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O cérebro e a medula espinhal formam o SNC. Os tumores do SNC devem-se ao crescimento de células anormais nos tecidos dessas localizações. O câncer do SNC representa de 1,4 a 1,8% de todos tumores malignos no mundo e, a despeito de sua relativa raridade, apresentam morbimortalidade desproporcionalmente alta. Cerca de 88% dos tumores de SNC são no cérebro. Segundo o site do INCA: Estimativas de novos casos para 2020: 11.090, sendo 5.870 homens e 5.220 mulheres. Número de mortes em 2018: 9.309, sendo 4.803 homens e 4.506 mulheres (Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM). Os tumores cerebrais primários são um grupo extremamente heterogêneo de neoplasias, e atualmente representam o tipo mais frequente de câncer em crianças de 0 a 19 anos, seguido pelas leucemias, já no adulto, apresentam incidência semelhante aos linfomas não Hodgkin, melanoma e carcinoma de bexiga, bastante inferior aos tumores de mama na mulher e próstata no homem, segundo o último relatório do Registro de Câncer Cerebral dos EUA, de novembro de 2015; As causas de tumores do SNC ainda são alvo de muitos estudos; Entende-se atualmente que essa doença é multifatorial, ou seja, ela é causada pelo somatório de várias alterações genéticas; → Algumas dessas alterações são adquiridas durante a vida, por predisposição ou por exposição e outras são hereditárias e estão presentes em algumas síndromes familiares associadas com tumores do SNC, como a neurofibromatose; Os fatores que conhecidamente aumentam o risco são: → Exposição à radiação ionizante - por exemplo, profissionais que lidam com raios-X, pessoas que se submetem à radioterapia ou a exames excessivos com radiação (tomografia). → Imunodeficiência - seja causada pelo vírus HIV ou pelo uso de medicamentos ou drogas que suprimem o sistema imunológico; Muitos outros possíveis fatores de risco para o desenvolvimento desses tumores já foram estudados, mas até hoje não se confirmou sua relação com a doença. Entre eles: → Traumatismos na região da cabeça; → Várias substâncias químicas (entre elas alguns derivados do petróleo); → Consumo de aspartame (adoçante artificial); Alguns estudos tentaram relacionar a exposição excessiva ao celular (radiofrequência) e transformadores/cabos de alta tensão (ondas eletromagnéticas) com um possível aumento de risco de tumores do SNC, mas até agora nada ficou estabelecido. As causas ambientais e ocupacionais relacionadas ao maior risco de tumores do SNC são: → Radiação (raios-x e gama): aumento do risco para gliomas como consequência do tratamento de radioterapia para tumores primários; → Exposição a arsênico, chumbo, mercúrio, óleo mineral e HPA; → Trabalhar na indústria petroquímica (combustíveis), nas indústrias da borracha, plástico, gráfica, papel, têxtil e de agrotóxicos; refinaria, usina nuclear, produção e reparo de veículos a motor, na prestação de serviços elétricos e de telefonia e na agricultura (devido ao contato com agrotóxicos, solventes, diesel, poeiras, dentre outros); → Campos magnéticos de muita baixa frequência (<3 mG) parecem estar ligados a glioblastomas em homens, mas não nas mulheres; → Estudos apontam fortes evidências da relação do excesso de gordura corporal com o aumento do risco para o desenvolvimento de meningioma; Em algumas condições genéticas raras, pode haver aumento da incidência de tumores cerebrais; → Como exemplos, podem ser citadas neurofibromatose, esclerose tuberosa,sindromes de Turcot, Li- Fraumeni, Cowden e Gorlin e doença de von Hippel-Lindau; O quadro clínico dos pacientes com tumor cerebral é variável, dependendo do tamanho e da localização das lesões e de seu comportamento biológico; Desse modo, podem ocorrer sinais de comprometimento focal ou generalizado; → Cefaleia é o sintoma mais frequentemente referido, ocorrendo em cerca de 