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[FICHAMENTO] MARTÍN-BARBERO: Dos meios às mediações

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Jesús Martín-Barbero - Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia
Parte 1, cap. 1: Povo e classe
Ao longo do século XIX, a ideia de povo acaba tomando outro rumo: pela direita (se torna massa) e pela esquerda (se torna classe social). Tal conceito como classe social tem no anarquismo certas concepções românticas no projeto e nas práticas revolucionárias. No marxismo, porém, há uma ruptura com essas concepções românticas. O ponto em comum, entretanto, é que ambos consideram que o popular tem como base a afirmação da origem social (Frente aos ilustrados – a ignorância e a superstição são efeitos da “miséria social” das classes populares. Frente aos românticos – artes populares são as pegadas corporais da história, os gestos da opressão e da luta).
...No movimento anarquista
Para o movimento libertário o povo se define por seu enfrentamento estrutural e sua luta contra a burguesia numa relação com a opressão em todas as suas formas. As concepções românticas no anarquismo vêm daí: o instinto de justiça, pelo sujeito da ação política, e sua fé na Revolução. Assim, romanticamente ele é a parte sã da sociedade (que em meio da miséria sabe conservar a exigência de justiça) para transformar o presente e construir o futuro.
Os libertários pensam seus modos de luta em continuidade direta com o longo processo de gestação do povo. É através da memória do povo e das lutas que eles se ligam à uma cultura popular. O uso de romances de folhetim, evangelhos, caricatura ou leitura coletiva dos periódicos traz uma percepção de cultura não só como manipulação, mas como conflito para transformar os meios de liberação em expressões e práticas culturais.
Uma segunda linha de trabalho a resgatar é a preocupação por elaborar uma estética anarquista. Tal estética pretende reconciliar a arte com a sede de justiça que lateja no povo. É por isso que são contra uma ideia de obra-prima (uma arte especial aos “artistas gênios”), mas em favor a uma ideia de arte em situação (aquela que reside na experiência, presente até no homem mais humilde que sabe narrar, cantar ou entalhar a madeira).
...No movimento marxista
Diferente das concepções anarquistas de povo, o marxismo traz em pauta a novidade radical de produção do capitalismo. A explicação da opressão e a estratégia da luta se situam um único plano: o econômico, o da produção.
...Na direita liberal
UM CONTEXTO. Até o séc. 19 começa a gerar uma concepção do papel e do lugar das multidões na sociedade. Com os efeitos da industrialização capitalista há uma nova trama social: à medida que as técnicas eram mais racionais e as riquezas mais abundantes, as relações sociais eram mais irracionais e a cultura do povo, mais pobre. Daí surge uma teoria social, pela direita política, para compreender e dar sentido ao que está acontecendo: uma teoria que busca relacionar massas com sociedade. 
Parte 1, cap. 2: Massa na direita liberal
Democracia moderna e Ditadura da maioria
Essa teoria tem Tocqueville um dos primeiros formuladores. No que antes se tinha uma concepção de massas como barbárie, fora e ameaçando a sociedade, com essa nova teoria se tem um conceito de massas que se transforma em multidão urbana, dentro da sociedade, atribuindo uma ideia de igualdade social. Mais do que isso, seu pensamento está em como ter igualdade social sem perder a liberdade individual? É nisso que reside o início da democracia moderna.	Comment by Kennet Anderson: Tocqueville -> Massa na sociologia
Entretanto, a democracia de massas em si já está fadada a autodestruição. Quando todo mundo pensa igual na democracia, a sociedade acaba expressando a vontade da maioria. Então, o que se torna importante não é a razão e sim o que é querido pela maioria. E isso pode acabar legitimando uma ditadura da maioria. Alguém que sofre de injustiças não terá a quem se reportar, pois a opinião pública é a vontade da maioria, o corpo legislativo é a representação dela, e o executivo é o instrumento dela. A massa igualitária acaba calando o diferente. Tal reflexão é o centro de um questionamento formulado por Tocqueville: podemos separar a igualdade do processo de uniformização cultural? Ou seja, como também abordado nos pensamentos de Stuart Mill: de um lado se tem a igualdade civil, mas do outro uma dispersa agregação de indivíduos isolados (desagregação compensada pela uniformização).
