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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE BATERIAS DE LÍTIO-ÍON EM UNIDADES CONSUMIDORAS CONECTADAS NA MÉDIA TENSÃO Matheus Howes Coimbra Thomé Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Renato Flórido Cameira Roberto Ivo da Rocha Lima Rio de Janeiro Dezembro de 2017 iii Thomé, Matheus Howes Coimbra Thomé Análise de Viabilidade Econômica da Implantação de Sistemas de Baterias Lítio-Íon em Unidades Consumidoras Conectadas na Média Tensão/ Matheus Howes Coimbra Thomé – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017. X, 81 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Renato Flórido Cameira Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia de Produção, 2017. Referências Bibliográficas: p. 78-81 1. Baterias de Lítio-Íon. 2. Viabilidade Econômica. 3. Armazenamento de Energia. I. Cameira, Renato Flórido II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de Produção. III. Análise de Viabilidade Econômica da Implantação de Sistemas de Baterias Lítio-Íon em Unidades Consumidoras Conectadas na Média Tensão iv AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer à Deus e à São José por terem iluminado e abençoado meu caminho na UFRJ. Agradeço também aos meus pais, Marcos André e Carmen, e meus irmãos, Thiago e Catherine, por serem minha base e inspiração, tendo me apoiado desde o momento em que cursar Engenharia de Produção na UFRJ era um sonho até o presente momento de conclusão do curso. Tenho especial gratidão também a todos meus familiares e amigos que sempre estiveram ao meu lado me proporcionando momentos inesquecíveis. Faço aqui um agradecimento especial aos professores orientadores deste trabalho, Renato Flórido Cameira e Roberto Ivo da Rocha Lima, por terem me dado todo suporte e orientação para a elaboração do mesmo. Agradeço também de forma especial a Ramon de Oliveira Júnior, companheiro profissional e amigo que me auxiliou constantemente no desenvolvimento deste trabalho, inclusive na escolha do tema, tornando-se também um orientador e inspirador deste trabalho. Por fim, agradeço à Universidade Federal do Rio de Janeiro, aos amigos que fiz ao longo de minha vida acadêmica nela, aos professores, em especial do Departamento de Engenharia Industrial, e a todos os funcionários que fazem desta instituição gigante como ela é. Tenho muito orgulho de ter a UFRJ na minha vida. v Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE BATERIAS DE LÍTIO-ÍON EM UNIDADES CONSUMIDORAS CONECTADAS NA MÉDIA TENSÃO Matheus Howes Coimbra Thomé Dezembro/2017 Orientador: Renato Flórido Cameira Curso: Engenharia de Produção Ao longo dos últimos anos, os sistemas de armazenamento de energia têm aumentado sua participação no setor elétrico. Dentre esses sistemas, destacam-se as baterias de lítio-íon cada vez mais desenvolvidas e utilizadas por unidades consumidoras que visam reduzir seus custos através da arbitragem tarifária. Nesse contexto, este trabalho pretende realizar um estudo da viabilidade econômica acerca da implantação de um sistema de baterias de lítio- íon em unidades consumidoras comerciais conectadas na média tensão. Palavras-chave: Baterias de Lítio-Íon, Viabilidade Econômica, Armazenamento de Energia vi Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Industrial Engineer. ANALYSIS OF ECONOMICAL FEASIBILITY OF THE IMPLANTATION OF LITHIUM-ION BATTERY SYSTEMS IN CONSUMER UNITS CONNECTED IN THE MEDIUM VOLTAGE Matheus Howes Coimbra Thomé December/2017 Advisor: Renato Flórido Cameira Course: Industrial Engineering Over the past few years, energy storage systems have increased their participation on the electrical sector. Among these systems, the lithium-ion batteries stand out as they are being increasingly developed and used by consumer units that aim to reduce their costs through energy time-shifting. In this context, this paper aims to carry out an economic feasibility study about the implantation of a lithium-ion batteries system in a commercial consumer unit connected in the medium voltage. Keywords: Lithium-Ion Batteries, Economic Viability, Energy Storage vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 13 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................... 13 1.2. OBJETIVOS DE ESTUDO ................................................................................................ 14 1.2.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 15 1.2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO .......................................................................................... 15 1.3. LIMITES DO ESTUDO ...................................................................................................... 15 1.4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................................................................................. 15 2. METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................................................. 16 2.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA ................................................................... 16 2.2. ETAPAS DE PESQUISA ................................................................................................... 16 3. O SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO ................................................................................... 19 4. TARIFAS DE ENERGIA ............................................................................................................ 21 5. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA .................................................................................... 23 5.1. DEFINIÇÃO ......................................................................................................................... 23 5.2. OUTRAS DEFINIÇÕES IMPORTANTES ....................................................................... 23 5.3. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO MUNDO ..................................................... 24 5.4. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO BRASIL ...................................................... 25 5.5. APLICAÇÕES E BENEFÍCIOS ........................................................................................ 26 6. SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA ............................................................. 28 6.1. SISTEMAS ELÉTRICOS ................................................................................................... 29 6.1.1. SUPERCAPACITORES ............................................................................................ 29 6.1.2. SISTEMAS DE SUPERCONDUTIVIDADE MAGNÉTICA ................................... 29 6.2. SISTEMAS MECÂNICOS ................................................................................................. 29 6.2.1. BOMBEAMENTO REVERSO ................................................................................... 29 6.2.2. SISTEMAS DE AR COMPRIMIDO .......................................................................... 30 6.2.3. SISTEMAS “FLYWHEEL” OU VOLANTE DE INÉRCIA ....................................... 30 6.3. SISTEMAS TÉRMICOS ....................................................................................................31 6.4. SISTEMAS QUÍMICOS ..................................................................................................... 31 6.4.1. BATERIAS DE LÍTIO-ÍON ......................................................................................... 31 6.4.2. BATERIAS CHUMBO-ÁCIDO .................................................................................. 32 6.4.3. BATERIAS DE ALTA TEMPERATURA .................................................................. 32 6.4.4. BATERIAS DE FLUXO .............................................................................................. 33 6.4.5. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE HIDROGÊNIO .................................... 33 6.4.6. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE GÁS NATURAL .................................. 34 6.5. COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS .............................................................................. 34 viii 7. SISTEMAS DE BATERIAS ÍON LÍTIO .................................................................................... 36 7.1. HISTÓRICO ......................................................................................................................... 36 7.2. FUNCIONAMENTO............................................................................................................ 36 7.3. BATERIAS LÍTIO-ÍON NO BRASIL E NO MUNDO ...................................................... 38 7.4. DESCARTE DE BATERIAS LÍTIO-ÍON .......................................................................... 39 7.5. COMPOSIÇÃO, INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE UM SISTEMA DE BATERIAS LÍTIO-ÍON ........................................................................................................................................ 39 7.6. ARBITRAGEM DE TARIFAS ............................................................................................ 41 8. MODELOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA ........................................................................... 43 8.1. MÚLTIPLOS ........................................................................................................................ 43 8.2. VALOR PATRIMONIAL ..................................................................................................... 