35% dos pacientes e relacionada ao efeito expansivo exercido pela neoplasia; → Crises convulsivas são observadas em 1/3 dos pacientes, especialmente nos tumores de baixo grau, nos quais podem ser a primeira e única manifestação clínica em até 80% dos pacientes; ➢ O tipo de crise está relacionado à localização da lesão; → Perda de funções neurológicas (déficits focais) quando há perda de força ou do tato nos membros; de visão ou de audição; alterações da fala ou da capacidade intelectual (compreensão, raciocínio, escrita, cálculo, reconhecimento de pessoas); ou de comportamento (apatia, agitação ou agressividade) em relação ao padrão normal da pessoa; ➢ Alterações cognitivas e comportamentais também podem ter associação com tratamentos realizados previamente, como cirurgia, radioterapia (RT), quimioterapia (QT) e uso de drogas antiepilépticas e corticosteroides; → Náuseas e vômitos, frequentemente associados a cefaleia e déficits focais, podem ser o sintoma inicial em até 1/3 dos pacientes com gliomas de alto grau; Os sintomas de disfunção cognitiva podem ocorrer em pacientes com gliomas de baixo grau, tanto pelo comportamento lentamente infiltrativo dessas neoplasias quanto pela maior sobrevida dos pacientes, o que possibilita o seu aparecimento como consequência dos efeitos adversos (geralmente tardios) das modalidades de tratamento empregadas; Os métodos mais comumente empregados para avaliação diagnóstica dos pacientes com suspeita de tumor cerebral são a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) de crânio, ambos com utilização de contraste; A RM de crânio com gadolínio é o método de escolha, pois permite melhor avaliação da extensão da lesão e do envolvimento de estruturas anatômicas, possibilitando melhor planejamento cirúrgico; → Sequências específicas da RM, como difusão e espectroscopia, podem fornecer informações adicionais sobre densidade celular e aspectos bioquímicos e metabólicos da lesão em comparação com o tecido cerebral normal, úteis canto para o diagnóstico diferencial quanto para o seguimento dos pacientes; → O estudo de perfusão por RM também auxilia na detecção de aumento de densidade capilar, podendo refletir a característica de maior vascularização (p.ex., oligodendroglioma, em comparação com astrocitoma) ou a presença de proliferação microvascular (angiogênese), critério importante relacionado à maior agressividade do tumor nos gliomas, por exemplo; Outras técnicas, como RM funcional, tractograf1a e angio-RM, também são uteis, particularmente no planejamento cirúrgico; Contudo, é importante ressaltar que o diagnóstico definitivo é estabelecido por meio da avaliação histopatológica da lesão; Caracteristicamente, os tumores cerebrais primários ficam restritos, com algumas exceções, ao compartimento intracraniano, de modo que o estadiamento sistêmico não é necessário; → Entretanto, tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET), ependimomas, tumores de células germinativas e linfoma primário do SNC frequentemente se disseminam via espaço subaracnóideo, e, nestes casos, habitualmente realiza-se investigação complementar do neuroeixo; → No caso de linfoma primário do SNC, também se investiga comprometimento ocular por meio do exame com lâmpada de fenda e avaliação sistêmica (exames de tórax, abdome, medula óssea e testículos, particularmente em idosos) para diagnóstico diferencial com linfoma sistêmico com eventual comprometimento do SNC, além da investigação para imunodeficiência adquirida (HIV), tendo em vista as diferenças prognósticas e de tratamento; O tratamento dos tumores cerebrais primários, assim como no caso do comprometimento metastático, compreende 2 etapas fundamentais: → Tratamento sintomático, visando à estabilização clínica do paciente, e → Tratamento definitivo; As modalidades terapêuticas habitualmente empregadas são tratamento