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12 Poesia infantil aspectos teóricos

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19/08/2017 AVA UNINOVE
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Poesia infantil – aspectos teóricos
NESTA AULA IREMOS CENTRAR NOSSA DISCUSSÃO E ESTUDO EM UM TIPO DE TEXTO ESSENCIAL PARA
SER ABORDADO DENTRO E FORA DA SALA DE AULA: A POESIA. VERIFICAREMOS SEUS ASPECTOS,
LINGUAGEM, BEM COM A SUA RELAÇÃO COM O UNIVERSO INFANTIL.
Poesia: definição, linguagem e a relação com a criança
A poesia é uma modalidade literária ampla de gênero que remonta a Grécia Antiga. 
O termo poiesis quer dizer fabricar algo artístico, produzir, engendrar. Nos tempos 
mais remotos, os textos literários da Antiguidade Clássica eram produzidos em versos 
e metrificados, e a intenção poética era a busca formal que demonstrasse empenho 
de sonoridade, musicalidade e ritmo. Assim, dos grandes gêneros, além de a poesia 
ser carregada de trabalho formal, é, de fato, a mãe de todas as artes, porque há poesia 
não só na literatura, mas na pintura, na escultura, na música, na arquitetura e, nos últimos séculos, na
fotografia, no cinema, no vídeo, enfim, em todas as artes.
O fazer poético é uma fonte estética por meio da qual toda arte deve beber, água essencial, vital para que a
linguagem artística ou estética fundamente-se, construa-se. 
A poesia infantil situa-se em uma perspectiva didático-pedagógica, mas, na modernidade 
e contemporaneidade, temos tido um esforço para adentrar no universo lúdico infantil, 
para expressar falas e vivências próprias da criança, e a voz do eu-lírico, quando bem trabalhada, expressa-
se no ambiente da criança a envolver o lúdico, o dinâmico, o sensível, 
o natural e o espontâneo, espaços próprios do universo infantil.
Nesse sentido, ler poesia para crianças ou oferecer-lhes poemas que sejam prazerosos torna-se algo
desafiador e ao mesmo tempo uma resposta relevante 
para ajudar a desenvolver, construir e conscientizar a vivência afetiva da criança, 
porque o poético-literário permite alicerçar o mundo sensorial, perceptivo e afetivo delas.
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A linguagem poética infantil é voltada à formação da criança como ser humano 
e cidadão. Autores do século XX como Cecília Meireles, Sidônio Muralha, Vinícius 
de Moraes, José Paulo Paes, Mário Quintana, entre outros, são os mais recomendados 
e representativos dessa nova vertente da poesia brasileira mais voltada à concepção inovadora do retrato
verdadeiro da criança. No entanto, tal poesia sofre a ausência 
de prática em sala de aula, talvez pela dificuldade de o pedagogo ou educador saber trabalhar a leitura, a
compreensão e a interpretação dos poemas, na medida 
em que os sentidos deles se comuniquem a complexos efeitos literários formais, 
ainda que a temática abarque a simplicidade do mundo da criança.
O Colar de Carolina – Cecília Meireles
Com seu colar de coral, 
Carolina 
corre por entre as colunas 
da colina. 
 
O colar de Carolina 
colore o colo de cal, 
torna corada a menina. 
  
