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Yslane Costa - Medicina ANALISAR A ESCLEROSE MÚLTIPLA CONSIDERANDO O CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, PROGNÓSTICO E TRATAMENTO; CONCEITO Esclerose múltipla (EM) é uma doença desmielinizante inflamatória crônica do sistema nervoso central (SNC) de causa desconhecida. A evolução é variada, a maioria dos pacientes apresenta inicialmente recidivas/surtos com recuperação parcial ou completa intercaladas com períodos de remissão clínica e uma porcentagem pequena dos pacientes tem apenas sintomas mínimos, muitos ficam incapacitados com o transcorrer do tempo, em consequência da recuperação parcial das recidivas ou da conversão para uma forma progressiva da doença. Tipos: EMSR: Forma surto/remissão EMPP: Forma primariamente progressiva EMRR: Forma recidivante - remitente EMPS: Forma secundariamente progressiva EMRP: Forma recidivante progressiva EPIDEMIOLOGIA -Entre as doenças desmielinizantes, a esclerose múltipla (EM) é a mais comum e conhecida. - A EM acomete cerca de 400.000 pacientes nos EUA e 2,5 milhões em todo o mundo. -Na população de adultos jovens, essa doença é a causa principal de déficits neurológicos não relacionados com traumatismo. -Nos casos típicos, a EM começa entre as idades de 20 e 40 anos. Os primeiros sintomas raramente ocorrem antes da idade de 10 anos ou depois dos 60 anos. -As mulheres são afetadas com frequência cerca de duas vezes maior que os homens, com exceção dos pacientes que desenvolvem a forma progressiva primária da doença, que não tem predomínio em um dos sexos. FISIOPATOLOGIA - A etiologia da EM é desconhecida, mas provavelmente resulta de interações de fatores ambientais e genes de suscetibilidade, que desencadeiam uma resposta imune anormal e provocam destruição da bainha de mielina, oligodendrócitos, axônios e neurônios. CAUSA AUTOIMUNE: Estudos realizados com um modelo experimental de EM dos camundongos (encefalomielite autoimune experimental, ou EAE), estudos histopatológicos das lesões da EM e pesquisas sobre marcadores imunes do soro e do líquido cefalorraquidiano (LCR) dos pacientes com a doença sugeriram que a EM seja uma doença mediada por mecanismos imunes. Yslane Costa - Medicina -Onde um vírus, uma bactéria ou outra toxina ambiental poderia ativar uma resposta imune nos indivíduos geneticamente predispostos. As células apresentadoras de antígenos (CAA) levam os antígenos relevantes aos linfócitos T auxiliares (CD4+) na periferia e isto provoca sua ativação com geração dos linfócitos T auxiliares (Th) pró-inflamatórios autorreativos dos subtipos 1 e 17. Linfócitos B e monócitos também são ativados. -Esses linfócitos T autorreativos interagem com moléculas de adesão existentes na superfície endotelial das vênulas do SNC e, com os anticorpos e os monócitos, atravessam a barreira hematencefálica danificada com a ajuda de proteases (p. ex., metaloproteases matriciais) e quimiocinas. -Dentro do SNC, os antígenos-alvo são reconhecidos (os supostos antígenos são a proteína básica da mielina, a glicoproteína associada à mielina, a glicoproteína da mielina-oligodendrócito, a proteína proteolipídica [PLL], a αB-cristalina, as fosfodiesterase e a proteína S-100). Os linfócitos T são reativados e a resposta imune é amplificada. -As células T auxiliares proinflamatórias proliferam e os linfócitos B continuam sua maturação em plasmócitos, enquanto os monócitos transformam-se em macrófagos ativados. Células imunes produzem citocinas inflamatórias ( IL-12 e IL-23, gamainterferona, fator alfa de necrose tumoral [TNF-α]), proteases, radicais livres, anticorpos, óxido nítrico, glutamato e outros fatores de estresse que causam danos à mielina e aos oligodendrócitos. -Em um meio com citocinas apropriadas, as células Th2 CD4+ proliferam e secretam citocinas anti-inflamatórias (ex., IL-4, IL-5, IL-13 e fator beta transformador do crescimento), que suprimem a resposta imune. -As células Th17 secretam algumas citocinas, inclusive TNF-α e GM-CSF (fator de estimulação das colônias de macrófagos), que são essenciais ao desenvolvimento da EAE. Os pacientes com EM têm células dendríticas derivadas dos monócitos, que secretam quantidades maiores de IL-23 que os controles normais. No soro dos pacientes com EM e recidivas, as contagens de células mononucleares portadoras de mRNA da IL-17 são maiores que as dos pacientes em remissão. - Com a perda do suporte trófico dos oligodendrócitos, os axônios podem degenerar e isto causa déficits neurológicos irreversíveis. Dependendo da localização e da extensão dos danos, a desmielinização pode dificultar ou impedir a condução neural e causar sinais e sintomas neurológicos. - A melhora espontânea dos sintomas é atribuída à regressão da inflamação, aos mecanismos adaptativos (ex., reorganização dos canais de sódio) ou à remielinização. -Embora a EM geralmente seja considerada uma doença mediada pelos linfócitos T, existem evidências crescentes a favor da participação patogenética dos linfócitos B, inclusive a observação frequente da produção intratecal de imunoglobulina nos pacientes com EM; a descrição de anticorpos que reagem com antígenos específicos da mielina dentro das lesões da EM; um padrão patológico de EM caracterizada por Yslane Costa - Medicina desmielinização associada aos anticorpos; e a descoberta de folículos com linfócitos B nas meninges dos pacientes com EM progressiva secundária. -Estudos patológicos demonstraram que os clones de linfócitos B são compartilhados pelas meninges e pelo parênquima dos pacientes com EM. -Os linfócitos B são células apresentadoras eficientes e a depleção das células B é uma abordagem terapêutica promissora para os pacientes com EM. -As placas de desmielinização crônica parecem translúcidas e nitidamente demarcadas e, na maioria dos casos, são encontradas na substância branca periventricular, no tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinal. -As lesões caracterizam se por desmielinização extensiva, gliose, destruição axonal variável e infiltrado inflamatório mínimo composto de linfócitos T e macrófagos. Nas lesões desmielinizantes em atividade, a anormalidade típica é desmielinização acompanhada de infiltrado perivascular constituído basicamente por linfócitos T, macrófagos abarrotados de lipídios e astrócitos reativos proeminentes. -Embora a desmielinização com preservação relativa dos axônios geralmente seja considerada a alteração patológica típica da EM, é comum encontrar transecção dos axônios, especialmente nas áreas com inflamação e desmielinização ativas. -Em um estudo imuno-histopatológico das lesões desmielinizantes ativas da EM, Lucchinetti e colaboradores identificaram quatro padrões patológicos diferentes em 83 pacientes (51 biopsias e 32 necropsias). Todos os quatro padrões tinham infiltrados inflamatórios, que consistiam em linfócitos T e macrófagos. O padrão I caracterizava-se por desmielinização associada aos macrófagos O padrão II (tipo mais comum) caracterizava-se pela deposição de imunoglobulina e complemento. Nos pacientes com os padrões III e IV, a desmielinização era causada por uma oligodendrogliopatia. O padrão III era diferenciado do padrão IV pela perda preferencial da glicoproteína associada à mielina. O mesmo padrão de lesão foi observado em todos os pacientes, mas havia heterogeneidade marcante entre cada paciente, sugerindo que a EM pudesse ter vários mecanismos patogênicos. Contudo, os resultados desse estudo foram questionados por um outro estudo de necropsias de 12 pacientes com EM recidivante- remitente, que haviam morrido durante episódios de recidivas agudas. A maioria dos casos, incluía lesões evidenciadas por apoptose extensiva dos oligodendrócitos com bainhas de mielina intactas e infiltrados inflamatórios discretos ou ausentes. Em alguns pacientes, os autores encontraram mais de um dospadrões descritos antes. Eles concluíram que as lesões do padrão III representam um estágio inicial de desenvolvimento das lesões, que precede a inflamação e a desmielinização. Entretanto, estudos de biopsia e alguns de necropsia estão sujeitos ao viés de seleção intrínseco e seus resultados podem não ser representativos da EM típica. FATORES DE RISCO GENÉTICOS: - Dentre os fatores genéticos que afetam reconhecidamente a suscetibilidade à EM, o mais potente é o haplótipo DRB1*1501 dos antígenos leucocitários humanos (HLA- DRB1*1501). Entretanto, ele não é essencial ao desenvolvimento da EM, embora aumente o risco em duas a quatro vezes e esteja presente em 20 a 30% dos indivíduos normais. Yslane Costa - Medicina -Análises de ligação e associação genética em 931 trios familiares (pacientes com EM e seus dois pais) rastrearam a existência 300.000 polimorfismos de nucleotídios únicos e identificaram dois geres situados fora da região HLA – o gene do receptor alfa de interleucina 2 (IL2RA) e o gene do receptor alfa da interleucina 7 (IL7RA) – que também aumentam o risco de desenvolver EM. -O gene IL2RA codifica a cadeia alfa do receptor de IL-2, que é essencial à regulação das respostas dos linfócitos T e foi implicado na patogenia de outras doenças autoimunes, inclusive doença de Graves e diabetes melito tipo 1. O gene IL7RA codifica a cadeia alfa do receptor de IL-7. Essa interleucina atua na homeostasia dos linfócitos T de memória e pode desempenhar um papel importante na geração de células T autorreativas dos pacientes com EM. -Outros estudos de associação genética do genoma completo identificaram 110 variantes de risco para EM em 103 loci, que não estavam na região do complexo de histocompatibilidade principal. -Outras evidências de uma predisposição genética são o risco mais elevado observado em alguns grupos étnicos (p. ex.,caucasoides descentes do norte europeu) e o risco reduzido