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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO CEARÁ Disciplina de TCC EM DIREITO APLICADO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE Curso de Pós-Graduação em Direito - Turma: 07712 A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO CEARÁ E AS GARANTIAS AO DIREITO DE ASSISTÊNCIA EM UTI JOSÉ NIVON DA SILVA FORTALEZA VIA CORPVS 2020 2 JOSÉ NIVON DA SILVA A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO CEARÁ E AS GARANTIAS AO DIREITO DE ASSISTÊNCIA EM UTI Trabalho de Conclusão do Curso de Pós- Graduação em Direito Aplicado aos Serviços de Saúde apresentado como requisito parcial à obtenção do Título de Especialização Lato Sensu do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio de Sá. Professor Orientador: IVAN DE OLIVEIRA SILVA FORTALEZA VIA CORPVS 2020 3 A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO CEARÁ E AS GARANTIAS AO DIREITO DE ASSISTÊNCIA EM UTI JOSÉ NIVON DA SILVA RESUMO O presente trabalho tem como tema: A Judicialização da saúde pública no Ceará e as garantias ao direito de assistência em UTI. A Judicialização da saúde acontece quando determinada pessoa solicita os meios legais para obrigar o poder público ou as organizações privadas de saúde a garantia do atendimento hospitalar (internações, UTI, cirurgias, etc.) ou em certa urgência, a busca do fornecimento de medicamentos ou próteses, para si ou para seus familiares. É importante ressaltar que a Judicialização da saúde no País se institucionalizou, assim como no estado do Ceará e constitui mais uma forma de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). O excesso de ativismo judicial e as intervenções judiciais em áreas nas quais originariamente não caberia ao Poder Judiciário se manifestar pode levar esse poder a atuar como um legislador positivo, inovando no sistema jurídico nacional, se substituindo e passando a exercer o papel que é originariamente do gestor e do Poder Executivo, passando a interferir e até mesmo a criar políticas públicas. Palavras-chave: A Judicialização da saúde pública, Sistema Único de Saúde, Intervenção Judicial. SUMÁRIO INTRODUÇÃO. 4 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como tema: A Judicialização da saúde pública no Ceará e as garantias ao direito de assistência em UTI. É um tema pertinente, pois tratar-se da busca pelo judiciário no Ceará como forma de alcançar o atendimento por meio de uma decisão judicial, é uma forma coercitiva de obrigar o Estado/Município a prestar o atendimento tencionado, desde os mais simples a vagas em UTI´s, medicamentos e tratamentos de auto custo, materiais especiais, entre outros. É fato que a Constituição Federal da República do Brasil de 1988, quando criou os direitos e garantias, estabeleceu em seu artigo 196 que “a saúde é direito de todos e dever do estado” É relevante ressaltar que a problemática questiona o acesso a saúde onde é dever do estado promovê-la, porém algumas pessoas em determinado momento se obrigam a solicitar o judiciário para garantir o atendimento. A primazia por esse tema foi de fundamental importância para a realização deste trabalho. Pois analisa e questiona a Judicialização da saúde, tendo em vista as garantias constitucionais, a teoria da reserva do possível e o ativismo judicial São muito comuns casos em que as pessoas buscam o judiciário para alcançar o atendimento desejado, onde é dever do estado prestá-lo. A metodologia do trabalho transcorreu através de uma ampla pesquisa bibliográfica, onde autores conceituados com Rodrigo Padilha e Rizzatto Nunes, assim como outros juristas, enfermeira, farmacêutica, contribuíram com seus posicionamentos discorrendo sobre a problemática. Foram consultadas grandes referências bibliográficas, assim como visitados alguns sites jurídicos relacionados ao tema como desígnio de analisar contextualmente o tema retratado. O presente trabalho está dividido em sessões: A primeira sessão foi realizada uma abordagem sobre o Breve Relato Histórico da Saúde no Brasil, onde é descrito o surgimento das primeiras ações e movimentos nos quais desencadearam nas criações de associações e a realização da VIII Conferencia Nacional da Saúde. A segunda sessão descreve o surgimento do Sistema Único de Saúde e a sua regulamentação pelas Leis Orgânicas da Saúde. 5 Já a terceira sessão trata dos princípios constitucionais que norteiam o direito a saúde: O principio da dignidade humana, o principio da igualdade e o principio da hipossuficiência. A quarta sessão relata sobre a importância do judiciário sobre o funcionamento do sistema de saúde e as garantias constitucionais, a Judicialização da saúde e a reserva do possível. Por fim a quinta sessão discorre sobre os posicionamentos do Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça e a criação de núcleos a nível estadual para dar suporte ao judiciário. 2. UM BREVE RELATO HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL Antes da Constituição Federal de 1988. O Brasil não possuía um programa de política de saúde, neste contexto a saúde era considerada contributiva e excludente, pois apenas uma pequena parcela da população, que podia pagar a medicina preventiva, e só quem contribuía com a previdência social / INPS1 Instituto Nacional da Previdência Social, tinham acesso, a outra grande parte da população cabia o atendimento nas Santas Casas de Misericórdia.2 Assim com a vinda da corte Portuguesa para o Brasil em 1808, foi necessária a criação de centros de formação, que até então eram inexistentes, pois era proibido o ensino superior em colônias. Portanto com a ordem real, foram fundadas as academias médico-cirúrgicas no Rio de Janeiro e na Bahia, no início do século XIX, que mais tarde foram transformadas nas primeiras escolas de medicina no Brasil. 3 Com a chegada da família real ao Brasil, havia a necessidade de organização de uma mínima estrutura sanitária, capaz de dá suporte ao poder real, que se 1 Órgão criado pelo decreto nº 72 de 21 de novembro de 2016, como resultado da fusão dos institutos de aposentadoria e pensões do setor privado então existente, o dos marítimos (IAPM), o dos comerciários (IAPC), o dos bancários (IAPB), o dos industriários (IAPI), o dos empregados em transporte e cargas (IAPETEC), e o dos ferroviários e empregados em serviços públicos (IAPFESP), e o dos serviços integrados e comuns a todos esses institutos, entre os quais o serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMUD), e o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS). 2 SOUZA, Natale Oliveira de .Legislação do SUS esquematizada e comentada/ Natale Oliveira de Souza, Yara Cardoso Coletto.- Salvador: Sanar, 2016. 1 Sistema Único de Saúde (Brasil)- Legislação. I Coletto, Yara Cardoso. II Titulo. (página 13) 3 SOUZA, Natale Oliveira de .Legislação do SUS esquematizada e comentada/ Natale Oliveira de Souza, Yara Cardoso Coletto.- Salvador: Sanar, 2016. 