Libby, na passagem do século XVII ao XVIII, “o elemento 
africano foi responsável pela introdução da fundição de ferro no Brasil. Os 
proprietários escravistas mineiros, em especial os donos ou concessionários 
de lavras, por não dominarem completamente as técnicas de fundição de 
ferro, buscavam ferreiros africanos para a execução desse tipo de serviço. 
Os conhecimentos técnicos da metalurgia do ferro, acumulados pelas 
tradições centro-africanas e pelos povos da África Ocidental, eram 
fundamentais para a produção não apenas das ferramentas agrícolas, dos 
utensílios domésticos e dos apetrechos de transporte (tropas e carretos) da 
Minas Colonial, mas, sobretudo, para a elaboração dos instrumentos 
necessários à mineração de jazidas auríferas (principal atividade econômica 
do período na região). (PENO, Eduardo Spiiler. Notas sobre a historiografia 
da arte do ferro nas Áfricas Central e Ocidental). Anais do XVI encontro 
 
 
35 
 
Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SO – UNICAMP. 
Campinas, 2004. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
http://www.espacoacademico.com.br/091/91santos.htm 
http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.espacoacademico.com.br/091/91santos.htm
http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1008
 
 
36 
 
UNIDADE 09 - IDENTIDADES CULTURAIS NA PÓS–MODERNIDADE I E II 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Definição do sujeito histórico em diferentes momentos, percebendo sua 
situacionalidade enquanto discurso socialmente construído. Analisar a fluidez das 
relações étnico-raciais e a composição identitária na pós-modernidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Atualmente, pensar as identidades é preocupante nas ciências humanas, pois 
as antigas identidades, baseadas em critérios históricos e filosóficos associados à 
modernidade, não respondem à necessidade de se pensar o sujeito contemporâneo, 
não mais preso a um Estado com fronteiras geograficamente definidas, um idioma 
único, ou, características físicas individuais que até o início do século XX agrupavam a 
humanidade em uma estrutura hierárquica baseada na ideia de raça. 
O sociólogo britânico, de origem jamaicana, Stuart Hall, um exemplo vivo da 
diáspora cultural, de como na contemporaneidade as identidades são móveis, ou 
como ele ressalta, "deslocadas ou fragmentadas", procura definir a questão da 
identidade a partir de três grandes concepções historicamente constituídas: o sujeito 
do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. 
O primeiro deles, período conhecido como Iluminismo (séculos XVII - XVIII), 
era um sujeito constituído pela ideia de razão e consciência individual. Podemos 
dizer que esta concepção é resultado de um momento histórico anterior, chamado 
Renascimento, quando temos um deslocamento do olhar humano das concepções 
baseadas no teocentrismo, ou seja, na crença em Deus como fonte de todas as 
explicações para as coisas do mundo, para uma concepção antropocêntrica, na qual 
o ser humano passa a ser considerado importante na construção do conhecimento. 
 O segundo trata do sujeito sociológico, momento associado ao período 
posterior à segunda metade do século XIX, quando as teorias sociais ganham espaço 
 
 
37 
 
no pensamento moderno. Nessa concepção, a compreensão do sujeito moderno 
passa pela necessidade de relacioná-lo com a sociedade na qual ele está inserido. 
Assim, a sociedade não é mais apenas a reunião de indivíduos, mas, também, um 
fator fundamental na constituição das identidades. 
 O terceiro sujeito, classificado como pós-moderno, é caracterizado por uma 
confluência de identidades, que não mais fixam uma única condição pré-
estabelecida. O que era estável e único torna-se fragmentado, fazendo o sujeito pós-
moderno portador de várias identidades que dialogam entre si. Como afirma Hall "o 
próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas 
identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático" (2005, 
p. 12). 
 É possível considerar a segunda metade do século XX, período denominado 
como pós-guerra, ou seja, posterior a Segunda Guerra Mundial, como caracterizado 
por algumas inovações na organização social humana e, por conseguinte, na 
concepção de sujeito e em como ele se identifica individual e socialmente. 
 Na Europa, merece destaque a ascensão do chamado estado de bem estar 
social, além da própria revolução tecnológica que aproximou substancialmente as 
pessoas, seus modos de vida, seus costumes e preferências, alterando 
profundamente as concepções de classe, gênero, sexualidade e, certamente, as 
chamadas relações étnico-raciais e suas implicações na ideia de raça e nação. 
 Hall traz à tona um episódio ocorrido em 1991, na gestão do então presidente 
George Bush, o pai, no momento de nomeação dos juízes da suprema corte norte-
americana. O nome indicado foi o de Clarence Thomas, juiz negro e com convicções 
políticas e jurídicas consideradas conservadoras. Para o presidente Bush, a nomeação 
do juiz seria bem recebida pelo eleitorado branco, já que as convicções de Thomas 
eram conservadoras, inclusive em relação a importante questão da igualdade de 
direitos nos Estados Unidos. Já os eleitores negros, apoiariam Thomas pelo fato de 
 
