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PSICOLOGIA-SAÚDE-E-DOENÇA

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1 
 
 
PSICOLOGIA, SAÚDE E DOENÇA 
1 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
FACULESTE ............................................................................................ 2 
Introdução ................................................................................................ 3 
Conceito de saúde ............................................................................... 5 
Saúde física ...................................................................................... 6 
Saúde mental ................................................................................... 7 
Saúde social ..................................................................................... 8 
Saúde mental e saúde física ............................................................ 9 
História do desenvolvimento da saúde no Brasil ................................ 10 
Desenvolvimento do conceito de saúde e doença ............................. 14 
Período pré-cartesiano ................................................................... 16 
Desenvolvimento do modelo biomédico ......................................... 18 
Primeira revolução da saúde .............................................................. 21 
Segunda revolução da saúde ............................................................. 23 
Principais conceitos da segunda revolução da saúde .................... 24 
Promoção da saúde ........................................................................... 24 
Estilo de vida ...................................................................................... 27 
Representações sociais da saúde e da doença ................................. 28 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 31 
 
 
 
2 
 
 
 
FACULESTE 
 
A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de 
um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para 
cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, 
como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Introdução 
 
 
Saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim 
conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e mudança. Num passado ainda 
recente a doença era frequentemente definida como "ausência de saúde", sendo 
a saúde definida como "ausência de doença" - definições que não eram 
esclarecedoras. Algumas autoridades encararam a doença e a saúde como 
estados de desconforto físico ou de bem-estar. Infelizmente, perspectivas 
redutoras como estas levaram os investigadores e os profissionais de saúde a 
descurar os componentes emocionais e sociais da saúde e da doença 
(Bolander,1998). 
Definições mais flexíveis quer de saúde quer de doença consideram 
múltiplos aspectos causais da doença e da manutenção da saúde, tais como 
fatores psicológicos, sociais e biológicos. Contudo, apesar dos esforços para 
caracterizar estes conceitos, não existem definições universais. Por outro lado, 
e apesar de todos os avanços na pesquisa biomédica, o nosso sonho de 
atingirmos ou mantermos uma saúde física e mental permanece exatamente isso 
- um sonho que, além de tudo, vale a pena prosseguir face aos efeitos da doença 
nos indivíduos e na sociedade (Diener,1984). Isto é, a presença ou ausência de 
doença é um problema pessoal e social. É pessoal, porque a capacidade 
individual para trabalhar, ser produtivo, amar e divertir-se está relacionado com 
4 
 
 
a saúde física e mental da pessoa. É social, pois a doença de uma pessoa pode 
afetar outras pessoas significativas (p.ex.: família, amigos e colegas). 
A promoção da saúde é fator fundamental na melhoria da qualidade de 
vida, pois contribui com as políticas públicas de saúde e visa a capacitação da 
comunidade, enfatizando a responsabilidade coletiva. Em políticas públicas, 
diversas técnicas são importantes para lidar com diferentes necessidades entre 
os distintos grupos sociais, pois as desigualdades em saúde refletem as 
desigualdades sociais, e igualdades no acesso e uso de serviços de saúde são 
insuficientes na diminuição das desigualdades de adoecimento. Nesse sentido, 
o princípio de equidade reconhece que as diferenças individuais necessitam de 
tratamento diferenciado que possa eliminar ou reduzir a desigualdade, sendo 
que o tratamento desigual é justo quando é e m benefício ao indivíduo que mais 
necessita. 
Considerando, que os modernos sistemas de saúde são o resultado da 
complexa interação de processos econômicos, políticos e sociais entende-se 
que as relações entre saúde e desenvolvimento é um processo dinâmico e 
virtuoso que combina, ao mesmo tempo, crescimento econômico, mudanças 
fundamentais na estrutura produtiva e melhora do padrão de vida da população. 
Saúde e desenvolvimento estão intimamente ligados, uma vez que o processo 
de desenvolvimento envolve a consolidação do direito à saúde. 
 
5 
 
 
Conceito de saúde 
 
Saúde significa o estado de normalidade de funcionamento do organismo 
humano. Ter saúde é viver com boa disposição física e mental. Além da boa 
disposição do corpo e da mente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define 
saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não 
somente ausência de afecções e enfermidades”. Direito social inerente à 
condição de cidadania, que deve ser assegurado sem distinção de raça, de 
religião, ideologia política ou condição socioeconômica, a saúde é assim 
apresentada como um valor coletivo, um bem de todos. 
Entretanto, o conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, 
política e cultural. Ou seja: saúde não representa a mesma coisa para todas as 
pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores 
individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas. Os 
conceitos de saúde e de doença são analisados em sua evolução histórica e em 
seu relacionamento com o contexto cultural, social, político e econômico, 
evidenciando a evolução das ideias nessa área da experiência humana. 
A saúde de um indivíduo pode ser determinada pela própria biologia 
humana, pelo ambiente físico, social e econômico a que está exposto e pelo seu 
estilo de vida, isto é, pelos hábitos de alimentação e outros comportamentos que 
podem ser benéficos ou prejudiciais. Uma boa saúde está associada ao aumento 
6 
 
 
da qualidade de vida. É sabido que uma alimentação balanceada, a prática 
regular de exercícios físicos e o bem-estar emocional são fatores determinantes 
para um estado de saúde equilibrado. 
Por outro lado, as pessoas que estão expostas a condições precárias de 
sobrevivência, não possuem saneamento básico (água, limpeza, esgotos, etc.), 
assistência médica adequada, alimentação e água de qualidade, etc., têm a sua 
saúde seriamente afetada. As ciências da saúde formam profissionais com 
conhecimentos na prevenção de doenças, prática assistencial e promoção do 
bem-estar da população. 
Já á saúde pública é um conceito que remete para a integridade física e 
mental dos elementosconstituintes de uma comunidade. A saúde pública 
abrange medidas e políticas relacionadas com a higiene, para a manutenção da 
saúde, sendo que também são promovidas medidas para a prevenção de 
doenças. 
 
