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gestalt terapia corrigido

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Universidade Veiga de Almeida
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Coordenação do Curso de Psicologia
Serviço de Psicologia Aplicada 
Curso de Psicologia 
Disciplina: Tópico Especial em Gestalt Terapia
Professora: Daniela Magalhães
Trabalho de A1 – Tópico Especial em Gestalt Terapia
 
Rio de Janeiro
2020 - 2º Semestre
Nome do Aluno: Lilian de Oliveira 
Tópico Especial em Gestalt Terapia – A1
Trabalho apresentado ao curso de Psicologia, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Veiga de Almeida, em cumprimento as exigências da disciplina de Tópico Especial em Gestalt Terapia. 
 
Professora: Daniela Magalhães.
 
Rio de Janeiro
2020 - 2º Semestre
O filme “Um sonho de liberdade” relata a história de Andy Dufresne, que trabalhava como banqueiro. Ele foi condenado por um crime o qual não cometeu: o de supostamente assassinar sua esposa e o amante. O mesmo fora encaminhado para uma prisão a qual o sistema era coordenado por uma pessoa super rigorosa. Ao longo dos dias um preso, Red, que já estava há 20 anos cumprindo sua pena e era responsável por controlar o “mercado negro” da Penitenciária, se aproxima.
Este filme nos deu possibilidades observar e explorar alguns conceitos que envolvem a Gestalt terapia, como: os aspectos de responsabilidade e escolhas existenciais, ajustamentos criativos e autorregulação organísmica. Com isso em mente, abordaremos no decorrer deste trabalho cada um dos termos e assim relacionando-os com o conteúdo do filme.
Primeiro, começaremos a elaborar esse texto a partir do conceito de responsabilidade e escolhas existenciais. Sartre, um grande filósofo e contribuinte do Existencialismo, vai dizer que: “Não importa o que fizeram com você, mas sim o que você faz com o que fizeram de você”. No filme, quando Andy chega à prisão, essa frase é ressignificada e ganha assim um novo sentido.
A primeira escuta através do diretor é: “Vocês comem quando nós dissermos para vocês comerem! Vocês mijam quando dissermos para vocês mijarem e vocês cagam quando dissermos para vocês cagarem. Entenderam, seus pedaços de merda?”. Com isso, o comportamento mais esperado dele seria o de se retrair, chorar e se desesperar, algo que outrora acontecera com outro prisioneiro logo após sua chegada, porém, se manteve calado no início. Esse tipo de comportamento, nos faz acreditar que o indivíduo rapidamente acabará esquecendo quem realmente é, o que o forma, o que lhe agrada, tal como esquecendo também sua natureza, o seu nome e assim se transformando em um número. Tais situações podem ser observadas dentro do sistema prisional, tanto no filme quanto na vida real. Situações que são elaboradas e reproduzidas por um regime repressivo, no qual o indivíduo deve pagar pelo que fez, inclusive, com a inexistência da própria personalidade.
A primeira pessoa com a qual nosso protagonista conversa é Red, para pedir uma “picareta”. Andy parecia, desde o primeiro contato com Red, que tinha um plano estabelecido para seu percurso na Penitenciária, por mais calado que fosse, parecia astuto e esperançoso, e que futuramente passa a dividir um sonho com Red de morar no México e ter sua própria pousada. Para Sartre o homem vive de escolhas e através dessas escolhas, dependendo de qual escolha fizer, é que o homem vai manifestar a sua presença no mundo, e assim, em toda sua trajetória na prisão Andy nos reafirma tal pensamento. 
Como relatamos anteriormente, Andy antes de ir para a prisão, atuava como banqueiro, e na primeira oportunidade que teve para mostrar sua habilidade, não teve receio. Vemos isso quando ele e seus amigos consertavam um telhado, e ouviu de um policial (que o supervisionava) um comentário a respeito de uma herança que havia recebido e que perderia dinheiro com relação ao Imposto de Renda, ele teve a iniciativa de falar com o policial que poderia ajudá-lo com suas economias. Esse momento foi um marco para ele, pois os guardas passaram a consultá-lo para tratar de suas finanças e desse modo acabou sendo privilegiado com algumas “regalias”. Vemos assim o quanto as escolhas que fez que acabaram lhe abrindo possibilidades naquela prisão.
Por outro lado, o amigo Red, que já tinha consciência o quanto era um homem institucionalizado, se mostrava sem esperança e não acreditava que seria capaz de sobreviver novamente no mundo em liberdade. Ele se mantinha em uma posição passiva diante dos dilemas na cadeia. Desse modo, Andy surgiu naquele lugar para possibilitar e ampliar a busca da própria liberdade de escolha de Red e dos outros amigos, sabendo que escolher ou não escolher, é também uma escolha.
 Quando Andy foge da prisão, se assume então protagonista da sua própria vida, não aceitando que iria passar o resto de sua vida pagando por um crime que tinha a certeza de que não cometeu, e ainda discordando da lavagem do dinheiro que existia na prisão. Ele denuncia o diretor anonimamente e foi atrás do seu sonho. Red parou de usar a má-fé e se responsabilizou pela sua vida, e em sua avaliação de condicional, escolheu falar, se posicionou e conseguiu ganhar a tal liberdade.