1 Sistema Único de Saúde (Brasil)- Legislação. I Coletto, Yara Cardoso. II Titulo. (página 14) 6 instalava na cidade do Rio de Janeiro. O interesse primordial era de um estabelecimento sanitário mínimo. Essa ideia perdurou por quase um século. Podemos dizer que em 1983, foi o marco inicial da atenção primária no país, pois foram criadas as chamados AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto considerado Interministerial (Previdência-Saúde-Educação), com objetivo de um novo modelo assistencial que incorporava o setor público, buscando integrar ações curativo-preventivas e educativas ao mesmo tempo, com isso a Previdência começava a comprar e pagar os serviços que eram prestados pelos estados, municípios, hospitais filantrópicos, públicos e universitários. Em 1985 com o movimento das “Diretas Já”, marca o fim da ditadura e gera assim diversosmovimentos sociais, onde culminaram na criação do CONASS (Associação dos Secretários de Saúde Estaduais) e do CONASEMS (Associação dos Secretários de Saúde Municipais), com grande mobilização nacional devido a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, a qual foram lançadas as bases da reforma sanitária e o do SUDS (Sistema Único Descentralizado de Saúde) 4 Com o desígnio de modificar a atual e real situação de desigualdade vivida pela população, em relação a assistência à saúde, tornando assim o poder público obrigado a financiar de forma integral e a garantir o atendimento a qualquer cidadão. 2.1 O Surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) O sistema Único de saúde sobreveio em 1988 com a promulgação da Constituição Federal Brasileira e sua regulamentação se deu pelas Leis Orgânicas de Saúde de 8.080 e 8.142 ambas de 1990. A Constituição Federal de1988, Título VIII Da Ordem Social, Capítulo II Da Seguridade Social, Seção II Da Saúde, é composta por 5 artigos (196, 197, 198, 199 e 200), onde é encontrado as obrigações do estado em promover o acesso, como o sistema deve ser organizado, as diretrizes, as participações complementares de rede privada e algumas atribuições do Sistema Único de Saúde. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 4 SOUZA, Natale Oliveira de. Legislação do SUS esquematizada e comentada/ Natale Oliveira de Souza, Yara Cardoso Coletto.- Salvador: Sanar, 2016. 1 Sistema Único de Saúde (Brasil)- Legislação. I Coletto, Yara Cardoso. II Titulo. (página 21) 7 agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (art.196) 5 Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, o país passa a ter um sistema de políticas sociais, universais e igualitárias. Onde o Estado é obrigado a propor ações e serviços que busquem a promoção, recuperação e a proteção à saúde de todos sem qualquer distinção entre as pessoas. Com base no artigo 23, “é de competência comum da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: inciso II, cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência” As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III participação da comunidade. 6 O artigo 198 deixa claro que essas ações e serviços são organizados através de uma rede regionalizada e hierarquizada, são descentralizadas, ou seja, cada região tem a sua atuação e os atendimentos serão de forma escalonada. As chamadas de atenção primária, secundária e terciária, nos quais dividem os níveis de atenção à saúde. 3. OS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS QUE NORTEIAM O DIREITO A SAÚDE 3.1 O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A Declaração Universal de Direitos Humanos estabelece, já no seu preâmbulo, a necessidade de proteção da dignidade humana por meio da proclamação dos direitos elencados naquele diploma, estabelecendo, em seu art. 1º, que: Todos os “seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”. Os dois Pactos Internacionais (sobre direitos civis e políticos e o sobre direitos sociais, econômicos e culturais) da Organização das Nações Unidas têm idêntico reconhecimento, no Preâmbulo, da “dignidade inerente a todos os membros da família humana”. A Convenção Americana de Direitos Humanos exige o respeito devido à “dignidade inerente ao ser humano” (art. 5º). Já Convenção Europeia de Direitos Humanos, em que pese não possuir 5 SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso de Direito Constitucional / Manoel Jorge Silva Neto – 8. Ed. – São Paulo: Saraiva 2013. 1 Direito constitucional 2. Direito constitucional - Brasil. Titulo. 6 PADILHA, Rodrigo. Direito Constitucional / Rodrigo Padilha. 5. Ed. , ver., atual. E ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2018. 1 Direito Constitucional – Brasil. I. Titulo. 8 tal menção à dignidade humana, foi já interpretada pela Corte Europeia de Direitos Humanos no sentido de que a “dignidade e a liberdade do homem são a essência da própria Convenção”30. No plano comunitário europeu, a situação não é diferente. Simbolicamente, a dignidade humana está prevista no art. 1º da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia de 2000 (atualizada em 2007), que determina que a dignidade do ser humano é inviolável, devendo ser respeitada e protegida. 7 Assim tanto nos diplomas internacionais quanto nacionais, a dignidade humana é inscrita como princípio geral ou fundamental, mas não como um direito autônomo. De fato, a dignidade humana é uma categoria jurídica que, por estar na origem de todos os direitos humanos, confere-lhes conteúdo ético.8 Ainda, a dignidade humana dá unidade axiológica a um sistema jurídico, fornecendo um substrato material para que os direitos possam florescer. De acordo Rizzatto Nunes (2009), o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, torna-se o elemento referencial para a interpretação e aplicação das normas jurídicas.9 Neste sentido O ser humano não pode ser tratado como simples objeto, principalmente na condição de trabalhador, muitas vezes visto apenas como uma peça da engrenagem para fazer girar a economia. O STF reconheceu o “direito à busca da felicidade”, sustentando que este resulta da dignidade humana: “O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma ideia-força que deriva do princípio da essencial dignidade da pessoa humana”10 A dignidade humana é um direito fundamental previsto no nosso ordenamento, que visa assegurar aos necessitados a mínima existência para uma vida digna, aquela que o ser humano não está apenas sobrevivendo, mas sim vivendo, pois, o ato de sobreviver e viver são distintos. Por tal motivo, podemos sobreviver com os mínimos de recursos até em situação máxima de miséria e penúria, mas “viver” só é possível quando se tem o 7 RAMOS Curso de direitos humanos / de Carvalho Ramos. – 5. Ed. – Paulo : Saraiva Educação, 2018. 1. Direitos humanos 2. Direitos humanos - Brasil 3. Direitos humanos (Direito internacional) 8 RAMOS, Tavares entende que há uma consubstancialidade parcial entre a dignidade humana e determinados direitos, ou seja, uma identidade parcial entre o conteúdo da dignidade e o direito em questão. TAVARES, André Ramos. Princípio da consubstancialidade parcial dos direitos fundamentais na dignidade do homem, Revista da AJURIS, v. 32, n. 9, set. 2005, p. 22-39. 9 NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana: doutrina e jurisprudência. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva 2009, p. 48. 10 RE 477.554 – Recurso (Extraordinário Rel. Celso de Mello, informativo n. 635) 9 mínimo de qualidade de vida e isso só é possível respeitando o princípio da dignidade humana. A dignidade humana possui importância tão elevada no ordenamento brasileiro como em outros diversos ordenamentos de outros Estados, que é está contido em nossa constituição como um direito fundamental como também nos acordos internacionais que o Brasil faz parte. Nosso ilustre doutrinador SIQUEIRA JUNIOR tenta expor com suas palavras o que seria direitos humanos: Os direitos humanos, quando reconhecidos pelo Estado, são inseridos na Constituição edenominam-se direitos fundamentais. Esses direitos constituem cláusulas básicas e supremas, direcionadas a todos os indivíduos, sendo direitos indisponíveis e garantidos em face do Estado. Nascem de reivindicações políticas e morais que geram concretização às exigências de dignidade, liberdade e igualdade, de acordo com cada momento histórico 11 A definição acima de direitos humanos que os consideram um direito fundamental que deve ser protegido pelo Estado, pois é sua obrigação junto com a sociedade zelar por uma sociedade justa, livre e igualitária. Tendo como objetivo principal a formação de uma sociedade que viva de acordo com as exigências essenciais para se ter uma vida digna, sempre respeitando o princípio da dignidade humana. A partir desse conceito de direitos humanos podemos extrair o conceito do Princípio da Dignidade Humana, definindo-o como um valor moral absoluto que é proveniente de todo ser humano por tal motivo esse princípio é considerado o de maior importância dentro de um Estado Democrático de Direito. 3.2 O Princípio da Igualdade No contexto a Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo 5º professa que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se [...] a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Ainda mais claro fica a defesa da igualdade na esfera 11 Siqueira Junior, Paulo Hamilton 10 cível quando no inciso I do citado artigo conclama-se que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.12 Na Constituição Federal de 1988, o princípio da igualdade garante o tratamento igualitário de acordo com a lei para os cidadãos. Existem algumas situações específicas na Constituição de 1988, em que o princípio é inserido de forma implícita e vale ressaltar: o princípio da Isonomia previsto no artigo 5º, caput e I da Constituição Federal e no artigo 7° do Código de Processo Civil, o princípio da isonomia estabelece que todas as partes devem ser tratadas de forma igual em relação ao exercício de direitos e deveres no processo.13 3.3 O Princípio da Hipossuficiência Nesta acepção, já deliberou o Tribunal Regional Federal da 4ª Região: “A princípio, a hipossuficiência financeira do paciente não é condição para a autorização ou não da prestação da saúde. Entretanto, o autor não pode ser considerado hipossuficiente para fins de prestação de medicamentos, face ao seu amplo patrimônio e ao baixo custo do medicamento requerido. ” Resta também entendimento do STF sobre este assunto:14 1. É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públicas nas questões relativas ao direito constitucional à saúde. 2. O acórdão recorrido também está alinhado à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, reafirmada no julgamento do RE 855.178-RG, Rel. Min. Luiz Fux, no sentido de que constitui obrigação solidária dos entes federativos o dever de fornecimento gratuito de tratamentos e de medicamentos necessários à saúde de pessoas hipossuficientes. 3.. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, ARE 894085 AgR/SP, Rel Min. ROBERTO BARROSO, j. 15/12/2015, Primeira Turma, DJe 16-02-2016) 15 12 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília- Df, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.> Acesso em 03 SET 2019 13 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília- Df, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.> Acesso em 03 SETEMBROS 2019. 14 TRF4, (AC 5000730-.2010.404.7208, QUARTA TURMA, Relator CANDIDO ALFREDO SILVA LEAL JUNIOR, juntado aos autos em 10/07/2015) 15 CLENIO JAIR. Nova posição sobre Hipossuficiência Financeira na Judicialização da Saúde. Disponível em:<https://emporiododireito.com.br/leitura/nova-posicao-sobre-a-hipossuficiFencia-H> Acesso em 22.fev.2019 11 A hipossuficiência, presente no art. 6º, VIII, do CDC, a noção aparece como critério de avaliação judicial para a decisão sobre a possibilidade ou não de inversão do ônus da prova em favor do consumidor. A controvérsia relativa à hipossuficiência da parte ora agravada demandaria a reapreciação do conjunto fático-probatório dos autos, o que não é viável em sede de recurso extraordinário, nos termos da Súmula 279/STF. 4 QUAL A IMPORTÂNCIA DO JUDICIÁRIO SOBRE O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE SAÚDE NAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS 4.1 A Judicialização da Saúde A Judicialização é um fenômeno iniciado no Brasil na década de 90, é uma forma de obter o atendimento à saúde por meio de uma decisão judicial. A Judicialização da saúde tem ocorrência em vários Estados brasileiros, é utilizado como instrumento para o acesso a tratamentos médico- hospitalares, desde os simples aos mais complexos; medicamentos e insumos, os comuns e os de alto custo; órteses, próteses (OPME) 16 e outros instrumentos; tratamentos considerados experimentais; até mesmo tratamento no exterior; vaga em unidades de terapia especifica 17 As pessoas recorrem ao judiciário para fazer cumprir a obrigação do Estado de prestar o atendimento à saúde, onde está tipificado no artigo 196 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 na qual informa que a saúde é direito de todos e dever do Estado que será garantido mediante políticas sociais e econômicas. A Judicialização do direito à saúde, mais especificadamente, tem se direcionado a diversos serviços públicos e privados, tais como o fornecimento de medicamentos, a disponibilização de exames e a cobertura de tratamentos para doenças. Não é difícil observar em qualquer governo no Brasil a existência de ações judiciais que buscam o deferimento de pedidos sobre estes e outros assuntos. O resultado deste processo é a intensificação do protagonismo do judiciário na efetivação da saúde e uma presença cada vez mais constante deste Poder no cotidiano da gestão em saúde. Seja uma pequena comarca ou no plenário do STF, cada vez mais o judiciário tem sido chamado a decidir sobre demandas de saúde, o que o 16 OPME Órteses Próteses Material Especial são insumos utilizados na assistência à saúde e relacionados a uma intervenção médica, odontológica ou de reabilitação. 17 DUARTE, Seixas, Clarisse e Maria Paula Dallari Bucci Judicialização da Saúde: a visão do poder executivo –São Paulo; Saraiva, 2017. 1. Saúde – Legislação – Brasil 2. Direito à saúde 3. Políticas de saúde – Brasil 4. Direitos sociais – Brasil I. Bucci, Maria Paula Dallari II. Duarte Clarice Seixas. 