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ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. CORPO EDITORIAL: IX CONASSS\XII SIMPSSS "30 anos do SUS: Território de Lutas e o Serviço Social na Saúde". O Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde – CONASSS e Simpósio de Serviço – SIMPSSS - são eventos desenvolvidos simultaneamente (CONASSS\SIMPSSS) por assistentes sociais da USP, UNESP e UNICAMP, desde 1997. Na sua 9ª edição, ocorrida no período de 22 a 24 de setembro de 2020, o IX CONASSS e XII SIMPSSS celebram os 30 anos do Sistema Único de Saúde – SUS, com o tema “30 anos dos SUS: Território de Lutas e o Serviço Social na Saúde” e será realizado por meio de plataforma virtual (https://www.conasss.com.br/). Cabe dizer que o IX CONASSS\XII SIMPSSS ocorreria em maio desse ano, no formato presencial, todavia, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, Covid- 19, as comissões científica e organizadora aceitaram o desafio de realizar este importante evento no formato totalmente virtual, nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2020. O conjunto de temas discutido neste espaço, ao longo de mais de 20 anos, tem garantido a sua legitimidade como um evento nacional, com a especificidade do debate na área do Serviço Social e Saúde. A programação do CONASSS\SIMPSSS promove o debate interdisciplinar, envolvendo as várias profissões que se dedicam ao estudo, pesquisa e trabalho na área da saúde e afins, com a proposta de articulação de conhecimentos. Nesse sentido, o programa passa a ser reconhecido como um núcleo unificador das atividades relacionadas à formação e trabalho profissional na saúde, abordada a partir da Seguridade Social. Ou seja, há o entendimento que os problemas que comparecem nos inúmeros serviços de saúde não são (e não serão) resolvidos apenas por esses serviços, mas são necessárias outras medidas de proteção social e de infraestrutura básica, além do trabalho multiprofissional, quiçá, interdisciplinar e em equipes. A saúde, como componente da seguridade social, integra um sistema de proteção social a partir de um bloco que reclama incisiva atuação do Estado tanto no estabelecimento institucional da rede de serviços e programas quanto no https://www.conasss.com.br/ ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. estabelecimento de medidas de proteção e prevenção. Tais medidas devem ser capazes de estimular uma nova cultura em torno da Saúde Coletiva e da Saúde Pública, bem como da atuação profissional, articulada em rede, de forma intersetorial e em equipes. Há de frisar a importância desse evento como nítida estratégia da formação continuada e acompanhamento sistemático do debate acerca do trabalho profissional na área da saúde e da política de saúde pública brasileira. É um evento que envolve assistentes sociais, militantes em defesa do SUS, trabalhadores e trabalhadoras da saúde, gestore\a(s) e profissões de áreas afins, discentes e pós-graduando\a(s), que se propõem ao debate efetivo e aprofundado dos temas que estão relacionados ao SUS, enquanto política social pública, o trabalho em rede e intersetorial e também com a práxis profissional das equipes de saúde, áreas afins, especialmente, do Serviço Social. Como se trata de um evento que recebe trabalhos científicos é medularmente importante para criar as condições necessárias para a exposição, registro e memória do “estado da arte” no âmbito do Serviço Social na Saúde. O traço básico dessa propositura de incentivar assistentes sociais que atuam na área da saúde e áreas afins a escrever e apresentar trabalhos científicos a respeito do seu trabalho, seja no formato de pesquisa cientifica, seja como relato de experiência, retêm as características gerais que inferem na produção do conhecimento a respeito do trabalho profissional do Serviço Social na saúde e na seguridade social em geral, pois não se trata apenas de escrever e encaminhar o seu texto (completo ou resumo), mas de apresentá-lo e de debater as ideias e os resultados dos estudos e do trabalho com os demais participantes. Além disso, os textos aprovados vem sendo pulicado na forma de CDROM e, mais recentemente, em sítio da internet (edição de 2014 https://conasss.com.br/upload/files/ANAIS_CONASSS_2017.pdf e edição de 2014 Volume I https://www.franca.unesp.br/Home/Publicacoes/conass-v.i.pdf e Volume II https://www.franca.unesp.br/Home/Publicacoes/conass-v.ii.pdf) e a edição de 2017 (https://www.unicamp.br/anuario/2017/FCM/DDHR/DDHR-0010.html), o que permite o acesso virtual, de forma ampla e irrestrita. ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Os trabalhos encaminhados ao CONASSS\SIMPSSS, aprovados, apresentados e publicados congregam importantes contribuições da práxis profissional na saúde e, simultaneamente, permitem o registro e a memória desses estudos, que representam indicativos do saber-fazer profissional nessa área, bem como a posição teórico-metodológica e cultural da profissão em torno do sistema de seguridade social, garantia de direitos, cidadania, papel do Estado na ordem capitalista, política pública de saúde, problemas epidemiológicos, tecnologias da saúde, controle social e gestão da saúde, vigilância em saúde, entre outros, situando- os a partir dos vários momentos históricos. O IX CONASSS\SIMPSSS recebeu trabalhos científicos de pesquisadores e pesquisadoras nas modalidades: relatos do trabalho profissional ou experiência profissional e resultados de pesquisa, tanto na forma de Resumo, Trabalho Completo, como também Mesas Coordenadas. A apresentação de trabalhos ocorrerá na forma Oral, Mesas e Pôsteres, todas as apresentações ocorrerão em plataformas e salas virtuais, com a presença de coordenadora\e(s) e debatedore\a(s) de trabalhos. O programa do IX CONASSS\XVII SIMPSSS inclui a realização de dez (10) minicursos voltados à discussão das seguintes temáticas: 1) questões éticas quanto ao registro dos atendimentos profissionais em prontuários de usuários e usuárias disponibilizados na internet; 2) o trabalho na área da saúde mental; 3) a violência de gênero, com foco para a saúde; 4) cuidados paliativos em saúde; 5) metodologias de intervenção em saúde do trabalhador e da trabalhadora; 6) o trabalho com grupos; 7) as novas tecnologias e mídias sociais e o trabalho profissional do Serviço Social; 8) as metodologias de pesquisa; 9) diversidade sexual no Contexto da Saúde: Acúmulos do Conjunto Cfess/Cress sobre o tema e 10) Educação permanente em saúde. Todos esses temas foram indicados a partir de pesquisa feita pelo CONASSS, em uma enquete on line, a partir da qual se buscou conhecer as principais demandas de assistentes sociais na área da saúde quanto à formação continuada. A efetiva contribuição desses minicursos advém também do fato de possibilitar a participação de renomados profissionais e professores e professoras advindos das diversas instituições de ensino e pesquisa, tais como: UERJ, USP, UFRJ, UFRN, ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. PUC\SP, UNESP e UNICAMP. Assim, esses DEZ (10) minicursos circunscrevem as necessidades atuais postas para o Serviço Social e demais profissionais da área da saúde no dia a dia dos serviços de saúde e nas políticas sociais em geral. Tal proposta torna explícita a envergadura do CONASSS e SIMPSSS na determinação do debate atualizado e de formação continuada de assistentes sociaisque atuam na saúde e áreas afins. A partir do contexto da pandemia do novo coronavírus, Covid-19, a comissão científica abriu nova chamada de trabalho científico para contemplar o debate desse tão sério problema de saúde que impacta os serviços de saúde, a economia e toda a sociabilidade. Além disso, também foi criada uma Mesa Pré Congresso intitulada: A pandemia do novo coronavírus, Covid-19, no Brasil: desafios para o Sistema Único de Saúde (SUS) e Serviço Social. Essa Mesa conta com renomado\a(s) pesquisadore\a(s) brasileiro\a(s) e internacional, pois está constituída pelo Prof. Dr. Jairnilson Paim (UFBA); Elaine Pelaez (Conselho Federal de Serviço Social – CFESS) e pela Profa. Dra. Rosa M Voghon Hernández, trabajadora social de la salud em Cuba e pesquisadora, vivendo no momento na Inglaterra, com pesquisa acerca das desigualdades sociais e a política de saúde. O Programa do IX CONASSS\SIMPSSS conta também com duas Conferências, que discutirão a desigualdade, a Saúde Pública e o Neoliberalismo no Brasil. Também serão realizadas duas Mesas Redondas, intituladas, respectivamente: “30 anos do SUS: as Desigualdades Sociais e o trabalho profissional do Serviço Social na Saúde” e “Ajuste Fiscal e as Contrarreformas que impactam a Seguridade social no Brasil” Além disso, o Programa conta com duas grandes Mesas, a de Abertura e de Encerramento, abordando: “30 anos do SUS e o subfinanciamento da Saúde: investimento em saúde e desenvolvimento” e, para encerrar, a Mesa: “Vazio social da sociedade contemporânea e as implicações para o estado de saúde e bem-estar social”. Acompanha esse denso Programa, cinco mesas coordenadas, assim, distribuídas: 1) O trabalho profissional do Serviço Social e demais profissionais e equipes de saúde no momento do novo coronavírus, COVID-19. Coordenação: Profa. ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Dra. Raquel Soares (UFPE); 2) Diferentes olhares da promoção da saúde na atenção de populações. Profa. Dra. Regina Célia De Souza Beretta (UNIFRAN); 3) A política Nacional de transplantes: o debate de assistentes sociais para viabilizar direitos. Profa. Dra. Marli Elisa Nascimento Fernandes (UNICAMP); 4) Serviço Social, relações de exploração/opressão de gênero, raça/etnia, sexualidades, ênfase para a saúde. Coordenação: Profa. Dra. Rachel Gouveia Passos (UFRJ) e 5) Precarização do trabalho, condições de trabalho e saúde de assistentes sociais: reflexões introdutórias. Coordenação: Profa. Dra. Edvânia Ângela de Souza (FCH- UNESP). Conta ainda com lançamentos de livros, debates, apresentação de trabalhos e premiação dos melhores trabalhos. É importante registrar que o IX CONASSS\VII SIMPSSS tem apoio e parceira com as entidades de Serviço Social: Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS); Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Conselho Regional de Serviço Social da região de São Paulo e da região de Ribeirão Preto e da Entidade de Estudantes de Serviço Social, ENESSO. Esse conjunto de entidades participam do programa científico do IX CONASSS e XVII SIMPSS colaborando para fortalecer o nosso evento e, especialmente, na defesa do projeto ético político do Serviço Social e do conjunto de políticas de proteção social Profa. Dra. Edvânia Angela de Souza Coordenadora da Comissão Científica do IX CONASSS / XII SIMPSSS ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Comissões Maria Cristina Ferri Santoro - HCFMRP USP Presidente Ariana Celis Alcantara - FSP USP Vice-presidente Maria Heloísa Rodrigues da Roza Genghini - CAISM UNICAMP Coordenadora da Comissão Organizadora Edvânia Angela de Souza - FCHS UNESP Coordenadora da Comissão Científica Sandra Souza Funayama - HCFMRP USP Coordenadora da Comissão Financeira Comissão Organizadora Bernadete Lima de Almeida - INCOR USP Cristhiane Ferreira - CAISM UNICAMP Cristina Ramos Meira - HCFMRP USP Elizete Wenzel Moreira - FOSJC UNESP Jaine Proença Meneghette - HCFMRP USP Laís Calori - HC UNESP Leni Peres Cirillo - HCFMRP USP Lucelene de Barros Ramos - HC UNESP Maria Rita Fraga - HC UNICAMP Maria Teresa Di Sessa Pandolfo Queiroga Ribeiro - ICHC USP Marília Equi Martins - PUSP RP USP Marli Ferreira da Rocha - HC UNICAMP Nádia Marques Alves de Oliveira - HCFMRP USP Tania Liotti Sandrin - HCFMRP USP Comissão Científica Andreia Santos Cordeiro - HAS USP Cláudia Granado Bastos - HCFMRP USP Dalva Rossi - CAISM - UNICAMP Daniella Tech Doreto - HRAC USP Fernanda Silva Moura - HU USP Flavia Brito da Silva Sinézio - CeAC HC USP Juliana Azenha Martins - HCFMRP USP Lais Vila Verde Teixeira - HCFMRP USP Maria Odete Simão - FM - UNESP Marielle Cristina Ribeiro de Carvalho - CAISM UNICAMP Comissão Financeira Fabiana Sisdelli Brunini - HCFMRP USP Emanuela Pap da Silva - PUSP SC USP Maria Odete Simão - FM UNESP Ruth Léia de Oliveira - HC UNICAMP ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Autorizamos a reprodução e divulgação total ou parcial deste material, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. OS RESUMOS FORAM PUBLICADOS EXATAMENTE COMO SUBMETIDOS PELOS AUTORES, OU SEJA, O ESTILO, A GRAMÁTICA E O CONTEÚDO. NÃO FORAM EDITADOS PELOS ORGANIZADORES ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. SUMÁRIO PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO, CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE ASSISTENTES SOCIAIS: REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS ....................................................................................................... 11 Coordenadora: Edvânia Ângela de Souza ......................................................................................... 11 A RADICALIZAÇÃO DO NEOLIBERALISMO, A DESTRUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E OS DESAFIOS AO SERVIÇO SOCIAL ...................................................................................................................... 12 Patrícia Soraya Mustafa ............................................................................................................ 12 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: REFLEXÕES A RESPEITO DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA DE ASSISTENTES SOCIAIS .................................................................................................................... 26 Edvânia Ângela de Souza ........................................................................................................... 26 ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE DA REGIÃO SUL/BRASIL: aproximações sobre condições de trabalho e saúde ..................................................................................................... 42 CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS/AS ASSISTENTES SOCIAIS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL: Particularidades do estado do Pará - Região Norte ...................................................................... 57 Vera Lúcia Batista Gomes .......................................................................................................... 57 AUTORITARISMO ULTRALIBERAL E A EPIDEMIA DO SOFRIMENTO .............................................. 74 Odair Dias Filho ......................................................................................................................... 74 A POLÍTICA NACIONAL DETRANSPLANTES: O DEBATE DOS ASSISTENTES SOCIAIS PARA VIABILIZAR DIREITOS .................................................................................................................................... 92 Coordenação: Marlí Elisa Nascimento Fernandes..................................................................... 92 SERVIÇO SOCIAL E TRANSPLANTE CARDÍACO: OS DESAFIOS DA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL . 93 Débora Silva de Freitas .............................................................................................................. 93 REGIONALIZAÇÃO DO ACESSO AO TRANSPLANTE RENAL COM DOADOR .................................. 108 Priscila Ribeiro Campos ........................................................................................................... 108 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FAMÍLIAS DE DOADORES DE ÓRGÃOS PARA TRANSPLANTES ATENDIDAS PELO SERVIÇO SOCIAL ............................................................................................. 124 Marli Elisa Nascimento Fernandes .......................................................................................... 124 SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO RACIAL: RACISMO E SUAS EXPRESSÕES NA POLÍTICA DE SAÚDE ..... 139 Coordenadora: Rachel Gouveia Passos ........................................................................................... 139 QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL E ASSIMETRIAS NO ACESSO A SAÚDE ............................................... 140 Márcia Campos Eurico ............................................................................................................. 140 A IMPORTÂNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA PARA A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ................................................................................................... 154 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Jussara Francisca de Assis ....................................................................................................... 154 SAÚDE, RACISMO E SERVIÇO SOCIAL: por um parâmetro de atuação antirracista .................... 168 Eliane Santos de Assis ............................................................................................................. 168 SERVIÇO SOCIAL E O QUESITO RAÇA COR, UM DIÁLOGO NECESSÁRIO ..................................... 183 Malu Ribeiro Vale .................................................................................................................... 183 “NÃO SOU EU UMA MULHER?”: problematizações acerca do sofrimento produzido pelo racismo e pela violência estrutural na vida de mulheres negras ............................................................. 196 Rachel Gouveia Passos ............................................................................................................ 