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Manual Caseiro - Abuso de Autoridade

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Direito Administrativo – De 
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ABUSO DE AUTORIDADE 
Lei n.º 13.869/2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ed. 2020 
 
 
 
 
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Abuso de Autoridade – Lei nº 13.869/2019 
 
ABUSO DE AUTORIDADE 
Lei nº 13.869/2019 
 
 
1. Noções Introdutórias 
 
Inicialmente, cumpre destacarmos que o abuso de autoridade já era punido criminalmente pela Lei 
nº 4.898/65. Contudo, a referida Lei nº 4.898/65 foi revogada pela Lei nº 13.869/2019, que passou a regular 
inteiramente o tema. 
Nos termos do art. 1º, esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente 
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder 
que lhe tenha sido atribuído. 
Da análise do art. 1º já conseguimos identificar o âmbito de aplicação da Lei. Será aplicada aos 
agentes públicos, que sejam servidores ou NÃO, que no exercício da função ou a pretexto de exercê-las. 
Esquematizando: 
Servidor ou NÃO 
No exercício da função a pretexto de exercê-las. 
 
Nas lições de Hely Lopes Meirelles, agentes públicos são pessoas físicas incumbidas, seja de modo 
definitivo ou transitório, do exercício de alguma função estatal conferido a órgão ou entidade da 
Administração Pública. Os agentes normalmente desempenham funções do órgão, distribuídas entre os 
cargos de que são titulares, mas excepcionalmente pode exercer funções sem cargo. 
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Análise comparativa 
Na Lei n.º 4.898 de forma diversa ao previsto no art. 1º da Lei n. 13.869/2019 a referência era apenas 
aos agentes públicos no exercício das suas funções, não trazendo a condição daquele agente público que 
pratica ato de abuso de autoridade a pretexto de exercê-las. 
E qual a distinção? Na primeira situação o agente público está realmente no exercício da função, 
por exemplo, o policial que está num plantão numa delegacia, a segunda é quando esse mesmo policial coage 
alguém a pretexto de ser policial e abusa dessa autoridade. 
Assim, temos que 
A Lei nº 13.869/2019 define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por... 
• agente público, 
• seja ele servidor ou não, 
• que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, 
• abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
 
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, 
que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
 
Candidato, você sabia que os delitos de abuso de autoridade constituem expressão do “Direito Penal 
Subterrâneo”? Terminologia proposta por Zaffaroni para se referir aos crimes decorrentes do exercício 
arbitrário do direito de punir por determinados agentes públicos, a exemplo de torturas e homicídios 
cometidos pelas agências executivas de controle. Este fenômeno surge e ganha corpo notadamente em face 
da ineficácia dos órgãos estatais (Polícias, Ministério Público, Poder Judiciário, etc.). 
 
Bem Jurídico Tutelado 
O bem jurídico tutelado é o normal funcionamento da administração pública e os direitos 
fundamentais do cidadão, como a liberdade, honra, privacidade, imagem, dentre outros. 
 
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2. Sujeitos do Crime 
O legislador definiu, de forma redundante, quem seria o sujeito ativo do crime de abuso de 
autoridade. Na lei anterior, havia o art. 5º, que definia quem seriam as autoridades para os fins daquela lei; 
agora há o art. 2º, que decide, inclusive com exemplos, quem são os possíveis sujeitos ativos. Não obstante 
os exemplos, importante destacarmos que o rol do art. 2º é meramente exemplificativo. Perceba que o 
legislador deixou isso claro ao afirmar: “compreendendo, mas não se limitando a”, conforme iremos 
analisar. 
As condutas típicas previstas na Lei de Abuso de Autoridade são crimes próprios. Mas o que são 
crimes próprios? São crimes em que se exige uma qualidade especial do agente, a referida classificação 
contrapõe-se aos crimes comuns (aqueles em que não se exige uma qualidade especial do agente, pode ser 
praticado por qualquer pessoa). 
Os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são próprios, ou seja, só podem ser praticados por 
“agentes públicos”, nos termos do art. 2º. 
Quem é considerado agente público para fins da Lei de Abuso de Autoridade? Reputa-se agente 
público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem 
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura 
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste 
artigo (art. 2º). 
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da 
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
Cumpre destacarmos que o rol apresentado é meramente exemplificativo, não se restringe aos 
mencionados no art. 2º. Dessa forma, nesse rol podem ser enquadrados outros agentes públicos que não 
tenham sido necessariamente citados. 
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Denota-se que o conceito utilizado para os fins da Lei de Abuso de Autoridade, em muito se 
assemelha ao conceito de agente público previsto na Lei de Improbidade Administrativa, que define agente 
público como “todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, 
emprego ou função em órgão ou entidade da Administração Pública direta, indireta ou fundacional, de 
qualquer dos Poderes, em todas as esferas”. 
Por fim, cumpre apontarmos que alguns doutrinadores já têm se manifestado no sentido de que o 
funcionário aposentado não pode praticar o crime, pois se desvinculou funcionalmente, logo, não é mais 
considerado agente público. Corroborando ao exposto, preleciona Rogério Sanches e Rogério Greco (Abuso 
de Autoridade – Lei n. 13.869/2019 – comentada artigo por artigo): 
(...) é ensinamento predominante na doutrina que o funcionário aposentado não pode cometer 
o crime, pois se desvincula funcionalmente da Administração Pública. 
 
Conforme destacado acima, os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são crimes próprios, ou seja, 
só podem ser praticados por “agentes públicos”, nos termos do art. 2º, não se esqueça! 
Nexo funcional 
O abuso de poder ocorre quando o agente público excede os limites de sua competência (excesso de 
poder) ouquando pratica um ato com finalidade diversa daquela que decorre explícita ou implicitamente da 
lei (desvio de poder). Em ambas as hipóteses, a tipificação do delito está condicionada, como deixa entrever 
o caput do art. 1, ao fato de o agente público praticar a conduta em questão no exercício de suas funções ou 
a pretexto de exercê-las. 
Desse modo, para que seja possível falar em crime de abuso de autoridade, é indispensável apontar a 
existência de nexo funcional, isto é, demonstrar que o agente público praticou a conduta “no exercício de 
suas funções ou a pretexto de exercê-las” (crime propter officium). 
Por exemplo, não há abuso de autoridade se um promotor se desentende com um passageiro no 
aeroporto e, sem mencionar qualquer palavra acerca do cargo que ocupa ou fornecer qualquer justificativa, 
resolve prender o outro passageiro em flagrante. 
Outro exemplo que podemos apontar é, não há abuso de autoridade quando o policial militar que fazia 
um bico de segurança em um supermercado prende uma pessoa, extrapolando um pouco durante o ato de 
prender. 
 
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Admissibilidade do concurso de pessoas: coautoria e participação 
Cumpre destacarmos que embora sejam crimes próprios, os delitos previstos na Lei nº 13.869/2019 
admitem a coautoria e a participação. Isso porque a qualidade de “agente público”, por ser elementar do 
tipo, comunica-se aos demais agentes, nos termos do art. 30 do Código Penal, desde que eles tenham 
conhecimento dessa condição pessoal do autor. Vejamos: 
CP, Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. 
 