43 8.3. VALOR ECONÔMICO AGREGADO (EVA) ................................................................... 44 8.4. VALOR DE LIQUIDAÇÃO ................................................................................................. 44 8.5. OPÇÕES REAIS ................................................................................................................. 44 8.6. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO................................................................................. 44 8.7. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS APRESENTADOS ...................................... 45 9. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO......................................................................................... 47 9.1. COMPOSIÇÃO DO DRE ................................................................................................... 47 9.2. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL ................................................................................ 48 9.3. FLUXO DE CAIXA DOS ATIVOS .................................................................................... 48 9.4. TAXA DE DESCONTO ...................................................................................................... 48 9.5. INDICADORES ECONÔMICOS ...................................................................................... 49 9.5.1. VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) ...................................................................... 49 9.5.2. TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) .................................................................... 49 9.5.3. PAYBACK E PAYBACK DESCONTADO ............................................................... 49 9.5.4. ÍNDICE DE CUSTO-BENEFÍCIO ............................................................................. 49 10. ESTUDO DE CASO ............................................................................................................... 51 10.1. CÁLCULO DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO .......................................... 51 10.2. CÁLCULO DA ENERGIA ARMAZENADA E DESCARREGADA ........................... 53 10.3. DEFINIÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS ESTUDADAS ............................................... 55 11. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA ........................................................................ 57 11.1. INVESTIMENTO INICIAL (CAPEX) ............................................................................. 57 11.2. DESENVOLVIMENTO DA DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA ................................ 60 11.2.1. BENEFÍCIO BRUTO .............................................................................................. 60 11.2.2. CUSTOS OPERACIONAIS (OPEX) .................................................................... 62 11.3. DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA ............................................................................... 67 ix 11.3.1. CENÁRIO A – LIGHT ............................................................................................. 67 11.3.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 68 11.3.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 69 11.4. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL E DOS ATIVOS ............................................... 70 11.4.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ) .................................................................................... 70 11.4.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 71 11.4.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 72 11.5. INDICADORES ECONÔMICOS .................................................................................. 73 11.5.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ) .................................................................................... 73 11.5.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 73 11.5.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 74 11.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 75 12. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 76 12.1. CONCLUSÃO.................................................................................................................. 76 12.2. PERSPECTIVAS DE ENCAMINHAMENTO FUTURO ............................................ 77 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 78 x LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fluxograma de organização do trabalho .............................................................. 17 Figura 2 - Gráfico da Matriz Energética Brasileira ................................................................ 19 Figura 3 - Classificação das tecnologias de sistemas de armazenamento de energia ......... 28 Figura 4 - Princípios dos processos de carga e descarga em células de lítio-íon ................. 37 Figura 5 - Composição de um sistema de baterias de corrente contínua ............................. 40 Figura 6 - Esquema representativo da arbitragem tarifária .................................................. 41 Figura 7 - Frequência de Utilização dos Modelos de Avaliação ........................................... 45 Figura 8 - Comparação entre os métodos do FCD e Múltiplos ............................................. 46 Figura 9 - Composição da DRE – Demonstração do Resultado do Exercício ......................47 Figura 10 - Quadro explicativo de uma Demonstração Financeira ....................................... 48 Figura 11 - Gráfico de degradação da capacidade de um sistema de baterias lítio-íon ........ 51 Figura 12 - Gráfico da degradação da eficiência de descarga de um sistema de baterias lítio- íon ....................................................................................................................................... 52 Figura 13 - Mapa das áreas de concessão de energia elétrica no Brasil.............................. 55 Figura 14 - Simulação dos tributos federais incidentes sobre o produto estudado ............... 58 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comparação entre os sistemas de armazenamento ........................................... 35 Tabela 2 - Dados agrupados das eficiência e capacidade anual de um SAE de baterias lítio- ion ........................................................................................................................................ 52 Tabela 3 - Capacidade do sistema e energia armazenada anual do SAE de baterias lítio-ion ............................................................................................................................................ 54 Tabela 4 - Eficiência do sistema e energia descarregada anual do SAE de baterias lítio-ion ............................................................................................................................................ 54 Tabela 5 - Tarifas de distribuidoras de energia elétrica ........................................................ 56 Tabela 6 - Alíquotas de ICMS dos estados estudados ......................................................... 59 Tabela 7 - CAPEX dos projetos por estado .......................................................................... 59 Tabela 8 - Tarifas do Horário de Ponta das distribuidoras estudadas .................................. 60 Tabela 9 - Benefício Bruto para o Cenário A – LIGHT (RJ) .................................................. 61 Tabela 10 - Benefício Bruto para o Cenário B – CEMIG (MG) ............................................. 61 Tabela 11 - Benefício Bruto para o Cenário C – COELBA (BA) ........................................... 62 Tabela 12 - Tarifas do Horário Fora Ponta das distribuidoras estudadas ............................. 63 Tabela 13 - Custos Operacionais para o Cenário A – LIGHT (RJ) ....................................... 64 Tabela 14 - Custos Operacionais para o Cenário B – CEMIG (MG) ..................................... 65 Tabela 15 - Custos Operacionais para o Cenário C – COELBA (BA) ................................... 66 Tabela 16 - Demonstração Financeira do Cenário A – LIGHT (RJ) ...................................... 67 Tabela 17 - Demonstração Financeira do Cenário B – CEMIG (MG) ................................... 68 Tabela 18 - Demonstração Financeira do Cenário C – COELBA (BA) ................................. 69 Tabela 19 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário A – LIGHT (RJ) ...... 70 Tabela 20 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário B – CEMIG (MG) .... 71 Tabela 21 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário C – COELBA (BA) .. 72 Tabela 22 - Indicadores Econômicos para o Cenário A – LIGHT (RJ) ................................. 73 Tabela 23 - Indicadores Econômicos para o Cenário B – CEMIG (MG) ............................... 74 Tabela 24 - Indicadores Econômicos para o Cenário C – COELBA (BA) ............................. 74 Tabela 25 - Quadro comparativo de indicadores econômicos .............................................. 