Saúde física 
 
A saúde física diz respeito à condição geral do corpo em relação a 
doenças e ao vigor físico. A pessoa saudável é aquela que não tem doenças e 
cujo metabolismo se encontra em bom funcionamento. 
Existem alguns fatores que influenciam a saúde de um indivíduo, como 
uma infância saudável, status social, gênero, cultura, educação, genética, como 
também os ambientes que frequenta e as condições de seu trabalho. As 
necessidades mais importantes do corpo são: sol, água, alimentos, exercícios, 
repouso e higiene. A saúde física enfraquece quando algumas dessas 
necessidades não são atendidas. 
A saúde pode ser cultivada com a troca de hábitos ruins por bons. 
Caminhar, por exemplo, é uma atividade simples que, além de exercitar o corpo, 
combate o colesterol ruim, estimula a capacidade cardiorrespiratória, estimula a 
circulação sanguínea e controla doenças como diabetes e hipertensão. 
7 
 
 
 
Saúde mental 
 
Segundo a OMS não existe uma definição oficial para saúde mental. 
Coisas como diferenças culturais, teorias concorrentes e julgamentos subjetivos 
afetam em como a saúde mental é definida. Saúde mental pode ser descrito 
como qualidade de vida emocional e cognitiva de uma pessoa. Percepção da 
realidade, integração social e emocional, entre outros itens são avaliados para 
definir a saúde mental de uma pessoa. A maior parte das pessoas, quando 
ouvem falar em “Saúde Mental” pensam em “Doença Mental”. Mas, a saúde 
mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais. 
Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que ninguém é perfeito, 
que todos possuem limites e que não se pode ser tudo para todos. Elas 
vivenciam diariamente uma série de emoções como alegria, amor, satisfação, 
tristeza, raiva e frustração. São capazes de enfrentar os desafios e as mudanças 
da vida cotidiana com equilíbrio e sabem procurar ajuda quando têm dificuldade 
em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos 
diferentes ciclos da vida. 
8 
 
 
 
A Saúde Mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela reage 
às exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, 
ambições, ideias e emoções. Ter saúde mental é estar bem consigo mesmo e 
com os outros, aceitar as exigências da vida, saber lidar com as boas emoções 
e também com aquelas desagradáveis, mas que fazem parte da vida e 
reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. 
 
Saúde social 
 
As relações sociais ajudam a diminuir a probabilidade do surgimento 
de doenças crônicas, deficiência ou doença mental. Como também, aumenta a 
autoconfiança e autoestima da uma pessoa. A união entre pessoas que visam o 
bem-estar do outro, proporciona companheirismo e apoio emocional. Essas 
associações ocorrem de forma benéfica à saúde física e ao bem-estar 
psicológico. Pois a harmonia entre os familiares proporciona um ambiente 
saudável. Além de aumentar a imunidade contra hábitos prejudiciais ou doenças. 
9 
 
 
 
A saúde social está relacionada com a interação com outras pessoas. É 
a capacidade de conseguir prosperar em ambientes sociais e interagir com a 
sociedade. A saúde social está também relacionada com a saúde individual. 
Pois, a interação com outras pessoas beneficia o bem-estar do próprio indivíduo. 
É imprescindível relacionar a saúde física e mental ao meio social. Seria 
uma regra proporcional a todos os fatores. Ou seja, quanto maior a interação 
interpessoal, maior a saúde social e, consequentemente, mais qualidade na 
saúde física e mental. 
 
Saúde mental e saúde física 
 
A saúde é considerada o bem mais precioso que os seres humanos 
precisam preservar. Somente por intermédio dela é que podemos exercer as 
diversas atividades do dia a dia. 
Apesar de muitos tratarem a saúde mental e física separadamente, elas 
estão ligadas. Ao olharmos superficialmente, a saúde mental e física parecem 
ser assuntos diferentes. Porém, se analisarmos mais a fundo, torna-se nítida a 
relação entre ambas. Os problemas de saúde física, podem impactar 
negativamente a saúde mental e o bem-estar das pessoas. Da mesma forma, 
problemas de saúde mental podem causar ou agravar problemas de saúde 
física. 
10 
 
 
 
Promover equilíbrio entre o corpo e a mente é importante para possuir 
uma boa saúde mental e física. Assim, para mantermos o organismo pleno e 
saudável é preciso haver equilíbrio entre a saúde mental e física. Somente sua 
integridade manterá o corpo e mente sadio. 
As relações sociais positivas na família ajudam a diminuir a 
probabilidade do surgimento de doenças crônicas, deficiência ou doença mental. 
Como também, aumenta a autoconfiança e autoestima da pessoa. A união entre 
pessoas que visam o bem-estar do outro, proporciona companheirismo e apoio 
emocional. Essas associações ocorrem de forma benéfica à saúde física e ao 
bem-estar psicológico. Pois a harmonia entre os familiares proporciona um 
ambiente saudável. Além de aumentar a imunidade contra hábitos prejudiciais 
ou doenças. 
 
