Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 1 -. Identificar a relação do Estado com a educação. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; [...] A reunião desses princípios, assegurados por lei como um dever do Estado, relaciona-se com a oferta de uma educação pública gratuita a todos os cidadãos, a responsabilidade de ofertar um ensino de qualidade, o compromisso com a autonomia e a democratização das instituições de ensino. 2 - . Descrever as três principais tarefas do Estado, em sua relação com a educação. A partir da década de 1990, as ressignificações dos papéis do Estado intensificaram-se, sendo influenciadas pela globalização, pelas relações com outros países e pelas novas tendências econômicas. Além disso, o cenário de crise afetava os mais variados setores. A partir desses desdobramentos, em 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso formula uma reforma por meio de um Plano Diretor da Reforma do Estado (BRASIL, 1995). Com isso, passa-se a considerar que o Estado não é mais o responsável direto pelo desenvolvimento do país, passando a exercer atribuições de promoção e regulação do avanço econômico e social. O mesmo documento estabelece as seguintes relações entre Estado e educação: O Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços, mantendo-se entretanto no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano; para a democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda mais justa, que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à demanda de mão-de-obra não-especializada. Como promotor desses serviços o Estado continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade (BRASIL, 1955, p. 13). As três principais tarefas do Estado em sua relação com a educação O Estado brasileiro é dividido em níveis federal, estadual e municipal, que se articulam para viabilizar meios de ofertar o que lhes foi atribuído por documentos constitucionais e outros. 3 - . Apontar a importância de se analisar o Estado para compreender a educação. Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 1 - IDENTIFICAR, POR MEIO DA LEI Nº. 12.796/2013, A OBRIGATORIEDADE DA MATRÍCULA E DA FREQUÊNCIA DAS CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. A obrigatoriedade de matrícula e frequência de crianças de 4 anos na educação infantil ainda é recente. Até poucos anos atrás, a obrigatoriedade estava voltada para o ingresso de crianças a partir dos 7 anos no ensino fundamental. Como você pode imaginar, a inclusão das crianças de 4 e 5 anos na educação infantil demanda o desenvolvimento de práticas pedagógicas que respeitem as especificidades dessa faixa etária. Um tipo de brincadeira fundamental nessa etapa do desenvolvimento, para a promoção de importantes aprendizagens, é o faz de conta. Em 4 de abril de 2013, a então presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou a Lei nº. 12.796/2013, que ajustou a Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDB), à Emenda Constitucional nº. 59, de 11 de novembro de 2009. Assim, tornou-se obrigatória a oferta de educação básica gratuita a partir dos 4 anos de idade. De acordo com a Lei, caberia aos pais e responsáveis realizar a matrícula das crianças dessa idade. Já as redes municipais e estaduais de ensino teriam até o ano de 2016 para se adequar a fi m de acolher alunos de 4 a 17 anos de idade. O fornecimento de transporte, alimentação e material didático também passou a ser estendido a todas as etapas da educação básica. Na redação anterior da LDB, a obrigatoriedade de matrícula era pensada para crianças a partir dos 7 anos de idade, ano inicial do ensino fundamental, com duração de oito anos. Nos §§ 1º e 2º do art. 4º, essa questão fica explícita. Veja: Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I — Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II — Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio (BRASIL, 1996, documento on-line). O § 2º do art. 30 da LDB publicada em 1996 afirmava que as pré-escolas deveriam atender as crianças de 4 a 6 anos de idade. Pela nova redação da Lei nº. 12.796/2013, que altera a LDB, o texto do § 2º recebeu uma nova redação. Assim, as pré-escolas passaram a atender crianças de 4 e 5 anos. 2 - DEFINIR AS ESPECIFICIDADES DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS COM CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS NA ESCOLA. O trabalho pedagógico deve garantir os seis direitos de aprendizagem da educação infantil: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer--se. 1 - O eu, o outro, os nós. 2 - Corpo, gestos e movimento. 3 - Traços, sons, cores e formas. 4 Escuta, fala, pensamento e imaginação. 