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1 2 3 Reitor Prof. Ms. Stefano Barra Gazzola Gestão da Educação a Distância Prof. Ms. Wanderson Gomes de Souza Design Instrucional e Diagramação Diógenes Caxin Victor Rocha Revisão Ortográfica / Gramatical Erika de Paula Sousa 4 Autor Vania Garcia Camargo Atualmente é professora de flauta doce no Conservatório Estadual de Música Maestro Marciliano Braga. Graduada em Licenciatura plena com habilitação em flauta doce, onde já atuou como professora de flauta doce e prática de ensino na mesma universidade formada. Pós-graduada em Educação Musical e cursos diversos na área de educação musical: Enny Parejo, Thelma Chan , Raquel Coutinho, Cecília Cavalieri França, TEDEM. E em oficinas e palestras como: Oficina Música na Sala de Aula, palestras intituladas Empreendedorismo na Música, com a profª Jane Medeiros, A Música na Região das Vertentes, com o prof. Abel Moraes, Inclusão na Educação Musical, com a profª Viviane Louro, Ensinar Música, com o prof. Marcelo 5 Sampaio, dentre outros cursos de atualização. Apaixonada pela educação musical e pela flauta doce, claro! 6 CAMARGO, Vania Garcia. Guia de Estudo – Educação Musical I - Vania Garcia Camargo. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2013. 279 p. 1. Educação, Musicalização, Educadores musicais. I. Título. 7 Sumário Apresentação ....................................................................................................... 12 Unidade I ................................................................................................................ 16 1. Sobre Educação Musical - Métodos e possibilidades ............ 17 1. Sobre educação musical ....................................................................... 20 1.2 O que e como ensinar ............................................................................. 24 1.3 Método: possibilidade e diversidade ................................................ 33 1.4 Repensando os objetivos propostos ................................................ 36 1.5 Ficha de orientação .................................................................................. 39 1.6 A organização e sistematização de planos .................................. 44 Unidade II ............................................................................................................... 47 2. Dalcroze e a euritmia ............................................................................... 48 2.1 Dalcroze: entre o corpo e a rítmica ................................................... 51 2.2 Histórico do educador: ............................................................................ 52 2.2.1 Experiências e vivenciações: .......................................................... 53 2.2.2 De 1891 a 1909: Uma pedagogia fluente .................................. 54 8 2.2.3 A expansão da rítmica ........................................................................ 55 2.3 Produção musical e obra didática .................................................... 57 2.4 Rítmica ............................................................................................................. 58 2.4.1 Processo de criação nos parâmetros de Dalcroze: ............ 68 2.4.2 Solfejo: um caminho de descobertas ......................................... 70 2.5 Dalcroze e o Brasil ..................................................................................... 73 2.6 Espaçozinho prático da Euritmia ....................................................... 76 2.6.1 Sugestão de atividades ..................................................................... 77 2.6.2 Aplicando as atividades: .................................................................... 96 Unidade III ............................................................................................................ 108 3. Kodály - Folclore e sistema de sinais ............................................. 109 3.1 Histórico do educador ........................................................................... 112 3.2 Trajetória de vida ...................................................................................... 114 3.3 Kodály no Brasil ........................................................................................ 117 3.4 Ideias e concepções sobre Educação Musical ........................ 118 3.5 Metodologias de aplicação ................................................................ 120 3.6 O uso de sinais manuais: ..................................................................... 130 9 3.7 Solmização com a tônica: sol-fá ...................................................... 138 3.8 Espaçozinho prático das atividades de Kodály: ....................... 142 3.9 Sugestão de atividades atuais utilizando a metodologia de Kodály .................................................................................................................. 146 3.10 Aplicando as atividades ................................................................... 154 Unidade IV ......................................................................................................... 160 4. Willems: concepções de valores humanos ................................ 161 4.1 Histórico do educador ........................................................................... 163 4.2 Trajetória de vida ...................................................................................... 168 4.3 Willems no Brasil ...................................................................................... 170 4.4 Produção musical .................................................................................... 172 4.5 Metodologias de aplicação ................................................................ 174 4.5.1 Características do método Willems ........................................... 176 4.6 Materiais de apoio pedagógico ........................................................ 185 4.6.1 Sensorialidade auditiva ................................................................... 186 4.6.2 Sensibilidade afetiva auditiva ....................................................... 187 4.6.3 A inteligência auditiva ....................................................................... 189 10 4.7 Espaçozinho das atividades práticas de Willems ................... 190 4.8 Canções na concepção Willems ..................................................... 203 4.9 Willems na sala de aula ........................................................................ 208 Unidade V ............................................................................................................. 229 5. Carll Orff: A fala e o corpo .................................................................... 229 5.1 Vida e obra .................................................................................................. 231 5.2 Produções de Orff .................................................................................... 232 5.3 Produção pedagógica ........................................................................... 234 5.4 O instrumental Orff .................................................................................. 238 5.5 A passagem de Orff no Brasil ............................................................ 240 5.6 Exercícios práticos ................................................................................... 241 5.6.1 Exercícios práticos para a sala de aula ................................... 246 5.6.2 Espaçozinho prático das atividades segundo a proposta pedagógica Orff .....................................................................................................248 5.6.3 Aplicando as atividades ................................................................... 256 5.7 Questões práticas para resolver ....................................................... 266 Referências .......................................................................................................... 277 11 12 Apresentação Caro (a) cursista, É com imensa alegria e muita disposição que vamos iniciar os estudos referentes à Educação Musical I, falando um pouco sobre este imenso universo de descobertas, modificações, instigando a curiosidade nos leitores, para que possam ter um melhor direcionamento na elaboração de seus planos e conteúdos metodológicos que serão trabalhados com a musicalização, seja através de uma disciplina específica em escola especializada e/ou principalmente na escola regular de 13 ensino. Temos consciência da diversidade de materiais disponíveis no mercado, em sites, blogs e mesmo nas instituições de ensino. Mas fica sempre uma pergunta: Qual direcionamento pedagógico será melhor para minhas aulas? Eu preciso seguir um educador específico para elaboração de meus planos de aula? Que material investir para colaboração das minhas aulas de música? Eu também gostaria de ter todas as respostas para muitas dúvidas, mas um conselho é bom: Tenha um prévio conhecimento sobre as possíveis linhas de educação musical lendo, pesquisando, questionando, fazendo cursos de atualização ou oficinas. Só depois que se conhece um pouco da metodologia, seu contexto histórico e importância dentro do contexto educacional, podemos opinar por gostar ou não da didática utilizada por um determinado educador musical. E mesmo conhecendo um pouquinho, posso dizer que as dúvidas continuam, mas a paixão pelo conhecimento, a sede por novas 14 conquistas e visões perante o ensino musical irão só começar. Além disso, ficamos mais sucessíveis às mudanças nos planos de ensino, às vezes adaptando, outras, modificando um pouco em função da diversidade de perfil das turmas trabalhadas, mas pelo menos o que e como mudamos, sabemos o porquê e onde queremos chegar, e não só porque ‚um colega sugeriu uma atividade nova.