em outros (p. ex., índios americanos); os índices de prevalência variáveis entre os diversos grupos raciais da mesma região geográfica; aumento de 20 a 40% do risco de EM entre os parentes de primeiro grau; concordância de 25 a 30% entre os gêmeos monozigóticos, em comparação com 5% dos gêmeos dizigóticos. No entanto, 70% dos gêmeos univitelinos são discordantes quanto à ocorrência de EM, de forma que fatores ambientais e outras influências desconhecidas devem contribuir para a suscetibilidade à doença -O efeito dessas variantes alélicas no risco global de desenvolver EM é pequeno, embora seja estatisticamente significativo. INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS -Em geral, há um gradiente latitudinal com aumento da prevalência da EM à medida que se afasta do equador nos dois hemisférios. - Diferenças marcantes na frequência da doença são observadas em algumas populações homogêneas que vivem em latitudes diferentes. Várias regiões com latitudes semelhantes têm índices de prevalência de EM muito diferentes que, em alguns casos, podem ser explicados pelas diferenças de suscetibilidade étnica (p. ex., ingleses e japoneses vivem na mesma latitude, mas a prevalência da doença na Grã-Bretanha é cerca de 60 vezes maior que no Japão). -Outras evidências do efeito ambiental provêm dos estudos das migrações e das epidemias e concentrações aparentes da doença. Em geral, os imigrantes que se mudam de uma região para outra antes da idade de 15 anos adquirem o índice de prevalência da EM na região em que passam a viver. -Em algumas situações, a genética pode ser mais importante que a influência ambiental. -Diversos fatores ambientais podem influenciar o risco de desenvolver EM, inclusive a vitamina D, que se evidenciou como uma possibilidade convincente. Vários estudos Yslane Costa - Medicina demonstraram uma correlação inversa entre exposição à luz solar (fonte mais comum de vitamina D) e ingestão dietética de vitamina D e risco de desenvolver EM. A relação com a exposição à luz solar pode ajudar a explicar a variação latitudinal da prevalência da doença. Além disso, um estudo realizado com militares americanos mostrou que os níveis séricos mais altos de 25-hidroxivitamina D3 (25[OH]D3) estavam associados a um risco menor de desenvolver EM. Ainda não está claro se a suplementação de vitamina D modifica a doença dos pacientes que já foram diagnosticados. -Dieta rica em sal também aumenta a gravidade da EAE e induz a formação de células TH17 patogênicas nos seres humanos. Essa relação foi sugerida como hipótese para explicar em parte a incidência crescente da EM e outras doenças autoimunes nos países que adotam uma “dieta ocidental”. -É possível que alguns vírus ou bactérias atuem como “gatilhos” inespecíficos da EM nos indivíduos geneticamente predispostos. -Traumatismo físico ou estresse psicológico podem preceder o início ou as exacerbações da EM. Embora seja comum demonstrar associações temporais, não há uma relação causal nítida. O Subcomitê de Avaliação de Tecnologia e Terapêutica da American Academy of Neurology concluiu que não existe qualquer relação significativa entre traumatismo e início ou agravação da EM. Além disso, essa comissão concluiu que, embora seja possível, não há qualquer relação inequívoca entre estresse psicológico pregresso e início ou exacerbações da doença. Contudo, um estudo realizado em Israel concluiu que o estresse associado à guerra de 2006 entre o Líbano e este país aumentou as exacerbações entre pacientes civis com EM. QUADRO CLÍNICO -Uma síndrome clínica isolada (p. ex., neurite óptica, mielite transversa ou uma síndrome cerebelar ou referida ao tronco encefálico) prenuncia o início da doença em cerca de 85 a 90% de todos os casos. -Em seguida, a evolução é recidivante remitente e comumente é seguida de uma fase progressiva da doença. -Os sinais e sintomas, que dependem da localização das lesões e da extensão da destruição dos tecidos, variam de brandos e intermitentes a graves e persistentes ou progressivos -Nos demais 10 a 15% dos pacientes, a doença tem início insidioso e piora gradativamente e é conhecida como esclerose múltipla progressiva primária. -A neurite óptica (NO), a mielite transversa aguda (MTA) e as síndromes desmielinizantes de tronco cerebral podem se apresentar como uma doença monofásica ou caracterizar o primeiro sintoma de esclerose múltipla (EM) Yslane Costa - Medicina -Neurite óptica aguda é uma das manifestações clínicas mais comuns. -Nos casos típicos: os pacientes percebem perda visual unilateral, que evolui ao longo de alguns dias e é precedida ou acompanhada de dor orbital com ou sem exacerbação pelos movimentos oculares. Não é comum ocorrer déficit visual progressivo ao longo de alguns anos. -Ao exame, o déficit visual pode ser discreto a grave. 33% dos pacientes têm acuidade visual de 20/200 ou menos, mas é raro encontrar perda completa da visão. É comum detectar discromatopsia e um escotoma central ou outros déficits dos campos visuais. Em quase todos os casos, há um déficit pupilar aferente relativo (DPAR), que pode ser o único indício clínico da neurite óptica, a menos que o paciente tenha história pregressa ou refira um episódio anterior de neurite óptica do olho contralateral. A inexistência de um DPAR nos pacientes com perda visual aguda sugere a possibilidade de uveíte, que é mais comum na EM. O exame do fundo de olho dos pacientes com neurite óptica geralmente é normal, mas 35% dos casos têm edema do disco óptico. Hemorragias e exsudatos da retina não são comuns. Em geral, a recuperação espontânea da visão ocorre no primeiro mês, mesmo quando o déficit visual é grave. -A persistência do déficit sugere outro diagnóstico, porque 98% dos pacientes com acuidade visual de 20/50 ou pior melhoram ao menos três linhas do gráfico de letras de Snellen nos primeiros 6 meses depois do início dos sintomas. Depois que o episódio agudo regride,frequentemente se observa atrofia do nervo óptico. -A deterioração transitória da visão durante alguma atividade física foi descrita inicialmente por Uhthoff em 1890. Hoje, o fenômeno de Uhthoff refere-se aos sintomas neurológicos novos ou agravados, que ocorrem em alguns pacientes quando há elevações da temperatura (em geral, durante atividades físicas ou banhos quentes). Yslane Costa - Medicina Os sintomas são transitórios e atribuídos ao bloqueio reversível da condução neural ao longo das fibras desmielinizadas. -Anormalidades oculomotoras são comuns. Em geral, a diplopia resulta da paralisia do VI nervo ou da oftalmoplegia internuclear. -Outras formas de nistagmo (p. ex., evocado pela fixação do olhar ou pendular) também são frequentes. Alguns pacientes têm anormalidades leves dos movimentos oculares sacádicos (rápidos) e de busca. -Paralisias do III ou IV nervos, síndrome de “um e meio” (que reflete a lesão da formação reticular parapontina ou do núcleo do VI nervo, causando paralisia do olhar ipsilateral e também déficit de adução do olhar contralateral em consequência da lesão do fascículo longitudinal medial), opsoclonia e déficits homônimos sintomáticos dos campos visuais são raros. -A parestesia (dormência) facial e a vertigem podem ser difíceis de diferenciar da disfunção vestibular periférica, ou da fraqueza facial (geralmente do tipo associado ao neurônio motor superior), mas estas queixas podem simular uma paralisia de Bell idiopática. -Perda súbita da audição não é comum -Soluços incontroláveis são raros, mas podem ser causados pelas lesões do bulbo ou na medula cervical alta. Soluços incontroláveis ou vômitos devem sugerir a possibilidade de NMO. -Disfagia não é comum, exceto nos casos avançados de EM. -Fraqueza dos membros é comum e pode ocorrer durante uma exacerbação aguda ou com a recuperação parcial de uma exacerbação aguda. As pernas são mais afetadas os braços e as mãos, no geral. -Cerca de 70% dos pacientes têm alguma espasticidade que, na maioria dos casos, afeta as pernas. A espasticidade comumente está associada a espasmos dolorosos e sinais referidos ao neurônio motor superior. Em muitos casos, a espasticidade limita a mobilidade e as atividades da vida diária e interfere no sono. -Distúrbios da marcha são frequentes e, em geral, resultam da ataxia, fraqueza ou espasticidade. Entretanto, em alguns pacientes, a espasticidade dos extensores das pernas permite sustentar peso e melhora a marcha. Nos pacientes que não conseguem andar, a espasticidade pode dificultar transferências e higiene pessoal. -Resposta plantar extensora raramente é o único sinal de disfunção do trato corticoespinal. Ocasionalmente, as lesões desmielinizantes das células do corno anterior e das zonas de entrada das raízes dorsais causam atrofia e hiporreflexia. -Parestesias, disestesias, hipoestesias e sinal de Lhermitte (a flexão do pescoço provoca uma sensação de choque elétrico, que geralmente se irradia da parte posterior do pescoço para as regiões lombares baixas e, possivelmente, um ou dois membros) Yslane Costa - Medicina são manifestações iniciais comuns da EM e ocorrem em alguma fase da evolução da maioria dos pacientes. -Tremores cinéticos dos braços são comuns nos pacientes com EM. Em muitos casos, tremor acompanha-se de outros sinais de doença cerebelar, inclusive ataxia da marcha, dismetria, disdiadococinesia e disartria. -Os tremores da cabeça, do tronco e das pernas são muito menos frequentes. -Tremor incapacitante, fala escandida e ataxia do tronco são observados com a doença avançada. -Os sintomas paroxísticos da EM são episódios breves, repetitivos e estereotipados de disfunção neurológica, que parecem ser resultantes da disseminação efática das descargas elétricas anormais geradas pelas fibras nervosas parcialmente desmielinizadas (“linha cruzada”). Essas descargas