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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IZABELA HENDRIX Graduação em Direito A EFETIVIDADE DAS SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL Patrícia Alves Fernandes Belo Horizonte 2013 Patrícia Alves Fernandes A EFETIVIDADE DAS SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Graduação em Direito do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Dra. Eunice Maria Nazarethe Nonato Belo Horizonte 2013 Patrícia Alves Fernandes A EFETIVIDADE DAS SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Graduação em Direito do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. ________________________________________________________ Dra. Eunice Maria Nazarethe Nonato (Orientadora) - IMIH ____________________________________________________ Dr. Manuel Alfonso Diaz Muñoz - IMIH ___________________________________________________ Profa. Lisieux Nidimar Dias Borges - IMIH Belo Horizonte, 25 de novembro de 2013 Aos meus pais, Pelo encorajamento e carinho. AGRADECIMENTOS Fica expresso o meu agradecimento a todos que contribuíram para a elaboração deste trabalho e em especial: À Professora Eunice Maria Nazarethe Nonato pela orientação e aprendizagem. Ao meu namorado Alan Lopes pela imensa ajuda, apoio e compreensão. Aos meus pais, irmãos, familiares e amigos que me encorajaram. Aos meus professores e colegas que participaram e incentivaram a minha formação acadêmica. E a todos que contribuíram para a construção deste trabalho. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso apresenta um estudo sobre a efetividade das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Realizou-se, pesquisa bibliográfica sobre o conceito, abordagem histórica e proteção dos direitos humanos, sobre a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Realizou-se ainda análise de dois casos Lund Gomes contra o Brasil e Garibaldi contra o Brasil para a verificação do cumprimento das sentenças da Corte pelo Brasil. Através da análise dos casos concretos constatou-se que o Brasil não cumpriu integralmente as sentenças da Corte, portanto é necessário a implementação de mecanismos por parte dos Órgãos internacionais para que as sentenças da Corte sejam efetivas. Palavras-Chave: Corte Interamericana de Direitos Humanos. Sentenças. Efetividade. ABSTRACT This work completion of course did a study on the effectiveness of the decisions of the Court of Human Rights. Made bibliographic research on the concept, historical approach and protection of human rights, on the Inter-American Court of Human Rights. Did also analysis of the two cases Gomes Lund against Brazil and Garibaldi against Brazil for the verification of compliance with the Court's decisions by Brazil. Through the analysis of real cases found that Brazil does not fully comply with the Court's decisions, so it is necessary to implement mechanisms on the part of international organizations to the Court's decisions shall be effective. Keywords: Inter-American Court of Human Rights. Decisions. Effectiveness. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9 2 BREVE INTRODUÇÃO DA NOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ...................... 10 2.1 O conceito de direitos humanos .............................................................. 10 2.2 O surgimento dos tratados internacionais de proteção aos direitos humanos .......................................................................................................... 11 2.3 A proteção dos direitos humanos no contexto internacional e no Brasil ......................................................................................................................... 14 3 ALGUNS ASPECTOS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ....................................................................................................... 17 3.1 O contexto de surgimento ........................................................................ 17 3.2 A competência .......................................................................................... 18 3.3 A organização, acesso e funções ............................................................ 19 3.4 Condições de admissibilidade do caso ................................................... 20 3.5 O procedimento da Corte e as ações da Comissão perante a Corte ...... 21 4 A COERCITIVIDADE DA CORTE INTERAMERICANA NO BRASIL ............... 23 4.1 O caso da Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) VS. Brasil ..... 23 4.2 O caso Garibaldi VS. Brasil ...................................................................... 27 4.3 Uma crítica à efetividade das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil ........................................................................... 29 5 CONCLUSAO ................................................................................................ 30 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 31 9 1 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema central a efetividade das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil, o objetivo é analisar se as sentenças estão sendo cumpridas já que o bem tutelado é a proteção dos direitos humanos. A pesquisa é relevante, pois não é um tema muito discutido no direito brasileiro, apesar de que os direitos humanos é um assunto que tem sido muito discutido no âmbito internacional. A proposta da pesquisa é que por meio da apresentação dos conceitos, da abordagem histórica e da proteção dos direitos humanos e além de informar sobre as características principais da Corte Interamericana de Direitos Humanos, possa fazer uma análise dos casos concretos Gomes Lund versus Brasil e Garibaldi versus Brasil, a fim de estabelecer se as sentenças da Corte são efetivas ou não no Brasil. Os Direitos Humanos criaram forma no século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, marcada por eventos que evidenciaram a urgência de se estabelecer mecanismos de proteção aos direitos humanos. No primeiro momento preocuparam em conceituar os direitos humanos, superado este problema, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, mas sem força vinculativa, procurou-se criar tratados internacionais que fossem ratificados pelos Estados e estes faziam o compromisso de proteger os direitos humanos e muitos se submeteram a competência contenciosa das Cortes Internacionais. O Brasil ratificou a Convenção Americana e posteriormente se submeteu a competência contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, assumindo internacionalmente o compromisso de proteger os direitos humanos, portanto tem a obrigação de cumprir integralmente as sentenças proferidas pela Corte mesmo que sejam contra ele. Com isso, objetiva-se a construção de um trabalho crítico para análise da proteção dos direitos humanos por intermédio da observação do Estado brasileiro das normas internacionais e do cumprimento das sentenças da Corte. 