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1 Abordagens_atuais_em_segurança_pública

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Circulação Interna 
ABORDAGENS ATUAIS EM 
SEGURANÇA PÚBLICA 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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“Parece-me absurdo 
que as leis, que são a 
expressão da vontade 
pública, que 
abominam e punem o 
homicídio, o cometam 
elas mesmas e que, 
para dissuadir o 
cidadão do assassínio, 
ordenem um 
assassínio público”. 
Cesare Beccaria 
 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
http://pensador.uol.com.br/autor/cesare_beccaria/
 
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SUMÁRIO 
Apresentação .................................................................................................................................05 
Capítulo 1 - DIREITOS HUMANOS APLICADOS NA ATIVIDADE POLICIAL ...............................06 
Exercício de reflexão .....................................................................................................................14 
Capítulo 2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A (IN) SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: um problema 
de polícia?.................................................................................................................................................15 
Exercício de síntese ......................................................................................................................20 
Capítulo 3 - UM BREVE ESTUDO SOBRE O PODER PARALELO ....................................................21 
Exercício de síntese ......................................................................................................................25 
Capítulo 4 - FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA ..........................................................26 
Capítulo 5 - AS ATRIBUIÇÕES LEGAIS DAS POLICIAS MILITARES ESTADUAIS NA TUTELA 
DO MEIO AMBIENTE ............................................................................................................................32 
Exercício de reflexão ......................................................................................................................37 
Capítulo 6 - UMA ABORDAGEM CRITICA SOBRE OS REFLEXOS DO DESRESPEITO AOS 
DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA .......................................................................38 
Exercício de síntese ......................................................................................................................44 
Capítulo 7 - A INFLUENCIA DE PROJETOS SOCIAIS DIRECIONADOS AOS ADOLESCENTES 
COMO FORMA DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E DA CRIMINALIDADE: novas políticas de 
segurança e projetos sociais para adolescentes como forma de prevenção da violência e da 
criminalidade ............................................................................................................................................45 
Exercício de síntese ......................................................................................................................49 
Capítulo 8 NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇAO DOS CRIMES COMETIDOS ATRAVÉS DA 
INTERNET ........................................................................................................................................50 
Exercício de síntese ......................................................................................................................55 
Capítulo 9 - DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA CONCRETUDE DE POLÍTICAS DE 
SEGURANÇA PÚBLICA NO ESPAÇO LOCAL DIRECIONADAS À PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E 
PREVENÇÃO À DELINQUÊNCIA JUVENIL ........................................................................................56 
Exercício de síntese ......................................................................................................................62 
Capítulo 10 - O PAPEL DO ESTADO NO SISTEMA PRISIONAL .....................................................63 
Exercício de síntese ......................................................................................................................67 
Capítulo 11 - MOTIVAÇÃO PARA O PLENO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO POLICIAL: os operadores 
de segurança pública da Polícia Civil do Paraná, seus desafios e limitações ....................................68 
Capítulo 12 - PREVENÇÃO SOCIAL DO CRIME: conceito e estratégias ........................................73 
Exercício de síntese ......................................................................................................................78 
Capítulo 13 - O USO DOS INDICADORES SOCIAIS PELO GESTOR DE SEGURANÇA PÚBLICA 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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NO PLANEJAMENTO DA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR ...........................................................79 
Capítulo 14 - DIREITOS HUMANOS: aplicabilidade da Lei Maria da Penha na delegacia para 
mulher..........................................................................................................................................84 
Exercício de síntese ......................................................................................................................88 
Capítulo 15 - MOTIVAÇAO NO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO: filosofia a ser implantada nas 
instituições policiais do Brasil ....................................................................................................................89 
Capítulo 16 - INTERVENÇÕES DOS ORGAOS DE SEGURANÇA PÚBLICA FRENTE ÀS 
REALIDADES QUE ENVOLVEM QUESTÕES DE CONFLITOS MARCADOS POR 
INTOLERÂNCIA E DISCRIMINAÇÃO ..................................................................................................96 
Exercício de síntese .....................................................................................................................103 
Capítulo 17 - INTEGRAÇAO ENTRE FORÇAS DE SEGURANÇA PÚBLICA EM ÁREA DE 
FRONTEIRA ............................................................................................................................................104 
Exercício de síntese ....................................................................................................................109 
Capítulo 18 - O FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE HUMANA E A POLÍCIA 
CIVIL ........................................................................................................................................................110 
Capítulo 19 - A COMPLEXIDADE DO CICLO DE POLICIA E A NECESSIDADE DE SUA 
EXECUÇÃO DE FORMA COMPLETA PELAS POLÍCIAS CIVIS E MILITARES ...........................115 
Exercício de síntese ....................................................................................................................120 
Capítulo 20 - DIREITOS HUMANOS SOB A MATRIZ DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA 
SOCIEDADE BRASILEIRA ..................................................................................................................121 
Exercício de síntese ......................................................................................................................126 
Atividades Avaliativas .................................................................................................................127 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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A segurança é uma das atribuições do Estado Neoliberal que reafirma a ordem social, garantindo o 
almejado progresso das nações. Também pode ser apontada como protagonistana organização, 
reivindicação, colaboração com a comunidade, no estabelecimento de vínculos, para o 
empreendedorismo, para gerar e gerir vida cultural e atividade econômica a partir da base. Se essas coisas 
não acontecem, um país até pode enriquecer linearmente, mas não se desenvolve, não proporciona bem-
estar para todos. A mesma ótica sobre outra nuance pode ser assim apresentada: onde predominam a 
violência e o crime – seja ele organizado ou difuso – não há ambiente para a formação de redes de 
engajamento cívico e de empreendedorismo popular. O crime estimula ou monopoliza as atividades 
culturais e econômicas das comunidades a ele submetidas, aumentando, com isso, a passividade dos 
cidadãos. 
Acrescenta-se a esta “formula do atraso”, ainda, o medo proveniente da ausência de liberdade 
pedagógica e acadêmica, que se abate, com seu manto obscurantista, sobre as escolas que atendem 
populações de baixa renda em aglomerados populacionais dominados por organizações delinquenciais. 
Todos somos responsáveis pela construção da segurança pública, mas suas potentes redes 
entrelaçadas de sustentação devem ser formadas pelos chamados “operadores diretos de segurança 
pública”. 
Espera-se que o conteúdo aqui apresentado em capítulos congruentes, venha produzir um encontro 
mais profundo com as mazelas, as expectativas, os sonhos, as possibilidades e os avanços de um mundo 
que anseia e que merece viver mais seguro e em paz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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DIREITOS HUMANOS APLICADOS NA ATIVIDADE 
POLICIAL 
 