‛ Isso fará você se sentir mais seguro diante das escolhas e da diversidade. Se um educador me fascina pela desenvoltura rápida na aplicação de exercícios rítmicos, outro me tranquiliza no solfejo e ainda tem um que trabalha de forma muito criativa um conteúdo considerado difícil ou desinteressante para muitos alunos. E se eu decidir usar mais de um, ou em cada atividade um conhecimento voltado para um educador diferente, qual o problema? Desde que se organize no plano semanal, isto interfira no plano anual, mas permita que a aula atinja seu objetivo no fim do dia, da semana, ótimo! E se no meio do caminho decidir mudar alguma coisa, acrescentar algo que melhorou algum conteúdo, faça! Desde 15 que esteja condizente com a metodologia ativa de ensino, adaptando à sua realidade de trabalho. Este guia pretende explanar as diversas metodologias que foram e ainda continuam tão importantes para o ensino musical, na busca de um ensino mais significativo e humano. Bom estudo a todos! Vania Garcia Camargo. 16 Unidade I 17 1. Sobre Educação Musical - Métodos e possibilidades É o método que organiza os conteúdos em função de uma finalidade educativa, que pode ser de domesticação ou de libertação, de crítica ou de não crítica. (Penna, 1990, p.42) Na unidade I, faremos um breve panorama histórico sobre a Educação Musical baseada na citação de educadores musicais que contribuíram para as transformações educacionais ocorridas no século XX, ressaltando a importância destes educadores sendo brasileiros ou estrangeiros para o desenvolvimento da educação musical. Depois, temos alguns apontamentos referentes à construção e legitimidade de um método e suas adequações necessárias dentro da realidade do contexto educacional sob dois aspectos: o método tradicional e a alfabetização musical baseada na sensibilização musical. E na sequência, verificamos a 18 diversidade dos contextos educacionais (escola especializada, ensino regular e educação especial). Ainda nesta unidade, alguns apontamentos sobre os métodos e objetivos que podem ser propostos possíveis para uma verdadeira ação de uma metodologia ativa de aprendizagem. Para finalizar, indagações sobre a importância de conhecer os métodos de Educação Musical do século XX e as expectativas para se planejar uma aula cada vez mais motivadora, abrangente e extraindo elementos importantes de outros educadores buscando uma melhor eficácia de ensino. Meta Conceituar método e metodologia. Descrever alguns parâmetros da educação musical brasileira e influências de métodos estrangeiros. Promover discussões sobre a importância de se conhecer a metodologia da educação musical, suas transformações ocorridas no século XX e sua 19 contribuição para uma metamorfose vivida no contexto da educação musical. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta unidade, você seja capaz de: 1- Apreender as relações e diferenças entre método e metodologia dentro do contexto da educação musical. 2- Diferenciar o contexto educacional nos seguintes aspectos: método tradicional e método ativo. 3- Relacionar a aplicação metodológica em diferentes contextos educacionais (escola regular, especializada e educação especial). 20 1. Sobre educação musical O resumo sobre um assunto tão complexo, que se trata da educação musical, nos remete a um questionamento dependendo do que começar e que extensão cobrir. Poderia ser feito um estudo mais filosófico, ou discutir a inquietude humana em busca do saber, de nós mesmos, do passado ou do futuro. Sendo assim, teríamos que descrever as contribuições advindas de filósofos, pensadores, psicólogos, humanistas e tantos outros contribuintes que, através de incansáveis discussões pedagógicas, tanto contribuíram para o aprendizado. Seria um foco muito amplo para o nosso guia de estudos. Portanto, algumas ideias estão centradas em alguns educadores musicais do século XX. As primeiras décadas sofreram grandes modificações e o fazer musical tomou partido dos acontecimentos e transformações da 21 época em questão, apoiando-se em princípios de liberdade, criatividade, descartando qualquer atitude meramente mecânica e impessoal de conhecimento. Essa primeira fase de educação moderna caracteriza-se por um crescimento significativo nas propostas pedagógicas proporcionada por educadores como: Dalcroze, Kodály, Suzuki, Willems, Gainza, Koellreutter, Swanwick, dentre tantos outros não menos importantes. Se o modelo de educação tem a pedagogia cognitivista como precursora, devemos destacar a linguagem, a memória, o raciocínio, a percepção ou os pensamentos como aliados - o que os educadores musicais souberam utilizar muito bem em suas atividades práticas e inovadoras, cada um com sua contribuição especial. Se Dalcroze nos deu seu conceitual inicial através da euritmia e apresentou tantos seguidores, inclusive brasileiros, Orff também assinalou sua contribuição com o ritmo. Através desta gama de 22 modificações, alguns brasileiros se destacaram em seus trabalhos: Sá Pereira, Gazzi de Sá, Liddy Chiaffarelli, Jurity de Souza, Cacilda Borges, Villa Lobos, Jurity de Souza e outros. Os educadores brasileiros, geralmente, são menos citados que os estrangeiros, mas de contribuições de valor inestimável e inigualável na criatividade e qualidade de exercícios e propostas pedagógicas. Em meio a tantas opções e diferenciações, como seguir ummétodo, ou uma metodologia adequada para nossas aulas? É possível mesclar várias linhas de ensino ou especializar em um educador específico? Mas, então, como fica a transmissão de conhecimentos no processo de educação musical atual? Encerro com a frase da roda de conversa 3, da revista A Música na Escola, sobre este questionamento na fala de Sérgio Figueiredo, disponível em: http://amusicanaescola.com.br/. http://amusicanaescola.com.br/ 23 Eu fico pensando que essa talvez seja uma mudança paradigmática no processo de educação do mundo. Há algumas décadas, existia um anseio de as pessoas serem ‚seguidoras de alguém‛. Eu sou especialista em Kodály, por exemplo. Pelo processo educacional, ficou claro que o modelo não funciona de maneira igual. Nenhuma sala é igual à outra. O professor não vai encontrar a mesma coisa. Precisamos de referências. Temos de construir o nosso processo educativo em bases muito sólidas, mas não mais ser seguidores. (pág. 92). [...] O verdadeiro educador é aquele que vai reconhecer que do outro lado tem o aluno e que esse aluno não é o mesmo nunca. Você mudou de sala, ele é diferente. Você mudou de dia, ele é diferente. (pág. 93). 24 1.2 O que e como ensinar A construção e legitimidade de um método dependem e acontecem de acordo com o grau de eficiência que dependem da adequação de cada situação e/ou faixa etária específicas. Observamos outras relevâncias dentro do processo, tais como: número de alunos, duração da aula, disposição de espaço físico, para que você faça a escolha de acordo com a realidade e possibilidades dentro da escola em que atua. Os métodos atuais estão baseados na pedagogia ativa da construção do conhecimento, buscando a praticidade aliados a atividades de criação e sensibilização, principalmente através do ritmo. No Brasil, o reflexo das propostas pedagógicas direcionadas a sensibilização musical foram responsáveis pela reestruturação dos conservatórios, até o momento sendo o único lugar de formação musical. Foi então que centros alternativos de iniciação musical foram aos poucos ganhando espaço, estruturados sobre as ideias de Sá Pereira e Lídia Chiaffarelli 25 Mignone, por exemplo, que tiveram uma ênfase nacionalista. Neste contexto, surgem então os grupos de iniciação musical e as oficinas de musicalização, tendo como enfoque principal a centralização no aluno, assim, ampliando seu trabalho nas diferentes formas de expressão e estendendo-se para o corpo, a voz, e instrumentos não convencionais. Esta postura pedagógica adotada no desenvolvimento musical de centros alternativos não foi a mesma linguagem adotada em escolas brasileiras. Nestas instituições, o trabalho de Educação Musical permaneceu sobre a estrutura de Villa Lobos, baseado no canto orfeônico e noções de teoria musical. Um dos reflexos desta metodologia ainda pode ser visto no famoso ‚momento cívico‛ das escolas. Em relação à alfabetização musical, podemos ter dois parâmetros: 26 a) O tradicional: Baseado no conhecimento de leitura e escrita anterior ou paralelo a um repertório técnico do instrumento estudado. O repertório, em sua maioria, vinha precedido de exaustivos exercícios técnicos baseados em escalas, repertório definido, em sua maioria de tradição europeia. O número de desistência era alto, em detrimento de não atingir um nível técnico tão satisfatório, ou não acreditavam (os alunos) ter ‚talento musical‛. Mas, na verdade, o fracasso era devido ao acúmulo de informações e estruturas prontas. [...] Recebia as estruturas prontas e era instado a repeti-las e imitá-las a exaustão, sendo-lhe negada a oportunidade de estruturar