 
 
 
História do desenvolvimento da saúde no Brasil 
 
No Brasil, a saúde como direito (e dever do Estado) surgiu na derrocada 
do projeto desenvolvimentista, que se conformou a partir de 1930 e foi 
11 
 
 
responsável pelo processo de industrialização e modernização da sociedade 
brasileira. De fato, o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde 
para sua promoção, proteção e recuperação, garantido pela Constituição 
Federal de 1988, foi introduzido quase meio século após os sistemas de saúde 
europeus, exatamente quarenta anos depois do sistema inglês, criado logo no 
início do longo período de fortalecimento das economias europeias e de políticas 
intencionais, objetivando associar desenvolvimento econômico ao 
desenvolvimento social. 
A universalidade do sistema de saúde brasileiro, ao contrário, foi 
concebida em um período de crise, de estagnação econômica, seguido da 
adoção de políticas econômicas de cunho liberal, que impuseram barreiras e 
limites para a efetiva implantação de um sistema mais universal, redistributivo e 
igualitário. A convenção liberal tornou-se hegemônica no Brasil nos anos 90, em 
substituição à convenção nacional-desenvolvimentista. São duas convenções 
radicalmente opostas, pois o desenvolvimentismo parte da sociedade para 
chegar ao agente individual, enquanto o liberalismo realiza o percurso inverso; 
para a convenção desenvolvimentista, o desenvolvimento está relacionado com 
a transformação da estrutura produtiva, ao passo que a liberal privilegia a 
alocação eficiente de recursos. Para os desenvolvimentistas, o Estado é o motor 
do desenvolvimento, enquanto para os liberais o motor é o mercado. 
Por fim, os desenvolvimentistas entendem o subdesenvolvimento como 
processo histórico e não etapa do percurso dos países avançados. A força das 
ideias associadas ao desenvolvimentismo no Brasil, em comparação com outros 
países periféricos, é evidenciada pelo atraso com que a convenção liberal 
chegou ao país e pela relativa parcialidade e lentidão com que foi implantada. 
As políticas liberais, voltadas, em sua maioria, para promover o ajuste 
macroeconômico dos países em desenvolvimento que passavam por 
dificuldades, entraram em vigor no Brasil a partir do início da década de 1990 e 
contribuíram para o deterioramento do quadro social, reunindo baixo 
crescimento econômico com o agravamento das desigualdades sociais, somente 
estreitadas na década seguinte, a partir da combinação de uma série de políticas 
e programas governamentais, com destaque para o aumento do salário mínimo, 
12 
 
 
a queda no preço dos alimentos via isenções fiscais e a adoção de extensos e 
vigorososprogramas de transferência de renda. 
Observa-se, portanto, que as políticas liberais não lograram proporcionar 
uma articulação positiva entre política econômica e política social, impedindo o 
avanço da construção da cidadania e de um quadro de inclusão marcado pela 
sustentabilidade. No âmbito da saúde, algumas dificuldades se colocam como 
obstáculo importante à construção de um sistema universal nesse contexto de 
hegemonia do pensamento econômico liberal. Uma primeira dificuldade diz 
respeito à questão do financiamento, pois a criação de fundos de estabilização 
fiscal (hoje Desvinculação das Receitas da União - DRU) representa menor 
disponibilidade de recursos para serem aplicados nas ações e serviços de 
saúde, recursos esses que são direcionados, em sua maioria, para o pagamento 
de juros da dívida pública. Esse desfinanciamento federal da política de saúde 
foi de certa forma, compensado pela descentralização setorial, apoiada pela 
descentralização fiscal, o que não impediu, contudo, o agravamento do quadro 
de desigualdades regionais na saúde. 
Quadro - As três dimensões da saúde 
 
A descontemporaneidade dos processos de desmercantilização do 
acesso (saúde como direito), mercantilização da oferta (saúde como bem 
econômico) e formação do complexo industrial da saúde (saúde como espaço 
de acumulação de capital) produziu, no Brasil, uma situação que não foi capaz 
de romper com a natureza dual do sistema de saúde brasileiro, caracterizado 
13 
 
 
pela segmentação de clientela e predomínio de interesses ligados às duas 
últimas dimensões, impedindo a constituição de um sistema que efetivamente 
garanta o acesso à saúde como direito social. 
 O esgotamento das políticas liberais como base para o desenvolvimento 
econômico dos países provocou uma revisão sobre a estratégia de 
implementação de um único modelo de desenvolvimento, baseado numa receita 
universal e no Estado regulador. Alguns autores alertam para o surgimento de 
uma Nova Economia do Desenvolvimento, baseada em experiências 
acumuladas e em uma nova ideia de desenvolvimento. Seu objetivo principal 
seria dar contribuições para aumentar as opções disponíveis à ação do Estado 
em contestação ao consenso único e à receita universal proposta pela 
convenção liberal. Para esses autores, há necessidade, nos tempos atuais, de 
se criar alternativas ou modelos de desenvolvimento econômico que sejam, ao 
mesmo tempo, economicamente dinâmicos, politicamente democráticos e 
socialmente inclusivos. 
Por conta da estagnação do crescimento econômico e do aumento das 
desigualdades sociais nos países que adotaram as receitas liberais no atual 
período da globalização, estão surgindo diversos questionamentos sobre o viés 
econômico predominante no conceito de desenvolvimento. Esses 
questionamentos vêm sendo propostos a partir do ressurgimento dos estudos 
sobre desenvolvimento associando política econômica e política social, sendo 
que muitos desses estudos se baseiam também na discussão de conceitos que 
estão em voga na política mundial, como: democracia, equidade e promoção 
social. 
O Brasil entra nessa nova fase de debate sobre o desenvolvimento e o 
papel do Estado com uma perspectiva muito interessante, pois sua escola 
estruturalista deixou importantes bases teóricas para se pensar um 
desenvolvimento genuinamente brasileiro. Um dos principais autores que vem 
discutindo o novo modelo de desenvolvimentismo no Brasil é Bresser-Pereira 
(2007), que coloca a necessidade de uma estratégia nacional de 
desenvolvimento pautada nos seguintes elementos: aumento da capacidade de 
poupança e investimentos da nação, forma pela qual incorpora progresso técnico 
na produção; desenvolvimento do capital humano; aumento da coesão social 
14 
 
 
nacional que resulta em capital social ou em sociedade civil mais forte e 
democrática; e uma política macroeconômica que garanta a saúde financeira do 
Estado e do Estado-nação, levando a índices de endividamento interno e externo 
dentro dos limites. 
 A discussão de um novo modelo de desenvolvimento tem sido retomada 
tanto pelos intelectuais independentes, como pelos organismos internacionais. 
Entretanto, é importante atentar para a importação de modelos e para os 
impactos e condicionamentos que essas ideias, na sua maioria advinda de 
países com grande força política e econômica, podem ter nos países periféricos. 
Aponta-se a necessidade de avançar na concepção de desenvolvimento não só 
como modernização, mas também como políticas que embasem um verdadeiro 
projeto nacional de enfrentamento das desigualdades sociais e de construção de 
uma cidadania plena. Ao mesmo tempo, há quase uma unanimidade no sentido 
de resgatar a questão da inovação tecnológica como base para um novo modelo 
de desenvolvimento. 
Desenvolvimento do conceito de saúde e doença 
 
