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EAD - NÚCLEO COMUM PRÁTICAS DE ENSINO II Adriana Maria Corder Molinari Maria de Lourdes Carvalho Silva Santos Julia Antonieta Simões Felgar 1 PRÁTICAS DE ENSINO II Documentos (PCNs e DCNs) Organização: Dra. Adriana Maria Corder Molinari Ms. Maria de Lourdes C. S. Santos Dra. Julia Antonieta Simões Felgar 2 APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 3 Programa da disciplina .............................................................................................................. 8 UNIDADE 01 – Diretrizes curriculares Nacionais para a formação de professores . 10 UNIDADE 03 – Inferências acadêmicas sobre os Parâmetros curriculares nacionais ........................................................................................................................................................ 21 UNIDADE 04 – Inferências acadêmicas sobre o Plano Nacional de Educação ........ 28 UNIDADE 05 – Objetivos dos PCNs para o Ensino Fundamental ................................ 33 UNIDADE 06 – Conteúdos de Arte e Educação Física para o Ensino Fundamental ........................................................................................................................................................ 40 UNIDADE 07 – Conteúdos de História e Geografia para o Ensino Fundamental ... 44 UNIDADE 08 – Conteúdos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental ......... 52 UNIDADE 09 – Conteúdos de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental ...... 57 UNIDADE 10 – Conteúdos de Matemática para o Ensino Fundamental .................... 65 UNIDADE 11 – Temas Transversais – Meio Ambiente e Saúde ..................................... 76 UNIDADE 12 – Temas Transversais – Ética e Pluralidade Cultural ............................... 81 UNIDADE 13 – Temas Transversais – Orientação Sexual ................................................ 85 UNIDADE 14 – Temas Transversais – Trabalho e Consumo .......................................... 90 UNIDADE 15 – O novo Ensino Médio segundo os PCNs. .............................................. 95 UNIDADE 16 – Objetivos para o Ensino Médio ................................................................ 101 UNIDADE 17 – Conhecimentos, Competências e Habilidades da Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias para o Ensino Médio ................................. 109 UNIDADE 18 – Conhecimentos, Competências e Habilidades de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias para o Ensino Médio ............................... 121 UNIDADE 19 - Conhecimentos, Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias para o Ensino Médio..................................150 UNIDADE 20 – Questão das relações étnico raciais ...................................................... 136 3 APRESENTAÇÃO “A experiência é muito importante, mas a experiência de cada um só se transforma em conhecimento através da análise sistemática das práticas. Uma análise que é a análise individual, mas que é também coletiva, ou seja, feita com os colegas, nas escolas e em situações de formação”. Antonio Nóvoa “A análise das práticas é uma forma de investigação, sem vítimas e sem suspeitos, que se esforça, como toda investigação para estabelecer os fatos, explorando e confrontando diversas interpretações.” Philippe Perrenoud “As mudanças educativas, entendidas como uma transformação ao nível das ideias e das práticas, não são repentinas nem lineares. A prática educativa não começa do zero: quem quiser modificá-la tem de apanhar o processo ‘em andamento’. A inovação não é mais do que uma correcção de trajectória”. J. Gimeno Sacristán Caro aluno, O trabalho do professor precisa ser construído como um processo que articula, de forma indissociável, o pensar e o fazer. Para isso, as Práticas de Ensino se anunciam como locus privilegiado para o profissional em educação conceber seu trabalho de forma historicamente contextualizada, buscando, sempre, processos qualitativos de aprendizagem. Sob essa premissa, os programas aqui propostos devem atender às necessidades colocadas pela dinâmica do currículo do Curso e às da Instituição 4 onde serão desenvolvidos, favorecendo o conhecimento e a integração do aluno com a realidade social, educacional e profissional da área da Prática de Ensino. As Práticas de ensino têm como foco formativo o trabalho pedagógico que se realiza em instituições escolares e não escolares, ou seja, nos diversos espaços onde se exerçam práticas educativas. Nessa perspectiva, concebe-se um conjunto de atividades de natureza prático-teórica, que visa a propiciar ao aluno a formação