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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE HISTÓRIA MODERNA ESPÍRITO SANTO 2 SUMÁRIO 1. A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA ............................................................................................. 4 2. IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII ......................................................................................................... 5 2.1 As condições históricas ........................................................................................................................ 5 2.2 O humanismo renascentista do sec. XV .............................................................................................. 5 2.3 A descoberta do Novo Mundo ................................................................................................................ 6 2.4 A Reforma Protestante .............................................................................................................................. 7 3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA MODERNA .................................................................................................... 7 4. DESENVOLVIMENTO DO MERCANTILISMO E RUPTURA DA ECONOMIA FEUDAL ................................... 8 4.1 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa .......................................................................... 9 5. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO......................................................................................................... 9 6. RACIONALISMO ..................................................................................................................................... 10 7. EMPIRISMO............................................................................................................................................ 11 8. ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS ....................................................... 13 9. A IDADE CONTEMPORÂNEA .................................................................................................................. 14 10. IDEALISMO ............................................................................................................................................. 15 10.1 Definição de idealismo ...................................................................................................................... 15 10.2 Ideias básicas do Idealismo ................................................................................................................... 15 11. RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA .......................................................................................... 17 12. DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO. .................................................................................................. 18 13. UTILITARISMO........................................................................................................................................ 21 13.1 Princípio da Utilidade ............................................................................................................................ 22 13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais .............................................................................. 23 13.3 Princípios fundamentais do utilitarismo ........................................................................................... 25 14. EXISTENCIALISMO .................................................................................................................................. 27 14.1 Origem ................................................................................................................................................... 28 14.2 História do Existencialismo ................................................................................................................ 28 14.3 Temáticas ........................................................................................................................................... 29 14.4 Relação com a religião ....................................................................................................................... 29 14.5 Fé e existencialismo ........................................................................................................................... 29 3 14.6 A existência precede e governa a essência ....................................................................................... 30 14.7 Liberdade ........................................................................................................................................... 31 14.8 O Indivíduo versus a Sociedade ......................................................................................................... 32 14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo ................................................................................... 32 15. LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................................... 33 16. BILIOGRAFIA BÁSICA .............................................................................................................................. 52 17. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 53 4 1. A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA Fonte: filosofiacienciaevida.uol.com.br Filosofia Medieval Cristã constituiu-se do pensamento cristão e da ciência antiga. A ciência antiga tinha como base o dogmatismo: era especulativa e partia de interpretações da Bíblia. A ciência antiga era baseada na lógica e na demonstração de verdade, sem considerar a observação e a experiência. É o caso da teoria geocêntrica, ou seja, a teoria que postulava que a terra é o centro do universo, vigorava há quase vinte séculos e constituía a maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A concepção medieval cristã via o homem como é o ser supremo da criação divina e a terra era o centro do universo. A teoria de que a terra era o centro do mundo, geocentrismo, era uma explicação que justificava tal visão. A ciência antiga era um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, que não admitiam erros, mudanças ou crítica. O novo período – Idade Moderna - vai significar uma ruptura com essa concepção de mundo dogmática, que não permitia a reflexão e a crítica, por isso, mais uma vez vamos abordar sobre a filosofia moderna, enfatizando sobre a sua importância para o desenvolvimento do conhecimento humano. http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/87/artigo299834-3.asp 5 2. IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII Após a Idade Média, há um período de transição entre o século XV e XVI para a Idade Moderna, que significou ruptura com a tradição anterior cristã, fundamentada em Deus, e passou-se a valorizar o homem. É o período chamado Humanismo Renascentista: artes plásticas, valorização do homem - liberdade e criatividade. É o momento em que se rompe com a visão sagrada e teológica na arte, no pensamento, na política, na literatura. Os pensadores desse período passam a valorizar o saber dos gregos antigos. Valoriza-se o homem e rompe-se com o pensamento teocêntrico, que considera Deus como o centro de tudo, e a Ciência Antiga. A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, rejeitando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e Igreja, em favor da recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza humana. Surge um novo estilo com nova temática. Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momento de novos pensadores e artistas,tais como Leonardo da Vince, William Shakespeare, Rafael, Maquiavel, Michelangelo, Montaigne. 2.1 As condições históricas Surge uma nova maneira de pensar e ver o mundo, resultado das transformações históricas que ocorreram na Europa. Entre os fatores históricos, pode-se destacar: O humanismo renascentista do sec. XV A descoberta do Novo Mundo (sec. XV) A Reforma Protestante do sec. XVI A revolução científica do sec. XVII Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa. 2.2 O humanismo renascentista do sec. XV Nasceu na península itálica, sendo um período de transição entre a Idade Média e a Moderna. Rompeu com a filosofia cristã da escolástica medieval e, valoriza o saber dos gregos antigos, retomando a concepção do humanismo. O período medieval, anterior, foi 6 marcado por uma forte visão hierárquica e religiosa de mundo, em que a arte está voltada para o sagrado, filosofia está vinculada à teologia e à problemática religiosa. O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes novamente, e não apenas as o mundo divino. Nas artes predomina os temas pagãos, afastados da temática religiosa. É a arte voltada para o homem comum, não mais reis e santos. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana. Fonte: https://www.google.com.br Thomas Morus, em a Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o autoritarismo dos reis e da Igreja, favorecendo a razão e a virtude natural. Maquiavel, autor escreveu O Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz uma análise do poder como fato político, independente das questões morais. 2.3 A descoberta do Novo Mundo Outro fator importante que levou a mudança do pensamento moderno foi à descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia antiga, o desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de conhecimento de outros povos e culturas. Muita coisa precisava ser reformulada. A ciência antiga perde a autoridade é questionada, pois nada explica sobre a nova realidade e suas narrativas. Acreditava que a “terra era plana”, desconhecem os novos https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjpp5GOis7MAhWFUJAKHam-ClIQjhwIBQ&url=http%3A%2F%2Fnovahistorianet.blogspot.com%2F2009%2F01%2Fo-renascimento-cultural.html&bvm=bv.121421273,d.Y2I&psig=AFQjCNFMkH8kLvZqaWrj5PyqdfRJmAq12A&ust=1462920605858991 7 habitantes dessas terras descobertas, sua natureza, sua origem, sua cultura, tão distintas da europeia. 2.4 A Reforma Protestante Martin Lutero contesta a autoridade da Igreja marcada pela corrupção e passa a valorizar a consciência individual de buscar a própria fé, sem ser pela imposição das verdades dogmáticas. Rompe com Igreja Católica e funda a Igreja protestante. Essa nova igreja propõe e representa, assim, a defesa da liberdade individual e da consciência em lugar da certeza, valorizando a ideia de que o indivíduo é capaz de encontrar sua própria verdade religiosa. 3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA MODERNA Outro fator essencial desse processo de transformação é a revolução científica que significou o ponto de partida para a ciência nos moldes que conhecemos hoje. Nicolau Copérnico no século XVI vai defender matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, rompendo com o sistema geocêntrico de Ptolomeu (sec.II) e inspirado em Aristóteles. A teoria do geocentrismo vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A ciência moderna surge quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos. É um processo de transição e não uma ruptura radical. Ao longo desse processo surgem Galileu e Isaac Newton, entre outros, que vão transformar a visão científica do século XVII seguinte. O rompimento com a ciência antiga revelou uma concepção de distinto do universo antigo, que é fechado, finito e geocêntrico. A nova ciência propõe o modelo heliocêntrico e o universo é infinito. A ciência é ativa valoriza a observação e o método experimental, une ciência e técnica. A ciência antiga é contemplativa, separa ciência e técnica. No século XVII a Filosofia e a Ciência se separam. Galileu, usando um telescópio, demonstra o modelo de desenvolvido por Copérnico. Vai ser interpelado pela Igreja. Entre os principais pensadores daquele momento, destacam-se: _ Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a concepção medieval cristã de que o homem é ser supremo da criação divina e que 8 por isso a terra é o centro do universo. _ Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção de universo infinito. É condenado e morre queimado vivo na fogueira. _ Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o aperfeiçoamento do telescópio, e com uma nova postura metodológica de investigação científica: observação, experimentação, uso da linguagem matemática. Por condenar os dogmas tradicionais da Igreja, também foi condenado pela Inquisição, mas optou por viver e seguiu fazendo suas pesquisas clandestinamente. A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na ciência da natureza. 4. DESENVOLVIMENTO DO MERCANTILISMO E RUPTURA DA ECONOMIA FEUDAL Fonte: www.colegioweb.com.br O mercantilismo antecede ao desenvolvimento da indústria e trouxe novas necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza. 9 4.1 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa Surgimento dos grandes centros urbanos leva a novos valores e necessidades. E a invenção da Imprensa permite que as ideias possam ser publicadas e difundidas. 5. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Fonte: www.gedai.com.br A Idade Moderna é um período é marcado por grandes transformações. Estas transformações e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar os critérios e os métodos usados para aquisição do conhecimento verdadeiro da realidade. Como podemos conhecer? Quais os fundamentos do conhecimento? O que é conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de conceber e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, que deu origem à ciência moderna. A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às vezes complementares, às vezes antagônica. Surgem o racionalismo e o empirismo. O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia moderna para conhecer a realidade. http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/ufpr-debate-produ%C3%A7%C3%A3o-do-conhecimento-direitos-autorais-e-o-pl%C3%A1gio-acad%C3%AAmico 10 O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A Filosofia se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para assim poder sistematizá-las. A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e precisão dos pensamentos e de palavras. A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as ideias. Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosseconsiderada oposta a quatro outras atitudes mentais: Ao conhecimento ilusório Às emoções, aos sentimentos, às paixões, À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina Ao êxtase místico A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Descarte, matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional. 6. RACIONALISMO O racionalismo sustenta que há um tipo de conhecimento que surge diretamente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que expliquem o funcionamento da realidade. 11 Fonte: https://www.google.com.br O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, introduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São esses princípios da ciência moderna que encontramos hoje. Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831). 7. EMPIRISMO Fonte: felipepimenta.com 12 O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percepção do mundo externo e da nossa capacidade mental, valorizando a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação. Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das ideias racionais é importante, mas desde que estejam ligados à experiência, pois as ideias são adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-la, buscando resultados práticos. Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas Hobbes e Hohn Stuart Mill. Francis Bacon Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a natureza. John Locke Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Defendeu que a experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros aprendem e conquistam experiência. PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são pensamentos distintos, embora exista um elemento em comum: a preocupação com o entendimento humano. 13 8. ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS Esses filósofos com seus pensamentos contribuíram para que a humanidade construísse novos conhecimentos. Galileu Galilei Fonte: www.google.com.br Nasceu na Itália e é considerado o fundador da física moderna. Defendeu as explicações do universo a partir da teoria heliocêntrica e rejeitava a física de Aristóteles, adotadas como verdade absoluta pelo cristianismo. Por contrariar essa visão tradicional foi considerado herege. Questionava a Bíblia, sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e condenado a fogueira ou a renegar suas concepções científicas. Optou por se retratar, mas continuou fiel às ideias e publicou clandestinamente uma obra que contrariava os dogmas cristãos. 