196 DIFERENTES OLHARES DA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ATENÇÃO DE POPULAÇÕES VULNERÁVEIS.209 Coordenadora: Regina Celia de Souza Beretta ............................................................................... 209 AÇÕES AFIRMATIVAS, O ACESSO À UNIVERSIDADE E A PROMOÇÃO DA SAÚDE INDÍGENA ...... 210 Ana Elisa Rodrigues Alves Ribeiro ........................................................................................... 210 A CULTURA DA PAZ COMO FERRAMENTA PARA A PREVENÇÃO DO ATO INFRACIONAL E DA VIOLÊNCIA ................................................................................................................................... 221 Luciano Aparecido Pereira Junior ............................................................................................ 221 AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS TRABALHADORES DO SUAS E O IMPACTO NA SAÚDE ....... 233 Tassina Algarte ........................................................................................................................ 233 AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DE EMPODERAMENTO NA TERCEIRA IDADE ........................................................................................................................................... 247 Yadira Arnet Fernández ........................................................................................................... 247 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À COVID19: desafios, práticas e estratégias .. 260 Coordenadora: Raquel Cavalcante Soares ...................................................................................... 260 A PANDEMIA DA COVID19 E A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA LINHA DE FRENTE: tendências, desafios e estratégias .................................................................................................................. 261 Raquel Cavalcante Soares ....................................................................................................... 261 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE, PANDEMIA DA COVID 19 E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL ..................................................................................................................... 277 Delaine Cavalcanti Santana de Melo; ...................................................................................... 277 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM LINHAS DE FRENTE DE COVIID 19: reflexões sobre as experiências desenvolvidas em três hospitais de grande porte em PE ...................................... 292 11 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO, CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE ASSISTENTES SOCIAIS: REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS Eixo Temático: Serviço Social, fundamentos, formação e trabalho profissional na saúde; Coordenadora: Edvânia Ângela de Souza Participantes: Texto 1- A RADICALIZAÇÃO DO NEOLIBERALISMO, A DESTRUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E OS DESAFIOS AO SERVIÇO SOCIAL. Patrícia Soraya Mustafa; Raquel Santos Sant Ana Texto 2 - PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: reflexões sobre o processo saúde-doença de assistentes sociais. Edvânia Ângela de Souza; Lara de Souza Tonin, Maria Liduina de Oliveira e Silva; Onilda Alves do Carmo; Vinícius Boim. Texto 3 – ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE DA REGIÃO SUL/BRASIL: aproximações sobre condições de trabalho e saúde. Dolores Sanches Wünsch; Jussara Maria Rosa Mendes; Tatiana Reidel; Anderson da Silva Fagundes. Texto 4 - CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS/AS ASSISTENTES SOCIAIS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL: Particularidades do estado do Pará - Região Norte. Vera Lúcia Batista Gomes; Marinara Melo da Silva. Texto 5 - AUTORITARISMO ULTRALIBERAL E A EPIDEMIA DO SOFRIMENTO. Odair Dias Filho; Edvânia Ângela de Souza. Ementa: A presente proposta de mesa reporta dados de uma pesquisa, que versa a respeito das condições de saúde e de trabalho de assistentes sociais que atuam em serviços de saúde no Brasil, com destaque para as regiões Sul, Norte e Sudeste. O estudo está subsidiado na pesquisa bibliográfica e empírica, com analise quanti-qualitativa. O recorte de análise da discussão é para o trabalho profissional do serviço social e suas respectivas condições de trabalho e saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). 12 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. A RADICALIZAÇÃO DO NEOLIBERALISMO, A DESTRUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E OS DESAFIOS AO SERVIÇO SOCIAL Patrícia Soraya Mustafa 1; Raquel Santos Sant Ana2 RESUMO: Este artigo busca contribuir com o desvelamento da atual conjuntura, determinada por forças ultraneoliberais e conservadoras,as quais são subservientes às tradições e aos interesses do capitalismo financeirizado, que espolia o fundo público para satisfazer sua fome voraz por mais capital, e assim expropria a classe trabalhadora de seus direitos mais elementares, arduamente conquistados no processo de redemocratização do país. Diante deste cenário, de destruição do Estado brasileiro, este ensaio teórico, dialoga com as(os) assistentes sociais, no sentido de contribuir com o debate necessário de pensar em estratégias profissionais que assegurem os princípios ético-políticos do serviço social. Aponta-se o caminho do estudo, da pesquisa, do trabalho educativo e a luta política como algumas das possíveis saídas. Palavras Chave: Neoliberalismo radicalizado; Destruição do Estado brasileiro; Serviço Social; Projeto ético-político; Estratégias profissionais. ABSTRACT: This article seeks to contribute to the unveiling of the current situation, determined by ultraneoliberal and conservative forces, which are subservient to the traditions and interests of financialized capitalism, which despoils the public fund to satisfy its voracious hunger for more capital, and thus expropriates the class worker of her most elementary rights, hard-won in the process of redemocratization of the country. Faced with this scenario, of destruction of the Brazilian State, this theoretical essay dialogues with social workers, in order to contribute to the debate necessary to think about professional strategies that ensure the ethical and political principles of social service. The path of study, research, educational work and political struggle is pointed out as some of the possible solutions. Keywords: Radicalized neoliberalism; Destruction of the Brazilian State; Social Work; Ethical-political project; Professional strategies. 1 Assistente Social. Profa. Dra. do Departamento de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS), UNESP-Franca. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Sociais. E- mail: patimustafa@gmail.com. 2 Assistente Social, Livre-docente pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS), UNESP-Franca, SP e Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da UNESP-Franca. Pesquisadora do grupo de estudos e pesquisas “Teoria Social de Marx e Serviço Social” e coordenadora do Núcleo Agrário Terra e Raiz (NATRA). Presidente da direção nacional da Abepss 2015-2016. E-mail: raquel.santana@unesp.br. 13 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. 1. INTRODUÇÃO Este artigo traz elementos conjunturais da realidade brasileira de maneira a evidenciar a intrínseca relação do Estado brasileiro com as demandas postas pelo capitalismo financeiro e sua proposta neoliberal, agora mais radicalizada pelos direcionamentos dados pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro às políticas econômicas e sociais, valendo-se para isto de mecanismos truculentos de coerção e de espetáculos midiáticos para sua legitimação política. A investida contra os direitos sociais atinge todos os segmentos da classe trabalhadora, mas vai se resvalar de maneira cruel e avassaladora sobre os segmentos mais pauperizados. A sociedade atual ao invés de diminuir os fossos sociais ou saldar dívidas históricas para com os negros e mulheres, pelo contrário, reforça a criminalização da juventude negra, desmonta pequenos e parcos recursos voltados para o atendimento daqueles que mais necessitam. Enquanto isto a terra urbana e rural segue concentrada, o trabalho cada vez mais intensificado e desprotegido e a repressão para aqueles que se organizam e denunciam tais atrocidades é intensificada. O serviço social brasileiro há décadas reafirma que o para o entendimento da profissão é fundamental situá-la no chão sócio histórico onde está inserida. Neste artigo traçamos brevemente os desafios advindos da inserção neste contexto e, o atual direcionamento ético- político da profissão que estabelece princípios que estão na contramão das condições objetivas predominantes ao conjunto dos/das profissionais. 