12 alçou a ator privilegiado e que deve ser considerado quando o assunto é política de saúde. 18 Para Bucci19, a Judicialização da saúde é uma das modalidades contemporâneas de Judicialização da política. É, no limite, o deslocamento para o poder judiciário de decisões políticas das esferas dos poderes Executivo e Legislativo. Trata-se da transferência para o judiciário, as responsabilidades das decisões, que deveriam ser tomadas pelos poderes Executivo e Legislativo através de políticas públicas e sociais mais eficientes. O CONASS20 informa que a Judicialização tem sido um palanque para apresentação de conflitos entre a organização, sua representação judicial e os operadores do direto, cujas teses têm chegado ás ultimas instâncias de todos os poderes constituídos. 21 O Conselho Nacional de Justiça22 descreve que a Judicialização da saúde é um fenômeno de elevada complexidade, expondo a divergência sobre quem procura o poder judiciário pretendendoserviços e produtos de saúde (ricos ou pobres).23 No Brasil, a efetivação judicial do direito à saúde tem recebido um debate cada vez mais público e em diversos espaços. Especialmente com o fenômeno do CNJ, tem sido analisada e desempenhada uma política judiciária da saúde, que envolve não somente a atuação das instituições jurídicas, mas também sua interface com instituições políticas e partidárias 24 18 Conselho Nacional de Justiça. Justiça Pesquisa Judicialização da Saúde no Brasil dados e experiências. Coordenadores : Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro.- Brasília: Conselho Nacional de justiça, 2015. 1. Direito a saúde 2. Assistência médica, aspectos jurídicos, Brasil 3. Asensi, Felipe Dutra II. Pinheiro, Roseni III, Brasil. Conselho Nacional de Justiça. (página 09) 19 BUCCI, Maria Paula Dallari. Judicialização da Saúde:a visão do poder executivo. / coordenado por Maria Paula Dallari Bucci e Clarice Seixas Duarte. – São Paulo: Saraiva, 2017. 1. Saúde – Legislação – Brasil 2. Direito à saúde 3. Política de saúde – Brasil 4. Direitos sociais – Brasil I Bucci, Maria Paula Dallari II Duarte, Clarice Seixas. 20 Conselho Nacional de Secretários de Saúde é uma entidade de direito privado sem fins lucrativos que se pauta pelos princípios que regem o direito público e que congrega os Secretários de Estado da Saúde e seus substitutos legais enquanto gestores oficiais das Secretarias de Estado da Saúde (SES) dos estados e Distrito Federal. Foi criado no dia 3 de fevereiro de 1982. 21 CONASS Coletânea Direito a Saúde: dilemas do fenômeno da Judicialização da saúde Brasília,outubro 2018- 1º edição. 22 CNJ- é uma instituição pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e a transparência administrativa e processual. 23 INSPER, Instituto de Ensino e Pesquisa, Judicialização da Saúde no Brasil: perfil das demandas, causas e propostas de solução. Relatório Analítico Propositivo, Justiça Pesquisa CNJ. 24 Conselho Nacional de Justiça. Justiça Pesquisa Judicialização da Saúde no Brasil dados e experiências. Coordenadores: Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro. - Brasília: Conselho Nacional de justiça, 2015. 1. Direito a saúde 2. Assistência médica, aspectos jurídicos, Brasil 3. Asensi, Felipe Dutra II. Pinheiro, Roseni III, Brasil. Conselho Nacional de Justiça. (página 10) 13 Nota-se que a Judicialização é discutida por vário órgão na busca de entender e até mesmo minimizar as ações. A exemplo, nos dias 04 e 05 de julho foi realizado o XXXV Congresso Conasems25 com o debate em pauta a “Judicialização da Saúde: um fenômeno a ser compreendido” Onde estavam presentes representantes da gestão Municipal, Estadual, Federal, do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e das universidades 26 4.2 A Reserva do Possível Segundo PIMENTA 2012. A Teoria da Reserva do Possível surgiu na Alemanha em 1970, em um julgamento do primeiro senado do Bundesverfassungs- gericht, ocorrido em 18 de julho de 1972 realizado em sede de controle de constitucionalidade das leis, que tinha por objeto legislações sobre limitação ao acesso à Faculdade de Medicina das Universidades de Hamburgo.27 A primeira resolução sobre o tem no Brasil foi uma decisão monocrática proferida em 31 de janeiro de 1997, pelo ministro Celso de Melo então presidente do Supremo Tribunal Federal, indeferindo o pedido de suspensão de medida liminar concedida por um juiz de primeiro grau que havia decido a um Estado federado o custeio de tratamento de saúde de um menor portador de uma doença rara O ministro prolator da sentença afirmou que: “a imprescindibilidade de medida cautelar concedida pelo poder judiciário do estado de Santa Catarina (necessidade de transplante de células mioblásticas, que constitui o único meio capaz de salvar a vida do paciente) e a impostergabilidade do cumprimento do dever político-constitucional que se impõe ao Poder Publico, em todas as dimensões da organização federativa, de assegurar a todos a proteção à saúde (CF, art.6º c/c art. 227, § 1º) constituem fatores que, associados a um imperativo de solidariedade humana, desautorizam o deferimento do pedido formulado pelo Estado de Santa Catarina” 28 Está explícita na Constituição Federal de 1988 a aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais no artigo 5º,§1º. 25 Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde nasceu em 1988 a partir do movimento social em prol da saúde pública e tem a missão de agregar e representar o conjunto de todas as secretarias municipais de saúde do país 26 XXXV Congresso Conasems: Debate sobre a Judicialização da saúde reuniu juízes, defensores e especialistas. Disponível em: <https://www.conasems.org.br/xxxv-congresso-conasems-debate-sobre- judicializacao-da-saude-reuniu-juizes-defensores-e-especialistas/>acesso em 16 de setembro de 2019 27 PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio As Normas Constitucionais Programáticas e a Reserva do Possível Brasília a. 49 n. 193 jan./mar. 2012 Revista de Informação Legislativa página 12. Disponível em <http://www6g.senado.leg.br/busca/?q=reserva+do+poss%C3%ADvel>acesso em 17 de setembro de 2019/ Pesquisa por Reserva do Possível. 28 STF, Pet 1246 MC/SC, Rel. Min. Celso de Mello, Dj 13/02/1997 14 Deve haver precaução na análise do termo “aplicação imediata”, pois não se trata de uma obrigatoriedade estatal propiciar de forma imediata e integral os direitos, mas responsabilidade de concessão do “mínimo existencial” independentemente da reserva do possível 29 Apurados os recursos orçamentários previstos em cada caso concreto e promovida a necessária ponderação entre os princípios e interesses envolvidos – não se poderá deixar de atender a uma parcela dos direitos fundamentais básicos do cidadão, o que se convencionou denominar de “mínimo existencial”. Isso é existem direitos e situações específicas em relação ás quais não se concebe possa o Estado abster-se, alegando falta de recursos públicos ou outros interesses públicos. . 