de uma imagem, a partir das múltiplas realidades educacionais encontradas, que lhe sirva como referência para o desenvolvimento de sua prática profissional. Tal formação implica o estudo, a problematização, a reflexão e a proposição de caminhos para o processo de ensino. Busca-se, dessa forma, o desenvolvimento de competências para atuação no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissional. Ao formular uma proposta para as Práticas de ensino, considera-se um conjunto de competências e habilidades que devem compor o processo formativo do professor. Ressalta-se a importância do conhecimento e análise dos espaços institucionais e não institucionais onde ocorre o ensino e a aprendizagem, assim como das comunidades e culturas em que se inserem. Implica, ainda, a leitura das teorias e práticas pedagógicas presentes nestes espaços educacionais, bem como envolve o conhecimento, a utilização e a avaliação de objetivos, conteúdos, técnicas, métodos e procedimentos pedagógicos referentes ao processo de ensinar e aprender em situações distintas. Na formação de professores, segundo o modelo reflexivo, a Prática de Ensino assume papel de destaque, representando um espaço privilegiado não apenas de aprendizagem, mas de construção do pensamento prático do professor, pois o aluno-mestre tem a oportunidade de observar, analisar, atuar e refletir sobre a realidade com a qual interage. 5 A Prática de Ensino é o eixo central do currículo da formação de professores, ao contrário do modelo da racionalidade técnica que situa a prática no final do currículo. Na perspectiva reflexiva e artística, a prática é o núcleo e a sua volta gira todo o currículo. Ela é mais do que um contexto de aplicação, representa um processo de investigação na ação, onde a complexidade do real direciona a compreensão, o questionamento, a experiência alternativa e a reconstrução da realidade escolar. Objetivos As Práticas de Ensino têm como objetivos: Conhecimento e análise dos espaços institucionais e não institucionais onde ocorre o ensino e a aprendizagem; Leitura das teorias e práticas pedagógicas presentes nos espaços educacionais; Conhecimento, uti l ização e avaliação dos objetivos, conteúdos, técnicas, métodos e procedimentos pedagógicos referentes ao processo de ensino/aprendizagem em situações diversas; Construção de conhecimentos experiências contextualizados e de instrumentos para a intervenção pedagógica; Tematização da prática pedagógica, a partir dos recursos teóricos e experiências, de forma a contemplar a complexidade e a singularidade da natureza da atuação do professor, favorecendo o desenvolvimento de um esti lo pedagógico próprio, mediante a reflexão sobre vivências pessoais, sobre a implicação com o próprio trabalho, sobre as diferentesformas de sentir , sobre as relações estabelecidas na prática educativa; Prática de observação e análise com vistas à compreensão e atuação em situações contextualizadas; 6 Desenvolvimento de parcerias com instituições não governamentais e governamentais em projetos integrados de estágio na formação inicial e na formação continuada; Integração e conhecimento do aluno com a realidade social , econômica e do trabalho de sua área/curso – interlocução com os referenciais teóricos do currículo / aproximação entre as ações propostas pelas discipl inas / áreas / atividades; Iniciação à pesquisa e ao ensino, articulando teoria e prática, na perspectiva de vincular a formação profissional à prática investigativa; Iniciação profissional através da observação, participação em projetos e regência como um saber-fazer orientado pelas teorias práticas pedagógicas; Contribuição para o movimento ação-reflexão-ação, na medida em que oferece elementos para serem discutidos nas discipl inas do currículo. Metodologia As práticas estão organizadas em: leituras de textos; planejamento da ação docente; análise da execução de atividades práticas, de modo que o licenciando possa articular o trabalho teórico com o trabalho prático, reflexivo e investigativo da prática docente. Dado o fato de essa disciplina ser oferecida na modalidade à distância (EAD), incentiva-se a formação de grupos de estudo autônomos, orientados pelo tutor, privilegiando-se a aplicação prática dos pressupostos teóricos desenvolvidos, com vistas à formação de um educador crítico, reflexivo e capaz de interpretar a diversidade e complexidade do contexto escolar. 