10 2 BREVE INTRODUÇÃO DA NOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS Os Direitos humanosapesar de serem como o próprio nome sugere inerentes aos seres humanos, foram difundidos apenas no século XX com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Para melhor compreensão do tema abordado na presente pesquisa serão apresentados conceitos sobre os direitos humanos, breve relato histórico sobre os mesmos e a proteção no âmbito internacional e brasileiro. 2.1 O conceito de direitos humanos Os direitos humanos por serem direitos intrínsecos aos seres humanos, surgiram por meio da luta por proteção da condição humana de igualdade e liberdade, almejando garantias contra atos ou omissão que possam denegrir ou ausentar estes direitos. Para conceituar os direitos humanos Flávia Piovesan expõe o seguinte: [...] concepção contemporânea de direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade desses direitos. Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade. Indivisibilidade porque, ineditamente, o catálogo dos direitos civis e políticos é conjugado ao catálogo dos direitos econômicos, sociais e culturais. A Declaração de 1948 combina o discurso liberal e o discurso social da cidadania, conjugando o valor da liberdade ao valor da igualdade. (PIOVESAN, 2006, p. 37-38). Já Alexandre de Moraes os compreende como direitos humanos fundamentais e declara que: Surgiram como produto da fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas civilizações, até a conjugação dos pensamentos filosóficojurídicos, das ideias surgidas com o cristianismo e com o direito natural. Essas ideias encontravam um ponto fundamental em comum, a necessidade de limitação e controle dos abusos de poder do próprio Estado e de suas autoridades constituídas e a consagração dos princípios básicos da igualdade e da legalidade como regentes do Estado moderno e contemporâneo. (MORAES, 1998, p.19). 11 Como também Carlos Henrique Bezerra Leite utiliza dos conceitos dados pelos jusnaturalistas, juspositivistas, jusrealistas para concluir que os direitos humanos são direitos de luta: [...] podemos dizer que Direitos Humanos são direitos morais, porque tal fundamentação ética tem por objetivo a efetivação dos princípios da dignidade, da liberdade, da igualdade e da solidariedade, conciliando, assim, as formulações dos jusnaturalistas, juspositivistas e jusrealistas, pois, como dizia Bobbio, o problema não é justificá-los, e sim garanti-los. Trata- se, portanto, de um problema não apenas jurídico, como também filosófico e histórico. (LEITE, 2011, p. 38-39). Nota-se que os direitos humanos visam proteger a condição humana de igualdade procuram assegurar a dignidade e estabelecer limites na relação entre o Estado e os cidadãos para uma coexistência justa e harmoniosa. 2.2 O surgimento dos tratados internacionais de proteção aos direitos humanos Como anteriormente exposto, os direitos humanos foram conquistados mediante lutas pela igualdade, liberdade, portanto desde os mais remotos relatos veem-se traços da tentativa de proteção e de garantias aos direitos individuais como discorre Alexandre de Moraes: A origem dos direitos individuais do homem pode ser apontada no antigo Egito e Mesopotâmia, no terceiro milênio a.C, onde já eram previstos alguns mecanismos para proteção individual em relação ao Estado. O código de Hamurabi (1690 a.C) talvez seja a primeira codificação a consagrar um rol de direitos comuns a todos os homens, tais como a vida, a propriedade, a honra, a dignidade, a família, prevendo igualdade, a supremacia das leis em relação aos governantes. A influência filosófico-religiosa nos direitos do homem pôde ser sentida com a propagação das ideias de Buda, basicamente sobre a igualdade de todos os homens (500 a.C). Posteriormente, já de forma mais coordenada, porém com uma concepção muito diversa da atual, surgem na Grécia vários estudos sobre a necessidade da igualdade e liberdade do homem, destacando-se as previsões de participação política dos cidadãos (democracia direta de Péricles); crença na existência de um direito natural anterior e superior às leis escritas, defendida no pensamento dos sofistas e estoicos ( por exemplo, na obra Antigona – 441 a.C –, Sófocles defende a existência de normas não escritas e imutáveis, superiores aos direitos escritos pelo homem). Contudo, foi o Direito romano quem estabeleceu um complexo mecanismo de interditos visando tutelar os direitos individuais em relação aos arbítrios estatais. A lei das doze tábuas pode ser considerada a origem dos textos escritos consagradores da liberdade, da propriedade e da proteção aos direitos do cidadão. (MORAES, 1998, p. 25-26). 12 Carlos Henrique Bezerra Leite (2011) trata em seu livro “Direitos Humanos” da evolução histórica dos direitos humanos e afirma que as primeiras declarações foram: a Declaração de Direitos do Bom Povo de Virginia e a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a primeira já apresentava referência ao direito à vida, à liberdade e a propriedade, a segunda determina que todos os homens são iguais e dotados de direitos inalienáveis, no entanto, estes direitos só eram conferidos aos homens que fossem brancos e ricos. Segundo Bezerra Leite (2011) a próxima foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 – Declaração Francesa – defendia a igualdade, fraternidade e liberdade, mas como a declaração estadunidense, os direitos declarados só estavam adstritos aos homens, brancos e ricos. O mesmo autor da referida obra expõe que após a 2ª Guerra Mundial – que trouxe inúmeras perdas, destruições e prejuízos – criou-se a ONU (Organização das Nações Unidas) em 1945, com o intuito de promover a paz entre as nações, portanto em dezembro de 1948 foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), essa determinou que todas as pessoas são livres e iguais e devem agir com fraternidade umas com as outras. Este documento foi compreendido pela Comissão de Direitos Humanos como sendo sem força vinculante, como uma carta de princípios de recomendações, pois seria necessária a constituição de Pacto Internacional, que após de ser ratificado pelos Estados-membros teriam força vinculante. No entanto, Bezerra Leite, compreende que a DUDH são normas consuetudinárias que vinculam todos os Estados e povos e seus artigos almejam reconhecer os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, o direito ao desenvolvimento e os direitos globais. Portanto a Comissão de Direitos Humanos da ONU, propôs a criação do Pacto Internacional de direitos humanos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais que deveria ser submetido a ratificação dos Estados-membros, afim de vincular os direitos expressos na Declaração Universal de Direitos Humanos, mas devido discordâncias políticas entre as grandes potências capitalistas e socialistas, a Comissão propôs a criação de dois tratados sendo: o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Apesar da divisão, na essência os direitos humanos são reconhecidos como sendo indivisíveis e universais. 