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CAPTAÇÃO DE RECURSOS ESSA P UBLICA ÇÃO NÃO P ODE S ER COME RCIALI ZADA GRATU ITA 8 M Ó D U LO 3 CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO APRESENTAÇÃO A captação de recursos é conhecida como o “calcanhar de Aquiles” da produção cultural. Isto porque uma das grandes dificuldades dos pro-dutores de cultura no Brasil é conseguir financiamento para execu-tar os seus projetos. Você deve se perguntar: tenho uma ideia, um projeto, sei o que fazer e como fazer a sua execução, mas como viabilizar esse projeto e/ou ação cultural? Nosso fascículo tem por objetivo esclarecer, de forma prática, os princi- pais pontos desse processo. Desde o final da década de 1990, viabilizo vários projetos, atuando di- retamente na sua captação de recursos. É uma experiência muito diversa, desde projetos pequenos, simples, de novos artistas, a projetos complexos, de grandes instituições, com artistas famosos, passando pelas ações com im- pacto social e pela responsabilidade de montar e gerir setores de mobiliza- ção de recursos para organizações com e sem fins lucrativos. Pude também vivenciar a experiência “do outro lado da mesa”, como ges- tora de patrocínios de grandes empresas privadas e consultora nesta área de Investimento Social Privado (ISP) para diversas corporações. Em 2014, criei um curso de formação para a captação de recursos, após perceber a crescente demanda do mercado e, paradoxalmente, a escas- sez de profissionais preparados para lidar com o assunto, que é altamente interdisciplinar e exige muito mais que relacionamentos e sorte, embora você vá precisar disso também. Vamos falar sobre tudo isso ao longo desse fascículo e, ao final, espera- mos que você possa ter compreendido os caminhos e passos necessários para conquistar o êxito de suas ações. Fique atento! 114 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 1 115 CAPTAÇÃO DE RECURSOS A LÓGICA DOS PATROCÍNIOS 2 O primeiro entendimento ne-cessário e fundamental é a compreensão da lógica dos patrocínios. É preciso entender que captar recur- sos é ir além do investimento privado de empresas. Para isso é preciso diver- sificar as fontes de recursos, buscando diferentes tipos de investimentos para promover a sustentabilidade da sua ação cultural. Kay Sprinkel Grace, uma grande es- pecialista em filantropia, nos diz que “as pessoas não doam porque você tem necessidades. Elas doam porque você atende as necessidades delas”. Vamos analisar isso? Perceba que as pessoas físicas ain- da tendem a investir (fazer doações, por exemplo) em causas que elas acreditam: como combate à fome, ao câncer, à vio- lência etc. As empresas, por outro lado, são organismos complexos, plurais e que objetivam produzir um determinado bem ou serviço com finalidade de lucro, por- tanto, por mais que algumas delas, a mi- noria, possam estar hoje comprometidas com a cultura como causa, elas o fazem como uma “via de mão dupla”. Aliás, é bom que não se esqueça: patrocínio é sempre moeda de troca! A grande maioria das empresas inves- tem em projetos culturais porque visua- lizam neles oportunidades de retorno que atendam a seus interesses diretos: benefícios para o seu negócio, a sua mar- ca, a sua imagem etc. Já podemos compreender que nem todo projeto tem perfil para buscar a captação de recursos com empresas privadas, pois nem todo projeto, mesmo que seja um bom projeto, atende a essa lógica mercadológica. Acredite: existe uma infinidade de proje- tos extremamente relevantes para a cultura brasileira, porém desinteressante para o in- vestimento empresarial, pois mesmo que tenha possibilidade de incentivo fiscal, isso não é suficiente para que determinada em- presa decida investir na sua ação. Some-se a isso, o fato de existir uma enorme concor- rência que também precisa ser considerada pelo produtor. Outras propostas de patro- cínio que também oferecerão o mesmo be- nefício fiscal, mas terão, além disso, con- trapartidas mais interessantes para esse patrocinador. Esse é o ponto essencial da lógica empresarial de patrocínios. Aliás, cabe agora esclarecer que não são só projetos com incentivos fiscais que recebem investimentos privados. É pos- sível captar a chamada “verba direta”, PARA REFLETIR No fascículo anterior, foram destacadas diferentes fontes de financiamento! Você já percebeu que sempre que se fala sobre a captação, a palavra “recurso” aparece no plural? Sim, captação de RE-CUR-SOS! Isso porque é preciso que os recursos sejam diversos, oriundos de diferentes fontes. SAIBA MAIS Alguns e estados e/ ou municípios têm fundos de incentivo à cultura. Nesses casos, são lançados periodicamente editais de seleção de projetos culturais abertos para diversas linguagens artísticas e produtores culturais. Os proponentes contemplados nesses editais recebem os recursos destinados diretamente por meio de conta específica aberta exclusivamente para essa finalidade. Como veem, esse processo permite a inscrição direta pelo próprio artista e/ou proponente.. 116 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Contrapartida (ou reciprocidade) É o que se oferece em troca do investimento/ patrocínio recebido. O patrocinador disponibiliza recursos financeiros, produtos ou serviços específicos para a execução de seu projeto, e o quê o seu projeto oferece como retorno para ele? As contrapartidas! aquela sem uso de benefício fiscal. Nesse caso, as contempladas são justamente as ações mais alinhadas ao perfil da em- presa (missão, visão, objetivos), aquelas que possuem valores em comum com os da organização patrocinadora, que falam muito diretamente aos seus públicos de interesse e/ou geram grande visibilidade e impacto para a marca ou para o con- sumo de seus produtos/serviços. Neste caso, o vínculo do projeto com os te- mas de interesse da empresa precisa ser ainda mais forte e evidente, com seus impactos socioambientais ou mes- mo com as suas performances comerciais e seu planejamento de marketing. Por isso é que muitas vezes se diz que é mais difícil (não impossível) captar recursos por meio de verba direta para a cultu- ra, porque são raros os projetos de cunho realmente cultural que consigam atender interesses tão específicos e comerciais. Uma grande crítica ao incentivo fiscal é justamente a questão da adequação mer- cadológica, pois nem toda demanda do se- tor