cirúrgico, RT e QT, objetivando a melhora neurológica e da qualidade de vida; → A cirurgia possibilita odiagnóstico histopatológico e a redução dos sintomas decorrentes do efeito expansivo do tumor, com resultante melhora neurológica; Em virtude da natureza infiltrativa das neoplasias, muitas vezes não é possível uma ressecção cirúrgica muito extensa e, por vezes, indica-se a realização de biópsia por estereotaxia para diagnóstico, quando o tumor se encontra em local inacessível cirurgicamente ou com alto risco de sequelas decorrentes do procedimento; A decisão de realizar uma ressecção ampla deve ser baseada na localização e na extensão do tumor, sempre com objetivo de preservar a função neurológica; → Nos gliomas, embora não haja evidências classe 1, a ressecção ampla é um fator prognóstico classicamente aceito; A RT pós-operatória é essencial no tratamento da maior parte dos tumores primários do SNC, sendo utilizada de modo localizado na maioria dos casos, ou no encéfalo total, especificamente nos PNET/ meduloblastoma ou linfoma primário; A RT externa consiste na aplicação de radiação de modo fracionado, enquanto a radiocirurgia permite a utilização de alta dose de radiação em uma única aplicação e, de modo geral, é reservada para o tratamento de lesões pequenas e bem delimitadas ou em situação de recidiva de tumor tratado previamente com RT convencional; A QT tem sido utilizada para tratamento de alguns tumores com respostas variáveis; → A presença da barreira hematoencefálica, o microambiente e a resistência intrínseca de muitos dos tumores e interações medicamentosas são alguns dos fatores que ainda limitam a eficácia desse tipo de abordagem; Os tumores de origem glial representam cerca de 80% das neoplasias primárias malignas do SN no adulto e derivam de astrócitos, oligodendrócitos ou células ependimárias, referidos conjuntamente como gliomas; De acordo com a classificação da OMS de 2007, os gliomas são divididos em graus histológicos correlacionados ao seu comportamento biológico, de modo que os tumores de graus I e II são denominados tumores de baixo grau de malignidade, e os de grau III e IV são de alto grau de malignidade; Entre os gliomas, os astrocitomas difusos (grau II), os astrocitomas de alto grau (III e IV), os oligodendrogliomas (graus II e III) e os oligoastrocitomas (graus II e III) são os mais frequentes nos adultos e, por muitos anos, foram estudados como um só, por sua semelhança em apresentação clínica, imagem e tratamento; Entre os rumores gliais, o glioblastoma (GBM) (grau IV) é o mais frequente; → Os achados anatomopatológicos incluem: atipia nuclear, pleomorfismo celular, atividade mitótica, trombose vascular, proliferação microvascular e necrose; → Sendo necessária a presença de necrose ou proliferação microvascular para que a neoplasia seja classificada como GBM; Os GBM são tumores histológica e geneticamente heterogêneos; O GBM pode se desenvolver a partir de um astrocitoma difuso (astrocitoma grau II) ou anaplásico, sendo classificado como GBM secundário ou, como ocorre mais frequentemente, se manifestar sem evidência de uma lesão precursora, sendo denominado GBM primário; Embora os GBM primário e o secundário tenham características macroscópicas e histológicas similares, há diferenças significativas tanto de seu comportamento e sua evolução clínica quanto dos aspectos genéticos envolvidos; → Foram descritas várias alterações genéticas, como instabilidade genômica e alterações no controle do ciclo celular e das vias de transdução de sinais tanto intra como intercelular; → A perda de heterozigosidade do cromossomo 10 é a alteração cromossômica mais frequente no GBM, sendo observada em 70% dos casos de GBM primário e em 63% na forma secundária; → O GBM primário apresenta, do ponto de vista molecular, amplificação ou aumento da expressão