13 O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o autor sintetiza os direitos tutelados por este pacto: Os principais direitos e liberdade consagrados pelo PIDCP podem ser sintetizados como: direito à vida, de não ser torturado, de não ser escravizado nem submetido à servidão, à liberdade e à segurança pessoal, de não ser preso arbitrariamente, a um julgamento justo, à igualdade perante a lei, à proteção da vida privada contra atos arbitrários e ilegais, à liberdade de locomoção, à nacionalidade, de casar e de formar, à liberdadede pensamento, a consciência e religião, à liberdade de expressão e opinião, à reunião para fins pacíficos, à liberdade de associação, incluindo a liberdade sindical, de votar e tomar parte no Governo. (LEITE, 2011, p. 21). Em relação ao Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), este é divido em cinco partes que tratam sobre: a autodeterminação dos povos; o compromisso dos Estados de implementarem os direitos nele previstos; direitos sociais, econômicos e culturais; o mecanismo de supervisão por meio da apresentação de relatórios ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas; normas sobre à ratificação e vigência do Pacto. Bezerra Leite (2011) afirma que o Brasil não privilegia os direitos humanos tanto que o Pacto Internacional de Direitos civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais só foram ratificados pelo Brasil em 1991, os profissionais da área jurídica se especializam nas áreas de Direito Civil e Processo Civil, isto demonstra que não está ainda na cultura dos brasileiros a observação e preservação dos direitos humanos. São citados por Bezerra Leite na mesma obra outros tratados de direitos humanos: Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher; Convenção sobre os Direitos da Criança; Convenção Americana sobre Direitos Humanos; Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; Convenção da Organização Internacional do Trabalho. Nota-se que os direitos humanos só receberam a concepção de direito da pessoa humana, de forma que não discrimine nenhum ser humano, apenas em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a partir deste momento, pelo menos juridicamente, todas as pessoas passaram a ser reconhecidas como detentoras de direitos que garantem sua dignidade, liberdade e igualdade perante as outras, com o passar dos anos os Tratados visaram resolver a questão da igualdade, nivelando as desigualdades, com tratados específicos para as minorias, 14 como exemplo a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. 2.3 A proteção dos Direitos Humanos no contexto internacional e no Brasil A proteção dos direitos humanos surgiu após constatação que era imprescindível estabelecer limites nas ações Estatais em relação aos indivíduos e estabelecer critérios para solução de conflitos oriundos do desrespeito à condição humana, no último século muito se discutiu sobre o assunto e os Tratados Internacionais propunham que quem os aderisse cumprisse com suas obrigações. Segundo Antonio Augusto Cançado Trindade (2002, p. 19) em seu artigo “A Consolidação da Capacidade Processual dos Indivíduos na Evolução da Proteção Internacional dos Direitos Humanos: Quadro Atual e perspectivas na Passagem do Século”, os direitos humanos têm obtido cada vez mais consideração na esfera internacional nos últimos anos, isto porque os tratados e demais instrumentos internacionais apresentam unidade nos conceitos e propósitos de que se protegem direitos intrínsecos a toda pessoa humana e por intermédio dos órgãos internacionais de proteção aos direitos humanos muitas vítimas têm sido socorridas ao longo das últimas décadas. Cançado Trindade, argumenta que “as iniciativas no plano internacional não podem se dissociar da adoção e do aperfeiçoamento das medidas nacionais de implementação [...].” (TRINDADE, 2002, p. 22). Dessa forma demonstra a importância dos Estados não somente ratificar tratados de proteção, mas agir de forma a garantir que estes direitos sejam respeitados, o que requer medidas positivas e compatibilizando as leis nacionais com as leis internacionais de proteção, permitindo assim que as vítimas possam recorrer aos tribunais nacionais para proteção de seus direitos. Em relação à proteção dos direitos humanos no contexto brasileiro Flávia Piovesan faz importantes considerações em seu livro “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional”, afirmando que: Com efeito, ao longo do processo de democratização, o Brasil passou aderir a importantes instrumentos internacionais de direitos humanos, aceitando expressamente a legitimidade das preocupações internacionais e dispondo- se a um diálogo com as instâncias internacionais sobre o cumprimento conferido pelo País às obrigações internacionalmente assumidas. No processo de democratização, por outro lado, acentuou-se a participação e 15 mobilização da sociedade civil e de organizações não governamentais no debate sobre a proteção dos direitos humanos. (PIOVESAN, 2012, p. 362). A autora expõe que com a ratificação em 1º de fevereiro de 1984 da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher o Brasil iniciou a internalização do Direito Internacional dos Direitos Humanos, com isso foram posteriormente ratificados outros importantes Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Flávia Piovesan declara que por proteger os direitos humanos internacionais o Brasil assegura aos seus cidadãos a titularidade de direitos internacionais, e demonstra obrigação em face da comunidade internacional de “manter e desenvolver o Estado Democrático de Direito e de proteger, mesmo em situação de emergência, um núcleo de direitos básicos e inderrogáveis.” (Piovesan, 2012, p. 371). Outra observação importante da autora é que ao ratificar um Tratado Internacional de direitos humanos, o Brasil precisa de se abster das reservas e declarações restritivas, por ser uma recomendação da Declaração de Viena no ato de ratificação dos Tratados, Convenções e Protocolos, o que pode ser encontrado no Art. 26 da Declaração de Viena de 1993: 26. A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos vê com bons olhos o progresso alcançado na