cultural consegue ser atendida. Mas vale notar que esse não é um problema do meca- nismo em si, o que faltam são as outras polí- ticas públicas que deveriam ter a função de estimular a produção e o consumo cultural, fomentar e difundir a cultura, proteger nossa memória e patrimônio, promover tudo isso de forma igualitária para todas as regiões do país e apoiar iniciativas inovadoras, confe- rindo equilíbrio aos investimentos no setor. Embora este debate seja pertinente e importante, uma discussão premente em nossa sociedade, o objetivo aqui é outro e o tema de mais políticas públicas para a cultura, apesar de urgente e necessário, fi- cará para outra ocasião. Sugerimos, contu- do, que fique atento e acompanhe as políti- cas culturais de seu município e/ou estado. Participe e exija! Voltando à captação de recursos com empresas privadas, é importante conside- rar os incentivos fiscais como uma con- trapartida importante e eficiente, pois ajudam a atrair investidores, porém não funcionam por si só como único motiva- dor para efetivar um patrocínio. Agora que você está entendendo a lógica empre- sarial de patrocínios, avalie se o seu projeto atende a essa lógica e elabore um mix de contrapartidas atraentes e identificadas com aquele investidor. Como funciona? O assunto é complexo e varia bastante de um segmento artístico para outro, mas é possível dizer que, para captar com empresas privadas, é preciso: • Ter um bom projeto: claro, sucinto, bem redigido (um revisor é sempre bem- -vindo)e com design atrativo, profissio- nal e com um orçamento justo (preços praticados no mercado); • Contar com uma equipe experiente que traga credibilidade e, consequente- mente, segurança ao investidor (uso de portfólio e bons currículos); • Conhecer bem o perfil de público do seu produto (serviço/bem) cultural e ex- plicitar isso no projeto (fundamental para que a empresa entenda que esse público é o mesmo de seu interesse, muitas ve- zes potenciais consumidores do produto dessa empresa patrocinadora); • Ter um plano de comunicação bem feito e adequado a este público estratégico (uma consulta profissional se faz necessária); • Prever contrapartidas diversas: as re- ciprocidades para o patrocinador preci- sam ser pensadas não só no que se refere às oportunidades de visibilidade que ele poderá ter associando sua marca ao pro- jeto (nesse campo é preciso inovar, pois a maioria das propostas oferece um lugar comum de inserção de logomarca em peças de divulgação e é possível oferecer muito mais do que isso, como conteúdo do projeto pensado para redes e publicidades da empresa, entre outros). Logo mais deta- lharemos as opções de contrapartidas pos- síveis para tornar seu projeto atraente. Pesquisa Cultivo Valorização e agradecimento Avaliação Negociação Planejamento 117 CAPTAÇÃO DE RECURSOS ORGANIZANDO A CAPTAÇÃO: TENHA UM PLANO! 3 C aptação de recursos é um pro-cesso cíclico que precisa gerar resultados (o que geralmente acontece a médio prazo). Não existe “carta na manga”! Por mais experiente e bem relacionado que um(a) captador(a) seja, os inves- timentos não caem do céu. Cada vez mais as decisões de patrocínio das empresas são definidas em grupo, por comitês de seleção, e não apenas por uma pessoa. Então, não basta ter o relacionamento. Ele é útil para que você consiga chegar a apresentar e defender o seu projeto, mas para vencer a concorrência é preciso aten- der a diversos requisitos que serão descritos ao longo deste fascículo e dentro da lógica já explicada. Importante: todo captador precisa planejar bem o desenvolvimento do seu trabalho, ou seja, saber como mobiliza- rá recursos para o seu projeto. Primeiro, deve fazer um plano específico para cada projeto, sabido que as especificidades de cada ação cultural podem demandar estratégias diferentes. Captadores precisam gostar de gen- te e de pesquisa! De pessoas, porque é necessário lidar com elas o tempo todo ao longo desse processo, fazer a interface entre proponente/realizador (ou mesmo pertencendo a uma instituição, o respon- sável pela captação terá que lidar com os executores e o pessoal “da linha de fren- te” da produção) e investidor, lembran- do que cada um buscará o atendimento de seus interesses e caberá ao captador a mediação dessa relação para garantir a satisfação de todas as partes. Mais do que isso, antes mesmo de efe- tivar uma captação, será necessário bus- car contatos, criar relacionamentos, falar com pessoas, o tempo todo, seja pessoalmente ou por telefone, e-mails e outros possíveis canais. Precisa gostar de pesquisa porque essa é uma tarefa diária de quem preci- sa conseguir investimento: afinal, quem são as empresas mais ativas e relevantes 118 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste do mercado? Quem está obtendo recur- sos e porquê? Quais técnicas está utili- zando? Quem são as organizações que es- tão lucrando? Quem está investindo em publicidade? Que discursos estão sendo utilizados? Quais são as questões do mo- mento que podem atrair financiadores? Que empresas estão lucrando? Quais estão usando que incentivos fiscais? “É preciso estar atento”, já dizia a música de Caetano Veloso. Há um tempo de cultivo: as sementes são plantadas, ou seja, o projeto começa a ser distribuído de acordo com as estraté- gias traçadas no planejamento e para os potenciais investidores identificados na sua pesquisa. Mas não paramos por aqui: é preciso “regar as sementes”, ou seja, in- vestir nas relações, nos contatos, alimen- tar essas conversas. Depois vem a fase da negociação, porque flexibilidade (e uma boa dose de paciência e otimismo) é uma palavra- -chave para o(a) captador(a). Você está com seu projeto pronto, tudo devidamente ajustado e, mesmo assim, ainda que seu projeto consiga atrair o interesse de um investidor, para se alinhar aos interesses dele, é muito provável que seja necessário (1) adaptar contrapartidas, (2) ajustar proposta de valores, (3) alinhar públicos e estratégias de comunicação, (4) alterar localidades e (5) datas de realização. E aí nós lhe dizemos que a essência do seu projeto cultural jamais deve ser modificada em função de um interesse comercial, para que se mantenha como uma ação legitimamente cultural. Contu- do, ser flexível em algumas questões que não desvirtuem os objetivos de seu proje- to, ou seja ter a capacidade de flexibiliza- ção e