Escolher se responsabilizar pela sua vida, fez com que Red pudesse ter a chance de sair da prisão e viver uma vida calma com seu amigo. Assim para Andy, quando fez suas próprias escolhas acabou contribuindo com a mudança na vida da prisão, na vida do seu amigo Red e na sua própria vida, levando-o a liberdade. “Quando colocamos nossas escolhas em prática, materializamos o nosso projeto existencial. Com isso, escolhemos algo no qual nos engajamos, nos projetamos e direcionamos a nossa existência.” (CARRASCO, 2017).
Vamos adentrar agora em um outro fundamento trabalhado na Gestalt Terapia chamado de ajustamento criativo. A partir da abordagem gestáltica, que compreende o sujeito de maneira global, pleno, único, sem divisão em sua constituição na constante relação com o meio. Veremos o quanto o meio possibilita que o indivíduo se reajuste, de maneiras criativas.
Portanto, nesta manutenção da relação com o ambiente encontra meios através do ajustamento criativo para se efetivar, ao possibilitar o homem de satisfazer suas necessidades e adaptar-se a situações diversas, sendo, então, uma forma saudável de manter o equilíbrio do organismo (LUCAS, 2010). É “uma forma que [...] o indivíduo emprega em sua vida visando uma manutenção de um equilíbrio interno” (MAGALHÃES, 2009, p. 62).
Em suma, no filme “Um sonho de liberdade”, observamos os ajustamentos criativos que o banqueiro faz, diante de todo caos que estava vivenciando num ambiente nada acolhedor. Ele resolvia os problemas dos personagens coadjuvantes, do presidio de formas inusitadas sempre buscando sua autorregulação e uma adaptação saudável as exigências externas. 
Uma das primeiras demandas foi solucionado de maneira inovadora, quando consegue a expansão da biblioteca da prisão. Diante do fato que, a penitenciária não tinha dinheiro para poder aumentá-la, Andy estabeleceu um método criativo, onde ele enviava cartas semanalmente para o governo requerendo capital para o investimento da biblioteca, mesmo sendo desacreditado por todos. Conseguiu um retorno positivo depois de meses, e a biblioteca se expandiu. Esta ação possibilitou que outros presos se formassem no ensino médio e outros aprendessem a ler. 
Embora a vivência seja um fluxo constante, ela do mesmo modo enfrenta também algumas resistências internas. O indivíduo ao resistir, crê que está agindo para se proteger, conservar e promover a sua honestidade. Porém muitas vezes se demostra como uma indecisão de mudar o modo pelo qual sempre se comportou ou agiu. (ZINKER, 2007)
No filme, é possível ver as inúmeras mudanças que o personagem principal vivencia ao longo da história, sendo todas, uma maneira de se adaptar e melhorar a sua qualidade de vida e o seu bem estar. Dufresne finaliza sua demonstração de como usamos ajustamentos criativos, construindo um túnel em sua cela, cavando aos poucos todos os dias. Com criatividade, esconde o buraco com pôsteres de mulheres. 
Seguro na confiançaque estabeleceu com seus superiores, visto que em dado momento ajudará o chefe da penitenciaria, ele cria um modo de a cada dia no seu banho de sol, largar pequenas quantidades de terra da sua cela, escondida nas dobras de sua calça e discretamente espalhava pelo pátio, demostrando mais uma vez sua habilidade criativa . 
Assim, observamos o protagonista mostrando ao longo do filme que inúmeras vezes temos que nos ajustar, adaptar, usarmos nossa habilidade criativa em diferentes momentos de nossas vidas, sem deixar que os desafios externos nos desestabilizem ou nos faça paralisar. Dessa forma, temos a possibilidade de seguir novos caminhos de maneira plena frente aos nossos desejos e ou necessidades.
Finalmente abordaremos sobre o conceito de autorregulação organísmica, que é advinda da Teoria Organísmica do neurologista alemão Kurt Goldstein, ele a definia como uma forma do organismo interagir com o mundo, segundo a qual o organismo pode se atualizar, respeitando a sua natureza do melhor modo possível. (LIMA, 2009)
Nesse sentido, Andy Dufresne como já referimos acima tinha uma forma peculiar de interagir com o mundo e seu ambiente, onde buscava “ferramentas” para a sustentação do seu equilíbrio orgânico. Ele se manteve estável quando foi abusado sexualmente durante dois anos consecutivos dentro da prisão. 
Uma frase importante que nos chamou a atenção, foi “faz-se o que for preciso para não enlouquecer, aqui na prisão um homem faz qualquer coisa para manter sua mente ocupada.”. Observamos que Andy se apegava a projetos como uma forma de auto regulação organísmica, por exemplo quando planeja a ampliação da biblioteca e logo já precisava de um novo projeto e assim se dedicou ao ensino de Tony.