A história da saúde e da doença é, desde os tempos mais longínquos, 
uma história de construções de significações sobre a natureza, as funções e a 
estrutura do corpo e ainda sobre as relações corpo-espírito e pessoa-ambiente. 
A história da medicina mostra que essas significações têm sido diferentes ao 
longo dos tempos, constituindo, pois, diferentes narrativas sobre os processos 
de saúde e doença. 
15 
 
 
 
Duas concepções têm marcado o percurso da medicina (Myers e 
Benson,1992). A concepção fisiológica, iniciada por Hipócrates, explica as 
origens das doenças a partir de um desequilíbrio entre as forças da natureza que 
estão dentro e fora da pessoa. Esta medicina, segundo Myers e Benson (1992), 
centra-se no paciente, como um todo, e no seu ambiente, evitando ligar a doença 
a perturbações de órgãos corporais particulares. 
A concepção ontológica, por seu lado, defende que as doenças são 
"entidades" exteriores ao organismo, que o invadem para se localizarem em 
várias das suas partes. Estas entidades não têm sempre o mesmo significado. 
Na medicina da Mesopotâmia e do Egito Antigo eram conotadas com processos 
mágico-religiosos ou com castigos resultantes de pecados cometidos pelos 
pacientes (Dubos,1980). 
Na medicina moderna, com vírus . A concepção ontológica tem estado 
frequentemente ligada a uma forma de medicina que dirige os seus esforços na 
classificação dos processos de doença, na elaboração de um diagnóstico exato, 
procurando identificar os órgãos corporais que estão perturbados e que 
provocam os sintomas. É uma concepção redutora que explica os processos de 
doença na base de órgãos específicos perturbados (Myers e Benson,1992). 
16 
 
 
Assume que a doença é uma coisa em si própria, sem relação com a 
personalidade, a constituição física ou o modo de vida do paciente (Dubos,1980). 
A história da medicina não se resume, contudo, a estas duas concepções. 
Ribeiro (1993) refere que se podem considerar quatro grandes períodos para 
descrever a evolução dos conceitos de saúde e de doença que se fez sentir ao 
longo do percurso histórico da humanidade: um primeiro, período pré-cartesiano, 
até ao século XVII; um período científico ou de desenvolvimento do modelo 
biomédico, que se começou a instalar com a implementação do pensamento 
científico e com a revolução industrial; a primeira revolução da saúde com o 
desenvolvimento da saúde pública, que começou a desenvolver-se no século 
XIX; finalmente, a segunda revolução da saúde, iniciada na década de 70. 
 
Período pré-cartesiano 
 
A fonte inspiradora da ciência médica ocidental localiza-se na tradição 
hipocrática, um sistema de pensamento e prática médicas que floresceu na 
Grécia Antiga, cerca de 400 anos A.C.. A Grécia Antiga constitui um período 
marcante pois está ligada a propostas de libertação da medicina das suas 
influências mágico-religiosas, estabelecendo, pois, uma ruptura em relação à 
medicina da Mesopotâmia e do Egito. Hipócrates, médico grego, foi quem deu 
expressão a essa revolução. Com efeito, defendeu um conjuntode princípios 
teóricos e metodológicos que lhe granjearam a classificação de "pai da 
medicina". 
De facto, Hipócrates, acompanhando o racionalismo e o naturalismo dos 
filósofos da época, defendeu que as doenças não são causadas por demónios 
ou por deuses, mas por causas naturais que obedecem a leis também naturais. 
Propôs, por isso, que os procedimentos terapêuticos se baseassem numa base 
racional, com o objetivo de corrigir os efeitos nocivos das forças naturais. Com 
ele, a medicina afastou-se do misticismo e do endeusamento e baseou-se na 
observação objetiva e no raciocínio dedutivo. 
17 
 
 
Considerou que o bem estar da pessoa estava sob a influência do seu 
ambiente, isto é, o ar, a água, os locais que frequentava e a alimentação. A saúde 
era a expressão de um equilíbrio harmonioso entre os humores corporais, os 
quais eram representados pelo sangue, pelas bílis negra e amarela e pela linfa 
ou fleuma. Estes quatro fluidos primários eram constantemente renovados pela 
comida que é ingerida e digerida. O sangue originava-se no coração, a bílis 
amarela, no fígado, a bílis negra, no baço e a fleuma, no cérebro. 
A doença podia resultar de um desequilíbrio destes quatro humores, 
devido à influência de forças exteriores, como é o caso das estações do ano. De 
facto, propôs a existência de uma relação direta entre os humores e os quatro 
elementos: o fogo, o ar, a terra e a água. Neste sentido, a fleuma, o humor frio e 
húmido, era mais evidente no inverno enquanto que a bílis amarela prevalecia 
no calor seco do verão. A saúde relacionava-se não apenas com os humores 
contidos no corpo humano, mas também com o resto do universo no qual estava 
incluído. Considerava-se que o ambiente e o estilo de vida da pessoa 
influenciavam o seu estado de saúde. É de salientar que na sua origem 
etimológica - em grego, em germânico, latino, judaico - saúde e doença não 
apresentam qualquer relação de sentido. 
A saúde significava mente sã em corpo são e só podia ser mantida se a 
pessoa seguisse um estilo de vida consonante com as leis naturais. Só assim 
seria possível assegurar um equilíbrio entre as forças do organismo e as do seu 
ambiente. Estas asserções representam um princípio básico da medicina 
hipocrática: a natureza tem um papel formativo, construtivo e curativo (Nuland, 
1988). O corpo humano tende a curar-se a si próprio. Apenas sob circunstâncias 
muito especiais as causas mórbidas podem sobrepor-se à tendência natural de 
restabelecer os ritmos e equilíbrios próprios da saúde (Noack,1987). Assim, no 
tratamento das doenças, o médico devia respeitar um princípio fundamental e 
imperativo: primum non nocere, isto é, primeiro, não fazer mal . 
Mas Hipócrates não se centrou apenas no paciente e no seu ambiente 
pois realçou ainda a importância da relação médico-doente e as suas 
consequências sobre o bem-estar deste. A este propósito referiu: "Alguns 
pacientes, embora conscientes de que o seu estado de saúde é precário, 
18 
 