14 Isaac Newton Fonte: www.brighthub.com Nasceu na Inglaterra, físico e matemático, continuou à revolução científica que deu origem à física clássica. Fala de um universo ordenado, como uma grande máquina. Além de física, matemática, filosofia e astronomia, estudou também alquimia, astrologia, cabala, magia e teologia, e era um grande conhecedor da Bíblia. Considerava que todos esses campos do saber poderiam contribuir para o estudo dos fenômenos naturais. Suas investigações experimentais, acompanhadas de rigorosa descrição matemática, constituíram-se modelo de uma metodologia de investigação para as ciências nos séculos seguintes. Leitura Recomendada: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. São Paulo, Moderna, 2003. 9. A IDADE CONTEMPORÂNEA A Idade contemporânea (ou pós-moderna) é o período que se encontra no final do século XIX até os dias de hoje. Caracteriza-se por uma visão crítica frente a moral, à religião e a ciência. Assim, os filósofos pós-modernos procuram criticar as bases morais da sociedade ocidental, questionar o cristianismo e os abusos da Ciência. Há, também, uma 15 crítica especialmente forte quanto à Política, que sofreu tantas reviravoltas nesse período no Ocidente. Uma das correntes filosóficas dessa época é o Idealismo. Explicaremos sobre essa abaixo: 10. IDEALISMO O Idealismo é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da modernidade, uma vez que a posição central da subjetividade é fundamental na modernidade. Seu oposto é o materialismo. Tendo suas origens a partir da revolução filosófica iniciada por Descartes, associada a Kant até Hegel, que seria talvez o último grande idealista da modernidade. Muitos, ainda, acreditam que a teoria das ideias de Platão é historicamente a primeira dos idealismos, em que a verdadeira realidade está no mundo das ideias, das formas inteligíveis, acessíveis apenas à razão. 10.1 Definição de idealismo É muito difícil resumir o pensamento idealista, uma vez que há divergências de perspectivas teóricas entre os filósofos idealistas. De todo modo, podemos considerar o primado do Eu subjetivo como central em todo idealismo, o que não significa necessariamente reduzir a realidade ao pensamento. Assim, na filosofia idealista, o postulado básico é que Eu sou Eu, no sentido de que o Eu é objeto para mim (Eu). Ou seja, a velha oposição entre sujeito e objeto se revela no idealismo como incidente no interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu). 10.2 Ideias básicas do Idealismo 1. Qualquer teoria filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva. Seus opostos seriam representados pelo realismo ('na filosofia moderna') e materialismo; 16 1.1 No sentido ontológico, doutrina filosófica, cujo exemplo mais conhecido é o platonismo, segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória, aparente, incompleta, ou mera imitação imperfeita de uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e intangíveis; 1.2. No sentido epistemológico, tal como ocorre no kantismo, teoria que considera o sentido e a inteligibilidade de um objeto de conhecimento dependente do sujeito que o compreende, o que torna a realidade cognoscível heterônoma, carente de autossuficiência, enecessariamente redutível aos termos ou formas ideais que caracterizam a subjetividade humana; 1.3 No âmbito prático, cujo exemplo mais notório é o da ética kantiana, doutrina que supõe o caráter fundamental dos ideais de conduta como guias da ação humana, a despeito de uma possível ausência de exeqüibilidade integral ou verificabilidade empírica em tais prescrições morais. 2 Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por considerações práticas; 3 Teoria ou prática que valoriza mais a imaginação do que a cópia fiel da natureza. Seu oposto seria o realismo. Glossário Idealismo absoluto: Doutrina idealista inerente ao hegelianismo, caracterizada pela suposição de que a única realidade plena e concreta é de natureza espiritual, sendo a compreensão materialística ou sensível dos objetos um estágio pouco evoluído e superável no paulatino desenvolvimento cognitivo da subjetividade humana. Idealismo dogmático: Idealismo, especialmente o berkelianismo, que se caracteriza por negar a existência dos objetos exteriores à subjetividade humana [Termo cunhado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para designar uma orientação idealista com a qual não concorda.]. Seu oposto seria o idealismo transcendental. Idealismo imaterialista: Idealismo defendido por Berkeley (1685-1753) que, partindo de uma perspectiva empirista, na qual a realidade se confunde com aquilo que dela se percebe, conclui que os objetos materiais reduzem-se a ideias na mente de Deus e dos seres humanos; berkelianismo, imaterialismo. 17 Idealismo transcendental (também chamado formal ou crítico): Doutrina kantiana, segundo a qual os fenômenos da realidade objetiva, por serem incapazes de se mostrar aos homens exatamente tais como são, não aparecem como coisas-em-si, mas como representações subjetivas construídas pelas faculdades humanas de cognição. Seu oposto seria o idealismo dogmático. 11. RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA Fonte: www.google.com.br Uma personalidade dominante da história intelectual ocidental, René Descartes foi um filósofo, fisiologista e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, em La Haye, na província de Touraine. Ele foi um contemporâneo de Galileu e Pascal e, portanto trabalhou sob as mesmas influências religiosas repressoras da Inquisição. Cedo em sua vida, pouco após ter se alistado no exército, em 1617, Descartes descobriu que tinha talento para matemática, de modo que ele passou a maior parte de seus anos militares e subsequentes (ele pediu demissão quatro anos mais tarde) estudando matemática pura, especialmente geometria analítica, que se tornou o campo ao qual fez suas maiores contribuições. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, mas foi persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, país que estava, então, no auge do seu poder. Ali ele morou e trabalhou pelos próximos 20 anos, devotando seu tempo e esforços http://www.google.com.br/imgres?q=ren%C3%A9+descartes&hl=pt-BR&biw=1366&bih=673&tbm=isch&tbnid=3LlhfY6vM5QB_M:&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes&docid=oKdNb6-8KwhofM&imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg/190px-Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg&w=190&h=233&ei=T_LsT_SYC6Pz0gGk9onnDQ&zoom=1&iact=hc&vpx=193&vpy=188&dur=186&hovh=186&hovw=152&tx=85&ty=115&sig=102490247769462068140&page=1&tbnh=135&tbnw=109&start=0&ndsp=24&ved=1t:429,r:0,s:0,i:86 18 ao estudo da matemática e filosofia, na perseguição da verdade. Em 1649, foi convidado para ser professor da Rainha Cristina da Suécia, mudando-se para Estocolmo, mas morreu poucos meses após chegar, de pneumonia aguda, em 11 de fevereiro de 1650. Os trabalhos de Descartes em filosofia e ciência foram publicados em cinco livros: Le Monde (O Mundo), uma tentativa de descrever o universo físico, o Discours de la Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans Les Sciences (Discurso sobre o Método de Bem Conduzir sua Razão e Procurar a Verdade nas Ciências), seu trabalho mais importante; Meditationes, um sumário de suas ideias filosóficas em epistemologia, Principia Philosophiae (Princípios da Filosofia), cuja maior parte foi devotada à física, especialmente as leis do movimento, e Les Passions de L'ame (As Paixões da Alma), sua mais importante contribuição à fisiologia e à psicologia. As contribuições de Descartes à física foram feitas principalmente na óptica, mas ele escreveu extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, cérebro e mente. Ele não foi um experimentalista, no entanto. O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumida por sua famosa frase em latim: Cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ele foi o primeiro a levantar a doutrina do dualismo corpo/mente, a propor uma sede física para a mente, e a maneira como ela se inter- relaciona com o corpo. Portanto, ele discutiu temas importantes para as neurociências, que vieram a dominar os quatro séculos seguintes, tais como a ação voluntária e involuntária, os reflexos, consciência, pensamento, emoções, e assim por diante. 12. DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO. Fonte:pt.slideshare.net 19 Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi "inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou". Não se submeteu a nenhuma verdade prévia. Em virtude do poder de seu livre-arbítrio, criou as verdades. Eis por que Deus quer que a soma dos ângulos de um triângulo seja igual a dois ângulos retos. Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante (é a "criação contínua"). O tempo é descontínuo e a natureza não tem nenhum poder próprio. As leis da natureza só são o que são a cada momento, em virtude da vontade do criador. É importante compreender que essa transcendência radical de Deus possui duas consequências fundamentais. O livre-arbítrio humano e a independência da ciência. 1. O homem não é uma parte de Deus. A transcendência do criador afasta qualquer panteísmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador (concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua infinitude, mas não o compreendo), recebo, assim, uma autonomia que será perdida no sistema panteísta de Spinoza. O homem é livre, pode dizer sim ou não às ordens de Deus. É certo que, na Quarta Meditação, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que não pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que é antes um estado de libertação do que uma decisão pura, situada além de todas as razões. Mas nos Princípios e sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbítrio, o poder de recusar a Verdade e o Bem até mesmo na presença da evidência que se manifesta. Esses textos esclarecem a teoria do juízo presente na Quarta meditação. O entendimento concebe a verdade e é a vontade que dá as costas a ou afirma essa verdade. Deus propõe e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou eu que peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado. 2. Do mesmo modo, a transcendência de Deus vai tornar possível uma ciência puramente racional e mecanicista da natureza. a) A natureza, segundo Descartes, não possui dinamismo próprio. Todo dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza é despojada de toda profundidade metafísica, Descartes pode eliminar as noções aristotélicas e medievais de forma, alma, ato e potência. Toda finalidade desaparece e a natureza é reduzida a um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemática. A natureza nada tem de divino, é um objeto criado, situado no mesmo plano da inteligência humana, e, por conseguinte,20 inteiramente entregue à sua exploração. Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeição de todo naturalismo pagão (a natureza não é uma deusa) e na fundamentação metafísica do racionalismo científico. b) Nem tudo tem o mesmo valor na obra científica de Descartes. Se sua ótica e suas considerações sobre a expressão algébrica das curvas (ele é, juntamente com Fermat, o inventor da geometria analítica) constituem incontestável contribuição científica, sua física (dada, aliás, mais como uma possibilidade racional do que como a verdade certa) não passa de um romance. Mas o espírito dessa física e da fisiologia cartesiana - que não passa de um capítulo da física - nada mais é do que o espírito do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais são máquinas, ele coloca, em princípio, que é possível explicar as funções fisiológicas por intermédio de mecanismos semelhantes àqueles que fazem mover os autômatos que vemos "nos jardins de nossos reis". O detalhe das explicações não passa de um sonho. Mas a direção tomada é a ciência moderna. Para Descartes, o mundo físico não possui mistérios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por contato direto, num espaço em que não existe o vazio. O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL 1. - No Discurso sobre o Método, Descartes adota uma moral provisória - pois a ação não pode esperar que a filosofia cartesiana engendrasse uma nova moral. Recordemos seus três preceitos: a) Submeter-se aos usos e costumes de seu país. b) Antes mudar os próprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si próprio do que à fortuna. c) Ser sempre firme e resoluto em suas ações; saber decidir-se mesmo na ausência de toda evidência, à semelhança do viajante perdido na floresta que, ao invés de ficar fazendo voltas, adota uma direção qualquer e nela se mantém! (O cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligência, é uma filosofia da vontade). 2. - É certo que a moral definitiva de Descartes não apresenta uma unidade perfeita. Influências estoicas, epicuristas e cristãs estão presentes nela. Mas, na realidade, essa complexidade reflete a própria complexidade da condição humana. No plano das ideias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substâncias, alma e corpo: a essência da alma é pensar; a do corpo é ser um objeto no espaço. E no entanto, o pensamento está preso a esse fragmento de extensão. A alma age sobre o corpo e este 21 age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicação da alma ao corpo é a glândula pineal, isto é, a epífise.) Mas isso não esclarece a união da alma e do corpo, que é um fato de experiência, puramente vivido e ininteligível. Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial, enquanto espírito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume aspectos diferentes: a) Consideremos o homem enquanto espírito, enquanto liberdade: o valor supremo é a generosidade. "A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime, no ponto máximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na consciência de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposição de suas vontades... e em parte no sentimento de uma firme e constante resolução de bem usá-la, isto é, de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar melhores, o que é seguir a virtude perfeitamente". b) Se considerarmos o homem enquanto espírito unido a um corpo, somos obrigados a levar em conta as paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Paixão é, para Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta, acha que devemos antes dominá-las do que desenvolvê-las. Isso porque ele se coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligações harmoniosas entre os espíritos animais e os pensamentos humanos são altamente desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica de felicidade e, nessa técnica, a medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicação direta ao mecanicismo cartesiano. 13. UTILITARISMO Fonte: www.google.com.br 22 Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) de forma a aperfeiçoar o bem-estar do conjunto dos seres envolvidos. O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) unicamente em função de suas consequências. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e o aplicaram a questões concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc. Fonte: www.google.com.br Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no qual o que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco exercido à coletividade, ou seja, quanto maior o benefício coletivo, tanto melhor a decisão ou ação. 13.1 Princípio da Utilidade 23 Fonte:pt.wikipedia.org John Stuart Mill foi um dos filósofos que se debruçaram sobre o princípio da utilidade Bentham expõe o conceito central da utilidade no primeiro capítulo do livro Introduction to the Principles of Morals and Legislation (―Introdução aos princípios da moral e legislação‖), da seguinte forma: ― Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as vantagens, etc. “O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida com um fim imediato". 13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade pode e deve ser aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários. O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos os afetados por ela. 24 O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a ideia de que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo. Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, comsua teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor consequência possível. David Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil. O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvétius. Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo estudioso da Bíblia que argumentava que fazer a vontade de Deus era o único critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem promovesse a felicidade humana. Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação. À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa 25 somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros. Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal- intencionados, o legislador seria prejudicial para um homem que causasse danos ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal. Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine (1861), é citado como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social. 