Para Engels, a massificação das condições de vida leva a uma homogeneização da exploração. Isso acaba gerando uma consciência coletiva de injustiça nos indivíduos para eles mudarem a sociedade. Daí surge, pela primeira vez, o significado de massa como um movimento que afeta a estrutura e a ordem de uma sociedade feita pela e para a burguesia.
A Psicologia das Multidões
Após a Comuna de Paris, na segunda metade do século 19, a relação massa/sociedade toma um sentido conservador. Na teoria da sociedade de massas, as massas significam os proletariados, cuja presença desonra o burguês. Por isso, o pensamento conservador busca controlá-las.
Nessa época, Gustave Le Bon (em Psicologia das Multidões) analisa as massas como um fenômeno psicológico irracional: os indivíduos agem coletivamente de uma forma diferente de quando agem individualmente, onde as inibições morais desaparecem e prevalece a afetividade e o instinto. O psicólogo, então, propõe o modo como operar sobre a massa: a chave estaria na crença.	Comment by Kennet Anderson: Gustave Le Bon -> Massa na psicologia
Psicologia das Massas
Freud (em Psicologia das Massas) rebate isso afirmando que a psicologia individual é também psicologia social, não existe diferenças entre o agir de ambos. 	Comment by Kennet Anderson: Freud
Isso porque, desde muito cedo, na vida psíquica de um sujeito, o outro entra em consideração de maneira regular, seja como um modelo (sendo uma referência para identificação – ex.: um pai), um objeto (alteridade do tipo libidinal/narcísico: são movimentos que permitem ancorar no outro a satisfação de nossas pulsões, fantasias, medos, etc. – por meio de aproximação, distanciamento, amor, ódio, segurança, perseguição –, nos identificando e definindo a ele) ou como um auxiliar/oponente (ações de solidariedade e honestidade. É o trabalho de um projeto comum ou rivalidade). 
Portanto, o que existe é um sujeito com sua individualidade, com sua singularidade, mas que está, ao mesmo tempo, inserido num contexto social, cultural, político e histórico, que também o determina.
Vale ressaltar o conceito de Freud sobre instinto social: quando o indivíduo isolado, que recebe influência de um número reduzido de pessoas (ex.: família) passa a fazer parte de um grupo maior (que se reúne com objetivo em comum), ele passa a agir instintivamente. Mas, diferente da forma natural, o agir instintivo só emerge quando o indivíduo está em grupo.
Homem-massa
Passadas as teorias de massa/sociedade da direita liberal ou conservadora que dizem respeito a sociologia (Tocqueville) e psicologia (Le Bon), os acontecimentos do século XX (1° Guerra, Rev. Soviética, Fascismo) levam a necessidade de se pensar essa proposta na metafísica. Para isso, Ortega y Gasset elabora aquilo que descreve como o homem-massa: um aglomerado de indivíduos passivos, alienados, irracionais e ignorantes. Mais que uma ideia quantitativa de pessoas, é um estado psicológico/moral que pode estar em qualquer classe social. É o homem vulgar, aquele que não exige nada de si mesmo, se conforma com o que já tem e não busca superação.	Comment by Kennet Anderson: Ortega y Gasset -> Massa na metafísica
Na relação massa/cultura Ortega aponta que a massa é incapaz de cultura. É na cultura, ou na arte moderna, que a minoria (sob o ponto de vista do igualitarismo social de Tocqueville) se vinga da massa, pois ela se aborrece e se irrita com a cultura. É por isso que o fascismo considera a arte moderna como degeneração.
Cultura de massas nos estudos norte-americanos
Com o pós-guerra, a lógica do eixo da economia mundial sai da Europa e vai para a América do Norte. Enquanto os pensadores da velha Europa consideravam a cultura demassas como degradação, os teóricos norte-americanos dos anos 40-50 olhavam a cultura de massas como afirmação e aposta na sociedade da democracia: a cultura de massa era vista como a cultura do povo.
