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peça 02 penal - Resposta

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NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍCA – ESTÁCIO FAL
ESTAGIÁRIO: Rosangela Almeida de Sant’Anna_________________________________________
DATA DA DISTRIBUIÇÃO: 2 de setembro de 2020.
EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO – ESTÁGIO SUPERVISIONADO
10º Período
RESPOSTA PEÇA 2 - PENAL
AO JUÍZO DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SANTOS, SÃO PAULO.
Processo nº: _________________________________
“A”, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe que lhe move o Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio de seu Advogado que a esta subscreve, vem, tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, não se conformando com a sentença, com fulcro no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, interpor
RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL
para a Colenda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, requerendo, desde já, seja recebido, autuado o presente recurso com as inclusas razões de apelação, pugnando pela válida intimação da parte recorrida para apresentação de contrarrazões, bem como que seja encaminhado, posteriormente à Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, para apreciação.
Nesses Termos, 
pede Deferimento. 
Local e data
ADVOGADO
OAB/UF Nº __________
RAZÕES DA APELAÇÃO
Processo nº: _________________________________
Egrégio Tribunal de Justiça, 
Colenda Câmara Criminal, 
Douta Procuradoria de Justiça, 
Senhores Desembargadores.
Em que pese o notório saber jurídico do Magistrado sentenciante, merece reforma a sentença condenatória encartada nos autos, conclusão a que chegará esta colenda câmara criminal após análise das razões fáticas e jurídicas enumeradas a seguir:
I – DOS FATOS
Conforme consta dos autos, o apelante foi processado e condenado pela prática do crime tipificado no art. 157, § 2º, II e § 2º-A, I, do Código Penal, à pena concreta e definitiva de 10 (dez) anos, 04 (quatro) meses e 13 (treze) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e em 23 (vinte e três) dias multa.
A defesa, entretanto, após minuciosa análise do contexto probatório, entende que houve error in judicando por parte do juízo a quo, tendo em vista que a essência do processo, na verdade, indica a necessidade de se absolver o apelante das imputações na quais restou condenado, devendo esta corte, balizando-se no artigo 386, inciso V e/ou VII, do Código de Processo Penal (CPP) e sob pena de violação ao artigo 155, do CPP, assim proceder. Vejamos.
II – DO MÉRITO
a) Lei mais benéfica
Preliminarmente cumpre salientar que, sobreveio à decisão impugnada a promulgação da Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, que modificou o Código Penal, incluindo o parágrafo 2º e 2º - A do artigo 157. Portanto, não se está diante de continuidade normativa, mas de abolitio criminis da majorante.
Diante desse fato, deve-se aplicar a lei antiga, mais benéfica ao acusado, em consonância com o artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal, afastando-se o aumento de 1/3 e 2/3 aplicados na terceira fase do cálculo da pena.
b) Da perda de uma chance probatória anterior as provas
Observem que no campo do processo penal, a ideia que preside é a acumulação dos elementos de convicção por parte da acusação. Em uma frase, toda prova é necessária e nada é dispensável.
Portanto, a condenação dada ao apelante ocorreu exclusivamente com base na palavra dos policiais e da vítima, sabe-se que a condenação exige certeza e, havendo dúvida acerca da autoria ou da própria materialidade do delito, bem como a perda da chance de produção de prova por parte do Estado, plenamente factível, pois foi solicitado as imagens por duas vezes, lodo deverá ser absolvido, conforme artigo 386, I do Código de Processo Penal.
c) Da absolvição por ausência de provas para a condenação – aplicação do princípio do favor rei.
d) Da Violação ao artigo 155, caput, do CPP.
Após minuciosa e perfeccionista análise do cotejo probatório, a defesa conclui que, embora demonstrada a materialidade delitiva, não há prova nos autos que seja satisfatória a propiciar a prolação de édito condenatório contra o apelante, tendo em vista que não há provas suficientes produzidas em juízo para desmistificar o quesito autoria do delito e que após a audiência de custódia foi requerido ao juízo a expedição de ofício à autoridade policial requisitando a imediata obtenção das imagens captadas naquele dia pela câmera de segurança da farmácia, o que foi deferido.
Ao final da audiência de instrução, novamente, foi requerido a expedição de ofício cobrando a juntada de mídia com as imagens das câmeras de segurança citadas pelo réu. O pedido foi deferido.