de negociação, será determinante para a conquista de recursos. Um projeto bem-sucedido é aquele que tem seu valor reconhecido por todos os seus públicos de interesse, portanto, é preciso valorizar e agradecer aos patroci- nadores, apoiadores, parceiros, público e as equipes técnicas, executivas e artísticas. Essa é uma etapa do processo de captação fundamental para a fidelização de inves- tidores, bem como para a obtenção de no- vos futuros patrocinadores. A reputação positiva de um projeto é um facilitador para novas conquistas. Ao final do processo, é necessário avaliar a própria captação: o que deu certo? Quais estratégias funcionaram? Quais foram as maiores dificuldades? O que se pode apren- der e apreender com as negativas? Use es- sas informações para melhorar o planeja- mento da captação para a próxima edição ou ano de realização de sua ação cultural. É claro que depois de ler sobre todo esse processo você deve estar se perguntando: se tudo depende da etapa de planejamen- to, então como desenvolver um bom pla- no de captação? Vamos lá! Depois de ter elaborado o seu projeto e o orçamento, (1) faça um diagnóstico dos investimentos no setor em que você atua. Por exemplo, pesquise quem costu- ma financiar projetos com o mesmo perfil do seu; quais os prováveis patrocinadores no perfil de público do seu projeto e nas localidades de realização da sua propos- ta, entre outras observações com foco em identificar potenciais investidores. (2) Defina qual a sua meta de valo- res para cada projeto e para o ano da instituição, se for o caso. Faça uma aná- lise SWOT ou matriz FOFA (que você já aprendeu em fascículos anteriores) e PARA REFLETIR Sobre a negociação Captar não é pedir. Evite usar as palavras “pedir” e “solicitar”. Se a lógica aqui explicada nos diz que captação é troca, então quando você aborda um potencial investidor, na verdade, você está apresentando para ele uma oferta, uma oportunidade ou mesmo uma solução. O investidor não está fazendo nenhum favor a você, ao artista ou à instituição. É negócio! Assim, levante a cabeça e jamais, captador(a), use uma postura de “pedinte”! Efemérides Datas comemorativas, marcantes, como centenários de nascimento ou de morte, entre outros. Prospects É o potencial investidor (jargão comercial). É o contato pronto para ser abordado para a venda. O marketing de vendas define prospect como pessoas ou empresas que você acredita que possam se transformar em clientes e com quem você está se relacionando para determinar isso. PROJETO EMPRESA (PROSPECT) V I C TOTAL XPTO Mineradora J 5 3 3 11 XPTO Banco YZ 1 5 4 10 XPTO Saneamento S 2 3 4 9 XPTO Montadora K 2 2 2 6 XPTO Seguradora W 3 2 1 6 119 CAPTAÇÃO DE RECURSOS traga os pontos fortes para o seu material de ven- da (lâmina, flyer, folder) e para o seu discurso, como argumento. Tenha respostas e “planos B” bem pen- sados para as fraquezas e ameaças que poderão ser questionadas ao longo de suas prospecções e pro- cure identificar as oportunidades paraa captação, “ganchos” para as vendas (as efemérides ou políti- cas públicas, por exemplo). (3) Depois de definir quais fontes de recursos mais se adequam ao seu projeto e se utilizará ou não incen- tivos fiscais, aí então já será possível (4) definir quais os prospects mais adequados à sua proposta, consi- derando potencial de investimento, localidade, prazo, segmentos de negócio e artístico, público, alinhamen- to de comunicação, histórico de patrocínios. (5) Desenvolva então um plano de ação para cada fonte de recurso definida e faça sua lista de prospects para cada uma, utilizando a Pesquisa VIC para estabe- lecer prioridades de contato. Para finalizar o planejamento de sua captação, (6) considere os recursos necessários para o seu de- senvolvimento: humanos e financeiros, (7) defina um cronograma para o plano de ação e considere ter apoio de comunicação e assessoria de imprensa. SAIBA MAIS Como fazer a Pesquisa VIC: Vínculo, Interesse e Capacidade. Liste todos os potenciais investidores com quem quer falar e crie colunas ao lado de cada nome com essas três nomenclaturas (Vínculo, Interesse e Capacidade). Pontue de 0 a 5 cada um deles, de acordo com o grau de cada um, sendo 0 = nenhum e 5= muito. Vínculo é quando já existe uma relação efetiva entre o projeto, a instituição, o artista ou mesmo o captador e o prospect. Se você já foi patrocinado por aquele potencial investidor, coloque 5 nesta coluna. Se você nunca falou com ninguém, sequer tem um contato e vai ter que correr atrás disso, coloque 0. Interesse é quando aquele potencial patrocinador já investiu em projetos parecidos com o seu, ou que demonstra interesse pelo segmento artístico que você trabalha, e se é um tradicional investidor da área. Aplique de 0 a 5, como no item anterior. Capacidade é sobre potencial de investimento financeiro. Também aplicar de 0 a 5. Some as notas atribuídas a cada um, somando as três colunas: aqueles que obtiverem a maior pontuação da sua lista são aqueles com quem você deve entrar em contato primeiro. Nos casos onde houver empate, dê preferência ao que possui maior vínculo. No exemplo ao lado, as ligações e contatos serão feitos na ordem de cima para baixo, sendo que, pelo critério de desempate, é mais interessante contatar primeiro a Seguradora W do que a Montadora K, pois entre as duas, a primeira tem maior pontuação de vínculo. 120 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 4 PROJETO DE VENDA, PLANO DE COTAS E CONTRAPARTIDAS 4.1. Projeto de Venda P recisamos falar de vendas. É pre-ciso que o setor cultural deixe de lado o pudor de falar sobre co-mercializar projetos, pois é disso que se trata a captação e em nada diminui o valor artístico e cultural de uma realiza- ção, tampouco seus impactos sociais. É preciso encarar de forma pragmática esse processo, sendo muito prático e usando da empatia para se colocar no lugar do avaliador, do “comprador”. É bem verdade também que o mercado adora importar nomes para dar um ar dife- renciado a algo simples. Isso acontece com um item básico ao processo de captação: o projeto de venda, o kit do patrocinador. O material de prospecção usado para apre- sentar o projeto ao potencial investidor é chamado no meio de sponsorkit, numa pro- vável apropriação e adaptação dos conhe- cidos mídia kits, ou também de um recurso muito usado, de forma diferente, no meio