2. DE QUE CONJUNTURA ESTAMOS FALANDO? A RADICALIZAÇÃO DO NEOLIBERALISMO E A DESTRUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO O impeachment da presidenta Dilma em 2016 não se constituiu num fato isolado na América Latina, vide o caso do presidente esquerdista Fernando Lugo no Paraguai em 2012; de Manuel Zelaya em Honduras em 2009, que mesmo não sendo um político de esquerda, ao contrariar interesses estadunidenses em seu país e da elite local, foi destituído do poder; o caso de Rafael Correa no Equador, que ainda que tenha feito seu sucessor, o mesmo dá um giro à direita, e Correa acusado de corrupção, como outros políticos de esquerda do Continente, sai de seu país exilado. Mais recentemente, em 2019, observamos o caso de Evo 14 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Morales na Bolívia. O que se quer evidenciar com isto é que grande parte da América Latina, ao contrário do início do século XXI, converte-se a regimes políticos de direita com pauta neoliberal aberta e radical. Mas é preciso alertar que não sem contradições, vide as eleições de López Obrador no México em 2018 e de Alberto Fernández na Argentina em 2019, e das grandes manifestações populares contra a agenda neoliberal no Equador, no Chile e na Colômbia. Aterrizando no Brasil, vamos observar esta pauta neoliberal mais radical a partir da chegada de Michel Temer no poder (2016-2018), o qual antes mesmo do impeachment, que lhe conferiu lugar de presidente no palácio do planalto, já tinha uma pauta neoliberal elaborada (por quê será?) por seu Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), atual Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e pela Fundação Ulysses Guimarães, cujas principais propostas3 se traduzem em ajuste fiscal severo e restrição de investimentos do Estado na área de direitos sociais e trabalhistas, ou seja, um neoliberalismo aberto e radicalizado. Ainda que o balanço das medidas neoliberais nas últimas décadas tenha sido desastroso do ponto de vista “[...] de crescimento, de emprego e de bem-estar” (CHESNAIS, 2005, p. 56), basta olhar para o parco crescimento econômico mundial e brasileiro, sobretudo a partir de 2016 no Brasil, bem como para os índices de desemprego4 e de “bem-estar”, como o índice de Gini5 que nos indica de alguma maneira os níveis de igualdade X desigualdade de um país. Todos estes índices, somados a outros como de pobreza, miséria nos levarão a afirmar que o neoliberalismo não obteve sucesso nestes quesitos. Entretanto, sabe-se que o principal intuito deste ideário era aumentar o poder e a riqueza do grande capital, e nesta direção pode-se dizer que houve êxito, na medida em que presenciamos uma exponencial concentração6 da riqueza, sobremaneira em terras 3 Pode-se conferir as principais proposições no artigo: MUSTAFA, Patrícia S. Estado capitalista brasileiro: análise dos direitos sociais em tempos de ortodoxia neoliberal. Katálysis, v. 22, n. 1, p. 100-109, 2019. 4 De acordo com a Agência IBGE (2019), a taxa de desemprego no trimestre de julho a setembro de 2019 foi de 11,8%, e a taxa de subutilização no mesmo trimestre de 24%, o que corresponde a 27,5 milhões de pessoas. Destacamos também a alta incidência de trabalho informal, 11,8 milhões de pessoas no setor privado, número recorde na série histórica. 5 Este aumenta de 0,537 para 0,545, em 2019, computando todas as rendas das famílias (trabalho, aposentadoria, pensões, aluguéis, Bolsa Família e outros benefícios sociais). Esse é o maior Gini desde 2012, ano em que foipublicada a primeira pesquisa. Lembrando que quanto mais próximo ao 1, pior. (BRASIL DE FATO, 2019). 6 Segundo relatório da CEPAL publicado em novembro de 2019, dentre os países da América Latina, o Brasil apresentou “[...] a pior distribuição de renda entre o 1% mais rico – que obtém quase um terço da riqueza gerada em um ano – e os 99 % restantes.” (FARIZA, 2019). 15 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. brasileiras, como as últimas pesquisas tem atestado. Assim se comprova que sob a dominância do capital financeiro as desigualdades sociais se agravam (LENIN, 2012). Ainda assim, novas e mais poderosas doses de neoliberalismo e numa vertente mais radicalizada são ministradas a partir do governo Temer, o qual apesar de ter sido breve, pelo tempo que ocupou o poder ( 2016 a 2018), foi desastroso para aqueles que defendem o pacto social fundado a partir da redemocratização deste país e sua Constituição Federal correlata, a de 1988. Assim, os anos de tentativa de consolidação da democracia nestas terras, como afirma Lowy (2016, p. 62), “[...] foi excepcional, [...] ela é um peso grande para o Estado, para as classes dominantes e para o capital financeiro. A democracia atrapalha, ela não facilita o trabalho da política capitalista”. Esta apenas foi necessária para a legitimação de governos neoliberais nas três últimas décadas, como aponta Paulani em entrevista ao jornal Brasil de Fato (2018), e “[...] parecem não ser mais necessárias. E, por outro lado, as medidas de cunho liberal precisam ser aprofundadas, dadas as crises que o sistema enfrenta mundialmente". Estas crises evocam cada vez mais que o Estado comprometa o fundo público com as demandas do capital, sobretudo o capital financeiro, motor do capitalismo contemporâneo e sanguessuga do fundo público, em prol dos interesses de poucos financistas que dominam o mundo. Seguindo esta receita, aprova-se em 2016, um Novo Regime Fiscal (NRF) no Brasil, através da Emenda Constitucional (EC) nº 95, a qual congela por 20 anos os gastos sociais, o que significa menos investimento em direitos sociais, atingindo fortemente os mais desprotegidos no Brasil: classe trabalhadora, sobremaneira aqueles que possuem os trabalhos mais precários, e aqueles que nem o tem – vide a alta taxa de desemprego que assola o país, conforme já delineamos nestas linhas. E isso sob o argumento do déficit público, e do superávit primário, a fim de realizar o pagamento e amortização dos juros da dívida pública, que no ano de 2018, abarcou 40,66% do orçamento. Em continuidade a este projeto elegeu-se em fins de 2018 o “antipresidente” Jair Bolsonaro, filiado a um partido de extrema direita7, ao qual nem pertence mais, o Partido 7 Konder (apud Coutinho, 2011, p. 50) afirma sobre o pensamento de direita no Brasil: “O pluralismo da ideologia da direita pressupõe uma unidade substancial profunda, inabalável: todas as correntes conservadoras, religiosas ou leigas, otimistas ou pessimistas, metafísicas ou sociológicas, moralistas ou cínicas, cientificistas ou místicas, concordam em um determinado ponto essencial. Isto é: em impedir que as massas populares se organizem, reivindiquem, façam política e criem uma verdadeira democracia. 16 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Social Liberal (PSL), criando um partido próprio – o Aliança pelo Brasil, em 2019, e que leva a cabo, desde então, uma política neoliberal radicalizada combinada a um conservadorismo sem precedentes em tempos de democratização brasileira. Bolsonaro vai atender como alerta Mascaro (2019, p. 29) o capital: “[...] atenção aos ditos mercados e aos interesses financeiros e rentistas; privatizações; rebaixamento das condições das empresas estatais; perda de graus na soberania econômica; desprestígio aos instrumentos de controle social, trabalhista e ambiental. Essa agenda associada ao extremo conservadorismo passa a ser a mola propulsora de nossa política, economia e cultura (não sem resistências). Passamos a analisar alguns dos estragos que vem sendo praticados por este desgoverno, e que afetam o trabalho profissional dos assistentes sociais, como demonstraremos mais especificamente na segunda parte deste artigo, mas impactam de maneira muito destrutiva sob os parcos direitos sociais que este país vinha a duras penas tentando efetivar, e com isso atingem seus demandatários, trabalhadores e trabalhadoras, que dependem da saúde pública para atendimento de suas famílias, das escolas e universidades públicas para que seus filhos(as) possam estudar, de direitos previdenciários para que possam ter algum tipo de segurança em momentos de contingências; de direitos trabalhistas, a fim de haja um breque à superxploração praticada por aqui. E também que necessitam da política de assistência social para que sobrevivam em situações de pobreza e miséria, a qual atinge hoje metade da população deste país, que vive com menos de ½ salário mínimo mensal. Primeiramente, gostaríamos de afirmar que as políticas sociais se constituem num espaço de luta, assim suas conquistas e retrocessos dependem das forças presentes, e atualmente a correlação de forças favorável ao capital financeiro é evidente, e assim o Estado democrático de Direito no