codificação dos instrumentos de direitos humanos, que constitui um processo dinâmico e evolutivo, e insta à ratificação universal dos tratados de direitos humanos existentes. Todos os Estados devem aderir esses instrumentos internacionais; e todos os Estados devem evitar ao máximo a formulação de reservas. (VIENA, 1993). Outro aspecto importante acerca da proteção dos direitos humanos é feita por André Del Negri (2009) em seu livro “Teoria da Constituição e do Direito Constitucional” é sobre os tratados internacionais sobre direitos humanos – referidos pelo autor por direitos fundamentais – pois na Emenda Constitucional nº 45/2004 trata somente sobre a constitucionalização dos tratados internacionais que seriam ratificados pelo Brasil a partir da Emenda, mas não faz referência sobre os tratados que foram ratificados anteriormente, sendo que estes foram recepcionados no ordenamento jurídico brasileiro como Leis Federais, para rediscutir este status será necessário utilizar-se de uma PEC, conforme art. 60, inciso, I, II e III, CR/88, para passar por procedimento legislativo das emendas constitucionais, queria “com 16 debate e votação em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação, com um quorum de três quintos dos votos dos respectivos membros” (DEL NEGRI, 2009, p. 121). Del Negri (2009) assevera que é importante os antigos tratados serem normas constitucionais por ser mais coerente com a legitimidade do Direito, visto que “até facilitaria a reivindicação dos conteúdos (liquidez e certeza) correlacionados no tratado pela via do mandado de segurança” (DEL NEGRI, 2009, p. 122), mas o impasse entre permitir que o Supremo Tribunal Federal possa de forma interpretativa dar status de norma constitucional, pois isso seria contrário do que está previsto na Constituição Federal a respeito da produção de leis. A proteção dos direitos humanos é obrigação dos Estados que em conformidade com os órgãos internacionais de proteção devem estabelecer meios de garantir que estes direitos não sejam desrespeitados no âmbito nacional.17 3 ALGUNS ASPECTOS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Para a compreensão da Corte Interamericana de Direitos Humanos será utilizado o texto de Carlos Alberto Dunshee de Abranches intitulado “The Inter- American Court Of Human Rights”, que faz uma abordagem abrangente em relação a Corte, o que colabora para o entendimento da história, da organização, da função dos procedimentos da Corte. 3.1 O contexto de surgimento Carlos Alberto Dunshee de Abranches em seu artigo “The Inter-American Court Of Human Rights” relata que em 1950 com o consentimento da Convenção Europeia de Direitos Humanos foi criada em Roma a primeira Corte de Direitos Humanos, na mesma convenção foram estabelecidos dois órgãos: a Comissão e a Corte, esta Corte exerceu muita influência na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Abranches (1980-1981) afirma que em Bogotá na Nona Conferência Internacional dos Estados Americanos, em 30 de março de 1948, foram aprovados três instrumentos fundamentais para a proteção dos direitos humanos no Sistema Interamericano: A Carta da Organização dos Estados Americanos; A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a Resolução XXXI, pedindo a elaboração de um projeto de estatuto para a criação de uma corte Interamericana para garantir os direitos do homem, esta Resolução foi originada pela proposta feita pelo Governo brasileiro em Bogotá, mas em 26 de setembro de 1949, o Comitê Jurisdicional Interamericano concluiu em relação a Resolução XXXI que era muito prematuro a elaboração de um projeto de estatuto para a Corte. É relatado por Abranches (2013) que na Décima Conferência Interamericana, realizada em Caracas em 1954, confiou a Organização dos Estados Americanos (OEA) a continuidade nos estudos jurisdicionais para a proteção dos direitos humanos. Cinco anos depois, na Quinta Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores considerou a recomendação feita pelo comitê Interamericano e aprovou a Resolução VIII, na qual confiava ao Conselho de Juristas Interamericanos a preparação do projeto para a Convenção de Direitos e Humanos e o esboço para 18 outro adequado órgão de proteção aos direitos humanos, na parte II da Resolução criou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que deveria ser organizada pela OEA. Em 1959, em Santiago o Conselho Interamericano de Juristas elaborou o Projeto da Convenção de Direitos Humanos, adaptando o Estatuto da Corte Internacional de Justiça e as provisões da convenção Européia da Corte de Strasbourg ao projeto, o qual definia os direitos civis e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais, como também a estrutura, organização e jurisdição da Corte. Abranches (2013) afirma que em 1966, o Conselho Permanente da OEA direcionou a Comissão Interamericana para estudar os projetos do Conselho Interamericano de Juristas e os Projetos do Chile e Uruguai, para assim preparar um projeto revisado, e isto foi realizado durante a Sessão ocorrida entre abril de 1966 e julho de 1968, todos os membros da Comissão fizeram parte do trabalho e o resultado foi o projeto revisado e intitulado “A Convenção Interamericana de Proteção dos Direitos Humanos”, nos artigos 42 a 52 se referem a Corte. O relato de Abranches (2013) é que na sessão realizado no dia 2 de outubro de 1968, o Conselho da OEA adotou o projeto revisado como documento que funcionaria, desta forma a Conferencia Especializada poderia decidir sobre a aprovação e assinatura da Convenção de Direitos Humanos. A Conferência Interamericana Especializada de Direitos Humanos, em assembleia em São José da Costa Rica, aprovou a Convenção Americana de Direitos Humanos em 22 de novembro de 1969 e a Convenção entrou em vigor em 18 de julho de 1978, depois que décimo primeiro instrumento de ratificação foi depositado. 