cognitivamente os elementos que possibilitassem a construção e a compreensão da aprendizagem musical. (MARTINS, 1993:89) 27 Neste modelo de aprendizagem o sujeito é considerado passivo, dependendo de sua bagagem de conhecimento imposta ou de forma hereditária. b) Alfabetizando musicalmente (sensibilização musical): O aluno era convidado a se expressar musicalmente interagindo com o som, com o corpo. Explorava o corpo e instrumentos dispostos no cotidiano através do fazer musical significativo. Nem sempre ler e escrever música era algo desenvolvido dentro da simbologia musical tradicional. A passagem da prática visceral à teoria sistematizada era desenvolvida na codificação e decodificação da simbologia musical, tendo estratégias construídas pelos próprios alunos para construir esta alfabetização. Segundo Violeta Gainza: 28 O método contemporâneo é consciente, integral e eclético: apela para o afeto e a técnica pura (corpo-mente), o intelecto e a sensibilidade estética! Antes de procedermos as considerações metodológicas, vamos verificar as diferentes significações da musicalização em contextos educacionais diversos: 1- A escola especializada: Precede um ensino de caráter técnico relevante, profissionalizante num trabalho de musicalização consciente como condições de sua eficácia. Ainda continuam em sua maioria tendo o mecanismo de representação gráfica como código abstrato, como, por exemplo, um aluno que diante de todas as regras estabelecidas, consegue uma harmonização correta, mas não tem a menor ideia de como este acorde soa, não tem ouvido interno. 29 Se toda e qualquer instituição visa musicalizar o aluno, a escola especializada deveria fazer isto em caráter mais amplo - inclusive por contar com a possibilidade de continuidade. Os estudos de todos os conteúdos deveriam musicalizar o aluno e não ter finalidades por si mesmos ou conteúdos direcionados a disciplinas isoladas . 2- O ensino regular: Os limites enfrentados na escola regular são mais contundentes: carência de material, salas inadequadas, número grande de alunos por turma, a interrupção de conteúdos musicais por ensaios e preparação para datas comemorativas ou adequação de planos. A musicalização exige mais alternativas metodológicas e criatividade por parte do educador, tendo como pressuposto principal a motivação. 30 3- Educação especial: Compete abordar casos e situações que, por se afastarem da norma ou ‚normalidade‛, comportam com problemas especiais que transcendem o âmbito da educação geral. A função educativa da música se amplia, dando lugar à função terapêutica. É importante ressaltar que todo plano educativo e/ou terapêutico musical a ser desenvolvido com indivíduos ou grupos que apresentam problemas especiais requer a participação de uma equipe interdisciplinar colaborando com educadores, musicoterapeutas, psicólogos ou outros especialistas. Autoridades educacionais devem se preocupar com a qualidade e enfoque pedagógico- musical em instituições educacionais: - Fornecendo assessoria pedagógica quando requeridas; - Verificando o nível e preparação do profissional atuante; 31 - Organizando o controle periódico da evolução geral e musical dos alunos com problemas de diferentes tipos; - Colaborando na preparação do espaço pedagógico para que diferentes instrumentações, sendo recicladas, ou não, possam ser utilizadas na aplicação das aulas. Neste tipo de ensino é preciso saber de um aluno, por exemplo, uma criança, como é seu desenvolvimento físico, motor, comportamentos típicos; reconhecer a situação em que se abrange; isto significa ter informações da deficiência no qual o educador irá trabalhar, para escolher uma melhor linha de atuação. Sem um prévio estudo clínico e conhecimento, fica complicado superar as dificuldades e desafios. Definir cautelosamente a meta de trabalho também é um caminho importante estipulando passo a passo. 32 Se você tiver um aluno com alto déficit de atenção, não adianta introduzir o canto diretamente, você precisaria anteriormenterealizar uma atividade que trabalhe a atenção deste aluno e só futuramente preocupar se ele consegue cantar. Quanto à questão das adaptações, temos várias possibilidades: veja um trecho da revista música na escola, p.182: (disponível em: http://amusicanaescola.com.br/). [...] promover adaptações de instrumentos musicais, como órteses para auxiliarem no manuseio de instrumentos ou baquetas. Podemos também promover adaptações de materiais, tais como partitura em Braille, material ampliado para os com visão subnormal, apostilas simplificadas para quem tem deficiência mental, dentre outras. (LOURO, 2006) Outra possibilidade são as adaptações de objetivo e de conteúdo, isto é, alterações no currículo para que o aluno possa acompanhar melhor a aula. Por exemplo, enquanto para uns http://amusicanaescola.com.br/ 33 estejam sendo abordados compassos com diferentes unidades de tempo, para um aluno com deficiência mental pode-se abordar a compreensão da semínima como pulso base para a realização de um ditado rítmico. Nesse contexto, o professor avaliará de forma diferenciada ambos os alunos, mas cada qual dentro de suas competências para aquele momento. (LOURO, 2009) 1.3 Método: possibilidade e diversidade O método será um importante fio condutor que trará a organização das atividades propostas para sua aula, sua turma, preferenciando conteúdos de cada atividade realizada. Se a música é transmitida de forma ativa, prazerosa, o conhecimento será imediato. [...] tanto pelo movimento interno e externo que origina, como pelas possibilidades que oferece como meio para despertar as forças expressivas e criadoras que existem em todo indivíduo. (Gainza, 1964, p. 21). 34 O método é uma organização racional do conhecimento transmitido para se obter resultados objetivos e seguros. O método contemporâneo deve ser consciente, integral, apelando para o afeto e a técnica pura (corpo e mente), o intelecto ou a sensibilidade estética. A técnica deve ser aplicada de dentro para fora. Se os métodos tradicionais passivos trazem um conteúdo fragmentado e pouco criativo, os métodos ativos, dos quais estudaremos várias de suas possibilidades pelas dicas de nossos educadores musicais, são voltados para a criação, para a participação e a globalização do conhecimento em aspectos diversos. É ilusório encarar a questão metodológica como uma solução para todos os problemas, não há receitas infalíveis, nem método milagroso. Este método só se concretiza quando aplicado a um dado saber. No campo da pedagogia o termo método significa processo de técnica de ensino, confundindo com metodologia, que seria o estudo dos métodos. 35 A procura de alternativas metodológicas diversificadas capazes de atender as necessidades de cada situação tem um eixo básico comum: - A base é a vivência musical, permitindo a atividade perceptiva; (Piaget) - A direção é a formação dos conceitos fundamentais da linguagem musical (reconhecimento dos elementos básicos da música); - As atividades práticas devem promover a formação de representações simbólicas e imagens auditivas; - As atividades de expressão são aplicadas assim como conceitos formados; Como descreve Gainza (1977:16-77), a musicalização (dentro e fora da escola) é um processo bidirecional e integrado entre o homem e a música. 36 Sendo assim, o trabalho de musicalização segue os mesmos princípios para qualquer faixa etária, somente adaptando os motivos motivacionais e a linguagem de conteúdo. Fica o questionamento: O que posso fazer: melhorar, atingir e engajar meu aluno no processo da educação musical? 1.4 Repensando os objetivos propostos Baseados no planejamento em Educação Musical sugerido por Sérgio Vasconcellos, vamos observar as sugestões para um planejamento de educação musical: Objetivo educacional e social: Propiciar o aprimoramento intelectual do educando, buscando pensar, agir, criar ou viver em sociedade. 37 Objetivo específico da área: Priorizar o aprimoramento do aluno buscando atitudes de audição consciente. Objetivos formativos: (conceitual e comportamental) a) Desenvolver o prazer estético pela música; b) Desenvolver a capacidade de auto-realização; c) Favorecer e estimular a criatividade; d) Criar hábitos da participação em atividades e práticas musicais; e) Favorecer o desenvolvimento do senso rítmico; f) Favorecer o desenvolvimento da sensibilidade auditiva; g) Formar atitudes de crítica e autocrítica racionalmente fundamentadas. 38 Objetivos informativos: Orientar na aquisição de conhecimentos técnicos; Propiciar a aquisição de conhecimentos históricos, teóricos, estéticos, que permitam a valorização da música; Orientar na aquisição de conteúdos básicos da codificação musical; Criar condições de interação entre educador e educando e as diversas manifestações regionais do saber popular, em especial relacionadas à música; Estimular o espírito de pesquisa enfatizando a arte musical; Incentivar, nos casos mais específicos que demonstram aptidão musical uma orientação mais individualizada e direcionamento. A ação verdadeiramente educativa acontece quando o professor se propõe a testar conteúdos e técnicas próprias 39 dando vazão à sua criatividade, avaliando os resultados obtidos, como também extraindo elementos importantes de outros educadores para sua ação e eficácia. Lembrando que não existem receitas prontas e pré-fabricadas que lhe dizem o que fazer, mas sim direcionamentos. 