Vivemos uma época de grandes transformações. Há pouco menos de vinte anos, a Internet e o 
telefone móvel eram projetos para um futuro distante. As inovações tecnológicas, a abertura política e as 
transferências de tecnologia experimentadas pelo modelo econômico catalisaram de tal forma o consumo 
que tornou viável esse momento ímpar de avanços tecnológicos vividos pela humanidade. Resta-nos a 
missão de equalizar essas transformações com as expectativas da população brasileira de ser impactada 
por essa onda desenvolvimentista nos mais variados campos sociais. 
Na área dos direitos humanos, esse processo de transformação vem sendo vivenciado, ao longo da 
história, em que há momentos de estagnação e avanços mais consistentes. A exposição de Fernando 
Sorondo sintetiza com bastante propriedade as raízes do conceito de direitos humanos: 
Por sua índole, pode-se dizer que os Direitos Humanos nascem com o homem. As raízes do 
conceito se fundem com a origem da História e a percorrem em todos os sentidos. Neste imenso 
lapso de tempo, o homem, desde as mais diversas culturas, procura ideais e aspirações que 
respondem à variedade de suas condições materiais de existência, de seu desenvolvimento 
cultural, de sua circunstância política (capturado do site 
http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/mundo/sorondo/ sorondo5.htm, em 01.10. 2007). 
A Segunda Guerra Mundial produziu tantos horrores que a tentativa de conter tais absurdos foram 
exatamente o reconhecimento e a universalização dos direitos humanos. 
No cenário nacional vemos a promulgação da Constituição de 1988 como um estro que arraiga o 
Estado Democrático de Direito, que implicou repensar as práticas de políticas públicas e sociais. 
O tema direitos humanos tomou uma maior visibilidade inserindo-se nos mais variados processos 
de desenvolvimento e vem assumindo uma maior relevância na sociedade ao longo de todo o período 
moderno, em particular na senda da segurança pública. Ainda há um vasto caminho a ser percorrido para 
que se alcance a plenitude da ideologia humanitária e os efeitos positivos possam se espraiar na vivência 
social. Contudo os direitos humanos não figuram como um tema homogêneo, ainda há, por 
desconhecimento ou por convicção, uma resistência na implementação e no reconhecimento de seus 
efeitos para humanidade. 
 O que se deve fixar em direitos humanos, a nosso ver, é a questão da igualdade - 
independentemente do critério de raça, cor, sexo, religião, política ou origem social. Por isso, a teoria dos 
direitos humanos reafirma a premissa de que sendo humanos abrigamo-nos à égide dos direitos humanos. 
Logo, preservar, seja na ação policial ou em qualquer atuação, os direitos humanos é preservar a sua 
humanidade: trata-se de um silogismo verídico e perfeito. 
A vinculação entre a atividade policial e os direitos humanos está cingida na concepção do respeito 
à dignidade da pessoa. Chega a ser redundante, mas é sempre oportuno frisar que a função da polícia é a 
proteção das pessoas, por conseguinte é a proteção dos direitos humanos. 
Conceito de direitos humanos 
Didaticamente quando esse tema é tratado expõem-se algumas linhas sobre a origem dos direitos 
humanos. Aqui suprimimos essa parte por uma questão de conveniência e pelo fato de este texto ser 
dirigido a um público que de certa forma já é afeto ao tema. 
Os direitos humanos comportam uma variada gama de conceitos. Almeida (1996) diz que há um 
ponto comum, quando se fala em direitos humanos: falar simultaneamente em quem detém poder e nos 
que não detêm. Com efeito, em afirmação histórica dos direitos humanos, Comparato (2001, p. 11-12) diz 
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http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/mundo/sorondo/
 
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que: 
A ideia de que os seres humanos, seja individualmente ou em grupos, serem reduzidos a um 
conceito que a todos englobam, como de direitos humanos, é de elaboração recente na História e 
que, antropologicamente, nos povos que vivem às margens do que se convencionou a chamar de 
civilização, não existe palavra que exprima o conceito de ser humano, sendo estes integrantes do 
grupo, simplesmente chamados de "homens", mas os estranhos ao grupo são designados por outra 
denominação, significando que se trata de um indivíduo que pertence a uma espécie animal 
diferente. 
Direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988 
A nova ordem constitucional inaugurou muito vigorosamente os de garantias fundamentais. 
Ressalta Moraes (2000, p. 2)] que "o respeito aos direitos humanos fundamentais, principalmente para 
autoridade pública é pilastra-mestre na construção de um verdadeiro Estado de direito democrático’'. 
Obedecendo ao primado exposto, nossa carta positivou os direitos humanos ou direitos 
fundamentais, tornando-os categorias dogmáticas. Essas positivações muitas vezes são aspirações da 
construção de verdadeiro Estado Democrático. Conforme ensina o mestre Canotilho (2003, p. 377), sem 
essa positivação jurídico-constitucional, os direitos do homem são apenas esperanças, aspirações, ideias, 
impulsos ou, até por vezes, mera retórica política, mas não direitos protegidos sob a forma de normas 
(regras e princípios) de direito constitucional. 
Nesse sentido, observa-se que, com o advento da Constituição de 1988, o Brasil passa a incorporar 
um elenco de direitos e deveres individuais e coletivos, constantes no seu Capítulo I do Título II (Dos 
Direitos e Garantias Fundamentais). 
O caput do artigo 5º explicita o compromisso do Brasil com os direitos humanos: 
Artigo 5a - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (BRASIL, 2003, p. 15). 
Nesse contexto se inserem as garantias estabelecidas na Convenção Americana sobre direitos 
humanos, cujo texto foi aprovado em São José da Costa Rica, em 22.11.1969, incorporada ao direito 
interno pelo Decreto 678, de 06.11.1992, em que no art. Iº determina que "deverá ser cumprida tão 
inteiramentecomo nela se contém”. Da referida Convenção, destacam-se: 
Artigo 5a - Direito à integridade pessoal 
[...] 
2. Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade 
inerente ao ser humano. 
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente 
[...] 
Artigo 7S - Direito à liberdade pessoal 
[...] 
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 4. Toda pessoa detida 
ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou 
acusações formuladas contra ela. 
Conforme se depreende do Art. 5º, § 2°, da Constituição Federal de 1988, todas as garantias 