13.3 Princípios fundamentais do utilitarismo Cinco princípios fundamentais são comuns a todas as versões do utilitarismo: Princípio do bem-estar (the greatest happiness principle em inglês) – O ―bem é definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda ação moral se constitui pelo bem-estar (físico, moral, intelectual). Consequencialismo – As consequências de uma ação são a única base permanente para julgar a moralidade desta ação. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos agentes morais, mas pelas ações – as qualidades morais do agente não interferem no ―cálculo‖ da moralidade de uma ação, sendo então indiferente se o agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato que são morais. Há uma dissociação entre a causa (o agente) 26 e as consequências do ato. Assim, para o utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato pode ser moral ou imoral, dependendo se suas consequências são boas ou más. Princípio da agregação – O que é levado em conta no cálculo é o saldo líquido (de bem-estar, numa ocorrência) de todos os indivíduos afetados pela ação, independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global de bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade. Sendo assim, é considerado válido sacrificar uma minoria, cujo bem-estar será diminuído, a fim de aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos outros. Se o saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo. Princípio de otimização - O utilitarismo exige a maximização do bem-estar geral, o que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever. Imparcialidade e universalismo - Os prazeres e sofrimentos são considerados da mesma importância, quaisquer que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de cada um tem o mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral. Este princípio é compatível com a possibilidade de sacrifício. A princípio, todos têm o mesmo peso, e não se privilegia ou se prejudica ninguém – a felicidade de um rei ou de um cidadão comum são levadas em conta da mesma maneira. O aspecto universalista consiste numa atribuição de valores do bem-estar que é independente das culturas ou das particularidades regionais. Como o universalismo de Kant, o utilitarismo pretende definir uma moral que valha universalmente. 13.4 O cálculo utilitarista Um dos traços importantes do utilitarismo é seu racionalismo. A moralidade de um ato é calculada, ela não é determinada a partir de princípios diante de um valor intrínseco. Este cálculo leva em conta as consequências do ato sobre o bem-estar do maior número de pessoas. Ele supõe então a possibilidade de se calcular as consequências de um ato, e avaliar seu impacto sobre o bem-estar dos indivíduos. Para alguns utilitaristas, como o filósofo Peter Singer, o cálculo utilitarista de prazer e dor deve incluir todos os seres dotados de sensibilidade, sendo legítimo assim incluir 27 os animais no cálculo da moralidade de um ato. Singer se refere ao cálculo utilitarista que seja exclusivo para o ser humano, como uma forma de "especismo", ou seja, preconceito de espécie. 14. EXISTENCIALISMO Fonte: opiniaocentral.wordpress.com O existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino. O existencialismo afirma a prioridade da existência sobre a essência, segundo a célebre definição do filósofo francês Jean-Paul Sartre: "A existência precede e governa a essência." Essa definição funda a liberdade e a responsabilidade do homem, visto que este existe sem que seu ser seja pré-definido. Durante a existência, à medida que se experimentam novas vivências redefine-se o próprio pensamento (a sede intelectual, tida como a alma para os clássicos), adquirindo-se novos conhecimentos a respeito da própria essência do que é o homem. Esta característica do ser é fruto da liberdade de eleição. Sartre, após ter feito estudos sobre fenomenologia na Alemanha, criou o termo utilizando a palavra francesa "existence" como tradução da expressão alemã "Da sein", termo empregado por Heidegger em Ser e tempo. Após a Segunda Guerra Mundial, uma corrente literária existencialista contou com Albert Camus e Boris Vian, alémdo próprio Sartre. É importante notar que Albert Camus, 28 filósofo além de literato, ia contra o existencialismo, sendo este somente característica de sua obra literária. Vian definia-se patafísico. 14.1 Origem Fonte: www.google.com.br O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, e foi particularmente popularizado em meados do século XX pelas obras do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e de sua companheira, a escritora e filósofa Simone de Beauvoir. Os mais importantes princípios do movimento são expostos no livro de Sartre "L'Existentialisme est un humanisme" ("O existencialismo é um humanismo"). O termo existencialismo foi adotado apesar de haver o termo: existência filosófica, usado inicialmente por Karl Jaspers, da mesma tradição. 14.2 História do Existencialismo O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto pertencente aos séculos XIX e XX, mas os seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e vida) de Sócrates, Aurélio Agostinho e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré- modernos. Culturalmente, podemos identificar pelo menos duas linhas de pensamento existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. As culturas judaica e russa http://www.google.com.br/imgres?q=existencialismo&hl=pt-BR&biw=1366&bih=673&tbm=isch&tbnid=1v3whdrJqLxVDM:&imgrefurl=http://aiaiaiuiuiuiblog.blogspot.com/2010/02/o-existencialismo.html&docid=rx4jhqaBoWmKcM&imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_Kez7SDazudQ/S4R-WeJBjlI/AAAAAAAAA_E/LbtQgKmibUs/s400/existencialismo1.jpg&w=279&h=320&ei=QC3uT6eBGoSn6AHIz6CcCg&zoom=1&iact=hc&vpx=603&vpy=162&dur=1922&hovh=240&hovw=210&tx=90&ty=148&sig=102490247769462068140&page=1&tbnh=138&tbnw=118&start=0&ndsp=21&ved=1t:429,r:2,s:0,i:92 29 também contribuíram para esta filosofia. Após ter experienciado vários distúrbios civis, guerras locais e duas guerras mundiais, algumas pessoas na Europa foram forçadas a concluir que a vida é inerentemente miserável e irracional. Heidegger e Kierkegaard foram os pioneiros neste debate sobre a crise da existência humana. Hoje, o existencialismo não morreu de fato, pelo contrário, continua a produzir, quer na filosofia, quer na literatura, no cinema, ou até na ideologia de vida. 14.3 Temáticas Os temas existencialistas são férteis no terreno da criação literária, nomeadamente na literatura francesa, e continuam a exibir vitalidade no mundo filosófico e literário contemporâneo. As principais temáticas abordadas sugerem o contexto da sua aparição (final da Segunda Guerra Mundial), refletindo o absurdo do mundo e da barbárie injustificada, das situações e das relações quotidianas ("L'enfer, c'est les autres", ["O inferno são os outros"], Jean-Paul Sartre). Paralelamente, surgem temáticas como o silêncio e a solidão, corolários óbvios de vidas largadas ao abandono, depois da "morte de Deus" (Friedrich Nietzsche). A existência humana, em toda a sua natureza, é questionada: quem somos? O que fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? É esta consciência aguda de abandono e de solidão (voluntária ou não), de impotência e de injustificabilidade das ações, que se manifesta nas principais obras desta corrente em que o filosófico e o literário se conjugam. 14.4 Relação com a religião Apesar de muitos, senão a maioria, dos existencialistas terem sido ateístas, os autores Soren Kierkegaard, Karl Jaspers e Gabriel Marcel propuseram uma versão mais teológica do existencialismo. O ex-marxista Nikolai Berdyaev desenvolveu uma filosofia do Cristianismo existencialista na sua terra natal, Rússia, e mais tarde na França, na véspera da Segunda Guerra Mundial. 14.5 Fé e existencialismo 30 O existencialismo não é uma simples escola de pensamento, livre de qualquer e toda forma de fé. Ajuda a entender que muitos dos existencialistas eram, de fato, religiosos. Pascal e Kierkegaard eram cristãos dedicados. Pascal era católico, Kierkegaard, um protestante radical marcado pelo ríspido antagonismo com a igreja luterana. Dostoiévski era greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu. Sartre realmente não acreditava em força divina. Sartre não foi criado sem religião, mas a Segunda Guerra Mundial e o constante sofrimento no mundo levaram-no para longe da fé, de acordo com várias biografias, incluindo a de sua companheira, Simone de Beauvoir. Curiosamente, Sartre passou seus últimos anos de vida explorando assuntos de fé com um judeu ortodoxo. Apenas podemos imaginar suas conversas, já que Sartre não as registrou. Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia suas decisões com um conjunto rigoroso de regras em algumas vertentes cristãs e para outras como o espiritismo, as decisões são guiadas pelo pensamento, pela alma. Para os ateus, a "ironia" é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a complexidade do pensamento existencialista. 14.6 A existência precede e governa a essência É um conceito da corrente filosófica existencialista. A frase foi primeiramente formulada por Jean-Paul Sartre, e é um dos princípios fundamentais do existencialismo. O indivíduo, no princípio, somente tem a existência comprovada. Com o passar do tempo ele incorpora a essência em seu ser. Não existe uma essência pré-determinada. Com esta frase, os existencialistas rejeitam a ideia de que há no ser humano uma alma imutável, desde os primórdios da existência até a morte. Esta essência será adquirida através da sua existência. O indivíduo por si só define a sua realidade. Em 1946, no "Club Maintenant" em Paris, Jean Paul Sartre pronuncia uma conferência, que se tornou um opúsculo com o nome de "O Existencialismo é um Humanismo". Nele, ele explica a frase, desta forma: "... se Deus não existe, há pelo menos 31 um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significa então que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si próprio se fizer.”. 14.7 Liberdade Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente livres. E, frente a essa liberdade de eleição, o ser humano se angustia, pois a liberdade implica fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós ficamos paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. Porém, a "não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não agir. A escolha de adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo. Os existencialistas perguntaram-se se havia um Criador. Se sim, qual é a relação entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-definidas e os homens têm que se adaptar a elas? Esses homens estiveram tão dedicados aos seus estudos que se tornaram antissociais, enquanto se preocupavam com a humanidade.Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são alguns dos filósofos que mais influenciaram o existencialismo. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma questão: o que limita a ação de um indivíduo? Kierkegaard chegou à possibilidade de que o cristianismo e a fé em geral são irracionais, argumentando que provar a existência de uma única e suprema entidade é uma atividade inútil. Nietzsche, frequentemente caracterizado como ateu, foi, sobretudo um crítico da religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião organizada, especialmente a Igreja Católica e Protestante, era contra qualquer poder de ganho ou autoconfiança sem consentimento. Nietzsche usou o termo rebanho para descrever a população que, de boa vontade, segue a Igreja. Ele argumentou que provar a existência de um criador não era possível nem importante. Na verdade, Nietzsche valorizava e exaltava a vida como única entidade que merecia louvor. Prova disso é o eterno retorno em que ele afirmava que o homem deveria 32 viver a vida como se tivesse que vivê-la nova e eternamente. A implicação disso é uma extrema valorização da vida, imaginemos cada segundo, cada minuto vivido igual e eternamente? E quanto à Igreja, Nietzsche a condenava, pois ela é um traço das influências que negavam o valor da vida na sociedade contemporânea; ele era sim ateu, e para ele, dentre os mais inteligentes, o pior era o padre, pois conseguia incutir nos pensamentos do rebanho, fundamentos falsos, exteriores e metafísicos demais, que só contribuíam para o afastamento da vida. 14.8 O Indivíduo versus a Sociedade O existencialismo representa a vida como uma série de lutas. O indivíduo é forçado a tomar decisões e frequentemente as escolhas são ruins. Nas obras de alguns pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da miséria. A maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas teológicos e cristãos. As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de planejar um projeto funcional. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela deveria ser. Os existencialistas explicam por que algumas pessoas se sentem atraídas à passividade moral baseando-se no desafio de tomar decisões. Seguir ordens é fácil; requer pouco esforço emocional e intelectual fazer o que lhe mandam. Se a ordem não é lógica, não é o soldado que deve questionar. Deste modo, as guerras podem ser explicadas, genocídios em massa podem ser entendidos. As pessoas estavam apenas fazendo o que lhes fora mandado fazer. 14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo Martin Heidegger Jean-Paul Sartre Søren Kierkegaard Edmund Husserl Friedrich Nietzsche Arthur Schopenhauer Martin Buber 33 Há duas linhas existencialistas famosas, quer de impulsionadores, quer de existencialistas propriamente ditos. A primeira, de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger é agrupada intelectualmente. Esses homens são os pais do existencialismo e dedicaram-se a estudar a condição humana. A segunda, de Sartre, Camus e Beauvoir, era uma linha marcada pelo compromisso político. Enquanto outras pessoas entraram e saíram, esses sete indivíduos definiram o existencialismo. O filosofar heideggeriano é uma constante interrogação, na procura de revelar e levar à luz da compreensão o próprio objeto que decide sobre a estrutura dessa interrogação, e que orienta as cadências do seu movimento: a questão sobre o Ser. A meta de Heidegger é penetrar na filosofia, demorar nela, submeter seu comportamento às suas leis. O caminho seguido por ele deve ser, portanto, de tal modo e com tal direção, que aquilo de que a Filosofia trata atinja nossa responsabilidade, vise a nós homens, nos toque e, justamente, nos transforme. O pensamento de Heidegger é um retorno ao fundamento da metafísica num movimento problematizador, uma meditação sobre a Filosofia no sentido daquilo que permanece fundamentalmente velado. A Filosofia sobre a qual ele nos convida a meditar é a grande característica da inquietação humana em geral, a questão sobre o Ser, ou seja, o que significa ―estar no mundo ou ―ser no mundo. 15. LEITURA COMPLEMENTAR Nome do autor: Rodrigo Bentes Monteiro Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752007000100008 Data do acesso: 09/05/2016 As Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate historiográfico RESUMO O artigo, como um verbete destinado aos cursos em História, pretende analisar a produção historiográfica, sobretudo européia, acerca das Reformas Religiosas no início da Europa 34 Moderna. Evidencia a crítica de abordagens mais tradicionais adotadas por autores comprometidos com sua fé, e os estudos meramente institucionais, doutrinários ou funcionalistas. O artigo destaca a atenção dada por historiadores do século XX ao contexto da "pré-reforma", à intensa devoção religiosa então vivida, e à conexão entre aspectos da vida religiosa, cultural, política e social da Europa Moderna. Palavras-chave: Reformas Religiosas, Europa Moderna, debate historiográfico ABSTRACT The article, as an introduction aimed to the course in History, intends to analyze the European historical production, related to the Religious Reformation in the Early Modern Europe. It focuses the more traditional approaches adopted by authors compromised with their own faith and on merely institutional, theological and functional studies. The article points to the attention given by the XX Century historians, to the "pre-reformation" context, to the profound faith of the time, and to the connection of the religious, cultural, political and social aspects of life in Modern Europe. Key words: Religious Reformation, Modern Europe, historical debate No século XVIII, com o surgimento da filosofia da história em meio ao ambiente iluminista potencialmente revolucionário e ante eclesiástico, o movimento conhecido como Reforma protestante era inserido no processo de modernização da sociedade ocidental, conforme as ideias de Hegel. Era a "mundanização positiva", diferente da conotação negativa atribuída pelo filósofo alemão ao contexto anterior da Escolástica. Enquanto estudiosos laicos entendiam a Reforma como fundação do caminho para a liberdade, católicos ultramontanos, defensores da infalibilidade papal, observavam-na como um equívoco que desestabilizou