 
38 
 
ele próprio ser um negro, representante da comunidade negra americana na 
suprema corte. Como diz Hall "o presidente estava jogando o jogo das identidades". 
Porém, durante as audiências no senado americano que sucederam a 
indicação, o juiz foi acusado de assédio sexual por uma mulher negra, Anita Hill, uma 
ex-colega de trabalho, o que causou grande polêmica. Alguns negros apoiaram o 
juiz, baseados em argumentos raciais. Outros se opuseram, tendo a questão sexual 
como opinião principal. As mulheres se dividiram, baseadas em qual identidade 
prevalecia, se a racial ou sexual. Enfim, homens e mulheres, negros e brancos, se 
dividiram, baseados em critérios como feminismo, sexismo, machismo ou liberalismo, 
por exemplo. Há, ainda, a questão de classe, tendo em vista que o juiz Thomas era, 
já na época, um magistrado influente e a suposta vítima uma funcionária do 
judiciário americano. 
 
Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é 
interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode 
ser ganhada ou perdida. Ela tornou-se politizada. Esse processo é, às vezes, 
descrito como constituindo uma mudança de uma política de identidade 
(de classe) para uma política da d i f e r e n ç a (HALL, 2005, p. 18-21). 
 
 Essas mudanças são componentes deum fenômeno maior e mais 
abrangente, que acaba por definir estes novos comportamentos sobre a questão da 
formação e transformação das identidades contemporâneas, chamado globalização. 
Acompanhe os quadros abaixo que propõem uma breve reflexão sobre a questão: 
 
O Capitalismo Global e a Ocidentalização 
 
Embora tenha se projetado a si próprio como trans-histórico e 
transnacional, como a força transcendente e universalizadora da 
modernização e da modernidade, o capitalismo global é, na verdade, um 
processo de ocidentalização - a exportação das mercadorias, dos valores, 
das propriedades, das formas de vida ocidentais. Em um processo de 
desencontro cultural desigual, as populações "estrangeiras" têm sido 
compelidas a ser os sujeitos e os subalternos do império ocidental, ao 
mesmo tempo em que, de forma não menos importante, o Ocidente vê-se 
face a face com a cultura "alienígena" e "exótica" de seu "Outro" A 
globalização, à medida que dissolve as barreiras da distância, torna o 
 
 
39 
 
encontro entre o centro colonial e a periferia colonizada imediato e intenso. 
(ROBINS, K. Tradition and translation: national culture in global context, p. 
25.) 
 
O Global, o Local e o Retorno da Etnia. 
 
As identidades nacionais estão sendo "homogeneizadas"? A 
homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles/as que estão 
convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a 
"unidade" das culturas nacionais. Entretanto, como visão do futuro das 
identidades num mundo pós-moderno, este quadro, da forma como é 
colocado, é muito simplista, exagerado e unilateral. Pode-se considerar, no 
mínimo, três qualificações ou contra tendências principais. A primeira (...) da 
observação de que, ao lado da tendência em direção à homogeneização 
global, há também uma fascinação com a diferença e com a 
mercantilização da etnia e da "alteridade". Há, juntamente com o impacto 
"global" um novo interesse pelo "local". A globalização (na forma da 
especialização flexível e da estratégia de criação de "nichos" de mercado), 
na verdade, explora a diferenciação local. Assim, ao invés de pensar no 
global como "substituindo" o local seria mais acurado pensar numa nova 
articulação entre o "global" e o "local". 
Este "local" não deve, ser confundido com velhas identidades, 
firmemente enraizadas em localidades bem delimitadas. Em vez disso, ele 
atua no interior da lógica da globalização. Entretanto, parece improvável 
que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É 
mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas identificações 
"globais" e novas identificações "locais". 
A segunda qualificação relativa ao argumento sobre a 
homogeneização global das identidades é que a globalização é 
desigualmente distribuída ao redor do globo, entre regiões e entre 
diferentes estratos da população d e n t r o das regiões (...). 
O terceiro ponto na crítica da homogeneização cultural é a questão 
de se sa- ber o que é mais afetado por ela. Uma vez que a direção do fluxo 
é desequilibrada, e que continuam a existir relações desiguais de poder 
cultural entre "o Ocidente" e "o Resto" pode parecer que a globalização - 
embora seja, por definição, algo que afeta o globo inteiro - seja 
essencialmente em fenômeno ocidental. (HALL, S. A identidade cultural na 
pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2005, p. 77-79.) 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/hall1.html 
http://www.alucinando.com.br/web30/a-identidade-cultural-na-pos-modernidade/ 
Assista ao vídeo a seguir e complemente seus conhecimentos: 
Racismo: uma criação da modernidade, da mentalidade científica, ateística e revolucionária. - YouTube 
 