esportivo internacional. O projeto a ser apresentado a um in- vestidor precisa ter informações muito claras e precisas sobre o quê se preten- de produzir. É preciso considerar que a pessoa que o receberá, seja em meio digital ou físico, conhecerá tal conteúdo pela primeira vez, muito provavelmente ela desconhece seu produto cultural (e pode desconhecer você e o seu trabalho) e vai avaliar seu projeto e conhecê-lo(a) por meio daquele material, ou seja, ele será a porta de entrada, o seu “cartão de visitas” e precisa dar a dimensão do que será realizado, tirando do campo subje- tivo que as diferentes interpretações de uma leitura permitem. É importante, portanto, demonstrar o resultado final a se alcançar. Claro que isso é mais fácil em projetos de segunda edição em diante, onde é possível ilustrar com ima- gens o produto já realizado. Quando isso não existe, em projetos de primeira ou única edição, recomenda-se trazer imagens de re- ferência, com os devidos créditos, para dar a dimensão daquilo que se pretende produzir a partir do patrocínio conquistado. Em casos de filmes, o ideal é ter um pequeno vídeo ou um trailer, mas quando não há verba para esse investimento inicial, também podem funcionar bem as referên- cias de filmes e diretores nos quais a equipe se inspira e mesmo o estilo de fotografia, fi- gurinos, os atores selecionados e outras es- pecificidades que possam dar uma noção ao interlocutor do porte e caminho que se pretende trilhar naquela produção. Descre- va bem o conceito do projeto. Obviamente, o projeto de venda pre- cisa ser atrativo, bonito, agradável de se ler. É básico evitar letras miúdas e fontes que possam dificultar a leitura. Também evitar textos demais extensos. Não há um roteiro obrigatório para essa apresentação, mas ela deve con- ter as informações mais relevantes para uma análise de investimento. Uma boa dica é se colocar no lugar do investidor: se fosse você o patrocinador, o que você gostaria de saber sobre o projeto? Como você se sentiria seguro para investir num determinado tipo de produção? Não existe receita, mas é possível dizer que é essencial: falar (1) dos objetivos, des- crever claramente (2) o que se pretende produzir (resultado/produto), inserir a (3) equipe técnica e possíveis apoiado- res para gerar credibilidade, especificar o (4) público a que se destina para gerar proximidade, (5) justificar a importância do projeto e sua identidade com aquele potencial investidor. (6) Sinopses são bem-vindas! Valorize os benefícios ofe- recidos (as famosas (7) contrapartidas) e, se possível, explicite o (8) plano de comunicação (ou ilustre conquistas de mídia em caso de ações já realizadas), e inclua (9) cronograma (isso pode fazer toda a diferença nos projetos de audio- visual, que costumam ter longo prazo de produção). O valor do projeto pode ser encaminhado num segundo momento, ou fazer parte de um anexo (uma lâmina separada, por exemplo), como um plano de cotas e contrapartidas, algo que deve ser avaliado, dependendo de como está 121 CAPTAÇÃO DE RECURSOS SAIBA MAIS Confira os modelos de projetos de vendas inseridos na Biblioteca Virtual do AVA. PARA REFLETIR Uma dica importante para a elaboração da divisão em cotas é evitar dividir o valor de seu projeto em muitas parcelas, pois isso significa que ele precisará ter muitos patrocinadores para se realizar integralmente, o que implicará a gestão de muitas relações, marcas e contrapartidas, gerando uma demanda complexa para o captador, causando a necessidade de ter uma equipe dedicada só para a gestão de contrapartidas. Outro motivo importante para não se ter muitas cotas é que gestores mais experientes na área de patrocínios, entendem que haverá muita concorrência de marcas e, com isso, terão menos chances de serem percebidos como patrocinadores pelo público, o que pode motivar o declínio do investimento. sendo realizada a prospecção e aborda- gem àquele prospect específico. É preciso investir nesse material: uma boa escrita, revisões, design atrativo e organizado... Isso significa tempo, re- cursos humanos adequados e dinheiro. Ainda que possa variar em formato: tex- tos, vídeos, site... o chamado sponsorkit é a forma mais efetiva de se iniciar um diálogo com o potencial financiador. Su- gerimos: invista nele! 4.2. Plano de Cotas Falamos acima em Plano de Cotas, mas o que é isso? Esse plano é uma for- ma de dividir o seu projeto em dife- rentes tamanhos de investimento. Isso porque, dependendode seu valor e ca- racterísticas, pode ser difícil conseguir um patrocínio global. Na captação com o setor privado, por exemplo, há uma tendência à pulveriza- ção do investimento, ou seja, as empre- sas preferem investir em um maior nú- mero de projetos, com valores menores, do que investir apenas (ou seja, investir tudo) em uma única ação. Desta forma, elas conseguem alcançar mais localida- des, diferentes públicos e garantir retor- nos efetivos, mesmo que um ou outro projeto não seja plenamente executado. Nós também, enquanto proponentes, precisamos refletir sobre as vantagens e desvantagens de ter um único patroci- nador. Para eventos pontuais, de reali- zação única, pode até ser muito prático e interessante contar com um único pa- trocinador. Mas para ações perenes e de longo prazo, a diversidade de investido- res pode ser uma garantia importante, uma vez que, se algum deles não puder mais financiar o projeto naquele ano/edi- ção, por exemplo, você pode contar com os outros para garantir sua continuidade. Infelizmente não existe uma fórmula para estabelecer como devem ser defi- nidas as cotas. Assim, as parcelas de in- vestimento no seu projeto precisam ser criadas basicamente por dois critérios: proporcionalidade e bom senso! Para chegar a isso, é importante pes- quisar e tentar conhecer outras propos- tas, mesmo na internet, olhar a divulga- ção das realizações culturais e observar como são inseridas os logotipos/marcas dos patrocinadores, qual a nominação utilizada para cada cota e que define a sua participação (apresentador, patroci- nador máster, co-patrocinador, apoiador etc.). Não existe regra para esses perfis de cotas. Na área esportiva, por exemplo, é comum se fazer a alusão com o pódio, estabelecendo nomes como Ouro, Prata e Bronze para estabelecer uma hierarquia clara entre aqueles investidores que entra- ram com mais recursos ou com