7 Avaliação Pretende-se avaliar: a expressão escrita nas atividades programadas; o trabalho com a pesquisa bibliográfica e a socialização de estudos e vivência; o empenho na execução das tarefas, de planejamento, elaboração de planos e projetos de ensino; domínio de conteúdos e teorias pedagógicas; No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: Trabalhos individuais, ou a partir da interatividade com seus pares; Provas bimestrais realizadas presencialmente; Trabalhos de pesquisa bibliográfica. As estratégias de aprendizagem dos alunos: Retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; Elaboração de trabalhos com o objetivo de auxiliar a vivência dos conteúdos. 8 Programa da disciplina Ementa: As Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de Professores e os Parâmetros Curriculares Nacionais para os Ensinos Fundamental e Médio. Programa da Disciplina Parâmetros Curriculares nacionais para o Ensino Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio Atividades de articulação entre teoria e prática Bibliografia Básica FAZENDA, I. (org.). Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. SP: Papirus, 2007. VILLAS BOAS, B. M. de F. Portfólio, Avaliação e Trabalho Pedagógico. Campinas: Papirus, 2004. ZABALA, A. A prática educativa- como ensinar. PA: Artmed, 2007. Bibliografia Complementar BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais. RJ: DPA, 2000. HERNANDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre/RS: Artmed, 2007. CASTRO, A. D. e CARVALHO, A. M. P. (orgs.). Ensinar a ensinar. SP: Pioneira, 2001. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1997. NIDELCOFF, M. T. A Escola e a Compreensão da Realidade. SP: Brasiliense, 1991. 9 PERRENOUD, P. A. Prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão Pedagógica. PA: Artmed, 2008. 10 UNIDADE 01 – Diretrizes curriculares Nacionais para a formação de professores CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Analisar e conhecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores ESTUDANDO E REFLETINDO Nessa etapa do desenvolvimento do curso, ao iniciar os estudos na disciplina de Práticas de ensino II, é muito importante que os futuros professores identifiquem, por meio dos documentos, as diretrizes que orientam a formação dos professores. Ou seja, quais os princípios, fundamentos e procedimentos devem orientar as instituições formadoras na organização curricular. O que um professor precisar saber para desempenhar bem sua função. Para isso, é fundamental que você leia com atenção o documento a seguir, pois ele será fundamental para a resolução da atividade proposta para essa unidade. BUSCANDO SABERES RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, de 18 de Fevereiro de 2002 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o disposto no Art. 9º, § 2º, alínea “c” da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento nos Pareceres CNE/CP 9/2001 e 27/2001, peças indispensáveis do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologados pelo Senhor Ministro da Educação em 17 de janeiro de 2002, resolve: Art. 1º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e 11 curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação básica. Art. 2º A organização curricular de cada instituição observará, além do disposto nos artigos 12 e 13 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, outras formas de orientação inerentes à formação para a atividade docente, entre as quais o preparo para: I - o ensino visando à aprendizagem do aluno; II - o acolhimento e o trato da diversidade; III - o exercício de atividades de enriquecimento cultural; IV - o aprimoramento em práticas investigativas; V - a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos curriculares; VI - o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores; VII - o desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe. Art. 3º A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica observará princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem: I - a competência como concepção nuclear na orientação do curso; II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar aquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera; b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocadas em uso capacidades pessoais; c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências;d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso eventualmente necessárias. III - a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. Art. 4º Na concepção, no desenvolvimento e na abrangência dos cursos de formação é fundamental que se busque: I - considerar o conjunto das competências necessárias à atuação profissional; II - adotar essas competências como norteadoras, tanto da proposta pedagógica, em especial do currículo e da avaliação, quanto da organização institucional e da gestão da escola de formação. Art. 5º O