30 Cada caso concreto deve ser analisado levando em consideração o limite entre o mínimo existencial e a reserva do possível. O magistrado tem que ter em mente se a decisão a ser tomada está dentre esses dois parâmetros, onde não poderá deixar de garantir o mínimo para a sua saúde, mas por outro lado também não poderá ultrapassar os recursos disponíveis 4.3 O Papel da justiça para garantir o atendimento a saúde Segundo Nunes Junior31 (2014, p. 11, apud Kmiec 204) a expressão foi utilizada pela primeira vez, em 1947, por Artur Schlesinger Junior. Em um artigo publicado na revista Fortune, no qual traçava o perfil de nove juízes integrantes da Corte Suprema dos Estados Unidos considerados “ativista judiciais”, por desempenhar um papel ativo na promoção do bem-estar social e acreditarem que a lei e a política eram elementos inseparáveis. O ativismo judicial pode ser definido como papel criativo dos Tribunais ante a insuficiência da norma jurídica em se fazer abranger em todos os casos que chegam ao Judiciário como também de ampliar a interpretação dos dispositivos legais gerando precedentes jurisprudencial tendo como origem um caso em concreto. Neste sentido o ativismo é uma atitude do magistrado 29 FERNANDA, Raphaela. O princípio da reserva do possível: origem, objetivos e aplicabilidade no Brasil. Publicado em 05/2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/28802/o-principio-da-reserva-do-possivel- origem-objetivos-e-aplicabilidades-no-brasil> Acesso em 17 de setembro de 2019. 30 MATTA, Marco Antônio Servidanes. Interpretação Constitucional dos Direitos Sociais Revista Consultor Jurídico. 16 de agosto de 2006,7h00. Disponível em:<https://www.conjur.com.br/2006-ago- 16/interpretacao_constitucional_direitos_sociais?pagina=6>acesso em 17 de setembro de 2019. Marco Antônio Servidanes da Matta é analista do Controle Externo do Tribunal de Contas da União. Graduado em Direito e Engenharia. Pós-Graduado em Direito e Processo do Trabalho (Universidade Cândido Mendes/RJ) 31 Nunes Junior, Armandino Teixeira, Ativismo judicial no Brasil: o caso da fidelidade partidária. Revista de Informação Legislativa. Disponível em:<https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/51/201/ril_v51_n201_p97> Acesso em 19 de setembro de 2019. 15 em face de lei lacunosa ou que não produza efeitos completos na efetivação dos direitos e garantias fundamentais. 32 Os autores defendem que o motivo pelo qual o ativismo surgiu e permaneceu no Brasil, se dá devido às brechas encontradas na nossa Constituição Federal de 1988, as leis supremas não produzem os efeitos necessários a concretização dos direitos fundamentais. Para Saldanha33, o motivo que o ativismo ter crescido tanto no Brasil é pela Constituição Federal de 1988 ter muitas cláusulas abertas, o modelo constitucional foi uma opção filosófica legitima e compreensível, uma vez que o país vinha de 21 anos de ditadura militar.34 Neste sentido o judiciário cearense tem investido em cursos, como por exemplo, o Curso Ativismo Judicial na ESMEC35. Com Fulcro na capacitação dos operadores do direito, e com objetivos de introduzir noções essenciais para o entendimento dos fenômenos chamados de “Judicialização da política” a partir da compreensão dos seus desenvolvimentos históricos e dos principais aspectos do debate presentes na abordagem de autores da filosofia e sociologia do Direito contemporâneo. Casos atuais envolvendo o protagonismo político do judiciário brasileiro foram discutidos 36 4.4 O Posicionamentos do Tribunal de Justiça do Ceará O Ministro Gilmar Mendes37 através da Recomendação N° 31 de 03/03/2010, ordenou que fosse adotado pelos tribunais medidas visando à melhor amparar os magistrados e aos demais operadores do direito para garantir mais eficiência na resolução pela busca do judiciário envolvendo a assistência à saúde. Considerando o volume processual de centenas de milhares de processos em saúde, o CNJ publicou a Recomendação n 31, teve como objetivo 32 Ferreira, Ademar Anderson Gondim. Ativismo Judicial: uma ferramenta importante na efetivação dos Direitos Fundamentais no Brasil Disponível em :<https://jus.com.br/artigos/57118/ativismo-judicial> Acesso em 19 de setembro de 2019. 33 Antônio Saldanha Palheiro é atual ministro do Superior Tribunal de Justiça do Brasil, formado em Direito pela Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela mesma instituição conclui o mestrado em 1981. 34 Rodas, Sergio. Ativismo judicial é necessário para efetivar direito de minorias, diz Antonio Saldanha. Disponível em:<https://www.conjur.com.br/2018-mai-18/ativismo-judicial-ajuda-efetivar-direitos-minorias- ministro> Acesso em 19 de setembro de 2109 35 ESMEC Escola Superior da Magistratura do Ceará 36 Curso Ativismo Judicial Disponível em: <https://www.tjce.jus.br/noticias/curso-ativismo-judicial-comeca-na- esmec-e-reune-magistrados-de-varios-estados/> Acesso em 19 de setembro de 2019. 37 Gilmar Ferreira Mendes é jurista, magistrado e professor, é ministro do Supremo Tribunal Federal desde 20 de junho de 2002, tendo presidido a corte entre 2008 e 2010. 16 orientar os tribunais na adoção de medidas que subsidiem os magistrados para assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais envolvendo a assistência à saúde pública. A exposição de motivos da Recomendação elenca a razão de sua aprovação e publicação: O grande número de demandas envolvendo a assistência à saúde em tramitação no judiciário e o representativo dispêndio de recursos públicos decorrentes desses processos judiciais; A carência de informações clínicas prestadas aos magistrados a respeito dos problemas de saúde enfrentados pelos autores dessas demandas. 38 O Conselho Nacional de Justiça através da Resolução Nº 107, de 06 de abril de 2010 estabeleceu o Fórum Nacional para o acompanhamento e a resolução das demandas, onde o objetivo é de elaborar estudos, tencionar medidas mais concretas e normativas para melhoramento dos procedimentos, buscando a eficácia dos processos e a prevenção de novos. A descentralização do Fórum Nacional resultou na criação do Comitê Executivo da Saúde a nível Estadual sob a coordenação de magistrados indicados pela Presidência e/ou Corregedoria Nacional de Justiça Neste sentido o Estado de Ceará no dia 22 de março de 2011 instalou o Comitê Executivo, no qual é composto por diferentes órgãos (Justiça Federal, Justiça Estadual, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual Defensoria Pública da União, Defensoria Pública do Estado, Procuradoria do Estado do Ceará, Procuradoria do Município de Fortaleza, Ordem dos Advogados do Brasil Seção Ceará, Secretária de Saúde do Estado do Ceará, Secretária de Saúde do Município de Fortaleza, Representantes das Operadoras de Plano de Saúde, Agencia Nacional de Saúde Suplementar – Núcleo Ceará, Conselho Regional de Medicina e Advocacia Geral da União), que voluntariamente acumulam estas atividades com seus respectivos trabalhos 39 O Comitê Executivo de Saúde tem competência para: I apresentar propostas as instâncias competentes para implementação de políticas públicas e acompanhar a execução inclusive emitindo pareceres; II articular e mobilizar a sociedade e o poder público por meio de campanhas, debates e ações; III estimular a produção de estudos, pesquisa debate e campanhas: IV implementar e monitorar ações previstas no plano nacional, estadual e municipal de saúde estimulando o desempenho de 38 Conselho Nacional de Justiça. Justiça Pesquisa Judicialização da Saúde no Brasil dados e experiências. Coordenadores : Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro.- Brasília: Conselho Nacional de justiça, 2015. 1. Direito a saúde 2. Assistência médica, aspectos jurídicos, Brasil 3. Asensi, Felipe Dutra II. Pinheiro, Roseni III, Brasil. Conselho Nacional de Justiça.(página 10) 39 Comitê Executivo da Saúde Criação. Disponível em: <https://www.tjce.jus.br/saude/criacao/> Acesso em 27 de outubro de 2019 17 órgãos e entidades avaliando os resultados; V acompanhar os trabalhos dos poderes legislativos estadual e municipal quanto a projetos de leis referente a ações de saúde; VI participar da elaboração da política e os planos estadual e municipal da saúde; VII firmar termos de apoio cooperação técnica ou convênio com órgão e entidades públicas e privadas, cuja atuação institucional esteja voltada a busca de solução de conflitos na área da saúde. 40 Ainda no sentido de atender a recomendação do ministro do Supremo Tribunal Federal, em 06 de setembro de 2017, foi publicada a Portaria N° 2536/2017 que dispõe sobre a constituição e o funcionamento do Núcleo de Apoio Técnico ao Judiciário (NAT-JUS) voltado a auxiliar a instrução e o julgamento de demandas relacionadas à saúde. O NAT-JUS é formado preferencialmente por médicos e farmacêuticos do quadro de servidores efetivos dos órgãos e entes cooperadores, possuem a função de elaborar respostas técnicas para casos que demande informação qualificada e imediata e notas técnicas em casos complexos que demande revisão bibliográfica, analise do canário, informações sobre o custo unitário, recomendações sobre os riscos e benefícios da liberação ou não da tecnologia alheia ao SUS.41 Os profissionais que integram o núcleo possuem os seguintes deveres: I atender às solicitações dos magistrados de forma diligente e tempestiva; II orientar os magistrados sobre a melhor alternativapara questão técnica objeto da questão; III manter total sigilo sobre os dados e informações que tenha acesso durante a realização dos trabalhos; IV prestar aos magistrados os esclarecimentos necessários sobre a natureza e o andamento dos serviços; V disponibilizar, sempre que solicitado, o acesso a todas as informações sobre o serviço realizado; VI elaborar, sempre que necessário relatórios dos serviços que foram objeto de consulta, indicando o número do processo e a identificação das partes; e VII assegurar a qualidade técnica dos documentos elaborados. 42 O NATJUS atenderá a comarca de Fortaleza e será gradativamente expandindo para todas as outras comarcas do Estado, afim de prestar o suporte de 40 IDEM 41 Portaria de Funcionamento do NATJUS Disponível em: < https://www.tjce.jus.br/nota-tecnica/> Acesso em 27 de outubro de 2019 42 Núcleo de Apoio Técnico ao Judiciário (NAT-JUS/CE ) Portaria de Funcionamento do NATJUS Disponível em: < https://www.tjce.jus.br/nota-tecnica/> Portaria - 1536-2017 pdf Acesso em 27 de outubro de 2019 18 forma integral abrangendo todas as demandas que abordarem sobre o direito à saúde. 1 °Curso Nacional, Judicialização da Saúde Fundamentos e Praticas para Atuação Judicial foi realizado nos dia 7 e 8 de outubro de 2019,em Brasília, todo o judiciário cearense pode acompanhar por meio de transmissão ao vivo pelo canal do Conselho Nacional de Justiça no You Tube (WWW.youtuber.com/user/cnj), o público alvo era os magistrados com competência para processar e julgar ações relacionadas ao direito à saúde, tendo como principal objetivo apresentar novas soluções para os problemas relacionados a saúde tanto a pública quanto a suplementar. Constata-se que o Estado do Ceará tem buscado atender as decisões hierárquicas emitidas em relação à tentativa de minimizar as demandas judiciais que versem sobre o direito a saúde, criando o Comitê Executivo da Saúde e o Núcleo de Apoio Técnico ao Judiciário, participando de Cursos, promovendo debates, tudo na intenção de aprimorar o entendimento dos operadores do direito em relação à saúde Buscando assim a melhor solução para o grande volume de ações em curso dando-as de forma mais justa a decisão que lhes cabem. Trata-se de uma cooperação mútua envolvendo equipes multidisciplinares em prol de um judiciário mais humanizado, eficaz, coerente e justo em casos onde a decisão pode definir a única maneira de manutenção da vida. 5 O DIREITO A ASSISTÊNCIA EM UTI Segundo levantamento realizado em 2016 e disposto no site do CFM. Os leitos de UTIs existentes no Brasil são insuficientes para atender a alta demanda de pacientes que utilizam o SUS. De acordo com o relatório extraído em fevereiro/2018 do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), o SUS oferece 21.483 mil leitos para tratamento em UTIs.43 43 CFM. Estudo inédito do CFM revela que leitos de Unidades de Terapia Intensiva no Brasil são insuficientes e estão mal distribuídos. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26167:2016-05-16-12-15- 52&catid=3.> Acesso em 22 dez 2019 19 Um levantamento realizado em 2016 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com base nos dados do CNES, identificou que apenas 505 dos 5570 municípios brasileiros oferecem leitos de UTI pelo SUS.44 Além disso, essa pesquisa do CFM detectou que 70% dos estados não tem o número de leitos em UTI suficientes. A portaria do Ministério da Saúde nº 1.101/2002 considera que o ideal é a disponibilização de 3 leitos de UTIs para cada 10 mil habitantes. A realidade é que o SUS oferece apenas 0,99 leito por 10 mil habitantes.45 Se consideradas as unidades públicas e privadas, a quantidade de leitos de UTI representam atualmente 9,3% dos leitos de internação existentes no Brasil - em outras palavras, existem 1,86 leitos para cada grupo de 10 mil habitantes. Proporcionalmente, no entanto, o SUS conta com 0,95 leitos de UTI para cada grupo de 10 mil habitantes, enquanto a rede “não SUS” tem 4,5 leitos para cada 10 mil beneficiários de planos de saúde, ou seja quase cinco vezes a oferta da rede pública.46 Em 19 unidades da federação o índice de UTI por habitante na rede pública é inferior ao preconizado pelo próprio Ministério – todos os estados das regiões Norte (exceto Rondônia), Nordeste (exceto Pernambuco e Sergipe) e Centro-Oeste, além do Rio de Janeiro e Santa Catarina. No Acre, Roraima, Amapá e Maranhão o índice permanece abaixo do ideal mesmo se considerados os leitos privados disponíveis nestes estados. O fato é que a maioria dos leitos está concentrado em capitais e regiões metropolitana, pacientes que moram no interior deslocam por muitos quilômetros para conseguir uma vaga, que nem sempre é concedida. Muitos pacientes com risco de vida e quadro grave de saúde necessitam de monitoramento contínuo por meio da internação em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A realidade é dura. Centenas de brasileiros morrem sem conseguir o direito à saúde e à vida pela falta de vaga na UTI em hospitais públicos. Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), que constitui-se de um conjunto de elementos funcionalmente agrupados, destinado ao atendimento de pacientes 44 Estudo CFM 45 Estudo CFM 46 Idem 20 graves ou de risco que exijam assistência médica e de enfermagem ininterruptas, além de equipamento e recursos humanos especializados. Sem conseguir acesso aos leitos, pacientes e seus familiares recorrem à Justiça. Informações do Ministério da Saúde revelam que o gasto governamental decorrente de ações judiciais que exigem, principalmente, um leito de UTI e medicamentos de alto custo, atingiu a cifra de R$ 838,4 milhões somente em 2014. O caso concreto foi do falecimento de Adelmar Marques Marinho, Procurador de Justiça aposentado, ocorrido na UTI do Hospital São Marcos, em Piauí, sob plano UNIMED. 47 Os familiares do Procurador aposentado lutavam pela manutenção do seu tratamento através do sistema home care, em regime de 24 horas, visto que o tratamento domiciliar era recomendado pelos médicos que assistiram o paciente durante o período em que esteve no Hospital São Marcos, considerando as várias internações prolongadas e passagens pela UTI, todas devidas a infecções respiratórias graves e crescente fraqueza muscular que o impedia de deambular, necessitando, portanto, da ajuda de terceiros, conforme laudo médico assinado pelo Dr. Elton Mota Pereira, portador do CRM-PI 325748 Restou claro e deve ser considerado que a empresa negou o tratamento por home care a um paciente de 82 anos, acometido de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), com frequência de broncoespasmos e consequente falta de ar, necessitando do uso intermitente de BIPAP e oxigenioterapia, durante o dia e à noite, que dependia inteiramente de profissionais habilitados, com a ajuda de terceiros, para alimentar-se, fazer necessidades fisiológicas e até tomar banho, cuja internação domiciliar foi aconselhada e solicitada pelo médico especialista em pneumologia, Dr. Bráulio Dyego Martins Vieira, CRM – PI 5150, e ainda conforme laudos médicos apresentados pelo Hospital São Marcos, que viam no tratamento domiciliar várias vantagens para evitar crises que poderiam agravar seu estado de saúde e levá-lo à morte. Também ficou patente que a juíza da 2ª Vara Cível, ao não atentar para o atendimento de preceitos constitucionais (arts. 6º, 196 e 197, da CF) e garantias previstas no Código de Defesa do Consumidor (art. 47), os quais asseguravam a 47 ASSUNÇÃO, José Ribamar da Costa. Plano de saúdedesrespeita Constituição Federal e CDC. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 24, n. 5670, 9 jan. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/71264. Acesso em: 1 dez. 2019. 48 Idem 21 plenitude do tratamento domiciliar ao Procurador, nas circunstâncias descritas, contribuiu para apressar a morte do paciente. De acordo com a Mestra em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento, Caroline Regina dos santos: “A maioria dos brasileiros não conhece ou não sabem como buscar seus direitos”. O paciente pode recorrer à justiça por meio da Defensoria Pública da União que oferece assistência jurídica e gratuita para pessoas com renda familiar de até R$2.000,00 de acordo com a Resolução CSDPU n°134/2017. Para famílias com seis ou mais integrantes é aceita a renda familiar bruta de até quatro salários mínimos, conforme a Resolução CSDPU 85/2014. Para isso é necessário: Comprovar que não tem condições financeiras dentro dos parâmetros citados acima e precisa do auxílio da Defensoria Pública da União. Além disso, é preciso ter em mãos os documentos pessoais. Entregar para a Defensoria Pública da União documentos, laudos, exames e prontuário que comprovam a gravidade da doença, risco de vida, urgência da necessidade da vaga na UTI e as consequências caso o leito não for concedido; Se o paciente for idoso, é possível requerer prioridade na tramitação da liminar.49 Muitos pacientes não sabem como agir em caso de negação de vaga na UTI e precisam ser informados para conseguir o seu direito à saúde. Profissionais da saúde, do Direito e toda a população que detém desse conhecimento tem o importante papel de informar. Sem conseguir acesso aos leitos, pacientes e seus familiares recorrem à Justiça. Informações do Ministério da Saúde revelam que o gasto governamental decorrente de ações judiciais que exigem, principalmente, um leito de UTI e medicamentos de alto custo, atingiu a cifra de R$ 838,4 milhões somente em 2014.50 O governo de São Paulo gastou, em 2015, cerca de R$ 1 bilhão no cumprimento de decisões judiciais. Segundo a Secretaria de Saúde estadual é cada vez maior o número de pessoas que recorrem ao judiciário para garantir o acesso à saúde. Em 2010, o estado foi réu em 9.385 ações, contra 18.045 no ano passado.51 49 IPOG.EDU. Direito à saúde: como conseguir uma vaga na UTI? Disponível em: <https://blog.ipog.edu.br/saude/direito-sade-como-conseguir-uma-vaga-na-uti/> Acesso em 23 dez 2019 50 CFM. Estudo inédito do CFM revela que leitos de Unidades de Terapia Intensiva no Brasil são insuficientes e estão mal distribuídos. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26167:2016-05-16-12-15- 52&catid=3.> Acesso em 22 dez 2019 51 Idem 22 4.6 O Direito a antecipação de tutela O Art. 300 do CPC prevê que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. E o artigo 301 e 302 frisam que: a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito: § 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. § 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. 52 Neste mesmo contexto o artigo 301 e 302 frisam que: a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo. Através de petição inicial o advogado pode pleitear a ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. O caso concreto ocorreu no município de Caucaia situado no estado do Ceará. Foi relatado no site da defensoria que no dia 13 de março de 2017, que Maria Verônica procurou o núcleo da Defensoria Pública de Caucaia no dia 14 de fevereiro para conseguir uma liminar de transferência de sua mãe para um leito de 52 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso em 22 Dez 2019 23 UTI. No dia 15, a juíza da 1ª Vara Cível do Fórum de Caucaia acatou ao pedido da Defensoria e deferiu a ação de obrigação de fazer solicitando a transferência da paciente para internação, na rede pública ou privada de saúde, obrigando Estado a fazer o transporte sob pena de multa diária de R$ 1 mil em caso de descumprimento da decisão.53 Ainda segundo Maria Verônica, a liminar não foi cumprida e Rocilda Neves passou 13 dias internada na UPA. “Precisei ir de novo à Defensoria onde mandaram o pedido para que a juíza deferisse a liminar, além disso, fui orientada a fazer orçamentos em Hospitais particulares para que, se fosse preciso, entrar com uma ação de bloqueio dos bens do Estado para que o dinheiro fosse repassado para o Hospital que receberia minha mãe”, afirma. No dia 23 de fevereiro, a juíza