5 - Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. A organização curricular em campos de experiências contempla dois aspectos fundamentais para o trabalho pedagógico na educação pré-escolar: a interdisciplinaridade e a visão da criança como protagonista do seu processo de aprendizagem. 3 - RECONHECER AS BRINCADEIRAS DE FAZ DE CONTA COMO FUNDAMENTAIS PARA O DESENVOLVIMENTO/APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS. A Base Comum Curricular e a educação infantil Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 1 - Identificar a importância da Base Nacional Comum Curricular para a educação infantil. Durante algumas décadas, o Ministério da Educação publicou documentos com o objetivo de normatizar e organizar a educação infantil — creche e pré-escola. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um desses documentos. Ela estabelece um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens que todos os alunos devem desenvolver ao longo de todas as etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), obrigatória dos 4 aos 17 anos. A importância da BNCC para a educação infantil Com o objetivo de regulamentar e organizar a educação infantil, o Ministério da Educação (MEC) publicou alguns documentos. Entre eles, você pode considerar: Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c), em três volumes; dois Planos Nacionais de Educação (BRASIL, A BNCC é um documento plural preparado por especialistas de várias áreas. Ela tem o objetivo de superar a fragmentação das políticas educacionais, buscando fortalecer o regime de colaboração entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal). Além disso, pretende balizar a qualidade da educação. Cabe ao Governo Federal a revisão da formação inicial e continuada de professores para alinhá-los à BNCC. Já as redes de ensino públicas de educação básica e as escolas particulares têm a tarefa de construir currículos com base nas aprendizagens essenciais estabelecidas na BNCC (BRASIL, 2017). Nos fundamentos pedagógicos da BNCC se define competência como: “[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho [...]” (BRASIL, 2017, p. 8). A Baseenumera 10 competências gerais para a educação básica, que determinam “[...] o compromisso da educação brasileira com a formação humana integral e com a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva [...]” (BRASIL, 2017, p. 7). Acerca da educação infantil, na BNCC há como proposição os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e os campos de experiências, que se subdividem nas seguintes faixas etárias: bebês (0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). Além disso, o documento apresenta os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para a educação infantil (BRASIL, 2017). Estrutura da educação infantil (BNCC) Creche Pré-escola Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças Pequenas Crianças pequenas (4 anos e 5 anos e 11 meses) 2 - Reconhecer a importância da garantia dos direitos de aprendizagem das crianças nas escolas de educação infantil. A criança é um sujeito completo, histórico e de direitos, com possibilidades de construir identidade pessoal e conhecimento e produzir cultura. Nas últimas décadas, está consolidando-se na educação infantil a visão que vincula educar e cuidar, entendendo essas ações como inseparáveis do processo educativo. Tendo em vista os eixos estruturantes da educação e os princípios estéticos, éticos e políticos destacados na DCNEI que sustentam os direitos da criança, são propostos pela BNCC seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Esses direitos asseguram, na educação infantil, as condições para que as crianças aprendam, desenvolvam-se e socializem em situações que possibilitem experimentações. A ideia é que elas possam construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas interações e ações com seus pares e adultos (BRASIL, 2017). De acordo com a BNCC, as crianças têm seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Você pode conhecê-los melhor a seguir (BRASIL, 2017). 1 - Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. 2 - Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. 3 - Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. 4 - Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. 