75 xii LISTA DE ABREVIATURAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica BA - Bahia BIG – Banco de Informações de Geração da ANEEL CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais COELBA – Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia DRE – Demonstração do Resultado do Exercício EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Armotização) FCA – Fluxo de Caixa dos Ativos FCD – Fluxo de Caixa Descontado FCO – Fluxo de Caixa Operacional ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços II – Imposto de Importação IPI – Imposto sobre Produto Industrializado LIGHT - Light Serviços de Eletricidade S.A. MG – Minas Gerais RJ – Rio de Janeiro SAE – Sistema de Armazenamento de Energia SEB – Sistema Elétrico Brasileiro SEP – Sistemas Elétricos de Potência SIN – Sistema Integrado Nacional TIR – Taxa Interna de Retorno VPL – Valor Presente Líquido 13 1. INTRODUÇÃO Este é um trabalho realizado e apresentado como partes dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Neste capítulo introdutório é feita uma contextualização do trabalho e os temas que este aborda de maneira geral, além de apresentar sua estrutura, seus objetivos, limites e limitações. 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO O armazenamento de energia é um segmento do setor elétrico que vem crescendo e tornando-se cada vez mais viável com o surgimento das redes elétricas inteligentes. Mesmo com suas principais tecnologias em desenvolvimento, o armazenamento de energia desempenha papel importante na integração de fontes renováveis intermitentes de energia e nos demais segmentos do setor elétrico. (Silva & Bortoni, 2016) Ademais, os Sistemas de Armazenamento de Energia (SAEs) têm sido cada vez mais utilizados por unidades comerciais e industriais, visando reduzir o consumo no horário de pico de demanda, em que a tarifa de energia é mais alta, reduzindo, assim, os custos com energia elétrica dessas instalações. (Silva & Bortoni, 2016) O presente trabalho visa esclarecer se a implementação desses sistemas em unidades comerciais, conectadas em média tensão, torna-se viável a partir da economia gerada por essa redução de consumo no horário de pico, considerando todo o investimento, custos e despesas necessárias para sua instalação e operação. Esse trabalho está estruturado em capítulos. No capítulo 1 são apresentados o contexto relacionado a esse trabalho e sua estrutura, além de seus objetivos, limites e limitações. No capítulo 2 é apresentada a metodologia de pesquisa, suas principais classificações e a divisão de seu trabalho. No capítulo 3 é visto um resumo das principais características do setor elétrico brasileiro, desde a geração, passando pela transmissão, até chegar na distribuição ao consumidor final. No capítulo 4 é visto um breve resumo sobre tarifas de energia elétrica, abordando a composição das tarifas e as classes e subclasses que diferenciam os consumidores. 14 No capítulo 5 são apresentados diversos pontos relacionados ao armazenamento de energia, começando pela definição do mesmo e dos principais conceitos relacionados a este e empregados neste documento. Posteriormente é realizada uma breve análise sobre a situação do armazenamento de energia no Brasil e no mundo, suas aplicações e benefícios. No capítulo 6 são abordadas as principais tecnologias de armazenamento de energia existentes no mundo, sendo estas divididas em quatro grupos e tendo apresentadas suas principais características. Por fim é realizada uma comparação entre as mesmas para justificar a escolha do sistema que será detalhado nesse trabalho. No capítulo 7 é visto com maior detalhamento as baterias de lítio-íon, sendo apresentado seu histórico e funcionamento, o nível dessa tecnologia no Brasil e no mundo, além de abordar de maneira geral seus componentes, instalação, operação e como este realiza a arbitragem tarifária. No capítulo 8 são apresentados os principais métodos de avaliação econômica de forma resumida, sendo posteriormente realizada uma comparação paradefinir o método a ser utilizado nesse trabalho. No capítulo 9 é detalhado o método do Fluxo de Caixa Descontado, assim como especificado outros conceitos importantes e os indicadores econômicos utilizados para avaliação. No capítulo 10 é apresentado o estudo de caso, definindo premissas técnicas importantes do sistema como a potência instalada e a capacidade de armazenamento, posteriormente sendo realizados cálculos dos fluxos de energia envolvidos na operação do sistema. No capítulo 11 são calculados o investimento inicial, benefício bruto e custos operacionais referentes a cada um dos cenários. Posteriormente, com esses dados bem explicados, são expostas a Demonstração Financeira, o Fluxo de Caixa Operacional, o Fluxo de Caixa dos Ativos e os indicadores econômicos para cada cenário estudado. No capítulo 12 é apresentada a conclusão do trabalho. 1.2. OBJETIVOS DE ESTUDO Os objetivos desse trabalho podem ser divididos em objetivo geral e objetivo específico, conforme definições abaixo. 15 1.2.1. OBJETIVO GERAL Realizar um estudo de viabilidade econômica de novas tecnologias no setor de energia. Para esse estudo, objetiva-se analisar as principais tecnologias de armazenamento de energia existentes, bem como as modalidades de análise econômica desse tipo de tecnologia. 1.2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO Analisar a viabilidade econômica da instalação, em unidades consumidoras comerciais, de um SAE específico, referente àquele baseado no uso das baterias de lítio-íon. 1.3. LIMITES DO ESTUDO Este trabalho é limitado à análise de viabilidade econômica de um sistema de baterias lítio-íon, considerando as premissas adotadas na modelagem financeira, tais como: tarifas de energia praticadas pelas distribuidoras selecionadas e custos estimados obtidos para o sistema e sua integração com a rede. O estudo menciona, de forma resumida, os principais SAEs existentes no mundo, porém estes são apresentados apenas para comparar suas características técnicas e justificar a escolha do sistema principal que será analisado. Sendo assim, o maior detalhamento e análise econômica de qualquer outro sistema de armazenamento, que não o de baterias lítio-íon, está fora do escopo deste documento. Neste trabalho não será abordado de forma profunda os impactos ambientais e medidas de descarte adequadas das baterias em questão. 1.4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Este trabalho tem como principais limitações o acesso à conteúdos mais detalhados, devido a muitos artigos relacionados ao assunto em questão serem pagos ou exigirem contas em plataformas privadas e; o preço de custo de equipamentos, instalação e operação serem estimados a partir de documento técnico de um fabricante internacional, já que não foi realizada cotação com vários fornecedores por exigir especificação técnica detalhada de componentes e que não é objetivo deste trabalho. 16 2. METODOLOGIA DE PESQUISA Neste capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa e suas principais classificações. Posteriormente é apresentada a divisão do trabalho, abordando as etapas de pesquisa deste. 2.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA As pesquisas podem ser classificadas, de acordo com seus objetivos, em quantitativas e qualitativas. Uma pesquisa quantitativa considera hipóteses especificadas e variáveis definidas, buscando precisão e evitar discrepâncias entre as etapas de análise e interpretação de dados. O principal foco desse tipo de pesquisa é a medição e a quantificação de resultados. (Godoy, 1995) Enquanto isso, a pesquisa qualitativa considera questões mais amplas, que vão se definindo com o desenvolvimento do estudo, sendo assim esse tipo de pesquisa não utiliza ferramentas estatísticas para análise de dados, nem mesmo mede os eventos estudados. (Godoy, 1995) Este trabalho utiliza uma pesquisa quantitativa, já que a mesma é baseada em hipóteses especificadas e variáveis definidas que geram um modelo de análise econômica do projeto estudado, ao mesmo que busca a precisão e uma efetiva interpretação de dados. Quanto aos fins, esta pesquisa pode ser classificada como exploratória, visto que, segundo Gil (1999), possui a finalidade de analisar exemplos que estimulem a compreensão do assunto abordado, assim como esclarecer e desenvolver conceitos e ideias para a formulação de abordagens futuras do mesmo. A pesquisa pode ser classificada como bibliográfica quanto aos meios de investigação e classificação, de acordo com Vergara (2003), visto que é desenvolvida com base em material publicado em artigos de periódicos, livros, revistas, publicações, etc., ou seja, material acessível pela internet ao público em geral. 2.2. ETAPAS DE PESQUISA Conforme demonstrado na figura 1, inicialmente foram definidos os objetivos do trabalho e posteriormente a metodologia de pesquisa. Sendo assim, foram feitas pesquisas relacionadas ao Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) e ao armazenamento de energia, visando entender melhor os assuntos abordados, para posteriormente haver uma análise qualitativa que focou nas tecnologias de armazenamento de energia existentes e suas características 17 para determinar que tipo de sistema seria estudado de forma mais profunda e consequentemente analisado quantitativamente. Figura 1 - Fluxograma de organização do trabalho Fonte: Elaboração própria Definido o sistema de baterias de lítio-íon como objeto a ser analisado, a pesquisa literária continuou de forma mais profunda para esse sistema, definindo suas características técnicas, composição do sistema e custos. De forma similar se seguiu para os métodos de análise econômica, que tiveram uma pesquisa realizada para comparação dos mesmos e escolha do melhor método a ser empregado para o caso estudado. Definido o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD), este foi aprofundado e explicado de forma mais detalhada. Em seguida, foram levantados os dados quantitativos necessários para a correta aplicação do método de análise econômica selecionado, utilizando-se um fornecedor estrangeiro como referência para os custos de instalação e operação de um sistema de 18 baterias lítio-íon, o site da Receita Federal para cálculo dos tributos federais incidentes, a inclusão dos impostos estaduais para obtenção do valor total final do projeto, além das tarifas de energia aplicadas para consumidores conectados em média tensão para cada uma das três distribuidoras selecionadas para a aplicação do modelo financeiro. Posteriormente, foi estruturado o modelo financeiro a partir do método do FCD com os dados quantitativos levantados, obtendo-se, assim, os indicadores estabelecidos para a análise econômica do projeto em cada uma das distribuidoras. Os indicadores foram analisados para que fossem tomadas as conclusões a respeito do sistema estudado. 