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História-Moderna

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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 
FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA MODERNA 
 
 
 
 
 
 
ESPÍRITO SANTO
 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA ............................................................................................. 4 
2. IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII ......................................................................................................... 5 
2.1 As condições históricas ........................................................................................................................ 5 
2.2 O humanismo renascentista do sec. XV .............................................................................................. 5 
2.3 A descoberta do Novo Mundo ................................................................................................................ 6 
2.4 A Reforma Protestante .............................................................................................................................. 7 
3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA MODERNA .................................................................................................... 7 
4. DESENVOLVIMENTO DO MERCANTILISMO E RUPTURA DA ECONOMIA FEUDAL ................................... 8 
4.1 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa .......................................................................... 9 
5. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO......................................................................................................... 9 
6. RACIONALISMO ..................................................................................................................................... 10 
7. EMPIRISMO............................................................................................................................................ 11 
8. ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS ....................................................... 13 
9. A IDADE CONTEMPORÂNEA .................................................................................................................. 14 
10. IDEALISMO ............................................................................................................................................. 15 
10.1 Definição de idealismo ...................................................................................................................... 15 
10.2 Ideias básicas do Idealismo ................................................................................................................... 15 
11. RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA .......................................................................................... 17 
12. DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO. .................................................................................................. 18 
13. UTILITARISMO........................................................................................................................................ 21 
13.1 Princípio da Utilidade ............................................................................................................................ 22 
13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais .............................................................................. 23 
13.3 Princípios fundamentais do utilitarismo ........................................................................................... 25 
14. EXISTENCIALISMO .................................................................................................................................. 27 
14.1 Origem ................................................................................................................................................... 28 
14.2 História do Existencialismo ................................................................................................................ 28 
14.3 Temáticas ........................................................................................................................................... 29 
14.4 Relação com a religião ....................................................................................................................... 29 
14.5 Fé e existencialismo ........................................................................................................................... 29 
 
 
3 
 
14.6 A existência precede e governa a essência ....................................................................................... 30 
14.7 Liberdade ........................................................................................................................................... 31 
14.8 O Indivíduo versus a Sociedade ......................................................................................................... 32 
14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo ................................................................................... 32 
15. LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................................... 33 
16. BILIOGRAFIA BÁSICA .............................................................................................................................. 52 
17. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 53 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA 
 
 
 
 
Fonte: filosofiacienciaevida.uol.com.br 
 
Filosofia Medieval Cristã constituiu-se do pensamento cristão e da ciência antiga. A 
ciência antiga tinha como base o dogmatismo: era especulativa e partia de interpretações 
da Bíblia. A ciência antiga era baseada na lógica e na demonstração de verdade, sem 
considerar a observação e a experiência. É o caso da teoria geocêntrica, ou seja, a 
teoria que postulava que a terra é o centro do universo, vigorava há quase vinte 
séculos e constituía a maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao 
mundo. 
A concepção medieval cristã via o homem como é o ser supremo da criação divina e 
a terra era o centro do universo. A teoria de que a terra era o centro do mundo, 
geocentrismo, era uma explicação que justificava tal visão. A ciência antiga era um corpo 
de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, que não admitiam erros, 
mudanças ou crítica. 
O novo período – Idade Moderna - vai significar uma ruptura com essa concepção 
de mundo dogmática, que não permitia a reflexão e a crítica, por isso, mais uma vez 
vamos abordar sobre a filosofia moderna, enfatizando sobre a sua importância para o 
desenvolvimento do conhecimento humano. 
 
 
http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/87/artigo299834-3.asp
 
 
5 
 
 
2. IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII 
 
Após a Idade Média, há um período de transição entre o século XV e XVI para a 
Idade Moderna, que significou ruptura com a tradição anterior cristã, fundamentada em 
Deus, e passou-se a valorizar o homem. É o período chamado Humanismo 
Renascentista: artes plásticas, valorização do homem - liberdade e criatividade. É o 
momento em que se rompe com a visão sagrada e teológica na arte, no pensamento, na 
política, na literatura. Os pensadores desse período passam a valorizar o saber dos gregos 
antigos. Valoriza-se o homem e rompe-se com o pensamento teocêntrico, que considera 
Deus como o centro de tudo, e a Ciência Antiga. 
A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, rejeitando 
a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e Igreja, em favor da 
recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza humana. Surge um 
novo estilo com nova temática. 
Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momento de 
novos pensadores e artistas,tais como Leonardo da Vince, William Shakespeare, Rafael, 
Maquiavel, Michelangelo, Montaigne. 
2.1 As condições históricas 
 
Surge uma nova maneira de pensar e ver o mundo, resultado das transformações 
históricas que ocorreram na Europa. Entre os fatores históricos, pode-se destacar: 
 O humanismo renascentista do sec. XV 
 A descoberta do Novo Mundo (sec. XV) 
 A Reforma Protestante do sec. XVI 
 A revolução científica do sec. XVII 
 Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal 
 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa. 
2.2 O humanismo renascentista do sec. XV 
Nasceu na península itálica, sendo um período de transição entre a Idade Média e a 
Moderna. Rompeu com a filosofia cristã da escolástica medieval e, valoriza o saber dos 
gregos antigos, retomando a concepção do humanismo. O período medieval, anterior, foi 
 
 
6 
 
marcado por uma forte visão hierárquica e religiosa de mundo, em que a arte está voltada 
para o sagrado, filosofia está vinculada à teologia e à problemática religiosa. 
O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes 
novamente, e não apenas as o mundo divino. Nas artes predomina os temas pagãos, 
afastados da temática religiosa. É a arte voltada para o homem comum, não mais reis e 
santos. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana. 
 
 
Fonte: https://www.google.com.br 
 
Thomas Morus, em a Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o autoritarismo 
dos reis e da Igreja, favorecendo a razão e a virtude natural. Maquiavel, autor escreveu O 
Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz uma análise do poder 
como fato político, independente das questões morais. 
2.3 A descoberta do Novo Mundo 
 
Outro fator importante que levou a mudança do pensamento moderno foi à 
descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia antiga, o 
desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de conhecimento 
de outros povos e culturas. Muita coisa precisava ser reformulada. 
A ciência antiga perde a autoridade é questionada, pois nada explica sobre a nova 
realidade e suas narrativas. Acreditava que a “terra era plana”, desconhecem os novos 
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjpp5GOis7MAhWFUJAKHam-ClIQjhwIBQ&url=http%3A%2F%2Fnovahistorianet.blogspot.com%2F2009%2F01%2Fo-renascimento-cultural.html&bvm=bv.121421273,d.Y2I&psig=AFQjCNFMkH8kLvZqaWrj5PyqdfRJmAq12A&ust=1462920605858991
 
 
7 
 
habitantes dessas terras descobertas, sua natureza, sua origem, sua cultura, tão distintas 
da europeia. 
2.4 A Reforma Protestante 
 
Martin Lutero contesta a autoridade da Igreja marcada pela corrupção e passa a 
valorizar a consciência individual de buscar a própria fé, sem ser pela imposição das 
verdades dogmáticas. Rompe com Igreja Católica e funda a Igreja protestante. 
Essa nova igreja propõe e representa, assim, a defesa da liberdade individual e da 
consciência em lugar da certeza, valorizando a ideia de que o indivíduo é capaz de 
encontrar sua própria verdade religiosa. 
3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA MODERNA 
 
