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Português Editora Exato 72 CAPÍTULO VI 1. TEXTO A arte de ser feliz Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de lou- ça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. O- ra, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era crian- ça, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completa- mente feliz. Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz. Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E conta- va histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expres- são no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis que eu, que participava do auditório, imagi- nava os assuntos e as peripécias e me sentia completamente feliz. Houve um tempo em que a minha janela se abria so- bre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regar: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos ma- gros, e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Ma- rimbondos: que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tu- do está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. Cecília Meireles, Escolha o seu sonho, Record, 1996. Arabescos: ornatos gráficos com linhas, ramagens, flo- res, frutos etc., de origem árabe. Aspersão: borrifo, respingo (de gotas de água) Descobrindo as idéias do texto 1 “A arte de ser feliz”, apesar de ser um texto em prosa, é carregado de linguagem poética. Comprove essa afirma- ção. 2 Em que pessoa estão os verbos e os pronomes do texto? Portanto, qual o foco narrativo usado? 3 A autora conta-nos diversas situações que presencia ou presenciou de sua janela. Cite algumas dessas situações passadas e algumas que ainda ocorrem no momento em que a autora escreve. a) no passado: b) no presente: 4 Localize no texto expressões que indiquem o tempo em que ocorrem as situações apontadas: a) a visão do chalé. b) a visão do canal. c) a visão da cidade que parecia feita de giz. 5 Onde estava a autora quando, de sua janela, avistava-se um terreiro? Justifique sua resposta. 2. ANÁLISE E REFLEXÃO LINGÜÍSTICA Frase, oração e período Em seu dia-a-dia, já deve ter percebido que as pessoas se comunicam através de frases. Frase é um grupo de pala- vras, ou apenas uma palavra, que em uma situação de comu- nicação é suficiente para transmitir uma informação completa, ou seja, constituir uma mensagem. Na língua falada, a frase é marcada pela entonação, que é o tom que o falante dá a voz para expressar suas emo- ções, seus sentimentos e sua intenção. Na língua escrita, a en- tonação é representada pela pontuação. Baseando-se nas informações acima e nos conheci- mentos já adquiridos, responda às questões abaixo: 1 Leia os quadrinhos: Português Editora Exato 73 Qual é primeira frase da Magali em resposta a sua mãe? 2 Quantas palavras formam essa frase? 3 Observe os sinais de pontuação e responda: quais são os tipos de frases que aparecem no terceiro quadrinho? 4 Observando os balões do terceiro quadrinho, notamos que há frases que não apresentam verbos. Elas são cha- madas de frases nominais. Copie as frases que não pos- suem verbo. Qual é a frase que tem verbo? Frase Frase é a palavra ou conjunto de palavras que, em uma situação de comunicação, transmite uma informação completa, uma mensagem. Frase nominal Frase nominal é a frase que não possui verbo. Oração Oração é a frase organizada em torno de um verbo ou locução verbal. 5 Classifique os textos abaixo como frases nominais ou o- rações: a) “A escola de todos nós”. (Nova Escola, São Paulo. Abril/jul. 2000). b) “O governo quer a crise”. (Época, 21/1/2002). c) “Cuidado com a visão”. (O estado de São Paulo, 9/12/2002). Observe I. O homem trabalha. II O homem estuda. Tanto em I quanto em II, a oração possui um só verbo. Veja como podemos agrupar essas orações: O homem trabalha e estuda. As duas orações foram reunidas num só período. Período Período é a frase formada por uma ou mais orações. O período pode ser: � Simples: quando é formado por uma oração. � Composto: quando é formado por duas ou mais orações. 6 Classifique os períodos abaixo em simples ou compostos, informando o número de orações dos períodos compos- tos. Lembre-se de que: � Os verbos e as locuções verbais determinam o número de orações; � A locução verbal equivale a um verbo. a)Vamos ver o que ela diz. b) Por favor, a senhora Marta está? c) Sua popularidade aumentou bastante. d) Ei, vem logo! 3. ORTOGRAFIA: VAMOS ESCREVER CERTO 1 Leia este trecho e observe a palavra destacada: “Basta um dia de chuva sobre a mata seca para que a região fique coberta de flores e toada por um verde sur- preendente.” Você observou que esse adjetivo é escrito com ee? a) Qual é o significado desse adjetivo? b) De qual verbo esse adjetivo é derivado? c) Empregue o verbo surpreender em outra frase elabora- da por você. 2 Leia os trechos a seguir observando a parte destacada em algumas palavras. “A ameaça a esse patrimônio, infelizmente não faz parte do passado”. “Depredar sítios arqueológicos deveria ser considerada uma ação ilegal e imoral”. a) Tente deduzir o significado do prefixo in-. b) O prefixo i tem o mesmo significado que o prefixo in-? c) Quando o prefixo i deve ser usado? d) Com esses prefixos, forme palavras derivadas de: ad- missível – adequado – real – refletido – lógico – mere- cido. 4. PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO Durante o Carnaval, as emissoras de TV costumam dedicar algumas horas de sua programação à transmissão de desfiles de escolas de samba, de bailes em clubes, de festas populares, de shows de trios elétricos. O que você pensa so- bre essa cobertura da TV aos eventos do Carnaval: os pro- gramas são interessantes, transmitem a verdadeira alegria dos foliões? Ou acabam dando uma idéia falsa do carnaval brasi- leiro? Escreva um parágrafo comentando sobre essa progra- mação da TV, com a intenção de convencer o leitor ou de que ela é boa e merece ser vista ou, conforme sua opinião, de que ela não deve ser vista. Qualquer que seja seu ponto de vista, apresente argumentos para comprová-lo.
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