3.2 A competência Abranches (1980-1981) definiu que a Corte tem dois tipos competência que possuem âmbito, natureza legal e efeitos diferentes. A competência contenciosa permite que a Corte decida sobre casos específicos relacionados com a interpretação e aplicação das provisões dadas pela Convenção, e exercendo esta competência o seu julgamento deve ser cumprido pelos Estados que aceitaram a jurisdição, pela Comissão e pelos outros membros da organização. A competência contenciosa é opcional para os Estados que não aceitaram a jurisdição da Corte, portanto, havendo caso concreto que envolva este Estado, ele tem que declarar 19 formalmente que aceita, do contrário a Corte alegará sua incompetência para julgar o caso. A outra competência é a consultiva que é tão importante quanto a competência contenciosa, o seu âmbito é diferente, pois a contenciosa é limitada a casos relacionados à interpretação e aplicação da Convenção, já a consultiva abrange a interpretação das ameaças a respeito da proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos e incompatibilidade de qualquer norma interna dos Estados membros da Organização com a Convenção. Em relação à natureza jurídica, a diferença é que a competência contenciosa exige instrumento formal de aceitação e suas decisões envolvem problemas com a soberania do Estado, no entanto, a competência consultiva resulta na opinião que pode ser pedida sem limitar a soberania do Estado. Quanto aos efeitos a opinião da Corte não é coercitiva em relação ao Estado que pediu a consulta, mas a decisão proferida na jurisdição contenciosa gera sanções para o Estado que não a cumprir, o Estado é responsável por cumprir a nível nacional as decisões da Corte ordenando uma indenização compensatória, de acordo com os procedimentos em vigor no país para execução interna de julgamentos contra o Estado. 3.3 A organização, acesso e funções Segundo o texto de Abranches (2013) a Corte consiste em sete juízes que são de nacionalidade dos Estados membros da OEA e são eleitos conforme suas capacidades individuais, não podendo ser eleito mais de um juiz por nacionalidade. Os juízes são eleitos por votação secreta e pela maioria absoluta dos votos dos Estados Parte da Convenção, na Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos propostos por estes Estados. A posição do juiz da Corte é incompatível com qualquer outra atividade que possa afetar sua independência e imparcialidade. Os juízes da Corte têm o mandato de seis anos e podem ter apenas uma reeleição. Se ocorrer que o juiz que vai conhecer do caso seja da nacionalidade de um dos Estados Parte o outro Estado pode oferecer um juiz “ad hoc”. O quórum de deliberações da Corte é de cinco juízes. A Convenção de Direitos Humanos estabeleceu a organização da Corte, mas não determinou o local para a sede da Corte, portanto na Oitava Assembleia Geral 20 ocorrida em Washington, o governo da Costa Rica ofereceu seu território para ser a sede da Corte o que foi aceito pela Assembleia Geral em 1º de julho de 1978. No sistema de proteção aos direitos humanos foram constituídos três órgãos que não são hierarquicamente subordinados: a Comissão, a Corte e a Assembleia Geral. O acesso a Comissão com o direito de apresentar petição ou comunicação de violação a Convenção pelo Estado Parte é garantido a: qualquer pessoa ou grupo de pessoas; qualquer entidade não governamental legalmente reconhecida; e qualquer Estado Parte de acordo com as condições estabelecidas pelo artigo 45; e apenas os Estados Partes e a Comissão têm o direito de submeter um caso a Corte. A Convenção delegou a Corte outras funções, como: elaborar seu estatuto e submetê-lo à Assembleia Geral para a aprovação, para adotar suas próprias regras de procedimento; submeter à Assembleia Geral um relatório anual dos seus trabalhos realizados no ano anterior; elaborar seu próprio orçamento e enviá-lo para a Assembleia Geral. 3.4 Condições de admissibilidade do caso Para que um caso seja submetido a Corteé necessário que alguns requisitos sejam cumpridos, estes são encontrados nos artigos 48 a 50 da Convenção. É mister a observação de quatro etapas para a apresentação da petição ou comunicação a Comissão, que são: 1) reconhecimento da admissibilidade da queixa ou denúncia de acordo com os requisitos estabelecidos pelos artigos 46 e 47; 2) um procedimento que prevê o pedido de informações ao governo do Estado indicado como responsável, a investigação dos fatos que levaram à verificação deles, e declarações orais ou escritas das partes interessadas; 3) tentativas de se ter soluções amigáveis e; 4) um relatório dos fatos. Outras exigências para que a petição ou comunicação seja admitida pela Comissão é de que os recursos tenham sido interpostos e esgotados na jurisdição interna; a petição ou comunicação deve ser apresentada dentro de um período de seis meses; e o assunto da petição ou comunicação não pode estar pendente em outro procedimento internacional ou ser substancialmente o mesmo já examinado pela Comissão ou por qualquer outra organização internacional. 21 Estes requisitos pertencentes à Comissão são igualmente condições para admissibilidade de um caso para Corte, já que o artigo 61 da Convenção prevê que para a Corte julgar qualquer caso, este, primeiro deve ser revisto pela Comissão. 3.5 O procedimento da Corte e as ações da Comissão perante a Corte Abranches (2013) relata que o Pacto de São José estabeleceu algumas regras de procedimento para a Corte, no entanto, deixou que outras fossem definidas pelo Estatuto, que deveria ser aprovado pela Assembleia Geral. A Conferência Especializada de 1969 considerou que os seguintes pontos eram essenciais para o Estatuto: um quórum de cinco juízes para deliberações da Corte; a obrigação de fundamentar a sentença; a prerrogativa do juiz para ter seu voto dissidente ou individual anexado ao julgamento; a final e irrecorrível natureza da sentença, com a Corte como o intérprete de seu significado e alcance em caso de dúvida; a obrigação dos Estados Parte de cumprir a sentença; a execução da sentença que estipula indenização compensatória, a qual deve ser executada no país em questão, de acordo com procedimento interno vigente para a execução de sentença contra o Estado; a notificação da sentença da Corte para as partes e sua transmissão aos Estados Partes da Convenção. Estas provisões devem ser complementadas pelo Estatuto, mas elas só poderão ser alteradas com um protocolo adicional ou outra convenção. Não foram estabelecidos critérios para definição de quais assuntos seriam mais relevantes para o Estatuto e as Regras Procedimentais, no entanto, a Convenção Americana designou três pontos que devem ser considerados pelo Estatuto da Corte: atividades que podem afetar a independência ou imparcialidade dos juízes serão incompatíveis com a posição de juiz da Corte; a forma e as condições sob as quais os juízes perceberão honorários e despesas de viagem, tendo em conta a importância e independência de suas funções; e os fundamentos com os quais os juízes podem ser sancionados e a determinação das sanções a serem aplicadas por decisão da Assembleia Geral da OEA. O Estatuto e o Regimento Interno da Corte Internacional de Justiça e o Regimento Interno da Corte Europeia também serviram como precedentes para o Regimento Interno da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 22 Em relação das ações da Comissão diante da Corte o Pacto de São José cita três situações nas quais a Comissão pode agir: quando a Comissão tomar a iniciativa de submeter um caso a Corte como previsto no artigo 51 da