 
recuperam devido simplesmente ao seu contentamento para com a humanidade 
do médico" (Nuland,1988,p.59). 
Talvez pela primeira vez na história da medicina e com Hipócrates se 
tenha chamado a atenção para a importância da qualidade da relação entre o 
médico e o paciente no processo de cura. A prática médica de então implicava 
a compreensão da natureza do ecossistema: o próprio médico era mais do que 
um técnico, era também filósofo, professor e sacerdote, o que facilitava a 
compreensão holística da relação doente-saúde. 
 
Desenvolvimento do modelo biomédico 
 
Os princípios metateóricos do modelo biomédico atual baseiam-se na 
orientação científica do séc. XVII, consistindo numa visão mecanicista e 
reducionista do Homem e da Natureza que surgiu quando filósofos como Galileu, 
Descartes, Newton, Bacon e outros conceberam a realidade do mundo como 
uma máquina. 
Newton imaginou o Universo a partir de um modelo mecânico. Os seus 
elementos são partículas materiais, objetos pequenos, sólidos e indestrutíveis, 
que se movem no espaço e no tempo. E a partir dos quais toda a matéria é feita. 
Na mecânica newtoniana, todos os acontecimentos físicos são reduzidos ao 
movimento dessas partículas materiais (Mayer,1988). Esse movimento é o 
resultado da força da gravidade, a qual é traduzida em equações matemáticas, 
que constituem a base da mecânica clássica. 
19 
 
 
 
O mundo é considerado como uma máquina e, à semelhança desta, 
formado por um conjunto de peças. Deste modo, para o compreender, basta 
utilizar o mesmo método que se utiliza para perceber uma máquina, isto é, 
desmonta-se e separam-se as peças. 
Esta concepção do mundo físico foi generalizada aos seres vivos 
(Mayer,1988). Assim, tal como se faz com as máquinas, estudam-se os seres 
vivos desarticulando as suas partes constituintes (os órgãos). E cada parte é 
estudada separadamente. Cada uma destas partes desempenha uma 
determinada função observável. O conjunto, que representa o organismo, é 
explicado pela soma das partes ou das propriedades. 
Nesta perspectiva, Descartes concebeu também o corpo humano como 
uma máquina, comparando um homem doente a um relógio avariado e um 
saudável a um relógio com bom funcionamento. 
A ideia de um mundo concebido à maneira de um modelo mecânico, e a 
utilização da metáfora do relógio para o caracterizar, constituem a metateoria a 
partir da qual as Ciências da Natureza se fundamentam. A natureza é vista como 
sendo exterior ao Homem e com uma existência objetiva e independente dele; 
constituída por peças que se movem segundo leis fixas. 
20 
 
 
Salientamos que esta visão mecanicista do Mundo, tendo sido 
acompanhada pelo médicos e fisiologistas mais célebres da época, fez com que, 
de facto , o corpo humano fosse conceitualizado como um grande engenho cujas 
peças se encaixam ordenadamente e segundo um processo racional. 
Em síntese, Galileu, Newton e Descartes enunciaram os princípios 
básicos da ciência, também conhecidos por Modelo Cartesiano ou Mecanicista 
(Engel,1977). Este sistema de pensamento defendia que o universo inteiro 
(incluindo o Homem) era uma máquina prodigiosa funcionando como um relógio, 
de acordo com as leis matemáticas. Para descobrir tais leis aplicava-se o método 
analítico e estudavam-se as partes componentes deste conjunto mecânico. O 
modelo biomédico tradicional baseia-se, em grande parte, numa visão cartesiana 
do mundo e considera que a doença consiste numa avaria temporária ou 
permanente do funcionamento de um componente ou da relação entre 
componentes. Curar a doença equivalia, nesta perspectiva, à reparação da 
máquina (Engel,1977; Noack,1987). 
O modelo biomédico respondeu às grandes questões de saúde que se 
manifestavam na época, definindo a teoria do germe. Esta, dentro do espírito 
cartesiano, postulava que um organismo patogénico específico estava associado 
a uma doença específica, fornecendo assim as bases conceptuais necessárias 
para combater as epidemias. O novo modelo, segundo Ribeiro (1993), permitiu 
enormes progressos na teoria e na investigação, reorientando a prática e a 
investigação médicas à volta de três critérios: 
a) a ênfase anterior, no princípio de que todos os sistemas corporais 
funcionavam como um todo, foi substituída pela tendência a reduzir os sistemas 
a pequenas partes, podendo cada uma delas ser considerada separadamente; 
b) simultaneamente, o indivíduo, com as suas características particulares 
e idiossincráticas, deixou de ser o centro da atenção médica, sendo substituído 
pelas características universais de cada doença; e 
c) finalmente, um forte materialismo substitui a tendência anterior de 
considerar significativos os fatores não ambientais (morais, sociais, 
comportamentais). 
21 
 
 
 