processuais penais da Convenção Americana integram hoje o sistema legal brasileiro, e isso quer dizer 
que as garantias constitucionais e as da Convenção Americana interagem e se completam. 
Percebe-se que a preocupação com a positivação dos direitos humanos é vê-los devidamente 
resguardados, logo é de um antagonismo visceral que os aplicadores da norma, incluindo-se os policiais, 
tenham qualquer comportamento violador. Almeida (1996) chega a propor uma Teoria Geral das 
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Violações dos direitos humanos, que possibilita desvelar e combater seus falsos princípios e perversas 
fundamentações e convencer a sociedade civil do perigo de aceitação ingênua dessas violações, 
especialmente quanto à pena de morte, a esquadrões de extermínio e à aplicação de maus-tratos e torturas. 
Da polícia, atividade policial e direitos humanos 
Não há nada de inovador quando é necessário conceituar polícia: requer volver à história da 
humanidade. Para abreviarmos essa senda, socorro-me das lições de Pereira; a expressão polícia tem 
origem no grego politéia, do latim politia, significando: 
Conjunto de leis ou regras impostas ao cidadão com o fim de assegurar a moral, a ordem e a 
segurança pública. Inúmeras são as definições no mais variado campo do pensamento humano, 
dependendo da escola filosófica e da doutrina jurídica daquele que a pretende conceituar (1987, p. 
77). 
Para Assis (1992), o conceito de polícia é bastante abrangente, com uma amplitude que expressa na 
realidade a faculdade que tem o Estado, aqui considerado como uma entidade abstrata com personalidade 
jurídica, de policiar os diversos setores que compõem a sociedade, cuidando, advertindo e corrigindo, 
quando necessário. Não se tem notícia no mundo de que alguma sociedade tenha vivido sem uma força 
policial. A polícia nasceu de uma necessidade social. 
Segundo Azkoul (1998, p. 7), no início das civilizações já existia a atividade de polícia. Após sair 
das cavernas, criando as primeiras comunidades, o homem sentiu necessidade de destacar os membros 
mais fortes e jovens do grupo para realizarem atividades de controle e defesa dos demais membros da 
comunidade, sendo esses os primeiros grupamentos sociais. 
Nesse sentido, Azkoul (1998) faz referência à existência da atividade de polícia nas mais diversas 
civilizações, nas mais remotas épocas, tais como: Grécia e Roma Antiga, de 1000 a.C.; no Egito; na 
China; os Hebreus; nas civilizações dos Incas e na dos Astecas. Como se vê, a atividade policial sempre 
existiu nos aglomerados humanos. Se de início não era institucionalizada como a conhecemos atualmente, 
ocorria ligada às atividades religiosas ou então diretamente vinculada ao governo e ao poder militar 
reinante no momento. 
Direitos humanos nas organizações policiais 
Por anos, conforme Balestreri (2003, p. 21), o tema direitos humanos foi considerado contrário ao 
de segurança pública. Na vigência do autoritarismo existente no país entre 1964 e 1984 e a conseqüente 
manipulação dos aparelhos policiais, levou à separação da sociedade e da polícia, o que indicaria uma 
concepção antidemocrática do emprego da força, onde equivocadamente a truculência e o 
conservadorismo político integravam o papel do Estado. 
Houve uma completa descaracterização da função da polícia, a qual era balizar a sociedade que a 
institui, conforme Balestreri (2003), passando a funcionar como órgão repressor, com vista à manutenção 
do poder estatal. 
A natureza da atividade policial está ligada diretamente ao exercício dos direitos humanos, devido 
à função que remete à necessidade do respeito, da promoção dos direitos humanos do cidadão, que deixa 
o policial bastante vulnerável e suscetível de infringir tais direitos - não são suportados pela sociedade 
atos de violação a esses direitos. Com efeito, nesse deslinde, preleciona Balestreri: 
O policial, pela natural autoridade moral que porta,traz consigo o potencial de ser o mais 
marcante promotor dos direitos humanos, revertendo o quadro de descrédito social que o atinge e 
qualificando-se como um dos mais centrais protagonistas da democracia brasileira (2003, p. 37). 
A partir do ano de 1998, quando iniciou uma parceria entre o CICV (Comitê Internacional da Cruz 
Vermelha) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, as Polícias Militares 
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do Brasil foram contempladas cora o "Programa de integração das normas de direitos humanos e 
princípios humanitários aplicáveis à função policial". 
O programa tem a finalidade de formar policiais instrutores de direitos humanos para lecionarem 
nos cursos das corporações, iniciando-se uma disseminação desses ensinamentos nas forças policiais de 
segurança pública. A inserção dos direitos humanos no contexto da atividade policial atende o pleito 
delineado pela própria evolução da sociedade, que cada vez mais tem buscado participar dos problemas 
dessas organizações. 
Ao concluir este tópico, observa-se que a atividade policial está ligada diretamente ao exercício dos 
direitos humanos, o que deixa o policial bastante vulnerável e suscetível de infringir tais direitos. 
O uso da força na atuação da polícia sob a ótica dos direitos humanos 
Por que a polícia usa a força? 
Notadamente o uso da força por parte da polícia pode ensejar violência, truculência e desmandos, 
muito embora isso seja uma desvirtuação da premissa legal. Como aplicador da lei o agente policial deve 
ter um núcleo de informações básicas que lhe asseguraram a legalidade do uso da força. Não é viável o 
estabelecimento de padrões fixos quando está em jogo o uso da força, haja vista as variáveis que podem 
compor um cenário de uma ocorrência policial. 0 agente policial encarregado de garantir os direitos 
fundamentais como a vida, a liberdade, a integridade poderá fazer o uso da força com propósito único de 
desincumbir-se de tal obrigação. Bem lembra Meirelles (1993) que o atributo da coercibilidade do ato de 
polícia justifica o emprego da força física quando houver oposição do infrator, mas não legaliza a violên-
cia desnecessária ou desproporcional à resistência. 
Tavares (2005) afirma que a polícia representa o aparelho repressivo do Estado que tem sua 
atuação pautada no uso da violência legítima. É essa a característica principal que distingue o policial do 
marginal. Mas essa violência legítima está ancorada no modelo de “ordem sob a lei”, ou seja, a polícia 
tem a função de manter a ordem, prevenindo e reprimindo crimes, mas tem que atuar sob a lei, dentro dos 
padrões de respeito aos direitos fundamentais do cidadão - como direito à vida e à integridade física. 
 