Convenção; quando um Estado, aceitando a jurisdição da Corte, submete um caso e quando agindo como um órgão da OEA, a Comissão decide consultar a Corte sobre a interpretação da Convenção ou sobre outras ameaças relacionadas à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos. Uma quarta possibilidade seria a de que a Corte através do seu próprio estatuto pode ouvir a Comissão como parte do procedimento em matérias da sua competência consultiva. Os estatutos da Comissão e da Corte devem estabelecer os seguintes pontos para a submissão de um caso a Corte: os critérios a ser seguidos pela Comissão na decisão de submeter o caso a Corte; a representação da Comissão perante a Corte; a legitimidade processual da Comissão quando por iniciativa própria registra um caso perante a Corte; e as relações entre a Comissão e o requerente, ou a própria vítima ou uma entidade não governamental, no decurso do processo perante a Corte. Quando o processo de denúncia for concluído pela Comissão e não se chegar a uma decisão, a Comissão elabora um relatório com os fatos e suas conclusões. O relatório deve ser encaminhado aos Estados interessados. No prazo de três meses a contar do dia da transmissão do relatório, a Comissão pode submeter o caso à Corte. 23 4 A COERCITIVIDADE DA CORTE INTERAMERICANA NO BRASIL Nos capítulos anteriores deste trabalho mostrou-se o conceito de direitos humanos, a evolução dos tratados internacionais de direitos humanos, a proteção dos direitos humanos no Brasil e internacionalmente, e foi feita uma abordagem sobre a Corte Interamericana de Direitos Humanos, com a finalidade de se discutir a efetividade das Sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil. Neste capítulo serão expostos dois casos concretos para a análise da efetividade das sentenças. 4.1 O caso da Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) VS. Brasil Para a compreensão do caso da Guerrilha do Araguaia, será abordado um breve contexto histórico da ditadura militar brasileira no período de 1964 – 1985, que foi a responsável por dezenas de mortes e desaparecidos políticos. O livro “Direito à Memória e à Verdade” faz uma abordagem histórica sobre a ditadura militar que relata que no período pós-guerra, os países aliados aos Estados Unidos, principalmente na América Latina, desenvolveram doutrinas, treinamento e identidade ideológica semelhante para combater o comunismo com a Doutrina norte- americana de Segurança Nacional. Com respaldo na Doutrina de Segurança Nacional algumas leis foram decretadas, tais como: Decreto Lei 317/67 e Decreto Lei 510/69, para reprimir os movimentos e lideranças contrárias ao regime militar, o conteúdo destas leis era abusivo, a fim de resguardar a suposta Segurança Nacional. A Ditadura Militar teve como líder e primeiro presidente o marechal Castelo Branco que com o primeiro Ato Institucional de 09/04/1964, foi o marco repressivo da ditadura que resultou na “cassação de mandatos, suspensão dos direitos políticos, demissão do serviço público, expurgo de militares, aposentadoria compulsória, intervenção em sindicatos e prisão de milhares de brasileiros” (Brasil, 2007, p. 22). Durante todo o regime militar vários movimentos civis surgiram para protestar e lutar contra o regime dominante o que acarretou em respostas mais repressivas e violentas por parte do governo, que respaldado por suas leis que desconsideravam a dignidade da pessoa humana, prendia, torturava, matava e em manifestações civis e 24 partidárias atirava contra os manifestantes provocando a morte de civis como o ocorrido em 21 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, durante a passeata estudantil que reivindicava mais verbas para os estudos, resultou na morte de quatro pessoas, e a imprensa, embora com restrições quanto a sua liberdade, intitulou ocorrido como “Sexta-feira Sangrenta”. Neste período marcado por repressões violentas e por total desrespeito pelos direitos humanos, as famílias dos presos, desaparecidos e mortos políticos buscavam compreender sobre a morte, ou saber onde se encontravam os desaparecidos ou seus restos mortais, mas a busca era por vezes infrutífera, principalmente porque os laudos médicos, quandoencontrados, não apresentavam a verdadeira causa da morte. Após pressão por parte de familiares das vítimas dos crimes políticos e das próprias vítimas sobreviventes dos crimes, e de militantes dos direitos humanos foi decretada a Lei de Anistia de nº 6.683 em 1979, que prevê o perdão para os crimes políticos ocorridos durante o regime militar, respaldou a falta de punição dos agentes dos Estados que cometeram crimes contra os opositores do regime militar. Mas somente com o novo governo democrático na década de 1990 é que os familiares e vítimas conseguiram algum avanço com a publicação da Lei de nº 9.140 de 1995, que dentre outros assuntos prevê a responsabilidade do Brasil pelos crimes políticos ocorridos entre os anos 1964 a 1985, organizando a Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, no primeiro foi apresentada uma lista responsabilizando o Brasil pela morte 136 vítimas desaparecidas do regime militar que deveriam ser reconhecidas como mortas. No entanto, apesar de responsabilizar o Brasil a indenizações a vítimas e realmente anistiar os crimes políticos a Lei não responsabilizava o país em relação às violações dos direitos humanos de forma explícita e abrangente. Desta forma em 26 de março de 2009 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos submeteu à Corte Interamericana de Direitos Humanos demanda contra o Brasil, com respaldo nos artigos 51 e 61 da Convenção Americana, proveniente da petição apresentada em pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e pela Human Rights Watch/Americas em nome das pessoas desaparecidas na Guerrilha do Araguaia e por seus familiares em 07 de agosto de 1995. A Comissão após expedir o Relatório de Admissibilidade nº 33/01 em 06 de março de 2001 e aprovar o Relatório de Mérito nº 91/08, conforme o art.50 da 25 Convenção, o que determinava recomendações ao Brasil que foi notificado no dia 21 de novembro de 2008 para apresentar em dois meses relatório demonstrando as ações realizadas para implementação das recomendações da Comissão e mesmo com prorrogações o Estado brasileiro não apresentou um relatório satisfatório das implementações, assim a Comissão decidiu submeter o caso a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Foi alegado pela Comissão que o Brasil: deveria ser responsabilizado pela prisão, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, ações do Exército brasileiro entre os anos 1972 e 1975 para combater a Guerrilha do Araguaia. As vítimas compunham o Partido Comunista do Brasil e outras eram