Aqui, a nova sociedade é pensável não na mudança do âmbito político, mas no da cultura: os códigos de conduta do povo. Mediado pelos meios de comunicação de massa, os mentores da nova conduta são os filmes, TV, publicidade, que começam transformando o modo de vestir e termina provocando uma profunda mudança nos aspectos morais. A crítica política dá lugar a crítica cultural, aquela capaz de analisar os problemas dos desníveis culturais como indicadores da nova riqueza. Supera-se a velha ideia de cultura superior x cultura popular.
Edward Shils aponta que massa deixa de significar anonimato, passividade e conformismo (como nas ideias de Ortega). Ela agora possibilita a comunicação entre as diferentes classes sociais. Se antes o livro reforçava a segregação, agora o jornal, o cinema e o rádio intensificam o encontro. David Riesman e B. Rosemberg vão na direção de que termina uma época de angústia e se inicia uma época onde o efeito é mais importante que o significado.
Entretanto, embora se tenha superado o idealismo aristocrático, a análise cultural é separada das relações de poder. Ela permanece atrelada ao idealismo liberal que exclui cultura/trabalho dos espaços da necessidade e do prazer. Com isso, a sociedade é reduzida a uma cultura do consumo.
Parte 1, cap. 3: Indústria cultural
Escola de Frankfurt
Com a Escola de Frackfurt, os procedimentos de massificação vão ser pensados (pela primeira vez) como constitutivos dos conflitos da estrutura social. Aqui, chega-se ao estudo da massa como efeito dos processos da manifestação da cultura na lógica da mercadoria, ou, a Indústria Cultural. Tem, pela primeira vez nas esquerdas, a problemática da cultura para se pensar as contradições sociais.
Adorno e Horkheimer
A Indústria Cultural parte da contextualização de regimes totalitários, onde um sistema regula o aparente “caos cultural”. Cada unidade desse sistema age na lógica de uma indústria para a formação política: desde a produção de coisas, à produção de necessidades.
Nessa ideia se admite uma generalização, de que até os produtos mecanicamente diferenciados acabam por se revelar sempre como a mesma coisa; e uma atrofia da atividade do espectador, onde a grande intenção da Indústria Cultural é obscurecer a percepção de todas as pessoas.
Adorno aponta que a arte se torna um aristocratismo cultural onde o populismo (fascista ou não) se nega em aceitar uma pluralidade de experiências, exigindo dos artistas obras que se conectem com a sensibilidade popular.	Comment by Kennet Anderson: Adorno
Adorno aponta que para fugir dessas ideias, a arte não deve emocionar, mas sim comover. Para ele, o estranhamento da arte é a condição de sua autonomia. Para permanecer íntegra, precisa se distanciar, não participar da comunicação.
Walter Benjamin
De acordo com Walter Benjamin, entender o que se passa culturalmente nas massas parte de considerar suas experiências, pois a chave do que ocorre na cultura está na percepção e no uso. É por isso que dois temas são necessários para suas discussões: as relações de massas com novas técnicas e massas com cidade moderna.	Comment by Kennet Anderson: Walter Benjamin
Sobre as novas técnicas, Martín-Barbero pontua as análises conflituosas sobre a obra de Benjamin. Enquanto muitos se referem a seus estudos como um “canto ao progresso tecnológico na comunicação” ou traduzem a “morte da aura” a uma “morte da arte”, Barbero traz outra reflexão: a obra de Benjamin é sobre os modos como se produzem as experiências. 
Benjamin vai concentrar seus estudos nas mudanças ocorridas das novas aspirações da massa e das novas tecnologias sobre a experiência das coletividades e da percepção sensorial. Para ele, a mudança que mais importa está em cercar humanamente as coisas, pois a sensibilidade das massas está na aproximação (por meio da repetição). Embora a morte da aura na obra de arte (que é o caráter único da obra) pela reprodutibilidade técnica signifique a perda da memória (ex.: quanto mais informações repetidas nós temos, menos vamos se lembrar delas), isso também significa pôr qualquer homem (homem da massa) em posição de gozá-la. Se, antes, a desigualdade social fazia algumas coisas estarem distantes de serem consumidas (mesmo próximas fisicamente), agora a técnica põe isso mais próximo das massas (a técnica e as massas são um modo de emancipação da arte).