Candidato, admite-se concurso de pessoas na prática do crime de abuso de autoridade? 
Excelência, embora sejam crimes próprios, os delitos previstos na Lei nº 13.869/2019 admitem a coautoria 
e a participação. Isso porque a qualidade de “agente público”, por ser elementar do tipo, comunica-se aos 
demais agentes, nos termos do art. 30 do Código Penal, desde que eles tenham conhecimento dessa condição 
pessoal do autor. 
Em que pese o particular não constar na relação do art. 2º da Nova Lei de Abuso de Autoridade, 
pode praticar o crime de abuso de autoridade quando atua em conjunto com um agente público e, 
excepcionalmente, ainda que atue sozinho. 
Caso atue com um agente público, o particular responderá por crime de abuso de autoridade em 
razão da comunicabilidade das elementares do crime, ainda que de caráter pessoal (art. 30 do Código Penal). 
O art. 30 do Código Penal, que se encontra disposto na parte que trata do concurso de pessoas, diz 
que “não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do 
crime.” 
Isto é, as elementares do crime, sejam subjetivas ou objetivas, comunicam-se aos partícipes, desde 
que tenham conhecimento. 
As elementares são os dados, elementos, componentes essenciais de uma figura típica, as quais em 
caso de ausência implicarão na atipicidade absoluta ou atipicidade relativa. Isto é, a conduta deixa de ser 
crime ou passa a ser outro crime. 
 
Dupla subjetividade passiva 
Os crimes de abuso de autoridade previstos na Lei nº 13.869/2019 são delitos de “dupla 
subjetividade passiva”. Isso porque são condutas que atingem dois sujeitos passivos. 
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O sujeito passivo principal ou imediato é a pessoa física ou jurídica diretamente atingida ou 
prejudicada pela conduta abusiva. Ex: o preso, no caso do art. 13. 
O sujeito passivo secundário ou mediato é o Estado (Poder Público) que tem a sua imagem, 
credibilidade e até patrimônio ofendidos quando um agente seu pratica ato abusivo. 
Sujeito passivo imediato Sujeito passivo mediato 
Pessoa física ou jurídica diretamente atingida ou 
prejudicada pela conduta abusiva 
Estado. 
 
 ASSIM, temos: 
Sujeito passivo: os crimes de abuso de autoridade são crimes de dupla subjetividade passiva. Podem ser 
atingidos tanto o Estado quanto a Pessoa Física ou Jurídica* (art. 36, LAA). 
Sujeito ativo: quanto ao sujeito passivo, os crimes de abuso de autoridade são crimes próprios, dado que há 
necessidade de o autor da conduta ser um agente público. Cabe mencionar, entretanto, que o conceito de agente 
público não será aquele contido no Art. 327 do Código Penal, mas extraído da própria Lei de Abuso de 
Autoridade que o define em seu Art. 2. 
Agente Público Militar 
A competência para julgamento dos crimes de abuso de autoridade praticados por agentes públicos 
militares será da Justiça Militar, conforme a Lei n. 13.491/2017, que alterou o Código Penal Militar. Sendo 
assim, o entendimento da Súmula n. 172 do STJ está superado. 
 
3. Elemento subjetivo Especial: especial fim de agir 
Todos os delitos previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019) são dolosos. Não 
há a previsão de abuso de autoridade na forma culposa. Além disso, exige-se um elemento subjetivo especial 
(especial fim de agir, “dolo específico”). 
Não consta da Lei n. 13.869/19 nenhuma infração penal culposa. Portanto, eventual inobservância do dever 
objetivo de cuidado na atuação funcional pode dar ensejo à responsabilização cível e/ou administrativa, punida 
exclusivamente na seara extrapenal, jamais no âmbito criminal.1 
Nessa esteira, nos termos do art. 1º, §1º as condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso 
de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou 
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. 
 
 
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Abusar do poder para 
Prejudicar outrem Beneficiar a si mesmo ou a 3º Mero capricho ou satisfação pessoal 
 
Assim, além de praticar a conduta descrita como crime de abuso de autoridade, a autoridade ainda 
deve ter a finalidade específica de abusar de sua autoridade, utilizando-a com excesso ou de forma desviada. 
 
PREJUDICAR OUTREM 
Trata-se da conduta do agente que público que prejudica determinada pessoa. Esse prejuízo pode se 
manifestar de várias formas. 
 BENEFICIAR A SI MESMO OU A TERCEIRO 
É qualquer vantagem, proveito ou beneficio que possa vir a ser obtido pelo agente público, pouco 
importando se se trata de interesse de ordem patrimonial ou moral. 
POR MERO CAPRICHO OU SATISFAÇÃO PESSOAL 
Segundo a doutrina, o capricho pode ser entendido como uma vontade repentina desprovida de 
qualquer justificativa. No tocante a satisfação pessoal, entende-se que ela nunca pode ser a causa da conduta, 
mas sim a consequência. 
Vamos esquematizar? 
Elemento subjetivo do tipo 
 
 
O agente só comete 
crime de abuso de 
autoridade se 
1) ao praticar a conduta tinha a finalidade específica de: 
• prejudicar alguém; ou 
• beneficiar a si mesmo ou a terceiro; OU 
2) tiver praticado a conduta por mero capricho ou satisfação pessoal. 
- Capricho: vontade desprovida de qualquer razão anterior. 
- Satisfação pessoal: para agradar interesses pessoais. 
 
4. Divergência de interpretação ou de avaliação dos fatos 
 
A atuação dos operadores do Direito envolve constantemente a interpretação de leis e atos 
normativos e a apreciação de fatos e provas. Ocorre que, por mais que sejam utilizados critérios e métodos 
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teóricos para o exercício de tais atividades, o certo é que elas possuem boa dose de subjetividade. Essa 
subjetividade faz com que surjam divergências na interpretação da lei ou na avaliação dos fatos e provas. 
Tais divergências, por si só, não poderiam ser punidas como abuso de autoridade. Pensando nisso, 
o § 2º do art. 1º da Lei prevê tais situações como causa de exclusão da tipicidade nos seguintes termos: 
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade. 
 
Nesse sentido, o prof. Diego Fontes explica que se houver uma mera divergência na interpretação 
de lei ou na avaliação de fatos e provas isso não será considerado abuso. Este dispositivo entrou na Lei em 
decorrência de uma pressão muito forte por parte de juízes e das autoridades policiais que apontaram a 
existência de tipos penais muito abertos para os quais os juízes aplicam penas segundo o seu entendimento 
da Lei e não exercendo abuso de poder. A mera divergência doutrinária de interpretação, por si só, não 
configura abuso porque o juiz está fazendo o que considera correto. 
 Lembre-se: o legislador deixou bem claro que a divergência de interpretação não será considerada 
crime de abuso de autoridade, diferente da proposta inicial, que estabelecia o crime de hermenêutica. 
 
5. Ação Penal 
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao 
Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos 
do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do 
querelante, retomar a ação como parte principal. 
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar 
o prazo para oferecimento da denúncia. 
 
5.1 Ação Penal Pública Incondicionada 
 
Inicialmente, cumpre recordarmos que a ação penal pública incondicionada é a regra quando a lei é 
silente. Assim, quando não há disposição expressa no sentido de indicar a espécie de ação penal, significa 
que ela observará a regra, ou seja, trata-se de ação penal pública incondicionada, cujo titular da ação penal é 
o Ministério Público. 
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Nesse sentido, a Legislação: 
CPP, Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas 
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de 
quem tiver qualidade para representá-lo. 
CP, Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. 
 