5 - Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Quais são essas intencionalidades educativas? O educador deve propor experiências que possibilitem à criança: [...] conhecer a si e ao outro e [...] conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas [...] (BRASIL, 2017, p. 37). Como o educador pode realizar isso, conforme as orientações da BNCC? O trabalho do educador é: “[...] refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças [...]” (BRASIL, 2017, p. 37). A BNCC enfatiza que os educadores realizem “[...] a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo — suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens [...]” (BRASIL, 2017, p. 37). Como você viu, na educação infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os direitos de aprendizagem — conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. A organização curricular da educação infantil na BNCC estrutura-se em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. 3 - Reconhecer os campos de experiências como um conjunto de linguagem relacionados às práticas sociais de nossa cultura. O que são os campos de experiências? Primeiramente, a definição e a designação dos campos de experiências resultam do que dispõem as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil com relação aos saberes e conhecimentos essenciais a serem garantidos às crianças e associados às suas experiências. Dessa forma, os campos de experiências “[...] constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural [...]” (BRASIL, 2017, p. 38). Os campos de experiências em que se organiza a BNCC são: (1) O eu, o outro e o nós; (2) Corpo, gestos e movimentos; (3) Traços, sons, cores e formas; (4). Escuta, fala pensamento e imaginação e (5) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. A seguir, você pode conhecer melhor cada um deles conforme as disposições da BNCC. No campo de experiências “Corpo, gestos e movimentos”, as crianças desde cedo devem ter experimentações: (1) com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), [que] exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. (2) por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, [que] [...] se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem (BRASIL, 2017, p. 38). A Base Comum Curricular e a e 6 educação infantil Assim, na educação infantil, “[...] o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão [...]” (BRASIL, 2017, p. 38). As escolas precisam possibilitar às crianças oportunidades ricas, permeadas pelo espírito lúdico e pela interação com pares. Assim, elas podem explorar e realizar vivências a partir de um amplo repertório de: [...] movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (BRASIL, 2017, p. 38). No campo de experiências “Traços, sons, cores e formas”, defende-se que as crianças devem: [...] conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituiçãoescolar, [o que] possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras [...] (BRASIL, 2017, p. 39). A BNCC mostra que, com base nessas experiências, as crianças se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais e exercitando a autoria (coletiva e individual). Tais experiências colaboram para que “[...] as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca [...]” (BRASIL, 2017, p. 39). Logo, a educação infantil precisa propiciar a participação das crianças: [...] em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas [...] (BRASIL, 2017, p. 39). O campo de experiência “Escuta, fala, pensamento e imaginação” mostra a importância de os bebês e as crianças participarem de situações comunicativas A Base Comum Curricular e a educação infantil 7 cativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem, apropriando-se progressivamente da língua materna. Na educação infantil, é necessário propor experiências nas quais as crianças possam: [...] falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social [...] (BRASIL, 2017, p. 40). Com relação ao campo “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, percebe-se que as crianças vivem em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Assim, elas demonstram curiosidade sobre: (a) os tempos: dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc. (b) os espaços: rua, bairro, cidade etc. (c) o mundo físico: seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc. (d) o mundo sociocultural: as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhecem; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc. (e) conhecimentos matemáticos: contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc (BRASIL, 2017, p. 40-41). Política educacional contemporânea: debates sobre a reforma do ensino médio. Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 1 - Identificar como foi a implementação da reforma do ensino médio. Em 22 de setembro de 2016, o Ministério da Educação encaminhou ao Congresso Nacional em caráter de Medida Provisória a MP n°. 746 (BRASIL, 2016). Nessa MP, foram apresentadas propostas de alterações da Lei n°. 9.394 de 20 de dezembro de 1996 e também da Lei n°. 