Outro fator essencial desse processo de transformação é a revolução científica que 
significou o ponto de partida para a ciência nos moldes que conhecemos hoje. Nicolau 
Copérnico no século XVI vai defender matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, 
rompendo com o sistema geocêntrico de Ptolomeu (sec.II) e inspirado em Aristóteles. 
A teoria do geocentrismo vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela qual o 
homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A ciência moderna surge quando se 
torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão antiga que partia de 
princípios estabelecidos e dogmáticos. 
É um processo de transição e não uma ruptura radical. Ao longo desse processo 
surgem Galileu e Isaac Newton, entre outros, que vão transformar a visão científica do 
século XVII seguinte. 
O rompimento com a ciência antiga revelou uma concepção de distinto do universo 
antigo, que é fechado, finito e geocêntrico. A nova ciência propõe o modelo 
heliocêntrico e o universo é infinito. A ciência é ativa valoriza a observação e o método 
experimental, une ciência e técnica. A ciência antiga é contemplativa, separa ciência e 
técnica. 
No século XVII a Filosofia e a Ciência se separam. Galileu, usando um telescópio, 
demonstra o modelo de desenvolvido por Copérnico. Vai ser interpelado pela Igreja. Entre 
os principais pensadores daquele momento, destacam-se: 
_ Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a concepção 
medieval cristã de que o homem é ser supremo da criação divina e que 
 
 
8 
 
por isso a terra é o centro do universo. 
_ Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção de universo 
infinito. É condenado e morre queimado vivo na fogueira. 
_ Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o aperfeiçoamento do 
telescópio, e com uma nova postura metodológica de investigação científica: observação, 
experimentação, uso da linguagem matemática. Por condenar os dogmas tradicionais da 
Igreja, também foi condenado pela Inquisição, mas optou por viver e seguiu fazendo suas 
pesquisas clandestinamente. 
A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito 
crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na ciência da 
natureza. 
4. DESENVOLVIMENTO DO MERCANTILISMO E RUPTURA DA ECONOMIA 
FEUDAL 
 
 
Fonte: www.colegioweb.com.br 
 
O mercantilismo antecede ao desenvolvimento da indústria e trouxe novas 
necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza. 
 
 
 
9 
 
4.1 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa 
Surgimento dos grandes centros urbanos leva a novos valores e necessidades. E a 
invenção da Imprensa permite que as ideias possam ser publicadas e difundidas. 
 
5. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
 
 
Fonte: www.gedai.com.br 
 
A Idade Moderna é um período é marcado por grandes transformações. Estas 
transformações e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar 
os critérios e os métodos usados para aquisição do conhecimento verdadeiro da realidade. 
Como podemos conhecer? Quais os fundamentos do conhecimento? O que é 
conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A 
Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a 
supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de conceber 
e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método experimental e a 
possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, que deu origem à ciência 
moderna. 
A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às vezes 
complementares, às vezes antagônica. Surgem o racionalismo e o empirismo. O 
racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia moderna para 
conhecer a realidade. 
http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/ufpr-debate-produ%C3%A7%C3%A3o-do-conhecimento-direitos-autorais-e-o-pl%C3%A1gio-acad%C3%AAmico
 
 
10 
 
O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A Filosofia 
se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos 
seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para assim poder 
sistematizá-las. 
A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, 
psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e precisão dos 
pensamentos e de palavras. 
A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta 
e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as ideias. 
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosseconsiderada oposta a quatro outras atitudes mentais: 
 Ao conhecimento ilusório 
 Às emoções, aos sentimentos, às paixões, 
 À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina Ao 
êxtase místico 
A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão 
para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande 
Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Descarte, 
matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o matemático, 
por ser o exemplo de conhecimento integral racional. 
 
6. RACIONALISMO 
 
O racionalismo sustenta que há um tipo de conhecimento que surge diretamente da 
razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por 
um conhecimento que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. 
O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não são 
derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento e 
desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía um 
corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, 
mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que 
expliquem o funcionamento da realidade. 
 
 
 
11 
 
 
 
Fonte: https://www.google.com.br 
O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, introduz 
a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São esses princípios 
da ciência moderna que encontramos hoje. 
Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza 
(1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831). 
 
7. EMPIRISMO 
 
Fonte: felipepimenta.com 
 
 
 
12 
 
O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percepção do 
mundo externo e da nossa capacidade mental, valorizando a experiência sensível e 
concreta como fonte do conhecimento e da investigação. Segundo os empiristas, o 
conhecimento da razão, da verdade e das ideias racionais é importante, mas desde que 
estejam ligados à experiência, pois as ideias são adquiridas ao longo da vida e mediante o 
exercício da experiência sensorial e da reflexão. 
O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na 
verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução 
para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes 
se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-la, buscando resultados 
práticos. 
Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas Hobbes e 
Hohn Stuart Mill. 
 
Francis Bacon 
Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o 
desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a 
natureza. 
John Locke 
Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco 
sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas ao longo da 
vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Defendeu que a 
experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, 
onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros 
aprendem e conquistam experiência. 
 
PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são 
pensamentos distintos, embora exista um elemento em 
comum: a preocupação com o entendimento humano. 
 
 
 
 
 
 
13 
 
8. ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS 
 
 Esses filósofos com seus pensamentos contribuíram para que a humanidade 
construísse novos conhecimentos. 
 
Galileu Galilei 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
Nasceu na Itália e é considerado o fundador da física moderna. Defendeu as 
explicações do universo a partir da teoria heliocêntrica e rejeitava a física de Aristóteles, 
adotadas como verdade absoluta pelo cristianismo. Por contrariar essa visão tradicional foi 
considerado herege. Questionava a Bíblia, sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e 
condenado a fogueira ou a renegar suas concepções científicas. Optou por se retratar, 
mas continuou fiel às ideias e publicou clandestinamente uma obra que contrariava os 
dogmas cristãos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
Isaac Newton 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.brighthub.com 
 
Nasceu na Inglaterra, físico e matemático, continuou à revolução científica que deu 
origem à física clássica. Fala de um universo ordenado, como uma grande máquina. Além 
de física, matemática, filosofia e astronomia, estudou também alquimia, astrologia, cabala, 
magia e teologia, e era um grande conhecedor da Bíblia. Considerava que todos esses 
campos do saber poderiam contribuir para o estudo dos fenômenos naturais. 
Suas investigações experimentais, acompanhadas de rigorosa descrição 
matemática, constituíram-se modelo de uma metodologia de investigação para as ciências 
nos séculos seguintes. 
 
Leitura Recomendada: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena 
Pires. Filosofando. São Paulo, Moderna, 2003. 
 
 
9. A IDADE CONTEMPORÂNEA 
 
A Idade contemporânea (ou pós-moderna) é o período que se encontra no final do 
século XIX até os dias de hoje. Caracteriza-se por uma visão crítica frente a moral, à 
religião e a ciência. Assim, os filósofos pós-modernos procuram criticar as bases morais da 
sociedade ocidental, questionar o cristianismo e os abusos da Ciência. Há, também, uma 
 
 
15 
 
crítica especialmente forte quanto à Política, que sofreu tantas reviravoltas nesse período 
no Ocidente. 
 Uma das correntes filosóficas dessa época é o Idealismo. Explicaremos sobre essa 
abaixo: 
 
10. IDEALISMO 
 
O Idealismo é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da 
modernidade, uma vez que a posição central da subjetividade é fundamental na 
modernidade. Seu oposto é o materialismo. 
Tendo suas origens a partir da revolução filosófica iniciada por Descartes, associada 
a Kant até Hegel, que seria talvez o último grande idealista da modernidade. Muitos, ainda, 
acreditam que a teoria das ideias de Platão é historicamente a primeira dos idealismos, em 
que a verdadeira realidade está no mundo das ideias, das formas inteligíveis, acessíveis 
apenas à razão. 
 
10.1 Definição de idealismo 
 
É muito difícil resumir o pensamento idealista, uma vez que há divergências de 
perspectivas teóricas entre os filósofos idealistas. De todo modo, podemos considerar o 
primado do Eu subjetivo como central em todo idealismo, o que não significa 
necessariamente reduzir a realidade ao pensamento. Assim, na filosofia idealista, o 
postulado básico é que Eu sou Eu, no sentido de que o Eu é objeto para mim (Eu). Ou 
seja, a velha oposição entre sujeito e objeto se revela no idealismo como incidente no 
interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu). 
 
