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Introdução Capítulo I - Natureza e Cultura O homem é um ser biológico ao mesmo tempo que é um ser social. “ É que a cultura não pode ser considerada nem simplesmente justaposta nem simplesmente superposta à vida.” (p.42) Onde acaba a natureza? Onde começa a cultura? Método obter uma resposta: Isolamento de uma criança recém-nascida e a observação de suas reações e excitações nas primeiras horas ou primeiros dias depois do nascimento . Poder-se-ia então supor que as respostas fornecidas são de origem psicobiológicas (caráter fragmentário e limitado) Porque é fragmentário e limitado? Pq (...) as únicas observações válidas devem ser precoces, porque podem surgir condicionamentos ao cabo de poucas semanas, talvez mesmo de dias. Assim, somente tipos de reação muito elementares, como certas expressões emocionais, podem na prática ser estudados A imaginação dos homens do século XVII vagavam entre a idéia de “crianças selvagens”: crianças perdidas no campo, que por algum motivo, conseguiam subsistir por conta e fora do meio social. Pelos antigos relatos, essas crianças possuíam um certo nível de imbecilidade; os “os meninos lobos” encontrados na índia, por exemplo, enquanto um jamais desenvolveu a fala, o outro permaneceu na idade mental de uma criança de dois anos. O exemplo dado pelo autor, das crianças selvagens devem ser afastados por questões de princípio. Blumenbach, em um estudo dedicado a uma dessas crianças, o Selvagem Peter, observava que nada se poderia esperar de fenômenos desta ordem, pois “se o homem é um animal doméstico, é o único que se domesticou a si próprio. Isso significa que, animais domésticos, gatos, cachorros, galinhas, ao se acharem perdidos, voltam ao seu comportamento natural, antes da domesticação. Mas isso não pode acontecer ao homem, porque não existe um comportamento natural da espécie ao estar isolado, e assim, voltar a sua regressão. Logo, “As “crianças selvagens”, quer sejam produto do acaso quer da experimentação, podem ser monstruosidade culturais, mas em nenhum caso testemunhas fiéis de um estado anterior”. “É impossível, portanto, esperar no homem a ilustração de tipos de comportamento de caráter pré-cultural” (p.43) Questionamento: “Será possível então tentar um caminho inverso e procurar atingir, nos níveis superiores da vida animal, atitudes e manifestações nas quais se possam reconhecer o esboço, os sinais precursores da cultura? Mamíferos superiores, os macacos antropóides Pesquisas realizadas há mais de trinta anos com os grandes macacos são desencorajantes à este respeito. O Chimpanzé é capaz de utilizar instrumentos elementares e eventualmente improviso-los. Além de possuir relações de solidariedade e subordinações, criando e se desfazendo, em determinados grupos. (...) é possível que alguém se diverta em reconhecer em algumas atitudes singulares o esboço de formas desinteressadas de atividade ou contemplação.” (p.44) “Quando se demonstrou que nenhum obstáculo anatômico impede o macaco de articular os sons da linguagem, o mesmo conjuntos silábicos, só podemos nos sentir ainda mais admirados pela irremediável ausência da linguagem e pela total incapacidade de atribuir aos sons emitidos ou ouvidos o caráter de sinais” (p.44) Porém, como afirma o autor, é impossível tirar conclusões gerais da experiência. A vida social dos macacos não se presta a formulação de nenhuma norma. O macaco comporta-se com surpreendendo versatilidade. Não somente o comportamento do mesmo sujeito não é constante, mas não se pode perceber nenhuma regularidade no comportamento coletivo; seja na vida sexual ou em sua alimentação. Há ausência total de regras. Questionamento: Qual é, ao contrário, a realidade? A poliandria reina entre os macacos gritadores na região do Panamá. Promiscuidade entre uma fêmea no cio e vários machos. Gibões das florestas - ocorrem relações sexuais entre membros do mesmo grupo familiar ou com um indivíduo pertencente a outro grupo “Esta ausência de regra parece oferecer o critério mais seguro que permita distinguir um processo natural de um processo cultural” (p.46) “A constância e a regularidade existem, a bem dizer, tanto na natureza quanto na cultura. Mas na primeira aparecem precisamente no domínio em que na segunda se manifestam mais fracamente, à vice-versa. Em um caso, é o domínio da herança biológica, em outro, o da tradição externa” (p.46) “Em toda parte onde se manifesta uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa da cultura.” (p.47) “Porque aquilo que é constante em todos os homens escapa necessariamente ao domínio dos costumes, das técnicas e das instituições pelas quais