11.494 de 20 de junho de 2007 (Lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação — Fundeb) e funcionou como uma base para a formulação e promulgação da Lei n°. 13.415, publicada no Diário Oficial da União em 17 de fevereiro de 2017 (BALD; FASSINI, 2017). É importante esclarecer que essa política educacional surgiu em um período conturbado com a transição do governo a partir da posse de Michel Temer como presidente da República “[...] carregado de dúvidas sobre sua legalidade e legitimidade que o levou a ser chamado de golpe” (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Assim, foram nessas conjunturas políticas que o texto seguiu para o Congresso Nacional pretendendo “[...] dispor sobre a organização dos currículos do ensino médio, ampliar progressivamente a jornada escolar deste nível de ensino e criar a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral” (BRASIL, 2016, documento on-line). Segundo o Ministério da Educação, a proposta da reforma do ensino médio era considerada em caráter de urgência, pois destravaria as barreiras que inibem a ascensão econômica nacional, tendo em vista que concebem a educação (em especial a educação profissional) como fator imprescindível para a potencialização do capital e ampliação das possibilidades de competitividade nacional no mercado internacional (MOTTA; FRIGOTTO, 2017). Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos específicos, a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional: I – linguagens; II – matemática; III – ciências da natureza; IV – ciências humanas; e V – formação técnica e profissional. § 1.º Os sistemas de ensino poderão compor os seus currículos com base em mais de uma área prevista nos incisos I a V do caput. § 3.º A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências, habilidades e expectativas de aprendizagem, definidas na Base Nacional Comum Curricular, será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino (BRASIL, 2016, documento on-line). Conheça alguns posicionamentos críticos de setores influentes, tais como movimentos sociais, entidades acadêmicas e representantes de organizações educacionais que participaram da análise da Medida Provisória da Reforma do Ensino Médio, de acordo com Ferreti e Silva (2017). Daniel Cara, Campanha Nacional pelo Direito à Educação: Então, a questão dos itinerários, sinceramente, da maneira como está posta na medida provisória, foi redigida por pessoas que não entendem de Pacto Federativo e não compreendem a dificuldade enorme que existe no Brasil para acordar processos de colaboração entre Estados e Municípios (referindo-se ao fato de que no Brasil existem próximo a três mil municípios com uma única escola pública de Ensino Médio, o que inviabilizaria a escolha por parte dos estudantes) (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Adilson Cesar de Araújo, Fórum de Dirigentes de Ensino dos Institutos Federais: A nossa experiência de Ensino Médio integrado tem revelado alguns aspectos positivos: primeiro, que ela tenta articular, num mesmo espaço escolar, a formação geral com a formação profissional, sem sonegar o direito à cultura, sem sonegar a arte, sem sonegar a sociologia, sem sonegar a formação ampla (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Iria Brzezinski, Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE: A fragmentação do ensino médio em itinerários formativos específicos fere o direito ao conhecimento para a ampla maioria dos estudantes que se encontram no ensino médio público (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Marta Vanelli, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE: Não é possível, não é possível pensar em como melhorar o ensino médio só pensando na mudança curricular. [...]. Nós precisamos pensar aqui em como nós vamos melhorar a infraestrutura das escolas [...] em como nós vamos valorizar os profissionais da educação. O que está colocado para nós nessa medida provisória é desresponsabilizar o Estado. [...]. Aqui, a flexibilização é no sentido da privatização (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Monica Ribeiro da Silva, Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio: Quando eu reduzo a formação básica comum à metade do currículo, eu estou destruindo a ideia de ensino médio como educação básica (FERRETI; SILVA, 2017, documento on-line). Pontos Antes Depois Carga horária A LDB prevê que, nos três anos de ensinomédio, os alunos tenham no mínimo 800 horas, e que cada ano tenha pelo menos 200 dias letivos. A Lei n°. 