Não fosse suficiente a observância da regra geral, a Nova Lei de Abuso de Autoridade passou a 
prevê de forma expressa que todos os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são de ação penal pública 
incondicionada, é o que se pode extrair da redação do art. 3º. 
Corroborando ao exposto, preleciona Rogério Sanches e Rogério Greco (Abuso de Autoridade – 
Lei n. 13.869/2019 – comentada artigo por artigo): 
Como não poderia ser diferente, os crimes previstos na Lei n. 13.869/2019 são todos perseguidos mediante 
ação pública incondicionada, isto é, de ofício, ao dependendo de qualquer pedido/autorização da vítima. 
A ação penal de iniciativa pública incondicionada tem como titular o Ministério Público (Código de Processo 
Penal, art. 24; CP, art. 100; CF: art. 129, I). 
 
Corroborando em sua definição, Cleber Masson (Código Penal Comentado): 
Ação penal pública incondicionada: É a espécie de ação penal iniciada pelo MP, com o oferecimento de 
denúncia, que depende somente da existência de prova da materialidade e de indícios de autoria de um fato 
previsto em lei como infração penal. A grande maioria das infrações penais pertence a esta categoria de ação 
penal. Consequentemente, sua pertinência é obtida por via residual, isto é, sempre que a lei não exigir a 
representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo, a requisição do Ministro da Justiça, 
ou, ainda, indicar o cabimento de ação penal privada, o MP poderá oferecer denúncia, se presentes seus 
requisitos, independentemente de qualquer tipo de provocação. 
 
5.2 Ação Penal Privada subsidiária da Pública – cabimento 
O §1º do art. 3. da Lei de Abuso de Autoridade trouxe previsão expressa do cabimento da ação penal 
privada subsidiária da pública. 
Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério 
Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, 
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a 
ação como parte principal. 
 
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Trata-se da chamada ação penal privada subsidiária da pública. 
O Ministério Público tem um prazo previsto na lei para o ajuizamento da ação penal pública. Se o 
membro do Parquet não oferece a denúncia neste prazo, o ordenamento jurídico permite que o ofendido (a 
vítima) tome a providência que o MP deveria ter feito e ofereça a ação penal em nome próprio. Neste caso, 
o ofendido apresenta uma queixa-crime substitutiva (supletiva) da denúncia. 
Exemplo: imagine que João foi vítima de abuso de autoridade praticado pelo Delegado; o MP não 
oferece a denúncia no prazo legal; João (ofendido) poderá suprir essa inércia do MP propondo uma queixa 
que substituindo a denúncia que deveria ter sido oferecida pelo Parquet. Isso é chamado de ação privada 
subsidiária da pública. 
O prazo para o oferecimento da denúncia está previsto no art. 46 do CPP: 
▪ estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os 
autos do inquérito policial; 
▪ se o réu estiver solto ou afiançado, o prazo é de 15 dias. 
 
Ação privada subsidiária é instrumento para suprir eventual inércia do Miistério Público, não para 
se contrapor à providência adotada pelo órgão ministerial 
Ao final do prazo legal previsto no art. 46 do CPP, o membro do Ministério Público tem, 
basicamente, quatro possibilidades: 
a) oferecer denúncia; 
b) requisitar a realização de novas diligências; 
c) pedir o arquivamento; 
d) requerer a declinação de competência. 
Para que o ofendido possa ajuizar a ação privada subsidiária, é necessário que o membro do MP 
fique completamente inerte2 no prazo legal do art. 46 do CPP, ou seja, que não adote nenhuma dessas 
quatro providências. 
 
2 Jurisprudência: Somente é possível a ação penal subsidiária da pública quando restar configurada inércia do Ministério Público, 
não sendo cabível nas hipóteses de arquivamento de inquérito policial promovido pelo membro do Parquet e acolhido pelo juiz. 
No caso concreto, não houve desídia do órgão acusador que, conforme reconhecido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo, propôs o arquivamento do inquérito policial, entendendo não haver condições de procedibilidade para o oferecimento da 
denúncia em razão da inexistência de relevância jurídica na conduta investigada. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1508560/SP, Rel. 
Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2018. 
A ação privada subsidiária da públicasó é possível quando o Órgão Ministerial se mostrar desidioso e não se manifestar no prazo 
previsto em lei. Se o Ministério Público promove o arquivamento do inquérito ou requer o seu retorno ao delegado de polícia para 
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Assim, se o Promotor de Justiça/Procurador da República pedir o arquivamento do inquérito 
policial, o ofendido, mesmo que discorde disso, não poderá ajuizar a ação privada subsidiária considerando 
que não houve inércia do MP. Se o ofendido oferecer ação privada subsidiária neste caso, o juiz deverá 
rejeitar a queixa substitutiva por ilegitimidade de parte. 
Reiterando, a ação privada subsidiária só pode ser ajuizada em caso de inércia do MP, não servindo 
como instrumento para que o ofendido discorde da providência tomada pelo Parquet. 
Enunciado #3 (art 3º):3 
Os crimes da Lei de Abuso de Autoridade são perseguidos mediante ação penal pública 
incondicionada. A queixa subsidiária pressupõe comprovada inércia do Ministério 
Público, caracterizada pela inexistência de qualquer manifestação ministerial. 
 
No sentido do enunciado n.3, já era o entendimento da Jurisprudência. Vejamos: 
Somente é possível a ação penal subsidiária da pública quando restar configurada inércia do 
Ministério Público, não sendo cabível nas hipóteses de arquivamento de inquérito policial 
promovido pelo membro do Parquet e acolhido pelo juiz. 
No caso concreto, não houve desídia do órgão acusador que, conforme reconhecido pelo 
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, propôs o arquivamento do inquérito policial, 
entendendo não haver condições de procedibilidade para o oferecimento da denúncia em 
razão da inexistência de relevância jurídica na conduta investigada. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1508560/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/20184. 
 
5.3 Prazo 
 
novas diligências, não cabe queixa subsidiária; se oferecida, a rejeição se impõe por ilegitimidade de parte, falta de pressuposto 
processual da ação. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1049105/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/10/2018. 
É incabível a impetração de mandado de segurança por parte da vítima contra decisão que determina o arquivamento de inquérito 
policial, seja por considerá-la desprovida de conteúdo jurisdicional, seja devido ao fato de que o titular da ação penal pública 
incondicionada é o Ministério Público, não sendo cabível o eventual oferecimento de ação penal privada subsidiária sem a prova 
de sua inércia. STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 51.404/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/05/2019. 
3 GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO CRIMINAL – GNCCRIM - LEI DE ABUSO DE 
AUTORIDADE. 
4 O presente julgado encontra-se em conformidade com a nova sistemática processual penal no que tange a necessidade de 
observância da inércia do MP, utilizado no contexto para melhor exemplificarmos a questão trabalhada no item. 
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Segundo o § 2º do art. 3º, o ofendido tem o prazo de 6 meses para oferecer a queixa substitutiva – a 
ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o 
prazo para oferecimento da denúncia. 
Prazo? 
6 MESES 
contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia 
 
 Decadência imprópria 
Cumpre esclarecermos que o prazo previsto no art. 3º se trata de um prazo decadencial impróprio 
considerando que, mesmo após ele se esgotar, o Ministério Público pode ajuizar a denúncia ou tomar outras 
providências. O simples decurso do prazo de 6 meses não gera a extinção da punibilidade. A única 
consequência que acarreta é o fato de o ofendido não poder mais ajuizar a ação privada subsidiária não 
influenciando nos poderes do MP. 
Trata-se de prazo decadencial impróprio considerando que, mesmo após o seu esgotamento, o Ministério 
Público pode ajuizar a denúncia ou tomar outras providências. O simples decurso do prazo de 6 meses não gera 
a extinção da punibilidade. A única consequência é o fato de o ofendido não poder mais ajuizar a ação privada 
subsidiária. 
 