projeto pedagógico de cada curso, considerado o artigo anterior, levará em conta que: I - a formação deverá garantir a constituição das competências objetivadas na educação básica; II - o desenvolvimento das competências exige que a formação contemple diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor; III - a seleção dos conteúdos das áreas de ensino da educação básica deve orientar-se por ir além daquilo que os professores irão ensinar nas diferentes etapas da escolaridade; IV - os conteúdos a serem ensinados na escolaridade básica devem ser tratados de modo articulado com suas didáticas específicas; V - a avaliação deve ter como finalidade a orientação do trabalho dos formadores, a autonomia dos futuros professores em relação ao seu processo de aprendizagem e a qualificação dos profissionais com condições de iniciar a carreira. Parágrafo único. A aprendizagem deverá ser orientada pelo princípio metodológico geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta a resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas privilegiadas. Art. 6º Na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes serão consideradas: 12 I - as competências referentes ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática; II - as competências referentes à compreensão do papel social da escola; III - as competências referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar; IV - as competências referentes ao domínio do conhecimento pedagógico; V - as competências referentes ao conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica; VI - as competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional. § 1º O conjunto das competências enumeradas neste artigo não esgota tudo que uma escola de formação possa oferecer aos seus alunos, mas pontua demandas importantes oriundas da análise da atuação profissional e assenta-se na legislação vigente e nas diretrizes curriculares nacionais para a educação básica. § 2º As referidas competências deverão ser contextualizadas e complementadas pelas competências específicas próprias de cada etapa e modalidade da educação básica e de cada área do conhecimento a ser contemplada na formação. § 3º A definição dos conhecimentos exigidos para a constituição de competências deverá, além da formação específica relacionada às diferentes etapas da educação básica, propiciar a inserção no debate contemporâneo mais amplo, envolvendo questões culturais, sociais, econômicas e o conhecimento sobre o desenvolvimento humano e a própria docência, contemplando: I - cultura geral e profissional; II - conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas; III - conhecimento sobre dimensão cultural, social, política e econômica da educação; IV - conteúdos das áreas de conhecimento que serão objeto de ensino; V - conhecimento pedagógico; VI - conhecimento advindo da experiência. Art. 7º A organização institucional da formação dos professores, a serviço do desenvolvimento de competências, levará em conta que: I - a formação deverá ser realizada em processo autônomo, em curso de licenciatura plena, numa estrutura com identidade própria; II - será mantida, quando couber, estreita articulação com institutos, departamentos e cursos de áreas específicas; III - as instituições constituirão direção e colegiados próprios, que formulem seus próprios projetos pedagógicos, articulem as unidades acadêmicas envolvidas e, a partir do projeto, tomem as decisões sobre organização institucional e sobre as questões administrativas no âmbito de suas competências; IV - as instituições de formação trabalharão em interação sistemática com as escolas de educação básica, desenvolvendo projetos de formação compartilhados; V - a organização institucional preverá a formação dos formadores, incluindo na sua jornada de trabalho tempo e espaço para as atividades coletivas dos docentes do curso, estudos e investigações sobre as questões referentes ao aprendizado dos professores em formação; VI - as escolas de formação garantirão, com qualidade e quantidade, recursos pedagógicos como biblioteca, laboratórios, videoteca, entre outros, além de recursos de tecnologias da informação e da comunicação; VII - serão adotadas iniciativas que garantam parcerias para a promoção de atividades culturais destinadas aos formadores e futuros professores; VIII - nas instituições de ensino superior não detentoras de autonomia universitária serão criados Institutos Superiores de Educação, para congregar os cursos de formação de professores que ofereçam licenciaturas em curso Normal Superior para docência multidisciplinar na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental ou