19 3. O SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO O SEB se divide em três principais segmentos: a geração, a transmissão e a distribuição de energia. Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil conta, em setembro de 2017, com 4.710 empreendimentos em operação, que somam uma potência instalada de 153.814.820 kW (quilowatts). Além das unidades geradoras espalhadas pelo país, o Brasil importa energia do Paraguai, tendo em sua matriz energética a potência instalada de 8.170.000 kW em referência a essa importação. A composição da matriz energética brasileira pode ser visualizada na figura abaixo: Figura 2 - Gráfico da Matriz Energética Brasileira Fonte: Elaboração própria Dessa maneira, a matriz energética brasileira é formada em sua maioria pela geração hídrica com 61,35% da potência total instalada, seguida dos combustíveis fósseis que representam 16,62%, biomassa (8,75%), eólica (6,90%), importação (5,04%), nuclear (1,23%) e solar (0,11%). O Atlas deEnergia Elétrica do Brasil, publicado pela ANEEL em 2008, destaca que a transmissão de energia elétrica no Brasil é feita através de sistemas compostos pelas usinas (unidades geradoras), linhas de transmissão e ativos de distribuição. Esses sistemas fazem parte do chamado Sistema Interligado Nacional (SIN) e, quando não há interligação total são chamados de Sistemas Isolados. O SIN abrange a maior parte do território brasileiro, 20 realizando o atendimento da demanda das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Já os Sistemas Isolados são sistemas de menor porte que não se conectam ao SIN, concentrados, em sua maioria, na região Amazônica. Essa divisão se deve às características geográficas de cada região do país, que determinaram a forma com que os sistemas de geração, transmissão e distribuição se desenvolveram e, consequentemente, a facilidade de acesso à energia elétrica pelas respectivas populações dessas localidades. No caso da região Amazônica, por exemplo, as características de vegetação e presença de rios dificultam a construção de linhas de transmissão no local, fazendo com que a mesma não se conecte ao SIN, caracterizando-se, assim, pela presença dos Sistemas Isolados. A conexão e o atendimento ao consumidor, independentemente do tamanho do consumo, são realizados pelas distribuidoras de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural. Segundo a agência existem, hoje, 64 concessionárias de energia elétrica atuantes no Brasil, além das 126 cooperativas de eletrificação rural. As cooperativas atendem aproximadamente seiscentos mil consumidores em mais de 1.400 municípios em todo o país, enquanto que o restante das unidades consumidoras é atendido pelas distribuidoras. Dentre as distribuidoras atuais observam-se empresas privadas, privatizadas, municipais, estaduais e federais. Em muitas das empresas privadas há a presença de investidores nacionais e estrangeiros. (ANEEL, 2008) A ANEEL, através da mesma publicação, define as distribuidoras como grandes empresas que recebem das companhias de transmissão toda energia elétrica para abastecer o país, tornando-se assim, no elo entre o setor de energia elétrica e a sociedade brasileira. Nas linhas de transmissão, após deixar a unidade geradora, a energia elétrica trafega em tensão que varia de 88 a 750 Kv (quilovolts), chegando às subestações das distribuidoras, onde a tensão é rebaixada e, por meio de um sistema composto por fios, postes e transformadores, chega à unidade consumidora em 127 ou 220 volts (V). Exceção a essa regra são as unidades consumidoras de média e alta tensão, geralmente unidades industriais que operam com tensões mais elevadas (entre 2,3 kV e 88 kV) em suas linhas de produção e recebem energia elétrica diretamente da subestação da distribuidora. 21 4. TARIFAS DE ENERGIA As distribuidoras de energia emitem mensalmente faturas com os registros do consumo de energia elétrica, em quilowatt-hora (kWh), pela unidade consumidora no mês anterior. Fazem parte do valor da energia elétrica três componentes: a tarifa de energia, os encargos do setor elétrico (embutidos na tarifa) e o tributos determinados por lei. (ANEEL, 2008) Segundo a ANEEL, em sua publicação “Atlas de Energia Elétrica do Brasil” de 2008, a tarifa de energia elétrica no país era, até o início da década de 90, única, garantindo a remuneração das concessionárias de forma independente de seu nível de eficiência, ou seja, não havia incentivo pela busca por eficiência por parte das distribuidoras. Em 1993, uma nova lei determinou que as tarifas passariam a ser fixadas por cada distribuidora, conforme as características específicas de cada área de concessão. Dentre essas características é possível citar o número de consumidores, os quilômetros de rede de transmissão e distribuição, custo da energia comprada e tributos estaduais, entre outros. Para aplicação das tarifas de energia elétrica, as unidades consumidoras são identificadas por classes e subclasses, sendo as primeiras dividas em: residencial, industrial, comercial e serviços, rural, poder público, iluminação pública, serviço público e consumo próprio. Cada classe possui uma estrutura tarifária diferente, respeitando suas peculiaridades de consumo e de demanda de potência. Sendo assim os consumidores podem ser de média/alta tensão ou baixa tensão, definidos, para fins de cobrança tarifária, da seguinte forma: (ANEEL, 2008) • Média/Alta Tensão A1 – tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV A2 – tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV A3 – tensão de fornecimento de 69 kV A3a – tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV A4 – tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV AS – tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV atendida a partir de sistema subterrâneo de distribuição • Baixa Tensão B1 – residencial e residencial de baixa renda B2 – rural, cooperativa de eletrificação rural e serviços públicos de irrigação 22 B3 – demais classes B4 – iluminação pública Para os grupos conectados na baixa tensão (B1, B2, B3 e B4), a tarifa de energia elétrica é monômia, ou seja, esta é composta por preços aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa, no caso desses grupos, ainda, o valor da tarifa é único, sendo independente do horário de consumo. Já para os grupos conectados na média/alta tensão (A1, A2, A3, A3a, A4 e AS), aplica-se a tarifa de energia binômia, sendo essa estrutura composta por preços aplicáveis ao consumo de energia elétrica ativa (tarifas horárias) e demanda faturável. (Light SESA, 2017) Ainda segundo o website da Light SESA, as tarifas horárias podem ser definidas como a aplicação de diferentes tarifas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de acordo com o horário de utilização durante o dia e também com determinados períodos do ano. As tarifas horárias se dividem em: verde e azul. No caso da tarifa verde, esta é opcional para unidades consumidoras com fornecimento de tensão inferior a 69 kV e é composta por dois valores diferentes para o consumo de energia (R$/kWh), valores estes que variam de acordo com o horário do dia, são os horários de ponta (período de 3 horas do dia, com a definição dos horários por cada distribuidora) ou fora de ponta, além de um valor fixo para qualquer nível de potência contratada. (Light SESA, 2017) Já a tarifa azul, de acordo com o website da distribuidora do Rio de Janeiro, esta é obrigatória para unidades consumidoras com fornecimento de energia em tensão igual ou superior à 69 kV e opcional para tensão abaixo desse limite. Esta aplica diferentes tarifas para os horários de ponta e fora de ponta tanto para a demanda de potência como para o consumo de energia. No caso desse trabalho, será avaliada uma unidade consumidora conectada na média/alta tensão, A4, sendo, esta, classificada como unidade comercial. Além disso, será considerada a premissa de que esta unidade consumidora é atendida pela Tarifa Verde como tarifa horária padrão. 23 5. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA No presente capítulo são definidos conceitos básicos relacionados ao armazenamento de energia, além de realizada uma análise sobre a situação do armazenamento de energia no Brasil e no mundo e apresentadas suas aplicações e benefícios. 