Adequação do uso da força 
Balestreri (2003) afirma que seria uma candura, um lirismo perigoso, imaginar que uma força 
policial não deva agir com rigor; máximo sempre que ações predatórias tenham chegado a extremos que 
possam comprometer o bem-estar social. Contudo, o contrário,uma visão radicalizada de tal permissão à 
força, favorecedora de excessos, é igualmente perigosa e socialmente destrutiva. 
A violência policial pode decorrer do uso da força, a qual necessita ser organizada e com 
parâmetros definidos quanto à sua utilização, sendo esse ato o principal poder administrativo que exerce, 
ou seja, o "poder de polícia” voltado à prevenção. 
Justamente por lidar com as liberdades das pessoas, a atividade policial é alvo de uma observação 
constante por parte da sociedade como um todo, que exige atitudes responsáveis por parte do agente do 
Estado, pois como diz Bobbio (1992, p. 176), "o Estado tem o privilégio e o benefício do monopólio da 
força. Deve sentir toda a responsabilidade desse privilégio e desse benefício". 
Por isso mesmo, o poder atribuído à polícia não é ilimitado, não se constituindo em carta branca 
para quem exerce tal atividade. Esses limites a serem respeitados pelos policiais são os direitos dos 
cidadãos, as prerrogativas individuais e as liberdades públicas garantidas pela Carta Magna e pela 
legislação vigente. Portanto, as atividades que a polícia desempenha para manter a ordem pública são 
reguladas por determinados limites que as legitimam, respaldando legalmente suas ações. 
Existem outros princípios básicos delimitadores do uso da força, que, segundo Schroder (2001, p. 
54), “são a legalidade, legitimidade e licitude, norteados sucessivamente por um referencial jurídico, 
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político e moral". 
O holandês Cees de Rover (1998) reafirma que o uso da força só poderá acontecer para que seja 
cumprida a lei. Inspirados em Rover, ficaram estabelecidos princípios para o uso da força que foram 
adotados pela ONU através da Resolução 34/169. Documento que produziu o Código de Conduta para os 
funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei. O referido Código trata de um instrumento 
internacional, sem força de tratado, que tem como objetivo orientar os Estados-membros da ONU quanto 
à conduta dos agentes encarregados de aplicar a lei. Ressalto que como diretriz de ação abriga em seus 
artigos princípios indeléveis de respeito aos direitos humanos. Conforme Mônego (2004) resumidamente 
os artigos dizem o seguinte com relação à conduta dos encarregados da aplicação da lei: 1º) estipula que 
devem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe; 2º) respeito e proteção à dignidade humana, 
mantendo e defendendo os direitos humanos; 3º) limita o emprego da força; 4º) trato com informações 
confidenciais; 5º) reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumano ou 
degradante; 6º) diz respeito ao dever de cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas de sua liberdade; 
7º) proíbe o cometimento de qualquer ato de corrupção, devendo opor-se a e combater rigorosamente 
esses atos; 8º) reitera o respeito às leis e ao CCEAL e convoca a prevenir e se opor a quaisquer violações 
desses instrumentos. 
Outro instrumento internacional muito importante são os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e 
Arma de Fogo, que foi aprovado pelo oitavo Congresso das Nações Unidas, realizado em Havana, Cuba, 
1990. Esses instrumentos são balizadores para a grade de instrução, voltada a difundir a ideia de respeito 
aos direitos humanos ao passo que se estabelece um código deontológico de ação. 
Considerações finais 
Nada mais magnífico do que a vida em sociedade, cada um de nós jamais alcançaria o valor de 
todos nós, mas como nos ensina a poeta Clarice Lispector: "nossa vida é truculenta, nasce-se com 
sangue”. E a máxima de que a violência é a parteira da história chega a ser axiomática se percorrermos as 
nuances da evolução humana. É nesse cenário complexo, conflitante e belo que temos que despertar para 
uma consciência de solidariedade, e os Aplicadores da Lei têm que voltar os olhos sobre si, e 
descobrirem-se Homens, semelhantes aos seus pares e seus detratores. 
A natureza do Estado consiste forçosamente em limitar as liberdades individuais em prol do 
coletivo. Manter a lei e a ordem dentro dessa premissa aduz a uma infinidade de conflitos sociais, mas, 
mesmo assim, como preleciona Bobbio (1992) o problema grave de nosso tempo, com relação aos 
direitos do homem, não era mais o de fundamentá-los, e sim o de protegê-los. Temos que garantir ainda 
que, instalado o conflito, a via de sua resolução esteja concernente aos primados dos direitos humanos. 
Sempre existirá a colisão entre direitos fundamentais, e o princípio da proporcionalidade será o 
medidor da ação. Apesar de Steinmetz (2001) expor sua tese dentro de uma mecânica de decisão judicial, 
é muito pertinente, porém, termos como baliza mestra na ação policial a ideia do princípio da 
proporcionalidade para solução de conflitos dispostos na tese. 
Há sempre espaço para afinarmos ainda mais as práticas de atuação policial com os princípios dos 
direitos humanos. Isso faz com que conclusivamente perceba-se a perfeita compatibilidade entre direitos 
humanos e a atividade policial, podendo ambas nutrir uma convivência pacífica e harmoniosa dentro de 
um Estado Democrático de Direito. 
As Polícias Militares inserem-se num contexto de promotoras dos direitos humanos. Os direitos 
humanos, quando compreendidos na sua totalidade, conduzem à reflexão do momento histórico e, quando 
trazidos para prática policial, afastam a tirania, a violência, elevando o Policial ao exercício de vocação 
heróica. É imperioso que a instituição e seus agentes adiram sem ressalvas os valores dos direitos 
humanos; é uma questão de paz social, de respeito à dignidade, de solidariedade, enfim de amor ao 
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próximo. 
Referências 
 
ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria geral dos direitos humanos. Porto Alegre: S. Antonio Fabris, 
1996. 212 p. 
ASSIS, Jorge César de. Lições de direito para a atividade policial militar. 2. ed., Curitiba: Juruá, 1992. 
AZKOUL. A polícia e sua função constitucional. São Paulo: Ed. Oliveira Mendes, 1998. 
BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos humanos: coisa de polícia. Passo Fundo: Pater Editora, 2003. 
BESTER, Gisele Maria. Caderno de direito constitucional. Porto Alegre: Editora Síntese, 1999. 
BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. 
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, 19- tiragem, tradução da Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: 
Campus, 1992. 
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 8. ed., São Paulo: Malheiros, 1999. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de 
outubro de 1988. Brasília: OAB Editora, 2003. 
________. Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos arts. 5a 
36,52,92,93,95,98,99,102,103,104,105,107,109,111,112,114,115, 125,126,127,128,129,134 e 168 da 
Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103- A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. 
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Exercício de reflexão 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
http://www.cidh.oas.org/countryrep/
http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/mundo/
 
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15 
 
01- Defina, a partir de suas idiossincrasias e as discussões apresentadas, o conceito de Direitos Humanos. 
_____________________________________________________________________________________ 
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Capítulo 2 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A (IN) SEGURANÇA PÚBLICA NO 
BRASIL: um problema de polícia? 
Diz a Carta Magna [1], em seu artigo 144, que a segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas 
e do patrimônio, através dos órgãos de segurança pública. Para a promoção da paz e da ordem social, é 
necessário que haja a correta identificação dos responsáveis pelos delitos praticados e a aplicação das 
cominações legais a eles imputadas. 
Mas será que os textos constitucionais e jurídicos, as nossas polícias, o Poder Judiciário e o sistema 
prisional dão conta do que deles se espera? A situação demanda considerações. Será a (in) segurança 
pública no Brasil somente um problema de polícia? 
A partir da problemática aqui levantada, propõe-se a inversão de foco no debate, o qual atribui às 
instituições de segurança pública o fracasso na manutenção da paz e do bem-estar da sociedade brasileira. 
Outras questões sociais, como a fragmentação do núcleo familiar, o. desemprego, a má qualidade dos 
serviços de educação e saúde, a ausência de programas eficazes do controle da natalidade, a certeza da 
impunidade, a banalização do uso da violência, a segregação social e a corrupção contribuem fortemente 
para o surgimento de um verdadeiro estado de anomia social, segundo Luiz Eduardo Soares [2]. 
Os estudos internacionais que envolvem o fenômeno da criminalidade vêm de há muito tempo, e 
duas linhas teóricas contrastantes aparecem contemporaneamente na tentativa árdua, senão impossível, de 
definir as causas da criminalidade. 
A primeira apresenta aspectos de motivação individual, geralmente ligados a fatores de natureza 
econômica, como a desigualdade social, a diferença na obtenção de oportunidades e a marginalização 
como estímulo ao comportamento criminoso. 
A Teoria da Anomia de Merton [3], da década de 30, resume-se como decorrente da 
impossibilidade de o indivíduo atingir metas por ele almejadas, seja por fatores internos ou externos, o 
que o motivaria para o crime. Em 1955, A. K. Cohen [4] ampliou a abordagem para incluir a questão do 
status social, conhecida como Teoria Geral da Anomia, testada por Agnew e White [5] e Agnew [6] nos 
anos 90. As pesquisas realizadas encontraram evidências empíricas a seu favor. 
A Teoria da Desorganização Social, de Sampson [7], aborda as comunidades locais, que se 
organizam em um sistema complexo de redes de associações formais e informais que contribuem, ou não, 
para o processo de socialização e aculturação do indivíduo. Fatores como a desagregação familiar e a 
urbanização também são analisados, delegando à organização (ou à desorganização) social o papel de 
formador de redes sistêmicas capazes de facilitar ou inibir o controle social. No Brasil, a teoria pode ser 
aplicada nas comunidades constituídas pelas periferias das grandes metrópoles, onde o controle social é 
minimizado pela impossibilidade da manutenção de um tecido social organizado. Em tais comunidades 
costumam habitar grupos de crianças e jovens vivendo cotidianamente nas ruas e vielas, ociosos, carentesde orientação e de supervisão que coíba a prática de atos delituosos. 
A Teoria da Associação Diferencial, ou Teoria do Aprendizado Social, de Sutherland [8], afirma 
que o indivíduo, principalmente o jovem, determina o comportamento que irá adotar a partir de situações 
de conflito que vivenciou e que irá contribuir para o que ele chama de "determinação favorável ao crime 
(DEF)". 
A segunda linha teórica analisa os processos que levam ao crime. 
A Teoria do Controle Social busca explicações sobre por que as pessoas se abstêm de cometer 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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17 
crimes. Aduz que o indivíduo é dissuadido a trilhar o caminho do crime pela relação direta com a 
probabilidade de ser descoberto na execução do delito e o custo que a devida punição lhe causaria. A 
teoria afirma que, quanto mais fortes forem os vínculos do cidadão com a sociedade, maior o seu 
comprometimento com os valores por ela estabelecidos e menor a sua disposição para transgredi-los [5]. 
A Teoria da Escolha Racional [9], contribuição do ramo da Economia, revela que o ato criminoso 
decorre de uma avaliação racional desenvolvida pelo indivíduo, que leva em conta os custos e benefícios 
obtidos com a atividade criminosa se comparados àqueles resultantes do trabalho legal também, das 
probabilidades de detenção e aprisionamento. Tal teoria se apresenta como bastante contemporânea no 
Brasil, devido à impunidade que cobre com seu manto elástico a prática de corrupção que há muito 
depaupera a nação. Estima-se que o percentual de condenações judiciais de indiciados pela Polícia 
Federal seja de apenas 7% no Brasil. 
No Brasil, a relação entre criminalidade e marginalidade tem sido discutida à exaustão pelos 
sociólogos, e daí surgem invariavelmente dois tipos de discurso: aquele que relaciona a criminalidade à 
pobreza e o que procura vincular a escalada do crime à questão da impunidade. 
Os estudos de Coelho [10,11] e Paixão [12] demonstraram que as taxas de crimes são diretamente 
proporcionais às populações das regiões, ou seja, quanto maiores forem as populações, maiores as taxas 
de crimes lá praticados. 
Alba Zaluar [13] traz outro aspecto interessante, referido por ela como "a construção do ethos 
masculino" na sociedade brasileira, que se traduz na figura do jovem, geralmente pertencente às camadas 
de renda mais baixa, que busca o dinheiro fácil, mas também o prestígio social dentro de seu grupo. 
A segunda questão, a da preponderância da impunidade no Brasil, é entendida como reflexo da 
incapacidade de o Estado fazer cumprir a lei. Decorre de variáveis como, por exemplo, a ineficiência 
investigativa das polícias, fazendo com que a ausência de punição sirva de forte estímulo à ação 
criminosa. Também o sistema de justiça criminal possui sérias limitações. Adotando a linha da Teoria 
Econômica da Escolha Racional, os estudos de DaMatta [14,15] abordam a questão das oportunidades, 
identificando a existência de um princípio de hierarquia na. aplicação da lei, em cujas brechas ocorre a 
interferência pessoal. A lei, que deveria ser para todos, sofre "uma espécie de curvatura específica que 
impede a sua aplicabilidade universal que tanto clamamos e reclamamos" [14,15]. Sem apresentar uma 
única causa, a questão da criminalidade decorre do comportamento dos indivíduos em sociedade, a qual 
se modifica constantemente. Partindo dessa premissa e como forma de consubstanciar a hipótese lançada, 
foi efetuada pesquisa documental sobre dados primários dos 1.094 crimes de homicídio ocorridos no Rio-
Grande do Sul no primeiro semestre de 2007, através de boletins de ocorrência, laudos do IML e 
reportagens jornalísticas. Para as 1.094 vítimas de homicídio consumado, houve a indicação de 256 
prováveis agressores, a partir do relatado nos Boletins de Ocorrência. 
Sobre os dados coletados desses indivíduos, foram levantadas variáveis individuais, como: 
a. Idade Média - a maioria dos envolvidos é jovem (vítimas - média 31,7 anos, 53,72% 
entre 18 e 31 anos; agressores - média 33,3 anos, 46,4% entre 18 e 31 anos), fato que encontra 
embasamento teórico na imensa maioria dos estudos relacionados à temática da criminalidade 
violenta (Kubrin [16]). 
b. Gênero - tanto vítimas como agressores são, majoritariamen- te, do sexo masculino 
(vítimas - 89,85%; agressores - 95,31%), constatação explicada em virtude do ethos masculino, 
referido anteriormente (Zaluar [13]). 
c. Etnia - a variável etnia acompanhou a composição da população do Estado do Rio 
Grande do Sul onde, segundo o IBGE, 86,9% são brancos (vítimas - brancos 79,89%; agressores - 
brancos 82,03%). 
d. Estado Civil - Gláucio Soares [17] desenvolveu um estudo em que demonstra que os 
solteiros morrem mais do que os casados e estes morrem mais que os demais estados civis, quando 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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18 
se trata de mortes por homicídio (vítimas - solteiros 73,12%; agressores - 61,89%). A idade 
influencia nessa questão (62,52% das vítimas e 51,56% dos agressores possuíam até 31 anos na 
data do crime). 
e. Escolaridade - na faixa de maior representatividade de vitimados, que vai dos 18 aos 24 
anos de idade (30,35% do total), a escolaridade preponderante foi a do ensino fundamental 
(83,33%). Dado revelador é o de que todos os 204 jovens vitimados nessa faixa etária já deveriam 
ter concluído o ensino médio. 
f. Ocupação Principal - a ocupação principal tanto das vítimas como dos prováveis 
agressores apontou para os trabalhos manuais em zona urbana, que demandam pouca ou nenhuma 
qualificação, como auxiliar de serviços gerais, motobói e autônomo (serviços: vítimas 34,48%; 
agressores 37,76%). Os estudos de Zaluar [13] e Paixão [12] demonstram que os envolvidos 
ocupam o chamado "baixo status ocupacional", na sociedade brasileira. 
g. Vida Pregressa - o dado interessante a ser aqui demonstrado é aquele que sugere algum 
tipo de participação das vítimas para com o desfecho nefasto da atividade criminosa contra elas 
praticada [vítimas - 65,17% com registro de ocorrência policial, 34,50% por crime; agressores - 
69,92% com registro de ocorrência policial, 49,72% por crime]. 
 
Concluída esta etapa do trabalho, pôde ser identificado o perfil dos envolvidos nos 1.094 crimes de 
homicídio consumado, no Estado do Rio Grande do Sul, entre janeiro e junho de 2007: majoritariamente 
composto por homens, brancos, adultos jovens na data do crime, solteiros, com escolaridade fundamental, 
de baixo status ocupacional, em sua maioria com registros policiais anteriores (média de 67,57%). 
A partir dos documentos utilizados como fonte de pesquisa não foi possível estabelecer o status 
socioeconômico dos envolvidos. Dada a sua condição de escolaridade e ocupação principal, infere-se que 
são pobres, em sua maioria. 
Também foram levantadas variáveis estruturais, a partir do relatado nos documentos de pesquisa, 
tais como: 
a. Meio Utilizado - pela leitura dos textos dos boletins de ocorrência é perceptível o fato de 
que muitas desavenças, brigas e discussões do cotidiano derivaram em morte pela possibilidade do uso da 
arma de fogo (77,42%]. 
b. Distribuição Espacial - considerando-se a taxa de homicídios por 100.000 habitantes, 
corroboraram-se os estudos de Coelho [10, 11] e Paixão [12], que demonstram que as taxas de crimes são 
diretamente proporcionais às populações dos Municípios, ou seja, quanto mais densas forem as suas 
populações, maiores as taxas de crimes lá praticados (Porto Alegre - 28,98%; Região Metropolitana - 
34,19%; interior do Estado - 36,84%). A via pública foi o local onde mais aconteceram os crimes de 
homicídio (58,50%), que se deram, em sua maioria, próximo à residência dos envolvidos (48,14%). 
c. DistribuiçãoTemporal - a distribuição temporal apontou que 35,92% dos crimes de 
homicídio aconteceu no horário compreendido entre as 18h01min e as 24h e que o dia com maior 
representatividade foi o domingo (21,66%]. 
 