 
10.2 Ideias básicas do Idealismo 
 
1. Qualquer teoria filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode ser 
compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva. Seus 
opostos seriam representados pelo realismo ('na filosofia moderna') e materialismo; 
 
 
16 
 
1.1 No sentido ontológico, doutrina filosófica, cujo exemplo mais conhecido é o platonismo, 
segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente espiritual, sendo a 
matéria uma manifestação ilusória, aparente, incompleta, ou mera imitação imperfeita de 
uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e intangíveis; 
1.2. No sentido epistemológico, tal como ocorre no kantismo, teoria que considera o 
sentido e a inteligibilidade de um objeto de conhecimento dependente do sujeito que o 
compreende, o que torna a realidade cognoscível heterônoma, carente de autossuficiência, 
enecessariamente redutível aos termos ou formas ideais que caracterizam a subjetividade 
humana; 
1.3 No âmbito prático, cujo exemplo mais notório é o da ética kantiana, doutrina que supõe 
o caráter fundamental dos ideais de conduta como guias da ação humana, a despeito de 
uma possível ausência de exeqüibilidade integral ou verificabilidade empírica em tais 
prescrições morais. 
2 Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por 
considerações práticas; 
3 Teoria ou prática que valoriza mais a imaginação do que a cópia fiel da natureza. Seu 
oposto seria o realismo. 
 
Glossário 
 
Idealismo absoluto: Doutrina idealista inerente ao hegelianismo, caracterizada pela 
suposição de que a única realidade plena e concreta é de natureza espiritual, sendo a 
compreensão materialística ou sensível dos objetos um estágio pouco evoluído e 
superável no paulatino desenvolvimento cognitivo da subjetividade humana. 
 
Idealismo dogmático: Idealismo, especialmente o berkelianismo, que se caracteriza por 
negar a existência dos objetos exteriores à subjetividade humana [Termo cunhado pelo 
filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para designar uma orientação idealista com a 
qual não concorda.]. Seu oposto seria o idealismo transcendental. 
 
Idealismo imaterialista: Idealismo defendido por Berkeley (1685-1753) que, partindo de 
uma perspectiva empirista, na qual a realidade se confunde com aquilo que dela se 
percebe, conclui que os objetos materiais reduzem-se a ideias na mente de Deus e dos 
seres humanos; berkelianismo, imaterialismo. 
 
 
17 
 
 
Idealismo transcendental (também chamado formal ou crítico): Doutrina kantiana, 
segundo a qual os fenômenos da realidade objetiva, por serem incapazes de se mostrar 
aos homens exatamente tais como são, não aparecem como coisas-em-si, mas como 
representações subjetivas construídas pelas faculdades humanas de cognição. Seu oposto 
seria o idealismo dogmático. 
 
11. RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
Uma personalidade dominante da história intelectual ocidental, René Descartes foi 
um filósofo, fisiologista e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, em La 
Haye, na província de Touraine. Ele foi um contemporâneo de Galileu e Pascal e, portanto 
trabalhou sob as mesmas influências religiosas repressoras da Inquisição. 
Cedo em sua vida, pouco após ter se alistado no exército, em 1617, Descartes 
descobriu que tinha talento para matemática, de modo que ele passou a maior parte de 
seus anos militares e subsequentes (ele pediu demissão quatro anos mais tarde) 
estudando matemática pura, especialmente geometria analítica, que se tornou o campo ao 
qual fez suas maiores contribuições. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, mas foi 
persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, país que estava, então, no auge do seu 
poder. Ali ele morou e trabalhou pelos próximos 20 anos, devotando seu tempo e esforços 
http://www.google.com.br/imgres?q=ren%C3%A9+descartes&hl=pt-BR&biw=1366&bih=673&tbm=isch&tbnid=3LlhfY6vM5QB_M:&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes&docid=oKdNb6-8KwhofM&imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg/190px-Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg&w=190&h=233&ei=T_LsT_SYC6Pz0gGk9onnDQ&zoom=1&iact=hc&vpx=193&vpy=188&dur=186&hovh=186&hovw=152&tx=85&ty=115&sig=102490247769462068140&page=1&tbnh=135&tbnw=109&start=0&ndsp=24&ved=1t:429,r:0,s:0,i:86
 
 
18 
 
ao estudo da matemática e filosofia, na perseguição da verdade. Em 1649, foi convidado 
para ser professor da Rainha Cristina da Suécia, mudando-se para Estocolmo, mas morreu 
poucos meses após chegar, de pneumonia aguda, em 11 de fevereiro de 1650. 
Os trabalhos de Descartes em filosofia e ciência foram publicados em cinco livros:
 Le Monde (O Mundo), uma tentativa de descrever o universo físico, o Discours de la 
Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans Les Sciences 
(Discurso sobre o Método de Bem Conduzir sua Razão e Procurar a Verdade nas 
Ciências), seu trabalho mais importante; Meditationes, um sumário de suas ideias 
filosóficas em epistemologia, Principia Philosophiae (Princípios da Filosofia), cuja maior 
parte foi devotada à física, especialmente as leis do movimento, e Les Passions de L'ame 
(As Paixões da Alma), sua mais importante contribuição à fisiologia e à psicologia. As 
contribuições de Descartes à física foram feitas principalmente na óptica, mas ele escreveu 
extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, cérebro e mente. Ele não foi 
um experimentalista, no entanto. 
O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumida por sua famosa frase em latim: 
Cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ele foi o primeiro a levantar a doutrina do dualismo 
corpo/mente, a propor uma sede física para a mente, e a maneira como ela se inter-
relaciona com o corpo. Portanto, ele discutiu temas importantes para as neurociências, que 
vieram a dominar os quatro séculos seguintes, tais como a ação voluntária e involuntária, 
os reflexos, consciência, pensamento, emoções, e assim por diante. 
 
12. DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO. 
 
 
Fonte:pt.slideshare.net 
 
 
19 
 
 
Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi 
"inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou". Não se submeteu a nenhuma 
verdade prévia. Em virtude do poder de seu livre-arbítrio, criou as verdades. Eis por que 
Deus quer que a soma dos ângulos de um triângulo seja igual a dois ângulos retos. 
Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante (é a 
"criação contínua"). O tempo é descontínuo e a natureza não tem nenhum poder próprio. 
As leis da natureza só são o que são a cada momento, em virtude da vontade do criador. É 
importante compreender que essa transcendência radical de Deus possui duas 
consequências fundamentais. O livre-arbítrio humano e a independência da ciência. 
1. O homem não é uma parte de Deus. A transcendência do criador afasta qualquer 
panteísmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador (concebo Deus porque 
descubro em mim a marca de sua infinitude, mas não o compreendo), recebo, assim, uma 
autonomia que será perdida no sistema panteísta de Spinoza. O homem é livre, pode dizer 
sim ou não às ordens de Deus. É certo que, na Quarta Meditação, Descartes fala da 
liberdade esclarecida, dessa liberdade que não pode tratar da verdade ou do bem, dessa 
liberdade que é antes um estado de libertação do que uma decisão pura, situada além de 
todas as razões. Mas nos Princípios e sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio 
de 1644 e 9 de fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbítrio, o poder de 
recusar a Verdade e o Bem até mesmo na presença da evidência que se manifesta. Esses 
textos esclarecem a teoria do juízo presente na Quarta meditação. O entendimento 
concebe a verdade e é a vontade que dá as costas a ou afirma essa verdade. Deus propõe 
e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus não é o 
culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou eu que 
peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado. 
 