5.1. DEFINIÇÃO Segundo McLarnon & Cairns (1989), o armazenamento de energia elétrica refere-se ao processo de conversão de energia elétrica de uma rede de energia em uma forma que pode ser armazenada para ser convertida de volta para energia elétrica quando necessário. Esse processo permite que a eletricidade seja produzida em tempos de baixa demanda, baixo custo de geração ou de fontes de geração de energia intermitentes para ser usado em momentos de alta demanda, alto custo de geração ou quando não há outros meios de geração disponíveis. (McLarnon& Cairns, 1989) 5.2. OUTRAS DEFINIÇÕES IMPORTANTES A definição de alguns conceitos se faz importante para o melhor entendimento deste trabalho, seguindo abaixo os de maior destaque: Energia: é a unidade de medida fundamental dos sistemas elétricos de potência (SEP). A função fundamental dos SEP é converter a energia primária, seja ela mecânica, térmica, química ou de outros tipos, em energia elétrica, para assim transmiti-la e distribui-la. Tem como unidade de medida o Joule (J) ou Wh (Watt- hora). O conceito de energia é importante para as tecnologias de armazenamento de energia pois define o tamanho do sistema. (Bueno & Brandão, 2016) Potência: é uma medida da taxa de transferência de energia. Podemos expressá- la como a quantidade de energia transferida por unidade de tempo, sendo sua unidade o W (Watt = J/s). O conceito de potência é importante para as tecnologias de armazenamento de energia pois define a tecnologia mais adequada para suprir a demanda de potência da carga. (Bueno & Brandão, 2016) 24 Eficiência: mede o trabalho útil realizado a partir da energia absorvida pelo dispositivo. Para SAEs deve ser entendida como a quantidade de energia entregue na fase de descarga, ou seja, a energia elétrica que sai do sistema, em relação à energia absorvida pelo sistema na fase de carga, ou seja, a energia elétrica que entra no sistema. Em ambos os processos de carga e descarga há perda de energia. (Bueno & Brandão, 2016) Densidade de energia: é a quantidade de energia armazenada no sistema dividida pelo peso ou volume do dispositivo de armazenamento (W/kg ou W/litro). O volume e peso considera todo o sistema de armazenamento, incluindo o elemento de armazenamento de energia, acessórios, estruturas de suporte e o sistema inversor. (Chen et al., 2008) Ciclo carga-descarga: pode ser definido como o ciclo que vai desde o processo de carga com a entrada de energia elétrica no dispositivo, onde essa é convertida em outro tipo de energia e armazenada, até o processo de descarga que se caracteriza pela conversão da energia armazenada novamente em energia elétrica para utilização pelo consumidor. (Bueno & Brandão, 2016) Ciclo de vida: se refere ao número de ciclos (operações) de carga e descarga ao qual foi submetido o SAE até que o mesmo se torne ineficaz de realizar as funções as quais foi designado (definida de acordo com a especificação de cada sistema). (Bueno & Brandão, 2016) 5.3. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO MUNDO Segundo Bueno & Brandão (2016), o armazenamento de energia elétrica e a aplicação de sistemas que realizam esse processo é uma tendência mundial, visto que proporciona benefícios para o setor elétrico desde a geração até o consumo. De acordo com o relatório Energy Storage Trends and Opportunities in Emerging Markets, publicado pelos autores Gauntlett & Eller em 2017, as principais tendências mundiais relacionadas ao armazenamento de energia atualmente são: a queda de custos das tecnologias, que fazem com que os SAEs continuem a ser uma alternativa econômica ou um componente da infraestrutura da rede elétrica, e o crescimento das fontes de geração 25 intermitentes, que trazem consigo o crescimento do mercado de armazenamento de energia, visto que viabilizam uma melhor operação destas fontes de geração. Ao mesmo tempo, existem muitas particularidades quanto às tendências e o desenvolvimento da indústria e de estudos voltados para o mercado de armazenamento de energia, variando de país para país por todo o planeta, principalmente para economias emergentes. As especificidades de cada mercado, como as aplicações que os SAEs terão e os tipos de tecnologias mais adequadas para eles, dependerão de alguns fatores como a combinação de recursos de geração de energia existentes (principalmente os de energias renováveis intermitentes), a existência de SAEs já em operação, a estabilidade e confiabilidade da rede elétrica do país e as estruturas de custos de eletricidade para os consumidores no local. (Gauntlett & Eller, 2017) Ainda segundo Gauntlett & Eller (2017), a maior parte da atividade no mercado de armazenamento de energia até o momento está centrada em países e regiões selecionados, principalmente com economias bem desenvolvidas e em mercados de energia com marcos regulatórios favoráveis para extrair valor para projetos de armazenamento. Há várias lições e melhores práticas que podem ser aprendidas com o setor nessas áreas, e o desenvolvimento limitado que já ocorreu em economias emergentes pode ser analisado também. 5.4. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO BRASIL De acordo com Bueno & Brandão (2016), o único SAE de grande porte no Brasil é a Usina Elevatória de Pedreira, cuja potência é de 20.000 kW. Esta foi a primeira usina hidrelétrica reversível do mundo, tendo sido construída no estado de São Paulo, inaugurada em 1939 e operada, desde então, pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE). A usina iniciou sua operação com apenas uma unidade reversível, possibilitando o funcionamento da mesma tanto como geradora de energia como bomba. Posteriormente, foram instaladas outras sete unidades, seis destas reversíveis e uma apenas como bomba, que totalizam as oito unidades até hoje. O SEB apresenta um conjunto de fatores que apontam para a importância do armazenamento de energia para o país, tais como sua alta capacidade instalada, o número de unidades consumidoras (mais de 77 milhões) e o crescimento das fontes de geração intermitentes eólica e solar fotovoltaica com políticas tributárias e regulações favoráveis. Além disso, o SIN demanda tecnologias de controle de ponta de carga, assim como os Sistemas Isolados podem se beneficiar bastante com os SAEs integrados às fontes de geração de energia renovável intermitentes. (Bueno & Brandão, 2016) 26 A importância desse tema para o SEB e a necessidade de desenvolvimento do mesmo foi demonstrada no mês de março de 2017 quando a ANEEL aprovou 23 projetos (11 aprovados diretamente e outros 12 com recomendações) de P&D submetidos à chamada pública “P&D Estratégico nº21/2016 – Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro”. A chamada teve como objetivo o desenvolvimento de projetos para avaliação e inserção de SAEs no setor elétrico brasileiro, criando, ao mesmo tempo, condições para desenvolvimento de base tecnológica no Brasil, bem como infraestrutura para produzir esses equipamentos nacionalmente e também a constituição de patentes. Os projetos aprovados abrangem variados tipos de tecnologia de armazenamento de energia, como baterias de lítio-íon e chumbo ácido, usinas reversíveis, armazenamento por hidrogênio e por ar comprimido. (ANEEL, 2017) 5.5. APLICAÇÕES E BENEFÍCIOS A cadeia de valor tradicional do setor de eletricidade constitui-se de cincos segmentos: fonte de energia, geração, transmissão, distribuição e serviço de energia ao consumidor. Ao fornecer energia quando necessária, os SAEs tornam-se o sexto segmento, integrando os segmentos existentes e criando um mercado mais responsivo. (Makansi & Abboud, 2002) As possíveis aplicações dos SAEs são muitas e variadas, podendo abranger desde os sistemas de maior escala (geração e transmissão), até aqueles relacionados à rede de distribuição e ao consumidor final. (Baker & Collinson, 1999) Algumas aplicações são resumidas abaixo: Geração e Fontes de Energia Renovável Intermitentes: unidades geradoras solares e eólicas tem suas gerações de energia flutuantes, com a maior parte da energia gerada em momentos de baixa demanda, dessa forma os SAEs dão suporte a essas unidades geradoras armazenando a energia gerada e liberando- a quando necessária, nos horários de maior demanda. Ademais, fontes de energia solar e eólica são muito utilizadas em áreas remotas que são malatendidas ou não possuem sistemas de transmissão e distribuição de energia, sendo assim, é importante a aplicação dos SAEs de forma que a energia seja armazenada nos períodos de geração para utilização pela população dessas localidades quando necessária. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) Por último, essas fontes de energia se presentes em escala significativa em 27 determinadas redes podem causar desequilíbrios entre geração e carga justamente devido às suas características de intermitência e variabilidade na geração de energia. Esse problema pode ser solucionado com SAEs que oferecem uma resposta imediata a tais desequilíbrios. (National Energy Technology Laboratory, 2008) Transmissão e Distribuição: neste segmento, os SAEs podem ser aplicados visando dar estabilidade ao sistema, mantendo todos os componentes em uma linha de transmissão em operação síncrona entre si, reduzindo as oscilações de potência (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) e dando suporte quanto à frequência da rede de distribuição, evitando qualquer súbito desequilíbrio de carga/geração grande, o que mantém um equilíbrio de estado de frequência evitando possíveis danos a equipamentos elétricos. (Makansi & Abboud, 2002). Além disso, a aplicação desses sistemas adia a necessidade de instalações de transmissão adicionais, através das instalações já existentes e suplementares. (Chen et al., 2008) Serviços de Energia: aplicam-se os SAEs no gerenciamento de energia, deslocando a demanda de energia de uma hora do dia para outra, o que gera também economia ao consumidor final. (Makansi & Abboud, 2002). Ademais, o armazenamento de energia melhora a qualidade dos serviços elétricos ao cliente, mitigando problemas relacionados às mudanças de magnitude e forma de tensão e corrente, fornecendo energia elétrica sem quaisquer oscilações ou interrupções e também aumenta a confiabilidade no fornecimento de energia elétrica. (Rebours & Kirschen, 2005). Além disso, para os autoprodutores de energia, o armazenamento de energia pode ser aplicado visando armazenar energia gerada no horário de fora ponta (preço de energia mais barato) para utilização durante o horário de ponta (preço de energia mais caro). (Makansi & Abboud, 