1.5 Ficha de orientação Você poderá utilizar alguns itens propostos pela educadora e pedagoga Violeta Gainza para condicionar melhor a proposta de atividades para seus alunos, o programa de curso, sua meta anual, os avanços e as dificuldades de seus alunos, o que contribui para a formulação de planos de ensino mais eficazes e produtivos. 40 Veja abaixo uma ficha orientadora, ‚adaptada‛, segundo a concepção da educadora Violeta Gainza (1988, p. 39 a 42): Percepção musical: 1- Estimulação: a) Interesse b) Atenção c) Concentração d) Memorização 2- Aspectos ou níveis individuais: a) Sensorialidade (discrimina qualidades sonoras) b) Motricidade (move-se) c) Afetividade (aprecia, escolhe) d) Inteligência (compreende, relaciona estruturas sonoras) e) Não há traço dominante (integração) 41 Expressão musical: a) Voz: registro – afinação - tônus muscular – técnica - comunicação b) Corpo: postura - tônus muscular – técnica - comunicação c) Instrumento: postura - tônus muscular – técnica - comunicação d) Características gerais: 1- Sensibilidade 2- Imaginação 3- Criatividade 4- Estereotipia 5- Capacidade de jogo 6- Integração de campos expressivos 7- Comunicação 42 Aprendizagem: Atitudes: Como é diante do contato de novas experiências? Memória: auditiva, visual. Capacidades manifestas: 1- Capacidade de imitar 2- Capacidade de interpretar 3- Capacidade de aprender por si mesmo 4- Capacidade de progredir 5- Capacidade de superar erros (técnicos, de leitura) 6- Capacidade de transmitir experiências (pedagógicas) 7- Capacidade de verbalizar processos e dificuldades 8- Capacidade de compreender estruturas 9- Capacidade de relacionar, integrar, transferir conhecimentos e experiências Leitura e escrita: 1- Nível de compreensão: global, detalhes 2- Rapidez 43 Você poderá ainda detalhar mais a personalidade do aluno como sensibilidade, destreza, inteligência ou adaptação e a vocação (grau de intensidade na tendência para o objeto e/ou atividade escolhida). Esta ficha é uma sugestão para auxiliar sua avaliação pedagógica descrevendo cada dificuldade e qualidade que retratam o perfil de seu aluno. Relação pessoal: Excelente,boa, regular, insatisfatória, flutuante: 1- Com a música 2- Com o instrumento 3- Com o educador 4- Com os colegas 5- Com a disciplina 44 1.6 A organização e sistematização de planos Neste guia, na próxima unidade e nas posteriores, você conhecerá um pouco sobre os educadores, suas contribuições, contexto histórico e atividades práticas trabalhadas. Isso vai dar um direcionamento na formulação de seus planos de aula, suas afinidades e possibilidades de trabalho lendo e pesquisando sobre cada um deles. Nada impede que você não siga uma linha específica ou um pouco de cada uma para reformular suas atividades e conteúdo programático, mas independente da escola, método ou pedagogia de ensino que você mais se identifique, vamos formular um esquema básico de organização de suas aulas. A ação verdadeiramente educativa acontece quando o professor se propõe a testar conteúdos e técnicas próprias dando vazão à sua criatividade, avaliando os resultados obtidos, como também extraindo elementos importantes de outros educadores para sua ação e eficácia. Lembrando que não 45 existem receitas prontas e pré-fabricadas que lhe dizem o que fazer, mas sim direcionamentos. Como diz Iramar (A música na escola, p. 93), disponível no site: http://amusicanaescola.com.br/: Para mim, a pessoa que quer realizar uma boa atividade escolar com seu aluno corresponde a alguém que está numa cozinha e vai cozinhar. O que você tem na sua cozinha, na sua casa? Você tem um armário. Se a pessoa é organizada, cada caixinha tem o tipo de produto a ser utilizado. Para mim, o bom professor é aquele que faz a mesma coisa. Cada caixinha tem os princípios os quais ele conheceu, praticou e viveu, e ele sabe quando e como usá-los. Se ele vai elaborar uma atividade de 50 minutos, ele abre o armarinho e escolhe adequadamente o que usar. Isso é o importante hoje em dia. Não há a necessidade de ser um especialista como eu sou. Não há necessidade de ser um especialista como alguém que está lá ensinando no Instituto Orff, em Salzburg. Mas, o que esse profissional conhece, ele precisa saber o porquê, como e quando empregar. http://amusicanaescola.com.br/ 46 Apontamentos sobre a próxima unidade Na unidade II damos início ao estudo dos educadores musicais: histórico, expectativas, proposta de trabalho, vida e obra, contribuições, metodologia, influências e contribuições para a reformulação no processo da educação musical. Você irá se apaixonar com as propostas de atividades nos parâmetros do primeiro educador, Dalcroze. Boa leitura! 47 Unidade II 48 2. Dalcroze e a euritmia ‚Ordenar o movimento significa educar o espírito e a mente para o ritmo.‛ (DALCROZE, 1921, p.4) Meta Apontar as descobertas e características de Dalcroze, tanto em sua vida como na metodologia aplicada e as contribuições para o processo de educação musical. Objetivos 1- Definir alguns aspectos como: histórico, experiências e vivenciações, assim como produção musical e obra didática. 2- Caracterizar a rítmica e o processo de criação sugeridos por Dalcroze. 49 3- Apontar a contribuição desta metodologia e sua influência no Brasil. 4- Reformular e aplicar atividades práticas segundo a concepção dalcroziana. 5- Empregar atividades de pedagogos atuais que seguem esta metodologia na preparação das aulas e criação de novos materiais didáticos. 50 Dalcroze (Viena, 1865 – 1950, Genebra) 51 2.1 Dalcroze: entre o corpo e a rítmica Com tantas transformações ocorridas na primeira metade do século XX, surgiu uma série de transformações de cunho pedagógico musical que representaria uma verdadeira revolução no campo das ideias em Educação Musical. Émile Jaques - Dalcroze abriu portas para uma inovação na educação musical. Esta nova tendência partiu da música pela música, uma escuta ativa e reafirmando a importância do corpo no trabalho educacional e tendo a psicomotricidade como aliada principal. Ao falar de sua ampla pedagogia de ensino, estamos retratando o sentido amplo da palavra, visto que o educador englobava as diversas áreas do conhecimento em sua pesquisa constante e na busca dos que pretendem adaptar o sentido da rítmica em suas áreas. Podemos entender as mudanças deste educador, observando as mudanças ocorridas na época aliadas a novas pedagogias de ensino. 52 2.2 Histórico do educador: Compositor suíço e professor de música. Émile Jaques Dalcroze (Viena -1865-1950- Genebra). Iniciou sua carreira artística aos seis anos de idade, com o estudo de piano. Em 1875 muda com sua família para Genebra, onde segue seu estudo instrumental em escola privada. A partir de 1881 começam suas primeiras composições como opereta e Escola nova Pedagogia ativa 53 primeiras canções. Participa ainda de algumas representações teatrais em uma turnê pela França e ingressa na Universidade de Genebra, ficando por pouco tempo. 2.2.1 Experiências e vivenciações: Teve suas primeiras vivências musicais em Paris aos cuidados de Fauré e Delibes. No contato da regência na Argélia, fez conhecer a importância rítmica da música árabe, o que influenciou bastante suas pesquisas. De volta a Viena, completa seus estudos no conservatório e conhece o musicólogo e pianista suíço Mattis Lussy (1828-1910), o primeiro, segundo Dalcroze, a se ocupar das leis de expressão musical e do ritmo. Foi por meio de Lussy que Dalcroze intensificou conhecimentos a respeito de aspectos ocultos e complexos do fenômeno musical, tomando conta de que toda expressão musical tem um fundamento fisiológico. 54 Curiosidade: Você sabia que Dalcroze adotou este nome depois de um reencontro com Raymond Valcroze, através da adaptação e empréstimo deste nome para Jaques Dalcroze? 2.2.2 De 1891 a 1909: Uma pedagogia fluente Em 1891, Dalcroze foi trabalhar como professor de história da música no Conservatório de Genebra, onde atuou também nas disciplinas de harmonia, percepção e solfejo, onde lecionou por cerca de dezoito anos. Como de gosto dos suíços, suas composições foram bem aceitas e caíram no gosto popular, sendo os textos de sua autoria. Em 1893, vem sua primeira coletânea de canções, ‚Chansons romandes‛. A partir de 1902, a começar pela Alemanha, seu método e primeiro livro conhecido por ‚Ginástica Rítmica‛. 55 2.2.3 A expansão da rítmica Em 1911 Hellerau começava o curso com aulas de ginástica rítmica, solfejo, improvisação musical, anatomia, canto coral, exercícios práticos de grupo e preparação corporal, tornando-se conhecida como a catedral do futuro. Em 1915, foi inaugurado o Instituto em Genebra, que existe até hoje: Jaques-Dalcroze. Em 1926 foi fundada a União Internacional de Professores do Método Jaques-Dalcroze, mudando de nome em 1977, para Federação Internacional de Professores de Rítmica (FIER). O primeiro Congresso Internacional de Rítmica acontece em Genebra em 1926, reunindo 12 países. Uma parte dos participantes achava que o nome Ginástica Rítmica elaborava apenas uma parte da proposta pedagógica, sendo que tal nomenclatura evidenciava apenas alguns aspectos, e depois de muitas modificações, chegou-se ao nome: Rhythmisch- musikalishe Erziehung (Educação Rítmico-Musical), ou pela 56 abreviação de Rhytmik (rítmica), mais usada e conhecida. De 1915 a 1934, 7.253 alunos de 46 nacionalidades são educados pelo método Dalcroze em Genebra, recebendo em 1935 o título de cidadão de honra. Você sabia que 10.500 assinaturas de alunos do mundo inteiro foram recolhidas onde foi aplicado seu método e compuseram um álbum? Em 1936, Dalcroze é designado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Chicago, recebendoainda o título pela segunda vez da Universidade de Lausanne. E em 1947 é designado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Clermont – Ferrand. O estado de Genebra comprou o edifício sede de seu instituto para abrigar e subvencionar a Fundação Jaques-Dalcroze, que continua ainda hoje em plena atividade. 