Primeira revolução da saúde 
O início da revolução industrial nos finais do século XVIII teve 
consequências nefastas para a saúde. Exemplos maciços dedesequilíbrio 
ecológico foram, por exemplo, as grandes epidemias decorrentes das mudanças 
sociais e das alterações do sistema de produção. Grande quantidade de pessoas 
migravam e aglomeravam-se nas grandes cidades, com fracas condições de 
salubridade e habitabilidade, facilitadoras da difusão de microorganismos 
causadores de grande morbilidade e mortalidade. A tuberculose foi uma das 
doenças mais conhecidas da época e a que mais vítimas provocou, tendo-se 
verificado o mesmo padrão de mortalidade elevada para outras doenças 
infecciosas, tais como: a pneumonia, o sarampo, a gripe, a escarlatina, a difteria 
e a varíola (entre outras). 
A primeira revolução da saúde foi um dos ramos do modelo biomédico 
que conduziu ao desenvolvimento das modernas medidas de saúde pública 
(Bolander,1998). Tais medidas foram essenciais para as mudanças dos padrões 
de saúde e doença do mundo desenvolvido de então, e foram suficientes até 
meados do presente século. 
O modelo biomédico, aplicado à saúde pública, desenvolveu-se, segundo 
Ribeiro (1997), devido ao reconhecimento de que: 
a) as doenças infecciosas eram difíceis senão impossíveis de curar e, uma 
vez instaladas no adulto, o seu tratamento e a sua cura eram dispendiosos; 
b) os indivíduos contraíam doenças infecciosas em contato com o meio 
ambiente físico e social que continha o agente patogénico; 
c) as doenças infecciosas não se contraíam a não ser que o organismo 
hospedeiro fornecesse um meio favorável ao desenvolvimento do agente 
infeccioso. 
E acrescenta. Para prevenir as doenças era necessário controlar os 
agentes patogénicos, o que foi feito, por exemplo, controlando a sua mobilidade 
através da construção de sistemas de esgotos e de distribuição de água potável 
22 
 
 
e da gestão de migrações, ou destruindo esses agentes, por exemplo, através 
da clorificação das águas de consumo, e finalmente, já bem dentro do presente 
século, produzindo vacinas. Quando essas medidas falhavam, intervinha a 
medicina curativa que, a partir de meados do século XX, encontrou nos 
antibióticos um auxiliar eficaz na destruição desses microorganismos. 
Os princípios do modelo biomédico definidos pela teoria do germe, que a 
princípio se referiam apenas aos microorganismos, estenderam-se depois ás 
toxinas, ao neoplasma, à desregulação endócrina, à deficiência nutricional, etc., 
caracterizando-se por considerar a existência de uma relação causal linear entre 
uma causa simples e uma doença (Noack,1987). Uma das evoluções para uma 
concepção mais atual passou pela aceitação de que a etiologia da doença é 
multicausal. 
O modelo biomédico teve tanto sucesso que, no final da década de 70, 
nos Estados Unidos, rareavam os indivíduos com menos de 75 anos, cuja morte 
fosse devida a doenças infecciosas (Ribeiro,1993). Contudo, o modelo 
biomédico negligencia a autonomia conceitual e as representações que as 
pessoas fazem sobre o seu estado de saúde. É o caso, por exemplo, das 
avaliações subjetivas sobre os sintomas, das interpretações ou das significações 
sobre as causas e as evoluções de uma determinada doença, da implementação 
e da modificação de estilos de vida ou da decisão em aderir às recomendações 
feitas pelo médico (Laderman,1987). E esta atividade conceitual tem uma 
influência marcante na evolução do estado de saúde. Com efeito, diversas 
investigações empíricas têm demonstrado que as significações pessoais estão 
na base do bem-estar psicológico e na facilitação dos processos de promoção 
da saúde, assim como nos de reabilitação (Antonovsky,1979; Aron e Aron,1987; 
Laderman,1987). 
Como seria de esperar, a omissão que o modelo biomédico faz da 
autonomia conceitual da pessoa é consistente com as definições de saúde e 
doença com ele conotadas: a saúde é concebida como sendo a ausência de 
doença e esta é conceitualizada considerando exclusivamente as perturbações 
que se processam na dimensão física da pessoa (Engel,1977). 
 
23 
 
 
Segunda revolução da saúde 
 
A expressão "segunda revolução da saúde" foi utilizado por Richmond, 
em 1979, no seu relatório sobre a saúde dos americanos, e propõe-se qualificar 
as mudanças cuja implementação é necessária para responder ás novas 
exigências de saúde. Globalmente, pode afirmar-se que o desenvolvimento do 
modelo biomédico se centrara na doença, que a primeira revolução da saúde se 
centrara na prevenção da doença, e que a segunda revolução da saúde se 
centra na saúde. 
Os aspectos mais radicais desta segunda revolução são: 
a) centrar-se na saúde ao invés de na doença; 
b) preconizar o retorno a uma perspectiva ecológica. 
Acreditara-se que, com a primeira revolução da saúde, os problemas de 
saúde estariam resolvidos. No entanto, a partir de meados do século XX, surge 
nova epidemia: uma epidemia comportamental (McIntyre,1994). Com efeito, 
constatou-se que, nos países desenvolvidos, as doenças que mais contribuíam 
para a mortalidade eram doenças com etiologia comportamental. 
Com base nesta evidência, a segunda revolução da saúde teria de se 
centrar numa nova concepção, em novos princípios: dado as novas epidemias 
não terem origem em organismos patogénicos, a teoria do germe deixou de ser 
aplicável. O equivalente ao germe, nesta epidemia, é o comportamento individual 
(Ribeiro,1993). A vacina, agora, teria de ser a modificação do comportamento, 
tomando este um sentido lato . 
Assim, esta constatação chama a atenção dos profissionais da saúde e 
da doença para a importância de alterar o estilo de vida da população. A 
modificação de alguns comportamentos, tais como, deixar de fumar, cuidar da 
alimentação, controlar o stress, praticar exercício ou atividade física 
regularmente, dormir um número de horas adequado, verificar periodicamente a 
saúde, permitiria reduzir drasticamente a mortalidade. 
24 
 