licenciaturas para docência nas etapas subseqüentes da educação básica. Art. 8º As competências profissionais a serem constituídas pelos 13 professores em formação, de acordo com as presentes Diretrizes, devem ser a referência para todas as formas de avaliação dos cursos, sendo estas: I - periódicas e sistemáticas, com procedimentos e processos diversificados, incluindo conteúdos trabalhados, modelo de organização, desempenho do quadro de formadores e qualidade da vinculação com escolas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, conforme o caso; II - feitas por procedimentos internos e externos, que permitam a identificação das diferentes dimensões daquilo que for avaliado; III - incidentes sobre processos e resultados. Art. 9º A autorização de funcionamento e o reconhecimento de cursos de formação e o credenciamento da instituição decorrerão de avaliação externa realizada no locus institucional, por corpo de especialistas direta ou indiretamente ligados à formação ou ao exercício profissional de professores para a educação básica, tomando como referência as competências profissionais de que trata esta Resolução e as normas aplicáveis à matéria. Art. 10. A seleção e o ordenamento dos conteúdos dos diferentes âmbitos de conhecimento que comporão a matriz curricular para a formação de professores, de que trata esta Resolução, serão de competência da instituição de ensino, sendo o seu planejamento o primeiro passo para a transposição didática, que visa a transformar os conteúdos selecionados em objeto de ensino dos futuros professores. Art. 11. Os critérios de organização da matriz curricular, bem como a alocação de tempos e espaços curriculares se expressam em eixos em torno dos quais se articulam dimensões a serem contempladas, na forma a seguir indicada: I - eixo articulador dos diferentes âmbitos de conhecimento profissional; II - eixo articulador da interação e da comunicação, bem como do desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional; III -eixo articulador entre disciplinaridade e interdisciplinaridade; IV - eixo articulador da formação comum com a formação específica; V - eixo articulador dos conhecimentos a serem ensinados e dos conhecimentos filosóficos, educacionais e pedagógicos que fundamentam a ação educativa; VI - eixo articulador das dimensões teóricas e práticas. Parágrafo único. Nas licenciaturas em educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental deverão preponderar os tempos dedicados à constituição de conhecimento sobre os objetos de ensino e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às dimensões pedagógicas não será inferior à quinta parte da carga horária total. Art. 12. Os cursos de formação de professores em nível superior terão a sua duração definida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária. § 1º A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um espaço isolado, que a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso. § 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor. § 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática. Art. 13. Em tempo e espaço curricular específico, a coordenação da dimensão prática transcenderá o estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar. § 1º A prática será desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situações-problema. § 2º A presença da prática profissional na formação do professor, que não prescinde da observação e ação direta, poderá ser enriquecida com tecnologias da informação, incluídos o computador e o vídeo, narrativas orais e escritas de professores, produções de alunos, situações simuladoras e estudo de casos. 14 § 3º O estágio curricular supervisionado, definido por lei, a ser realizado em escola de educação básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ser desenvolvido a partir do início da segunda metade do curso e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora e a escola campo de estágio. Art. 14. Nestas Diretrizes, é enfatizada a flexibilidade necessária, de modo que cada instituição formadora construa projetos inovadores e próprios, integrando os eixos articuladores nelas mencionados. § 1º A flexibilidade abrangerá as dimensões teóricas e práticas, de interdisciplinaridade, dos conhecimentos a serem ensinados, dos que fundamentam a ação pedagógica, da formação comum e específica, bem como dos diferentes âmbitos do conhecimento e da autonomia intelectual e profissional. § 2º Na definição da estrutura institucional e curricular do curso, caberá a concepção de um sistema de oferta de formação continuada, que propicie oportunidade de retorno planejado e sistemático dos professores