menos, dei- xando claro que você tem que ter o cuidado em não constranger nenhum investidor. Para ações culturais, é comum encon- trarmos “mantenedor” para classificar um investidor permanente, com contrato por vários anos. O título “apresentador” geral- 122 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste mente define uma cota única, de maior valor, garantindo uma exclusividade ao patrocina- dor como o apresentador daquela atividade. As marcas definidas como “apoio” geralmen- te são aquelas que compram as cotas de permuta, ou seja, troca de produtos ou ser- viços, sem o investimento em dinheiro, como já vimos em fascículo anterior. O seu plano de cotas precisa ser pro- porcional, ou seja, a maior parte das contrapartidas e aquelas mais especiais ou exclusivas precisam ser disponibi- lizadas para os maiores investidores. Aquelas mais simples ou básicas são as que serão disponibilizadas para os meno- res investidores. Para facilitar esse entendimento, pensemos nas medidas de tamanho de roupas: P, M e G. Onde P é cota pequena, então precisa de poucas contrapartidas, ou aquelas mais básicas, mais simples, mais esperadas ou consideradas óbvias, quase obrigatórias (visibilidade, de for- ma proporcional, e gestão, como será explicado a seguir). Mesmo assim, lem- bre-se que é preciso atrair o investidor (todos são importantes), então mesmo as cotas pequenas precisam ter con- trapartidas interessantes. A cota M precisa se diferenciar da P, ter algo a mais, ser mais atraente, pois esse inves- tidor vai entrar com mais dinheiro. A cota G é a grande cota, aquela do maior investimento financeiro, que precisa ter as contrapartidas mais diferenciadas das anteriores, as reciprocidades mais atraentes e valiosas e, provavelmente, a maior quantidade de contrapartidas. Isso não quer dizer que o seu projeto pre- cisa ter apenas 3 cotas. É possível estruturar seu plano para que cada um dos perfis indicados acima tenha mais de uma cota. Com mais experiência na elaboração de pla- nos de cotas e contrapartidas você consegui- rá desenvolver mais perfis, muito além dos 3 exemplos citados aqui, mas para começar, essa divisão em “P, M e G” facilita bastante a organização do pensamento de quem ainda não tem essa prática consolidada. Vale a dica de que o plano de cotas é um apoio muito mais para organizar a vida do captador, ou seja, nem sempre precisa ser encaminhado ao prospect. Numa primeira abordagem, o ideal é dei- xar uma proposta específica. Para isso é fundamental pesquisar antes o seu provável patrocinador, para encaminhar para ele um valor de cota dentro do que você acredita ou conhece que ele é capaz ou costuma inves- tir em projetos dessa natureza. As contrapar- tidas que você apresentará a ele devem ser alinhadas aos interesses desta empresa (ou qualquer que seja a fonte de recursos). Caso precise ampliar a negociação, mostre o plano de cotas. Mas, em geral, é melhor tentar seduzir o patrocina- dor apresentando todos os benefícios que ele poderá ter apoiando a sua ini- ciativa, do que oferecendo todas as op- ções de investimento. É preciso que você saiba que pode acon- tecer desse investidor aportar menos do que poderia, e ser uma surpresa para você. Por isso é interessante seduzir, provocar o diálogo e só então negociar. Percebe? Também é importante ter sempre uma observação ao final do seu plano de co- tas (e mesmo do seu projeto de venda), deixando aberta a possibilidade de nego- ciação de contrapartidas. É possível que aquele investidor tenha ideias de ações – as famosas “ativações” de patrocínio – que possam se adequar ao seu projeto, sem subvertê-lo, e que você não tenha propos- to. Por que não absorvê-las se isso pode significar a garantia de uma parceria? Lembre-se de que ali, naquele momento de captação, você é um(a) negociador(a). Portanto, guarde um espaço para que o seu interlocutor se sinta à vontade para propor o que ele espera de seu projeto. 4.3. Contrapartidas Vamos agora conhecer alguns dife- rentes tipos de contrapartidas que cos- tumam ser utilizadas em projetos cul- turais, lembrando que você deve olhar para o seu produto cultural de forma criativa e tentando inovar também nes- te quesito, que pode, sim, ser o grande diferencial entre o seu projeto e o de tantos outros concorrentes: • Visibilidade: as mais usuais e esperadas pelos patrocinadores, que tratam da in- serção do seu logotipo/marca (de forma 123 CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA REFLETIR Você não precisa ter apenas 3 cotas, como dissemos, e muito menos elas precisam ter esses nomes comuns. O seu projeto é cultural, então seja criativo e inove na sua nomenclatura. Que tal usar nomes que tenham relação com o tema ou segmento artístico do seu projeto? Tente, isso pode ser novo e atrativo também para seu investidor. proporcional ao valor do investimento) ou sua citação em: materiais de divulga- ção, peças publicitárias, no espaço de re- alização do projeto etc. • Propriedade: quando a contrapartida engloba a titulação (conhecida no meio como naming rights) do projeto ou es- paço cultural. Costumam ser contratos de 3 a 5 anos e possui vantagens (como valores de investimento altos e garantia de prazo maior de parceria) e desvanta- gens (a associação direta entre produto cultural e a empresa patrocinadora, ex- clusividade no segmento e posterior ne- cessidade de mudança de nome, em caso de extinção do patrocínio). • Relacionamento: todas as oportunida- des que o projeto pode oferecer ao patro- cinador para que ele se relacione com seus públicos de interesse, desde a cessão de in- gressos ou exemplares do produto cultural até apresentações exclusivas, inclusão de ações de voluntariado com colaboradores da empresa, cessão de uso do espaço cul- tural etc. Importante dialogar com o poten- cial investidor para entender as suas neces- sidades e criar as devidas adequações. • Benefícios fiscais: importante destacar no projeto se você já tiver aprovação de alguma lei de incentivo à cultura (como a Rouanet ou Mecenato Estadual) e lembrartambém que há possibilidades diversas, sendo possível conciliar incentivos em âm- bitos municipal, estadual e federal, bem como usar incentivos de outros setores. • Comerciais: como o próprio nome diz, são reciprocidades que vinculam o projeto cul- tural a promoções e ações comerciais do patrocinador. Prioridades de