seus grupos se diferenciam e se opõem.” (p.47) “Estabelecemos, pois, que tudo quanto é universal do homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular.” (p.47) “Encontramo-nos assim em face de um fato, ou antes de um conjunto de fatos, que não está longe, à luz das definições precedentes, de aparecer como um escândalo, saber, este conjunto complexo de crenças, costumes, estipulações e instituições que designamos sumariamente pelo nome de proibição do incesto.” (p.47) O incesto possui o caráter de universalidade. Não há necessidade comprovar que a proibição do incesto consiste em uma regra. É necessário dar ênfase ao fato que toda sociedade faz exceção á proibição do incesto quando a consideramos do ponto de vista de outra sociedade. A proibição do incesto - o casamento entre parentes - é uma regra, sempre presente em qualquer grupo social, geralmente punida, pelo seu descumprimento, através da execução dos culpados, reprovação difusa e/ou a zombaria. A questão focada pelo autor, “há algum grupo que nenhum tipo de casamento seja proibida?”. A resposta é: não. Isso por dois motivos. 1° nunca é autorizado entre dois parentes próximos,mas somente entre algumas categorias (meia-irmã com parentes próximos, irmã co exclusão da mãe, etc) e, 2° porque estas uniões consanguíneas possuem caráter temporário e ritual ou caráter oficial e permanente (privilégio de uma categoria social muito restrita). Exemplo: Madagascar – a mãe, a irmã e ás vezes também a pria são cônjuges proibidos para as pessoas comuns , ao passado que para os grandes chefes e os reis somente a mãe. No Egito, por exemplo, o incesto só é proibido e desaprovado, com a irmã mais moça, sendo autorizado, o casamento com a irmã mais velha, ou pelo menos é visto com menos desaprovação. Como também confirma ainda mais essa ideia, no antigos textos Japoneses, o incesto é visto como a união com a irmã mais moça, sendo excluída a mais velha. “A proibição do incesto possui ao mesmo tempo a universalidade das tendências e dos instintivos e o caráter coercitivo das leis e das instituições.” (p.49) A proibição do incesto vem ao campo da sociologia como um terrível mistério. ‘ “(…) nas sociedades das quais acabamos de falar é inútil perguntar por que razão o incesto é proibido. Esta proibição não existe…;ninguém pensa em proibi-la. É alguma coisa que não acontece. Ou, se por possível não acontecesse, seria alguma coisa inaudita, um monstrum, uma transgressão que espalha o horror e o pavor.” Capítulo II - O problema do incesto A proibição o incesto tem total um caráter sagrado. O incesto é pré-social por dois motivos, primeiro pela sua universalidade , e em segunda pelo tipo de relações a que impõe sua norma A proibição do incesto é a própria cultura. Para Lewis H. Morgan a proibição do incesto seria uma medida de proteção, tendo por finalidade, defender a espécie dos resultados nefastos dos casamentos consanguíneos. Esta teoria apresenta um caráter notável, o de ser obrigada a estender, por seu próprio anunciado, a todas as sociedade humanas, atéas mais primitivas, que, em outros terrenos, de modo algum dão prova de tal clarividência eugênica, o privilégio sensacional da revelação das supostas consequências das uniões endógamas. O folclore de diversos povos primitivos:afirmam haver monstruosidades prometidas para os pais incestuosos, principalmente os australianos. “Mas, além do tabu concebido á maneira australiana ser provavelmente o que menos se preocupa com a proximidade biológica, bastará notar que estes castigos são habitualmente previstos plea tradição primitiva para todos aqueles que violam a regra, não sendo de modo algum reservado ao domínio especifico da reprodução.” Endogamia se refere à casamentos consanguíneos. Exogamia se refere a casamentos de um indivíduo com um membro de grupo estranho aquele a que pertence. Pangamia se refere a união sexual indiscriminada. “O perigo temporário das uniões endógamas, supondo que exista, resulta evidentemente de uma tradição de exogamia ou de pangamia, mas não pode ser a causa dela.” (p.53) “Os casamentos consanguíneos, com efeito, apenas combinam genes do mesmo tipo, ao passa que um sistema no qual a união dos sexos fosse terminada exclusivamente pela lei de probabilidades (“panximia” de Dahlberg) os misturaria ao acaso. Mas a natureza dos genes e seus caracteres individuais continuam sendo os mesmos nos dois casos. Conclusão sobre todo esse rolê “É possível, portanto, considerar que, em uma pequena população endógama de composição estável cujo modelo é oferecido por muitas sociedades primitivas, o único risco do casamento consanguíneo provém do aparecimento de novas mutações – risco