Para Goldstein qualquer necessidade é um estado de déficit que motiva o organismo a supri-lo, de acordo com os potenciais individuais e inatos diferentes, que dão forma aos seus fins e comandam as linhas do seu progresso individual. No entanto a teoria organísmica enfatiza a unidade, a integração, a consistência e a coerência da personalidade normal, ou seja, a organização é o estado natural do organismo.
É natural que o organismo escolha aspectos do meio no qual vive, os quais ele mesmo irá reagir, exceto em situações raras e anormais, o ambiente não pode forçar o indivíduo a se comportar de maneira inapropriada a sua natureza, logo se o organismo não consegue controlar o ambiente, ele tentará se adaptar à ele. Conectado a isso, a teoria organísmica e a Psicologia da Gestalt assemelham-se na forma como ambas tendem a “ver” e perceber o ser humano de modo integrado e não como um conjunto de partes separadas. Percebemos isso com Brooks, um idoso que se encontra preso há cinquenta anos na prisão de Shawshank; ao ser liberto, não consegue se desvincular do ambiente penitenciário e se adaptar à sociedade, pois, o cenário datado antes de sua prisão era mais estático e quando foi liberto, havia se modificado, tornando-se mais dinâmico. O mundo da prisão era estável, diferente do ambiente que se apresentava a ele naquele momento “a liberdade de agora era fictícia, pois permanecia preso as regras estabelecidas aos detentos. Havia, portanto, assimilado a identidade dos prisioneiros” (MOTTA, 2011, p.1). Assim, o personagem idoso comete suicídio, pois prefere isso a encarar o desafio de se adaptar a uma nova vida, não conseguindo ressignificar e encontrar sentido de vida neste novo momento que iria experienciar.
Segundo Lima (2009), para que a autorregulação aconteça, é fundamental que o organismo possa ter respostas novas para as situações pelas quais ele passa na sua permanente interação com o meio ambiente. Se pensarmos deste modo, nos parece que ser criativo é uma condição fundamental ao processo de autorregulação. Assim, Andy consegue desenvolver seus objetivos de diversas formas criativas e bem inovadoras, tanto dentro e fora da prisão, quando cria o sócio silencioso, que é um fantasma, porém existente perante a Lei. Ele aproveita os conhecimentos sobre o sistema e suas brechas para planejar todos as condições necessárias para sua fuga.
Percebemos que Red, quando liberto, toma a decisão de “quebrar” as regras da sua condicional, não se apresentando ao seu agente para ir de encontro com o amigo Andy. Nesse momento ele volta a ter esperança e sonhar com a liberdade, se permitindo ser uma pessoa livre e não mais institucionalizada. Segundo a teoria organísmica, o indivíduo é um todo unificado, como um campo integrado em sentimentos, sensações, emoções, imagens. O corpo e a mente não são entidades separadas. O organismo é uma só unidade, que todo ser humano possuí uma propensão a autorregulação, sendo que este só se dá por completo quando a relação “self -eu-mundo” encontra-se equilibrada, a partir de então o organismo passará a agir naturalmente. 
Mediante a tudo que foi abordado, o “fim” de Andy e Red, a tal liberdade é finalmente alcançada quando ambos se encontram no México. Visto que Dufresne compartilhou o seu sonho com seu amigo e o mesmo pode se juntar à ele para desfrutar desse sonho. Conseguimos observar como os conceitos se complementam e levam os personagens à uma nova realidade a partir da consequência de suas escolhas e possibilidades vivenciais.
Referências Bibliográficas:
CARRASCO, Bruno. Escolhas e projeto existencial. Existo, 2017. Disponível em: <https://www.ex-isto.com/2017/11/projeto-existencial.html>. Acesso em: 24 de Set de 2020. 
LIMA, P. A. Criatividade na Gestalt–terapia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, vol. 9, núm. 1, janeiro-abril, 2009, pp. 87-97. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812009000100008 >Acesso em: 17 de set. 2020.
LUCAS, M. Como Libertar-se das Angústias do Passado. 2010. Disponível em: < www.escolapsicologia.com> Acesso em: 11 jan.2016. 
MAGALHÃES, M. M. A Infidelidade Conjugal e seus Mitos: uma leitura gestáltica. Revista IGT na Rede, v. 6, n. 10, p. 58-90, 2009. ISSN: 1807-2526.
MOTTA, C. M. M. Um Sonho de Liberdade – Análise Semântica. 2012. Disponível em:<http://leiturasinterdisciplinares.blogspot.com.br/2011/12/analise-do-filme-um-sonho-de-liberdade.html>. Aceso em: 28 de abril de 2016.
PORTAL EDUCAÇÃO. Teoria Organísmica. 2012. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/teoria-organismica/23636>. Acesso em: 7 ago. 2017.
PEREIRA, Everli Fernanda; MELLO, Tamyris Villela. O homem e angústia existencial em Jean-Paul Sartre. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/87BLW0hYmfXo34t_2013-5-13-16-3-56.pdf. Acesso em: 24 de set. 2020.
ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt- terapia. São Paulo: Summus, 2007.
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