Brasil vive tempos de crise. Crise esta manifesta na restrição dos direitos sociais, presenciado nos cortes da política de assistência social – de forma muito evidente num dos programas centrais desta política, o Bolsa Família, o qual não tem incluído novas famílias, o que significa desespero para milhares de famílias que estando em condições de miserabilidade não possuem outros meios de suprirem suas necessidades mais elementares; na política de fiscalização da pobreza levada a cabo por este governo, na medida em que tenta a todo custo buscar o pobre “malandro” que burla as regras dos programas sociais para terem acesso às mesmas – isso 17 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. foi feito em 2019 no Bolsa Família e também para benefícios previdenciários. Importante ressaltar que as grandes empresas devedoras da previdência social não são cobradas e quando o são há refinanciamentos a fundos perdidos. Aí se vê de que lado “a corda arrebenta”, quem realmente “pago o pato” neste país. Se manifesta ainda na própria reforma da previdência social pública, aprovada em 2019, convertida na EC n.103, a qual em síntese aumenta a idade dos trabalhadores/as para a aquisição de aposentadoria, precariza o valor dos benefícios recebidos (aposentadoria, pensão por morte, etc.), aumenta o tempo mínimo de contribuição, o que Tendo em vista o mercado de trabalho brasileiro, altamente rotativo e com empregos precarizados, a maioria dos trabalhadores, atualmente, não consegue contribuir com 15 anos (tempo mínimo estabelecido hoje), oxalá 20 anos; essa alteração excluirá de 70 a 80% da classe trabalhadora da proteção previdenciária, segundo Fagnani (2019). O que isso vai acarretar? Num aumento exorbitante de trabalhadores idosos empobrecidos e que, não tendo acesso aos benefícios previdenciários, vão buscar a sobrevivência na política de assistência social (política de seguridade social voltada para os trabalhadores pobres), e/ou na velha/nova filantropia. (BUENO & MUSTAFA, 2019, p. 11-12). Estas restrições vão agravar as condições de saúde dos trabalhadores/as brasileiros/as,pois como sabemos a saúde é determinada por diversos componentes econômicos, sociais e culturais; e isso demandará maiores investimentos na saúde pública, entretanto, não é isso que se presencia no atual governo, cujo ministro da saúde Mandetta, em maio de 2019, defende o fim da gratuidade universal do SUS8 o que coloca em xeque a política de saúde pública brasileira, tão duramente conquistadas pelas lutas sanitaristas. Isso começa a se efetivar na medida em que se desfinancia o SUS e se agravará com a EC 95, como demonstra os seguintes dados: o gasto per capita com saúde em 2016 foi de R$ 519,00, e com o congelamento dos gastos este valor passará a ser em 2036 de R$ 411,00. (Vieira e Benevides, 2016). Isso favorece a privatização da saúde: [...] no ano de 2017 só no mercado privado de saúde foi movimentado mais de 170 bilhões de reais, segundo DIP (2018). No mesmo ano o montante disponibilizado pelo governo brasileiro foi de 125,3 bilhões de reais para o Ministério da Saúde, 44,7 bilhões de reais a menos do movimentado pelo setor privado. Este dado se torna mais alarmante, quando o cruzamos com a quantidade de usuários dos serviços, pois no ano de 2017 a saúde privada atende a 30% da população e o serviço público é destinado aos outros 70% 8 Disponível em: <https://www.revistaforum.com.br/ministro-da-saude-defende-fim-da-gratuidade-universal-do- sus/.> Acesso em14 de jun. de 2019. https://www.revistaforum.com.br/ministro-da-saude-defende-fim-da-gratuidade-universal-do-sus/ https://www.revistaforum.com.br/ministro-da-saude-defende-fim-da-gratuidade-universal-do-sus/ 18 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. (DIP, 2018). Outro dado alarmante é o apontado pelo IBGE (2017), que no ano de 2015, 9,1% do PIB foram gastos com saúde no país. Desse valor, 3,9% foram gastos públicos e 5,2%, privados. (MUSTAFA, et al 2019, p. 09-10). Além destes ataques ao Estado de Direito, outros também tem sido duramente imputados como é o caso dos massacres nos presídios, como o de Altamira, o do Amazonas em 2019; do aumento de mortes de lideranças indígenas em conflitos no campo no mesmo ano, o maior em pelo menos 11 anos; na morte de inúmeros trabalhadores do campo, que lutam pelo direito à terra; e no aumento de mortes de homossexuais, transexuais. Vale destacar que estas mortes têm cor, e a população negra ainda é a que mais morre nesse país. A política de educação também tem sido fortemente atacada, primeiramente pelo fato de que o pensamento conservador não tolera ser contestado, e a ciência e a educação colocam elementos que desocultam, destroem os tradicionais argumentos deste tipo de pensamento. Mas também por outro motivo – a apropriação do fundo público destinado a esta área para o amortização e pagamento dos juros da dívida pública – favorecendo o capital portador de juros; e ainda pelo fato de que na medida em que a educação pública fica mais deteriorada, mais o setor privado da educação se fortalece. Pois bem, neste cenário de destruição de conquistas democráticas como fica o trabalho profissional dos assistentes sociais que lida cotidianamente com a classe trabalhadora mais espoliada, seja porquê não tem trabalho, ou porque o tem de forma muito precarizada, e somado a isso não tem tido seus direitos constitucionais minimamente respeitados. 3. DESAFIOS E POSSIBILIDADES PROFISSIONAIS PARA A MANUTENÇÃO DO DIRECIONAMENTO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO NA CONJUNTURA ATUAL. Nos últimos 40 anos o serviço social foi construindo um conjunto de proposições que subsidiam e direcionam o trabalho, a formação, a produção teórica e a organização política da categoria num posicionamento alinhado às demandas da classe trabalhadora. Manter e aprofundar este direcionamento foi desafio constante ao longo deste tempo pois, o que convencionamos chamar de Projeto Ético Político Profissional possui um posicionamento que se contrapõe às ideias dominantes desta sociabilidade capitalista e dos mecanismos utilizados pelo Estado no sentido de legitimar o atual status quo, seja com mais ou menos democracia, com mais ou menos direitos sociais e políticos. 19 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Nos anos 80 e 90 do século XX, a categoria em conjunto com o movimento da classe trabalhadora participou das lutas em defesa de democracia, do direito a saúde, à educação; esteve presente no processo da constituinte e depois na regulamentação da democracia participativa anunciada pela Constituição Federal de 1988 e, na construção das leis que normatizaram tais direitos. Ainda com dificuldades e ausências advindas de um Marxismo sem Marx, do pouco acúmulo do debate entre profissão e militância política, o serviço social seguiu construindo um conjunto de aportes fundamentais e que hoje são parte do seu patrimônio histórico, conforme reafirmam suas entidades organizativas como o Conjunto Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)/ Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO). A conjuntura do final do século passado foi de negação daquilo que acabara de ser conquistado na Constituição: um patamar mínimo de seguridade social e o reconhecimento da assistência social como política pública de seguridade. Tempos difíceis, mas de intensa organização e luta da categoria. Quando, no século XXI, assumem o poder os representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e constroem um governo de conciliação de classe, o serviço social de um lado segue na crítica ao instituído e suas políticas de focalização e, de outro aproveita para estar na luta pela construção do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em defesa do SUS e dos direitos de cidadania. Neste período, de muitas contradições postas pela conjuntura, seguiu o serviço social vendo chegar pequenos, mas importantes programas voltados para a agricultura camponesa, para o combate a fome e a pobreza extrema, habitação popular... Mas como suportar o fato de que tais programas enriqueceram mais as construtoras do que realmente viabilizaram o acesso à cidade por parte dos segmentos mais pauperizados? Como negar a importância do II Plano Nacional da Reforma Agrária, mas ao mesmo tempo como deixar de criticar que 90% do financiamento da agricultura ficava para o agronegócio? Que a expansão do ensino superior ampliou o acesso, mas o fez, sobretudo pela via do mercado? Que diminuiu a fome, mas sem aportes que permitissem de fato o acesso a alimentação saudável e nutritiva? Muitas foram as dificuldades de um governo que manteve intacta a forma de funcionar do Estado capitalista e sua aliança histórica com o grande capital nacional e internacional, expressa no âmbito social pelos direcionamentos das políticas sociais