2002) 28 6. SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA Pode-se observar no mundo, hoje, diversos tipos de SAE, cada um em seu estágio de maturidade, seja em relação a pesquisas ou aplicações comerciais. Durante o processo de carga, os SAEs convertem energia elétrica em outra forma de energia armazenável como química, mecânica ou térmica. Já no processo de descarga a energia armazenada é transformada em energia elétrica. (Bueno & Brandão, 2016) Ainda de acordo com Bueno & Brandão (2016) no relatório “Visão Geral de Tecnologia e Mercado para Sistemas de Armazenamento de Energia Elétrica no Brasil”, A eficiência de um sistema de armazenamento é determinada pelas perdas energéticas ocorridas no processo de carga e descarga. Independentemente do tipo de sistema, em todos há perda de energia. Na Figura 3 é possível observar a divisão dos diferentes SAEs quanto à sua tecnologia e princípio de armazenamento e escala de tempo característica de aplicação. A escala de tempo indica, basicamente, o tempo característico para carga e descarga do sistema. (Fuchs et al., 2012). Cada uma dessas tecnologias é vista nos próximos tópicos. Figura 3 - Classificação das tecnologias de sistemas de armazenamento de energia Fonte: Technology Overview on Electricity Storage – Fuchs et al., 2012 29 6.1. SISTEMAS ELÉTRICOS 6.1.1. SUPERCAPACITORES Os supercapacitores são dispositivos elétricos que consistem em duas placas de metal carregadas de forma oposta e separadas por um isolador. Esse sistema armazena energia aumentando a acumulação de carga elétrica nas placas de metal e descarregando energia quando as cargas elétricas são liberadas por essas placas. A principal aplicação dos supercapacitores é para curta duração, como, por exemplo, fornecer energia de backup durante interrupções breves. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) Os principais pontos negativos no desenvolvimento de supercapacitores são os elevados custos e sua baixa densidade de energia. Já seu principal ponto positivo é sua alta eficiência. (Fuchs et al., 2012) 6.1.2. SISTEMAS DE SUPERCONDUTIVIDADE MAGNÉTICA Esse sistema consiste em uma bobina com muitos enrolamentos de fio supercondutor que armazena e libera energia com aumentos ou diminuições na corrente elétrica que flui através do fio. A energia é adicionada ou extraída do campo magnético do indutor aumentando ou diminuindo a corrente nos enrolamentos. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) Os sistemas de supercondutividade magnética possuem alta confiabilidade e necessitam de baixa manutenção, especialmente por seus principais componentes serem imóveis. Apesar disso, esses dispositivos exigem sistemas de refrigeração, apresentando consumo de energia elevado. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) Os principais pontos negativos associados a esses dispositivos são seu alto custo de implementação e os problemas ambientais associados ao campo magnético. (Chen et al., 2008) 6.2. SISTEMAS MECÂNICOS 6.2.1. BOMBEAMENTO REVERSO O SAE por bombeamento reverso consiste de dois reservatórios de água interconectados e localizados em diferentes alturas, como por exemplo o lago de uma montanha e o lago de um vale. Turbinas reversíveis (funcionam como turbinas e bombas) são utilizadas junto a motores síncronos (funcionam como geradores) bombeando água do 30 reservatório inferior até o reservatório superior durante o processo de carga, enquanto que essa mesma turbina é ativada com a queda d’água no processo de descarga, iniciando o processo de geração de energia. O montante de energia armazenada, nesse caso, é proporcional ao produto da massa total de água pela diferença de altura entre os reservatórios. (Fuchs et al., 2012) Para esse sistema, as perdas ocorrem em ambos os ciclos de carga e descarga, com perdas elétricas nos motores-geradores, mecânicas nas bombas-turbinas, além de perdas por evaporação e infiltração do solo (variam muito em função das características climáticas e geológicas da região em questão). (Bueno & Brandão, 2016) 6.2.2. SISTEMAS DE AR COMPRIMIDO De acordo com Fuchs et al. (2012), o processo de carga do sistema de ar comprimido consiste na compressão do ar através de um compressor acionado por um motor, no qual o ar esquenta durante o processo de compressão e o calor é removido por um radiador. Dessa maneira, a energia é armazenada em forma de ar comprimido geralmente em cavernas subterrâneas, tendo em seu processo de descarga a expansão do ar, resfriando-o e posteriormente sendo este aquecido pela queima de combustível convencional ou biocombustíveis para, então, acionar a unidade geradora (turbina-gerador) que gera energia elétrica. 6.2.3. SISTEMAS “FLYWHEEL” OU VOLANTE DE INÉRCIA Esses sistemas armazenam energia mecânica (cinética) no momento de inércia de um volante, também chamado de massa girante. Dessa forma, a energia armazenada é proporcional ao momento de inércia da massa girante e ao quadrado da sua velocidade angular, o que justifica a utilização de grandes massas e elevadas velocidades angulares. (Bueno & Brandão, 2016) Nos sistemas flywheel, um motor é utilizado para acelerar o volante durante o processo de carga, sendo a energia armazenada em forma de energia cinética rotacional, tendo que o volante se manter girando até a energia ser requisitada. Já no processo de descarga, a energia cinética é extraída por um gerador impulsionado pela inércia do volante, resultando em uma desaceleração da massa girante. (Fuchs et al., 2012) Fuchs et al. (2012) destaca como principais pontos positivos relacionados a esse sistema os baixos custos de manutençãoe sua capacidade de carga rápida. Quanto aos 31 pontos negativos destacam-se a baixa densidade de energia, suas perdas energéticas e alguns problemas de segurança. 6.3. SISTEMAS TÉRMICOS Sistemas que armazenam energia na forma térmica e em baixas diferenças de temperatura são simples e baratos, não exigindo qualquer tipo de tecnologia complexa. Ao mesmo tempo, o processo de conversão da energia térmica para outro tipo de energia é de extrema complexidade, apresentando baixa eficiência e necessitando de altas diferenças de temperatura para melhorar seu desempenho. (Bueno & Brandão, 2016) Já os sistemas térmicos de armazenamento de energia que trabalham com elevadas diferenças de temperatura são extremamente caros e complexos em relação a sua tecnologia e operação. Além disso, esse sistema está em fase de estudo atualmente, com poucas instalações existentes no mundo e todas elas em fase experimental. Seu tempo para entrada no mercado deve variar de acordo com a quantidade de componentes que o compor. (Fuchs et al., 2012) O princípio de funcionamento dos sistemas térmicos de alta temperatura é a geração de calor em elevada temperatura por uma aquecedor elétrico no processo de carga, armazenando-o em armazenadores térmicos como sal fundido (meio mais utilizado) por exemplo. No processo de descarga o calor é extraído do armazenamento térmico gerando vapor que aciona o conjunto turbina-gerador, gerando energia elétrica. (Fuchs et al., 2012) Como principais pontos positivos estão a possibilidade de implantá-lo em larga escala e sua densidade de energia. Quanto aos pontos negativos destacam-se sua baixa eficiência e o fato de apenas sistemas de grande porte serem viáveis. (Fuchs et al., 2012) 6.4. SISTEMAS QUÍMICOS 6.4.1. BATERIAS DE LÍTIO-ÍON As baterias de lítio-íon são compostas por um eletrodo positivo e outro negativo, além do eletrólito que é constituído de sais de lítio dissolvidos em carbonatos orgânicos. Durante o processo de carga os íons de lítio se movem do eletrodo positivo para o negativo, sendo intercalados nas camadas de grafite. Já no processo de descarga, os íons de lítio se movem para o eletrodo positivo onde são intercalados na estrutura de cristal. (Fuchs et al., 2012) O relatório “Technology Overview on Electricity Storage” de Fuchs et al. (2012) destaca que as principais aplicações das baterias de íons de lítio são em armazenamentos 32 de energia a médio e curto prazo, sendo assim, tem sido uma tecnologia importante na área de eletrônicos portáteis durante os últimos anos. Além disso, esses dispositivos também vendo sendo utilizados em veículos elétricos e como SAEs residenciais. Ademais, essas baterias são uma opção interessante para aplicações estacionárias, como a instalação junto às redes de distribuição de energia. Esses dispositivos têm como principais vantagens sua alta densidade de energia, longo ciclo de vida e elevada eficiência. Ao mesmo tempo, seus custos elevados e a necessidade por um sistema de monitoramento sofisticado são suas principais desvantagens. (Fuchs et al. 2012) 6.4.2. BATERIAS CHUMBO-ÁCIDO As baterias de chumbo-ácido foram inventadas em 1859, sendo os dispositivos eletroquímicos recarregáveis mais antigos e usados no mundo. Uma bateria de chumbo-ácido tem, em sua composição, eletrodos (no estado carregado) de metal de chumbo e óxido de chumbo em um eletrólito composto de ácido sulfúrico. No estado descarregado, ambos os eletrodos se transformam em sulfato de chumbo e o eletrólito perde seu ácido sulfúrico dissolvido, tornando-se principalmente água. (Chen et al., 2008) A bateria de chumbo ácido tem um custo relativamente baixo e uma alta confiabilidade e eficiência. Sua aplicação para gerenciamento de energia, no entanto, tem sido muito limitada devido à sua curta vida útil e a baixa densidade de energia causada principalmente pela alta densidade inerente de chumbo. Além disso, esse tipo de bateria também apresenta desempenho ruim em baixas temperaturas necessitando de um sistema de gerenciamento térmico. Mesmo assim, as baterias de chumbo-ácido têm sido aplicadas em grande escala por unidades consumidoras comerciais como SAEs, de forma que melhore o gerenciamento da energia. (Chen et al., 2008) 6.4.3. BATERIAS DE ALTA TEMPERATURA Segundo o relatório “Technology Overview on Electricity Storage” de Fuchs et al. (2012), as baterias de alta temperatura têm como principais aplicações o nivelamento de carga em parques eólicos, suprimento em necessidades de energia de emergenciais e utilização em carros e ônibus elétricos. Esse tipo de bateria é pouquíssimo utilizado por ser fabricada em baixas quantidades e em pontos muitos específicos. Hoje em dia, os principais pontos que tem recebido a atenção no desenvolvimento desta tecnologia são os custos e a segurança da bateria. O último, principalmente, por uma bateria deste tipo ter sido incendiada em um projeto 33 específico, o que tem exigido um redesenho do sistema acarretando em um desenvolvimento mais lento desta tecnologia. 