 
Além da mudança na etiologia da morbilidade e mortalidade, outros 
fatores contribuíram para a emergência da nova concepção de saúde. Ramos 
(1988) refere os seguintes: alterações demográficas, tais como, envelhecimento 
da população, diversificação da família, a que se podem acrescentar a 
mobilidade social dos indivíduos e as migrações; revolução tecnológica, que, 
aumentando as possibilidades de intervenção na doença, exigem mais e 
melhores especialistas aumentando os custos da assistência médica; 
aproximação dos serviços de saúde à comunidade. Pode-se, ainda, acrescentar 
o aumento do poder do consumidor que, tornando-se mais exigente e com mais 
capacidade crítica, força os políticos a serem mais sensíveis à opinião pública. 
 
Principais conceitos da segunda revolução da saúde 
 
Os conceitos da segunda revolução da saúde foram difundidos, primeiro 
por Marc Lalonde, depois por Julius Richmond e pela Organização Mundial da 
Saúde na declaração de Alma-Ata, em 1978. Os conceitos foram divulgados e 
implementados universalmente no documento "Metas da Saúde para Todos", 
com edição original de 1984 e tradução portuguesa do Ministério da Saúde, de 
1986. São conceitos particularmente importantes para os países desenvolvidos, 
onde os benefícios da primeira revolução da saúde já eram visíveis. 
Embora toda a filosofia deste novo modelo estabeleça uma ruptura com o 
modelo anterior, salientam-se dois conceitos centrais, específicos e inovadores: 
"promoção da saúde" e "estilo de vida". Estes conceitos encerram 
implicitamente, na sua definição, todos os princípios da segunda revolução da 
saúde. 
 
Promoção da saúde 
 
25 
 
 
 
A promoção da saúde é um conceito multidisciplinar de que têm sido 
produzidas inúmeras definições (Breslow,1987; Kaplan,1984; Noack,1987). 
A definição adoptada na carta de Otawa, em 1986, e que tem sido 
utilizada, é a seguinte: processo de "capacitar" (enabling) as pessoas para 
aumentarem o controlo sobre a sua saúde e para a melhorar. O Working Group 
on Concepts and Principles of Health Promotion (WGCPHP,1987) salientadois 
grandes objetivos principais para a promoção da saúde: 
1) melhorar a saúde; 
2) dominar (por parte do cidadão) o processo conducente à melhoria da 
saúde. 
Na análise da definição, Green e Raeburn (1990) consideram que a chave 
está na palavra "capacitar": esta palavra deriva do verbo "to enable " (no original) 
que significa "fornecer os meios e as oportunidades, tornar possível, prático, 
simples, e dar poder legal, capacidade ou autorização para". Consideram que 
significa devolver à população o poder em matéria de saúde, retirando-o ás 
instituições, aos dirigentes, aos profissionais e à tecnologia. O objetivo primordial 
da promoção da saúde no futuro poderia, assim, ser o de facilitar a transferência 
de recursos importantes na saúde, tais como: conhecimentos, técnicas, poder e 
dinheiro para a comunidade. 
26 
 
 
Estes mesmos autores explicam que a adopção de estratégias de 
promoção da saúde e dos princípios a ela subjacentes encerra um conflito 
potencial. Embora muitos profissionais e gestores da área da saúde afirmem 
defender a ideia de devolver mais poder à comunidade, na prática poucos estão 
dispostos a fazê-lo. A justificação destes profissionais é a de que eles é que 
"sabem melhor" o que fazer, podendo afirmar-se que esta constitui a filosofia 
dominante entre estes profissionais. 
Segundo Noack (1987), a promoção da saúde parece ter substituído o 
conceito de higiene e, sem ser sinónimo, sobrepõe-se parcialmente ao de 
prevenção de doença (Rosenstock,1987; Dean,1990). 
Rosenstock (1987) considera que a distinção entre prevenção das 
doenças e promoção da saúde tem três implicações distintas, que incluem: a) 
implicações acerca da atribuição de responsabilidade pela saúde; b) implicações 
ao nível da seleção dos alvos da intervenção para maximizar a saúde e; c) 
implicações para a ética da promoção da saúde. 
Finalmente, salientamos que a promoção da saúde surgiu, entre outras 
razões, porque trazia vantagens económicas diretas (menos gastos com a 
doença) e indiretas (mais dias de trabalho, mais energia no trabalho). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
Estilo de vida 
 
 
A noção de Estilo de Vida é um conceito antigo para a psicologia que foi 
adaptado pelo novo modelo de concepção da saúde próprio da Segunda 
Revolução da Saúde. Lalonde (1974) definiu Estilo de Vida como: "o agregado 
de decisões individuais que afetam a vida (do indivíduo) e sobre as quais tem 
algum controlo" (p.32). A Organização Mundial de saúde define estilo de vida 
como "conjunto de estruturas mediadoras que refletem uma totalidade de 
atividades, atitudes e valores sociais" (WHO,1986, p.43), ou como: "um 
aglomerado de padrões comportamentais, intimamente relacionados, que 
dependem das condições económicas e sociais, da educação, da idade e de 
muitos outros fatores" (WHO,1988, p.114). 
Ribeiro (1994) salienta que o Estilo de Vida tem sido interpretado desde 
uma forma ampla, até uma forma estrita. E acrescenta. Se, por exemplo, Lalonde 
o qualifica como padrões de decisões, o que subentende toda uma cadeia de 
cognições, expectativas, emoções e comportamentos, interligados com 
28 
 
 
antecedentes, consequentes e colaterais susceptíveis de os influenciar, 
McQueen (1987) reduzia-o a uma constelação de comportamentos conducentes 
a uma boa saúde. 
Este conjunto de definições reflete, assim, mudanças sofridas pelo 
conceito e os aperfeiçoamentos que lhe foram introduzidos nos 14 anos que 
separam a primeira da última. Refletem, igualmente, a variedade de perspectivas 
que lhes estão subjacentes, com um peso mais social e comunitário nas duas 
últimas definições e um peso mais individualista da primeira. 
 