Corroborando ao exposto explicam Klaus Negri Costa e Fábio Roque Araújo: 
“O prazo para oferecimento da queixa-substitutiva é de 6 meses, de natureza decadencial. É interessante notar 
que, mesmo tendo natureza decadencial, o escoamento desse prazo in albis não acarretará a extinção da 
punibilidade. O único efeito da perda do prazo decadencial será, tão somente, a impossibilidade de ajuizamento 
da queixa-substitutiva pelo ofendido - mas o Ministério Público continuará, respeitado o prazo prescricional, 
legitimado a oferecer denúncia.” (COSTA, Klaus Negri; ARAÚJO, Fábio Roque. Processo Penal didático. 
Salvador: Juspodivm, 2018, p. 199) 
 
O prof. Márcio André explica que a norma prevista no art. 3º da Lei nº 13.869/2019 não era 
juridicamente necessário, isso porque a ação penal privada subsidiária da pública já é prevista expressamente 
no art. 5º, LIX, da CF/88, sendo considerada, inclusive, uma cláusula pétrea: “Art. 5º (...) LIX - será admitida 
ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”. 
Além disso, em nível infraconstitucional, o tema já era disciplinado da mesma forma pelo CPP: 
“Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, 
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos 
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os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência 
do querelante, retomar a ação como parte principal”. 
Inobstante ao exposto, o legislador optaou por prever expressamente a regra, bem como, a 
possibilidade/cabimento de ação penal privada subsidiária da pública. 
Não esqueça! Todos os crimes previstos nesta lei, apesar de possuírem uma pena baixa, são de 
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. 
 
6. Competência 
O primeiro passo para se definir a competência no caso de crimes da Lei do Abuso de Autoridade é 
verificar se a Constituição Federal prevê foro por prerrogativa de função para o agente público que praticou 
o delito. 
Assim, se a autoridade que praticou o delito no exercício das suas funções goza de foro por 
prerrogativa de função, deverá ser julgada pelo respectivo Tribunal. Ex: Juiz Federal que pratique abuso de 
autoridade será julgado pelo Tribunal Regional Federal, nos termos do art. 108, I, a, da CF/88: 
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos 
crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência 
da Justiça Eleitoral; 
 
Vale lembrar que, segundo a interpretação restritiva do STF: 
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e 
relacionados às funções desempenhadas. 
STF. Plenário AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900). 
 
Sendo a competência do juízo de 1ª instância, será necessário analisar se a competência é da Justiça 
Estadual ou Federal. 
A competência para julgar o delito será, em regra, determinada pela esfera ao qual estiver vinculado 
o agente público que praticou o crime. 
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Assim, em regra se o delito foi praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa 
função: o crime será de competência da Justiça Federal, considerando que, neste caso, o delito terá sido 
praticado em detrimento de um serviço público federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88: 
Art. 109 (...) 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou 
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; 
Obviamente, para a competência ser da Justiça Federal, o crime deve estar relacionado com as funções 
federais exercidas pelo agente público, conforme se aprende pela súmula 147 do STJ: 
Súmula 147-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público 
federal, quando relacionados com o exercício da função. 
Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) estadual ou municipal no exercício dessa 
função: o crime será, em regra, de competência da Justiça Estadual, que é residual. 
 
Candidato, Justiça Militar pode julgar crime de abuso de autoridade? 
SIM. Em 1996, o STJ editou um enunciado dizendo o seguinte: 
Súmula 172-STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, 
ainda que praticado em serviço. 
Ocorre que o entendimento contido nesta súmula está superado pela Lei nº 13.491/2017, que alterou 
o art. 9º, II, do CPM. 
Antes da alteração, se o militar, em serviço, cometesse abuso de autoridade ele seria julgado pela 
Justiça Comum porque o art. 9º, II, do CPM afirmava que somente poderia ser considerado como crime 
militar as condutas que estivessem tipificadas no CPM. Assim, como o abuso de autoridade não está previsto 
no CPM, mas sim na Lei nº 4.898/65, este delito não podia ser considerado crime militar nem podia ser 
julgado pela Justiça Militar. Isso, contudo, mudou com a nova redação dada pela Lei nº 13.491/2017 ao art. 
9º, II, do CPM. 
Com a mudança, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do 
art. 9º, pode estar prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”. Dessa forma, o abuso 
de autoridade, mesmo não estando previsto no CPM pode agora ser considerado crime militar (julgado pela 
Justiça Militar) com base no art. 9º, II, do CPM. Logo, a Justiça Militar pode sim julgar crime de abuso de 
autoridade. 
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Candidato, é possível a Justiça Eleitoral julgar crime de Abuso de Autoridade? 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 109, IV, deixou bem claro o caráter absoluto da 
jurisdição eleitoral sobre a jurisdição comum, motivo pelo qual a competência para o julgamento dos crimes 
comuns conexos aos eleitorais é da justiça especializada, sem maiores questionamento por parte da doutrina 
ou da jurisprudência de todos os Tribunais Eleitorais74, inclusive do Supremo Tribunal Federal75. A força 
atrativa da Justiça Eleitoral (fixada também por força do artigo 35, II, do Código Eleitoral) é tão forte que, 
descumprida essa regra, a nulidade dos atos posteriores à denúncia é medida de rigor. 
Além disso, se no julgamento das infrações eleitorais e conexas, houver absolvição quanto aos crimes 
especializados, tal não modificará a competência da Justiça Eleitoral para os demais que lhe forem conexos, 
como já decidiu a Corte Eleitoral (TSE). Pois bem, dito isso, é possível que, em tese, a Justiça Eleitoral julgue 
crime de abuso de autoridade conexo com crime eleitoral. Tal hipótese fica bem clara, por exemplo, no 
possível concurso de crimes tipificados no artigo 9°, da Lei n°13.869/2019 e no artigo 298, do Código 
Eleitoral, haja vista a objetividade jurídica diversa entre eles. 
 
7. Efeitos da Condenação 5 
Art. 4º São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do 
ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando 
os prejuízos por ele sofridos; 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) 
anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
 
5 A doutrina entende que a primeira parte do inciso I é automática, ou seja, não precisa de motivação do juiz, porém, na segunda 
parte, quando houver requerimento do ofendido, tratar-se-á de um efeito específico e não automático da sentença penal 
condenatória pela prática de um dos crimes de abuso de autoridade. O inciso II, que dispõe sobre a inabilitação para exercício do 
cargo pelo período de até cinco anos, não é um efeito automático, devendo o juiz motivar a sua decisão. O último inciso também 
não é automático e pode ser considerado como o pior dos efeitos, pois gera a perda do cargo do agente público. Perceba que esses 
efeitos são alternativos, ou seja, o agente pode sofrer um deles e não necessariamente o outro. Por fim, o parágrafo único afirma 
que os incisos II e III são condicionados à reincidência específica, ou seja, o agente deverá já ser reincidente no crime de abuso de 
autoridade. 
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Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência 
de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados 
motivadamente na sentença. 
 