Concluindo esta análise, resta identificado que os crimes de homicídio, predominantemente, foram 
cometidos na zona urbana das cidades, mantendo concentração proporcional com a quantidade numérica 
e taxa de densidade populacional de cada região espacial, com prevalência na via pública, próximo à 
residência dos envolvidos, nas noites de domingo. 
Foi também criada uma tipologia derivada dos achados nos Boletins de Ocorrência e nas 
reportagens jornalísticas, referentes às circunstâncias que envolveram o crime e às suas prováveis 
motivações, fundamentada conforme as disposições do Código Penal Brasileiro [18]. Os tipos foram 
classificados em desavenças; vingança; passional; trabalho policial; tráfico de drogas; motivo até então 
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19 
desconhecido e outros (encontro de cadáver). 
Dentro da tipologia sugerida, foi possível enquadrar 311 (28,42%) dos 1.094 crimes consumados. 
O resultado foi o seguinte: 
 
Quadro 1. Distribuição Quantitativa/Percentual de Homicídios Consumados por Tipo. 
Motivo 
Desc. 
Desavenças Vingança Passional Outros Trab. 
Policial 
Tráf. de 
Drogas 
TOTAL 
68 66 78 43 33 15 8 311 
21,86% 21,22% 25,08% 13,83% 10,61% 4,82% 2,57% 100,00% 
Fonte: Serviço de Pesquisa e Desenvolvimento da Divisão de Planejamento e Coordenação da Polícia Civil (RS), 
2007 N = 311 casos válidos. 
 
Da análise acima, pode ser inferido que os tipos mais recorrentes de homicídios consumados foram 
aqueles tipificados como vingança ou desavenças, que juntos somaram 46,3% do total, seguidos dos 
crimes passionais. Dentro da tipologia ‘desavenças’ foi possível identificar o grau de relacionamento dos 
envolvidos, o que corrobora os estudos de Kubrin [16], onde restou demonstrado que grande percentual 
dos crimes de homicídios ocorreu entre amigos ou conhecidos (59,18%), entre familiares (24,49%) ou 
vizinhos (16,33%), sendo que apenas uma em cada cinco ocorrências se deu entre estranhos. 
 
Considerações finais 
Estudos sobre criminalidade realizados reafirmam a ideia de que "não se pode estudar a violência 
fora da sociedade que a produziu, porque ela se nutre de fatos políticos, econômicos e culturais traduzidos 
nas relações cotidianas que, por serem construídos por determinada sociedade, e sob determinadas 
circunstâncias, podem ser por ela desconstruídos e superados" (CHESNAIS e BURKE apud MINAYO) 
[19]. 
Para a fundamentação da hipótese de que a (in)segurança pública não depende exclusivamente dos 
órgãos de Segurança, foram analisados dados relativos à vida sociobiográfica de 1.094 vítimas de 
homicídio e de seus prováveis agressores e foi construída uma tipologia dos crimes a partir de sua 
definição pelo Código Penal Brasileiro [18]. Os dados levantados demonstraram que os crimes diferem 
entre si, devido ao perfil dos envolvidos e sua provável motivação. Mas, estatisticamente, foi possível 
traçar um perfil concorrente entre eles. 
Ficou apurado que os envolvidos (vítimas e agressores) em crimes de homicídio consumado 
cometidos no Estado do Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2007 são, em sua grande maioria, 
adultos jovens, de 18 a 24 anos de idade, brancos, do sexo masculino, com algum tipo de relacionamento 
entre si (conhecidos, parentes, vizinhos ou amigos), com baixa escolaridade e status ocupacional 
(inferem-se pobres], moradores de periferias, com registros policiais anteriores, através da utilização de 
armas de fogo em vias públicas, próximo de suas residências, nas noites de domingo, por motivo de 
vingança ou desavença. 
Os números levantados denunciam a existência de focos de tensão social, como os demonstrados 
pela Teoria Geral da Anomia, de Agnew e White e Agnew. 
Os dados mais relevantes foram os que demonstraram a semelhança sociobiográfica dos 
envolvidos, conforme já demonstrado por DaMatta [14, 15]. Quando analisadas as variáveis escolaridade 
(ensino fundamental: vítimas - 75,64%; agressores - 74,32%) e ocupação principal (serviços: vítimas 
34,48%; agressores - 37,76%), essa semelhança fica ainda mais evidente. Pelo peso que tais variáveis 
assumiram dentro‘da pesquisa, pode-se inferir que políticas públicas prioritárias devam incluir a questão 
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20 
da educação em primeiro plano. 
Outro componente levantado que demanda reflexão e tratamento é o do uso indiscriminado da arma 
de fogo, que respondeu por 77,42% do meio mais utilizado para o cometimento dos delitos, no período 
analisado. De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública [20] (SENASP) do 
Ministério da Justiça, o tráfico de drogas e de armas cresce dinâmica e organicamente, principalmente nas 
regiões metropolitanas. Ao financiar a aquisição de armas, as drogas intensificam as práticas criminosas 
de caráter mais violento. A facilidade no aliciamento de jovens sem estrutura familiar, abandonados à 
própria sorte, aliada ao sentimento de impunidade que permeia a sociedade brasileira, decorre da 
aplicação de políticas de segurança pública equivocadas e focadas ainda apenas na repressão, fomentando 
a indústria do crime. Investimentos pesados apenas em pessoal e infraestrutura do sistema de segurança 
pública não são capazes de modificar o quadro da criminalidade no país. 
Pela narrativa dos Boletins de Ocorrência surgiu ainda outra questão relevante: a que diz respeito à 
violência doméstica, que transforma mulheres e crianças em vítimas de atos violentos praticados, via de 
regra, por homens que privam de seu convívio diário. 
Os componentes de desigualdade e de carência social parecem possuir influência na dinâmica do 
crime. Mas não foi possível afirmar que sejam a sua causa mais determinante. 
As polícias também são partes da problemática. Desde que se constituíram, os Estados Modernos 
assumiram para si o monopólio legítimo do exercício da violência, retirando-a do arbítrio dos indivíduos, 
dos grupos e da sociedade civil, e entregando-a ao Exército, às polícias e aos aparatos da justiça criminal 
(CHESNAIS e BURKE apud MINAYO) [19]. Com relação à atuação histórica das polícias no Brasil, diz 
Martha Huggins [21] que, durante um período obscuro de nossa história, os órgãos de segurança pública 
promoveram severa repressão sobre a sociedade civil, atendendo a uma necessidade que o Estado tinha 
por "manter a ordem" e promover uma certa "higienização social”. Ainda hoje, as polícias brasileiras 
guardam resquícios deste passado e vêm sendo capacitadas para uma atuação policial cidadã. Conforme 
também preconizado no Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP [20]) e no Programa Nacional de 
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI [22]), uma nova abordagem, que inclua reformas legais e 
estruturais, integrando as diversas esferas de Governo e a população, juntamente com políticas de 
prevenção, pode se constituir no alicerce necessário ao ataque às causas mais imediatas da criminalidade 
no país. 
O que nos remete à problemática inicial: É a (in)segurança pública no Brasil um problema de 
polícia? 
Por todo o exposto, fica confirmada a hipótese aqui lançada, a de que às polícias cabe apenas uma 
responsabilidade proporcional quanto a (insegurança pública, tanto no Rio Grande do Sul como no Brasil. 
 