podem originar-se das áreas com inflamação e desmielinização ou lesão tecidual crônica. Em geral, os sintomas persistem por poucos segundos a alguns minutos e podem ocorrer a qualquer tempo, desde alguns poucos até 200 por dia. As crises podem ocorrer espontaneamente ou ser provocadas por ruídos repentinos, emoção, movimentos, hiperventilação ou estimulação tátil. -Os sintomas mais comuns são de neuralgia do trigêmeo e espasmos tônicos. Os paroxismos de disartria, ataxia, diplopia, prurido, parestesias, dor, espasmo hemifacial e neuralgia glossofaríngea são menos frequentes. -Cerca de 2% dos pacientes com EM têm neuralgia do trigêmeo. Em geral, as características e o tipo de dor são indistinguíveis da neuralgia do trigêmeo idiopática. Os casos associados à EM têm mais tendência a acometer os dois lados da face e comumente se acompanham de neuropatia do trigêmeo ou outros sinais de disfunção do tronco encefálico. -A distonia (ou espasmos tônicos) paroxística é o segundo distúrbio do movimento mais comum nos pacientes com EM (tremores isolados são mais comuns); os paroxismos são estereotipados e, em alguns casos, consistem em crises dolorosas de posturas distônicas unilaterais dos membros. Ocasionalmente, as crises são bilaterais e raramente afetam a face. Os episódios duram cerca de 30 a segundos a dois minutos e podem ocorrer até 60 vezes/dia. Os espasmos tônicos provavelmente são causados pelas lesões desmielinizantes do trato corticoespinal. Entretanto, eles não são patognomônicos da EM e, em alguns casos, ocorrem nos pacientes com isquemia cerebral ou traumatismo raquimedular. O afeto pseudobulbar caracteriza-se por episódios de riso ou choro, que não coincidem com o estado emocional do paciente. Isso pode causar constrangimento emocional significativo para os pacientes e seus cuidadores. -Fadiga é um dos sintomas mais incapacitantes e comuns da EM. A fadiga é desproporcional às atividades físicas realizadas e, nos casos típicos, piora ao entardecer. Em um terço dos pacientes, a fadiga pode preceder o primeiro episódio de desmielinização detectável clinicamente em meses ou anos. -A disfunção vesical, que pode causar incapacidade de reter ou eliminar a urina (ou uma combinação de ambas), afeta cerca de 75% dos pacientes. Yslane Costa - Medicina -Em 15% dos casos, os sintomas são suficientemente graves para impedir que os pacientes saiam de casa ou participem de atividades sociais. -As lesões desmielinizantes situadas acima do nível da ponte podem causar hiperreflexia do detrusor com contrações vesicais desinibidas, que resultam em urgência urinária comumente acompanhada de aumento da frequência urinária, noctúria e incontinência de urgência. -As lesões que afetam as vias reticuloespinais acima de S2 e abaixo da ponte também podem causar contrações vesicais involuntárias, ou contração simultânea da parede vesical e da uretra – uma condição conhecida como dissinergia detrusor- esfíncter. Esses pacientes têm dificuldades de armazenar e eliminar urina e mostram uma combinação de sinais/sintomas como urgência, aumento da frequência, dificuldade de iniciar a micção, esvaziamento parcial e incontinência. As lesões das vias urinárias superiores e dos rins em consequência da pressão intravesical elevada são raras. Com a desmielinização das células do corno anterior dos segmentos sacrais inferiores, os pacientes têm hipocontratilidade e incapacidade de esvaziar a bexiga por completo. -Em muitos casos, a disfunção intestinal coexiste com a disfunção vesical e acomete até 70% dos casos. É comum ocorrer constipação intestinal, que pode ser causada pela imobilidade, pela ingestão insuficiente de líquidos ou pelos efeitos colaterais dos fármacos (especialmente os que são usados para tratar disfunção vesical). -Até 90% dos pacientes com EM têm disfunção sexual. Isso é mais provável nos casos de EM progressiva, mas afeta até dois terços dos pacientes com doença recidivante- remitente. Nos homens, as queixasmais comuns são disfunção erétil e distúrbios ejaculatórios. As mulheres têm dificuldade de chegar ao orgasmo, lubrificação vaginal reduzida e diminuição da sensibilidade vaginal. Os homens e as mulheres podem referir perda da libido. Fatores fisiopatológicos (p. ex., fadiga, fraqueza, espasticidade, dor e hipoestesia) e psicológicos (p. ex., depressão, ansiedade desencadeada pelos distúrbios vesicais e intestinais) podem interferir com a atividade sexual. Alguns dos fármacos usados comumente para tratar outros sintomas da EM, inclusive anticolinérgicos, antidepressivos e baclofeno, podem interferir negativamente na função sexual. -Depressão certamente é o transtorno afetivo mais comum dos pacientes com EM e sua prevalência entre os pacientes com menos de 60 anos é de 50% em alguma época da vida. Alguns pacientes têm sintomas depressivos, mas não preenchem os critérios diagnósticos de depressão maior. A etiologia provavelmente é multifatorial, porque fatores biológicos e psicossociais contribuem para sua frequência elevada. Existe a preocupação de que as betainterferonas possam agravar a depressão. Episódios de depressão maior podem ocorrer durante os períodos de exacerbação, remissão ou progressão da doença. -Outros transtornos psiquiátricos frequentes nos pacientes com EM são transtorno bipolar, ansiedade, afeto pseudobulbar e euforia. -Até 65% dos pacientes com EM têm disfunção cognitiva. Memória a curto prazo, atenção, concentração, inteligência verbal, habilidades visuoespaciais e Yslane Costa - Medicina processamento de informações são os domínios afetados mais comumente. Distúrbios da linguagem e déficits de memória de médio e longo prazos são menos frequentes. Em geral, limitações físicas e duração da doença são previsores desfavoráveis de disfunção cognitiva, que pode ocorrer nos estágios iniciais da evolução da EM. Entretanto, os pacientes cognitivamente limitados têm mais lesões, destruição mais extensiva dos tecidos e volumes cerebrais menores que os pacientes sem estas limitações, com base nas técnicas de RM convencionais e mais modernas. Na maioria dos pacientes, a disfunção cognitiva é sutil e passa despercebida na avaliação realizada no consultório do neurologista. -O Miniexame do Estado Mental não é útil, porque pode não identificar cerca de 75% dos pacientes com EM considerados cognitivamente limitados com base nos exames neuropsicológicos detalhados. -Cerca de 70% dos pacientes referem dor em alguma época. A dor pode ocorrer durante uma exacerbação aguda (p. ex., dor ocular com neurite óptica ou disestesias com placas de desmielinização na medula espinal), mas quase 50% dos pacientes com EM têm dores crônicas. Além dos espasmos musculares dolorosos, dos fenômenos paroxísticos e dos sintomas sensitivos descritos antes, os pacientes com EM estão mais sujeitos a referir dor nas articulações, nos músculos e nos membros que os controles pareados por sexo e idade. Alguns pacientes também se queixam de dores no pescoço e na cabeça, que podem ser atribuídas às anormalidades da postura ou da marcha. Na forma EMPP, o comprometimento de tratos longos é comum, e o motor é o mais frequente seguido pelo cerebelar. Alterações piramidais estão presentes em até de 80% dos pacientes), e a fraqueza está, em geral, relacionada com a mielopatia, primeiro nos membros inferiores, evoluindo de modo gradua para tetraparesia. Na progressão, distúrbios sensitivos, alterações cerebelares, síndromes de tronco cerebral, perda visual, disfunção esfincteriana e sexual, além do comprometimento cognitivo podem-se desenvolver, demonstrando a evolução da doença no espaço e no tempo. A fase Yslane Costa - Medicina progressiva se iniciaria em torno da mesma época, por volta dos 40 anos, em ambas as formas clínicas, EMPP e EMSR com progressão secundária. Na forma EMSR, ao contrário da EMPP, os sintomas iniciais mais frequentes foram alterações sensitivas e neurite óptica. A fase progressiva se iniciaria em torno da mesma época, por volta dos 40 anos, em ambas as formas clínicas, EMPP e EMSR com progressão secundária. Na forma EMPS diferença também com relação aos sintomas iniciais da doença da EMPP, considerando que a EMPS é uma extensão da doença surto-remissão. Nas formas progressivas quando comparados os sintomas iniciais da fase progressiva, em ambas as formas progressivas, as manifestações de vias longas predominaram. NEURITE ÓPTICA -A neurite óptica (NO) resulta da desmielinização de um ou de ambos os nervos ópticos. Pode ocorrer como evento isolado ou ser a primeira manifestação de uma doença desmielinizante, como a EM, pode ser o primeiro sintoma de EM. -A maioria dos pacientes inicialmente se queixa de dor à movimentação ocular e perda visual que, caracteristicamente, piora com os dias. O exame oftalmológico confirma a perda da visão, que pode ser parcial ou total. Podemos caracterizar uma variedade de alterações de campo visual, incluindo escotomas centrais, hemianopsia, quadrantonopsia, e defeitos altitudinais. A visão para cores está comprometida na maioria dos pacientes e, inicialmente, o exame de fundo de olho é normal, porém em aprox.. um terço dos pacientes pode haver um discreto edema de papila. Nas semanas subsequentes podemos constatar uma palidez de papila e reação pupilar à luz anormal na maioria dos casos, mas entretanto preservando o reflexo consensual. A ressonância magnética de crânio pode demonstrar aumento do sinal no nervo comprometido com captação de contraste e, em alguns pacientes, podemos detectar anormalidades desmielinizantes assintomáticas. -O prognóstico de melhora da visão após a NO é geralmente bom. Mais de 50% dos pacientes recuperam totalmente a visão e menos de 10% terão uma recuperação somente discreta (acuidade visual de > 20/50) Yslane Costa - Medicina MIELITE TRANSVERSA