É cediço que a principal consequência do trânsito em julgado é o cumprimento da pena prevista no 
tipo penal. Contudo, existem também os efeitos secundários da pena, que vêm previstos no art. 4º, onde o 
legislador fundiu o art. 91 e 92 do CP, mesclando efeitos extrapenais genéricos com específicos, e efeitos 
automáticos com não automáticos, ambos convivendo com a antecipação da reparação dos danos. 
Nessa linha, o prof. Rogério Sanches explica que a principal e maior consequência do trânsito em 
julgado da sentença condenatória é, sem dúvida, fazer com que o condenado cumpra a pena determinada. 
Contudo, tal sentença, além de seus efeitos penais pode gerar, ainda, outros efeitos, de natureza diversa. 
Existem, portanto, efeitos secundários gerados pela sentença condenatória transitada em julgado 
que mais se parecem com outra pena, de natureza acessória. Tais efeitos, considerados extrapenais, no que 
diz respeito aos delitos de abuso de autoridade, vieram elencados pelo art. 4º, incisos I a III da Lei nº 13.869, 
de 5 de setembro de 2019. 
Nas lições do Prof. Cleber Masson: 
Efeitos principais da condenação: São a imposição das penas privativas de liberdade, restritivas de direitos, 
pecuniárias, e, ainda, de medidas de segurança aos semi-imputáveis. A imposição de sanção penal é, sem 
dúvida, o efeito precípuo da condenação. A circunstância de estar o condenado obrigado a cumpri-la, todavia, 
não afasta a existência de outros efeitos, de cunho penal ou não, que em determinadas situações 
obrigatoriamente a ela aderem. 
Efeitos secundários da condenação: Também conhecidos como efeitos mediatos, acessórios, reflexos ou 
indiretos, constituem-se em consequências da sentença penal condenatória como fato jurídico. Os efeitos 
secundários se dividem em dois blocos: penais e extrapenais. Estão previstos no Código Penal e fora dele. 
 
Antes de adentrarmos a análise desses efeitos propriamente, cumpre destacarmosque os efeitos da 
condenação na Lei de Abuso de Autoridade foram divididos em dois tipos, os que são automáticos e os não 
automáticos. 
E qual a distinção dos efeitos automáticos e não automáticos? Automáticos são aqueles que não 
dependem de declaração motivada por parte do magistrado. Por outro lado, os não automáticos são os que 
somente incidem se houver declaração expressamente motivada do magistrado. 
 
 
Automático 
tornar certa a obrigação de indenizar o dano 
causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento 
do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para 
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reparação dos danos causados pela infração, 
considerando os prejuízos por ele sofridos; 
Efeitos da Condenação 
 Não 
automático 
inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou 
função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) 
anos; 
perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
 
Prezado candidato, é de suma importância que você recorde: 
• A primeira parte deste inciso (“tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”) é 
um efeito automático da condenação, de modo que não precisa ser prevista expressamente na 
sentença. 
• A segunda parte (“a requerimento do ofendido fixar valor mínimo para reparação dos danos...”) é 
um efeito específico e não automático, que deve ser expressamente mencionado na sentença. Se a 
vítima não requerer, caberá a ela tão somente liquidar no juízo cível seu título executivo judicial, 
isto é, a sentença penal condenatória. Portanto, prevalece que este pedido deve constar 
expressamente na denúncia ou queixa. 
 
Vejamos: 
I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a 
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela 
infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
O primeiro efeito da condenação, trazido pela primeira parte do inciso I do art. 4º da Lei nº 
13.869/19, diz respeito a tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Embora sejam 
independentes as esferas cível e penal, a sentença penal condenatória com trânsito em julgado evidencia, 
quando possível, o dano causado pelo agente mediante a prática de sua conduta típica, ilícita e culpável, 
gerando, pois, para a vítima, um título executivo de natureza judicial, conforme previsto pelo inciso VI do 
art. 515 do Código de Processo Civil. 
O efeito da condenação em estudo foi considerado como efeito automático da sentença penal 
condenatória com trânsito em julgado, não precisa ser declarado expressamente no decisum, pois deflui 
naturalmente da condenação. É a única entre as hipóteses previstas que foi considerado como efeito 
automático. 
A segunda parte do inciso I, do art. 4º prevê, também, quando houver requerimento do ofendido 
nesse sentido, a fixação pelo juiz na sentença do valor mínimo para reparação dos danos causados pela 
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infração, considerando os prejuízos por ele sofridos. Trata-se, agora, de um efeito específico, não automático 
da sentença penal condenatória pela prática de quaisquer dos crimes de abuso de autoridade, devendo, 
consequentemente, ser expressamente motivado pelo julgador. 
Os efeitos previstos nos incisos II e III são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de 
abuso de autoridade e devem ser declarados motivadamente na sentença (não são automáticos). 
 
Requisito: REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA – reincidência em crime de abuso de Autoridade 
A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 
(cinco) anos, bem como, a perda do cargo, do mandato ou da função pública como efeitos da condenação 
por crime de abuso de autoridade, nos termos da Lei n. 13.869/2019, são condicionados à ocorrência de 
reincidência em crimes dessa natureza. 
Dessa forma, contemplamos que a reincidência específica é um dos requisitos para a aplicação dos 
efeitos não automáticos da Lei de Abuso de Autoridade. 
Efeitos não automáticos (incisos II e III) 
Os efeitos previstos nos incisos II e III são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de 
abuso de autoridade e devem ser declarados motivadamente na sentença (não são automáticos). 
 
8. Das penas Restritivas de Direito 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta Lei são: 
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a 
perda dos vencimentos e das vantagens; 
III - (VETADO). 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. 
 