compra, des- contos (quer seja no ingresso/produto cul- tural ou o inverso, no produto ou serviço do patrocinador), gratuidades específicas, etc. • Permissões: de uso de imagem, direi- tos autorais, cessão de trechos do pro- jeto ou da obra artística (quer seja em textos, vídeos ou imagens) para uso ins- titucional do patrocinador. Perceba que, se for para uso comercial, aí será uma contrapartida comercial. • Serviços: do projeto, artista ou produtor para o patrocinador (por exemplo, a oportu- nidade de realizar pesquisas para o patroci- nador junto ao público da ação cultural). • Responsabilidade Social: inclusão, de- mocratização e acessibilidade: embora não sejam contrapartidas ao patrocinador e, sim, à sociedade, valem ser destacadas, pois os patrocinadores associados ao pro- jeto se beneficiam ao se apropriar dessas ações, associando sua imagem à de um projeto socialmente responsável, com impactos diversos e que atendem deman- das específicas da população. • Gestão ou Transparência: deveriam ser consideradas obrigações, mas valem ser destacadas nesse campo, uma vez que as contrapartidas são entendidas tam- bém como entregas do projeto. Então, relatórios de avaliação e mensuração de resultados do projeto, prestação de contas e clipagem (clipping) de mídia devem ser incluídos nesta contrapartida. Não se esqueça que, nesse caso, todos os investidores devem receber esse mate- rial, não importando qual o valor do pa- trocínio ou se foi uma permuta, parceria e/ou apoio institucional. 4.4. Prospecção e Abordagem A partir das definições do plano de captação, das cotas e contrapartidas pos- síveis para custear o projeto, da criação do sponsorkit e de toda a pesquisa de mercado, é possível começar a prospec- tar, ou seja, (1) pesquisar e entrar em contato com as empresas que tenham identidade, valores, público e afinidades com o projeto, bem como (2) considerar a região de impacto da proposta e a (3) área de atuação da empresa. Muitas pessoas dizem que captação de recursos depende de relacionamentos. É uma verdade, mas há que se ter cuidado com o uso dessa expressão, pois dependen- do de como é dita, parece que só quem nas- ceu em “berço de ouro” tem condições de captar. Relacionamentos podem e devem ser construídos. Portanto, de fato, não é fá- cil começar a captar recursos se sua rede de relações é pequena, mas ela pode ser expan- dida e isso acontece com o tempo. Há que se ter cuidado também ao acre- ditar que essa construção de relacionamen- tos está facilitada pelo uso das redes sociais. Em parte, sim, quando pensamos em des- cobrir com quem se precisa falar dentro de uma organização ou empresa, mas o que realmente constrói relacionamentos é um conjunto de fatores que envolve a presen- ça física, empatia, o compartilhamento de informações, a confiança, o seu histó- rico de realizações, as boas entregas de contrapartidas e, considerando o universo virtual, uma presença qualificada e estra- tégica nas tais redes. Você conhece a Teoria dos 6 Graus de Separação? É mais ou menos isso que se ex- plora na prospecção. Portanto, use as redes sociais para descobrir contatos em comum e se aproxime por intermédio deles, peça que lhe apresentem à pessoa com quem precisa estabelecer contato. A efetividade do retor- 124 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste no é muito maior do que o simples envio de uma mensagem direta a uma pessoa que não lhe conhece. Isso pode soar invasivo e acabar tendo efeito negativo. Mas a pergunta mais recorrente quando o assunto é prospecção é: por onde come- çar? Como encontrar a pessoa com quem se precisa falar? O primeiro passo para ser bem- -sucedido na prospecção é a pesquisa. Considerando que já existe um projeto bem planejado, com objetivos claros, públi- co bem definido, local de realização, entre outros detalhamentos, a partir também do tema de que trata o projeto e dessas carac- terísticas já destacadas, é possível traçar um universo de prospects, que como já vimos, se tratam dos potenciais investidores, seja pela identidade com a região, ou com pú- blico de interesse, com os valores do projeto ou de sua temática etc. A partir daí pode-se pesquisar o seu site, se houver, e conferir especialmente relatórios, para confirmar a adequação da identidade do projeto com o potencial patrocinador selecionado. Na captação com pessoas jurídicas (em- presas), os relatórios podem nos fazer enten- der em que setor da empresa os patrocínios estão localizados: comunicação, marketing, responsabilidade social, sustentabilidade, relações institucionais e RH são as áreas mais comuns. Pode-se também buscar seu histórico de patrocínios por meio de ferra- mentas de busca da internet e, em caso de projetos incentivados, pelo Versalic (plata- forma de acesso a informações de projetos na Lei Federal de Incentivo à Cultura). Acompanhar publicações e eventos de instituições que abordam de alguma forma o tema do investimento social privado (ISP) é garantia de identificar nomes e cargos que podem estar na sua lista de interesses (e, no caso dos eventos, é grande a chance de con- seguir se aproximar deles): são organizações como o Grupo de Institutos e Fundações Em- presariais (Gife), o Instituto Ethos, a Associa- ção Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), a Associação Brasileira de Anun- ciantes (ABA), os eventos Maxmídia e HSM, e as publicações do Meio e Mensagem; revistas como Maiores e Melhores, Melhores para Tra- balhar, Marcas Mais Lembradas, 100 Maio- res etc. Cabe destacar que o Gife, o Ethos, a ABCR e a Aberje são boas fontes de informa- ção qualificada sobre investimento social privado, para além de fontes de contatos. Um velho ditado diz que “quem não é visto, não é lembrado”: na prospecção é importante abusar dessa máxima! Explo- re suas redes de contatos, desde amizade e família a grupos sociais (escolas, igrejas, clubes etc) e todas essas fontes corporati- vas anteriormente citadas. Organize suas informações de forma clara e sistematizada. Considere usar um CRM. Cultive essas rela- ções, cuide da sua própria imagem e da sua produtora, empresa ou instituição. Paciência e tempo serão aliados até que cheguem os resultados... mas acredite: eles chegam! As formas de abordagem podem ser muito diversas. Descobrir um contato numa empresa já não é mais tão difícil em tempos de redes sociais como o