57 2.3 Produção musical e obra didática São inúmeras belas obras que se constituem de canções, concertos, suítes, oratórios, cantatas, peças solos para piano. Sua primeira ópera foi composta aos 16 anos, La Soubrette, e como exemplo de obra trágica, temos Impressions Tragiques para orquestra. Para fins didáticos, temos pequenas melodias e estudos rítmicos, 50 estudos miniaturas de métrica e rítmica para piano, vocalizes, exercícios de entonação. Tem sua teoria musical em dois livros: Ritmo, Música e Educação (1921) e Eurhytmics, Arte e Educação (1930), que englobam solfejo, improvisação e rítmica corporal. ‚A proposta metodológica desse músico e pedagogo parte do pressuposto que não apenas o ouvido é capaz de perceber os sons, mas sim todo o organismo humano‛ (CHOSKY, 1986, p.28). Sua produção pedagógica apresenta livros, artigos, material didático, ensaios. Dentre tantas obras, destacamos: 58 2.4 Rítmica Através da observação de alunos no Conservatório de Genebra, nas aulas de harmonia Dalcroze pôde observar que alunos tinham alguns problemas vividos na educação musical. Estes alunos não tinham uma escuta interna significativa, executando suas partituras de forma mecânica e pouco musical. Percebeu que os alunos não experimentavam o que escreviam. Como os alunos não podiam ver o teclado para conferirem os exercícios Lembranças, notas e críticas A música e nós: notas sobre a nossa vida dupla Notas multicoloridas 59 de harmonia, por exemplo, na aula, alguns conseguiam escrever acordes, mas não sabiam o som referente ao que escreviam. Dalcroze inverteu o método, permitindo que os alunos tivessem um maior contato com o instrumento antes da execução do exercício. Percebeu ainda uma grande dificuldade na área do canto: segundo ele, os alunos compreendiam bem a melodia, mas não conseguiam executá-la porque não tinham controle sobre o aparelho vocal. Problemas estes que ainda afligem as escolas de música em geral, havendo uma ênfase no virtuosismo, na leitura, na escrita, desprovidos de uma sensibilidade. Além de outra questão, nas escolas primárias a música era vista como objetivo de recreação para passar o tempo. Estas observações levaram Jaques-Dalcroze a compreender que faltava aos estudantes a coordenação entre olhos, ouvidos, mente e corpo, necessária para aprender o repertório – e principalmente para tocar bem. Assim, percebeu que o primeiro instrumento musical que se deveria treinar era o corpo. Numa época em que meados do século XX o estudo 60 corporal estava em evidência contínua, confirmando estas ideias: a kinestesia (de kines = movimento, thesia = consciência). Será que estes problemas ainda continuam rondando os estabelecimentos de ensino atualmente? Dalcroze então dedica-se a uma reforma do ensino de música em outra dimensão buscando a reintegração: 61 (SANTOS, 1994, p.43) Corpo e mente Pensamento e comportamento Pensamento e sentimento Consciente e subconsciente Gosto e entendimento 62 O processo da rítmica foi marcado desde o início por discussões a respeito do caminho pelo qual esta deveria ser conduzida, isto é, qual seria sua qualidade distintiva fundamental. Dalcroze havia dito, por volta de 1944, ou seja, 50 anos depois de ter realizado e aplicado suas pesquisas, que era muito difícil explicar em palavras o estudo proposto. Tratava-se de constantes reformulações empregadas: cérebro, coluna vertebral, noções de movimentos, movimentos indesejados, automatismo, estando consciente de que apenas com a leitura não era possível preencher os requisitos e abrangência em todos os sentidos. Podemos mencionar a Rítmica embasando- nos em dois grupos distintos: no primeiro, temos a Rítmica adotada como pedagogia musical, direcionado aos professores de música, e, no segundo, vemos como um estudo de interligação de áreas diferenciadas que podem ser aplicadas por profissionais que, mesmo não sendo músicos, possam articular o material musical. 63 Euritmia significa literalmente ‚bom ritmo‛ (de eu = bom, rhythm = fluxo, rio ou movimento). Este fabuloso estudo de movimentos parte dos três pressupostos básicos: 64 Todos os elementos da música podem ser experimentados através dos movimentos. Todo som musical começa com um movimento, portanto, o corpo, que faz os sons, é o primeiro instrumento musical a ser treinado. Há um gesto para cada som, e um som para cada gesto. Portanto, elementos musicais podem ser estudados pelo movimento, como: acentuação, fraseado, dinâmica, pulso, andamento ou métrica. 65 É preciso enfatizar que este estudo não se trata de danças aleatórias ou movimentos bonitos. Na verdade, estes movimentos são improvisados pelos próprios alunos e não impostos pelo educador. O professor que usa a metodologia de Dalcroze costuma pedir aos alunos: ‚Mostrem-me o que vocês estão ouvindo‛, em vez de ‚Digam-me o que vocês estão ouvindo‛, num processo demonstrativo, evitando a narrativa oral. Além deste conceito mais amplo, podemos citar: 66 Pensando na educação auditiva, segundo os parâmetros de Dalcroze, citados por Santos, 1944, p.44: - Expressão e conscientização do ritmo natural de cada ser, antes da abordagem de ritmos externos. Escuta ativa Voz cantada Movimento corporal Utilização espacial 67 - Expressão da música corporalmente, segundo as relações de ‚espaço, tempo e peso‛, como uma experiência individual, para ‚deleite‛ pessoal. - Criação de ‚imagens rítmicas definidas na mente‛ como consequência da ‚automatização de ritmos naturais do corpo‛. - ‚Representação corporal dos valores musicais‛. - Capacidade ‚tanto de criar, como de responder às criações de outros.‛ Sendo assim, todo ser humano está em condições de engendrar experiências consigo e com o outro desde que esteja disposto a criar vínculo. É dado a cada um estabelecer este vínculo tanto a partir de sua substancialidade tangível e visível, como talvez intangível e invisível, enquanto se quiser experienciar a si, ao outro, simultaneamente. É importante a busca do equilíbrio entre corpo, espírito, consciente e inconsciente. É importante ressaltar que esta noção de tempo, 68 espaço, contribui muito para o processo criativo. Como citado por Fonterrada, 1998, p. 131, é seu propósito ‚fazer do organismo inteiro algo que poderia chamar-se de ouvido interior‛. (Dalcroze, Les Études musicales et I’ oreille, 1898, in 1965, p.10). 2.4.1 Processo de criação nos parâmetros de Dalcroze: É um momento de síntese onde o aluno se torna compositor, coreógrafo, que pode acontecer em cada aula depois do trabalho realizado. De acordo com o objetivo proposto da aula, o professor pode utilizar ferramentas vocais, instrumentais e/ou corporais. Um aluno iniciante, por exemplo, pode fazer a representação corporal de figuras, pequenas frases musicais, alguns parâmetros sonoros, ou coreografias apontadas em trechos de obras musicais podem fazer parte da aula de rítmica. Enfim, é bom ressaltar que as atividades são bem-vindas em 69 faixa etárias bem diversificadas e trabalhos, incluindo a psicomotricidade. A música é composta por sonoridade e movimento. O próprio som é uma forma de movimento. Os movimentos desempenham papel primordial na compreensão e domínio rítmico... A música não se ouve somente com o ouvido, mas com todo o corpo. (Dalcroze, 1907 in Bachmann, 1998) Além da rítmica,digamos que Dalcroze inclui o movimento plástico. Este parte da reprodução indo a uma improvisação coletiva com a criação de movimentos para estímulos sonoros. Na prática, é pelo movimento corporal que se toma consciência do valor plástico do ritmo, assim como suas modalidades agógicas e dinâmicas. Além das características de improvisação e criação, temos os objetivos principais da rítmica: Capacitar os alunos, no final do curso, a poderem dizer ‚eu sinto‛ em lugar de dizer ‚eu sei‛, e então criar neles o desejo de se 70 expressarem, pois as faculdades emotivas despertam o desejo de comunicação. Destaca a relação de consciência – e não de conhecimento – na experiência musical, precedida da impressão a nível fisiológico (de nervos, glândulas), sensorial, exigindo-se mesmo o ‚refinamento dos sentidos‛ (Santos, 1994,p.44). 2.4.2 Solfejo: um caminho de descobertas O solfejo na rítmica também deve ser praticado e só depois escrito, no mesmo pressuposto que deve ser vivenciado, tendo a oportunidade de cantar, interpretar, gesticular, utilizar instrumentos de percussão. Dalcroze utiliza o solfejo relativo, onde os movimentos corporais ascendentes e descendentes são expressados por movimentos corporais e escritos por símbolos (dentre eles estrelinhas pretas 71 e brancas, bolinhas grandes e pequenas, dentre outras simbologias utilizadas). Exemplos de exercícios de solfejo: (Pedagogias em Educação Musical, p.43): 1- Jogo de notas: 2- Ditado de notas: escreva os desenhos das notas ouvidas 72 3- Continuar o mesmo desenho melódico segundo as notas propostas e, em seguida, contar, com ou sem o nome das notas. 