O juízo da 3ª Vara Criminal da comarca de Santos/SP proferiu sentença acolhendo o pedido condenatório formulado pela acusação e julgando integralmente procedente a pretensão punitiva, fundamentando a condenação no conjunto probatório colhido e aplicando as sanções.
Por outro lado, a vítima “B” afirmou que estava em sua mercearia quando chegaram dois indivíduos encapuzados e, mediante ameaça realizada com o emprego de um revólver empunhado por um deles, exigiram que ficasse olhando para o chão enquanto todo o dinheiro que estava no caixa era subtraído. Informou também que, por ter ficado com a cabeça abaixada, não conseguiu registrar nenhum traço que possa identificar os assaltantes. Afirmou, porém, que ambos entraram em um veículo preto que estava parado em frente ao seu estabelecimento comercial e cujas placas foram anotadas e passadas para a polícia. Contou não ter recuperado os cerca de R$ 2.000,00 (dois mil reais) que foram roubados.
O apelante negou o cometimento do crime, alegando que caminhava na calçada quando um carro preto estacionou e dele saltaram dois homens que saíram correndo. Acrescentou que continuou andando normalmente, viu uma viatura ocupada por dois policiais virar a esquina em alta velocidade, e, no exato momento em que passava ao lado do veículo que acabara de estacionar, os policiais o abordaram e o acusaram de ser autor de um roubo. Afirmou que poderia provar suas alegações, pois em frente ao local onde foi abordado há uma farmácia na qual está instalada uma câmera de segurança que certamente captou imagens de sua detenção. 
Eugênio Pacelli assevera:
“O nosso processo penal, por qualquer ângulo que se lhe examine, deve estar atento à exigência constitucional da inocência do réu, como valor fundante do sistema de provas. Afirmar que ninguém poderá ser considerado culpado senão após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória implica e deve implicar a transferência de todo o ônus probatório ao órgão da acusação. A este caberá provar a existência de um crime, bem como a sua autoria.(...) Cabe, assim, à acusação, diante do princípio da inocência, a prova quanto à materialidade do fato (sua existência) e de sua autoria, não se impondo o ônus de demonstrar a inexistência de qualquer situação excludente da ilicitude ou mesmo da culpabilidade. Por isso, é perfeitamente aceitável a disposição do art. 156 do CPP, segundo a qual ‘a prova da alegação incumbirá a quem a fizer’.” (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal, 17ª edição, São Paulo: Editora Atlas S. A., 2013, p.333/334).
Assim, em suma, podemos resumir as considerações acima em uma única assertiva: o acusado não pode ser condenado por não provar sua inocência, porquanto o ônus da prova pertence à acusação.
Portanto, as alegações do juízo sentenciante de que o réu não produziu provas aptas a demonstrar sua inocência não pode ser, jamais, por este órgão colegiado, pois foi requerido por duas vezes a juntada de mídia com as imagens das câmeras de segurança.
O apelante reafirmou sua não participação no delito em comento, conforme já mencionado.
Assim, recaindo contra o acusado tão somente prova inquisitiva, aliada às suspeitas de terem sido produzidas com o afã de incluí-lo na cena do crime, eis que era visado pela polícia militar em função de desavenças anteriores, e considerando que nada disso foi repetido em juízo, as considerações estampadas na sentença não são aptas para condená-lo. Na verdade, a fundamentação da referida sentença viola o artigo 155, do CPP, que estatuique “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”.
Impositiva a absolvição, tendo em vista que, no presente processo, a regra da necessidade de reproduzir as provas em juízo se torna mais necessária do que o normal para depreender édito condenatório, o que, claramente, não existe no presente processo, razão por que, deve-se utilizar este r. Juízo, da máxima favor rei, determinando a absolvição do acusado “A”, de todos os delitos a ele imputados.
Ve-se que o juízo sentenciante não se atentou para as disposições de Nosso Código de Processo Penal, especialmente aos comandos constantes do artigo 386, inciso IV, que determina seja decretada a absolvição do réu, desde que o Juiz reconheça (V) não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal.
Afastou-se a Insigne Promotora de Justiça da certeza imanente ao julgamento penal, ou seja, a verdade real, já que na justiça penal tudo deve ser claro e preciso, como uma equação algébrica, de onde, na falta de, via de consequência, impõe-se a absolvição do réu. 