Referências 
[1] BRASIL. Constituição da República, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília: 
Senado Federal, 1994. 
[2] SOARES, L.E. Meu Casaco de General; 500 dias no Front da Segurança Pública do Rio de Janeiro. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 
[3]MERTON, R.K. Social Structure and Anomie. American Sociological Review. 1938, v. 3, p. 672-
682. 
[4] COHEN, A.K. Delinquent Boys. Nova York: Free Press; 1955. 
[5] AGNEW, R.; WHITE, H.R. An Empirical Test of General Strain Theory. Criminology. 1992, v. 30, 
p. 475-499. 
[6] AGNEW, R. Why do They do It? An Examination of the Intervening Mechanisms between Social 
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21 
Control Variables and Delinquency. Journal of Research in Crime and Delinquency. 1993, v. 30, p. 245-
266. 
[7] SAMPSON, R.J. The Community. In: WILSON, J.Q.; PETERSILIA, J. (eds.), Crime. San Francisco: 
ICS Press, 1995, p. 193-216. 
[8] SUTHERLAND, E.H. [1942], Development of the Theory. In: SCHUESSLER, K. [ed.), Edwin. 
Sutherland on Analyzing Crime. Chicago: Chicago University Press. 1973, p. 30-41. 
[9] BECKER, G. Crime and Punishment: An Economic Approach. Journal of Political Economy. 1968, 
v. 76, p. 169-217. 
[10] COELHO, E.C. A Crimínalização da Marginalidade e a Marginalização da Criminalidade. Revista de 
Administração Pública. Rio de Janeiro. 1978 jan, 2:12. 
[11] COELHO, E.C. Sobre Sociólogos, Pobreza e Crime. Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 
1980, v. ,23, p. 3. 
[12] PAIXÃO, A.L. Crime, Controle Social e Consolidação da Democracia. Sociedade e Estado. São 
Paulo. 1995, v. X, p.2. 
[13] ZALUAR, A.M. Apresentação Violência, Cultura e Poder. In: CECCHETTO, Fátima Regina, (org.). 
Violência e Estilos de masculinidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p. 9-38. 
[14] DAMATTA, R.A. As Raízes da Violência no Brasil: Reflexões de um Antropólogo Social. In: 
Violência Brasileira. São Paulo. 1981, p. 14-28. 
[15] DAMATTA, R.A. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Editora Sala, 1984. 
[16] KUBRIN, C.E. Structural Covariates of Homicíde Rates: does type of homicide matter? Journal of 
Research in Crime and Delinquency. 2003; v. 40, 2:139-170. 
[17] SOARES, G.A.D. Não Matarás - Desenvolvimento, Desigualdade e Homicídio: As Macrovariatas. 
Rio de Janeiro: Mimeo; 2003. 
[18] BRASIL. Decreto-Lei 2.840 e alterações. Código Penal Brasileiro, 1940. 
[19] CHESNAIS; BURKE, op. cit. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza; SOUZA, Edinilsa Ramos de. 
É possível prevenir a violência? Reflexões a partir do campo da saúde pública, [capturado 2007 out 18]. 
Disponível em: <http:// www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81231999000100002&script=sci_ 
arttext&tlng=>. 
[20] BRASIL. Plano Nacional de Segurança Pública. Secretaria Nacional de Segurança Publica. 
Ministério da Justiça, [capturado 2007 ma'r 12]. Disponível em: 
<http://www.mj.gov.br/senasp/data/Pages/MJlC5BF609PTBRIE.htm>. 
[21] HUGGINS, M. In: LOPES, Andréa Roloff. História: Questões & Debates. Curitiba: Editora UFPR, 
2004, p. 243-249. 
[22] BRASIL. Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - PRONASCI. Ministério da 
Justiça, [capturado 2008 mai 29]. Disponível em: 
<http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ3444D074ITEMID2C7FC5BAF0D5431AA66A136E434AF6BCP
TBRIE.htm>. 
 
Exercício de síntese 
 
01- Apresente o eixo central da Teoria da Anomia de Merton e da Teoria da Desorganização Social, de 
Sampson. ____________________________________________________________________________ 
_____________________________________________________________________________________ 
_____________________________________________________________________________________
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http://www.mj.gov.br/senasp/data/Pages/MJlC5BF609PTBRIE.htm
http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ3444D074ITEMID2C7FC5BAF0D5431AA66A136E434AF6BCPTBRIE.htm
http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ3444D074ITEMID2C7FC5BAF0D5431AA66A136E434AF6BCPTBRIE.htm
 
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22 
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________ 
Capítulo 3 
 