6.4.4. BATERIAS DE FLUXO A bateria de fluxo é uma bateria em que o eletrólito contém uma ou mais espécies eletroativas dissolvidas que fluem através de uma célula ou reator de energia na qual a energia química é convertida em eletricidade. O eletrólito adicional é armazenado externamente, normalmente em tanques, e geralmente é bombeado através das células do reator nos processos de carga e descarga. A reação é reversível, permitindo que a bateria seja carregada, descarregada e recarregada. Em contraste com as baterias convencionais, as baterias de fluxo armazenam energia nas soluções eletrolíticas, além disso, elas são capazes de liberar energia continuamente com uma alta taxa de descarga por até dez horas. (Chen et al., 2008) Para essas baterias, o tamanho do tanque determina a capacidade de armazenamento energia e a unidade de reação (pilha de células) determina a potência. Esse tipo de bateria se aplica muito bem em operações técnicas de grande e médio porte, por exemplo, devido a possibilidade de construir tanques maiores com facilidade e eficiência. Os custos de manutenção das baterias de fluxo ainda são altos principalmente pelos vazamentos causados pelos líquidos ácidos utilizados. (Fuchs et al., 2012) 6.4.5. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE HIDROGÊNIO Os SAEs à base de hidrogênio são compostos por um eletrolisador, que converte a entrada de energia elétrica em hidrogênio no processo de carga, um reservatório, que armazena o hidrogênio já comprimido, e um sistema de conversão de energia de hidrogênio, que converte a energia química armazenada no hidrogênio de volta à energia elétrica. Esse sistema de conversão pode ser um sistema de células de combustível ou motores de combustão interna que queimam o hidrogênio. (Chen et al., 2008) Esses sistemas possuem como principais vantagens a alta capacidade de armazenamento, a alta densidade de energia e a possibilidade de ser implementado em uma ampla gama de escalas, desde os quilowatts de potência instalada até os megawatts. (Chen et al., 2008) Por outro lado, as desvantagens deste sistema estão principalmente no fato de haver considerável consumo interno de energia do sistema, o alto custo de implementação e a baixa 34 eficiência de um ciclo carga-descarga completo, principalmente se utilizados motores a gás para geração. (Chalk & Miller, 2006) 6.4.6. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE GÁS NATURAL Esse sistema utiliza metano produzido a partir de hidrogênio e dióxido de carbono em uma reação exotérmica. O metano, principal componente do gás natural, é totalmente compatível com as estruturas existentes de gás natural, podendo ser injetados nas redes sem restrições. Essa compatibilidade é justamente a grande vantagem desse sistema quando comparado ao armazenamento por hidrogênio. Além disso, outro pontopositivo dessa tecnologia é sua capacidade de armazenamento à longo prazo. Apesar dessas vantagens, esse sistema apresenta como principais pontos negativos seus custos periféricos ao armazenamento e a perda de eficiência, visto que o processo produz calor residual que, quando não é utilizado, diminui ainda mais a eficiência do processo em geral. (Fuchs et al., 2012) 6.5. COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS Para realizar a comparação entre os sistemas estudados foram levados em consideração apenas os sistemas que, segundo Fuchs et al. (2012), tem como uma de suas principais aplicações a economia no horário de pico, sendo assim elimina-se da comparação os sistemas de baterias de fluxo, armazenamento de hidrogênio e armazenamento de gás natural. Além disso, foram desconsiderados para método de comparação os sistemas por bombeamento reverso e por ar comprimido, visto que ambos não se adequam à instalação de unidades consumidoras facilmente. O primeiro necessita, para sua implantação, de dois reservatórios de água e o segundo de uma caverna, dessa maneira eliminam-se ambos. As baterias de alta temperatura foram retiradas da comparação por não serem produzidas em grande quantidade, não sendo facilmente adquiridas. Dessa forma, o quadro comparativo elaborado engloba os seguintes SAEs: supercapacitores, supercondutivdade magnética, flywheel, térmico, baterias lítio-íon e baterias de chumbo ácido. A tabela 1 demonstra a comparação entre esses sistemas para posterior análise e decisão de qual sistema deve-se seguir como objeto de estudo neste trabalho. 35 Tabela 1 - Comparação entre os sistemas de armazenamento Método Vantagens Desvantagens Supercapacitores Alta eficiência Custo alto Baixa densidade de energia Supercondutividade Magnética Alta confiabilidade Baixa manutenção Custo alto Problemas ambientais Necessidade de refrigeração Flywheel Baixo custo de manutenção Capacidade de carga rápida Baixa densidade de energia Perdas de energia Problemas de segurança Térmico Alta densidade de energia Possibilidade de implantação em larga escala Baixa eficiência Viabilidade apenas de sistemas grandes Lítio-íon Alta densidade de energia Longo ciclo de vida Elevada eficiência Custo alto Necessidade de sistema de monitoramento sofisticado Chumbo-Ácido Custo baixo Alta confiabilidade Alta eficiência Curto ciclo de vida Baixa densidade de energia Necessidade de sistema térmico Fonte: Elaboração própria Diante das características expostas acima e analisando um sistema que possa ser implantado com facilidade em uma unidade consumidora comercial e seja economicamente viável, prioriza-se a escolha de sistemas com alta densidade de energia, devido ao tamanho do sistema, e alta eficiência, devido à maior geração de benefício tarifário. Dentre estas características, os supercapacitores, os sistemas térmicos e as baterias de chumbo-ácido possuem uma das duas, enquanto que as baterias de lítio-íon possuem ambas. Além disso, pesa a favor dos sistemas de baterias lítio-íon o fato de possuir longo ciclo de vida, o que significa geração de benefício durante um maior período de tempo, tornando o sistema ainda mais viável economicamente. Sendo assim, decide-se por seguir com os sistemas de baterias lítio-íon como objeto de estudo deste trabalho, por este apresentar mais características favoráveis à implantação em unidades consumidoras comerciais. 36 7. SISTEMAS DE BATERIAS ÍON LÍTIO No presente capítulo é visto com maior detalhamento as baterias de lítio-íon, sendo apresentado seu histórico e funcionamento, o nível dessa tecnologia no Brasil e no mundo, além de abordar de maneira geral seus componentes, instalação, operação e como este realiza a arbitragem tarifária. 7.1. HISTÓRICO O lítio foi descoberto em 1817 pelo químico sueco Johan Arfvedson, quando o mesmo analisava uma rocha petalita. Após a descoberta, o pesquisador deu o nome à pedra de “Lithos”, expressão cujo significado é pedra em grego. Alguns anos depois, em 1855, Robert Bunsen (químico alemão) e Augustus Matthiessen (químico e físico britânico), produziram, simultaneamente, grande quantidade de lítio metálico através do processo de eletrólise do sal de cloreto de lítio. As primeiras pesquisas voltadas para o uso do lítio em SAEs ocorreram apenas 150 anos após sua descoberta. (Brodd, 2002) Como principais características atrativas para sua utilização no armazenamento de energia estão o baixo peso do lítio, o que o torna um metal com alta densidade energética e seu elevado potencial eletroquímico. Sendo assim, a primeira publicação sobre a utilização de lítio em baterias se deu em 1958 e a primeira comercialização de baterias que utilizavam lítio como ânodo ocorreu no final da década de 1970 (unidades não recarregáveis), sendo estas não recarregáveis. Posteriormente, a bateria recarregável de lítio foi desenvolvida no ano de 1980, utilizando o ânodo de lítio metálico. Observados problemas na utilização do ânodo na forma metálica, passou a ser utilizado lítio na forma iônica nas baterias recarregáveis. (Rosolem et al., 2012) A primeira bateria recarregável de lítio-íon comercializável foi apresentada pela Sony no ano de 1991. O modelo apresentado pela multinacional japonesa utilizava ânodo de grafite e cátodo de cobalto de lítio. A partir daí, pelo fato das baterias de lítio-íon possuírem alta densidade de energia, sendo assim atraentes para o mercado de equipamentos eletrônicos, como celular, computadores e outros, esse tipo de tecnologia passou a ser mais estudado e desenvolvido mundo afora. (Blomgren, 2016) 7.2. FUNCIONAMENTO O princípio de funcionamento das baterias de lítio-íon é a intercalação iônica, visto que o ânodo e o cátodo desse tipo de bateria são compostos por materiais com propriedades 37 que possibilitam a inserção e extração de íons de lítio de modo reversível entre ambos os eletrodos, tendo elétrons adicionados e removidos pelo circuito externo da bateria simultaneamente. (Rosolem