que seguiram na 20 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. contramão do acesso universal, com programas voltados para a focalização, conforme propõe o Banco Mundial. A assistência às camadas mais pauperizadas foi feita por estes programas focalizados, enquanto os equipamentos do SUAS e a execução de seus programas ficavam com menos de 10% do orçamento da assistência social. Neste período, o serviço social segue na construção de aportes fundamentais para pensar a política, a dimensão técnicooperativa do trabalho profissional e os fundamentos da profissão, mas é também um momento que a formação profissional na área se torna extremamente precarizada com o a mercantilização do ensino e o avanço de cursos de Ensino à Distância ou mesmo presenciais sem o alinhamento com aquilo que é a proposta formativa do serviço social brasileiro e que está expressa nas diretrizes curriculares da ABEPSS9. É neste cenário de desafios que o serviço social enfrenta as adversidades postas pela conjuntura atual, ou seja, é um processo em curso já há muito tempo, mas que agora se agrava ainda mais. Os processos de precarização da vida e do trabalho atingiram as políticas públicas conforme demonstrado no item anterior, e consequentemente os processos de formação e os vínculos profissionais dos/as assistentes sociais. A intensificação do trabalho e sua desregulamentação colocam em xeque a autonomia profissional em diversos espaços sócio ocupacionais; a ausência de programas coloca os/as profissionais para lidar cotidianamente e agora com mais intensidade com as refrações mais cruéis da “questão social” expressas na fome, no adoecimento mental, na ausência de perspectivas de vida e trabalho por parte de um grande contingente da população do país. As respostas do Estado tem sido o encarceramento em massa, a repressão e a moralização da vida social. O serviço social é uma profissão que tem uma direção crítica voltada para a defesa dos direitos, da cidadania, que estabelece o compromisso com a qualidade dos serviços e com a democratização dos acessos. Como podem os/as assistentes sociais suportar tais distâncias entre aquilo que prepõe e os desígnios que as políticas aportam? Se as profissões são 9 É importante mencionar que o Ministério da Educação no Brasil estabelece diretrizes para todas as áreas do ensino superior no Brasil; quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9392/1996) estabeleceu as diretrizes curriculares, o serviço social brasileiro já tinha construído um documento para direcionar a formação na área. Mesmo este documento tendo sido apresentado ao MEC, este redefiniu a proposta, ainda que mantendo alguns elementos, e fez alterações significativas no documento original da ABEPSS. Todos os cursos têm que seguir as diretrizes do MEC, mas a proposta da ABEPSS é a de que os cursos utilizem as suas diretrizes de 1996 pois, estas são fundamentais para a direção ético política que se espera de um/uma assistente social. 21 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. socialmente construídas, este cenário de retrocesso, explicitado no primeiro item deste artigo, deverá nos levar também a retroceder na profissão? Daí a importância de recorrer ao legado histórico construído pela profissão. Desde a década de 1990, Iamamoto (2000) nos alerta para os dois determinantes do trabalho profissional: a realidade social no qual se insere e o acúmulo teórico metodológico da profissão. Esta assertiva foi sendo adensada e rediscutida ao longo deste tempo. Guerra (2015) ao tratar dos desafios da efetivação do projeto ético político reforça as condições sócio históricas onde o trabalho profissional está inserido e a qualificação necessária ao exercício profissional. Se é certo que a realidade precisa dispor de possibilidades para que a finalidade projetada possa se realizar, também há que se ter condições subjetivas para a realização da intenção posta no projeto, o que nos leva a indicar a importância de que os sujeitos sociais possam deter um certo domínio da teoria social que lhes ajude a ler a realidade, escolher meios e mediações a serem mobilizados, dar um determinada orientação a sua intervenção. Um projeto crítico deve levar em conta de que profissão se trata, suas determinações e limites estruturais e suas condições histórico-conjunturais. (GUERRA, 2015, p. 63). É evidente que em tempos de desmonte das políticas sociais, esta assertiva em si não diminui a angustia do profissional em ver uma criança ou um adulto doente sem tratamento adequado, uma família sem proteção, as estruturas violentas construídas para conter as classes pobres tidas como “perigosas” pelo Estado que criminaliza a pobreza e etc. O não atendimento decorrente da ausência de políticas públicas precisa ser contraposto ao compromisso profissional de lutar até o último recurso para que o direito seja acessado e, portanto, a certeza de que compromisso profissional foi efetivado com competência teórico metodológica e envolvimento ético político. Feito este movimento, é preciso que o/a assistente social possa considerar os limites concretos que ultrapassam a esfera de seu poder profissional, ou seja, aquilo que ele não tem como modificar e com isto, não levar para si o que não é seu. Outra forma fundamental de lidar com a angústia e sofrimento causados pelos impactos das desregulamentações dos direitos é retomar a luta política; sem ela, o adoecimento ou descomprometimento poderão ser as vias de vivência pessoal dos quadros cruéis de sofrimento presentes no cotidiano de trabalho. O serviço social tem uma longa trajetória de participação nas lutas e nos movimentos sociais e isto, nesta conjuntura, poderá ser um caminho importante de fortalecimento individual e coletivo. 22 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. É evidente que o quadro de precarização e intensificação do trabalho coloca limites à participação, especialmente de uma categoria profissional composta majoritariamente por mulheres cujas vivências numa sociedade machista e patriarcal estão permeadas por sobrecargas de trabalho. Ocorre que se a classe trabalhadora tivesse esperado condições adequadas para seguir a luta, quando a jornada de trabalho era de 16 horas diárias, jamais teria havido enfrentamentos, pois a exaustão do trabalho era quase absoluta. Foram e são exatamente estas condições adversas que impulsionaram e fizeram seguir as contínuas e recorrentes lutas daqueles que eram e são explorados e oprimidos nos diversos espaços do globo terrestre. Se atentar aos princípios que orientam a profissão é necessário nesta conjuntura de retrocessos. A luta pelos direitos é apenas uma das proposições da profissão; a luta contra a exploração e opressão são bandeiras de todos os tempos, independente do direcionamento das políticas sociais. Há muito tempo o serviço social sabe que o sentido e a direção do trabalho profissional não podem ser estabelecidos pelas instituições ou pelas políticas, mas sim pelo projeto profissional. Então, cabe aos profissionais, focar na responsabilidade política para com o usuário e, com isto procurar outros caminhos a partir das condições concretas nas quais o trabalho profissional se desenvolve. Realizar o trabalho educativo “apesar da política” pode ser uma alternativa, afinal este é um tempo de disputas ideológicas e políticas de grande monta; fortalecer os sujeitos que são nossos usuários como sujeitos coletivos faz parte dos princípios fundamentais da profissão. Afinal, a dimensão teórico metodológica e ético política que permite ao profissional dar uma direção ao seu trabalho profissional não deixa de existir em conjunturas adversas como esta, apenas muda de configuração, pode aumentar ou diminuir de potência. E a construção de uma nova ordem societária sem exploração e opressão continua em nosso horizonte profissional. Yasbek afirma que este é um momento de grandes dificuldades, mas também de luta e resistência: Questão de grande tensionamento, poisse trata de uma interlocução com o adverso. Como lutar pela liberdade, pela equidade, pela justiça, pela construção de direitos, contra práticas racistas e homofóbicas, entre outros aspectos, neste contexto? Como levar adiante este embate? Luta desigual, mas que deve nos encontrar preparadas (os). Luta que só se luta no coletivo – um traço da nossa história, mas que deve ser de cada um, todos os dias. Luta que supõe o estudo, a pesquisa e o debate: não há melhor caminho para qualificar o trabalho da profissão e seu projeto ético-político que o estudo, a pesquisa e o debate. (YASBEK, 2019, p.87). 