2. Do mesmo modo, a transcendência de Deus vai tornar possível uma ciência puramente 
racional e mecanicista da natureza. 
a) A natureza, segundo Descartes, não possui dinamismo próprio. Todo dinamismo 
pertence ao criador. Na medida em que a natureza é despojada de toda profundidade 
metafísica, Descartes pode eliminar as noções aristotélicas e medievais de forma, alma, 
ato e potência. Toda finalidade desaparece e a natureza é reduzida a um mecanicismo 
inteiramente transparente para a linguagem matemática. A natureza nada tem de divino, é 
um objeto criado, situado no mesmo plano da inteligência humana, e, por conseguinte,20 
 
inteiramente entregue à sua exploração. Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeição de 
todo naturalismo pagão (a natureza não é uma deusa) e na fundamentação metafísica do 
racionalismo científico. 
b) Nem tudo tem o mesmo valor na obra científica de Descartes. Se sua ótica e suas 
considerações sobre a expressão algébrica das curvas (ele é, juntamente com Fermat, o 
inventor da geometria analítica) constituem incontestável contribuição científica, sua física 
(dada, aliás, mais como uma possibilidade racional do que como a verdade certa) não 
passa de um romance. Mas o espírito dessa física e da fisiologia cartesiana - que não 
passa de um capítulo da física - nada mais é do que o espírito do mecanicismo. Quando 
Descartes declara que os animais são máquinas, ele coloca, em princípio, que é possível 
explicar as funções fisiológicas por intermédio de mecanismos semelhantes àqueles que 
fazem mover os autômatos que vemos "nos jardins de nossos reis". O detalhe das 
explicações não passa de um sonho. Mas a direção tomada é a ciência moderna. Para 
Descartes, o mundo físico não possui mistérios. As coisas se determinam reciprocamente 
(leis do choque), por contato direto, num espaço em que não existe o vazio. 
 
O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL 
 
1. - No Discurso sobre o Método, Descartes adota uma moral provisória - pois a ação não 
pode esperar que a filosofia cartesiana engendrasse uma nova moral. Recordemos seus 
três preceitos: 
a) Submeter-se aos usos e costumes de seu país. 
b) Antes mudar os próprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si próprio do que 
à fortuna. 
c) Ser sempre firme e resoluto em suas ações; saber decidir-se mesmo na ausência de 
toda evidência, à semelhança do viajante perdido na floresta que, ao invés de ficar fazendo 
voltas, adota uma direção qualquer e nela se mantém! (O cartesianismo, antes de ser uma 
filosofia da inteligência, é uma filosofia da vontade). 
2. - É certo que a moral definitiva de Descartes não apresenta uma unidade perfeita. 
Influências estoicas, epicuristas e cristãs estão presentes nela. Mas, na realidade, essa 
complexidade reflete a própria complexidade da condição humana. No plano das ideias 
claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substâncias, alma e corpo: a 
essência da alma é pensar; a do corpo é ser um objeto no espaço. E no entanto, o 
pensamento está preso a esse fragmento de extensão. A alma age sobre o corpo e este 
 
 
21 
 
age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicação da alma ao corpo é a glândula pineal, 
isto é, a epífise.) Mas isso não esclarece a união da alma e do corpo, que é um fato de 
experiência, puramente vivido e ininteligível. 
Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial, 
enquanto espírito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume aspectos 
diferentes: 
a) Consideremos o homem enquanto espírito, enquanto liberdade: o valor supremo é a 
generosidade. "A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime, no 
ponto máximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na 
consciência de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposição de 
suas vontades... e em parte no sentimento de uma firme e constante resolução de bem 
usá-la, isto é, de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas as coisas que 
julgar melhores, o que é seguir a virtude perfeitamente". 
 
b) Se considerarmos o homem enquanto espírito unido a um corpo, somos obrigados a 
levar em conta as paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Paixão é, para 
Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta, acha 
que devemos antes dominá-las do que desenvolvê-las. Isso porque ele se coloca do ponto 
de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligações harmoniosas entre os 
espíritos animais e os pensamentos humanos são altamente desejáveis. A moral surge, 
então, como uma técnica de felicidade e, nessa técnica, a medicina desempenha 
importante papel. A moral surge aqui como uma aplicação direta ao mecanicismo 
cartesiano. 
13. UTILITARISMO 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
 
22 
 
Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) 
de forma a aperfeiçoar o bem-estar do conjunto dos seres envolvidos. O utilitarismo é 
então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) 
unicamente em função de suas consequências. 
Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de 
forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). 
Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, 
insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única 
pessoa. 
Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill 
(1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e o aplicaram a questões 
concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, 
emancipação feminina, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
 
Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no qual o 
que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco exercido à 
coletividade, ou seja, quanto maior o benefício coletivo, tanto melhor a decisão ou ação. 
 
13.1 Princípio da Utilidade 
 
 
 
23 
 
 
 
Fonte:pt.wikipedia.org 
John Stuart Mill foi um dos filósofos que se debruçaram sobre o princípio da 
utilidade Bentham expõe o conceito central da utilidade no primeiro capítulo do livro 
Introduction to the Principles of Morals and Legislation (―Introdução aos princípios da 
moral e legislação‖), da seguinte forma: 
― Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, qualquer 
que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de aumentar ou 
reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a 
tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as 
vantagens, etc. “O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de 
modo de vida com um fim imediato". 
 
13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais 
 
O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade pode e deve ser 
aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio 
econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários. O Utilitarismo é um tipo de ética 
normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e 
XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta 
se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, 
considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos os 
afetados por ela. 
 
 
24 
 
O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a ideia de que o indivíduo deva perseguir 
seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria 
ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente 
das consequências que eles possam ter. 
O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de 
bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o 
Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no 
indivíduo. 
Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento 
utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus 
seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard 
Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma 
filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, comsua teoria do "sentido 
interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele 
cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o 
maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para 
cálculo da melhor consequência possível. David Hume tentou analisar a origem das 
virtudes em termos de sua contribuição útil. 
O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de 
vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso 
por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de 
meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi 
posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvétius. 
Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo 
estudioso da Bíblia que argumentava que fazer a vontade de Deus era o único critério de 
virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem 
promovesse a felicidade humana. 
Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos 
iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no 
prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da 
ação. 
À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". 
Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa 
 
 
25 
 
somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse 
na boa vontade e opinião favorável dos outros. 
Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior 
número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o 
legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade 
de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal-
intencionados, o legislador seria prejudicial para um homem que causasse danos ao seu 
vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles 
of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, 
foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal. 
Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o economista 
David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de 
James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras 
propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram 
essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como também a liberdade de 
expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não 
afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine 
(1861), é citado como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda 
a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o 
comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social. 
 
13.3 Princípios fundamentais do utilitarismo 
 
Cinco princípios fundamentais são comuns a todas as versões do utilitarismo: 
 Princípio do bem-estar (the greatest happiness principle em inglês) – O ―bem é 
definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda ação 
moral se constitui pelo bem-estar (físico, moral, intelectual). 
 Consequencialismo – As consequências de uma ação são a única base 
permanente para julgar a moralidade desta ação. O utilitarismo não se interessa 
desta forma pelos agentes morais, mas pelas ações – as qualidades morais do 
agente não interferem no ―cálculo‖ da moralidade de uma ação, sendo então 
indiferente se o agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as 
consequências do ato que são morais. Há uma dissociação entre a causa (o agente) 
 
 
26 
 
e as consequências do ato. Assim, para o utilitarismo, dentro de circunstâncias 
diferentes um mesmo ato pode ser moral ou imoral, dependendo se suas 
consequências são boas ou más. 
 Princípio da agregação – O que é levado em conta no cálculo é o saldo líquido (de 
bem-estar, numa ocorrência) de todos os indivíduos afetados pela ação, 
independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global 
de bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade. Sendo 
assim, é considerado válido sacrificar uma minoria, cujo bem-estar será diminuído, 
a fim de aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na 
ideia de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos 
outros. Se o saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. 
O aspecto dito sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo. 
 Princípio de otimização - O utilitarismo exige a maximização do bem-estar geral, o 
que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever. 
 Imparcialidade e universalismo - Os prazeres e sofrimentos são considerados da 
mesma importância, quaisquer que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de 
cada um tem o mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral. 
Este princípio é compatível com a possibilidade de sacrifício. A princípio, todos têm 
o mesmo peso, e não se privilegia ou se prejudica ninguém – a felicidade de um rei ou de 
um cidadão comum são levadas em conta da mesma maneira. 
O aspecto universalista consiste numa atribuição de valores do bem-estar que é 
independente das culturas ou das particularidades regionais. Como o universalismo de 
Kant, o utilitarismo pretende definir uma moral que valha universalmente. 
 