et al., 2012) Ainda segundo Rosolem et al. (2012), não há ocorrência do processo de oxidação e redução pelos íons de lítio da bateria, sendo esses somente inseridos e extraídos dos materiais dos eletrodos. Os processos de oxidação e redução ocorrem em outros materiais que compõem o ânodo e o cátodo, como o grafite, cobalto, etc. (varia de acordo com o tipo de bateria e material utilizado nos eletrodos). No processo de carga dessa bateria, os íons de lítio são extraídos do eletrodo positivo, que se oxida, cedendo um elétron. Posteriormente, tanto os íons de lítio como os elétrons são transportados até o eletrodo negativo, onde iniciam a “fase litiada” que se caracteriza pela inserção de íons de lítio na estrutura do material anódico, reduzindo o estado de oxidação do material. Dessa forma, finalizando o processo de carga, tem-se os materiais ativos em ambos os eletrodos: “fase litiada” no ânodo e “fase deslitiada” no cátodo. Já no processo de descarga, quando acontece justamente a geração de energia, a reação ocorre em sentido inverso. (Rosolem et al., 2012). A figura abaixo ilustra os processos de carga e descarga explicados anteriormente. Figura 4 - Princípios dos processos de carga e descarga em células de lítio-íon Fonte: Technology Overview on Electricity Storage, ISEA - RWTH Aachen University (traduzida) Nas baterias de lítio-íon é possível utilizar um grande número de eletrólitos e combinações de materiais de eletrodos, que levam a diferentes características. Os materiais mais utilizados para compor os eletrodos negativo e positivo são, respectivamente, o grafite e 38 os materiais à base de óxidos metálicos de lítio. Já o eletrólito normalmente é um sul de lítio diluído em solventes orgânicos e embebido em um separador. (Rosolem et al., 2012) 7.3. BATERIAS LÍTIO-ÍON NO BRASIL E NO MUNDO Em reportagemda revista Exame publicada em 2016, a mesma destaca que uma tendência para os sistemas de baterias no geral é a queda do custo dos equipamentos. A revista aponta que o Conselho Mundial de Energia, através de seu relatório divulgado no mesmo ano, indica que o custo de armazenar energia em baterias pode cair até 70 por cento até o ano de 2030. Essa queda se dá pelos avanços tecnológicos que estão reduzindo os custos das baterias, o que pode torná-las cada vez mais atraentes para utilização em escala comercial. O último relatório da empresa Zion Market Research (2017) sobre o mercado mundial de baterias lítio-íon valorou esse mercado em 31.17 bilhões de dólares, prevendo uma taxa de crescimento anual de 13,7% pelos próximos 6 anos, sendo assim esperado uma receita de 67.7 bilhões de dólares ao final de 2022. A América do Norte é a principal região do mercado mundial de baterias de lítio íon, tendo uma demanda crescente devido principalmente ao consumo de smartphones e outros equipamentos eletrônicos. A maior parte dessa participação se deve ao Estados Unidos exercer papel extremamente importante no desenvolvimento futuro dessas baterias. Já a região da Ásia-Pacífico é o outro mercado em rápido crescimento, visto que possui altíssima demanda por baterias de lítio-íon devido ao crescimento da indústria de eletrônicos e do setor automotivo, além de organizações governamentais auxiliarem financeiramente estudos e projetos dessa área. Destacam-se entre os países asiáticos, nesse contexto, China, Japão, Índia e Coréia do Sul. (Zion Market Research, 2017) Enquanto isso, segundo o mesmo relatório, é esperado que o continente europeu tenha um crescimento moderado nesse mercado devido aos avanços tecnológicos relacionados à área e ao crescimento do setor de carros elétricos em alguns países. Já na América Latina, no Oriente Médio e na África, o mercado de baterias de lítio-íon está em um estágio inicial e espera-se um crescimento potencial ao longo do período de previsão de 6 anos. Mais especificamente sobre o Brasil, segundo o website da Itaipu Binacional em notícia publicada no ano de 2015, o principal acontecimento recente relacionado às baterias lítio-íon foi a assinatura, nesse mesmo ano, do acordo de cooperação entre a Itaipu Binacional, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e a empresa inglesa Micra Limited 39 para a instalação de um centro de excelência de pesquisa dessas baterias, algo inédito no país. Sendo assim, espera-se que haja em breve no Brasil a primeira indústria nacional de produção em escala de baterias lítio-íon, focada principalmente na utilização desses dispositivos em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia. 7.4. DESCARTE DE BATERIAS LÍTIO-ÍON As baterias lítio-íon possuem produtos menos agressivos, e consequentemente são menos poluentes, quando comparadas às outras baterias compostas por lítio. Além disso, são muito menos nocivas ao meio ambiente em comparação às baterias compostos por metais pesados como mercúrio, cádmio e chumbo. Ainda assim, cuidados são necessários com as baterias lítio-íon, devendo-se evitar: exposição destas a altas temperaturas, vazamento de líquidos, ondas eletromagnéticas, incineração, impactos mecânicos, além de outras condições anormais de segurança que possam causar riscos de vazamento ou até mesmo explosão da bateria. (Reidler & Günther, 2002) De acordo com Reidler & Günther (2002), o lítio é um metal que reage de forma violenta com a água, liberando hidrogênio, altamente inflamável, podendo causar queimaduras quando em contato com os olhos e a pele. Além disso, o lítio caracteriza-se por ser um metal altamente corrosivo. Os principais efeitos à saúde devido à presença desse elemento químico são: cáustico sobre a pele e mucosas, disfunções renais, respiratórias e neurológicas e teratogênico. Atualmente a legislação brasileira determina que apenas as baterias compostas por cádmio, mercúrio e chumbo possuam procedimento de descarte com coleta, tratamento e disposição final adequada, excluindo a baterias de lítio-íon dessa exigência. Apesar de não ser composta por metais pesados como as anteriormente citadas, as baterias lítio-íon contêm substâncias tóxicas em sua composição, como cobalto e lantanídeos, podendo causar prejuízos à saúde e ao mesmo ambiente. Sendo assim, estas baterias deveriam ser incluídas na regulamentação. (Reidler & Günther, 2002) 7.5. COMPOSIÇÃO, INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE UM SISTEMA DE BATERIAS LÍTIO-ÍON Os componentes mais básicos dos sistemas de baterias de lítio-íon são as células da bateria que são utilizadas para montar os módulos, já estes são montados para formar os Racks de armazenamento de energia. Os Racks, agrupados, formam o sistema de bateria, que por fim é colocado em um container resistente ao clima e gerenciado termicamente, 40 formando um SAE de corrente contínua, que ainda necessita de outros componentes para que se complete um SAE de corrente alternada, para que assim se conecte adequadamente à rede. (Lin & Hoff, 2016). A figura 5 demonstra a composição de um sistema de um fornecedor específico. Figura 5 - Composição de um sistema de baterias de corrente contínua Fonte: Comparing the Upfront Costs of Energy Storage - Lin & Hoff, 2016 (traduzida) Os outros componentes necessários para completar o sistema para corrente alternada são: inversor, transformador, aparelho de distribuição (interruptores, fusíveis, disjuntores, etc.), cabos elétricos e outros condutores. (Lin & Hoff, 2016). Devem ser levados em consideração ainda, um sistema de gerenciamento térmico (aquecimento e resfriamento) e materiais relacionados à preparação do terreno onde será instalado o SAE (cercas, materiais para fundações, iluminação e conexão com a rede elétrica). (Hoff & Lin, 2016) Para a completa instalação do SAE são necessários uma equipe de gerenciamento de projeto e serviços como licenciamento (permissão para instalação e conexão do sistema), engenharia, instalação, testes e comissionamento. Todos esses serviços e seus custos são levados em consideração no investimento inicial do sistema. Já os serviços de operação do 41 SAE englobam manutenção, monitoramento e gerenciamento, energia auxiliar e reparos, gerando custos operacionais para o sistema. (Hoff & Lin, 2016) 7.6. ARBITRAGEM DE TARIFAS A arbitragem tarifária no setor de energia significa obter vantagem com a diferença entre os preços da energia elétrica nos horários de ponta e fora ponta. Dessa forma, o consumidor compra energia no horário de fora ponta, armazenando-a, para utilizá-la posteriormente no horário de ponta, deixando assim de pagar ou reduzindo o pagamento pela tarifa do horário de ponta que é mais cara em todas as bandeiras, classes e distribuidoras de energia. (Bueno & Brandão, 2016). O esquema representativo desta arbitragem tarifária pode ser observado na Figura 6. Figura 6 - Esquema representativo da arbitragem tarifária Fonte: Elaboração própria 42 Como pode ser visto na figura acima, durante o período de horário fora ponta, a unidade consumidora consome energia diretamente da rede durante sua operação e, ao mesmo tempo, carrega seu SAE também demandando energia da rede, sendo assim em ambos os casos a unidade consumidora paga a tarifa de fora ponta da distribuidora de energia local. No caso do período de horário de ponta, conforme o esquema representativo, a unidade consumidora deixa de consumir energia da rede e passar a ser suprida pela energia armazenada anteriormente no SAE até que esta acabe, e assim a unidade consumidora volte a consumir energia da rede pagando a tarifa mais cara referente ao horário de ponta. O SAE, por sua vez, também deixa de consumir energia da rede durante este período, sem fazer qualquer estoque de energia, visto o maior valor de tarifa. 43 8. MODELOS DE
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