redeferiu a liminar intimando o Estado a cumprir a ação de obrigação de fazer e no mesmo dia Rocilda Neves de Oliveira foi transferida para Unidade de Terapia Intensiva, do Hospital Geral Dr. Cesar Cals. De acordo com o defensor público, supervisor do Núcleo da Defensoria em Caucaia, Adson Maia, a “ação teve que ser peticionada com urgência, frente ao estado da paciência que se agravava a cada dia”. Contudo, ele explica que a Defensoria Pública do Estado mantém um diálogo permanente com as Secretarias da Saúde do Estado e do Município como objetivo garantir o efetivo acesso ao direito à saúde da população vulnerável, tanto na seara individual como coletiva, visando a solução de conflitos extrajudiciais e judiciais. Neste último caso, a Defensoria ajuíza ações que visam o fornecimento pelo Poder Público (ou Planos de Saúde) de medicamentos, procedimentos médicos, vagas para internação hospitalar, dentre outros. O Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública do Estado do Ceará recebe diariamente de 10 a 15 pedidos de pessoas que recorrem à Justiça para conseguir uma vaga em leitos de Unidades de Terapia Intensivas (UTI) nos hospitais da rede pública. Na semana em que se comemora o Dia Mundial da 53 DEFENSORIA.CE. Paciente consegue vaga em UTI após ação da Defensoria de Caucaia Disponível em: <http://www.defensoria.ce.def.br/noticia/paciente-consegue-vaga-em-uti-apos-acao-da-defensoria-de- caucaia/. acesso em 02 Jan 2020 24 Saúde, em 7 de abril, a Defensoria Pública dá as orientações para quem precisa recorrerà Justiça para conseguir uma vaga em UTI.54 Durante o segundo semestre de 2017, o Nudesa deu entrada em 277 solicitações desta natureza. São casos que se assemelham ao do auxiliar de almoxarifado, Manoel Adenildo dos Dantos, que desde o dia 8 de fevereiro luta por assistência médica adequada para a mãe, Maria Marlene de Carvalho Santos, de 68 anos, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). De acordo com o relatório extraído em fevereiro de 2018 do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), os leitos de UTIs existentes no Brasil são insuficientes para atender a alta demanda de pacientes que utilizam o SUS, que oferece 21.483 mil leitos para tratamento em UTIs em todo o território nacional. Um levantamento realizado em 2016 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com base nos dados do CNES, identificou que apenas 505 dos 5.570 municípios brasileiros oferecem leitos de UTI pelo SUS. 55 Além disso, essa pesquisa do CFM detectou que 70% dos estados não tem o número de leitos em UTI suficientes. A portaria do Ministério da Saúde nº 1.101/2002 considera que o ideal é a disponibilização de 3 leitos de UTIs para cada 10 mil habitantes. A realidade é que o SUS oferece apenas 0,99 leito por 10 mil habitantes.56 CONCLUSÃO 54 DEFENSORIA.CE. Solicitações de leitos em UTI são recorrentes no Núcleo de Defesa da Saúde da Defensoria Pública. Disponível em: <http://www.defensoria.ce.def.br/noticia/solicitacoes-de-leitos-em-uti-sao- recorrentes-no-nucleo-de-defesa-da-saude-da-defensoria-publica/.> Acesso em 02 Jan 2020 55 Idem 56 DEFENSORIA.CE. Solicitações de leitos em UTI são recorrentes no Núcleo de Defesa da Saúde da Defensoria Pública. Disponível em: <http://www.defensoria.ce.def.br/noticia/solicitacoes-de-leitos-em-uti-sao- recorrentes-no-nucleo-de-defesa-da-saude-da-defensoria-publica/.> Acesso em 02 Jan 2020 25 Diante do que foi exposto pode-se concluir um alto grau de relevância que o judiciário tem na vida das pessoas que buscam-no para garantir o atendimento no qual lhes é de direito, pois sem a decisão de um juiz não teria o acesso ao tratamento determinado pela medicina. No tocante a outra parte, ou seja, o Estado o mesmo juiz que determinou o atendimento, deverá também que levar em consideração os recursos orçamentários, nos quais por muitas vezes são limitados, no momento da sua decisão. Objetivou-se no presente estudo uma análise incisiva no tocante a verificar a possibilidade de compreender o equilíbrio que deve haver na decisão do judiciário entre respeitar as garantias constitucionais em relação à saúde, onde tem aplicabilidade imediata e a reserva do possível. Notou-se que algumas ações, como a criação de núcleos para dar suporte aos operadores do direito, foram desenvolvidas com intuito de fornecer subsídios em evidências científicas para a solução das demandas que chegam até aos magistrados, na busca da justiça no direito ao acesso a saúde. Finalmente foi verificado durante o trabalho que, o magistrado tem uma missão, que por vezes não é tão fácil, onde no momento da sua decisão tem que ter em mente que há dois parâmetros a seguir, no qual não pode deixar de garantir o mínimo existencial para a saúde, mas por outro lado também não poderá ultrapassar o limite dos recursos disponíveis. REFERENCIA BIBLIOGRAFICA BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília- Df, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.> Acesso em 03 SET 2019 BUCCI, Maria Paula Dallari. Judicialização da Saúde: a visão do poder executivo. / coordenado por Maria Paula Dallari Bucci e Clarice Seixas Duarte. – São Paulo: Saraiva, 2017. 1. Saúde – Legislação – Brasil 2. Direito à saúde 3. Política de saúde – Brasil 4. Direitos sociais – Brasil I Bucci, Maria Paula Dallari II Duarte, Clarice Seixas. 26 CONASEMS: Debate sobre a Judicialização da saúde reuniu juízes, defensores e especialistas. Disponível em: <https://www.conasems.org.br/xxxv-congresso- conasems-debate-sobre-judicializacao-da-saude-reuniu-juizesdefensores-e- especialistas/>acesso em 16 de setembro de 2019 CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Justiça Pesquisa Judicialização da Saúde no Brasil dados e experiências. Coordenadores : Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro.- Brasília: Conselho Nacional de justiça, 2015. 1. Direito a saúde 2. Assistência médica, aspectos jurídicos, Brasil 3. Asensi, Felipe Dutra II. Pinheiro, Roseni III, Brasil. Conselho Nacional de Justiça. (página 09) COMITÊ EXECUTIVO DA SAÚDE Criação. Disponível em: <https://www.tjce.jus.br/saude/criacao/> Acesso em 27 de outubro de 2019 CONASS Coletânea Direito a Saúde: dilemas do fenômeno da Judicialização da saúde Brasília, outubro 2018- 1º edição. CLENIO JAIR. Nova posição sobre Hipossuficiência Financeira na Judicialização da Saúde. Disponível em:<https://emporiododireito.com.br/leitura/nova-posicao-sobre-a-hipossuficiFencia- H> Acesso em 22.FEV..2019 CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Justiça Pesquisa Judicialização da Saúde no Brasil dados e experiências. Coordenadores: Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro. - Brasília: Conselho Nacional de justiça, 2015. 1. Direito a saúde 2. Assistência médica, aspectos jurídicos, Brasil 3. Asensi, Felipe Dutra II. Pinheiro, Roseni III, Brasil. Conselho Nacional de Justiça. (página 10) DUARTE, Seixas, Clarisse e Maria Paula Dallari Bucci Judicialização da Saúde: a visão do poder executivo-São Paulo; Saraiva 2017. 1. 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