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01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/7 Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira VERIFICAR A IMPORTÂNCIA DE MONTEIRO LOBATO PARA A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA, INCLUSIVE NOS DIAS ATUAIS. COMPREENDER O PROJETO LITERÁRIO DE LOBATO: A REPRESENTATIVIDADE DAS PERSONAGENS E DO SÍTIO. Monteiro Lobato: projeto literário Um divisor de águas na Literatura Infantil da pré-moderna literatura brasileira é Monteiro Lobato. Autor polêmico e de espírito positivista e desenvolvimentista, Lobato sempre demonstrou fugir a classificações fáceis, mas, de fato, é um autor da pré-modernidade, pois tem um pé atrás preso às tradições clássicas e um pé adiante que caminha na experimentação prosística. Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 01 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/7 Seus grandes projetos literários são os 17 volumes da literatura para crianças, que se intitula O Sítio do Pica-Pau Amarelo, obra cujo destaque é Reinações de Narizinho (2008), de 1931, versão final inicialmente denominada A menina do narizinho arrebitado, de 1921. Em Reinações de Narizinho, Lobato mescla o imaginário com a crônica diária e as narrativas sucedem-se com aventuras fantásticas para as crianças e, segundo Coelho (2000, p. 139), este constrói, pela primeira vez na nossa literatura e de modo contundente, uma linguagem simples, "coloquial", direta e "objetiva" e um discurso literário que fala diretamente com o leitor-criança. Há, sobretudo, tratamento muito perspicaz do humor lobatiano. É certo que o mundo da fantasia, quando Narizinho escapa do universo onírico e se volta mais à realidade, parece solapar parte da experiência simbólica e no campo do maravilhoso. Coelho critica-o porque Narizinho deixa de sonhar, quando tem que consumar o ato do casamento com o Príncipe Escamado. Assim, Lobato opta por "anular a presença do maravilhoso dentro do cotidiano" (p.139), quando o pensamento racional sobrepõe-se à visão criadora. Mas a essa obra de Lobato sustenta-se com muitas outras personagens e figuras relevantes. Emília e as outras personagens do Sítio O alterego do autor é, de fato, a boneca Emília, que metaforiza a arte e toda a liberdade de ser e viver já antecipadas por Collodi em Aventuras de Pinóquio. Emília e Pinóquio são especulares, porque, com Narizinho, justamente é a figura central e relevante da obra lobatiana. Emília mostra-se como "protótipo-mirim do 'super-homem' nitzschiiniano" (p.144). Emília é boneca com muita personalidade, voluntariosa e bastante fantasiosa. A boneca, como personagem central, consegue dar sustentação às narrativas e estruturar todo o enredo da grande novela que éO Sítio...Emília está no limite da positividade e da negatividade, porque ao mesmo tempo em que se volta a "grandes realizações de caráter social", também toca na "exploração do homem pelo homem", dicotomia que Lobato persiste na construção dessa protagonista, porque a boneca é, paralelamente "individualista" e humanizada, bem como personifica e demonstra seus carinhos tanto por Narizinho, sua dona, quanto pelos outros entes queridos do Sítio. Além de momentos bem-humorados dotados de sátira, propiciados pela protagonista mais relevante, Emília é "mandona", embora "brejeira", sua opinião se sobrepõe à dos outros sempre, é muito curiosa, dinâmica, esperta, e, ao mesmo tempo, possui certa "franqueza" e força de espírito que impulsiona a todos para o mundo do fantástico. Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 02 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/7 Que lindos lugares ela viu! Florestas de coral, bosques de esponjas vivas, campos de algas das formas mais estranhas. Conchas de todos os jeitos e cores. Polvos, enguias, ouriços – milhares de criaturas marinhas tão estranhas que até pareciam mentiras do Barão de Mauchausen. (p.20) A boneca desencadeia o fantasioso, o encantamento e os elementos fantásticos da narrativa lobatiana. Para Coelho, a boneca também representa, nas suas atitudes de déspota, "um arremedo do que realmente acontece no mundo 'civilizado', em que alguns poucos poderosos desfrutam de riquezas produzidas por multidão de desvalidos". (p. 145) Denuncia, na construção da personagem principal, essa "caricatura 'capitalista" que a própria boneca assume, até quando dá ordens ao Visconde de Sabugosa, que por vezes é secretário da boneca, quando esta não pede, mas manda. Ainda que uma consciência ecológica meio rudimentar, pois Narizinho abre sua narrativa dando farelos de pão aos peixes, já se prenunciava certa familiarização no contato com tais animais, uma vez que não havia "peixe que não a" (2008, p. 12) conhecesse. Narizinho representa simbolicamente a criança brasileira feliz por receber amor dos entes queridos ao seu lado, a menina cheia de mimos da avó D. Benta, da Tia Nastácia e da sua boneca Emília. Lúcia tem sete anos, "é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos" (p. 12). Assim, a menina, ainda que a infância seja a fase das brincadeiras e do encantamento, deverá aprender os dotes culinários para supostamente casar-se um dia e, logo no meio da narrativa, tem-se quase consumado o casamento de narizinho com o Príncipe Escamado, só que aqui temos mais a visão de Lúcia transformada numa princesa a ser desposada, em detrimento de uma menina que se transforma em mulher num ritual de passagem. Certa visão da diversidade biológica da fauna aquática já é antecipada na obra de Lobato: Os elementos literários da comédia e do teatro são fundamentais na obra lobatiana, além do humor satírico, a ironia também se faz presente. Emília tem certo tom "zombeteiro", até de deboche mesmo, quando denuncia as injustiças do mundo capitalista do qual fazemos parte, o que demonstra a decadência do sistema. Assim, Lobato é contundente nessas críticas, mas ao mesmo tempo resvala num certo pessimismo que revela o jogo pesado da busca interna pelo jogo das aparências em contração ao da essência. Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 03 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/7 - Culpa dela, Dona Benta! Narizinho tirou minha saia para vestir o sapão rajado...- disse Emília falando pela primeira vez depois que chegara ao sítio.Tamanho susto levou Dona Benta, que por um triz não caiu de sua cadeirinha de pernas serradas. De olhos arregaladíssimos, gritou para a cozinha: - CORRA, NASTáCIA! VENHA VER ESSE FENôMENO. (P.33) O esmagamento ou apequenamento do homem diante do progresso capitalista parece ter como resposta a conhecida dicotomia urbano/rural ou campo/cidade, que terá sido mais adiante tão cara em nossa literatura brasileira moderna, nas figuras de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Guimarães Rosa. O sítio de Lobato parece ser um libelo de esperança para o homem contra os (dês)mandos, os problemas sociais ou deformações do próprio sistema capitalista, que tudo destrói em nome do dinheiro. Lobato situa-se na extrema visão cômica, porque "zomba de tudo" (p.147). Ao mesmo tempo em que lida com o humor, ainda tem ares "maroto" e "iconoclasta", rompe com posições tradicionais, e contraditoriamente seja um tanto quanto clássica sua visão de mundo. Em A Chave do Tamanho, ao dialogar intertextualmente As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, expõe posições das mais controversas, pois se coloca na adesão à "violência" para alcançar a "paz". Além de termos o possível falso mundo do adulto em contraposição ao da criança, Emília simplesmente faz a defesa da morte de milhões de incapazes inadaptáveis de imediato à redução a insetos, para que não ocorram mais guerras. É, de modo antipedagógico, tanto controversa quanto polêmica essa posição, se bem que Lobato seja o homem das polêmicas,tanto vivo quanto na posteridade. Sua obra sempre é alvo de críticas no campo da legitimação do preconceito étnico ou racial. Um dos episódios mais marcantes é o que configura, de fato, personificação da boneca no campo da fábula, quando Emília engole uma pílula falante e começa a falar. É um alvoroço geral no sítio e temos de fato o ritmo dinâmico da narrativa de Lobato demarcado na sua prosa infantil, no texto intitulado "A pílula falante" (p. 29-33). Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 04 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/7 No sítio de Dona Benta havia vários pés, mas bastava um para que todos se regalassem até enjoar. Justamente naquela semana as jabuticabas tinham chegado “no ponto” e a menina não fazia outra coisa senão chupar as jabuticabas.Volta e meia trepava à árvore, que nem uma macacaquinha. Escolhia as mais bonitas, punha-as entre os dentes etloc! E depois dotloc,uma engolidinhade caldo e -pluft!– caroço fora. Etloc, pluft, tloc, pluft,lá passava o dia inteiro na árvore. (p.38) Não só a fauna, mas notadamente a flora também é (re)valorizada no sítio, pois estamos no ambiente do campo. Assim, o episódio de "As jabuticabas" (p.36-39) é bastante dinâmico à medida que Narizinho, Pedrinho e outras personagens adoram chupar as jabuticabas colhidas do pé. E mais, de modo metafórico e onomatopeico, Lúcia adorava mesmo a aventura de trepar nas árvores feito "macaquinha", para colhê-las docinhas, chupá-las até enjoar e orquestrar o ruído do alimento na boca numa música ritmada: Em Memórias de Emília, um dos auges da escrita prosa infantil depois de Reinações... , temos um capítulo final longo na voz da própria boneca em primeira pessoa, que se distancia e muito da natureza conhecida da boneca Emília. Próximo de um mea culpa, a narradora se defende contra "possíveis acusações de insensibilidade ou ceticismo humano" (p.149). O tom predominante é de, o "emotivo". Lobato prima por uma consciência mimética da sua realidade, mesmo que essa seja contraditória e insegura, polêmica e devastadora. Ele continuará com suas polêmicas intérminas mesmo na posteridade. Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 05 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 6/7 REFERÊNCIA COELHO, Nelly Novaes. "Lobato e a fusão do real com o maravilhoso". Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. 2. ed. ilustrações de Paulo Borges. São Paulo: Globo, 2008, 2 vol. _______. Obras completas. São Paulo: Brasiliense, s.d., 17 v. Monteiro Lobato: grande autor da literatura brasileira 06 / 06 01/09/2017 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 7/7
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