73 2.5 Dalcroze e o Brasil O método foi implantado no Brasil pela primeira vez em 1937 no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. E apesar de inovador, o método era compatível com o espírito modernista da época. Zamith (2008), que teve seu primeiro contato em 1968, relata que sua influência com a música regional permitiu a utilização do método com brincadeiras folclóricas brasileiras e estrangeiras, numa escola de rede pública. Neste mesmo ano foi introduzido pelo pedagogo Sá Pereira e Liddy Mignone, numa escola vocacional no CBM (Conservatório Brasileiro de Música) para crianças que continuariam seus estudos musicais com o nome de iniciação musical. Em 1968, o método foi aplicado por Sônia Born no Rio de Janeiro, ex-professora do Instituto Dalcroze em Genebra. No Brasil, não temos escolas especializadas no método Dalcroze, mas suas ideias continuam a inspirar professores brasileiros. 74 Alguns educadores, dentre eles o brasileiro Iramar Rodrigues oferecem cursos em disciplinas de música, oficinas. Através destes cursos de curta duração, estudantes de música, atores e dançarinos têm tido a oportunidade de vivenciar práticas referentes ao fabuloso estudo da rítmica. Veja um trecho da fala de Iramar na Roda de conversa 3 - Fundamentos da educação musical, pág. 90: Iramar Rodrigues – O que tenho praticado durante os 30 anos de ensino como especialista é a metodologia e a pesquisa de Dalcroze. Ele nasceu em 1865 e morreu em 1950. Até nos seus últimos escritos, sua preocupação era de como podemos musicalizar – através do corpo – uma ‚sensibilidade humana‛. Quando se diz sensibilidade humana, pode ser tanto uma criança de fase escolar, como uma pessoa de 65 ou 70 anos que faz um curso de ritmo para poder ‚viver seu corpo‛. Dalcroze, na sua perspectiva em relação ao futuro, pensou justamente que o corpo é algo precioso e, para o bom músico, 75 essa sensibilização corpórea poderia passar através do ouvido, do olho, da expressão e do gesto. Ele teve duas definições quando criou algumas bases metodológicas. Antes ele falava de uma educação rítmica (pelo ritmo), que mais tarde foi trocada por uma educação ‚por‛ e ‚para‛ a música. E, no fim, ele colocou a educação rítmica e uma educação ‚por‛ e ‚para‛ a música, ‚por‛ e ‚para‛ o gesto e ‚por‛ e ‚para‛ o corpo. Mas a grande vantagem dessa perspectiva dalcroziana é que ele não esqueceu que o corpo humano é evolutivo e pode aprender e assimilar o que é bom, não falando somente de músicos. (Revista Nova Escola, 2012, p.90) Para ver toda a roda de conversa, não deixe de acessar: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/RodaConversa3.pdf http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/RodaConversa3.pdf 76 E para maiores informações sobre o educador Dalcroze: ERA - Associação Espanhola de Rítmica, disponível em: www.ritmicadalcroze.com AJDAR - Associação Argentina de Rítmica disponível em: www.dalcrozeargintina.cjb.net 2.6 Espaçozinho prático da Euritmia Agora teremos um espaçozinho prático com algumas sugestões de atividades que podem ser utilizadas nas aulas, lembrando que as sugestões metodológicas devem ser aplicadas e adaptadas de acordo com a realidade da escola atuante, levando em conta espaço físico, instrumentação disponível para a aula, faixa etária e outras adequações necessárias para aplicação desta metodologia. Lembrando que, nas aulas, é importante não chegar à repetição exaustiva da música, porque as crianças memorizam facilmente os compassos e letras, destruindo a utilidade do exercício e a surpresa. Primeiramente, http://www.ritmicadalcroze.com/ http://www.dalcrozeargintina.cjb.net/ 77 faça exercícios que estimulem a liberação do instinto rítmico, ou seja, primeiro internalizar, depois externalizar através do movimento diretamente relacionado com a música. Não deixem de incluir as atividades em suas aulas, e bom proveito! É importante lembrar que a criança responde espontaneamente aos exercícios propostos e devemos respeitar seu limite de maturidade. Certamente você já aplicou muitas destas atividades sem saber a qual pedagogo se refere! 2.6.1 Sugestão de atividades As atividades foram adaptadas do projeto: Do corpo para a flauta doce: contribuições da psicomotricidade no 78 processo de educação (Wladia da Costa Ferreira, p. 33, 34), do livro Pedagogias em Educação Musical. Atividade 1: Descobrindo o corpo: Crianças dispostas em círculo, cada criança diz seu nome e acompanha o ritmo com palmas, pés, estalos dos dedos, esfregando as mãos, saltando os pés, etc. Num compasso binário de fundo, os alunos baterão palma no primeiro tempo, e no segundo tempo, dois alunos palmearão a mão um do outro. Atividade 2: Interpretar com movimentos a) Interpretar com movimentos no andamento da música e, na pausa, ‘congelar’. 79 b) Aproveitar a primeira atividade e acrescentar ao ritmo do nome diferentes partes do corpo: ombros, cabeça, pernas, quadris. c) Os alunos caminharão em círculo marcando a pulsação da música e, na pausa, param de caminhar usando a pulsação com palmas. d) Imitar a sequência de gestos realizada pelo professor no mesmo ritmo e dar sequência aos gestos (o aluno ficará um gesto atrás do professor). e) Marchar levantando bem os joelhos e ao ouvir a palavra ‚hop‛, dita pelo professor, mudar imediatamente o sentido. Lembrando que a palavra de comando pode ser adaptada por qualquer outra palavra que quiser utilizar. f) Mudar a marcha ao mudar a figura rítmica. 80 Atividade 3: Mudança no andar Aproveitando esta última atividade descrita, você poderá ainda variar tocando um instrumento e os alunos caminham pela sala no ritmo, contendo figuras rítmicas básicas, como duas colcheias para o caminhar, utilizar as semicolcheias para correr, figuras pontuadas para saltitar. Nesta atividade, é importante que as crianças caminhem livremente ocupando o espaço da sala e também fazer variações de andamento. Atividade 4: Ritmando com instrumento a) Sentados em círculo, cada aluno teráuma bolinha de tênis marcando a pulsação onde a música é introduzida simultaneamente. 81 b) Na mesma disposição do exercício anterior, o aluno marcará a semínima com uma palavra eleita. c) Sentados em pares, os alunos terão instrumentos (geralmente clavas), e no silêncio, este aluno passa o instrumento para seu colega que continuará marcando o ritmo, e assim sucessivamente. Atividade 5: Sonorizando a história: É comum utilizarmos contos e histórias para ilustrar as aulas de música; na proposta desta atividade, tomaremos personagens que representam as figuras musicais. O professor utiliza um instrumento para improvisar; enquanto conta a história, os alunos caminham no pulso, então aparece a chapeuzinho; o motivo condutor então é modificado; sendo assim, os alunos modificam sua forma de caminhar. O lobo, então, vai aparecer no mesmo motivo melódico, porém, na região mais grave do 82 instrumento. Os movimentos de tensão podem ser utilizados numa região mais tensa, com acordes dissonantes. Você pode ainda trabalhar com grupos paralelos representando os diferentes personagens, podendo soar como contraponto. Variação: Chapeuzinho amarelo: A mesma história pode ser adaptada numa linguagem mais moderna e divertida podendo ser trabalhados motivos de fraseado, linguagem retrógrada, inversão, ou variações dentro da harmonia proposta. Atividades desenvolvidas por educadores atuais: Não poderíamos deixar de citar várias atividades que alguns educadores da atualidade desenvolvem tão criativamente, aulas participativas baseadas em concepções didáticas segundo as concepções dalcrozianas, pelo menos em algum aspecto. 83 Um dos grupos atuais onde mais se desenvolve a emissão e exploração corporal trata-se do grupo Barbatuques. Se quiser saber mais, visite o site http://amusicanaescola.com.br/. Atividade 1: O Corpo musical - Jogo do eco, p.236. Coordenador: Núcleo Barbatuques Faixa etária: A partir de 7 anos Duração: 1 aula Recursos: Corpo do aluno e professor. http://amusicanaescola.com.br/ 84 Objetivos: Explorar timbres e possibilidades sonoras que o corpo é capaz de produzir. Descrição da atividade: Os alunos devem estar com roupas confortáveis, desprovidos de qualquer acessório ou vestimenta que possam impedir a realização das atividades. Desenvolvimento 1- Aquecimento: Leve alongamento. 2- Sons corporais: Estimular os alunos a acompanharem o professor na apresentação dos seguintes sons: a) Som tocado com os pés: Bater os pés no chão com a sola inteira. b) Sons tocados com a mão: Bater as mãos na coxa, barriga e peito e variações dos sons das palmas (grave, agudo, costas de mãos e pingos). 85 É possível fazer o som de uma chuva utilizando o som das mãos, das palmas. É só começar pelas palmas de dois dedos (pingos), depois passar pela palma das costas de mão, palma aguda, palma estrela e palma grave (aqui é a chuva forte!). Sem parar, faça a sequência inversa. 86 Grave Estrela Estalada Costas das mãos Pingo 87 3- Jogo do eco: Jogo de imitação que prioriza a escuta e a atenção. O professor lança uma sequência de sons simples que devem ser imitados pelo grupo (ex.: duas palmas graves e um pé no chão), podendo variar as frases rítmicas e criando frases mais complexas dependendo do nível da turma. Atividade 2: Respiração - movimento corporal imaginário Enny Parejo é uma pedagoga renomada que trabalha, dentre outros materiais de sua autoria, o Iniciação e sensibilização Musical Pré-escolar - Módulo I, onde a metodologia compõe o seguinte trinômio: ouvir, expressar, interagir. Os conteúdos são organizados de forma progressiva e preza a não verbalidade. 