Representações sociais da saúde e da doença 
 
Também no campo das representações, alguns autores têm investigado, 
num contexto psicossociológico, a forma pela qual as pessoas leigas em 
medicina têm representado a saúde e a doença ao longo dos tempos 
(Blaxter,1990; Cornwell,1984; Helman,1978; Herzlich,1973; Stacey,1988). Um 
dos estudos mais importantes foi efetuado em 1973, em França por Claudine 
Herzlich, que entrevistou 8000 pessoas da classe média que viviam em Paris e 
na região rural da Normandia. As significações leigas sobre o que significa ter 
saúde foram classificadas de acordo com três metáforas ou categorias: 
1) Saúde no vácuo. A saúde é concebida como ausência de doença; a 
pessoa não tem consciência do próprio corpo ou, simplesmente, não é 
aborrecida por sensações corporais. Há uma espécie de "silêncio corporal". 
2) Reserva de saúde. A saúde é vista como um recurso ou um 
investimento em vez de um estado. Caracteriza-se por robustez ou força física e 
resistência a ataques externos, a estados de fadiga e de doença. A saúde é 
qualquer coisa que "possuímos" e que nos permite trabalhar e fazer a nossa vida 
e defender-nos contra a doença ou recuperar dela (Herzlich,1973). É uma 
característica pessoal, pois a pessoa pode sentir ter mais ou menos desta 
"reserva" . Algumas pessoas referiram que a sua "reserva" de saúde é herdada 
da família, outras, que foi a consequência de uma boa infância. O nível da 
"reserva" de saúde é deduzido, por exemplo, da comparação com outras 
29 
 
 
pessoas ("sou mais saudável do que a minha mulher, ela está sempre a apanhar 
constipações"). 
3) Equilíbrio. Refere-se, segundo Herzlich (1973), à noção de "saúde real" 
ou saúde no seu sentido mais elevado; transporta consigo a noção de bem-estar 
positivo ou "bem-estar ao mais alto nível". Um substrato de harmonia e equilíbrio 
essencial na vida espiritual, psicológica e corporal - do qual deriva um sentimento 
funcional de confiança, vigília, liberdade, energia e resistência . Este equilíbrio é 
algo que podemos perder ou voltar a ganhar e, enquanto que a "reserva de 
saúde" se caracteriza por uma presença (de saúde), e a "saúde-no-vácuo" por 
uma ausência (de doença), o "equilíbrio" é contingente aos eventos do dia-a-dia. 
Quando as coisas correm bem, o equilíbrio existe e pode comprovar-se através, 
por exemplo, "das boas cores, e sentirmo-nos bem quando estamos com os 
amigos". 
Relativamente às concepções leigas sobre o que significa ter doença, 
salientamos que também estas foram classificadas por Herzlich (1973) em três 
metáforas ou categorias: 
1) Doença como destruidora. Refere-se a concepções de pessoas 
particularmente ativas ou envolvidas na sociedade e para as quais qualquer 
interferência com o seu papel familiar ou profissional constitui um problema 
importante. Medida em que a doença pode limitar a capacidade pessoal para 
assumir as responsabilidades e a concomitante perda de posição social e 
isolamento social. A pessoa sente que tem responsabilidades importantes 
perante os outros, e depender de outros pode fazê-la sentir-se "menos pessoa". 
Estas pessoas salientam, pois, os aspectos positivos da saúde, nomeadamente 
porque lhes permite manter o seu papel sócio profissional. A sua atitude de 
confronto face à doença é paradoxal, quer tentando assumir o controlo 
(negando-a ou comportando-se como se nada tivesse acontecido) quer 
sentindo-se impotente ("desistindo de lutar"). 
2) Doença como libertadora. Concepção de doença como libertadora das 
responsabilidades ou das pressões que a vida coloca: "Quando estou muito 
cansado, quem me dera ficar doente... a doença é uma espécie de descanso, 
que nos pode libertar das preocupações do dia-a-dia..." (Herzlich,1973,p.114). 
30 
 
 
A doença traz benefícios e privilégios, incluindo os cuidados e a simpatia 
dos outros. A doença traduz, pois, um ganho secundário. 
3) Doença como desafio. Doença concebida como um desafio ou algo 
com o qual devemos lutar com todos os nossos poderes e recursos. É necessário 
muita energia e empenharmos toda a nossa capacidade no sentido de ficarmos 
melhor. Não nos devemos preocupar com os nossos deveres mas concentrarmo-
nos na nossa recuperação.As pessoas com esta concepção da doença 
acreditam nos poderes da mente sobre o corpo. 
Apesar de estas categorias representarem descrições diferentes de 
concepções de processos de doença, Herzlich (1973) verificou que apenas 
algumas pessoas podiam ser classificadas claramente numa determinada 
categoria. A maior parte das pessoas "flutuava" pelas três, verbalizando 
concepções com conteúdos mais ou menos misturados das várias categorias. 
Como síntese geral de outros estudos realizados neste âmbito é possível 
referir que: 
1) as concepções das pessoas leigas em medicina estão intimamente 
ligadas a significações mais latas sobre si próprias, sobre o mundo e a vida e 
imbuídas em sistemas culturais locais; 
2) as pessoas frequentemente constroem concepções para os processos 
de saúde, que são bastante diferentes daquelas que constroem para os 
processos de doença e, 
3) as concepções leigas coexistem e competem, no sentido de 
concepções alternativas às significações médicas ou dos profissionais de saúde. 
 
31 
 
 
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