13.4 O cálculo utilitarista 
 
Um dos traços importantes do utilitarismo é seu racionalismo. A moralidade de um 
ato é calculada, ela não é determinada a partir de princípios diante de um valor intrínseco. 
Este cálculo leva em conta as consequências do ato sobre o bem-estar do maior número 
de pessoas. Ele supõe então a possibilidade de se calcular as consequências de um ato, e 
avaliar seu impacto sobre o bem-estar dos indivíduos. 
Para alguns utilitaristas, como o filósofo Peter Singer, o cálculo utilitarista de prazer 
e dor deve incluir todos os seres dotados de sensibilidade, sendo legítimo assim incluir 
 
 
27 
 
os animais no cálculo da moralidade de um ato. Singer se refere ao cálculo utilitarista que 
seja exclusivo para o ser humano, como uma forma de "especismo", ou seja, preconceito 
de espécie. 
14. EXISTENCIALISMO 
 
 
Fonte: opiniaocentral.wordpress.com 
 
O existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade 
individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo 
considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino. 
O existencialismo afirma a prioridade da existência sobre a essência, segundo a 
célebre definição do filósofo francês Jean-Paul Sartre: "A existência precede e governa a 
essência." Essa definição funda a liberdade e a responsabilidade do homem, visto que este 
existe sem que seu ser seja pré-definido. Durante a existência, à medida que se 
experimentam novas vivências redefine-se o próprio pensamento (a sede intelectual, tida 
como a alma para os clássicos), adquirindo-se novos conhecimentos a respeito da própria 
essência do que é o homem. Esta característica do ser é fruto da liberdade de eleição. 
Sartre, após ter feito estudos sobre fenomenologia na Alemanha, criou o termo utilizando a 
palavra francesa "existence" como tradução da expressão alemã "Da sein", termo 
empregado por Heidegger em Ser e tempo. 
Após a Segunda Guerra Mundial, uma corrente literária existencialista contou com 
Albert Camus e Boris Vian, alémdo próprio Sartre. É importante notar que Albert Camus, 
 
 
28 
 
filósofo além de literato, ia contra o existencialismo, sendo este somente característica de 
sua obra literária. Vian definia-se patafísico. 
 
14.1 Origem 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren 
Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund 
Husserl e Martin Heidegger, e foi particularmente popularizado em meados do século XX 
pelas obras do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e de sua companheira, a 
escritora e filósofa Simone de Beauvoir. Os mais importantes princípios do movimento são 
expostos no livro de Sartre "L'Existentialisme est un humanisme" ("O existencialismo é um 
humanismo"). O termo existencialismo foi adotado apesar de haver o termo: existência 
filosófica, usado inicialmente por Karl Jaspers, da mesma tradição. 
 
14.2 História do Existencialismo 
 
O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto pertencente aos 
séculos XIX e XX, mas os seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e vida) 
de Sócrates, Aurélio Agostinho e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré-
modernos. Culturalmente, podemos identificar pelo menos duas linhas de pensamento 
existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. As culturas judaica e russa 
http://www.google.com.br/imgres?q=existencialismo&hl=pt-BR&biw=1366&bih=673&tbm=isch&tbnid=1v3whdrJqLxVDM:&imgrefurl=http://aiaiaiuiuiuiblog.blogspot.com/2010/02/o-existencialismo.html&docid=rx4jhqaBoWmKcM&imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_Kez7SDazudQ/S4R-WeJBjlI/AAAAAAAAA_E/LbtQgKmibUs/s400/existencialismo1.jpg&w=279&h=320&ei=QC3uT6eBGoSn6AHIz6CcCg&zoom=1&iact=hc&vpx=603&vpy=162&dur=1922&hovh=240&hovw=210&tx=90&ty=148&sig=102490247769462068140&page=1&tbnh=138&tbnw=118&start=0&ndsp=21&ved=1t:429,r:2,s:0,i:92
 
 
29 
 
também contribuíram para esta filosofia. Após ter experienciado vários distúrbios civis, 
guerras locais e duas guerras mundiais, algumas pessoas na Europa foram forçadas a 
concluir que a vida é inerentemente miserável e irracional. Heidegger e Kierkegaard foram 
os pioneiros neste debate sobre a crise da existência humana. Hoje, o existencialismo não 
morreu de fato, pelo contrário, continua a produzir, quer na filosofia, quer na literatura, no 
cinema, ou até na ideologia de vida. 
 
14.3 Temáticas 
Os temas existencialistas são férteis no terreno da criação literária, nomeadamente 
na literatura francesa, e continuam a exibir vitalidade no mundo filosófico e literário 
contemporâneo. 
As principais temáticas abordadas sugerem o contexto da sua aparição (final da 
Segunda Guerra Mundial), refletindo o absurdo do mundo e da barbárie injustificada, das 
situações e das relações quotidianas ("L'enfer, c'est les autres", ["O inferno são os outros"], 
Jean-Paul Sartre). Paralelamente, surgem temáticas como o silêncio e a solidão, corolários 
óbvios de vidas largadas ao abandono, depois da "morte de Deus" (Friedrich Nietzsche). A 
existência humana, em toda a sua natureza, é questionada: quem somos? O que 
fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? 
É esta consciência aguda de abandono e de solidão (voluntária ou não), de 
impotência e de injustificabilidade das ações, que se manifesta nas principais obras desta 
corrente em que o filosófico e o literário se conjugam. 
 
14.4 Relação com a religião 
 
Apesar de muitos, senão a maioria, dos existencialistas terem sido ateístas, os 
autores Soren Kierkegaard, Karl Jaspers e Gabriel Marcel propuseram uma versão mais 
teológica do existencialismo. O ex-marxista Nikolai Berdyaev desenvolveu uma filosofia do 
Cristianismo existencialista na sua terra natal, Rússia, e mais tarde na França, na véspera 
da Segunda Guerra Mundial. 
 
14.5 Fé e existencialismo 
 
 
 
30 
 
O existencialismo não é uma simples escola de pensamento, livre de qualquer e 
toda forma de fé. Ajuda a entender que muitos dos existencialistas eram, de fato, 
religiosos. Pascal e Kierkegaard eram cristãos dedicados. Pascal era católico, Kierkegaard, 
um protestante radical marcado pelo ríspido antagonismo com a igreja luterana. 
Dostoiévski era greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu. Sartre realmente 
não acreditava em força divina. Sartre não foi criado sem religião, mas a Segunda Guerra 
Mundial e o constante sofrimento no mundo levaram-no para longe da fé, de acordo com 
várias biografias, incluindo a de sua companheira, Simone de Beauvoir. Curiosamente, 
Sartre passou seus últimos anos de vida explorando assuntos de fé com um judeu 
ortodoxo. Apenas podemos imaginar suas conversas, já que Sartre não as registrou. 
Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia suas decisões com 
um conjunto rigoroso de regras em algumas vertentes cristãs e para outras como o 
espiritismo, as decisões são guiadas pelo pensamento, pela alma. Para os ateus, a "ironia" 
é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, você sempre 
vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande vitória do 
indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive uma vida 
miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa 
força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não cometer suicídio e 
encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a complexidade do 
pensamento existencialista. 
 
14.6 A existência precede e governa a essência 
 
É um conceito da corrente filosófica existencialista. A frase foi primeiramente 
formulada por Jean-Paul Sartre, e é um dos princípios fundamentais do existencialismo. 
O indivíduo, no princípio, somente tem a existência comprovada. Com o passar do 
tempo ele incorpora a essência em seu ser. Não existe uma essência pré-determinada. 
Com esta frase, os existencialistas rejeitam a ideia de que há no ser humano uma 
alma imutável, desde os primórdios da existência até a morte. Esta essência será adquirida 
através da sua existência. O indivíduo por si só define a sua realidade. 
Em 1946, no "Club Maintenant" em Paris, Jean Paul Sartre pronuncia uma 
conferência, que se tornou um opúsculo com o nome de "O Existencialismo é um 
Humanismo". Nele, ele explica a frase, desta forma: "... se Deus não existe, há pelo menos 
 
 
31 
 
um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser 
definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a 
realidade humana. Que significa então que a existência precede a essência? Significa que 
o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. 
O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente 
é nada. Só depois será, e será tal como a si próprio se fizer.”. 
 