às agências formadoras. Art. 15. Os cursos de formação de professores para a educação básica que se encontrarem em funcionamento deverão se adaptar a esta Resolução, no prazo de dois anos. § 1º Nenhum novo curso será autorizado, a partir da vigência destas normas, sem que o seu projeto seja organizado nos termos das mesmas. § 2º Os projetos em tramitação deverão ser restituídos aos requerentes para a devida adequação. Art. 16. O Ministério da Educação, em conformidade com § 1º Art. 8o da Lei 9.394, coordenará e articulará em regime de colaboração com o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação, o Fórum Nacional de Conselhos Estaduais de Educação, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e representantes de Conselhos Municipais de Educação e das associações profissionais e científicas, a formulação de proposta de diretrizes para a organização de um sistema federativo de certificação de competência dos professores de educação básica. Art. 17. As dúvidas eventualmente surgidas, quanto a estas disposições, serão dirimidas pelo Conselho Nacional de Educação, nos termos do Art. 90 da Lei 9.394. Art. 18. O parecer e a resolução referentes à carga horária, previstos no Artigo 12 desta resolução, serão elaborados por comissão bicameral, a qual terá cinquenta dias de prazo para submeter suas propostas ao Conselho Pleno. Art. 19. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. ULYSSES DE OLIVEIRA PANISSET Presidente do Conselho Nacional de Educação 15 UNIDADE 02 – Apresentando os Parâmetros curriculares Nacionais da Educação Básica CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar a estrutura de organização dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Básica. ESTUDANDO E REFLETINDO A exemplo do que identificamos na unidade anterior, existe também um conjunto de orientações para a organização do currículo na Educação Básica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais são basilares para a organização do Ensino Fundamental e Ensino Médio de todo o território nacional. Esse documento tem por finalidade uniformizar a todos os estudantes dessa etapa da escolarização um arcabouço comum de conhecimentos entendidos como essenciais para a plena formação do cidadão. Os Parâmetros, como o próprio nome já permite identificar, não são obrigatórios, o que possibilita as adequações necessárias para cada região do país e cada realidade sócio econômica. É importante que todo educador reconheça nesse documento uma referência para atingir objetivos, que serão definidos nos projetos pedagógicos de cada unidade escolar. 16 BUSCANDO SABERES Ensino Fundamental – anos iniciais Têm como objetivo estabelecer uma referência curricular e apoiar a revisão e/ou elaboração da proposta curricular dos estados ou das escolas integrantes dos sistemas de ensino. Os PCN de 1.ª a 4.ª série estão divididos em 10 volumes: Volume 1 — Introdução aos PCN Volume 2 — Língua Portuguesa Volume 3 — Matemática Volume 4 — Ciências Naturais Volume 5.1 — História e Geografia Volume 5.2 — História e Geografia Volume 6 — Arte Volume 7 — Educação Física Volume 8.1 — Temas Transversais — Apresentação Volume 8.2 — Temas Transversais — Ética Volume 9.1 — Meio Ambiente Volume 9.2 — Saúde Volume 10.1 — Pluralidade Cultural Volume 10.2 — Orientação Sexual Ensino Fundamental — anos finais Volume 1 — Introdução aos PCN Volume 2 — Língua Portuguesa 17 Volume 3 — Matemática Volume 4 — Ciências Naturais Volume 5 — Geografia Volume 6 — História Volume 7 — Arte Volume 8 — Educação Física Volume 9 — Língua Estrangeira Volume 10.1 — Temas Transversais — Apresentação Volume 10.2 — Temas Transversais — Ética Volume 10.3 — Temas Transversais — Pluralidade Cultural Volume 10.4 — Temas Transversais — Meio Ambiente Volume 10.5 — Temas Transversais — Saúde Volume 10.6 — Temas Transversais — Orientação Sexual Volume 10.7 — Temas Transversais — Trabalho e Consumo Volume 10.8 — Temas Transversais — Bibliografia Ensino Médio Para os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio o objetivo é oferecer subsídios para que os professores possam refletir sobre o desenvolvimento do seu trabalho em sala de aula a também servir de referência para o planejamento das aulas. Os documentos estão organizados em: Bases Legais; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física, Arte e Informática); Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Biologia, Física, Química, 18 Matemática); Ciências Humanase suas Tecnologias (História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Filosofia e Política). Conforme os PCNs são objetivos gerais do Ensino Fundamental, os seguintes: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a- dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e 19 privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. Para o Ensino Médio, os PCNs propõem que: A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização. Conforme os PCNs, o Ensino Médio, como parte da educação escolar, “deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” (Art.1º § 2º da Lei nº 9.394/96). Essa vinculação é orgânica e deve contaminar toda a prática educativa escolar. Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva para esse nível de ensino que integra, numa mesma e única modalidade, finalidades até então dissociadas, para oferecer, de forma articulada, uma educação equilibrada, com funções equivalentes para todos os educandos: • a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; • o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; • a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as 20 competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; • o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos. 21 UNIDADE 03 – Inferências acadêmicas sobre os Parâmetros curriculares nacionais CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Analisar aspectos conceituais nos Parâmetros Curriculares Nacionais, no que diz respeito a uma base comum de valores. ESTUDANDO E REFLETINDO Conhecer alguns documentos que norteiam a política educacional brasileira, bem como a ação dos educadores nas escolas das diferentes regiões do país, é uma etapa bastante importante na formação dos professores. Por essa razão, selecionamos a primeira parte do texto a seguir intitulado “Parâmetros Curriculares Nacionais, Plano Nacional de Educação e autonomia da Escola”, de autoria de Beatriz de Basto Teixeira. (Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/0503t.pdf, acesso 05 de março de 2012.) Leia-o atentamente, pois ele servirá de subsídio para a realização da atividade que será solicitada no “interagindo com o conhecimento” desta unidade. BUSCANDO SABERES PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A AUTONOMIA DA ESCOLA Teixeira, Beatriz de Basto - UFJF O Ministério da Educação e do Desporto (MEC) publicou em 1997 e 1998, respectivamente, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1ª a 4ª séries (BRASIL. MEC, 1997a) e de 5ª a 8ª séries (BRASIL. MEC, 1998), depois de ter divulgado Versão Preliminar do documento em 1995 (BRASIL. MEC, 1995). O documento pretendia oferecer a proposta ministerial para a construção de uma base comum nacional para o ensino fundamental brasileiro e ser uma orientação para que as 22 escolas formulem seus currículos, levando em conta suas próprias realidades, tendo como objetivo do ensino de 1ª a 8ª série a formação para uma cidadania democrática. Várias opiniões se manifestaram de forma crítica em relação ao processo de elaboração dos PCNs. Principalmente se o documento pretendia ser uma base comum nacional para o ensino fundamental, deveria ter contado com amplo processo de discussão na sua elaboração. Qualquer tentativa de enquadramento dos currículos escolares aos padrões postos pelos PCNs mais resultaria na implantação de um currículo nacional, do que na elaboração de projetos pedagógicos adequados à realidade e às expectativas das escolas. Mesmo que os PCNs reconheçam a autonomia da escola e dos professores, terceiro e quarto níveis de concretização do currículo – respectivamente –, quando seu texto é confrontado com o Parecer do Relator Deputado Nelson Marchezan, na Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, apresentando o Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1999, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE), a possibilidade de escolha ou não dos PCNs torna-se muito remota. Fica posta em risco também a possibilidade de que a autonomia escolar seja exercida no sentido da construção de uma escola democrática (cf. APPLE, BEANE: 1997). E se às escolas democráticas cabe justamente a tarefa de oferecer oportunidades de experimentação de um modo de vida democrático, fica comprometido o próprio objetivo colocado pelos PCNs para o ensino fundamental: a formação para uma cidadania democrática. Os PCNs e a construção de uma base comum de valores Mesmo considerando-se um meio para que o Estado garanta a todos o acesso aos conhecimentos necessários à presença ativa na sociedade – o que soa como tentativa de estabelecer um currículo uniforme para todo o país, procuram levar em conta as diferenças regionais e culturais no Brasil e livram o processo educacional de ser um instrumento de imposição de um projeto político, qualquer queseja ele (PCN1, v. 1). As diretrizes