AGUDA - É causada por desmielinização aguda na medula espinal à semelhança da NO. Pode ocorrer também como um evento isolado ou fazer parte de uma doença desmielinizante (EM). Há duas formas clínicas de MTA: a completa e a incompleta. - A MTA completa costuma ser um quadro dramático, precedido ou não de uma infecção viral após 1 a 4 semanas. Clinicamente os pacientes apresentam paralisia, que compromete os membros inferiores, acompanhada às vezes de fraqueza ou não dos membros superiores, retenção urinária e alterações sensitivas abaixo do nível da lesão medular. Alguns pacientes podem apresentar febre, ou por infecção associada (urinária) ou pelo próprio quadro medular. Em outros, podemos constatar o choque espinal – paraplegia flácida, arreflexia e retenção urinária. Pacientes com lesão cervical apresentam o sinal de Lhermitte, que consiste na presença de sensação de choque elétrico ou de parestesias, que se irradiam para os membros superiores e inferiores com a flexão do pescoço. Na MTA incompleta o quadro motor e sensitivo é assimétrico e menos grave. SÍNDROMES DESMIELINIZANTES DE TRONCO CEREBRAL - Quadros desmielinizantes de tronco cerebral podem ocorrer isoladamente ou no contexto da EM. Ao contrário do que ocorre com a NO e MTA. Yslane Costa - Medicina - Os pacientes podem apresentar uma variedade de sintomas restritos ao tronco, como parestesias em hemiface, paresia facial, diplopia, vertigem e desequilíbrio. Os sintomas podem evoluir por dias e o exame neurológico dependerá das vias comprometidas, como perda da sensibilidade táctil, térmica e dolorosa envolvendo as três divisões do trigêmeo, oftalmoplegia internuclear, paralisia do reto lateral, nistagmo, paralisia facial do tipo periférico, ataxia à marcha, tremor cerebelar e outros. FORMAS REMITENTE-RECORRENTES DA ESCLEROSA MÚLTIPLA - A doença pode se manifestar no início com sintomas isolados, tais como sintomas sensitivos, motores ou neurite óptica isolada (início monossintomático – síndrome clínica isolada),ou por associação destes (início polissintomático). - Surto: as aceitas por todos como adequadas para o atendimento de pacientes suspeitos de portar EM. Assim, alterações neurológicas subjetivas ou evidência destas comprovadas ao exame neurológico, com duração mínima de 24 horas, na ausência de febre ou aumento de temperatura corpórea. -Remissão: a resolução parcial ou total das alterações neurológicas causadas pelo surto, com duração mínima de um mês. - Classificar a EM nas seguintes formas: remitente-recorrente (EMRR), secundariamente progressiva (EMSP) e primariamente progressiva (EMPP). - Estima-se que aproximadamente 80% dos pacientes iniciam a doença com a forma remitente recorrente, caracterizado por episódios alternados de surtos e remissões, com duração e intervalosvariáveis entre os eventos, que variam de caso para caso. Habitualmente se observa, após os primeiros surtos, que os pacientes se recuperam integralmente, ao passo que a ocorrência repetida desses surtos pode causar progressão da doença e recuperação menos acentuada com o tempo (sequelas). - Na maioria dos casos, a doença se inicia com um surto e, frequentemente, de forma polissintomática. - Aproximadamente 90% dos pacientes com EM apresentam a EMRR no início da doença. Durante o surto, a doença está ativa e a desmielinização aguda ocorre. Pacientes podem desenvolver novos sinais e sintomas neurológicos ou piora dos problemas preexistentes. Os sintomas tipicamente pioram durante vários dias ou semanas, quando os pacientes iniciam uma melhora. Os pacientes podem recuperar completamente após o surto ou permanecer com pequena lesão sequelar. A fase seguinte, é quando permanece com a doença aquiescente, caracteriza a remissão. A maioria dos pacientes apresentam sintomas neurológicos persistentes durante a remissão podem persistir por meses ou Yslane Costa - Medicina anos. A frequência dos surtos varia de paciente p/ paciente, mas a média é um surto a cada 1 a 2 anos nos cinco anos iniciais da doença. Aproximadamente 50% dos pacientes com EMRR evoluem para formas progressivas após 10 a 15 anos dos primeiros sintomas. Durante esta fase os pacientes pioram lenta e gradativamente e os períodos de melhora diminuem. - Os sintomas são muito variáveis de caso para caso e refletem o comprometimento dos vários tratos da substância branca. Sintomas comuns são perda visual, alterações na visão em cores, edema de papila, diplopia, paralisia internuclear, nistagmo, disartria, ataxia, tremores, nevralgia do trigêmeo, fraqueza, espasticidade, alterações do trato piramidal nos membros superiores e inferiores, disestesias, parestesias, sinal de Lhermitte, urgência urinária, disfunção sexual, alterações à marcha, alterações cognitivas e depressão. Muitos pacientes se queixam de fadiga que provavelmente reflete o aumento da energia para condução dos potenciais de ação. Axônios desmielinizados são sensitivos ao calor, o que leva os pacientes a apresentar piora do quadro com aumento de temperatura corpórea (febre) ou ambiental (calor ou banho quente) Evolução da doença Nenhum marcador biológico ou anormalidade da MR diferencia as diferentes apresentações clínicas da EM. -O sistema de classificação clássico baseia-se no consenso quanto à evolução clínica. -A classificação adequada dos pacientes é fundamental à escolha do tratamento apropriado com fármacos que modificam a evolução da doença -A EM recidivante-remitente é a apresentação inicial da doença em 85 a 90% dos casos e caracteriza-se por recidivas agudas intercaladas por remissões clínicas. -Nos casos típicos, os sintomas de uma recidiva estendem-se por vários dias ou 1 semana, antes de chegar a um nível de gravidade mínimo. A recuperação é variável, cerca de 40% das recaídas causam déficits neurológicos persistentes e os pacientes podem acumular limitações físicas progressivas. Quando os pacientes com EM recidivante-remitente não são tratados, a maioria entra na fase progressiva secundária da EM, que se caracteriza por deterioração gradativa com ou sem recidivas ocasionais sobrepostas. -Dez a 15% dos pacientes têm EM progressiva primária, que se caracteriza por deterioração contínua e geralmente gradativa da função neurológica (p. ex., monoparesia lentamente progressiva). Podem ocorrer períodos de estabilização e flutuações discretas, mas não há recidivas. -Quinze a 40% dos pacientes que começam com a forma progressiva primária depois têm recidivas agudas, que não ocorrem senão muitos anos depois dos primeiros sintomas em alguns casos. Essa evolução da doença é conhecida como esclerose múltipla recidivante progressiva e é a menos comum. Yslane Costa - Medicina -Diversos mecanismos podem ser responsáveis pela agravação dos sintomas. Um componente inflamatório pode causar as recidivas, enquanto o processo neurodegenerativo pode ser responsável pela progressão da doença A evolução da EM foi dividida em quatro subtipos com base no consenso entre os especialistas. A maioria dos pacientes começa com evolução recidivante-remitente (EMRR). alguns deles mostram um padrão progressivo secundário (EMPS). 10 a 15% dos pacientes têm doença progressiva primária (EMPP), enquanto a forma recidivante progressiva (EMRP) é muito rara. -As duas linhas superiores mostram que a doença é classificada como EMRR, independentemente se a recuperação das recidivas é completa (primeira linha) ou parcial (segunda linha), contanto que a linha de base estável seja restabelecida. -As duas linhas seguintes monstram que a doença é classificada como esclerose múltipla progressiva secundária, independentemente se as recaídas continuam ou não, contanto que a doença piore progressivamente entre as crises ou mesmo sem crises adicionais. -As duas linhas seguintes mostram que a doença pode piorar de modo constante (primeira linha) ou pode atingir um platô periodicamente (segunda linha). -A linha inferior mostra progressão depois do início, seguida da ocorrência de recidivas. Tipos: EMSR: Forma surto/remissão EMPP: Forma primariamente progressiva EMRR: Forma recidivante - remitente EMPS: Forma secundariamente progressiva EMRP: Forma recidivante progressiva EMRR com recuperação das recidivas completa EMRR com recuperação das recidivas parcial EMPS com recaídas ou não, e a doença piora progressivamente com ou sem crises. Doença pode piorar de modo constante Doença pode atingir um platô Progressão depois do início, seguida da ocorrência de recidivas Yslane Costa - Medicina Gravidez A gravidez confere proteção às mulheres com EM, principalmente no terceiro trimestre, quando o índice de recidivas anual diminui em 70%, em comparação com o ano anterior ao da gravidez. Entretanto, quando a EM não é tratada, cerca de 30% das mulheres têm recidiva nos primeiros 3 meses depois do parto, antes que o risco volte aos níveis pré-concepcionais entre os 4o e o 6 meses depois do parto. Esses efeitos podem ser atribuídos às alterações das respostas imunes Th1 e Th2 mediadas pelo estriol ou pela vitamina D, na medida em que ambos aumentam consideravelmente no último trimestre da gravidez e diminuem abruptamente depois do parto; outras alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez também podem ser importantes. -As mulheres que têm recidivas durante a gravidez ou no ano anterior estão mais sujeitas a apresentar recaídas nos primeiros 3 meses depois do parto que as pacientes que não têm recidivas nestes períodos; contudo, não é possível prever com precisão quem terá uma recaída. O aleitamento materno não altera a evolução puerperal da EM. Vacinação As infecções, inclusive infecções leves das vias respiratórias superiores, aumentam o risco de exacerbação da EM. Por essa razão, devem ser adotadas estratégias que reduzam o risco de infecção. Os temores de que as vacinas possam