camponeses da região; e em relação a Lei de Anistia de nº 6.683/79 e a execução extrajudicial de Maria Lúcia Petit da Silva, o Brasil deve ser responsabilizado por não investigar punir os crimes de desaparecimento e nem fornecer as familiares informações sobre a Guerrilha do Araguaia, pela falta de acesso a justiça, a verdade e a informação aos familiares das vítimas e a impunidade em relação a morte de Maria Lúcia Petit da Silva. Desta forma a Comissão requereu a Corte que declare o Brasil responsável por desrespeitar os direitos previstos nos artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 7º, 8º, 13 e 25, respectivamente: dever de adotar disposições de direito interno, direito ao reconhecimento da pessoa jurídica, direito à vida, direito à integridade pessoal, direito à liberdade pessoal, garantias judiciais, liberdade de pensamento e expressão e proteção judicial, requereu à Corte que ordene ao Brasil a realizar medidas de reparação. Apesar de usar diversos argumentos em sua defesa, o Estado brasileiro na sentença de 24 de novembro de 2010 da Corte foi responsabilizado por desrespeitar os direitos decretados nos artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 7º, 8º, 13 e 25 da Convenção e dispôs que: a sentença já era uma forma de reparação; que o Estado deve conduzir investigação penal dos fatos alegados a fim de puni-los; o Estado deve se esforçar da melhor forma possível para descobrir onde se encontram as vítimas desaparecidas, identificar e entregar os restos mortais aos familiares, quando constatado o óbito; o Estado deve disponibilizar ou pagar o montante estabelecido para tratamento médico e psicológico ou psiquiátricos a vítimas que requererem; o Estado deve promover as publicações ordenadas da sentença; o Estado deve 26 reconhecer em ato público a responsabilidade internacional do caso da Guerrilha do Araguaia. Em relação aos direitos humanos o Estado deve prosseguir com ações desenvolvidas e criar um programa ou curso permanente e obrigatório para todos os níveis hierárquicos das Forças Armadas. O Estado deve implementar as medidas necessárias para tipificar o crime de desaparecimento forçado de pessoas de acordo com os parâmetros interamericanos e até que cumpra deve-se adotar por meio do direito interno todas as ações que garantem o efetivo julgamento e possível punição em relação aos fatos constitutivos do desaparecimentos forçados; o Estado deve garantir o acesso a informações sobre os direitos humanos desrespeitados durante o regime militar e continuar implementando as iniciativas de busca, sistematização e publicação de toda informação da Guerrilha do Araguaia. O Estado deve pagar indenização por dano material, imaterial e restituição de custas e gastos que foi fixada anteriormente na decisão. O Estado deve convocar os familiares de “Batista”, “Gabriel”, “Joaquinzão”, José de Oliveira, Josias Gonçalves de Souza, Juarez Rodrigues Coelho, Sabino Alves da Silva e “Sandoval” em um jornal de grande circulação, para que no prazo de 24 meses a partir da notificação da sentença, apresentarem provas suficientes para que o Estado possa identificá-los e considerá-los vítimas. O Estado deve permitir que no prazo de seis meses da publicação da sentença, os familiares de Francisco Manoel Chaves, Pedro Matias de Oliveira, Hélio Luiz Navarro de Magalhães e Pedro Alexandrino de Oliveira Filho, possam solicitar pedidos de indenizações em conformidade com o estabelecido na Lei nº 9.140/95 do direito interno; os familiares das vítimas ou seus representantes legais devem apresentar em seis meses da notificação da sentença documentos que comprovem a data do falecimento das pessoas mencionadas nos parágrafos 181, 213, 244, da decisão seja posterior a 10 de dezembro de 1998; o Estado deverá apresentar à Corte dentro do prazo de um ano um informe o cumprimento da sentença, a Corte supervisará o cumprimento da sentença, sendo que o presente caso só será considerado concluído quando o Estado cumprir integralmente a sentença. Após quase três anos ainda não foi publicada a supervisão de sentença do caso Guerrilha do Araguaia, embora no dia 14 de dezembro de 2011 o Brasil tenha apresentado a Corte o relatório de cumprimento de sentença, manifestando que o considera satisfatório, no entanto em relação a sanção penal para os que violaram 27 os direitos humanos se restringem a demissão e cassação dos agentes dos Estado, além do ressarcimento dos valores de indenização pagos às vítimas e familiares das vítimas. 4.2 O caso Garibaldi VS. Brasil No dia 24 de dezembro de 2007 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos submeteu à Corte Interamericana de Direitos Humanos demanda contra o Brasil, com respaldo nos artigos 51 e 61 da Convenção Americana, proveniente da petição apresentada pelas organizações Justiça Global, Rede Nacional de Advogados e Advogados Populares (RENAP) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em nome de Sétimo Garibaldi e por seus familiares em 06 de maio de 2003. A Comissão após expedir o Relatório de Admissibilidade nº 13/07 em 27 de março de 2007 e aprovar o Relatório de Mérito nº 13/07, conforme o art. 50 da Convenção, o que determinava recomendações ao Brasil que foi notificado no dia 24 de maio de 2007 para apresentar em dois meses relatório demonstrando as ações realizadas para implementação dasrecomendações da Comissão. Transcorrido o prazo sem que o Estado brasileiro fornecesse qualquer informação a Comissão decidiu submeter o caso a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Comissão alegou que o Brasil deve ser responsabilizado por ter descumprido sua obrigação de investigar e punir o homicídio de Sétimo Garibaldi, que aconteceu em uma fazenda ocupada por trabalhadores sem terra no Município Querência do Norte, Estado do Paraná, durante uma operação extrajudicial de despejo das famílias de trabalhadores sem terra. A Comissão requereu que a Corte declarasse o Brasil responsável por desrespeitar os direitos do artigo 8º que é referente a garantias judiciais e artigo 25 sobre a proteção judicial da Convenção Americana, requereu que o Brasil adotasse medida de reparação em face de também em relação ao desrespeito do que está previsto nos artigos 1.1 e 2º da Convenção Americana que versam sobre a obrigação de se respeitar os direitos humanos e adequação das normas de direito internos com as normas dos tratados internacionais que foram ratificadas pelo país, como também o descumprimento da cláusula federal no artigo 28 da Convenção 28 Americana em prejuízo da viúva de Sétimo Garibaldi, a senhora Iracema Cioato Garibaldi e seus seis filhos. A Corte declarou que o Estado brasileiro desrespeitou os direitos às garantias e à proteção judicial previstas