UM BREVE ESTUDO SOBRE O PODER PARALELO 
A segurança pública deixou de ser uma preocupação única e exclusiva dos governos estaduais. 
Passou a ser uma problemática nacional, envolvendo autoridades federais, estaduais e municipais. As 
organizações criminosas existentes no eixo Rio-São Paulo/BR, sendo respectivamente Comando 
Vermelho e Primeiro Comando da Capital, têm dominado o cenário nacional, com suas ações, impondo 
medo na população, causando prejuízo econômico ao país. Mesmo de dentro dos presídios de segurança 
máxima os líderes, dessas organizações criminosas, manipulam seus comandados, articulando planos, 
fazendo com que as ordens emanadas por eles sejam cumpridas. O Regime Disciplinar Diferenciado 
surgiu por ocasião da prisão de Fernandinho Beira-Mar. 
O Regime Disciplinar-Diferenciado tem sua eficácia, porém não reeduca os detentos para a vida 
em sociedade. Possibilita isolamento completo, em cela individual, sendo que a submissão ao Regime é 
baseada subjetivamente, no alto grau de periculosidade do preso, para a ordem e segurança do estabe-
lecimento penal e da sociedade, ou suspeita de envolvimento ou participação em organizações criminosas. 
O poder paralelo deixou de ser, simplesmente, composto por assaltantes e traficantes, a organização 
criminosa atinge todas as camadas sociais passando pelos mais humildes, chegando a atingir de forma 
escalonada até mesmo os Poderes Legislativos, Executivos e o Judiciário. 
Organizações criminosas 
O conceito de organização criminosa e/ou crime organizado não possui uma definição objetiva. 
Contudo foi possível estabelecer alguns parâmetros na intenção de denominá-las e classificá-las. Além 
dos aspectos econômicos e institucionais, deve-se levar em consideração o modus operandi a estrutura de 
sustentação e ramificação do grupo, as divisões de funções, as atividades ilícitas, hierarquia e 
planejamento empresarial, controle territorial, monopólio da violência, uso da intimidação, simbiose com 
o Estado, clientelismo. 
O crime organizado deixou de ser um fato raro no cotidiano nacional. Revistas, jornais, livros, a 
todo tempo veiculando na mídia como está o crime organizado e suas ações cinematográficas. É um poder 
paralelo que atinge todas as camadas sociais, quer participando direta ou indiretamente. 
Conforme Oliveira [1], entende-se que organizações criminosas possuem três tipos de origem, 
exógena que é a que se forma fora do ambiente estatal, endógena são as originárias dos Poderes do Estado 
e endógeno-prisional são as que nascem dentro dos presídios, afirma também que se um estado é fonte de 
grupos criminosos, como ele pode combater o crime praticado individualmente ou de modo organizado. 
O Comando Vermelho foi uma das primeiras formas de organização do criminoso comum em 
nosso país. Na década de 60, a Penitenciária de Ilha Grande vira prisão de segurança máxima, ocorrendo 
o encontro entre condenados por crime de menor potencial ofensivo com o que há de pior da 
criminalidade. A partir de então o Caldeirão do Diabo ganha status de curso de pós-doutorado no crime, 
em que: quem entra ladrão sai no mínimo assaltante, o que se mantém sozinho é elevado a chefe de 
quadrilha, segundo Amorim [2]. 
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O Comando Vermelho 
O Comando Vermelho, organização criminosa do estado do Rio de Janeiro/BR, surgiu entre 1969 e 
1975, no interior do Instituto Prisional Cândido Mendes, com a finalidade de acabar com as condições 
sub-humanas a que os presos eram submetidos, além da pressão psicológica exercida pelo próprio sistema 
carcerário e ainda havia a coerção de outros presidiários. O que leva a classificá-lo como sendo de origem 
endógeno-prisional. 
Atual chefe da organizaçãocriminosa do Comando Vermelho, Luiz Fernando da Costa, mais 
conhecido como Fernandinho Beira-Mar, um dos chefes do tráfico de entorpecentes, desenvolve suas 
atividades de comércio ilegal de drogas nos seguintes estados: São Paulo/BR, Rio de Janeiro/BR, 
Paraná/BR, Mato Grosso do Sul/BR e Paraíba/BR, além de manter negócios na Bolívia, Paraguai e na 
Colômbia, sendo este último país onde fora capturado no ano de 2001. 
Ele foi declarado uma ameaça para a Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, pelo 
então Presidente George Walter Bush, em meados de junho de 2002, registra Amorim [2]. 
Cabe ressaltar a influência do crime organizado na administração pública, uma vez que tudo o que 
ocorre dentro da favela tem que ter o aval dos líderes do Comando Vermelho. Pois, eles exercem o 
controle da vida naquela comunidade, portanto a lei mais usada no interior de uma favela é a lei do 
silêncio. A atuação do Comando Vermelho vai além das favelas cariocas, chegando a São Paulo/BR. A 
organização criminosa carioca se instalou no conjunto habitacional da cidade Tiradentes, situado na zona 
leste de São Paulo/ BR. Lá recrutaram os ladrões locais, fornecendo armamento pesado e impuseram a 
sua ordem através da demonstração de força, segundo Amorim [2]. 
Primeiro Comando da Capital 
Em meados de 1993, durante a prática futebolística, o detento Geleião batiza seu time com o nome 
de PCC. Tempos depois esse time de futebol toma status de organização criminosa passando a ser 
denominado de Primeiro Comando da Capital, o que leva a classificá-lo como sendo de origem 
endógeno-prisional, escreve Oliveira [1]. 
Em 2001, desencadeou-se uma rebelião, simultânea, em 29 presídios do Estado de São Paulo/BR. 
O saldo da rebelião é de 30 mil presos rebelados, 16 mortos e por volta de cem feridos, afirma pesquisa 
de Amorim [2]. Uma das táticas mais usadas para transmitir as ordens para fora dos presídios era passá-
las por meio das mulheres. 
Seu atual líder é Marcos Willian Herbas Camacho, vulgo Marcola. Admirado pelos membros da 
facção por sua capacidade intelectual, o qual em maio de 2006, de dentro do Presídio de Presidente 
Bernardes, sob o Regime Disciplinar Diferenciado, desencadeou os atentados que a princípio seriam 
somente contra os policiais, em represália à transferência de alguns presos para a cadeia de Presidente 
Venceslau, onde não havia condições mínimas "para uma vida digna destaca Souza [3]. Os atentados 
findaram quando o governador de São Paulo/BR Cláudio Lembo dobrou-se às exigências do líder do 
Primeiro Comando da Capital. 
Os atentados mostraram que as Instituições de segurança pública são extremamente frágeis e 
despreparadas. As organizações criminosas, de São Paulo e do Rio de Janeiro/BR, estão realizando o 
intercâmbio do crime, se comunicando e garantindo a globalização do crime organizado. 
Coligação e semelhanças 
Devido ao expressivo enfraquecimento do Comando Vermelho no controle do tráfico de drogas no 
Estado do Rio de Janeiro/BR, esse se une ao Primeiro Comando da Capital na intenção de fortalecer a 
hegemonia do tráfico. 
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Para mostrar que havia boa vontade entre as partes, CV e PCC fizeram concessões e acordos entre 
si. O CV autorizou o PCC a instalar pontos de drogas, as bocas, em alguns morros cariocas 
dominados pelo CV. Do seu lado o PCC passou a negociar armas e explosivos para o CV. 
Cocaína era enviada daqui para lá e de lá para cá. Negociatas que interessavam a ambas as 
organizações e que renderiam dinheiro para as duas, além de facilitar muito os ataques que ainda 
pretendiam fazer (SOUZA, 2007; p. 127-128). 
Enquanto a segurança pública investe em tecnologia de última geração, cortando o sinal dos 
telefones celulares, nas áreas próximas aos presídios, os integrantes das organizações criminosas 
permanecem conectados. 
Pessoas instruídas e com alto grau de conhecimento técnico são aliciadas para cooperarem com as 
ações criminosas. Os futuros integrantes do Comando Vermelho saem das tropas de elite do Exército 
Brasileiro, dos paraquedistas e da Marinha, que são os fuzileiros navais do Estado do Rio de Janeiro/BR, 
diz Amorim [2], 
O Estado falha e as organizações criminosas se apresentam de forma acolhedora. Quando o jovem 
passa a fazer parte da organização criminosa, tem sua autoestima recuperada, pois é status, abrem-se 
várias portas. Ele passa a existir, ser acolhido, reconhecido e valorizado. Além do mais, tem orgulho em 
declarar que faz parte da organização criminosa, dessa forma impõe respeito e não raras vezes causa 
medo. 
A guerrilha urbana é real onde o número de mortes violentas, ultrapassa os limites estipulados pela 
Organização das Nações Unidas, que é de 15 mil a cada ano para os países que não estão em guerra, isto 
é, levando-se em conta somente os números de mortes que ocorrem nos Estados do Rio de Janeiro/BR e 
São Paulo/BR. O arsenal de armamento que o crime organizado detém supera o das Forças Armadas. 
Com a finalidade de manter as organizações criminosas seus líderes inovaram na arrecadação de 
fundos, com um suposto seqüestro, em posse de alguns dados das possíveis vítimas, o preso entra em 
contato telefônico. Ora se identifica como bombeiro ou policial rodoviário e passa a relatar um acidente 
de trânsito com vítima em que uma delas está em estado grave colhendo mais informações, como por 
exemplo, o biótipo, e a partir daí o bombeiro dá lugar ao seqüestrador que parte para a extorsão. 
Aplicavam o mesmo modus operandi para roubar joalherias e empresas de transporte de valores. 
Os órgãos de segurança pública e as organizações criminosas 
As organizações criminosas não afetam diretamente a segurança pública, uma vez que não querem 
chamar a atenção da polícia para o morro. 
Pesquisas de Amorim [2] apontam que o Estado, legalmente constituído, representado pelas 
polícias, não desfruta da mesma credibilidade que a dos traficantes. As atuações policiais são sempre 
vistas como repressivas em relação à população carente, pois os moradores sabem que é inevitável o 
confronto entre a polícia e os traficantes. 
O regime disciplinar diferenciado 
No Regime Disciplinar Diferenciado, há a possibilidade de isolamento completo do detento em 
cela individual. A submissão ao regime é baseada subjetivamente, com base no alto grau de 
periculosidade do detento, para a ordem e segurança do estabelecimento penal prisional e da sociedade ou 
de suspeita de envolvimento ou participação em organizações criminosas. 
Sob o Regime Disciplinar Diferenciado estava o líder do Primeiro Comando da Capital, Marcola, 
que em retaliação às transferências de outros líderes, do Partido do Crime, de dentro do presídio 
desencadeou uma onda de ataques em 2006. 
Há a necessidade de se estabelecer uma metodologia com critérios e parâmetros objetivos para 
determinar se um detento é para ser recluso no Regime Disciplinar Diferenciado. Subjetivamente 
Textos extraídos do livro: Abordagens atuais em Segurança Pública , de Rodolfo Herberto Schneider. 
 
 
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cometem-se muitos erros que podem causar prejuízos irreparáveis à pessoa humana. 
Através do Regime Disciplinar Diferenciado procura-se coibir as ações criminosas, porém a 
presente lei foi criada ao arrepio dos princípios constitucionais, tendo a segurança pública sido repressiva 
e não preventiva. O arcabouço jurídico tem que ser revisto, com seriedade por pessoas capacitadas na área 
e que acima de tudo obedeçam aos princípios constitucionais. 
A aplicação do regime disciplinar diferenciado 
Com a criação do Centro de readaptação da Penitenciária de Presidente Bernardes, os agentes 
penitenciários a serem contratados passaram por treinamento específico na Academia Penitenciária. Onde 
receberam instruções diversas tais

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