LinkedIn. Porém, é recomendável não fazer contato direta- mente pelas redes: como já foi dito, o ideal é aproveitar as redes para descobrir um con- tato em comum e pedir para ser apresenta- do. Pontes funcionam melhor nas estatís- ticas de retorno. Ou, munido da informação de quem cuida dos investimentos sociais da empresa, o caminho básico é ligar no núme- ro comercial e tentar agendar uma reunião. Mas é provável que solicitem o envio do pro- jeto previamente por e-mail. O tempo de todos é muito escasso e qualquer seleciona- dor vai querer verificar com mais detalhes se há conexões e se vale a pena agendar uma conversa presencial. O mais importante, portanto, é saber fazer o discurso correto, mais alinhado aos interesses do interlocutor (empresa), o que dependerá de cada empre- sa e projeto, das contrapartidas a oferecer, mas também muito da área que irá anali- sar a proposta. É preciso considerar sempre que a porta de entrada de um projeto diz muito dos interesses de sua defesa até a aprovação, internamente. Por isso, é tão CRM Programas de gestão de relacionamento com clientes. Uma forma inteligente e eficaz de guardar e otimizar informações sobre seus contatos e gerenciar relacionamentos. Existem opções gratuitas disponíveisna internet. SAIBA MAIS A Teoria dos Seis graus de Separação originou- se a partir de um estudo científico desenvolvido pelo psicólogo Stanley Milgram, que criou a teoria de que, no mundo, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. 125 CAPTAÇÃO DE RECURSOS importante compreender qual a missão de cada área dentro da empresa e valorizar na abordagem os pontos do projeto que atendem a esses interesses. Para facilitar, um exemplo: se uma proposta de patrocí- nio vai ser analisada pelo departamento de marketing, é interessante destacar as ações comerciais possíveis, a visibilidade e a divul- gação que o projeto terá, mostrar o resulta- do que essa parceria pode ter na imagem da corporação. Se a proposta for analisada pela área de responsabilidade social da empresa, vale destacar os impactos sociais da propos- ta, o número de empregos (diretos e indi- retos) e impostos gerados, e quais as ações de democratização e de acessibilidade que o projeto contempla. Isso não significa não falar de marca, reputação e visibilidade, mas de ressaltar prioritariamente os assuntos que mais tocam a quem está analisando a solicitação de patrocínio. Todos os benefícios que um produto cul- tural pode oferecer à empresa interessam numa apresentação mas, num primeiro mo- mento, vale destacar aqueles com maior sinergia ao departamento específico de análise, como forma de abrir o diálogo e de provocar o interesse desse primeiro analista: falar a mesma língua é fundamental. Abordar um potencial patrocinador pre- cisa ser algo cordial. Seja presencialmente ou on-line, as abordagens precisam causar impactos positivos. O famoso “saber como chegar” é importante quando descobrimos com quem precisamos falar. Respeite as hie- rarquias: se a pessoa possui secretário(a), siga e respeite esse rito. Na verdade, é provável que essa pessoa tenha o real con- trole dessa agenda mais do que o próprio interlocutor com quem você precisa conver- sar. É básico, mas faz toda a diferença, num primeiro contato, seguir as regras de agen- damento do provável investidor. Quando ocorre uma oportunidade de um encontro não previsto (ainda que possa ter sido provocado por você, como a ida a um evento para estar próximo a uma pes- soa que é alvo do seu interesse), é impor- tante também ser cuidadoso nessa apro- ximação. É aquela famosa oportunidade de usar as técnicas do pitching: é preciso vender a ideia em pouco tempo, de forma assertiva, mas nunca impositiva, com uma linguagem clara, com simpatia e brevidade, não necessariamente deixan- do qualquer material ou documento para análise. Lembre-se que, dependendo da complexidade do projeto e da qualidade/ maturidade do seu projeto de venda, e mesmo do tipo de situação em que se dá esse encontro “casual” (pode ser bem des- confortável num evento social a pessoa ter que ficar segurando qualquer papelada), pode ser mais eficiente instigar seu interlo- cutor na conversa, trocar contatos e agen- dar um encontro para detalhamentos, no qual você terá tempo para aprofundar suas defesas e também para produzir um mate- rial personalizado para apresentar e deixar com seu prospect. Mesmo antes dos tempos pandêmicos, o campo da internet e das redes sociais gera- vam uma falsa intimidade e proximidade en- tre as pessoas. Isso pode ser um problema na abordagem para a captação de recursos. É fato que as redes colaboram bastante com o processo da prospecção, mas precisam ser utilizadas de forma estratégica. Você tem que compreender que a maioria das redes são de uso pessoal. Por mais que as pessoas se projetem profissionalmente, fa- lando do assunto, fazendo seu marketing pessoal e construindo imagens, elas sentem que esse território virtual é pessoal, íntimo e, geralmente, não gostam de ser aborda- das por aí. Até para que não se tornem mais um canal de trabalho. À exceção do LinkedIn, mais explicitamente voltado a contatos pro- fissionais, as demais redes sociais têm cunho pessoal. Abordar um potencial investidor por elas, pode soar invasivo, sendo uma primei- ra “bola fora”. Evite escrever mensagens de solicitação de patrocínio diretamente a quem não conhece. Esses cuidados serão funda- mentais para viabilizar boas prospecções usando os canais cibernéticos. PARA REFLETIR Algumas contrapartidas não são permitidas pela legislação de incentivos fiscais, podendo ser consideradas vantagem indevida ao patrocinador. Portanto, se você está trabalhando com benefício fiscal, conheça bem a legislação específica e fique atento na hora de sua captação e o que promete ao seu potencial investidor. 