do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) ou mutações do PTEN, com a consequente desregulação da via de sinalização PI3K/ AKT; → Caracteristicamente, as mutações do gene P53 são raras no GBM primário e muito frequentes nos casos de GBM secundário; → A mutação do gene IDH1/2 é também rara no GBM primário e muito frequente no secundário e representa, hoje, o meio mais confiável para distinção entre GBM primário e secundário, sugerindo um prognóstico mais favorável quando presente; → A inativação, decorrente da metilação do promotor, do gene MGMT também pode ser considerada um fator de melhor prognóstico desses pacientes, pois esse gene codifica uma enzima de reparo que tem sido associada à resistência tumoral aos agentes alquilantes; Embora possa ocorrer em qualquer faixa etária, o GBM acomete preferencialmente adultos, com pico de incidência entre os 45 e 75 anos de idade e discreto predomínio no sexo masculino; → A forma primária é mais comum nas faixas etárias maiores (pico aos 55 anos), enquanto o GBM secundário ocorre principalmente nos pacientes mais jovens (pico de incidência aos 40 anos); Caracteristicamente, os hemisférios cerebrais são acometidos, sobretudo nas regiões frontal, temporal e parietal, com localização subcortical e comprometimento da substância branca e do córtex adjacente; → Todavia, também é encontrado no tronco cerebral (principalmente em crianças) e, mais raramente, no cerebelo e na medula espinal; A história clínica dos pacientes com GBM primário é curta, em geral, menor que 3 meses em mais de 50% dos casos, e pode ser mais longa no caso de GBM secundário; A apresentação clínica com hipertensão intracraniana e sinais focais é relativamente comum; → Os sinais e sintomas comuns a outras neoplasias cerebrais incluem cefaleia, crises convulsivas, mudanças de personalidade e outros sinais localizatórios; → Por volta de 1/3 dos pacientes apresenta crises convulsivas; Em relação aos métodos de neuroimagem, a TC de crânio e especialmente a RM de encéfalo possibilitam o diagnóstico presuntivo de GBM; → As lesões têm aspecto heterogêneo, podem ser únicas ou, mais raramente, múltiplas, com padrões de realce periférico e/ou sólido e irregular e com limites imprecisos; → De modo geral, as lesões apresentam área central hipodensa que pode corresponder à necrose e comumente apresentam edema perilesional; Nos últimos anos, o uso da RM tornou-se mais difundido e as novas técnicas utilizadas permitem melhor avaliação anatômica da extensão do comprometimento, bem como o planejamento cirúrgico e radioterápico; → Os GBM têm aspecto iso ou hipointenso na sequência T1 da RM e hiperintenso nas sequências T2 e FLAIR; Figura 1. Sequência T1 A despeito de todos os avanços das técnicas neurocirúrgicas, do uso da RT e da QT, bem como dos conhecimentos da biologia molecular desse tumor, o prognóstico dos pacientes com GBM permanece reservado, e as opções terapêuticas ainda são limitadas; O tratamento clássico consiste em ressecção cirúrgica, RT e QT, com sobrevida mediana em torno de 12 a 15 meses; → A ressecção cirúrgica deve ser tão ampla quanto possível; → A RT é fundamental no tratamento do GBM, classicamente administrada de modo fracionado, com dose total de 60 Gy; O benefício da utilização da quimioterapia com o agente temozolomida (TMZ) associada à RT, seguida por 6 ciclos da mesma droga, foi demonstrado em um estudo de fase III e associado a aumento modesto, porém significativo, da sob revida global e do tempo livre de progressão, tornando-se o tratamento padrão desde 2005; → Vários serviços, particularmente nos EUA, vêm utilizando 12 ciclos de TMZ de manutenção, em vez dos 6 ciclos aprovados pelo estudo; Um novo tratamento local e não invasivo foi aprovado pela agência americana FDA em 2015 para GBM recém-diagnosticado, em associação com o tratamento padrão (TMZ e RT); → Trata-se de um dispositivo