Além disso, a reprodutibilidade técnica pode também ter um caráter dialético: se, com algumas obras, ela promove a perda da memória (uma alienação); a reprodução de outras (como o cinema) pode promover a politização da arte, a sensibilidade, a crítica (sobre isso ele cita os filmes de Chaplin)... é uma conjugação de atividade crítica e prazer artístico.
Sobre a cidade moderna, Benjamin apresenta a relação com massas por meio da poesia de Baudelaire. Primeiro, as massas aparecem por meio da conspiração, um espaço em que se nutre a rebeldia política. Seriam as tabernas, lugares onde convergem aqueles no limite da miséria social e aqueles da boêmia, e onde passa uma experiência fundamental dos oprimidos. Em segundo, as massas aparecem como pistas, ou seja, a identificação dos indivíduos na cidade. A burguesia se refugia em seu interior (residência) para conservar suas ilusões; e utiliza de estratégias de controlar a massa: desde numeração das casas a técnicas de detetives. Em terceiro se tem a experiência da multidão, ou o prazer de estar na multidão. Aqui ela não representa algo quantitativamente, mas algo intrínseco, uma nova faculdade de sentir.
Morin e Baudrillard
Os pensamentos inaugurados por Adorno e Horkheimer vai ter desenvolvimento na França dos anos 60 e numa época regada de crises. Edgar Morin, por exemplo, vai combinar o pessimismo dos frankfurtianos com o otimismo dos teóricos norte-americanos. Para ele, a cultura de massas está mais ligada à mentalidade do séc. XX do que ao modo de produção capitalista (como apontam os frankfurtianos). Assim como os frankfurtianos, Morin entende que o objetivo da cultura de massas é obter o máximo de consumo, porém ele diverge ao dizer que a cultura de massas foi a primeira capaz de se tornar universal, se encaixando em todas as sociedades modernas. Ela é um conjunto de práticas e costumes simbólicos que somam, concorrem e se adequam às culturas interiores (ex. disso são filmes com caráter de herói sendo produzidos em dois contextos diferentes: no EUA e na URSS).	Comment by Kennet Anderson: Edgar Morin
Morin desenvolve a análise da cultura de massas em duas direções. A primeira é a estrutura semântica, um campo de operações de significações. Aqui ocorre a fusão de dois espaços: a informação e o imaginário ficcional. Segundo ele, é na linguagem da informação que o novo imaginário encontra sua matriz discursiva (ex.: passaremos a nos informar através de melodramas e aventura, folhetim, etc.).
A segunda direção são os modos de inscrição no cotidiano, dispositivos que proporcionam apoios imaginários ao cotidiano. A indústria cultural produz um ideal de olimpianos (celebridades que devemos nos “inspirar”), que é a junção da realidade (atos e pessoas comuns) com o imaginário (a perfeição estética, financeira, etc.). Ou seja: ora mostram que as celebridades são perfeitas (academia, empreendedoras, etc.), ao mesmo tempo que mostram características não perfeitas, mas que a massa possa se identificar (fugas da dieta).
Jean Baudrillard faz seus apontamentos para o modelo que a informação se torna na finalidade de devorar o social. 	Comment by Kennet Anderson: Jean Baudrillard
Segundo ele, isso ocorre em dois caminhos: 
· a comunicação é destruída ao ser convertida em um simulacro. A distância entre representação e real é abolida, pois a linha entre realidade, o marketing e as notícias são quase impossíveis de diferenciar. A simulação nos meios (a “realidade” que a TV apresenta) se torna uma disputade interesses em produz um significado mais real que o outro. 
· A informação produz cada vez mais uma implosão nas massas (uma infinita capacidade de absorção dos conflitos). A grande quantidade de informação torna as notícias sem sentido, pois existem tantos pontos de vista que iremos voluntariamente escolher o engano, porque é aquilo que acreditamos.
Voluntariamente, porque Baudrillard acredita (corroborando com Adorno) que a passividade (o silêncio) está no modo de atividade, no modo de ser, das massas.

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