princípios de autoridade, ordem social e disciplina, característicos da cristandade medieval. Na primeira metade dos Oitocentos, Leopold von Ranke inaugurou uma abordagem menos confessional e apologética, concomitante ao estabelecimento da História como disciplina e aos propósitos nacionais e políticos da Prússia após o Congresso de Viena, em 1815. No preâmbulo de sua história sobre os papas, as nações nórdicas e mediterrânicas ocultavam a tradicional dicotomia entre católicos e protestantes. Ranke queria enfatizar as relações entre setentrionais e meridionais, na passagem do século XV ao XVI. Mas, por trás de sua conhecida erudição no lidar com fatos militares, políticos e diplomáticos, 35 subsistiam juízos de valor. Não obstante a aplicação do método de Barthold Niebuhr no estudo crítico das fontes, o jovem e fervoroso luterano centrou-se no período em que papado e império perdiam poder. Com a Reforma luterana, nascia a Idade Moderna, quando o "povo" tornava-se protagonista na história. Sua concepção de História Moderna não era assim forjada apenas por governantes e sacerdotes. Ela harmonizava-se também às necessidades do Estado prussiano, cuja política eclesiástica naquele momento dependia dos delicados matrimônios mistos entre protestantes e novos súditos católicos, cheios de soberba e inspirados nas tradições renanas. Também em sua obra maior sobre a história alemã na épocada Reforma, Ranke mal disfarçou sua admiração por Lutero, embora afirmasse fazer uma história desapaixonada e imparcial do papado, pois a Roma católica já não ameaçava a nova e grande Prússia, fortalecida desde o século XVIII, até a unificação alemã em 1870-1871. Reprovava-se assim a Ranke a sua "malignidade protestante", bem como ter considerado a história da Igreja e da cristandade, mormente em seus aspectos político e institucional. Em 1906 o teólogo e filósofo Ernst Troeltsch - colega de Max Weber - apresentava seu livro sobre o protestantismo e o mundo moderno em um congresso de historiadores. Seu tema era a relação entre a herança religiosa do século XIV e a modernidade. Sem dogmatismo, o autor expôs a influência do protestantismo nas novas formas de ser e de pensar do final do século XVIII. Troeltsch defendia que a religião protestante assemelhava- se ao catolicismo medieval, em seu intento por restaurar a cultura religiosa antiga, com a novidade de enfatizar a liberdade individual. Embora tenha assinalado características próprias do luteranismo e do calvinismo, especialmente ante as autoridades políticas, o estudo de Troeltsch, na linha de uma teologia liberal, caracterizou-se por ser uma reflexão geral. Fome de Deus Com efeito, o tema das Reformas Religiosas pertinente ao início da Época Moderna possui implicações que ultrapassam as mudanças institucionais eclesiásticas no século XVI, relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder vividos na Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a esses desdobramentos e relações, e pode-se afirmar que uma transformação significativa na análise das questões religiosas referentes ao século XVI começou a ocorrer a partir da década de trinta do século XX, com os trabalhos de Delio Cantimori, Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinqüenta. A 36 explicação das novidades desta tríade de estudiosos e de seus respectivos desdobramentos, poderá esclarecer melhor o "antes" e o "depois" da produção historiográfica sobre as Reformas. Delio Cantimori é bastante conhecido por suas reflexões acerca dos problemas de periodização do Renascimento. Mas não somente. Em Umanesimo e Religione nel Rinascimento, o historiador italiano que propôs o termo Idade Humanística para a Época Moderna também procura relações entre o humanismo e a Reforma, concluindo que o protestantismo em seu advento representou o próprio fracasso do ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo excessivo em sua transformação através do livre arbítrio. Dessa forma, o servo arbítrio de Lutero seria não apenas o antídoto contra o livre arbítrio de Erasmo – princípio essencial à teologia católica -, mas a confirmação da onipotência divina em oposição ao programa educacional encetado pelos homens do Renascimento. Em Storici e Storia, grande obra do estudioso acerca da discussão historiográfica sobre Renascimento e Reforma, Cantimori coteja as interpretações realizadas sobre a Reforma protestante, desde o século XIX até meados do XX. Transparece assim a inovação do autor - também interessado em heterodoxias e heresias -, ao defender uma pesquisa mais argumentativa, que contemple a piedade e a sensibilidade religiosa, rompendo com controvérsias teológicas e eclesiásticas que caracterizavam muitos dos estudos. Lucien Febvre, como Delio Cantimori, não se particularizava por realizar uma história confessional – algo ainda relativamente novo entre estudiosos da Reforma – e como o italiano propunha também uma história da espiritualidade mais abrangente que as questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na Europa ocidental. No célebre estudo sobre os "problemas de conjunto", em Au Coeur Religieux du XVIe Siècle, publicado postumamente, este historiador interroga-se sobre as origens da Reforma em França. Febvre refere-se ao problema dos historiadores franceses que, absorvidos pelas questões da "especificidade", da "prioridade" e da "nacionalidade", buscavam uma origem para a Reforma francesa em Lefèvre d'Étaples – um dos primeiros "pré-huguenotes" a realizar colóquios com Margarida de Valois, objeto de outro livro de Febvre -, em comparação a Lutero. Ao questionar, neste caso, a validade da história comparada, Lucien Febvre indica que o suposto primeiro reformador francês não criticava os abusos da Igreja, e que o problema do surgimento da Reforma deveria levar em conta a intensa religiosidade vivida na Europa – inclusive na França – ao final do século XV e no início do século XVI: fidelidade às velhas crenças, devoção tradicional, a fé concretizada nos "testemunhos de 37 pedra" do gótico tardio e no sucesso de obras surgidas no século XV, como a Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, que iria mais tarde conquistar a admiração de Erasmo de Rotterdam. Se a realidade devocional era forte, entre ela e o clero existia um abismo marcado pela insensibilidade. Deste modo, o historiador francês justifica o sucesso da Reforma – na França e alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua vulgar, e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em conclusivo, defende que a Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa de muita gravidade que assolou a Europa naquele tempo. Para compreender este fenômeno, seria preciso pesquisar todas as manifestações diversas então vividas, na política, na economia, na sociedade, na cultura intelectual e artística. Portanto, para Febvre, os historiadores franceses atrapalhavam-se, quando buscavam origens específicas em situações que eram gerais. A história da Reforma, segundo o historiador dos Annales, não poderia limitar-se em marcos institucionais, políticos e eclesiásticos. No entender de Cantimori, Febvre seria o "historiador psicólogo" atento, entretanto, às especificidades do homem do século XVI. Pode-se afirmar que Jean Delumeau desenvolveu e ampliou questões já estabelecidas por Lucien Febvre. Em Un Chemin d'Histoire, Chrétienté et Christianisation, Delumeau estuda os cristãos no tempo da Reforma e, também como Febvre, indaga-se sobre as causas do movimento protestante, mencionando a princípio duas explicações mais tradicionais: uma primeira que remete aos abusos da Igreja, e outra de cunho economicista, sobre a luta da burguesia contra o feudalismo. Delumeau argumenta que os protestos contra os abusos da Igreja não eram novidade, e que esta possibilidade explicativa não responde, por exemplo, ao fato de Erasmo, apesar de seus "protestos", ter continuado na Igreja católica, e nem à situação dos protestantes que não retornaram a ela quando o catolicismo se reformou. A explicação marxista, por sua vez, não esclarece a razão da Península Itálica, região próspera economicamente no início do século XVI, ligada ao comércio mercantil, ter permanecido católica. O historiador francês indica as fragilidades existentes neste tipo de discussão, mais concentrada na difusão da Reforma que em suas causas, negligenciando também aspectos teológicos do debate. A seguir Delumeau – como já o fizera Lucien Febvre – detém-se na análise dos comportamentos religiosos na Europa do início do século XVI. Em resumo, ele verifica