88 Balançar ao vento: Posicionadas livremente pela sala, ou círculo, as crianças inspiram profundamente pelo nariz e pela boca. Na expiração, emitem o som da letra ‚f‛ ou da letra ‚s‛ (o vento) e movem com liberdade, imaginado que são flores ao vento, ou fita esvoaçante. Nas atividades iniciais sugeridas pela educadora Enny Parejo, são conduções que exigem expressividade e movimento corporal, aliados na continuação e repetição da aula a indicações de músicas eruditas que podem conduzir as atividades. Atividade 3: Mix 1 e 2 (Thelma Chan). Quem também trabalha a rítmica com muita expressão corporal e vocal, é a educadora Thelma Chan 89 em seu trabalho: Divertimento de corpo. Nesta atividade é trabalhada a noção de pulso e ritmo, podendo ser explorado o conceito de pulso, inteiro, metade, compasso, depois que as crianças executaram bem a atividade e a interiorizaram. Mix 1 90 Mix 2 91 Atividade 4: Uma variação de método moderno para a atividade descrita anteriormente. (Atividade 3 - mudança no andar) Estímulos sonoros: No método Batuque Batuta vol. 2, pág. 33, temos um exemplo de movimentos de acordo com o som sugerido, onde o professor deve repetir a faixa quantas vezes julgar necessário, onde o cd é tocado e as crianças devem movimentar ininterruptamente da primeira vez e caminharem conforme as faixas; depois de observado, o professor deve, então, sugerir os movimentos: Saltitar, deslizar, pular, girar, flutuar, torcer, desmontar, etc. Depois, divide-se em pequenos grupos que devem executar os movimentos nas sequências sonoras. 92 Numa variação da atividade, o professor pode ainda criar símbolos para representar os estímulos sonoros e assim ir variando a atividade. Atividade 5: Outra variação da atividade sonorizando a história (ícone relembrar) numa versão atual, temos duas dicas: Cecília Cavalieri França sugere grafias para que os alunos montem a sua história. Batuque Batuta, vol. 2, p. 82 e 83 também sugerem a atividade intitulada: A história do som. Os alunos podem relembrar o som da história numerando os sons ouvidos. É importante que o professor participe da contextualização da história. Dividindo, por exemplo, em cenas ou capítulos, esta história pode transformar o texto em quadrinhos, que poderão ser escritos em onze cenas. 93 Atividade 6 : Disponível em: (http://amusicanaescola.com.br/) Colaborador: Camila Carrascoza Bomfim Faixa etária: 6 e 7 Duração: 1 aula Recursos: o próprio corpo http://amusicanaescola.com.br/ 94 Objetivo: Trabalhar questões relativas à altura do som, procurando demonstrar e, aos poucos, dimensionar as diferenças entre grave e agudo. Como o público-alvo é formado de crianças pequenas, o exercício não será teorizado, apenas executado, mas ‚brincando‛. Descrição da atividade: 1- Todos sentam em círculo. 2- O professor explica que vai cantar um som – médio – e vai posicionar as mãos de frente para o tórax, com as palmas voltadas para baixo; 3- Todos executam o mesmo som e o gestual junto com o professor. 95 4- O professor deve explicar então que vai cantar um som mais agudo (mãos na altura da cabeça); 5- O professor retoma o som médio que deve ser imitado por todos. 6- O professor explica então o que é um som mais grave, colocando as mãos nas coxas. 7- O professor deve pedir que os alunos repitam com ele os três sons: grave, médio e agudo. 8- Quando todos estiverem executando bem os exercícios, o professor pede para que fiquem de pé, ainda em círculo. 9- Deve então fazer uma sequência de sons que devem ser imitados por todos. Ex.: grave, grave, médio, agudo. 10- Depois, o professor segue da mesma forma pedindo que o aluno à esquerda crie uma sequênciade 4 sons que 96 serão imitados por todos. O professor deve então observar as dificuldades dos alunos em relação à altura. 11- Para encerrar, o professor abre uma discussão sobre as dificuldades e opiniões do que acharam do exercício. 2.6.2 Aplicando as atividades: E aí pessoal! Depois de uma longa caminhada aprimorando os estudos sobre Dalcroze, vamos fazer algumas atividades? Neste espaçozinho do guia você poderá realizar e criar algumas atividades, baseadas nas atividades descritas anteriormente, nos moldes do método de Dalcroze: 97 Atividade 1: Andando com as figuras Construa um caminho onde os alunos irão passear. Abaixo, temos algumas figuras representando este caminho, dê um nome diferente ou uma maneira diferente de caminhar para cada uma destas figuras e crie algumas regras que deverão ser estabelecidas nesta caminhada. Preencha a ficha básica: Educador: Faixa etária: Duração: Recursos necessários: Conteúdo ministrado: 98 Nome da atividade: Objetivo geral: Objetivos específicos (pelo menos 2): Descrição da atividade: 99 Dica: (?) 100 Desenhe aqui como será seu caminho: 101 Agora preencha a tabela abaixo. Depois do nome de cada figura, coloque o que ela representa no seu jogo. Figura musical Representação no jogo Semínima Colcheia Pausa de semínima Semicolcheia Mínima Pausa de mínima 102 Agora, coloque as regras que você estipulou: Regras do jogo 103 Materiais de apoio: Descreva aqui o material, se necessário, que você irá utilizar para melhorar sua aula de hoje (som, papel, fita crepe, etc.) Dica: Escreva se você tem alguma dica para deixar para seus colegas ou adaptações que poderão ser feitas. Atividade 2: Um conto e (ou) história diferente: Agora como no exemplo da atividade 5: Sonorizando a história, desenvolva a seguinte atividade: Preencha a ficha a seguir escolhendo um assunto que será abordado na sua aula de música de hoje, depois escolha uma história conhecida dos alunos, ou conto, e insira este assunto utilizando a história escolhida e/ou alguns personagens. Preencha a ficha básica: 104 Tema: Educador: Faixa etária: Duração: Recursos necessários: Conteúdo ministrado: Nome da atividade: Objetivo geral: 105 Objetivos específicos (pelo menos 2): Descrição da atividade: 106 É indiscutível a importância educacional de Dalcroze para a evolução e reformulação da educação musical, principalmente pelo sistema de euritmia, que tinha o objetivo de criar, através do ritmo, uma corrente de comunicação entre o cérebro e o corpo, transformando o sentido rítmico numa experiência corporal e física. A inclusão do solfejo relativo e sua influência em pedagogos brasileiros também foram vistos. Vários educadores, inclusive da atualidade continuam propagando sua sabedoria e indicações pedagógicas. Espero que esta unidade II tenha instigado sua curiosidade dentre as várias possibilidades metodológicas. Buscando um ensino musical mais significativo e abrangente, seus alunos conseguem produzir música de maneira 107 prazerosa, mas consciente. Utilizem as dicas das atividades para reformular seus planos e pesquise cada vez mais! Seguimos então por nossas buscas pelo conhecimento através do estudo da unidade III, onde o destaque passa para: Kodály. Boa leitura! 108 Unidade III 109 3. Kodály - Folclore e sistema de sinais ‚É muito mais importante quem ensina música num pequeno povoado do que quem é o diretor da Ópera Nacional... Pois um diretor medíocre falha uma vez. Mas um educador medíocre continua a falhar por trinta anos, matando o amor à música em trinta gerações de crianças.‛ Meta Apontar as descobertas e características de Kodály, tanto em sua vida como na metodologia aplicada, e as contribuições para o processo de educação musical. Objetivos 1- Definir alguns aspectos como: histórico, experiências e vivenciações, assim como produção musical e obra didática. 110 2- Apontar a contribuição desta metodologia e sua influência no Brasil. 3- A prática do saber ouvir como apoio para realização do seu método. 4- Apontar o uso de sistema de duração rítmica, uso de sinais manuais, sistema de dó móvel e solmização. 5- Empregar atividades de pedagogos atuais que seguem esta metodologia na preparação das aulas e criação de novos materiais didáticos. 