provocarexacerbações da doença estão baseados em relatos informais. TRATAMENTO -O tratamento da EM consiste em medidas para controlar as exacerbações agudas, fármacos que modificam a evolução da doença e medidas sintomáticas. O tratamento ideal requer uma abordagem multidisciplinar com uso de fármacos e intervenções não farmacológicas. Yslane Costa - Medicina Tratamento do surto -O seu manejo é realizado, de preferência, com o uso de glicocorticosteroides em altas doses. -Estudos compararam o uso de metilpredinosolona endovenosa (MPEV) e ACTH (intramuscular) Tratamento das exacerbações agudas -Corticosteroides intravenosos (IV) em doses altas aceleram a recuperação das exacerbações agudas, mas não parecem afetar o grau de recuperação. Um esquema típico consiste em um ciclo de 3 a 5 dias de tratamento com 1.000 mg de metilprednisolona IV, com ou sem prednisona oral em doses decrescentes. Alguns pacientes com episódios graves parecem responder melhor a mais 2 a 5 dias de tratamento. Como esse tratamento não parece afetar o prognóstico a longo prazo, nem todas as exacerbações da EM (p. ex., sintomas sensoriais leves) precisam ser tratadas. Febre e infecções, inclusive infecções urinárias assintomáticas, podem agravar os sinais e sintomas da EM, sem deterioração correspondente da doença de base. Isso é conhecido como pseudoexacerbação. Nos pacientes com deterioração ou aparecimento de sintomas novos, deve-se excluir a existência de uma infecção, antes de iniciar o tratamento com corticosteroides; além disto, a febre deve ser controlada rigorosamente. -A plasmaférese (troca de plasma) pode ser recomendada para tratar recidivas agudas que causem déficits neurológicos residuais significativos, apesar do tratamento com corticosteroide IV em doses altas Fármacos que modificam a evolução da doença -As betainterferonas e o acetato de glatirâmero são usados comumente para tratar EM recidivante-remitente. Esses dois fármacos têm eficácia modesta na redução das recidivas e produzem efeitos positivos em vários déficits neurológicos e parâmetros de RM, alteram a evolução a curto prazo da doença. Os efeitos terapêuticos das interferonas podem ser atribuídos à sua ação antiproliferativa, à hiporregulação das moléculas coestimuladoras, à redução das citocinas proinflamatórias ou aos seus efeitos nas metaloproteases matriciais e moléculas de adesão, que reduzem a permeabilidade da barreira hematencefálica e dificultam o trânsito dos linfócitos T para dentro do SNC. Os efeitos benéficos do acetato de glatirâmero (um polipeptídio sintético composto de quatro aminoácidos: L-alanina, ácido Lglutâmico, L-lisina e L-tirosina) podem resultar das células Th2 reativas, que atravessam a barreira hematencefálica e aumentam a secreção das citocinas imunossupressoras e causam hiporregulação da atividade inflamatória dentro do SNC – um processo conhecido como supressão do espectador (bystander supression, em inglês). -O natalizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado altamente eficaz para reduzir o índice de recidivas e o aparecimento de lesões novas na RM (lesões com intensificação em T2) dos pacientes com EM recidivante. Contudo, como esse fármaco está associado a um risco baixo de leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), ele é associado a um teste de anticorpo para o vírus de John Cunningham (VJC) Yslane Costa - Medicina para prever o risco de ter esta complicação. O natalizumabe provavelmente exerce seus efeitos terapêuticos bloqueando a ligação da subunidade α4 da integrina α4β1 expressa na superfície dos linfócitos T ativados com seu receptor da molécula de adesão da célula vascular (VCAM-1) na superfície do endotélio vascular da barreira hematencefálica. A interação da subunidade α4 com a VCAM-1 é fundamental a que os linfócitos T consigam entrar no SNC. -A teriflunomida é um inibidor da síntese de pirimidinas, que retarda a expansão dos clones de linfócitos ativados. -O dimetilfumarato é um éster do ácido fumárico, que se mostrou eficaz para reduzir a frequência das recidivas e a atividade das lesões à RM nas formas ecidivantes da EM. Teoricamente, o mecanismo de ação desse fármaco está relacionado com a “varredura” dos radicais livres e modulação das vias do NF-κB e Nrf2. -As decisões quanto ao tratamento inicial devem ser individualizadas e baseadas na combinação de fatores como eficácia, via de administração e efeitos colaterais potenciais, principalmente em relação com as comorbidades existentes. -Anticorpos neutralizantes (NAbs) desenvolvem-se em 15 a 25% dos pacientes tratados com interferona β-1a (44 μg SC, 3 vezes/semana) e em 25 a 40% dos que são tratados com interferona β-1b. -A EM progressiva secundária é mais difícil de tratar que a forma recidivante- remitente da doença. Interferonas em doses altas e uma dose dupla semanal de interferona β-1a intramuscular reduzem o número de recidivas e a atividade das lesões na RM, mas não têm efeitos consistentes na progressão dos déficits neurológicos. Os pacientes com recidivas sobrepostas, lesões intensificadas por gadolínio ou déficits neurológicos acumulados rapidamente podem ter mais chances de responder a esse tratamento. Os ciclos (pulsos) periódicos de metilprednisolona IV não conseguem evitar déficits neurológicos nos pacientes com EM progressiva secundária. -A mitoxantrona é uma antracenediona com propriedades imunossupressoras e imunomoduladoras e foi aprovada pela FDA americana apenas para tratar EM progressiva secundária. Contudo, seus efeitos são modestos e sua segurança é preocupante, de forma que os riscos e benefícios devem ser considerados cuidadosamente, antes de iniciar o tratamento. Também é eficaz nos pacientes com EM recidivante altamente ativa. Seis infusões mensais de 20 mg de mitoxantrona mcombinada com 1 g de metilprednisolona IV reduzem drasticamente as lesões cerebrais intensificadas por gadolínio e parecem reduzir as recidivas e os déficits neurológicos dos pacientes com EM recidivante-remitente rapidamente progressiva e EM progressiva secundária com lesões ativas na RM cerebral. -Nenhum tratamento foi comprovadamente eficaz na EM progressiva primária. A mitoxantrona e as interferonas parecem ser ineficazes. O acetato de glatirâmero foi avaliado em um estudo clínico de grande porte, mas ele foi interrompido prematuramente em razão da inutilidade do tratamento. Um estudo com rituximabe (um anticorpo monoclonal dirigido contra o antígeno CD20 da superfície dos linfócitos B) Yslane Costa - Medicina também mostrou resultados negativos. Contudo, análises post hoc desses dois estudos sugeriram que o acetato de glatirâmero possa ser eficaz nos homens e um efeito terapêutico possível com rituximabe em diversos subgrupos, inclusive pacientes com menos de 51 anos e portadores de lesões iniciais intensificadas por gadolínio. Tratamento sintomático -Os tratamentos para atenuar os sintomas cotidianos da EM fazem parte dos cuidados prestados aos pacientes. O tratamento eficaz consiste em uma combinação de fármacos com medidas não farmacêuticas, inclusive reabilitação, exercícios ou modificações do estilo de vida e do ambiente. -O controle da espasticidade depende da avaliação e do tratamento dos fatores potencialmente agravantes. Depois de atenuar os fatores agravantes, o ideal é adotar uma abordagem combinada de fisioterapia e tratamento farmacológico. Os fármacos usados mais comumente são baclofeno e tizanidina, isoladamente ou combinados. Os efeitos adversos comuns do baclofeno são fraqueza dos membros, sedação e confusão mental. Com doses mais altas, a fraqueza pode anular o efeito benéfico de redução da espasticidade. O uso de tizanidina é limitado principalmente pela sonolência. Em geral, a intensificação da fraqueza não é problema. A gabapentina também pode ser eficaz. O uso dos benzodiazepínicos foi praticamentesuplantado pelo baclofeno e pela tizanidina, que são mais bem tolerados. A toxina botulínica pode ser eficaz para atenuar spasticidade localizada. A infusão intratecal de baclofeno pode ser eficaz nos pacientes com espasticidade grave dos membros inferiores, que não melhore com os fármacos orais nas doses mais altas toleradas. -Fisioterapia e terapia ocupacional são fundamentais ao tratamento das limitações motoras. -A dalfampridina (uma preparação de liberação contínua de 4-aminopiridina) é um bloqueador do canal de potássio, que facilita a condução através das fibras neurais desmielinizadas. Em dois estudos terapêuticos, esse fármaco aumentou a força dos membros inferiores e a velocidade da marcha de alguns pacientes com as formas recidivante-remitente e progressiva da EM. A dalfampridina aumenta o risco de crises epilépticas (especialmente com doses mais altas) e está contraindicada aos pacientes com história de epilepsia ou disfunção renal. -A depressão reage bem à psicoterapia e aos antidepressivos, seja isoladamente ou combinados. A amitriptilina é eficaz como tratamento do afeto pseudobulbar (riso ou choro patológico), assim como uma mistura de dextrometorfano e quinidina -Até hoje, não existe tratamento comprovadamente eficaz para disfunção cognitiva associada à EM. Alguns pacientes podem melhorar com reabilitação cognitiva e estratégias para compensar os déficits -Os fármacos que modificam a evolução da doença e retardam o desenvolvimento das lesões, a destruição dos tecidos ou a atrofia cerebral podem atenuar o declínio cognitivo. Yslane Costa - Medicina -A disfunção vesical dos pacientes pode ser bem caracterizada por uma avaliação urológica e pelos testes urodinâmicos. A combinação de um anticolinérgico e um antagonista alfaadrenérgico (doxazosina, prazosina, tansulosina, terazosina) pode facilitar o esvaziamento vesical dos pacientes com dissinergia detrusor-esfíncter. A cateterização