que pode ser calculado, porque esta taxa de aparecimento é conhecida – mas as probabilidades de encontrar no interior do grupo um heterozigoto recessivo tornaram-se mais fracas que as de ocorrência possível no casamento com um estranho. Segundo tipo de explicação Para um grande número de psicólogos e sociólogos (Wetermarck e Havelock são seus principais representantes) “a proibição do incesto é apenas a projeção ou o reflexo do plano social de sentimentos ou tendências que a natureza do homem basta inteiramente para explicar”. “Assim, para Havelock Ellis a repugnância com relação ao incesto explica-se pelo papel negativo dos hábitos cotidianos sobre a excitabilidade erótica, ao passo que Westermarck adota uma interpretação do mesmo tipo mas transporta para um plano mais estritamente psicológico”. Não há nada mais duvidoso do que esta suposta repugnância instintiva. Pq o incesto embora proibido pela lei e pelos costumes, existia. “Muitas sociedade pensam de outra maneira “ o desejo de mulher começa pela irmã”, diz o provérbio Azande. O Hêhê justificam a prática do casamento entre primos cruzados pela longa intimidade reinante entre os futuros cônjuges. verdadeira causa, segundo dizem da atração sentimental e sexual.” ● Questionamento: A sociedade só proíbe aquilo que suscita. O autor faz uma comparação ao incesto e ao suicídio (prejudicial aos interesses da sociedade). Infelizmente, eu perdi uma grande parte sobre isso, porque estava insuportável. Pois é Strauss, um semestre de você não vai ser moleza. Mas peguei um bom trecho que diz o seguinte, “a melhor prova é que, enquanto toda sociedade proíbe o incesto, não há nenhuma que não conceda um lugar ao suicídio, reconhecendo a legitimidade dela em certas circunstâncias ou por certos motivos, justamente aqueles em que a atitude individual coincide acidentalmente com um interesse social.” Então, concluindo, “Resta, portanto, sempre descobrir as razões pelas quais o incesto causa prejuízos à ordem social.” Nem mesmo Durkheim foge à essa temática. Ele, em seu posicionamento, faz da proibição do incesto uma consequência longínqua das regras da exogamia. Em dado momento do texto, há uma parte que explica o grande preconceito em relação ao sangue menstrual feminino, com várias regras que proíbe o ato sexual durante o período e várias mitos - bestas - sobre a exposição do sangue perante a família e ao marido. Concluindo, não sei o que, mas concluindo, as interpretações sociológicas de Durkheim, Spencer E Lubbock possuem um vício comum e fundamental. “Procuram fundar um fenômeno universal sobre uma sequência histórica cujo desenrolar não é de modo algum inconcebível em um caso particular, mas cujos episódios são tão contingentes que se deve excluir inteiramente que tenha podido se repetir sem alteração em todas as sociedades humanas.” E “McLennan, Lubbock, Spencer, Durkheim consideram a proibição do incesto uma sobrevivência de um passado inteiramente heterogêneo relativamente às condições atuais da vida sociais.” Segundo o autor, é uma decepcionante análise desses sociólogos. Ele diz o seguinte, “a decepcionante análise a que acabamos de nos entregar explica ao menos por que a sociologia contemporânea preferiu muitas vezes confessar sua impotência em vez de encarnar-se numa tarefa em que tantos malogros parecem ter sucessivamente fechados as saídas.” Não compete ao etnógrafo toda essa análise feita, sobre muito preconceito e tabus. Compete ao biologista e ao psicólogo explicar por que também o homem sente profundamente o horror ao incesto. “Talvez seja impossível explicar um costume que seja universal e descobrir a sua origem”, “tudo quanto podemos fazer é estabelecer um sistema de correlações com fatos de outros tipo”. Tendo isso em vista, o autor defende o seguinte ponto: é certo que a universalidade do incesto é uma área da ênfase da biologia e psicologia, mas o incesto, enquanto regra, é um fenômeno social. Ou seja, pertencente ao universo da cultura, logo, a sociologia. E para uma melhor compressão e conclusão do capítulo, temos o seguinte trecho, “a proibição do incesto não é nem puramente de origem cultural nem puramente de origem natural, e também não é uma dosagem de elementos variados tomados de empréstimos parcialmente a natureza e parcialmente a cultura. Constitui o passo fundamental graças ao qual, pelo qual, mas sobretudo no qual se realiza a passagem da natureza à cultura. Em certo sentido pertence à natureza, porque é uma condição geral da cultura, e por conseguinte não devemos nos espantar em vê-la conservação da natureza seu caráter formal, isto é,a universalidade.”
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