13.415/17 do governo federal amplia “progressivamente” a carga horária para 1.400 horas, sem especificar um número mínimo de dias letivos por ano nem um prazo para a ampliação. Disciplinas obrigatórias O ensino de Artes e de Educação Física era obrigatório na educação básica incluindo o ensino médio. Desde 2008, aulas de Filosofia e Sociologia também eram obrigatórias nos três anos. A partir de agora, a decisão de incluir Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia nas aulas do ensino médio dependerá do que será estipulado pela Base Nacional Comum Curricular. Ensino Técnico A lei já previa a possibilidade de as escolas integrarem o ensino técnico e profissionalizante ao ensino médio em diversos modelos. A formação técnica e profissional passa a ter peso semelhante às quatro áreas do conhecimento. A mudança também inclui a possibilidade de “experiência prática de trabalho no setor produtivo” ao aluno. Língua estrangeira As escolas eram obrigadas a oferecer, a partir do 6º ano, aula de pelo menos uma língua estrangeira, mas tinham a liberdade de escolher qual língua. O inglês passa a ser a língua estrangeira obrigatória em todas as escolas. As escolas podem oferecer uma segunda língua, que deve ser, preferencialmente, o espanhol. Professores A lei exigia que os professores fossem trabalhadores de educação com diploma técnico ou superior “em área pedagógica ou afim”. Fica permitido que as redes de ensino e escolas contratem “profissionais de notório saber” para dar aulas “afins a sua formação”. Vestibulares As universidades são livres para definir que conteúdos exigem das provas para selecionar os calouros, levando em consideração o impacto da exigência no ensino médio. A lei determina que o conteúdo dos vestibulares seja apenas “as competências, as habilidades e as expectativas de aprendizagem das áreas de conhecimento definidas na BNCC”. 2 - Analisar as consequências possíveis da reforma do ensino médio. Apontam que a reforma não apresenta circunstâncias novas além da mudança no currículo, que apresenta como disciplinas obrigatórias somente três disciplinas: Matemática, Português e Inglês, tornando mais pobre e fragilizado os conhecimentos previstos para essa etapa de ensino. Em consonância com os especialistas anteriormente mencionados, encontramos a fala de Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o qual, em participação a uma entrevista à Truffi (2017), que compôs a Revista Carta Capital publicada em fevereiro de 2017, destaca que a reforma: [...] faz com que os estudantes sejam divididos entre aqueles que vão ter acesso a um ensino propedêutico e aqueles que vão ter acesso a um ensino técnico de baixa qualidade. Temer teve a coragem ou a pachorra de assumir isso quando enfatiza que na época dele a educação se dividia entre clássico e científico, que eram dois caminhos que geravam uma educação incompleta (TRUFFI, 2017, documento on-line). 3 - Localizar a relação do Estado com essa política educacional. A reforma do ensino médio é uma política educacional que promove uma articulação entre o governo federal, distrito e estados de todo país, após uma trajetória marcada por diferentes visões e transformações políticas, sociais e econômicas. Ao longo de nossa história, observou-se que, desde o período colonial, o enquadramento do ensino médio apresenta dificuldades, tendo em vista a complexidade por poder se apresentar com diferentes finalidades, seja para “[...] preparar para a continuação dos estudos ou para o mercado de trabalho” (KUENZER, 1997, p. 9). De acordo com essa reforma, é de suma importância a oferta de uma estrutura curricular flexível e atrativa, para que as taxas de abandono e reprovação não sejam resultados da baixa qualidade do ensino médio (BRASIL, c2018, apud BALD; FASSINI, 2017). Em resposta a algumas críticas que deixam as relações entre o Estado e a reforma em situações delicadas, afetadas também com o cenário político transicional conturbado, o Governo tenta afirmar que essa política pública, apesar de originada de Medida Provisória, vem sendo discutida desde 1998, como aponta a trajetória a seguir: 1998: Grande debate e aprovação das diretrizes do EM de acordo com a nova legislação da LDB de 1996; 2002: Seminário Nacional sobre reforma do ensino médio; 2007: FUNDEB com a promessa de garantir a universalização do EM; 2007: MEC lança o Plano de Ações Articuladas; 2009: Novo ENEM; 2010: Ensino Médio Inovador; 2010: CONSED cria o Grupo de Trabalho da Reforma do Ensino Médio; 2012: Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio aprovadas pelo CNE; 2013: Projeto de Lei (PL6840/2013); 2014: Plano Nacional da Educação (PNE). Meta 3.1: “Institucionalizar programa nacional de renovação do ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e prática, por meio de currículos escolares que organizem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articulados...” (BRASIL, c2018, apud BALD; FASSINI, 2017, p. 14).
Compartilhar