intermitente limpa combinada com um anticolinérgico pode ser necessária em alguns casos. Os pacientes que não conseguem tolerar os fármacos ou realizar a autocateterização podem precisar de cateteres de longa permanência. A cateterização é a medida terapêutica principal para pacientes com hipocontratilidade do músculo detrusor e dificuldade de esvaziar a bexiga. Os pacientes com função preservada dos membros superiores geralmente conseguem realizar cateterização intermitente limpa. O cateter urinário de longa permanência pode ser necessário aos pacientes que não conseguem fazer autocateterização, porque a cateterização intermitente crônica por um cuidador geralmente não é exequível. -Alguns fármacos foram considerados para tratar os tremores associados à EM, inclusive carbamazepina, clonazepam, gabapentina, levetiracetam, primidona, ondansetrona, propranolol e tetraidrocanabinol. Esses fármacos raramente são eficazes e o tremor pode ser o sintoma da EM mais difícil de tratar. A estimulação talâmica cerebral profunda pode causar melhora notável. Os melhores candidatos são pacientes com EM estável e tremor incapacitante há no mínimo 1 ano, apesar do tratamento clínico, embora sem disfunção cognitiva, distúrbios da fala ou da deglutição ou outros déficits nos membros afetados. Quando o tratamento é necessário, as disestesias e a dor geralmente melhoram com anticonvulsivantes e antidepressivos, seja isoladamente ou combinados. Gabapentina, pregabalina, amitriptilina, nortriptilina e duloxetina comumente atenuam os sintomas. A dor mielopática melhora com opioides, que podem ser necessários em alguns casos. O encaminhamento a um especialista em dor pode ser benéfico aos pacientes com dor resistente ao tratamento. Yslane Costa - Medicina Yslane Costa - Medicina PROGNÓSTICO Yslane Costa - Medicina -A EM é uma doença extremamente variável. -Por essa razão, o aconselhamento dos pacientes com síndromes clínicas isoladas e EM em estágio inicial é uma tarefa difícil para os médicos. -Contudo, a existência de anormalidades na RM cerebral depois de um primeiro episódio clínico de desmielinização fornece informações prognósticas importantes quanto à progressão da doença. -51% por cento dos pacientes que têm inicialmente neurite óptica e no mínimo três lesões hiperintensas nas imagens em T2 da RM cerebral desenvolvem EMCD nos próximos 5 anos, em comparação com apenas 16% dos que têm resultados normais na RM cerebral. -A EMCD desenvolve-se nos próximos 20 anos em 82% dos pacientes com CIS e no mínimo uma lesão nas imagens em T2 da RM cerebral, em comparação com 21% dos que têm resultados normais na RM cerebral inicial. -Em geral, quanto maior é o número de lesões na RM cerebral inicial por ocasião da manifestação de uma síndrome clínica isolada, maior é o risco de desenvolver déficits neurológicos persistentes. Também há uma correlação modesta entre a alteração do volume das lesões nas imagens em T2 nos primeiros 5 anos e os déficits neurológicos crônicos. Contudo, os prognósticos possíveis são muito variados. De acordo com um estudo sobre a história natural da doença, 45% dos pacientes com no mínimo 10 lesões na RM cerebral inicial alcançaram o escore 6 na EDSS (Escala Ampliada do Grau de Incapacidade) depois de 20 anos, mas 35% tinham apenas déficits neurológicos mínimos. -Embora seja praticamente impossível prever a evolução da EM em determinado paciente, os sinais de prognóstico favorável geralmente são sexo feminino, idade jovem por ocasião do início e poucos déficits neurológicos dentro dos primeiros 5 anos depois do início dos sintomas. -Sexo masculino, idade avançada por ocasião do início, episódios frequentes nas fases iniciais de evolução da doença, intervalo curto entre os dois primeiros episódios, recuperação parcial do primeiro episódio, déficits neurológicos acumulados rapidamente, acometimento cerebelar como um dos sintomas iniciais e doença progressiva desde o início são fatores associados a um prognóstico desfavorável. -O desenvolvimento de neurite óptica no primeiro episódio da doença está associada a um prognóstico favorável de curto e médio prazos, mas a gravidade dos déficits neurológicos depois de 20 anos é semelhante nos pacientes que se apresentaram com neurite óptica ou síndromes referidas ao tronco encefálico ou à medula espinal. -Os afro-americanos têm prevalência mais baixa de EM que os caucasoides, mas tendem a acumular déficits neurológicos em menos tempo. Alguns pacientes têm uma forma muito branda de EM recidivante-remitente com déficits neurológicos mínimos ou nenhuma anormalidade no mínimo por 10 anos depois Yslane Costa - Medicina do início da doença; esta condição é conhecida comumente como esclerose múltipla benigna. Embora os estudos sobre a história natural da doença tenham produzido resultados conflitantes, a maioria sugere que muitos desses pacientes desenvolvam déficits neurológicos significativos e entrem na fase progressiva secundária da EM nos próximos 20 anos. Os testes neuropsicológicos demonstram disfunção cognitiva em 20 a 45% dos pacientes classificados como portadores de EM benigna. o diagnóstico de EM benigna deve incluir uma avaliação da função cognitiva e pode ser considerado apenas retrospectivamente e depois de um período de acompanhamento clínico. A variante Marburg da EM é uma doença fulminante rara, geralmente monofásica, que geralmente leva ao óbito dentro de 1 ano. Pode ser difícil diferenciar entre essa variante e a encefalomielite disseminada aguda. Ao exame anatomopatológico, a doença caracteriza-se por infiltrados abundantes de macrófagos e destruição axonal, além de desmielinização e necrose extensiva dos tecidos. A doença de Shilder, ou esclerose difusa mielinoclástica, é uma apresentação pediátrica extremamente rara, que se caracteriza pelo desenvolvimento de placas bilaterais no centrosemioval e patologia compatível com EM, sem outras lesões do SNC nos pacientes com função normal do sistema nervoso periférico, função suprarrenal normal e nenhuma anormalidade dos ácidos graxos de cadeia muito longa. DESCREVER OS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA ESCLEROSE MÚLTIPLA -O diagnóstico da EM é estabelecido com base em critérios clínicos, geralmente complementados pelos resultados da RM. O exame do LCR pode ser útil, mas isoladamente nenhum resultado é patognomônico dessa doença. - Os critérios diagnósticos mais utilizados são os de McDonald e colaboradores, ainda assim exigem do médico uma anamnese cuidadosa, exame neurológico minucioso e exames complementares adequados. -O diagnóstico precoce é extremamente importante, porque os fármacos que modificam a evolução da doença parecem ser eficazes quando são administrados nos estágios iniciais e porque o retardo do tratamento pode causar lesões neurológicas irreversíveis - O diagnóstico da EM reside no fato de demonstrar lesões na substância branca que se disseminam no tempo e no espaço excluem outra doença - Algoritmo para diagnóstico: Temporal – o paciente deve ter apresentado pelo menos dois episódios de alteração neurológica consistente com doença desmielinizante. Yslane Costa - Medicina Anatômico – o paciente deve apresentar evidência clínica ao exame neurológico de pelo menos duas áreas distintas de comprometimento de substância branca e/ou à IRM e/ou por potenciais evocados. Exclusão – outra doença que justifique os sintomas. Critérios diagnósticos Os critérios diagnósticos mais recentes da EM, também conhecidos como critérios de McDonald (em homenagem a Ian McDonald), foram estabelecidos em 2001 e revisados em 2005 e 2010 (Tabela 69.2). -As anormalidades da RM podem ser usadas para demonstrar progressão no tempo e espaço, contando que o indivíduo tenha apresentado um episódio de disfunção neurológica compatível com doença desmielinizante. Isso permite que o diagnóstico seja estabelecido mais precocemente. - Os pacientes devem referir dois ou mais eventos neurológicos (surtos) separados pelo intervalo mínimo de um mês, com confirmação objetiva ao exame neurológico de duas ou mais áreas comprometidas na substância branca, RM compatível com a doença ou presença de alterações nos potenciais evocados. O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) auxilia no fato de confirmar a natureza inflamatória da doença, mas não demonstra a disseminação das lesões no tempo. Não deve haver outra justificativa para o quadro do paciente, como acidente vascular cerebral, deficiência nutricional e outros. Os critérios de diagnóstico de McDonald, revisados em 2005 permitem demonstrar a disseminação no tempo da EM pelo fato de, numa segunda IRM, obtida no período de até três meses da primeira manifestação clínica, ocorrer uma nova lesão em T2 excluindo a necessidade de um segundo evento para confirmar EM definida. Ou o acompanhamento do paciente com exames de imagem periódicos (RM de crânio e coluna). -A RM de crânio demonstra com frequência lesões hemisféricas de substância branca e menos prevalentes no tronco e cerebelo. É importante ressaltar que imagens semelhantes ocorrem em pacientes idosos e em outras patologias (quadros vasculares, enxaqueca, doenças desmielinizantes monofásicas e outras doenças autoimunes que comprometem o sistema nervoso central). Estima-se que aproximadamente 10% dos pacientes com RM tem RM normal, pois as lesões ficam restritas a medula espinal e/ou nervos ópticos. RM de coluna exclui espondilose, hérnia de disco e tumores. O uso de gadolínio nos exames de imagem são imprescindíveis para detectar lesões ativas -Os potenciais evocados visual, auditivo e somatossensitivo permitem demonstrar a presença de lesões no sistema nervoso central detectando lesões nos nervos ópticos, tronco cerebral e medula, respectivamente. A maior indicação destes exames