23 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os retrocessos civilizatórios advindos da expansão do capital em termos planetários reforçam a assertiva de Meszáros (2002): socialismo ou barbárie. A lógica desenfreada do lucro e o avanço do capital especulativo sobre o capital produtivo tem provocado uma ampliação de mecanismos de expropriação e subjugação de povos e nações em todo o mundo. No Brasil, assim como na América Latina, os retrocessos civilizatórios atingem os parcos direitos conquistados pela classe trabalhadora e acentuam ainda mais o grave quadro social existente. Os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro seguem à risca as orientações ultraneoliberais na condução da economia e, socialmente constroem um quadro de instabilidade incitado pelo apelo à violência e repressão. Os valores democráticos e os pactos civilizatórios são atacados e a vida da população pobre é banalizada e negligenciada. Os impactos desta forma de condução do Estado no âmbito das políticas públicas são devastadores, conforme demonstrado neste artigo. Mas também há fortes rebatimentos para um conjunto de profissionais que trabalham diretamente com os segmentos mais pauperizados, como é o caso do serviço social. É fundamental que os/as assistentes sociais se qualifiquem teórica e politicamente para o trabalho profissional. Apreender o que é resultante das condições objetivas do trabalho profissional é essencial para não se sobrecarregar com aquilo que não pode ser temporária ou permanentemente modificado; por outro lado, compromete e alinha o profissional para fazer tudo o que as suas habilidades teórico-metodológicas e seu compromisso ético político permitem, no sentido de fortalecer os seus usuários nos diversos espaços sócio ocupacionais. 24 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. REFERÊNCIAS AGÊNCIA IBGE. PNAD Contínua: taxa de desocupação é de 11,8% e taxa de subutilização é 24,0% no trimestre encerrado em setembro de 2019. 31 de out. 2019. 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Serviço social e seu projeto ético- político em tempos de devastação: resistências, lutas e perspectivas. In: YASBEK, M.C, IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na História - América Latina, África e Europa. São Paulo: Cortez. 2019. 26 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: REFLEXÕES A RESPEITO DO PROCESSO SAÚDE- DOENÇA DE ASSISTENTES SOCIAIS Edvânia Ângela de Souza10; Lara de Souza Tonin11, Maria Liduina de Oliveira12 e Silva; Onilda Alves do Carmo13; Vinícius Boim14 RESUMO: Este texto aborda elementos do perfil profissional de assistentes sociais que atuam em serviços de saúde, a partir de dados parciais coletados por meio do projeto de pesquisa: “Processo de Trabalho e saúde do\a(s) assistentes sociais que atuam nos serviços de seguridade social no Brasil”. A presentediscussão se restringe a área da saúde, com evidencias para o trabalho profissional e relação de trabalho e saúde de assistentes sociais Palavras-chave: Sistema Único de Saúde (SUS). Seguridade Social. Trabalho e Saúde. Saúde do\a Trabalhador\a. ABSTRACT: This text discusses elements of the professional profile of social workers who work in health services, based on partial data collected through the research project: “Work and health process of social workers who work in security services. in Brazil ”. This discussion is restricted to the health area, with evidence for professional work and the relationship between work and health of social workers Keywords: Unified Health System (SUS). Social Security. Work and Health. Health of the Worker. 10 Assistente Social. Profa. Dra. do Departamento de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS), UNESP-Franca. Profa. Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais - PPGSSPS - Mestrado Acadêmico da UNIFESP-Baixada Santista. E-mail: edvaniaangela@hotmail.com. 11 Aluna de graduação em serviço social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS), UNESP- Franca e bolsista PIBIC do projeto de pesquisa Processo de trabalho e saúde dos\(as) assistentes sociais que atuam nos serviços de Seguridade Social no Brasil”. E-mail: lstonin_@hotmail.com. 12 Assistente social, Profa. Dra. do curso de graduação em Serviço Social da Unifesp e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social e Políticas Sociais (PPGSSPS), UNIFESP-BS. E-mail: liduoliveira90@gmail.com. 13 Assistente Social e Profa. Dra., do Departamento de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS), UNESP-Franca. E-mail: onildalves@uol.com.br. 14 Assistente Social do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (crst Lapa). E-mail: boim.vinicius@gmail.com. mailto:liduoliveira90@gmail.com 27 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, verifica-se que há extensa produção bibliográfica a respeito do Sistema Único de Saúde (SUS), com predomínio para a trajetória da política de saúde no Brasil; o Movimento de Reforma Sanitário Brasileiro (MRSB) e a construção do SUS. Constata-se também que a questão da privatização da saúde e a terceirização dos serviços têm sido foco de inúmeros estudos e de inúmeras atividades de resistência da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, aqui, é importante reconhecer o importante trabalho que a Profa. Dra. Maria Inês Bravo vem desenvolvendo junto às lideranças e militantes da Frente, na sua agremiação e consolidação, tornando o MRSB extremamente atual e em movimento. Além de inúmeros trabalhos que abordam os princípios institucionais, de gestão e de organização da política de saúde (SUS) e dos serviços e dos estudos que abordam dados epidemiológicos. Todavia, a respeito da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras que atuam nos serviços de saúde públicos a produção ainda é escassa, sobretudo, quando se fala em condições de trabalho e saúde de assistentes sociais. Tradicionalmente médicos foram assuntos de diversos estudos, em anos mais recentes estudos abordam as condições de trabalho dos profissionais da área de enfermagem. Entretanto, o trabalho profissional e respectivas condições de trabalho de assistentes sociais ainda têm sido pouco estudados. Portanto, a discussão ora proposta trata de uma temática relevante, especialmente para o serviço social, mas também para subsidiar políticas públicas favorecedoras do trabalho digno, decente e de qualidade, o que, de certa forma, já foi indicado por Iamamoto (2008). Frente à precarização dos serviços públicos em geral, e de saúde, em especial, se verifica a insuficiência das equipes de saúde, o que além de provocar a precarização dos serviços, gera também a sobrecarga laboral das equipes. Além de interferir diretamente no trabalho prestado, uma vez que esse se torna mais imediatista e voltado para o atendimento das demandas emergenciais e imediatas. A internalização da disciplina do trabalho e da inteira disposição para a sua rotina, ainda que em condições ultrajantes, com contratações irregulares, baixos salários ou até mesmo marcadas pelo trabalho voluntário tem sido estimulado no mundo inteiro, com especial adesão pelo Brasil, onde se sabe, a precarização do trabalho é a sua marca, mas a partir de 2017, essa precarização do trabalho que é estrutural no sistema do Capital e que, no processo histórico da formação social e econômica tem as marcas do trabalho escravo, da não 28 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. cidadania, e do não acesso à participação popular no poder político econômico, tudo isso, vem sendo adensada de forma avassaladora no contexto brasileiro, tais como são exemplos, as contra reformas trabalhista (LOURENÇO, 2018) e da Previdência Social (BRASIL, 2019), a terceirização irrestrita (LOURENÇO, 2018) e a Carteira Vede Amarela (BRASIL, 2020). Byung Chul Han, no livro: “A sociedade do cansaço” (HAN, 2017), discute que a sociedade do século XXI, já não é reconhecida pelo caráter imunológico, tão presente no século XX, quando instituições foram erguidas para selecionar, tratar, inspecionar e combater o risco de doenças. Assim, essa teria sido a sociedade da disciplina e da negatividade, a sociedade do não poder. Já, no momento atual, a sociedade do século XXI, é marcado pela positividade, “Yes, we can”, e pela hiperatividade. Mas, segundo esse autor, não é que a sociedade do século XXI não seja imunológica, mas a mudança a ser considerada é que a reação ao que é estranho, vem sendo, cada vez mais, substituída pela positividade, daí que o paradigma imunológico não coaduna com o problema da globalização, quando predomina a violência neural, que leva ao “infarto psíquico” (HAN, 2017, p.20). O autor explica que: [...] a violência neuronal não parte mais de uma negatividade estranha ao sistema. É antes uma violência sistêmica, isto é, uma violência imanente ao sistema. Tanto a depressão quanto o TDAH [o autor denomina como síndrome da hiperatividade, no Brasil, vem sendo tratada como Transtorno de Déficit de Atenção] ou a SB [Síndrome de Burnout] apontam para um excesso de positividade (HAN, 2017, p.21). Essa análise realizada por Byung Chul Han (2017) é importante para compreender as relações sociais de trabalho na sociedade contemporânea. 