a existência de um cristianismo popular mais íntimo e profundo, cristianismo vivido de forma plena – em seu aspecto formal – somente pelas elites. Tratava-se então de um mundo de ignorância religiosa, distante dos abusos da Igreja. O historiador refere-se, como exemplo, ao livro de Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic, que retrata a sociedade 38 inglesa do século XVI repleta de práticas mágicas e crenças, relacionadas pelo autor aos mecanismos de solidariedade aldeã, em contraposição à afirmação da propriedade privada e do individualismo. Processo no qual o(a) outro(a), o(a) estranho(a), o(a) diferente, tendia a ser acusado(a) de feitiçariapelos vizinhos. Delumeau também – repetindo Febvre – refere-se ao sucesso de Imitação de Cristo, obra que resume o ideal de devotamento, pobreza e piedade na Europa de então. Era um mundo também de medo – retomando um dos mais conhecidos temas do historiador abordado em La Peur en Occident, tão bem expresso pelo holandês Johan Huizinga, já em 1919, no seu Herfsttij der Middeleeuwen, literalmente Outono da Idade Média. Peste, fome e guerra estavam relacionadas ao pânico, e à superstição como solução para os problemas. O combate à superstição constitui outro tema desenvolvido por Delumeau, luta importante efetuada por Lutero e Calvino. Tentando analisar os escritos dos reformadores como material etnológico, o historiador francês concebe a Reforma como promoção da vontade cristianizadora, contra o catolicismo, mas também contra a idolatria, vilões não distintos para eles. A realidade conflituosa e mesclada em termos religiosos, recuperada por Delumeau, deve alertar os estudiosos do período sobre a imprudência que podem demonstrar ao tentar separar, sempre, o que é religioso do que émágico. São muitos os exemplos procedentes em relação a esta questão: o estudo de Emmanuel Le Roy Ladurie, Montaillou, village occitan de 1294 à 1324, demonstra que, já no final da Idade Média, cristão ereligioso não eram sinônimos. Em Le Carnaval de Romans. De la chandeleur au mercredi des cendres 1579-1580, sobre os festejos realizados naquela cidade francesa, que misturavam aspectos religiosos e profanos, Ladurie verifica a mesma dificuldade de classificação, bem percebida por Natalie Davis na coletânea de ensaios intitulada Society and Culture in Early Modern France, sobre a Reforma e os grupos sociais populares franceses no século XVI. O exemplo mais conhecido talvez seja o estudado por Carlo Ginzburg – discípulo de Cantimori em sua atenção às heresias e à micro-história - em Il Formaggio e i Vermi. Il cosmo di un mugnaio del ‘500. Na cosmologia toda especial de Menocchio, percebe-se não somente a circularidade cultural, mas a dificuldade de tipificação do que seria a boa religião, aceita pelos inquisidores. O moleiro era batizado e se confessava e, no entanto, foi considerado blasfemador e herege pela Igreja. O livro de Ginzburg chama atenção para a possibilidade de diferentes leituras sociais e culturais do cristianismo. Em conclusivo, na obra há pouco referida, Jean Delumeau concebe a marcha do cristianismo como progressiva e não triunfal dentro da cristandade, sublinhando o 39 equívoco perigoso para os historiadores que lidam somente com os aspectos institucionais da filiação religiosa. A consideração de outra obra do mesmo historiador, Le Catholicisme entre Luther et Voltaire, indica o caminho para a abordagem da Reforma católica, e para o modo como o referido autor concebe as reformas: como atos não seqüenciais entre si, tentando entender sua gênese para além da tradicional questão em torno dos abusos da Igreja. Neste livro, Delumeau argumenta que a renovação da Igreja se deu em dois momentos, o da pré- reforma e o iniciado no Concílio de Trento (1545-1563), quando os prelados ali reunidos atenderam alguns pleitos de João Huss, Bernardo de Siena e Savonarola. O autor também chama atenção para o ambiente de solidez teológica da Espanha no século XVI, onde surgiu a vocação religiosa de Inácio de Loyola e o neotomismo da Universidade de Salamanca. Em relação ao Concílio de Trento, Delumeau desenvolve seu estudo em torno de uma questão: como um evento que contou com tantas dificuldades, que foi iniciado com tanto ceticismo e com tão pouco expressivo número de clérigos, como este acontecimento que enfrentou obstáculos por parte de soberanos europeus como Francisco I, e que precisava tanto do apoio dos chefes de Estado católicos, como pôde este evento marcar de tal forma a história da Igreja. Delumeau responde a esta questão defendendo que a grandeza do Concílio de Trento consistiu em atender às necessidades religiosas de seu tempo, tal como a Reforma protestante. Estabelece um paralelo entre o Édito de Nantes (1598) e este concílio, pois os dois acontecimentos efetivamente realizaram o que os anteriores decretos de tolerância – no caso do primeiro – e as anteriores reformas, no segundo, não concretizaram, permanecendo letra morta. Segundo o autor, a cristandade ocidental, em meados do século XVI, vivia uma mutação profunda, tinha "fome de Deus". Esta fome se manifestava, por um lado, pela busca da palavra da vida, mas também pelo pânico dos pecados. A saciedade desta fome pode ser percebida, após o Concílio, pelo comportamento mais moralizado de alguns papas, pela renovação de Roma enquanto capital religiosa, pelos sínodos, seminários e visitas pastorais intensificados, e pelas novas ordens religiosas criadas. Algumas ordens, como a dos capuchinhos e das ursulinas, precederam o próprio Concílio, impressionando a sensibilidade religiosa da época. Outras se destacaram pela pujança de suas realizações, como foi o caso notório dos jesuítas, soldados de Cristo que abrangeram o além-mar, e dos carmelitas descalços liderados por Teresa d'Ávila, renovando o catolicismo na Espanha de Felipe II. Deste modo, nesta obra, o autor propõe duas leituras da Reforma católica: uma sobre o endurecimento das estruturas, com um clero mais firme e com ênfase na catequese; e outra, a falar de 40 santidade e piedade, de exemplos heróicos testemunhados nas vidas de papas e religiosos do século XVI. Torna-se oportuno, assim, em se tratando de Reforma católica, recuperar um nome apenas mencionado ao início como componente de uma tríade fundamental para o entendimento das inovações historiográficas sobre a Reforma. Coube a Hubert Jedin, jesuíta alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, a criação do conceito de Reforma católica, diferente de Contra-Reforma. Em sua história sobre o Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura organizacional da Igreja no século XVI, contemplando também o período da pré-reforma, o que possibilita pensar as mudanças vividas no papado durante os Quinhentos. O autor alemão enfatiza as linhas de força do Concílio, caracterizadas pelo reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo a passo a marcha do evento, analisando a diplomacia entre Roma, Trento e Salamanca, e a influência das idéias erasmianas. Jedin é mencionado por Jean Delumeau como o melhor historiador da Reforma católica. Contudo, a Reforma católica, como já foi indicado, não pode ser restrita ou tipificada apenas pelas decisões conciliares. John Bossy, em Christianity in the West 1400-1700, fornece-nos o interessante exemplo de uma reforma silenciosa, caracterizada pela investida dos clérigos em disciplinar as práticas do casamento - em oposição às fiançailles, que consumavam a união antes do laço institucional definitivo -; do batizado logo após o nascimento; da confissão periódica. Nesses casos, tratava-se de promover a passagem de uma cristandade medieval para um moderno catolicismo, mediante rompimento dos vínculos de uma solidariedade grupal para uma delegação de responsabilidades ao indivíduo como católico. A Reforma católica em Portugal tem sido trabalhada por Federico Palomo com ênfase neste catolicismo moderno. Retomaremos essa questão tão importante sobre a "modernidade" das Reformas Religiosas ao final do artigo. Deve-se ainda mencionar, para que se tenha noção de um quadro mais rico e complexo acerca do universo religioso no século XVI - não necessariamente polarizado entre protestantismo e catolicismo -, a existência de outras correntes de pensamento não tão engajadas em disputas. O historiador italiano Alberto Tenenti desenvolveu um já clássico estudo sobre o libertinismo, publicado nos Annales, no qual se faz evidente - mais uma vez - a dificuldade de classificação sobre o que seria herético
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