eletrofisiológicos é em localizar lesões em regiões assintomáticas, caracterizando disseminação de lesões, critério essencial para o diagnóstico de EM definida. -O LCR é usualmente utilizado para o diagnóstico de EM, tipicamente. tem aspecto claro, com menos de 5 células/mm3 e raramente superior a 50/mm3. A taxa de proteínas normalmente está em níveis normais ou levemente aumentada. Anormalidades na IgG Yslane Costa - Medicina são as mais importantes no diagnóstico de EM. A IgG total está aumentada e a presença de bandas oligoclonais está presente em 90 a 95% dos pacientes com EMCD, porém aproximadamente 10% dos pacientes tem valores normais. Convém ressaltar vem dentro da normalidade para estes índices, além do fato que anormalidades na IgG no LCR estão presentes em outras patologias inflamatórias. Critérios de diagnóstico de Mc Donald 1. Dois ou mais surtos e evidências clínicas de duas lesões 2. Dois surtos, evidência clínica de uma lesão e disseminação no espaço ou lcr/bo ou um novo surto da doença 3. Um surto, evidência clínica de duas ou mais lesões e disseminação à RM no tempo, ou um novo surto da doença 4. Um surto, evidência clínica de uma lesão e disseminação à irm no espaço ou LCR/BO e duas ou mais lesões à IRM compatíveis com em e disseminação à IRM no tempo, ou um novo surto 5. Dois ou mais surtos e evidências clínicas de duas lesões 6. Dois surtos, evidência clínica de uma lesão e disseminação no espaço ou LCR/BO ou um novo surto da doença. Disseminação espacial à IRM Três dos seguintes: – Uma ou mais lesões gadolíno captantes ou nove ou mais lesões T2 hiperintensas se não houver Lesão captante – Uma ou mais lesões infratentoriais – Uma ou mais lesões juxtacorticais – Três ou mais lesões periventriculares ou – Uma lesão espinal substitui uma lesão cerebral – Duas lesões T2 + LCR/BO Disseminação temporal à IRM – A primeira RM realizada após três meses do evento com presença de lesão captante é suficiente para diagnóstico. Se a RM for negativa após três meses, deve-se realizar novo exame em três meses, se positivo confirma diagnóstico Yslane Costa - Medicina – Se a primeira RM realizada antes do terceiro mês após o evento for negativa, deve-se repetir o exame após três meses ou mais, e a presença de lesão captante confirma o diagnóstico -O diagnóstico da EM recidivante-remitente requer ao menos um episódio de disfunção neurológica compatível com inflamação e desmielinização, que ocorre sem febre ou infecção e estende-se por no mínimo 24 h, além de evidência objetiva de lesões progressivas no tempo e espaço. A progressão espacial pode ser demonstrada por duas lesões anatomicamente distintas ao exame, que sejam compatíveis com desmielinização do SNC (p. ex., reflexo plantar extensor e atrofia óptica), ou uma lesão focal ao exame clínico com evidência de progressão espacial à RM (Tabelas 69.2 e 69.3). Quando não ocorrem dois episódios clínicos, a progressão temporal pode ser demonstrada pela evolução subclínica da doença nas imagens de RM (Tabela 69.4). -O diagnóstico da EM progressiva primária requer ao menos 1 ano de progressão neurológica insidiosa, combinada com várias anormalidades da RM e do LCR (ver Tabela 69.2). Em alguns casos, as lesões típicas de EM são descobertas na RM de indivíduos sem história de sintomas neurológicos e com exame físico normal. Quando não há evidência clínica de desmielinização, mesmo quando as anormalidades da RM estão associadas à existência de detecta bandas oligoclonais no LCR, a um índice de IgG alto e aos potenciais evocados visuais prolongados, o diagnóstico de EM não pode ser estabelecido. Os critérios formais dessa condição conhecida como síndrome radiológica isolada foram estabelecidos em 2009 (Tabela 69.5). Yslane Costa - Medicina Yslane Costa - Medicina Exames de imagem Mais de 90% dos pacientes com EM recém-diagnosticada têm anormalidades na RM cerebral.Yslane Costa - Medicina -Nos pacientes com EM recidivante, 5 a 10 lesões cerebrais novas ou que mostram acentuação por gadolínio em T2 são detectadas a cada exacerbação clínica. -As lesões da medula espinal são detectadas à RM de 75 a 90% dos pacientes com EM estabelecida. -Cinquenta a 70% dos pacientes com uma síndrome clínica isolada apresentam lesões cerebrais assintomáticas nas imagens em T2 e 27 a 42% têm outras lesões clinicamente inaparentes na medula espinal. -Contudo, a RM convencional não tem especificidade patológica e as áreas de edema, desmielinização, lesão axonal, gliose e remielinização aparecem como áreas de hiperintensidade em T2. Além disso, não há correlação satisfatória entre o grau de limitação neurológica e as anormalidades da RM em T2. -As técnicas de RM não convencionais – inclusive imageamento por tensor de difusão (ITD), imageamento por transferência de magnetização (ITM) e espectroscopia de prótons por ressonância magnética (EPRM) – têm mais especificidade patológica que as modalidades convencionais e podem detectar e quantificar os danos teciduais dentro das lesões demonstradas em T2 e nos tecidos cerebrais aparentemente normais. Essas técnicas podem aumentar a capacidade de monitorar a evolução da doença e compreender os mecanismos que causam déficits neurológicos irreversíveis. -Nas imagens em T2, as lesões cerebrais geralmente medem 3 a 15 mm de diâmetro, são arredondadas ou ovais e estão localizadas na substância branca periventricular, corpo caloso, centro semioval, regiões justacorticais, ponte, assoalho do quarto ventrículo e pedúnculos ou hemisférios cerebelares (Figuras 69.2 e 69.3). Ocasionalmente, a RM mostra lesões maiores situadas nos hemisférios cerebrais, que estão associadas a um efeito de massa, edema ou acentuação periférica, são semelhantes aos tumores e são conhecidas como lesões tumefacientes (Figura 69.4). As lesões corticais não são demonstradas claramente pelas técnicas convencionais de RM. -Nos pacientes com EM recidivante, a intensificação por gadolínio – que representa inflamação ativa e violação da barreira hematencefálica – é a fase mais precoce do desenvolvimento da lesão detectada pela RM convencional (Figura 69.5). -Quase todas as lesões cerebrais recentes nas imagens em T2 apresentam intensificação nas imagens em T1 depois da infusão de gadolínio e 65 a 80% são hipointensas na sequência pré-contraste em T1. Nos casos típicos, a intensificação por gadolínio regride depois de 2 a 4 semanas. Nas imagens em T2, as lesões podem parecer menores, mas raramente desaparecem, enquanto a maioria das lesões hipointensas em T1 torna-se isointensa dentro de 6 a 12 meses, provavelmente em consequência da regressão do edema e da remielinização. -Contudo, 30 a 45% das lesões hipointensas não se alteram e são conhecidas como buracos negros crônicos (Figura 69.6). Os buracos negros crônicos representam áreas de desmielinização e lesão axonal extensas e estão relacionadas muito mais diretamente com os déficits neurológicos que as lesões em T2, especialmente nos pacientes com EM progressiva secundária Yslane Costa - Medicina -As lesões da medula espinal são mais comuns na região cervical que torácica, são hiperintensas nas imagens em T2 e mostram predileção pela substância branca das colunas laterais e posteriores. A substância cinzenta adjacente também é afetada comumente. Nos casos típicos, as lesões ocupam menos da metade da área transversal da medula e estendem-se por menos que dois segmentos vertebrais (Figura 69.7). -Nos pacientes com EM, é raro encontrar lesões hipointensas na RM da medula espinal em T1. Ao contrário das lesões cerebrais intensificadas por gadolínio, as lesões em atividade na medula espinal geralmente estão associadas a sintomas clínicos. Contudo, também é comum encontrar lesões medulares assintomáticas. As lesões assintomáticas da medula são especialmente úteis para confirmar o diagnóstico de EM nos pacientes com queixas neurológicas vagas e anormalidades inespecíficas na RM cerebral, porque lesões intramedulares são raras nos indivíduos saudáveis. -Em geral, os pacientes com EM recidivante-remitente têm mais lesões intensificadas por gadolínio que os pacientes com EM progressiva. Os pacientes com EM progressiva secundária tendem a ter mais buracos negros crônicos que os com doença recidivante remitente ou progressiva primária. Os pacientes com EM progressiva primária tendem a ter menos lesões cerebrais e anormalidades difusas da medula espinal em T2. Contudo, as características das lesões à RM não confirmam o diagnóstico dos subtipos de EM, que está baseado no quadro clínico. Biomarcadores -O exame do LCR pode ajudar a diagnosticar EM e facilita a exclusão de outros diagnósticos possíveis. O LCR contém menos de seis leucócitos por milímetro cúbico e a concentração de proteínas é normal na maioria dos pacientes com uma síndrome clínica isolada ou EM estabelecida. Cerca de 35% dos pacientes, há leucocitose linfocítica branda ou níveis elevados de proteína. Raramente há mais de 50 leucócitos por milímetro cúbito ou concentração de proteínas acima de 100 mg/dℓ e isto deve sugerir a possibilidade de outro diagnóstico. Anormalidades das imunoglobulinas do LCR são comuns. O índice de imunoglobulinas G (IgG), que reflete a produção intratecal de IgG, está aumentado em 70 a 85% dos pacientes. A focalização isoelétrica seguida de Western blotting (immunoblotting) detecta bandas oligoclonais (BOC) em mais de 95% dos pacientes (duas ou mais bandas detectadas no LCR, mas ausentes no soro, são consideradas anormais). Um índice de IgG alto com BOC detectáveis não ocorrem apenas na EM, porque também são encontrados em 20 a 40% dos pacientes com outras doenças inflamatórias, desmielinizantes ou infecciosas e, ocasionalmente, com outras doenças neurológicas como síndrome de Guillain-Barré e outras neuropatias periféricas. Por essa razão, as