111 Zoltan Kodály (1882-1967) 112 3.1 Histórico do educador Um dos compositores e educadores que fazem parte do legado do século XX ainda permanece no presente. Musicólogo, músico, linguista, pedagogo e compositor. O fato de ser um exímio nacionalista e de uma família de músicos amadores o ajudou muito em sua trajetória como músico e educador. A música húngara neste século encontrava-se um pouco perdida e foi exatamente da união com o músico Bartók que os traços folclóricos e o resgate cultural foram sendo aprimorados. Uma das características de sua metodologia consiste na valorização da busca de materiais referentes à sua cultura local, principalmente no ensino das primeiras séries do ensino básico, de um repertório adequado a cada país, música tradicional nacional ou composta a partir desta. Ou seja, em cada país deve ser trabalhado repertório próprio segundo sua pedagogia de ensino. Para ele seguir canções, atividades e músicas da Hungria na aplicação de ensino de outro país seria um erro. Só 113 lendo os escritos de Kodály se percebe a impressionante atualidade. Não há que se preocupar com o método, mas pensar numa filosofia de educação, ou até mesmo uma filosofia de vida. Depois há que se fazer o próprio caminho nesta filosofia: isto é seguir o ‚Kodály Path‛. É importante ressaltar que a vivência da prática musical deve anteceder a informação de conteúdos musicais, onde os alunos têm uma participação ativa, que antecedem conceitos como: performance, apreciação e composição, destacando o canto como principal ferramenta de apoio. Esta busca e apoio no material nacionalista e de identidade regional trazem uma diversificação no repertório como: canções de casamento, de festa, lamentos, cantigas de trabalho. Isto varia um pouco a interpretações de algumas canções. Trata da criatividade e empenho do educador brasileiro adaptar rimas, jogos, canções e pesquisas do folclore de sua localidade e adaptar a pedagogia Kodály, tanto pelo canto como 114 identificação de elementos musicais que podem ser ritmicamente explorados. Além disso, nada impede a inclusão da sugestão da tradicional cultura europeia em compositores tradicionais de ensino como: Bach, Haendel, Mozart, Beethoven, Schuman e tantos outros do período barroco, clássico, romântico e contemporâneo. Sua pedagogia ativa valoriza muito o educador como portal do conhecimento e ainda é muito estudada e atrai diversos seguidores do mundo todo. 3.2 Trajetória de vida Zoltan Kodály nasceu em 16 de dezembro de 1882, na Hungria. Filho de músicos amadores, estudou piano, violino e violoncelo, além de ativo participante do coro da igreja. Aos 16 anos começou a compor, e, aos 19 anos, entrou simultaneamente na Universidade de Budapeste, onde estudou literatura húngara e alemã, e na Academia de Música de Budapeste. Graduando-se em composição aos 22 anos, aos 25 torna-se professor de teoria musical na Academia de Música de Budapeste. 115 Entre 1906 e 1908, junto com seu colega Bartók, dedicou-se intensamente à pesquisa na análise e catalogação de elementos folclóricos, rítmicosprevalecentes na música da Hungria e Europa Oriental, além de continuar compondo músicas de caráter nacionalista. Ele chegou a recolher (junto à Bartók) mais de 3.500 registros auditivos ente as 100.000 canções, peças, trechos e melodias populares húngaras catalogadas. Em 1910 casa-se com a compositora, pianista e poetisa Emma Schlesinger. Atuou como crítico musical e tornou- se diretor assistente da Academia Nacional de Música da Hungria até 1919. Kodály conseguiu uma consagração definitiva e fama mundial apenas em 1923, com sua obra "Psalmus Hungaricus", composta especialmente para comemorar o 50ª aniversário da unificação das cidades de Buda e Pest. Em meados 1940, seus projetos vieram com o trabalho em escolas na Hungria, e começou a organizar livros e materiais para serem utilizados nas escolas. Os primeiros livros de Kodály 116 relativos aos solfejos eram destinados para idade entre 10 a 14 anos. Em 1937, publica a obra que lhe dá destaque internacional e serve como ponto de partida para suas composições didáticas posteriores: Música folclórica húngara, seu primeiro volume dedicado a crianças de 6 a 10 anos, e o segundo volume de 11 a 14 anos data de 1943. O material didático vai desde canções húngaras mais fáceis até canções estrangeiras mais complexas. Na Conferência de Isme, Viena, 1958, e em Tóquio em 1963 foram apresentados relatos sobre a aplicação do método onde internacionalmente suas ideias foram projetadas (são 21 livros que integram o método constituído por partituras, exercícios melódicos e rítmicos). Cada livro é independente e aborda um conteúdo específico, onde os exercícios estão dispostos de acordo com o grau de dificuldade; portanto, os livros podem ser utilizados simultaneamente, mas seguindo a ordem estipulada pelas atividades. 117 No caso da regência coral destacam-se, junto à sua proposta de alfabetização musical com variedade de repertório para coro feminino, coro misto ou masculino (147 peças vocais a capella, sendo 24 para coro masculino, 45 para coro misto e 78 para coro infantil e feminino), além de canções para voz acompanhada. Ele faleceu com 84 anos em Budapeste (1967), como ‚herói nacional‛, respeitado na Hungria e internacionalmente. 3.3 Kodály no Brasil Na década de 60 a metodologia de Kodály se espalhou por vários países, sendo adaptada conforme a cultura local. Desde 1986, o compositor e educador húngaro Ian Guest (radicado no Brasil), vem realizando oficinas de educação do método Kodály, em diversos estados brasileiros, desenvolvendo um importante trabalho na Universidade de Uberlândia e no Centro de Ian Guest de Aprendizagem Musical, em 1987 e em 118 1998, na UFMG. Atualmente ministra seu trabalho em Barbacena e Mariana, onde vive, além de ministrar cursos de verão e festivais. Em 2005, esteve num curso de atualização na Hungria. Podemos citar outros assíduos da metodologia: Marli Batista Ávila, além da SKB (Sociedade Kodály Brasil), onde têm sido oferecidos cursos de atualização, curso de introdução à pedagogia e o Seminário Internacional Kodály. Jorge Kaszás e Marli Ávila são os responsáveis pela aplicação brasileira do método Kodály em São Paulo, onde fundaram a Sociedade Kodály do Brasil. 3.4 Ideias e concepções sobre Educação Musical Os fundamentos educacionais que sustentaram a metodologia de ensino de Kodály são resultantes de algumas práticas pessoais: 1- ‚A música pertence a todos, e uma correta educação musical oferece meios para apreciá-la e desfrutar dela‛. 119 Pensando neste item, temos que concordar que talento não é prioridade na aprendizagem musical. 2- A importância da música na vida da criança e do adulto, pois um adulto musicalmente alfabetizado e/ou executante é mais crítico e consciente. 3- O canto como base inicial na formação musical. 4- A preocupação com o nível de desempenho de um professor de música: ‚O pobre professor pode falhar por trinta anos, matando o amor pela música em trinta turmas de crianças‛. 5- ‚A música é uma experiência que a escola pode e deve proporcionar. É necessário o ensino de música nas escolas. 120 6- Aprendizagem de canções a partir da língua materna. A utilização de canções folclóricas e populares coopera no estabelecimento de uma identidade cultural. Qual seria, na sua opinião, a ideia ou concepção musical de que sua escola mais necessita ter aplicação? 3.5 Metodologias de aplicação A metodologia de Kodály não foi estipulada unicamente por ele. Há participações de ex-alunos na aplicação, elaboração, divulgação e construção, além de influências de outros sistemas de educação musical. O material pedagógico é o principal elemento que difere seu método dos demais, tendo como pressuposto conduzir o aluno à percepção do uso do vocabulário musical existente no repertório. Sua principal preocupação é “fazer com que os alunos sejam capazes de 121 escrever corretamente o que cantam e de cantar corretamente o que leem”. Para que o aluno possa desenvolver assiduamente a prática pedagógica de Kodály, é preciso, então, que desenvolva a prática do saber ouvir: (os conceitos foram extraídos do texto: Aprender a ouvir e ouvir para aprender, p. 9 e 10). 1- Audição e fala relacionadas: Sabemos que as formas de comunicação são aliadas e complementares (falar, escrever, ler e ouvir). A leitura e a audição são processos de aquisição de informações e ideias e meios eficazes na aprendizagem. 2- A habilidade de ouvir é governada pelas condições físicas, mentais e emocionais do indivíduo, bem como pelo meio ambiente: Podemos exemplificar isto com uma criança que está zangada ou chateada com algum acontecimento familiar. Ela, consequentemente, não irá 122 ouvir bem. O mesmo acontece se tiver passando por um estado de saúde insatisfatório, como uma dor de dente ou dor de cabeça, por exemplo. 3- Desenvolvendo habilidades em estágios: - Nas primeiras séries são capazes de ouvir apenas para obter informações ou por prazer; à medida que elas adquirem experiências mais numerosas, são capazes de fazer avaliações e apreciações do que ouvem. 4- O interesse pelo que se ouve e o motivo que nos leva a ouvir são fatores que interferem e afetam a audição: Temos que pensar que a música deve ser assunto de interesse para o aluno e orientar a ouvir bem. E, aliados ao motivo, estão a finalidade e o objetivo que nos levam a ouvir. 123 5- Ouvir como atividade criadora: Ao ouvir, estamos interpretando o assunto de forma experiencial a partir de sua personalidade ou modo de pensar. Portanto, duas pessoas que ouvem a mesma música têm interpretações diferenciadas. Níveis de audição, segundo Dra Ruth Strickland: a) Audição casual: Geralmente a criança não tem consciência do que está ouvindo, a menos que esteja muito interessada no que lhe apresenta, distraindo facilmente. b) Audição parcial: A criança fica quieta aguardando uma oportunidade para expressar suas ideias. c) Audição passiva: Ouve com muita atenção, mas sem nenhuma reação. 124 d) Audição interrompida: Ouve atentamente ao assunto proposto até que uma palavra ou ideia a leve a uma divagação (geralmente de interesse pessoal). e) Audição associativa: Ouve, forma associações e responde assuntos à sua própria experiência em vez de reagir ao que lhe é apresentado. f) Audição crítica: Ouve e reage mediante perguntas e/ou comentários. g) Audição genuína: Ouve com evidência de participação mental e/ou emocional. h) Audição analítica: Pesa, analisa e avalia o que ouve. A Drª. relata ainda que estes níveis de audição podem ser vistos em qualquer idade, onde todos nós empregamos estes vários tipos dependendo do nosso conhecimento prévio, interesse pelo 125 assunto, da maneira como ele é
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