nos artigos 8.1 e 25.1 com relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana em prejuízo de Iracema Garibaldi e seus filhos, também declarou que o Estado não desrespeitou a cláusula federal prevista no artigo 28 em relação com os artigos 1.1 e 2º da Convenção Americana em prejuízo de Iracema Garibaldi e seus seis filhos. Dispôs a Corte que: a sentença constitui uma maneira de reparação; que o Estado no prazo de seis meses da notificação da sentença deve publicar no Diário Oficial, em jornal de grande circulação nacional e em jornal de ampla circulação no Estado do Paraná a sentença e no prazo de dois meses da notificação da sentença deve publicar em página de web oficial o conteúdo completo da decisão por no mínimo um ano. O Estado deve elaborar de forma eficaz o Inquérito e processo para apurar e punir os autores da morte de Garibaldi e deve investigar e punir as faltas funcionais dos servidores públicos responsáveis pela elaboração do Inquérito. O Estado deve pagar a Iracema Garibaldi e a seus seis filhos o montante fixado na decisão a título de indenização dos danos materiais, imateriais no prazo de um ano a partir da notificação da sentença; o Estado deve pagar o valor fixado na decisão para restituição de custas e gastos no prazo de um ano a partir da notificação da sentença; a Corte supervisionará o cumprimento integral da sentença em conformidade com a Convenção Americana e o Estado deve apresentar relatório de cumprimento da sentença dentro do prazo de um ano da notificação da sentença. O Brasil apresentou o relatório de cumprimento de sentença em 08 de agosto de 2011 e 04 de janeiro de 2012, portanto a Corte na Resolução de 20 de fevereiro de 2012 sobre a supervisão de cumprimento de sentença declarou que o Brasil cumpriu integralmente as obrigações de pagar indenizações por danos materiais e imateriais e restituiu as custas e gastos aos familiares de Sétimo Garibaldi; declarou que ainda está pendente o dever do Estado de conduzir de forma eficaz o inquérito e processo para identificar, julgar e punir os autores do homicídio de Garibaldi dentro de um prazo razoável, portanto o Estado deveria apresentar um relatório do cumprimento da sentença que ainda encontra pendente. 29 4.3 Uma crítica à efetividade das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil Nos casos Gomes Lund e outros versus Brasil e Garibaldi contra Brasil, estudados neste capítulo, pode-se notar que a sentença foi objetiva em condenar ao Brasil a indenizar as vítimas, investigar os crimes e punir os autores, no entanto, o Brasil cumpriu de forma parcial, indenizando as vítimas, mas não realizou investigação e punição dos autores. Norberto Bobbio fez uma importante declaração a respeito dos direitos humanos, em seu livro “A Era dos Direitos”: Deve-se recordar que o mais forte argumento adotado pelos reacionários de todos os países contra os direitos do homem, particularmente contra os direitos sociais, não é a sua falta de fundamento, mas a sua inexequibilidade. Quando se trata de enunciá-los, o acordo é obtido com relativa facilidade, independentemente do maior ou menor poder de convicção de seu fundamento absoluto; quando se trata de passar à ação, ainda que o fundamento seja inquestionável, começam as reservas e as oposições. O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político. (BOBBIO, 2004, p. 15-16). Valério Mazzuoli em seu livro “Direito Internacional Público” critica a execução das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos em razão de que no artigo 68, § 1º da Convenção Americana prevê que o Estado deve cumprir integralmente a sentença da Corte e no artigo 65 da Convenção dispõe que se o Estado não cumprir integralmente a sentença a Corte tem que relatar isso para a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, mas “a Assembleia Geral da OEA, infelizmente, nada tem feito na prática a fim de exigir dos Estados condenados pela Corte o cumprimento das sentenças de reparação ou ressarcimento.” (MAZZUOLI, 2011, p. 899). Apesar de ter ratificado a Convenção Americana e aceitado a competência contenciosa da Corte, o Brasil não está protegendo os direitos humanos como se comprometeu, uma vez que não está cumprindo de forma integral as sentenças da Corte, desta forma observa-se que as sentenças da Corte não têm sido efetivas no Brasil. 30 5 CONCLUSÃO Este trabalho teve como objetivo o estudo da efetividade das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil, portanto elaborou-se uma pesquisa sobre o conceito dos direitos humanos, sua evolução histórica e proteção internacional e brasileira, apresentou um estudo sobre a Corte Interamericana de Direitos Humanos abordando sua criação e principais características, por fim fez-se a análise de dois casos concretos nos quais o Brasil foi sentenciado pela Corte e uma crítica sobre a efetividade das sentenças proferidas pela Corte. Diante da análise dos casos concretos, constatou-se que as sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos não são cumpridas de forma integral no Brasil, o que demonstra que tais sentenças não são efetivas, haja vista que uma sentença é efetiva quando produz todos os seus efeitos e se impõe tanto ao aplicador do Direito quanto ao seu destinatário, obtendo resultado prático satisfatório. Observou-se que apesar dos direitos humanos serem bem conceituados e regulados por tratados internacionais, muitos já ratificados pelo Brasil, o maior desafio é de protegê-los de forma efetiva, a fim de garantir segurança jurídica das normas internacionais. A inércia da Assembleia Geral da OEA de fazer com que seja de forma prática cumprida integralmente as sentenças reforça a proteção limitada dos direitos humanos, portanto, deve ser adotadas medidas para que haja a devida coercitividade em relação às sentenças. Com isso, conclui-se que a proteção dos direitos humanos é responsabilidade tanto das organizações internacionais quanto dos Estados e é de responsabilidade da Corte aplicar o direito internacional de forma a garantir a proteção dos direitos humanos e penalizar os que os desrespeitaram, ao mesmo tempo é obrigação dos Estados cumprir integralmente a sentença, firmando o compromisso ratificado tanto na Convenção Americana quanto nos demais tratados internacionais referentes aosdireitos humanos. 31 REFERÊNCIAS ABRANCHES, Carlos Alberto Dunshee de. The Inter – American Court of Human Rights. Disponível em: <http//:www.wcl.american.edu/journal/lawrev/30/abranches.pdf.html> e <http://heinonline.org/HOL/LandingPage?collection=journals&handle=hein.journals/a ulr30&div=13&id=&page=.html> Acesso em: 06 mai. 2013. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 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