Havendo, pois, dúvida sobre a autoria, incerteza quanto à participação do apelante no delito, deve esta corte abraçar-se ao princípio do favor rei, para garantir a absolvição do apelante. Sobre o tema, vide lição de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar, em sua obra Curso de Direito Processual Penal, 11ª Edição, Editora Juspodivm, págs. 87 e 88, in verbis:
“A dúvida sempre milita em favor do acusado (in dubio pro reo). Em verdade, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. Como mencionado, este princípio mitiga, em parte, o princípio da isonomia processual, o que se justifica em razão do direito à liberdade envolvido – e dos riscos advindos de eventual condenação equivocada. Neste contexto, o inciso VII, do art. 386, CPP, prevê como hipótese de absolvição do réu a ausência de provas suficientes a corroborar a imputação formulada pelo órgão acusador típica positivação do favor rei (também conhecido como favor inocentiae e favor libertatis).”
Neste sentido também caminha a jurisprudência, conforme se verifica dos julgados abaixo, todos com grifo da defesa:
TJ-AC - Apelação: APL Nº 0001088-42.2009.8.01.0006 PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. RETRATAÇÃO DA VÍTIMA EM JUÍZO. DEMAIS ELEMENTOS DE PROVA QUE NÃO DÃO CERTEZA DA MATERIALIDADE DELITIVA. DÚVIDA INSTAURADA. APLICAÇÃO DO IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. RECURSO PROVIDO. No processo penal, a dúvida não pode militar em desfavor do réu, haja vista que a condenação, como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (Art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI da CF), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade, pressupostos autorizadores da condenação. Na hipótese de constarem nos autos elementos de prova que conduzam à dúvida acerca da ocorrência do crime, a absolvição é medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo. Recurso provido. TJ-MG - Apelação Criminal APR 10145140035208001 MG (TJ-MG) Data de publicação: 24/03/2017
Ocorre que, logo após a pena imposta ao revisionando e analisando os autos, foi verificado que a autoridade policial não procedeu com as diligências necessárias, conforme artigo 6º, inciso VI do Código de Processo Penal, pois a prova das imagens da câmera foi perdida.
Cabe ressaltar que o artigo 93, inciso IX da CF/88, inclusive o juiz poderia ter solicitado de ofício o pedido de diligência para a apresentação das imagens da câmera, pois todos os julgamentos deverão ser fundamentados Carta Magna, é imperiosa a reforma ou nulidade da sentença condenatória importa ao revisionando, e absolver o revisionando com fulcro nos artigos 626 e 627 do Código de Processo Penal.
e) Da Dosimetria da Pena
A condenação do réu no processo penal exige que o juiz observe alguns critérios, o que não ocorreu nesse caso, pois ele foi condenado na primeira fase da dosimetria como consequências do crime eram graves, pois o réu teria atingido o patrimônio da vítima, que ficou sem o dinheiro do caixa. Por isso, fixou a pena-base em 04 (quatro) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa. 
Na segunda fase, entendeu não haver circunstâncias agravantes ou atenuantes. 
Já na terceira fase, majorou as reprimendas em 1/3 (um terço) ao aplicar a causa de aumento do art. 157, § 2º, II, do CP. Após, as aumentou em mais 2/3 (dois terços), por força do disposto no art. 157, § 2º-A, I, do CP, ressaltando que a arma de fogo empregada para intimidar o ofendido foi apreendida, estava municiada e a perícia atestou sua eficácia para realizar disparos. 
As penas foram fixadas, assim, em 10 (dez) anos, 04 (quatro) meses e 13 (treze) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e em 23 (vinte e três) dias multa.
O juiz errou na terceira fase da pena foi estabelecida pela Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, que modificou o Código Penal, incluindo o parágrafo 2º e 2º - A do artigo 157. Portanto, não se está diante de continuidade normativa, mas de abolitio criminis da majorante.
Diante desse fato, deve-se aplicar a lei antiga, mais benéfica ao acusado, em consonância com o artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal, afastando-se o aumento de 1/3 e 2/3 aplicados na terceira fase do cálculo da pena.
III – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer, respeitosamente à esta Colenda Câmara Criminal, seja recebida, autuada a processada o presente recurso de apelação, bem como apreciada as razoes anexas, para que, seja conhecido e ao final, provido o presente apelo, reformando a sentença prolatada pelo juízo a quo, em favor do apelante “A”, para absolve-lo das imputações nas quais fora condenado, sob pena de violação aos artigos 386, incisos II, V e VII, do CPP, sob pena de violação ao artigo 155, do CPP.
Nesses Termos, 
pede Deferimento. 
Local e data
ADVOGADO
OAB/UF Nº __________
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