anormalidades do LCR sempre devem ser consideradas no contexto das manifestações clínicas e radiológicas (RM). Contudo, quando o LCR é reexaminado depois de um intervalo médio de 6 meses, um terço dos pacientes – dos quais a maioria tem doença desmielinizante – apresenta alteração de um padrão monoclonal para outro oligoclonal. Um nível elevado de proteína básica da mielina no LCR indica destruição da mielina, mas não ajuda a diferenciar a EM de outros distúrbios, inclusive doença vascular cerebral, infecções, neoplasias malignas ou doenças inflamatórias. Yslane Costa - Medicina -Os potenciais evocados visuais (PEV) são sensíveis para detectar lesões clinicamente assintomáticas nas vias visuais anteriores, embora não estejam mais incluídos nos critérios diagnósticos da EM. Os PEV são anormais (latência P100 prolongada, ou diferença interocular maior que 6 milissegundos quando as latências estão normais) em cerca de 30% dos pacientes com outras síndromes clínicas isoladas (exceto neurite óptica) ou evidência clínica de disfunção do nervo óptico. Entretanto, os PEV anormais podem ser detectados em pacientes com outros distúrbios, inclusive lesões compressivas do nervo ou quiasma óptico, glaucoma, doença da retina, deficiência de vitamina B12, infecções (p. ex., neuroborreliose, neurossífilis), lúpus eritematoso sistêmico (LES) e neurossarcoidose. Os PEV estão prolongados em quase todos os pacientes que tiveram um episódio recente de neurite óptica e o teste rotineiro com finalidade diagnóstica não está indicado. Entretanto, as latências diminuem (provavelmente em consequência da remielinização ou da reorganização dos canais iônicos) entre 3 meses e 2 a 3 anos depois da neurite óptica e voltam ao normal em cerca de 25% dos casos; por esta razão, respostas normais não excluem a possibilidade de neurite óptica no passado. Os PEV multifocais, que registram simultaneamente as respostas originadas de váriasregiões do campo visual, são mais sensíveis que os PEV convencionais, mas não estão amplamente disponíveis hoje em dia. -A RM praticamente suplantou o uso dos potenciais evocados somatossensitivos e do tronco encefálico, que raramente ajudam a identificar os pacientes em risco mais elevado de desenvolver EM e não estão incluídos nos critérios diagnósticos desta doença. -A tomografia de coerência óptica (TCO) é uma técnica não invasiva, que utiliza luz infravermelha de frequência baixa para medir a espessura da camada de fibras neurais da retina (CFNR) e o volume da mácula. Utilizada pelos oftalmologistas desde a para monitorar glaucoma, a TCO hoje é usada nos pacientes com EM. O adelgaçamento da CFNR ocorre depois da neurite óptica em consequência da destruição dos axônios retinianos. Os olhos dos pacientes com EM, mas sem história de neurite óptica, também sofrem adelgaçamento da CFNR. Nos estudos clínicos, a TCO é usada como variável prognóstica secundária e terciária e alguns neurologistas e oftalmologistas utilizam esta técnica para acompanhar seus pacientes com ou sem história de neurite óptica. DESCREVER OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA ESCLEROSE MÚLTIPLA; OBS: NEUROMIELITE ÓPTICA -Como não há um exame diagnóstico definitivo, o diagnóstico da EM ainda é firmado por exclusão das outras possibilidades. A maioria das doenças que podem ser semelhantes à EM pode ser excluída com base na anamnese detalhada, no exame físico completo e nos testes laboratoriais e exames de imagem apropriados. -Entre as infecções que podem ser semelhantes à EM estão neuroborreliose, neurossífilis e, raramente, leucoencefalopatia multifocal progressiva. Yslane Costa - Medicina -As infecções pelo vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV-1) e pelo HIV devem ser consideradas nos pacientes com mielopatia progressiva. Diante de pacientes com história epidemiológica para essas infecções, a realização de testes específicos no soro e no LCR é fundamental. -Depois do primeiro episódio agudo de EM, pode ser impossível diferenciá-la da encefalomielite disseminada aguda. É mais provável que a encefalomielite disseminada aguda ocorra depois de uma infecção ou vacinação e é mais comum nas crianças e, em geral, inclui encefalopatia (manifestação rara da EM). -Embora os pacientes com sarcoidose possam apresentar sintomas neurológicos nos estágios iniciais, a avaliação clínica geralmente demonstra evidência de sarcoidose sistêmica. Outras doenças autoimunes que devem ser consideradas são síndrome de Behçet, síndrome de Sjögren, LES, vasculites e síndrome do anticorpo antifosfolipídico. A síndrome de Susac é uma endoteliopatia microangiopática autoimune, que afeta o cérebro, a retina e a cóclea e causa encefalopatia, surdez e obstruções dos ramos das artérias retinianas. Essa síndrome pode ser confundida com a EM, porque a RM cerebral mostra lesões proeminentes na substância branca. -A desmielinização induzida por fármacos é uma possibilidade bastante provável nos pacientes com doença de Crohn ou artrite reumatoide ou psoriática tratados com anticorpos voltados ao fator de necrose tumoral. -Também pode ser difícil diferenciar a EM da NMO e o espectro de distúrbios relacionados, especialmente nos estágios iniciais da doença, nos pacientes com neurite óptica recidivante e anormalidades mínimas na RM cerebral, ou nos indivíduos com anormalidades mais típicas de EM na ressonância magnética. Na NMO, a soropositividade para IgG pode ajudar a diferenciar essas doenças. Em alguns casos, neoplasias malignas (principalmente linfoma primário do SNC e gliomas) são incluídas no diagnóstico diferencial. -Sintomas com início abrupto sugerem acidente vascular encefálico (AVE). -A esclerose lateral primária pode ser semelhante à EM progressiva, mas não recidiva e é monossintomática. Em geral, a RM e as análises do LCR ajudam a diferenciar essas duas doenças. A paraparesia espástica hereditária deve ser considerada nos pacientes com uma forma progressiva desta doença, especialmente quando há história familiar de uma doença semelhante. -Outras causas de mielopatia progressiva, que deve ser considerada nos pacientes supostamente portadores de EM, são adrenomieloneuropatia, deficiência de vitamina B12, deficiência de cobre, mielopatia espondilótica, tumores da medula espinal e fístula arteriovenosa da dura-máter espinal. - O diagnóstico diferencial com a EMPP é complexo, uma vez que inclui várias condições neurológicas com evolução lenta e progressiva além de doenças sistêmicas que podem determinar manifestações no sistema nervoso central (SNC) Yslane Costa - Medicina Algumas doenças semelhantes à EM: DOENÇAS INFLAMATÓRIAS/GRANULOMATOSAS Vasculite primária do SNC Lúpus eritematoso sistêmico Doença de Beçhet Síndrome de Sjögren Miastenia grave Sarcoidose Granulomatose de Wegner DOENÇAS INFECCIOSAS Doença de Lyme AIDS Neurolues Brucelose Meningites virais, por fungos Panencefalite esclerosante subaguda LEUCODISTROFIAS Início na vida adulta SÍNDROMES MEDULARES ISOLADAS Degeneração combinada de medula Malformação de Arnould-Chiari Mielopatia compressiva Mielopatia associada ao HTLV-1 OUTRAS Síndrome Cadasil Doença de Leber Porfiria aguda intermitente Tumores intracranianos Doença mitocôndrias VASCULITES Arterite temporal Acidente vascular cerebral Encefalomielopatia Periarterite nodosa Yslane Costa - Medicina DOENÇA DO ESPECTRO DA NEUROMIELITE ÓPTICA -A doença do espectro da neuromielite óptica (DENMO) ou doença de Devic é um distúrbio desmielinizante inflamatório grave do SNC diferente da EM, caracterizada pela produção de anticorpos contra a barreira hematoencefálica. -Originalmente considerada uma doença monofásica evidenciada pela ocorrência simultânea de neurite óptica aguda ou subaguda e mielite transversa, hoje sabemos que os pacientes com DENMO geralmente têm episódios recidivantes e a doença nem sempre se limita aos nervos ópticos e à medula espinal. - Hoje reconhecemos duas formas clínicas: NMO monofásica (ou doença de Devic, descrita em 1894) e NMO recorrente (ou síndrome de Devic), com curso recorrente de neurites ópticas e mielites, não necessariamente de forma simultânea. A NMO já foi considerada uma variante de esclerose múltipla (EM), porém hoje é reconhecida como doença de fisiopatologia, curso clínico e tratamentos distintos da EM. -Embora exista superposição de alguns aspectos da EM, a DENMO tem um anticorpo patológico diferente e as manifestações clínicas da neurite óptica e da mielite são diferentes das que se observam na EM. Yslane Costa - Medicina -A síndrome clínica encontrada mais comumente é de mielite transversal longitudinalmente extensiva, em contraste com o acometimento de segmentos relativamente curtos da medula associado comumente à mielite da EM. -A neurite óptica pode ser unilateral ou bilateral e a recuperação frequentemente não é satisfatória. Outras manifestações clínica típicas são náuseas, vômitos ou soluços incontroláveis. - É importante ficar atento às características clínicas e radiológicas de pacientes com suspeita de doença desmielinizantes para a adequada identificação daqueles com NMO. A RM, o exame de liquor, a avaliação de autoanticorpos e a pesquisa de NMO-IgG são ferramentas disponíveis para identificar pacientes em fases iniciais e, principalmente, com risco de recorrência. -O anticorpo NMO-IgG deve ser solicitado a todos os pacientes acometidos por mielite transversa e/ou MNO para diferenciação precoce com EM e doenças inflamatórias, principalmente naqueles com RM de crânio normal ou não compatível com EM. As opções terapêuticas baseiam-se em séries observacionais com uso de imunossupressores, imunoglobulina ou plasmaférese. Epidemiologia A incidência e a prevalência da DENMO não estão bem definidas. Contudo,
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