14.7 Liberdade 
 
Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente 
livres. E, frente a essa liberdade de eleição, o ser humano se angustia, pois a liberdade 
implica fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós ficamos 
paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. Porém, a 
"não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não agir. A escolha de 
adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar culpa, é uma tônica na 
sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma 
jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo. 
Os existencialistas perguntaram-se se havia um Criador. Se sim, qual é a relação 
entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-definidas e os 
homens têm que se adaptar a elas? Esses homens estiveram tão dedicados aos seus 
estudos que se tornaram antissociais, enquanto se preocupavam com a humanidade.Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são alguns dos filósofos que mais influenciaram 
o existencialismo. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma questão: o que limita a 
ação de um indivíduo? Kierkegaard chegou à possibilidade de que o cristianismo e a fé em 
geral são irracionais, argumentando que provar a existência de uma única e suprema 
entidade é uma atividade inútil. 
Nietzsche, frequentemente caracterizado como ateu, foi, sobretudo um crítico da 
religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião organizada, 
especialmente a Igreja Católica e Protestante, era contra qualquer poder de ganho ou 
autoconfiança sem consentimento. Nietzsche usou o termo rebanho para descrever a 
população que, de boa vontade, segue a Igreja. Ele argumentou que provar a existência de 
um criador não era possível nem importante. 
Na verdade, Nietzsche valorizava e exaltava a vida como única entidade que 
merecia louvor. Prova disso é o eterno retorno em que ele afirmava que o homem deveria 
 
 
32 
 
viver a vida como se tivesse que vivê-la nova e eternamente. A implicação disso é uma 
extrema valorização da vida, imaginemos cada segundo, cada minuto vivido igual e 
eternamente? E quanto à Igreja, Nietzsche a condenava, pois ela é um traço das 
influências que negavam o valor da vida na sociedade contemporânea; ele era sim ateu, e 
para ele, dentre os mais inteligentes, o pior era o padre, pois conseguia incutir nos 
pensamentos do rebanho, fundamentos falsos, exteriores e metafísicos demais, que só 
contribuíam para o afastamento da vida. 
 
14.8 O Indivíduo versus a Sociedade 
 
O existencialismo representa a vida como uma série de lutas. O indivíduo é forçado 
a tomar decisões e frequentemente as escolhas são ruins. Nas obras de alguns 
pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da miséria. A 
maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas teológicos e 
cristãos. 
As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de planejar um projeto 
funcional. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela deveria ser. 
Os existencialistas explicam por que algumas pessoas se sentem atraídas à 
passividade moral baseando-se no desafio de tomar decisões. Seguir ordens é fácil; requer 
pouco esforço emocional e intelectual fazer o que lhe mandam. Se a ordem não é lógica, 
não é o soldado que deve questionar. Deste modo, as guerras podem ser explicadas, 
genocídios em massa podem ser entendidos. As pessoas estavam apenas fazendo o que 
lhes fora mandado fazer. 
 
14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo 
 
 Martin Heidegger 
 Jean-Paul Sartre 
 Søren Kierkegaard 
 Edmund Husserl 
 Friedrich Nietzsche 
 Arthur Schopenhauer 
 Martin Buber 
 
 
33 
 
 
Há duas linhas existencialistas famosas, quer de impulsionadores, quer de 
existencialistas propriamente ditos. 
A primeira, de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger é agrupada 
intelectualmente. Esses homens são os pais do existencialismo e dedicaram-se a estudar 
a condição humana. A segunda, de Sartre, Camus e Beauvoir, era uma linha marcada pelo 
compromisso político. Enquanto outras pessoas entraram e saíram, esses sete indivíduos 
definiram o existencialismo. 
O filosofar heideggeriano é uma constante interrogação, na procura de revelar e 
levar à luz da compreensão o próprio objeto que decide sobre a estrutura dessa 
interrogação, e que orienta as cadências do seu movimento: a questão sobre o Ser. 
A meta de Heidegger é penetrar na filosofia, demorar nela, submeter seu comportamento 
às suas leis. O caminho seguido por ele deve ser, portanto, de tal modo e com tal direção, 
que aquilo de que a Filosofia trata atinja nossa responsabilidade, vise a nós homens, nos 
toque e, justamente, nos transforme. 
O pensamento de Heidegger é um retorno ao fundamento da metafísica num 
movimento problematizador, uma meditação sobre a Filosofia no sentido daquilo que 
permanece fundamentalmente velado. 
A Filosofia sobre a qual ele nos convida a meditar é a grande característica da 
inquietação humana em geral, a questão sobre o Ser, ou seja, o que significa ―estar no 
mundo ou ―ser no mundo. 
15. LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Nome do autor: Rodrigo Bentes Monteiro 
 
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752007000100008 
 
Data do acesso: 09/05/2016 
 
 
As Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate historiográfico 
 
RESUMO 
O artigo, como um verbete destinado aos cursos em História, pretende analisar a produção 
historiográfica, sobretudo européia, acerca das Reformas Religiosas no início da Europa 
 
 
34 
 
Moderna. Evidencia a crítica de abordagens mais tradicionais adotadas por autores 
comprometidos com sua fé, e os estudos meramente institucionais, doutrinários ou 
funcionalistas. O artigo destaca a atenção dada por historiadores do século XX ao contexto 
da "pré-reforma", à intensa devoção religiosa então vivida, e à conexão entre aspectos da 
vida religiosa, cultural, política e social da Europa Moderna. 
Palavras-chave: Reformas Religiosas, Europa Moderna, debate historiográfico 
ABSTRACT 
The article, as an introduction aimed to the course in History, intends to analyze the 
European historical production, related to the Religious Reformation in the Early Modern 
Europe. It focuses the more traditional approaches adopted by authors compromised with 
their own faith and on merely institutional, theological and functional studies. The article 
points to the attention given by the XX Century historians, to the "pre-reformation" context, 
to the profound faith of the time, and to the connection of the religious, cultural, political and 
social aspects of life in Modern Europe. 
Key words: Religious Reformation, Modern Europe, historical debate 
No século XVIII, com o surgimento da filosofia da história em meio ao ambiente 
iluminista potencialmente revolucionário e ante eclesiástico, o movimento conhecido como 
Reforma protestante era inserido no processo de modernização da sociedade ocidental, 
conforme as ideias de Hegel. Era a "mundanização positiva", diferente da conotação 
negativa atribuída pelo filósofo alemão ao contexto anterior da Escolástica. Enquanto 
estudiosos laicos entendiam a Reforma como fundação do caminho para a liberdade, 
católicos ultramontanos, defensores da infalibilidade papal, observavam-na como um 
equívoco que desestabilizou princípios de autoridade, ordem social e disciplina, 
característicos da cristandade medieval. 
Na primeira metade dos Oitocentos, Leopold von Ranke inaugurou uma abordagem 
menos confessional e apologética, concomitante ao estabelecimento da História como 
disciplina e aos propósitos nacionais e políticos da Prússia após o Congresso de Viena, em 
1815. No preâmbulo de sua história sobre os papas, as nações nórdicas e mediterrânicas 
ocultavam a tradicional dicotomia entre católicos e protestantes. Ranke queria enfatizar as 
relações entre setentrionais e meridionais, na passagem do século XV ao XVI. Mas, por 
trás de sua conhecida erudição no lidar com fatos militares, políticos e diplomáticos, 
 