Segundo Cleber Masson (Código Penal Comentado), as penas restritivas de direitos são também 
chamadas de “penas alternativas”, pois têm o propósito de evitar a desnecessária imposição da pena privativa 
de liberdade nas situações expressamente indicadas em lei, relativas a indivíduos dotados de condições 
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pessoais favoráveis e envolvidos na prática de infrações penais de reduzida gravidade. Busca-se a fuga da 
pena privativa de liberdade, reservada exclusivamente para situações excepcionais, aplicando-se em seu 
lugar a restrição de um ou mais direitos do condenado. Fala-se, atualmente, em falência da pena de prisão, 
provocada por diversos motivos, e notadamente por seu fator criminógeno. 
No tocante a sua natureza jurídica, são, efetivamente, penas, independentemente da ausência de 
privação da liberdade. Muitas delas foram assim definidas, expressamente, pelo art. 5.º, XLVI, da CF, que 
apresenta um rol exemplificativo. Possuem duas características marcantes, indicadas pelos arts. 44 e 54 do 
CP: substitutividade e autonomia. São substitutivas porque resultam do procedimento judicial que, depois 
de aplicar uma pena privativa de liberdade, efetua a sua substituição por uma ou mais penas restritivas de 
direitos, desde que presentes os requisitos legais. Isso ocorre em razão de os tipos penais não possuírem, no 
preceito secundário, a previsão direta de penas restritivas de direitos, as quais estão definidas pela Parte Geral 
do CP. A Lei 11.343/2006 – Lei de Drogas, contudo, excepcionou essa regra quanto ao crime tipificado pelo 
art. 28, ao qual não se impõe pena privativa de liberdade, mas imediatamente penas restritivas de direitos 
(advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de 
comparecimento a programa ou curso educativo). As penas restritivas de direitos são também dotadas de 
autonomia – uma vez substituídas, não podem ser cumuladas com a pena privativa de liberdade. 
A nova Lei de Abuso de Autoridade segue a política das penas alternativas, estabelecendo, em seu 
art. 5º, duas possibilidades de penas restritivas de direitos em substituição às penas privativas de liberdade. 
prestação de serviços à comunidade ou a entidades 
públicas 
suspensão do exercício do cargo, da função ou do 
mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, 
com a perda dos vencimentose das vantagens 
 
Analisando o dispositivo legal, contemplamos que a lei traz quais são as penas restritivas de direitos, 
mas não define quando haverá a substituição dessas penas. Portanto, para saber quando se dará a 
substitutividade das penas restritivas de direitos é necessário se valer das regras gerais do Código Penal6. 
 
6 CP, Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: 
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à 
pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) 
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) 
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias 
indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) 
§ 1o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) 
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se 
superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas 
restritivas de direitos. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) 
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida 
seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. 
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O legislador não especificou requisitos para a aplicação da substituição da pena privativa de liberdade em 
restritiva de direitos, dessa forma, aplicaremos de forma subsidiária o art. 44 do Código Penal. 
As penas restritivas de direito poderão ser aplicadas de forma autônoma ou cumulativa. 
 
9. Sanções de Natureza Civil e Administrativa 
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou 
administrativa cabíveis. 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão informadas 
à autoridade competente com vistas à apuração. 
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais 
questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo 
criminal. 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que 
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento 
de dever legal ou no exercício regular de direito. 
 
 De forma semelhante a antiga Lei de Abuso de Autoridade, a nova prevê que há uma tríplice 
responsabilização do agente, ou seja, poderá responder tanto na esfera criminal quanto na esfera civil e 
administrativa, sendo que essas esferas são independentes entre si. 
Responsabilidade civil Administrativa Responsabilidade criminal 
 
De início, temos que as sanções de natureza penal previstas na Lei nº 13.869/2019 (Nova Lei de 
Abuso de Autoridade) serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa 
cabíveis, é o que se pode extrair da análise da redação do art. 6. Vejamos: 
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou 
administrativa cabíveis. 
 
 
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição 
imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, 
respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) 
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, 
podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) 
 
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Dessa forma, em regra, as responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, 
podendo um sujeito ser absolvido criminalmente, porém condenado administrativamente e obrigado a 
indenizar civilmente. 
Inobstante a regra, importante atentarmos para o fato de que se o juízo criminal decidir sobre a 
existência ou a autoria do fato, essas questões não poderão mais ser questionadas nas esferas cível e 
administrativa. Por outro lado, fará coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, 
a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em 
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Desse modo, devemos ter total atenção 
para a regra prevista na Lei de Abuso de Autoridade, mas principalmente, nas exceções. 
O parágrafo único, do art. 6º a assevera que as notícias de crimes nela previstos, que descreverem 
falta funcional, serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. A norma em comento 
apresenta-se como uma obrigação das autoridades. 
Em conformidade com o entendimento dos tribunais superiores, o art. 7º dispõe que a sentença 
criminal, ante a relativa independência entre as instâncias cível e criminal, vincula o juízo cível quando 
reconhecer a (in)existência do fato ou atestar ter sido (ou não) o demandado seu autor. 
Assim, as responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo 
mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo 
criminal. 
O art. 8º, por fim, veda a reabertura da discussão, no âmbito cível, bem como, no administrativo-
disciplinar, quando a sentença penal reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em 
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
Assim, se foi reconhecido pelo Estado (por meio do Poder Judiciário) que o agente praticou 
determinado ato amparado por uma excludente de ilicitude, não poderia essa discussão ser aberta novamente 
no âmbito cível ou administrativo. 
10. Dos Crimes e das Penas 
Até o presente momento trabalhamos com a parte geral da Lei de Abuso de Autoridade. Nesse 
segundo momento, adentraremos na parte especial, realizando uma análise de cada crime previsto na 
legislação em comento. 
Nesse primeiro momento, levando-se em consideração que não há consolidação ainda de 
entendimentos da doutrina sobre a legislação, é importante o candidato centralizar sua atenção na literalidade 
do tipo penal, na descrição da conduta (núcleo do tipo) e suas respectivas penas. 
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10.1 Pena de Detenção 
 Todos os crimes da Lei de Abuso de Autoridade preveem pena de detenção. Dessa forma, qualquer 
assertiva no sentido de mencionar pena de reclusão ao delito estará incorreta. 
 Lembre-se! Nenhum dos crimes previstos na Lei n. 13.869/2019 possui pena de reclusão, pois todos 
preveem como pena a detenção. 
 
10.2 Crimes em espécie 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: 
Pena - detenção,de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal 7; 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando 
manifestamente cabível8; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível9.’ 
 
 
7 Inciso I 
A prisão ilegal deve ser relaxada pela autoridade judiciária competente. 
É o caso, por exemplo, em que o juiz recebe o auto de prisão em flagrante e constata que o indivíduo foi preso por conta de um 
fato atípico ou percebe que não havia situação de flagrância. Nestas hipóteses, exemplificativas, cabe ao juiz relaxar a prisão do 
indivíduo, colocando-o em liberdade, salvo se houver algum outro motivo para o cárcere. 
8 Inciso II 
O estudo do inciso II deve ser dividido em duas partes: 
1) deixar de “substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa”. 
Prisão preventiva é uma espécie de prisão de natureza cautelar, decretada na fase das investigações ou durante a ação penal, desde 
que presentes os pressupostos e requisitos previstos nos arts. 312 e 313 do CPP. 
 
Ocorre que a prisão preventiva é uma medida extrema e somente deve ser decretada (ou mantida) se não couber nenhuma outra 
medida cautelar. A prisão é a última das medidas cautelares que deverá ser adotada. Assim, somente será determinada a prisão 
quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 282, § 6º do CPP). 
2) deixar “de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível” 
Liberdade provisória é uma medida de contracautela concedida pela autoridade judicial que, ao receber o auto de prisão em 
flagrante, constata que a prisão efetuada foi legal, mas que não há motivos para se decretar a prisão preventiva, razão pela qual o 
flagranteado deverá ser solto, com ou sem a imposição de medidas cautelares diversas. 
 