portátil, capaz de gerar campos elétricos alternados de baixa intensidade e frequência intermediária, também chamado de "campos de tratamentode tumor" (TTFields), aplicados com eletrodos colocados na superfície do couro cabeludo; → De acordo com estudos in vitro e in vivo, o TTF age dificultando a formação do fuso mitótico durante a metáfase e levando à interrupção da mitose e apoptose; → A análise interina do estudo fase III mostrou aumento significativo de sobrevida global e livre de progressão dos pacientes tratados com o TTF em associação com o tratamento convencional; Entre as diversas estratégias estudadas atualmente, ressalta-se a imunoterapia, particularmente vacinas e imunomoduladores, entre as mais promissoras. (T2 e T1) (gliomas de borboleta) Os astrocitomas anaplásicos (grau III) são tumores de origem astrocítica que acometem preferencialmente adultos jovens, com pico de incidência por volta dos 45 anos, e que se diferenciam dos astrocitomas difusos (grau II) pela presença de mitoses; → Muitas vezes, a heterogeneidade do tumor pode causar erros diagnósticos, pela falta de representatividade do tumor, particularmente nas biópsias ou ressecções parciais; → A importância da correlação clínica e de imagem são essenciais para a confirmação diagnóstica nesses casos; O quadro clínico é variável e os pacientes podem apresentar convulsões, cefaleia, alterações de comportamento e outros sinais localizatórios; Nos exames de neuroimagem, a presença de realce é comum, embora cerca de 30% dos casos não o apresentem; O tratamento consiste na ressecção cirúrgica tão ampla quanto possível, seguida por RT (60 Gy, em 30 frações); → Muitos serviços optam por tratar os pacientes com o mesmo esquema utilizado para os GBM ou com RT seguida de TMZ. Embora tenham crescimento lento e baixo índice proliferativo, essas neoplasias frequentemente apresentam transformação maligna com evolução para um tumor de maior grau de malignidade; → A heterogeneidade do tumor pode contribuir para erros de amostragem, que podem levar a diagnósticos incorretos; → A necessidade de correlação clinicorradiológica é essencial para evitar esse tipo de interpretação; Entre os marcadores moleculares mais estudados, a presença de mutação do gene JDH 1/2 está associada ao melhor prognóstico; Acometem preferencialmente indivíduos jovens, com maior incidência nas 3ª e 4ª décadas da vida; De modo geral, manifestam-se com maior frequência por crises convulsivas (50 a 90% dos pacientes); No caso dos astrocitomas grau II, aspecto tomográfico sugestivo é o de lesões focais ou difusas, hipoatenuantes, homogêneas e sem realce significativo; Na RM, aparecem como lesões com iso ou hipossinal em T1 e hipersinal em T2 e FLAIR, geralmente sem realce pelo gadolínio; → Embora possam apresentar aspecto aparentemente bem delimitado em alguns casos, são tumores infiltrativo; Figura 2. Sequência T1 Em relação ao tratamento, a cirurgia possibilita a confirmação diagnóstica, mas ainda não há consenso sobre o impacto da extensão da ressecção na sob revida dos pacientes; A RT fracionada na dose de 50 a 54 Gy tem sido o tratamento padrão para os gliomas de baixo grau, mas há controvérsias sobre a dose e o momento ideal em que deve ser empregada, visto que não há diferença em termos de sobrevida global, embora a RT mais precoce promova maior tempo livre de progressão; → Considerando o tempo de evolução desses tumores, particularmente na presença de fatores de bom prognóstico (pacientes jovens, oligossintomáticos, com ressecção radical, com bom estado funcional, índice de proliferação celular baixo e mutação do gene IDH-1/2), uma das possibilidades pode ser a manutenção do paciente sob estreita vigilância (controle clinico e radiológico) e postergar a RT para o momento de progressão; Recentemente, a associação RT e QT com o esquema denominado PCV (lomustina, procarbazina