 
35 
 
subsistiam juízos de valor. Não obstante a aplicação do método de Barthold Niebuhr no 
estudo crítico das fontes, o jovem e fervoroso luterano centrou-se no período em que 
papado e império perdiam poder. Com a Reforma luterana, nascia a Idade Moderna, 
quando o "povo" tornava-se protagonista na história. Sua concepção de História Moderna 
não era assim forjada apenas por governantes e sacerdotes. Ela harmonizava-se também 
às necessidades do Estado prussiano, cuja política eclesiástica naquele momento 
dependia dos delicados matrimônios mistos entre protestantes e novos súditos católicos, 
cheios de soberba e inspirados nas tradições renanas. Também em sua obra maior sobre 
a história alemã na épocada Reforma, Ranke mal disfarçou sua admiração por Lutero, 
embora afirmasse fazer uma história desapaixonada e imparcial do papado, pois a Roma 
católica já não ameaçava a nova e grande Prússia, fortalecida desde o século XVIII, até a 
unificação alemã em 1870-1871. Reprovava-se assim a Ranke a sua "malignidade 
protestante", bem como ter considerado a história da Igreja e da cristandade, mormente 
em seus aspectos político e institucional. 
Em 1906 o teólogo e filósofo Ernst Troeltsch - colega de Max Weber - apresentava 
seu livro sobre o protestantismo e o mundo moderno em um congresso de historiadores. 
Seu tema era a relação entre a herança religiosa do século XIV e a modernidade. Sem 
dogmatismo, o autor expôs a influência do protestantismo nas novas formas de ser e de 
pensar do final do século XVIII. Troeltsch defendia que a religião protestante assemelhava-
se ao catolicismo medieval, em seu intento por restaurar a cultura religiosa antiga, com a 
novidade de enfatizar a liberdade individual. Embora tenha assinalado características 
próprias do luteranismo e do calvinismo, especialmente ante as autoridades políticas, o 
estudo de Troeltsch, na linha de uma teologia liberal, caracterizou-se por ser uma reflexão 
geral. 
 
Fome de Deus 
 
Com efeito, o tema das Reformas Religiosas pertinente ao início da Época Moderna 
possui implicações que ultrapassam as mudanças institucionais eclesiásticas no século 
XVI, relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder vividos na 
Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a esses desdobramentos e relações, e 
pode-se afirmar que uma transformação significativa na análise das questões religiosas 
referentes ao século XVI começou a ocorrer a partir da década de trinta do século XX, com 
os trabalhos de Delio Cantimori, Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinqüenta. A 
 
 
36 
 
explicação das novidades desta tríade de estudiosos e de seus respectivos 
desdobramentos, poderá esclarecer melhor o "antes" e o "depois" da produção 
historiográfica sobre as Reformas. 
Delio Cantimori é bastante conhecido por suas reflexões acerca dos problemas de 
periodização do Renascimento. Mas não somente. Em Umanesimo e Religione nel 
Rinascimento, o historiador italiano que propôs o termo Idade Humanística para a Época 
Moderna também procura relações entre o humanismo e a Reforma, concluindo que o 
protestantismo em seu advento representou o próprio fracasso do ideal humanista, da 
autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo excessivo em sua 
transformação através do livre arbítrio. Dessa forma, o servo arbítrio de Lutero seria não 
apenas o antídoto contra o livre arbítrio de Erasmo – princípio essencial à teologia católica 
-, mas a confirmação da onipotência divina em oposição ao programa educacional 
encetado pelos homens do Renascimento. Em Storici e Storia, grande obra do estudioso 
acerca da discussão historiográfica sobre Renascimento e Reforma, Cantimori coteja as 
interpretações realizadas sobre a Reforma protestante, desde o século XIX até meados do 
XX. Transparece assim a inovação do autor - também interessado em heterodoxias e 
heresias -, ao defender uma pesquisa mais argumentativa, que contemple a piedade e a 
sensibilidade religiosa, rompendo com controvérsias teológicas e eclesiásticas que 
caracterizavam muitos dos estudos. 
Lucien Febvre, como Delio Cantimori, não se particularizava por realizar uma 
história confessional – algo ainda relativamente novo entre estudiosos da Reforma – e 
como o italiano propunha também uma história da espiritualidade mais abrangente que as 
questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na Europa ocidental. No célebre 
estudo sobre os "problemas de conjunto", em Au Coeur Religieux du XVIe Siècle, 
publicado postumamente, este historiador interroga-se sobre as origens da Reforma em 
França. Febvre refere-se ao problema dos historiadores franceses que, absorvidos pelas 
questões da "especificidade", da "prioridade" e da "nacionalidade", buscavam uma origem 
para a Reforma francesa em Lefèvre d'Étaples – um dos primeiros "pré-huguenotes" a 
realizar colóquios com Margarida de Valois, objeto de outro livro de Febvre -, em 
comparação a Lutero. Ao questionar, neste caso, a validade da história comparada, Lucien 
Febvre indica que o suposto primeiro reformador francês não criticava os abusos da Igreja, 
e que o problema do surgimento da Reforma deveria levar em conta a intensa religiosidade 
vivida na Europa – inclusive na França – ao final do século XV e no início do século XVI: 
fidelidade às velhas crenças, devoção tradicional, a fé concretizada nos "testemunhos de 
 
 
37 
 
pedra" do gótico tardio e no sucesso de obras surgidas no século XV, como a Imitação de 
Cristo, de Tomás de Kempis, que iria mais tarde conquistar a admiração de Erasmo de 
Rotterdam. Se a realidade devocional era forte, entre ela e o clero existia um abismo 
marcado pela insensibilidade. Deste modo, o historiador francês justifica o sucesso da 
Reforma – na França e alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em 
língua vulgar, e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em conclusivo, defende 
que a Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa de muita gravidade que 
assolou a Europa naquele tempo. Para compreender este fenômeno, seria preciso 
pesquisar todas as manifestações diversas então vividas, na política, na economia, na 
sociedade, na cultura intelectual e artística. Portanto, para Febvre, os historiadores 
franceses atrapalhavam-se, quando buscavam origens específicas em situações que eram 
gerais. A história da Reforma, segundo o historiador dos Annales, não poderia limitar-se 
em marcos institucionais, políticos e eclesiásticos. No entender de Cantimori, Febvre seria 
o "historiador psicólogo" atento, entretanto, às especificidades do homem do século XVI. 
Pode-se afirmar que Jean Delumeau desenvolveu e ampliou questões já 
estabelecidas por Lucien Febvre. Em Un Chemin d'Histoire, Chrétienté et Christianisation, 
Delumeau estuda os cristãos no tempo da Reforma e, também como Febvre, indaga-se 
sobre as causas do movimento protestante, mencionando a princípio duas explicações 
mais tradicionais: uma primeira que remete aos abusos da Igreja, e outra de cunho 
economicista, sobre a luta da burguesia contra o feudalismo. Delumeau argumenta que os 
protestos contra os abusos da Igreja não eram novidade, e que esta possibilidade 
explicativa não responde, por exemplo, ao fato de Erasmo, apesar de seus "protestos", ter 
continuado na Igreja católica, e nem à situação dos protestantes que não retornaram a ela 
quando o catolicismo se reformou. A explicação marxista, por sua vez, não esclarece a 
razão da Península Itálica, região próspera economicamente no início do século XVI, 
ligada ao comércio mercantil, ter permanecido católica. O historiador francês indica as 
fragilidades existentes neste tipo de discussão, mais concentrada na difusão da Reforma 
que em suas causas, negligenciando também aspectos teológicos do debate. 
A seguir Delumeau – como já o fizera Lucien Febvre – detém-se na análise dos 
comportamentos religiosos na Europa do início do século XVI. Em resumo, ele verifica a 
existência de um cristianismo popular mais íntimo e profundo, cristianismo vivido de forma 
plena – em seu aspecto formal – somente pelas elites. Tratava-se então de um mundo de 
ignorância religiosa, distante dos abusos da Igreja. O historiador refere-se, como exemplo, 
ao livro de Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic, que retrata a sociedade 
 