9 Inciso III 
Deixar de “deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível”. 
Este inciso III é extremamente amplo. Isso porque ele não se limita aos casos de prisão em flagrante. Na verdade, não se restringe 
nem mesmo aos casos de prisão. 
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O verbo nuclear é “decretar”, que possui certa divergência para a doutrina. Grande parte entende 
alcançar somente ato do juiz e uma outra parte da doutrina afirma que, se o legislador quisesse fazer tal 
restrição, teria sido expresso, se não o fez, não devemos interpretar restritivamente. Corrobora desse 
entendimento, o prof. Sanches e Greco, vejamos: 
O núcleo decretar certamente vai despertar divergência. Já conseguimos antever corrente defendendo que 
alcançará somente ato do juiz. Ousamos, desde logo, discordar. Para nós, o verbo nuclear tem sentido de 
determinar, decidir, ordenar, não se restringindo à autoridade judiciária. Quisesse o legislador restringir, teria 
feito o que fez no parágrafo único, expressamente dirigindo aos membros do Poder Judiciário. 
 
Nessa mesma perspectiva, o Enunciado n. 5. 
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ENUNCIADO #5 (art. 9º.) O sujeito ativo do art. 9º., “caput”, da Lei de Abuso de 
Autoridade, diferentemente do parágrafo único, não alcança somente autoridade judiciária. 
O verbo nuclear “decretar” tem o sentido de determinar, decidir e ordenar medida de 
privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais. 
 
Dessa forma, temos que o verbo “decretar” tem sentido de determinar, decidir, ordenar, não se 
restringindo a autoridade judiciária. Portanto, seria sujeito ativo todo aquele com atribuição ou 
competência para determinar medida de privação de liberdade em manifesta desconformidade com a lei. Ex.: 
autoridade policial, militar e judiciária. 
O sujeito passivo do delito é o Estado e a pessoa que teve privada a sua liberdade. 
Quais são as hipóteses legais de privação de liberdade? 
• Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva); 
• Prisão para cumprimento da execução provisória da pena; 
• Prisão para cumprimento da execução definitiva da pena; 
• Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP); 
• Semiliberdade (art. 120 do ECA); 
• Internação (art. 121 do ECA); 
• Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001). 
 
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Elemento subjetivo do tipo penal é o dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade 
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou 
satisfação pessoal). Não se pune, portanto, a conduta em sua modalidade culposa. 
Podemos exemplificar a prática do delito em comento ao imaginar um juiz com o dolo específico 
de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação 
pessoal, decrete a prisão preventiva de um indivíduo em desconformidade com o previsto no art. 311 e 
seguintes do Código de Processo Penal. Nessa situação, estará caracterizado o delito em estudo. 
Outros exemplos: Exemplos: juiz decreta a prisão preventiva pela prática de um crime culposo; juiz 
decreta a prisão de um depositário infiel; juiz decreta a prisão temporária fora do rol dos crimes que admitem. 
No tocante a consumação, o crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão 
determinando a medida de privação da liberdade, ainda que ela não se consuma. 
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado naturalístico. 
Desse modo, imagine que o juiz decreta a prisão mesmo sendo manifestamente descabida. Antes 
que a providência seja cumprida, o indivíduo consegue do Tribunal uma ordem em habeas corpus cassando 
a decisão de 1ª instância. Em tese, o crime estará consumado mesmo não tendo havido a efetiva condução 
coercitiva. 
É cabível a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/9510 ), pois a pena mínima é 
igual a 1 ano. 
Pena: a detenção de 1 a 4 anos é uma infração de médio potencial ofensivo. A pena mínima 
é de 1 ano, ou seja, se estiverem presentes os demais requisitos, o réu pode ser beneficiado 
com a suspensão condicional do processo. 
 
O parágrafo único, por sua vez, trouxe as condutas equiparadas, ou seja, o agente responderá pela 
mesma pena, caso deixe de relaxar a prisão manifestamente ilegal, deixar de substituir a prisão preventiva 
por outra diversa da prisão, ou que defira liminar ou ordem de habeas corpus quando manifestamente 
cabível. 
Conforme o art. 310 do CPP, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá, 
fundamentadamente: 
 
10 Lei n. 9.099/95. Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta 
Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o 
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam 
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). 
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I - relaxar a prisão ilegal; ou 
II - converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando: 
▪ estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP e 
▪ se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversasda prisão; ou 
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
Nessa esteira, os incisos I e II do parágrafo único do art. 9º têm por objetivo principal punir o 
magistrado que, dentro de prazo razoável, deixa de dar cumprimento adequado ao art. 310 do CPP. 
Deve ser conferida total atenção ao sujeito ativo do delito em estudo, posto que o sujeito ativo do 
crime previsto no caput do art. 9º é a autoridade que tenha competência para determinar medida de privação 
de liberdade; já no parágrafo único, o legislador foi claro ao direcionar aqueles crimes para a autoridade 
judiciária. 
O sujeito passivo direto é a pessoa que teve a medida de privação de liberdade em seu desfavor e o 
sujeito passivo mediado ou indireto é o Estado. 
Nos casos do parágrafo único, a consumação se dará quando a autoridade judiciária praticar uma 
das condutas descritas na lei. 
Por fim, cumpre destacarmos que as hipóteses do parágrafo único do art. 9º trazem crimes 
omissivos, crime próprio e crime omissivo próprio, de maneira que não é admitida tentativa. 
Elementar “prazo razoável” 
O prof. Márcio Cavalcante explica que a grande dúvida e polêmica envolvendo este tipo penal diz 
respeito ao conceito de “prazo razoável”. Trata-se de conceito aberto que deverá ser analisado com base nas 
peculiaridades do caso concreto. 
 
Candidato, a não realização da audiência de custódia tipifica crime de abuso de autoridade? 
Inicialmente, é preciso analisarmos a questão a luz já da alteração trazida pelo Pacote Anticrime. 
Art. 310, § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da 
audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, 
civil e penalmente pela omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
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A responsabilidade penal referida no §3 do Art. 310 do CPP suscita dúvidas. Nessa linha, questiona-
se por qual crime a autoridade que deixa de realizar a audiência de custódia responderia? 
O crime em si não seria a não realização da audiência de custódia, mas sim o fato da não realização 
da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão. 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem 
prévia intimação de comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Vamos esquematizar? 
 
Decretar condução coercitiva de... 
testemunha ou investigado 
1) de forma manifestamente descabida; ou 
2) sem que a testemunha ou investigado tenham 
sido previamente intimados para comparecerem 
espontaneamente ao juízo. 
 
Para que se configure o delito do art. 10, é necessário que a condução coercitiva da testemunha ou 
investigado seja manifestamente descabida ou ainda sem prévia intimação de comparecimento ao juízo. 
Nesse contexto, importante se apresenta a compreensão da condução coercitiva, para melhor 
compreensão do tipo penal em estudo. 
Conforme Márcio Cavalcante, a condução coercitiva consiste em capturar a testemunha, o perito, 
o ofendido, o investigado ou o réu e levá-lo, ainda que contra a sua vontade, à presença de uma determinada 
autoridade para que seja ouvido, identificado ou pratique outros atos de interesse da investigação ou da 
ação penal. 
Embora não listada no rol das medidas cautelares diversas da prisão dos arts. 319 e 320 do CPP, 
também funciona como medida cautelar de coação pessoal (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de 
Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 694), sendo está a sua natureza jurídica. 
A legislação prevê a possibilidade, em tese, da condução coercitiva de: 
a) testemunha: 
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá 
requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que 
poderá solicitar o auxílio da força pública. 
b) perito: 
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Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua 
condução. 
c) ofendido (vítima): 
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, 
quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. 
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à 
presença da autoridade. 
 
d) investigado (fase pré-processual) ou réu (fase processual): 
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato 
que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. 
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art. 352, no 
que lhe for aplicável. 
 