E o sol, vendo aquela cor 
do colar de Carolina, 
põe coroas de coral 
  
nas colunas da colina.
O poema que abre a obra Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles (2002, p.13), intitulado "O colar de Carolina"
metaforiza elementos da natureza envolventes na vivência de uma menina. "Colina", "coral", "cal" e "sol" são
objetos vitais que contrastam com os produzidos pelo homem: "colunas", "colar", mais artificiais. O colar
personifica-se e ganha vida, e o poema, de modo sonoro, trabalha as aliterações em "c"  /k/,  "r" /r/ e "l" /l/,
cujo ritmo poético busca a sonoridade e a musicalidade do passeio da menina que atravessa as paisagens
verde e marinha.
Em rimas ricas "Carolina/colina" e cruzadas (abcb/bab), bem como repetições, constrói-se o ritmo poético do
texto, importante recurso para a criança envolver-se nas intenções musicais e sonoras tão ricas criadas no
poema. É o passeio da menina na paisagem mais natural.
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Sugerimos que a leitura do poema possa ser realizada com os alunos a partir 
de um colar simples (de fita, de barbante, de cadarço, de metal simples etc.), para que 
todos os alunos idealizem a leitura como despertar à (re)criação do texto e para evitar 
que o poema seja lido só por meninas, incluímos os meninos também nesse processo 
de leitura. Há, de fato, o jogo lúdico da paranomásia criado na distinção entre "colar" e "coral", justamente a
dividir e destacar os dois mundos do poema: o natural e o artificial.
É o retrato de uma menina na paisagem mais lírica, a colina e o mar, o leitor criança, na leitura, é instigado
a participar do movimento dinâmico de toda criança a brincar, a andar, a passear. Carolina é o retrato da
criança brasileira mais saudável nessa atitude 
e no momento em que opta pelo verso livre ou pelo ritmo poético aberto, cujas assonâncias em "o" /o/ e em
"a" /a/ impulsionam muito mais esse movimento, o poema ganha ainda 
mais força.
São quatro estrofes: na 1ª estrofe, temos um quarteto (conjunto de quatro versos); 
na 2ª, um terceto (conjunto de três versos); na 3ª, outro terceto; na 4ª, um monóstico (conjunto de um
verso).
Seria um poema harmônico se tivéssemos três estrofes, sendo a 1ª e a 3ª dois quartetos e a 2ª um terceto
(4-3-4). Mas a última estrofe quebra (rompe) com a estrutura tradicional do poema, porque temos como se
fosse o correr de Carolina engendrado 
no texto poético, metaforizado em verso, que se desgarra do possível quarteto final e constrói o terceto da
3ª estrofe e o monóstico da última. Trata-se da liberdade de Carolina transfigurada na fluidez formal do
poema de Meireles.
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Jogo de Bola – Cecília Meireles
A bela bola 
rola: 
a bela bola do Raul.
Bola amarela, 
a da Arabela.
A do Raul, 
azul.
Rola a amarela 
e pula a azul.
A bola é mole, 
é mole e rola.
A bola é bela, 
é bela e pula.
É bela, rola e pula, 
é mole, amarela, azul.
A de Raul é de Arabela,
e a de Arabela é de Raul.
Outro poema bem propício à leitura de criança em processo de alfabetização é "Jogo de Bola" (p. 17). A
família das sílabas "ba-be-bi-bo-bu" remonta o clichê "be-a-bá" e também resgata o movimento da bola,
agora não só no gênero feminino, como em "O colar de Carolina", mas no masculino, porque a bola tanto
pode passar nas mãos de Arabela quanto nas de Raul.
As aliterações em "b" /b/ e em "l" /l/, no plano formal, revelam o jogo lúdico da bola 
e essa duplicidade de gêneros que se dissipa no final do poema, ao fundirem-se os dois mundos, o do
menino e o da menina, já mesclados no poema.
A poesia infantil dos autores da literatura moderna apresenta sempre essa qualidade estética, pois
engendra imagens belas, tocantes e move-se, de modo sensível, no mundo 
da criança. Cecília Meireles, tanto quanto outros poetas, busca construir o eu-lírico criança, para falar
diretamente com o leitor infantil, o que significa buscar procedimentos de escrita poética que restituam e
reinstaurem o lado mais perceptivo e sensorial do poema. 
É uma poesia de surpresas, de sensações e, como diz José Paulo Paes, "uma brincadeira com as palavras".
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Distantes do nosso mundo atual (Coelho, 2000, p. 223-225), os poemas moralizantes de Olavo Bilac,
Francisca Julia, Zalina Rolim, entre outros, apresentam visões edificantes, temas do nacionalismo
exacerbado e xenofobia, que ressoam épocas antigas e ditatoriais. Não recomendamos poemas que
infantilizem a criança por meio do (ab)uso do diminutivo 
e daquela velha intenção de tratá-la como miniadulto, como se ela já devesse secomportar
irrepreensivelmente educada. Criança é um ser em formação e descobre o mundo por meio das aventuras de
ser natural, espontânea e vital. Os poemas desses autores por vezes não demonstram passar a real natureza
do universo infantil.
Para se trabalhar em sala de aula, o educador no início precisa aprender a gostar de poesia infantil, buscar
os sentidos do texto a ser lido para as crianças, perceber, saborear e tentar passar, por meio da sua leitura
modelar, os ritmos poéticos que os poemas solicitam. Cada poema constrói o ritmo, a sonoridade e a
musicalidade próprios e o educador deve, portanto, ir ao encontro das formas e sentidos originais de cada
texto.
O pato – Vinícius de Moraes
Lá vem o Pato 
Pata aqui, pata acolá 
La vem o Pato 
Para ver o que é que há.
O Pato pateta 
Pintou o caneco 
Surrou a galinha 
Bateu no marreco 
Pulou do poleiro 
No pé do cavalo 
Levou um coice 
Criou um galo 
Comeu um pedaço
De jenipapo 
Ficou engasgado 
Com dor no papo 
Caiu no poço 
Quebrou a tigela 
Tantas fez o moço 
Que foi pra panela.
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1. SILVA, Maurício. "Poesia infantil contemporânea: dimensão linguística e imaginário infantil.
Imaginário USP, 2006, v. 12, n. 13, p. 359-380. 
Esse artigo é do nosso prof. Dr. Maurício Silva, autor e pesquisador, que atualmente está no
mestrado e doutorado em Educação da Uninove. Um ótimo material de leitura analítica; artigo que
recomendamos, leitura imprescindível para entender melhor o universo da poesia infantil: 
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/ima/v12n13/v12n13a16.pdf
(http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/ima/v12n13/v12n13a16.pdf)>.
 
2. Para ler os poetas infantis citados nesta aula, pesquise o site Jornal de Poesia, há um ótimo
acervo disponível: <http://www.jornaldepoesia.jor.br/ (http://www.jornaldepoesia.jor.br/)>.
REFERÊNCIA
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000. 
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Ilustrações de Thais Linhares. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2002. 
MORAES, Vinícius de. Poesia Completa e Prosa (org. por Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Poesia infantil – aspectos teóricos 06 / 06
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/ima/v12n13/v12n13a16.pdf
http://www.jornaldepoesia.jor.br/
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