e vincristina) no tratamento dos gliomas de baixo grau com alto risco (idade > 40 anos ou ressecções parciais) demonstrou benefício na sobrevida dos pacientes em longo seguimento; Os oligodendrogliomas são tumores relativamente incomuns, correspondendo a cerca de 2% das neoplasias cerebrais primárias; → Podem se apresentar como lesão de baixo grau, o oligodendroglioma II ou oligodendroglioma anaplásico (grau III); Em geral, esses tumores acometem pacientes mais jovens, com pico de incidência entre as 4ª e 6ª décadas da vida, e que se apresentam com história de crises convulsivas, embora também possam ter sinais de comprometimento neurológico focal, hipertensão intracraniana ou mudanças de personalidade; O método de neuroimagem de escolha é a RM com gadolínio e, de modo geral, os oligodendrogliomas II aparecem como lesões com hipersinal em T2 e FLAIR, sem realce significativo e podendo apresentar calcificações; → A presença de calcificações é sugestiva, mas não específica, de oligodendrogliomas; Os oligodendrogliomas anaplásicos costumam apresentar realce, mas é importante ressaltar que a ausência de realce não exclui a possibilidade de a lesão ser anaplásica; Figura 3. TC e RM sequência T1 (aspecto de ovo frito) Os tumores oligodendrogliais puros costumam ter melhor prognóstico que os tumores astrocitários com o mesmo grau de malignidade; A presença da chamada deleção combinada ou codeleção 1p19q é considerada, atualmente, um marcador diagnóstico e prognóstico mais relevante que o aspecto morfológico, embora esse critério não esteja na classificação da OMS de 2007; As modalidades terapêuticas habitualmente empregadas nos oligodendrogliomas são a cirurgia, a RT e a QT; → Recomenda-se ressecção tão ampla quanto possível sem comprometimento da função neurológica; → Em relação ao uso exclusivo da RT, não existem estudos randomizados específicos para oligodendrogliomas II ou III, sendo estes estudados em conjunto com astrocitomas II; A quimiossensibilidade dos oligodendrogliomas foi demonstrada em estudos, nos quais se observou resposta clínica favorável em pacientes com oligodendroglioma anaplásico recorrente, com a utilização do esquema PCV; → A associação de QT aumenta significativamente a sobrevida global em pacientes que apresentavam codeleção lpl9q; Os oligoastrocitomas, também chamados de gliomas mistos, são de difícil diagnóstico histológico, em decorrência da subjetividade e da falta de reprodutibilidade da classificação atual da OMS, essencialmente morfológica; → Muitos autores questionam esse diagnóstico e, do ponto de vista prático, as decisões de tratamento tendem a se basear, atualmente, no marcador diagnóstico (do componente oligodendroglial), prognóstico e preditivo – a presença da codeleção 1 pl9q; A presença da codeleção, independentemente da morfologia, parece ser o critério mais importante para determinar o benefício pela associação de RT e quimioterapia com PCV nesses pacientes; BERTOLUCCI, P. H. F., FERRAZ, H. B., BARSOTTINI, O. G. P., PEDROSO, J. L. Neoplasias do sistema nervoso. In: BERTOLUCCI, P. H. F., FERRAZ, H. B., BARSOTTINI, O. G. P., PEDROSO, J. L. Neurologia: Diagnóstico e tratamento. 2ª ed., Barueri: Manole, 2016. p. 561- 574. INCA – INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Câncer do sistema nervoso central. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer- do-sistema-nervoso- central#:~:text=O%20c%C3%A9rebro%20e%20a%2 0medula,de%20SNC%20s%C3%A3o%20no%20c%C 3%A9rebro.. Acesso em: 14 nov. 2020. ANATPAT UNICAMP. Anatomia patológica. Disponível em: http://anatpat.unicamp.br/indexalfa.html#A. Acesso em: 15 nov. 2020. FROSCH, M. P. Sistema nervoso central. In: KUMAR, V., ABBAS, A. K., ASTER, J. C., Robbins Patologia Básica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 811- 849.
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