Candidato, é correto afirmarmos que a condução coercitiva é sempre determinada pelo 
magistrado Não. A legislação prevê a possibilidade de que outras autoridades também determinem a 
condução coercitiva. Veja alguns exemplos: autoridade policial; membros do Ministério Público; Comissões 
Parlamentares de Inquérito (CPI). 
O sujeito ativo desse crime é a autoridade ou agente que tem a atribuição de decretar a medida de 
condução coercitiva. Corroborando desse entendimento, o prof. Márcio Cavalcante: 
Sujeito ativoSe o intérprete fizer uma leitura apressada do art. 10 poderá defender a ideia de que apenas o 
magistrado é sujeito ativo deste delito. Isso porque a parte final do tipo penal fala em “comparecimento ao 
juízo”. Essa, contudo, não é a melhor intepretação. Conforme explicado acima, existem duas hipóteses em que 
a decretação da condução coercitiva poderá ensejar a responsabilização criminal pelo art. 10: 
1) quando a condução coercitiva for manifestamente descabida ou 
2) quando a condução coercitiva for decretada sem prévia intimação de comparecimento ao juízo. 
A segunda hipótese é, de fato, restrita às autoridades judiciais, ou seja, apenas o magistrado poderá praticar 
considerando que somente ele pode determinar o comparecimento da testemunha ou investigado ao juízo. 
Contudo, a primeira hipótese pode ser praticada por outras autoridades, como é o caso do Delegado de Polícia, 
do membro do Ministério Público e do presidente de CPI. 
Assim, se o Delegado de Polícia decretar condução coercitiva manifestamente descabida, poderá ser 
responsabilizado pelo crime do art. 10 da Lei. 
 
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Como sujeito passivo há a testemunha ou investigado e, de forma indireta, o Estado. 
O crime se consuma quando a medida é decretada, ou seja, a sua efetiva realização, ou seja, a 
condução propriamente dita, é mero exaurimento do crime. 
O crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolaçãoda decisão determinando a condução coercitiva, 
ainda que ela não se consuma. Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado 
naturalístico. 
Desse modo, imagine que o juiz decreta a condução coercitiva do investigado mesmo sendo manifestamente 
descabida. Antes que a providência seja cumprida, o investigado consegue do Tribunal uma ordem em habeas 
corpus cassando a decisão de 1ª instância. Em tese, o crime estará consumado mesmo não tendo havido a 
efetiva condução coercitiva. 
 
Da mesma forma que o crime anterior, este é punido somente a título de dolo. 
Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de prejudicar outrem ou 
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal). 
Não se pune a conduta culposa. Ex: juiz expediu o mandado de intimação prévia; testemunha não 
compareceu; magistrado determinou a condução coercitiva e depois se atestou que a testemunha não havia 
recebido a intimação anterior; mesmo que fique demonstrado que o juiz foi negligente por não ter conferido 
o efetivo cumprimento do mandado, não haverá crime. 
 
Testemunha ou investigado 
Se o juiz determinou a condução coercitiva do perito ou do ofendido, não haverá o crime do art. 10 
mesmo que essa condução tenha sido manifestamente descabida ou sem prévia intimação dos destinatários. 
Isso porque o tipo penal fala apenas em testemunha ou investigado. 
 
Competência 
A competência para julgamento deste crime dependerá das funções desempenhadas pela autoridade 
que determinou a condução coercitiva. 
Ex: se a condução coercitiva for decretada pelo magistrado que estiver atuando em função judicante 
de natureza federal, a competência será da Justiça Federal. É o caso, por exemplo, de um Juiz Federal, de um 
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Juiz do Trabalho, de um Juiz Militar ou mesmo de um Juiz de Direito atuando em processo de competência 
delega (ex: causas previdenciárias – art. 109, § 3º, da CF/88). 
Em caso contrário, a competência será da Justiça Estadual. 
 
Inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório 
Importante ainda recordarmos a decisão recente do STF que declarou a inconstitucionalidade da 
condução coercitiva para interrogatório 11. 
STF: “(...) Arguição julgada procedente, para declarar a incompatibilidade com a 
Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, 
tendo em vista que o imputado não é legalmente obrigado a participar do ato, e pronunciar a 
não recepção da expressão “para o interrogatório”, constante do art. 260 do CPP.” (STF, 
Pleno, ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/06/2018, DJe 107 21/05/2019). 
 
Enunciados: 
#GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO CRIMINAL – 
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ENUNCIADO #6 (art. 10) Os investigados e réus não podem ser conduzidos 
coercitivamente à presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados. Outras 
hipóteses de condução coercitiva, mesmo de investigados ou réus para atos diversos do 
interrogatório, são possíveis, observando-se as formalidades legais. • Enunciado de acordo 
com as ADPFs 395 e 444 
 
Cumpre destacarmos que só se admitirá a condução coercitiva quando houve intimação prévia para 
comparecimento e o indivíduo, a despeito disso, não compareceu. Vejamos o Enunciado n. 7, nesse sentido: 
 
11 O STF, recentemente, decidiu que não é válida a condução coercitiva do investigado ou do réu para interrogatório no âmbito 
da investigação ou da ação penal. O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: 
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não 
possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. 
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada pela Constituição Federal. 
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: 
• a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade 
• a ilicitude das provas obtidas 
• a responsabilidade civil do Estado. 
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906). 
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ENUNCIADO #7 (art. 10) A condução coercitiva pressupõe motivação e descumprimento 
de prévia notificação. 
 
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária 
que a decretou; 
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família 
ou à pessoa por ela indicada; 
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela 
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; 
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de 
medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará 
de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial 
ou legal. 
 
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LXII, afirma que a prisão de qualquer pessoa e o local onde 
esta se encontra deverá ser comunicada imediatamente ao juiz e a família do preso, ou ainda, à pessoa por 
ele indicada, trata-se, portanto, de garantia constitucional. 
Em consonância ao disposto na CF, o art. 306 do CPP, de forma semelhante prevê que “a prisão de 
qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao 
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”. 
O § 1º do CPP, por sua vez, proclama que em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da 
prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe 
o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. Por fim, o §2º declina que “no mesmo 
prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da 
prisão, o nome do condutor e os das testemunhas”. 
Denota-se, pois, que o art. 12 da Nova Lei de Abuso de Autoridade encontra-se em conformidade 
com as regras constitucionais e legais. 
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O caput do art. 12 entende como abuso de autoridade a conduta de deixar injustificadamente de 
comunicar a prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal. 
Segundo o Prof. Péricles Mendonça, o sujeito ativo para a conduta do caput é a autoridade 
responsável pela comunicação do flagrante à autoridade judiciária. 
O prof. Renato Brasileiro, por sua vez, explica que o sujeito ativo seria o agente público que teria 
essa obrigação de comunicar a prisão em flagrante a autoridade judiciária, isto é, o delegado de polícia. 
No inciso I, o sujeito

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