 
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/hall1.html
http://www.alucinando.com.br/web30/a-identidade-cultural-na-pos-modernidade/
http://www.youtube.com/watch?v=66lwH6ar6XA
 
 
40 
 
UNIDADE 10 - LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-
RACIAIS. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Refletir sobre as políticas públicas e ações sociais atuais destinadas às 
relações étnico-raciais. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Na sociedade globalizada em que vivemos, na qual as antigas fronteiras 
territoriais não mais estabelecem os limites para a convivência humana, 
compreender o processo de construção e afirmação das múltiplas e mutantes 
identidades dos sujeitos constitui um dos grandes desafios contemporâneos. 
 Vivemos hoje um processo de conscientização sobre a importância da 
compreensão do outro, o que ainda não excluí manifestações de preconceito racial 
ou xenofobia, como as observadas diariamente, por exemplo, nos noticiários do 
cotidiano. 
 Essa conscientização é manifestada em algumas iniciativas de movimentos 
sociais organizados, encarregados de defender os direitos legais das chamadas 
"minorias", ou mesmo em políticas públicas dos diferentes entes governamentais que 
procuram assegurar os direitos fundamentais, entre outros, os de igualdade racial. 
 Uma das mais importantes e polêmicas políticas raciais afirmativas tratam das 
cotas para vestibulares. Iniciativa de alguns governos estaduais, pleiteada 
historicamente pelos movimentos sociais negros, foi regulamentada recentemente 
pelo governo federal, o que abriu o debate para toda a sociedade brasileira. 
Acompanhe abaixo o texto opinativo, retirado de um blog pessoal, que procura 
explorar algumas questões a partir de diferentes pontos de vista: 
 
 
 
 
41 
 
O Que é a Política de Cotas? 
A política de cotas raciais é uma política de ação afirmativa implantada 
originalmente nos Estados Unidos. No Brasil, em vigor desde 2001, ela visa a garantir 
espaço para negros e pardos nas instituições de ensino superior. 
Pesquisas realizadas pela Universidade de Brasília comprovam o déficit de 
renda dos estudantes negros em relação aos demais estudantes. Os dados apontam 
que 57,7% dos candidatos de cor preta possuem renda familiar inferior a 1.500 reais, 
já em relação ao grupo de cor branca esse percentual é bem menor, 30%. A mesma 
disparidade é verificada quando se analisa o percentual de pessoas com renda acima 
de R$ 2,5 mil: 46,6% dos candidatos de cor branca estão nessa categoria, enquanto 
o percentual no grupo de cor preta é de 20,4%. 
Tal política fora adotada pela primeira vez no Estado do Rio de Janeiro, após a 
promulgação da Lei n° 3.708, de 9 de novembro de 2001 que "institui cota de até 
cinquenta porcento para as populações negra e parda no acesso à Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro e à Universidade Estadual do Norte Fluminense" O projeto 
de lei 3.627/2004 contém a proposta para uma eventual lei sobre a política de cotas. 
A Universidade de Brasília foi a primeira instituição de ensino superior pública federal 
a instituir políticas afirmativas para negros no vestibular, com reserva de 20% das 
vagas. 
 
Resu l t ados Negat ivos 
Muitos alunos que são aprovados entram no lugar de outros alunos mais 
capacitados. Porque os que concorrem às vagas do vestibular sem participar das 
cotas enfrentam uma concorrência maior. Na Bahia ocorreu falsificação de 
documentos de alunos que pretendiam provar que estudaram em escola pública. 
Alunos de cor branca e de classe média se declaram pardos para participar das 
cotas. 
 
 
42 
 
Caboclos da amazónia se sentem constrangidos em se declarar negros para 
participarem das cotas. Foi criado inclusive um movimento dos mestiços para 
protestar contra a necessidade de se declarar pardo. 
 
Op in ião Cont ra e Por Quê 
A antropóloga Yvonne Maggie, da UFRJ, propõe, em lugar de cotas raciais, 
cotas de pobreza. Só o fato de ser negro não torna a pessoa incapaz de frequentar 
boas escolas, alimentar-se bem, ter saúde e amparo familiar - que o prepare para 
vencer os exames vestibulares. Há famílias negras de classe média, com bons 
rendimentos, e nível cultural elevado, embora saibamos que o legado da escravidão 
ainda pesa sobre a

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