126 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste O caminho para o sucesso na mo-bilização de recursos é longo, por isso mesmo é preciso valo-rizar o patrocinador e buscar sua fidelização. Depois de conquistar seu parceiro, não o perca! E isso depende fundamentalmen- te do cumprimento das entregas, que é o primeiro quesito básico para fidelizar um investidor: cumprir tudo o que foi prome- tido no projeto, na realização da ação cul- tural, com qualidade, e entregar as con- trapartidas acordadas. Mais: se possível, surpreender o patrocinador positivamente, entregando além do esperado. As relações travadas ao longo do processo também são muito importantes: ser sempre trans- parente quanto a eventuais problemas, compartilhar decisões sobre mudanças no projeto, manter o patrocinador informado e o relacionamento aquecido, sempre de forma cordial e sem exageros. Não se torne o chato, mas também não abandone o seu investidor. É comum que as pessoas con- quistem um patrocínio e, depois do recur- so recebido, só façam contato novamente com o investidor na hora de convidá-lo para o evento cultural ou para entregar um relatório. Não faça isso! Ouça as demandas do seu patrocina- dor, demonstre consideração, mesmo que não possa atender a todas. Dizer “não” faz parte do processo e depende da forma como você conduz essa negativa para que ela seja percebida positivamente. E, mais uma vez, inove, seja criativo e surpreenda. PÓS-VENDA: A BUSCA PELA FIDELIZAÇÃO 5 PARA REFLETIR Outros fascículos tratam de relatórios e indicadores. Estude-os, mas uma dica importante é COMUNIQUE os resultados do seu projeto a toda a sociedade, não apenas a seus patrocinadores e parceiros. Só assim a sociedade conhecerá o real valor da cultura e os diversos impactos positivos gerados pelos projetos culturais. Nem mesmo o público do projeto costuma conhecer os resultados gerados. Então, não se esqueça de prever isso ainda na sua fase de planejamento: faça diagnósticos, crie indicadores e cuide para que a comunicação se estenda até o encerramento do projeto. Não se esqueça de fazer contratos, eles são a garantia para o patrocinador e também para o proponente do projeto. Com todas as contrapartidas definidas claramente em contrato, cria-se a respon- sabilidade dessa entrega, mas, também, evitam-se os pedidos que extrapolam os acordos combinados. Toda e qualquer al- teração nas contrapartidas ou mesmo no projeto devem ser incluídos em termos aditivos aos contratos. E cuide dos relatórios: entregue-os de forma tão cuidadosa quanto foi a apresentação do seu projeto de venda. Vale inclusive usar a mesma identidade visual do seu sponsorkit. Capriche na quantidade e qualidade de fotos de sua realização, insira vídeos (ou link para o seu acesso), preste contas sem medo, com transparência (para patrocinadores a sua prestação de contas não precisa ser tão detalhada quanto àquela realiza- da para leis de incentivo, mas apresente ao seu patrocinador: demonstre quais foram os recebimentos, quem foram os parceiros, quais os principais gastos re- alizados para viabilizar o produto cultu- ral, aponte o lucro, se houver, ou expli- que como resolveu prejuízos), informe o quantitativo e perfil de público alcan- çado, demonstre soluçõesencontradas, mostre os resultados de mídia, informe empregos e renda gerados pelo seu pro- jeto, entre outros indicadores de im- pactos econômicos, sociais e culturais gerados pela sua realização. CONCLUSÃO A captação de recursos empre-sariais é como um caminho para o “sim” cheio de “nãos”. Como se os “nãos” fossem pe- dras a serem pisadas, em meio a um rio caudaloso, para se chegar ao desejado “sim”, que seria o outro lado da margem. É muito importante tentar obter um retorno sincero em cada “não” para ge- rar aprendizado. Mas nem sempre essa escuta é possível. Fundamental é ter em mente que a captação requer um pen- samento estratégico de longo prazo. A recomendação é planejamento, investi- mento, dedicação e, para instituições, foco na perenidade para se chegar à sustentabilidade. Para projetos esporá- dicos, troque perenidade por prazo. A captação é sempre um processo difícil e moroso, que requer investimen- tos e não termina quando o dinheiro entra. Invista em relações, seja resilien- te, tenha disposição para transformar cenários aparentemente negativos em relacionamentos duradouros. Não há receita pronta ou fórmula mágica, muito menos coelhos na cartola. A melhor definição para o processo de cap- tação é, como diria Antônio Machado em sua poesia “Cantares”: “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar...”. Andem, busquem, persistam, cons- truam seus caminhos e tenham muito sucesso nas captações! Referências HEYMAN, Darian Rodriguez; BRENNER, Laila. Guia Prático de Captação de Re- cursos, Ed. Filantropia. ESTRAVIZ, Marcelo. Um dia de Captador, Ed. Zeppelin Editorial. ZEPPELINI, Márcio. Comunicação: visibili- dade e captação de recursos para projetos sociais, Ed. Zeppelini Editorial e Sebrae. ZAN, Maria Rosana Casagrande A. Patrocí- nio a Eventos: a sinergia da comunicação integrada de marketing. Difusão Editora. GITOMER, Jeffrey. A Bíblia de Vendas, Ed. M. Books. 127 CAPTAÇÃO DE RECURSOS 6 Guabiras (Ilustrador) É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de 5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York (EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país. REALIZAÇÃOAPOIO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO Daniele Torres (Autora) Museóloga, pós-graduada em História da Arte, Gestão Cultural e Comunicação Empresarial. Sócia fundadora da Companhia da Cultura, especialista em leis de incentivo e captação de recursos. Atua no mercado cultural há mais de 20 anos e também é sócia do site e escola livre Cultura e Mercado, na qual coordena cursos de captação e projetos. Já foi gestora de patrocínios de grandes corporações (como a Vale) e atuou também no Terceiro Setor (em institutos empresariais como a Fundação CSN e em OSs e OSCs diversas das áreas cultural, social e ambiental). Foi diretora do Instituto AES. Atualmente é conselheira consultiva da Comissão de Direito das Artes da OAB-SP, membro do Fórum Brasileiro pelos Direitos Culturais e da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Gerente Canal FDR: Chico Marinho Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto: Raymundo Netto Coordenadora de Conteúdo: Daniele Torres Assistente Editorial Emanuela Fernandes Projeto Gráfico e Edição de Arte: Andrea Araujo Designer Gráfico: Carlos Weiber Ilustrador: Guabiras Roteirista, Locutora e Mediadora (radioaulas): Lílian Martins Produtora: Luísa Duavy ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-41-1 (Fascículo 8) Todos os direitos desta edição reservados à: Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020. Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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