 
38 
 
inglesa do século XVI repleta de práticas mágicas e crenças, relacionadas pelo autor aos 
mecanismos de solidariedade aldeã, em contraposição à afirmação da propriedade privada 
e do individualismo. Processo no qual o(a) outro(a), o(a) estranho(a), o(a) diferente, tendia 
a ser acusado(a) de feitiçariapelos vizinhos. Delumeau também – repetindo Febvre – 
refere-se ao sucesso de Imitação de Cristo, obra que resume o ideal de devotamento, 
pobreza e piedade na Europa de então. Era um mundo também de medo – retomando um 
dos mais conhecidos temas do historiador abordado em La Peur en Occident, tão bem 
expresso pelo holandês Johan Huizinga, já em 1919, no seu Herfsttij der 
Middeleeuwen, literalmente Outono da Idade Média. Peste, fome e guerra estavam 
relacionadas ao pânico, e à superstição como solução para os problemas. O combate à 
superstição constitui outro tema desenvolvido por Delumeau, luta importante efetuada por 
Lutero e Calvino. Tentando analisar os escritos dos reformadores como material 
etnológico, o historiador francês concebe a Reforma como promoção da vontade 
cristianizadora, contra o catolicismo, mas também contra a idolatria, vilões não distintos 
para eles. 
A realidade conflituosa e mesclada em termos religiosos, recuperada por Delumeau, 
deve alertar os estudiosos do período sobre a imprudência que podem demonstrar ao 
tentar separar, sempre, o que é religioso do que émágico. São muitos os exemplos 
procedentes em relação a esta questão: o estudo de Emmanuel Le Roy 
Ladurie, Montaillou, village occitan de 1294 à 1324, demonstra que, já no final da Idade 
Média, cristão ereligioso não eram sinônimos. Em Le Carnaval de Romans. De la 
chandeleur au mercredi des cendres 1579-1580, sobre os festejos realizados naquela 
cidade francesa, que misturavam aspectos religiosos e profanos, Ladurie verifica a mesma 
dificuldade de classificação, bem percebida por Natalie Davis na coletânea de ensaios 
intitulada Society and Culture in Early Modern France, sobre a Reforma e os grupos sociais 
populares franceses no século XVI. O exemplo mais conhecido talvez seja o estudado por 
Carlo Ginzburg – discípulo de Cantimori em sua atenção às heresias e à micro-história - 
em Il Formaggio e i Vermi. Il cosmo di un mugnaio del ‘500. Na cosmologia toda especial 
de Menocchio, percebe-se não somente a circularidade cultural, mas a dificuldade de 
tipificação do que seria a boa religião, aceita pelos inquisidores. O moleiro era batizado e 
se confessava e, no entanto, foi considerado blasfemador e herege pela Igreja. O livro de 
Ginzburg chama atenção para a possibilidade de diferentes leituras sociais e culturais do 
cristianismo. Em conclusivo, na obra há pouco referida, Jean Delumeau concebe a marcha 
do cristianismo como progressiva e não triunfal dentro da cristandade, sublinhando o 
 
 
39 
 
equívoco perigoso para os historiadores que lidam somente com os aspectos institucionais 
da filiação religiosa. 
A consideração de outra obra do mesmo historiador, Le Catholicisme entre Luther et 
Voltaire, indica o caminho para a abordagem da Reforma católica, e para o modo como o 
referido autor concebe as reformas: como atos não seqüenciais entre si, tentando entender 
sua gênese para além da tradicional questão em torno dos abusos da Igreja. Neste livro, 
Delumeau argumenta que a renovação da Igreja se deu em dois momentos, o da pré-
reforma e o iniciado no Concílio de Trento (1545-1563), quando os prelados ali reunidos 
atenderam alguns pleitos de João Huss, Bernardo de Siena e Savonarola. O autor também 
chama atenção para o ambiente de solidez teológica da Espanha no século XVI, onde 
surgiu a vocação religiosa de Inácio de Loyola e o neotomismo da Universidade de 
Salamanca. Em relação ao Concílio de Trento, Delumeau desenvolve seu estudo em torno 
de uma questão: como um evento que contou com tantas dificuldades, que foi iniciado com 
tanto ceticismo e com tão pouco expressivo número de clérigos, como este acontecimento 
que enfrentou obstáculos por parte de soberanos europeus como Francisco I, e que 
precisava tanto do apoio dos chefes de Estado católicos, como pôde este evento marcar 
de tal forma a história da Igreja. Delumeau responde a esta questão defendendo que a 
grandeza do Concílio de Trento consistiu em atender às necessidades religiosas de seu 
tempo, tal como a Reforma protestante. Estabelece um paralelo entre o Édito de 
Nantes (1598) e este concílio, pois os dois acontecimentos efetivamente realizaram o que 
os anteriores decretos de tolerância – no caso do primeiro – e as anteriores reformas, no 
segundo, não concretizaram, permanecendo letra morta. Segundo o autor, a cristandade 
ocidental, em meados do século XVI, vivia uma mutação profunda, tinha "fome de Deus". 
Esta fome se manifestava, por um lado, pela busca da palavra da vida, mas também pelo 
pânico dos pecados. A saciedade desta fome pode ser percebida, após o Concílio, pelo 
comportamento mais moralizado de alguns papas, pela renovação de Roma enquanto 
capital religiosa, pelos sínodos, seminários e visitas pastorais intensificados, e pelas novas 
ordens religiosas criadas. Algumas ordens, como a dos capuchinhos e das ursulinas, 
precederam o próprio Concílio, impressionando a sensibilidade religiosa da época. Outras 
se destacaram pela pujança de suas realizações, como foi o caso notório dos jesuítas, 
soldados de Cristo que abrangeram o além-mar, e dos carmelitas descalços liderados por 
Teresa d'Ávila, renovando o catolicismo na Espanha de Felipe II. Deste modo, nesta obra, 
o autor propõe duas leituras da Reforma católica: uma sobre o endurecimento das 
estruturas, com um clero mais firme e com ênfase na catequese; e outra, a falar de 
 
 
40 
 
santidade e piedade, de exemplos heróicos testemunhados nas vidas de papas e 
religiosos do século XVI. 
Torna-se oportuno, assim, em se tratando de Reforma católica, recuperar um nome 
apenas mencionado ao início como componente de uma tríade fundamental para o 
entendimento das inovações historiográficas sobre a Reforma. Coube a Hubert Jedin, 
jesuíta alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, a criação 
do conceito de Reforma católica, diferente de Contra-Reforma. Em sua história sobre o 
Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura organizacional da Igreja no 
século XVI, contemplando também o período da pré-reforma, o que possibilita pensar as 
mudanças vividas no papado durante os Quinhentos. O autor alemão enfatiza as linhas de 
força do Concílio, caracterizadas pelo reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo 
a passo a marcha do evento, analisando a diplomacia entre Roma, Trento e Salamanca, e 
a influência das idéias erasmianas. Jedin é mencionado por Jean Delumeau como o 
melhor historiador da Reforma católica. 
Contudo, a Reforma católica, como já foi indicado, não pode ser restrita ou tipificada 
apenas pelas decisões conciliares. John Bossy, em Christianity in the West 1400-1700, 
fornece-nos o interessante exemplo de uma reforma silenciosa, caracterizada pela 
investida dos clérigos em disciplinar as práticas do casamento - em oposição 
às fiançailles, que consumavam a união antes do laço institucional definitivo -; do batizado 
logo após o nascimento; da confissão periódica. Nesses casos, tratava-se de promover a 
passagem de uma cristandade medieval para um moderno catolicismo, mediante 
rompimento dos vínculos de uma solidariedade grupal para uma delegação de 
responsabilidades ao indivíduo como católico. A Reforma católica em Portugal tem sido 
trabalhada por Federico Palomo com ênfase neste catolicismo moderno. Retomaremos 
essa questão tão importante sobre a "modernidade" das Reformas Religiosas ao final do 
artigo. 
Deve-se ainda mencionar, para que se tenha noção de um quadro mais rico e 
complexo acerca do universo religioso no século XVI - não necessariamente polarizado 
entre protestantismo e catolicismo -, a existência de outras correntes de pensamento não 
tão engajadas em disputas. O historiador italiano Alberto Tenenti desenvolveu um já 
clássico estudo sobre o libertinismo, publicado nos Annales, no qual se faz evidente - mais 
uma vez - a dificuldade de classificação sobre o que seria herético

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