2. METODOLOGIA O objetivo desse texto é discutir os elementos do trabalho profissional do serviço social na área da saúde a partir de um projeto mais amplo, o qual se encontra em andamento15, 15 Este projeto de pesquisa intitulado: Processo de trabalho e saúde dos\(as) assistentes sociais que atuam nos serviços de Seguridade Social no Brasil” foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unesp-Franca. Está previsto para ser concluído em dezembro de 2020 e conta com a participação de pesquisadores(as) de três universidades públicas, quais sejam: Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (Unesp-Franca), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG), sendo as respectivas coordenadoras de cada região as profas. dras. Edvânia Ângela de Souza (Unesp-Franca), Vera Gomes (UFPA), Jussara Mendes (UFRGS) e Dolores Sanches Wünsch (UFGRS). Esse projeto também fez parte das atividades de pós-doutorado, desenvolvido no período de 2015 a 2017 no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifesp, sob a supervisão do prof. Dr.. Francisco Antonio de Castro Lacaz, quando o projeto de pesquisa tambémfoi aprovado pelo Comitê de Ética da Unifesp e submetido e aprovado pelo CNPq, conforme Processo n. 445443/2015-4, 2015-7. Atualmente, foi submetido e aprovado na modalidade Bolsa Produtividade (PQ), sendo aprovado sob o n. 313708/2018. 29 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. sendo que para essa discussão foram selecionados apenas os dados acerca do perfil profissional de assistentes sociais que atuam nos serviços da saúde. Para tanto, são considerados 463 questionários, ou 40,72% do total da amostra de 1.138 questionários respondidos em âmbito nacional. Cabe sublinhar que o questionário visa obter informações das condições de trabalho e saúde em todo o país, mas o aprofundamento dos dados se deu por meio da realização de entrevistas individuais, coletivas e grupos focais com assistentes sociais que atuam na área da saúde de uma cidade de médio porte do interior do estado de São Paulo. O questionário foi hospedado em um site de uma universidade pública e ficou disponível para a participação de assistentes sociais em âmbito nacional, todavia, para ampliar a participação, também foram distribuídos os questionários durante eventos de grande porte da categoria profissional, tais como: Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), nas edições de 2014 e 2016; Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, edições de 2014 e 2016; Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde (CONASSS), edições de 2015 e 2017, Seminário Anual de Serviço Social da Cortez, 2016 e 2017 e demais eventos e\ou atividades coletivas de assistentes sociais em que se teve a oportunidade de participar. Em geral, apenas 30% dos questionários distribuídos retornaram. Além disso, contou-se com o apoio da ABEPSS e CRESS-SP na divulgação da chamada para a participação na pesquisa. Mas há que se registrar que a expectativa quanto a participação neste estudo ficou abaixo do esperado, considerando as várias estratégias utilizadas para a divulgação do questionário. Os questionários, tanto na versão impressa quanto on line, foram acompanhados do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O critério para a participação neste estudo foi ser assistente social e estar na ativa em um dos serviços da Seguridade Social. É importante destacar que para maior êxito desse estudo, conta-se com a participação de pesquisadora\e(s) das regiões Norte e Sul do país, respetivamente, das Universidades Federais do Pará (UFA) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), ampliando assim, o estudo para o âmbito nacional. Neste texto, a discussão se limita ao perfil das profissionais e alguns aspectos do seu trabalho profissional do serviço social na área da saúde. 3. AMOSTRA DOS DADOS 30 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. No total dos questionários respondidos, no período de agosto de 2014 a dezembro de 2019, obteve-se 1.138 questionários. Desses, considerando as três áreas da Seguridade Social (assistência social, saúde e previdência social), na totalidade, obteve-se maior presença de assistentes sociais da área da assistência social, com um total de 46,22% [526]; saúde 40,69% [463] e a previdência social com como 13,09% [149]. Portanto, evidencia-se maior participação neste estudo de assistentes sociais que trabalham nas políticas de saúde e assistência social e, em menor proporção, na previdência social. Trata-se de considerar que os serviços de assistência social e de saúde estão organizados de forma descentralizadas, assim, estão disseminados nos vários municípios brasileiros, enquanto que a Previdência é um serviço federal, que se organiza para o atendimento público apenas regionalmente, portanto, estão em quantidade inferior que as outras duas áreas da seguridade social, donde há também menor quantidade de profissionais. Além do mais, na década de 1990, o governo de Fernando Henrique Cardoso (FCH, PSDB) excluiu o serviço social do organograma da Previdência Social (SOUZA; ANUNCIAÇÃO, 2020). Neste texto, não se tem espaço para explanar a respeito das especificidades de cada uma dessas áreas, mas cabe informar que, no âmbito da Previdência Social o serviço social tem encontrado maiores dificuldades para a sua inserção e permanência, sendo que, no momento atual, o presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), além de editar a Medida Provisória n. 871, de 19 de janeiro de 2019, a qual foi convertida em Lei 13.846, de 18 de junho de 2019 (BRASIL, 2019), promovendo ampla revisão dos benefícios previdenciários, eliminando grande parte desses; também realizou a contrarreforma da Previdência, criando sérios impedimentos para futuras aposentadorias e acesso aos benefícios. Novamente, o Serviço Social foi alvo de ataque e retirado do organograma da Previdência. Assistentes sociais atuam na efetivação dos direitos sociais, o que implica na defesa da efetivação das políticas sociais de qualidade, sendo assim, em muitas situações, esses profissionais são vistos como quem incomoda. Dessa forma, governos que têm o mercado e a defesa de interesses particulares como centrais da sua gestão, frequentemente, se incomodam com profissionais críticos, portanto, utilizam da força política e da administração autoritária para a gestão como violência, assediando, silenciando, excluindo e afastando profissionais dos serviços (GAULEJAC, 2007). 31 ANAIS - IX CONASSS - Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde - XII SIMPSSS – Simpósio de Serviço Social em Saúde, de 22 a 24 de setembro de 2020, ISBN 978-65-86378-02-3. Cabe registrar que desde 2016, as políticas sociais no Brasil vêm sofrendo ampla ofensiva do capital, que para sanar a sua crise estrutural e retomar as suas taxas de acumulação, impõe a mercantilização do acesso aos serviços e políticas sociais, banalizando as necessidades sociais e da vida humana, tal como é a edição da Emenda Constitucional no. 96 (BRASIL, 2016) e o ataque aos direitos do trabalho (LOURENÇO, 2018) e previdenciários (LOURENÇO; LACAZ; GOULART, 2017). Novos ataques aos direitos sociais vêm sendo editados, como é exemplo a Medida Provisória no. 905, de 11 de novembro de 2019, que instituiu a Carteira Verde Amarela, promovendo, numa tacada só, a radical restrição dos direitos do trabalho e previdenciários, impondo o\a(s) trabalhadore\a(s) a toda sorte de exploração e, ainda, tem inviabilizado a sustentação da previdência, considerando medidas como: isenções de setores econômicos da contribuição previdenciária, Desvinculação dos Recursos da União (DRU), entre outras, como a atual MP no. 905, que institui o contrato da Carteira Verde Amarelo estipulando a contribuição previdenciária em 2% independentemente da remuneração do\a trabalhador\a (SOUZA; ANUNCIAÇÃO, 2020). Observa-se que todo esse processo de ataque aos direitos sociais interatuam com as condições de trabalho e, em consequência, com a saúde. Assim, neste texto, são abordados de forma sumária dados relativos à área da saúde, da pesquisa em andamento, já mencionada anteriormente. É importante registrar que essa pesquisa recebeu maior envolvimento de assistentes sociais oriundas do estado de São Paulo, mas conta com questionários respondidos por profissionais de todos os estados do país. Todavia, o estudo também aprofunda os dados nas regiões Norte e Sul do Brasil, por meio da participação de pesquisadoras da Universidade Federal do Pará (UFA) e do Rio Grande do Sul (UFGRS). Assim, da totalidade de 1.138 questionários até então respondidos, 119 são da região Sul
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