do MEC não se julgam obrigatórias, nem “princípios atemporais” (PCN1, v. 1: 36). O que interessa ressaltar nessa análise dos PCNs é que parece intenção dessa política do MEC a formulação de uma “base comum nacional”. Aponta conteúdos e capacidades a serem adquiridos pelos alunos ao final do ensino fundamental, resguardando o papel da escola e dos professores. Pretenderia ser o que Nereide Saviani chamou de “base comum nacional (...) que, opondo-se à concepção de Currículo Mínimo, prevê a definição de elementos básicos comuns, a partir de ampla discussão, com a participação, e elaboração conjunta, de todos os interessados no assunto, através de suas organizações” (SAVIANI, 1996: 1). Os PCNs fazem referência a um processo de discussão para sua formulação em que teriam sido consideradas as experiências de reforma curricular acontecidas ou em andamento em vários estados e municípios de capitais brasileiras. Citam o estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas (SIQUEIRA, 1995) e criticam as propostas estaduais por terem sido contraditórias entre o que formularam para o ensino fundamental e a operacionalização das mudanças; as diretrizes do MEC tentariam superar essa contradição (PCN1, v. 1: 57). Antes, porém, que o documento final viesse a público, foi elaborada uma Versão Preliminar (BRASIL. MEC, 1995) que daria início ao debate sobre o conteúdo dos Parâmetros Curriculares. Em artigo baseado em seu parecer elaborado a pedido da Secretaria de Ensino Fundamental do MEC sobre esta Versão, Luiz Antônio CUNHA (1996: 60-61) comenta a insuficiência dos prazos para que os docentes-pesquisadores, a quem foi solicitado parecer remunerado pelo MEC, emitissem suas opiniões sobre os PCNs. A “pressa” do MEC em elaborar os PCNs, na visão desse autor, teria feito com que fosse atropelada a pesquisa encomendada pelo MEC à Fundação Carlos Chagas sobre as Propostas Curriculares Oficiais, produzidas por estados e municípios desde 1982. Outra observação feita pelo autor é quanto à marginalização da universidade na elaboração dos PCNs. Se “na proposta de governo do candidato Fernando Henrique Cardoso, seria justamente a partir da universidade (induzida pelo desenvolvimento científico e tecnológico) que o ensino básico capacitaria a força de trabalho exigida pelo setor produtivo” (CUNHA, 1996: 61), os PCNs teriam sido elaborados por professores de uma escola privada de São Paulo auxiliados por um consultor 23 espanhol. Uma última observação diz respeito à relação entre a implantação de um currículo nacional e a progressiva adoção de um “modelo mercadológico” que, após avaliação dos alunos por testes, resultaria na “publicação dos rendimentos dos alunos por escola para efeito da orientação dos ‘consumidores’ da mercadoria educacional” (CUNHA, 1996: 61) Algumas outras vozes se somaram à de Luiz Antônio Cunha na crítica ao processo de elaboração dos PCNs. José Mário Pires AZANHA, em artigo intitulado Parâmetros Curriculares Nacionais e autonomia da escola (s/d: 4), referindo-se também à pesquisa desenvolvida pela Fundação Carlos Chagas, assevera que o relatório em que se basearam as críticas dos PCNs às propostas estaduais ou municipais de reformas curriculares é bastante genérico e não descreve adequadamente o impacto dessas orientações nas redes de ensino em que foram implementadas. O Parecer da ANPEd, também sobre a Versão Preliminar dos PCNs, mostra uma visão diferente da oferecida pelo MEC com relação ao que teria sido o processo de formulação do documento. Enquanto o Ministério afirma ter havido participação de especialistas, técnicos e professores, através de pareceres inclusive, a Associação reclama da impossibilidade de dar um parecer mais elaborado, em virtude do limitado prazo de que dispôs para uma consulta a seus membros (ANPEd, 1996: 85). Concorda com os autores acima citados quanto ao fato de que a elaboração dos PCNs não se apoiou na experiência já acumulada no Brasil em estudos e reformas curriculares. A ANPEd demonstra essa preocupação principalmente porque considera que existe muita polêmica, entre os educadores, quanto à necessidade da definição de uma base comum nacional ou de currículo mínimo para a educação brasileira. O MEC, em sua homepage, apresenta os PCNs de 1ª a 4ª séries, em sua versão final, como tendo sido elaborados (...) a partir das práticas curriculares vigentes dos sistemas estaduais e municipais de educação, dos dados sobre o desempenho dos alunos e da experiência curricular de outros países. Durante dois anos, em 1995 e 1996, a proposta foi exaustivamente examinada por educadores, autoridades de ensino e organismos especializados. Desse trabalho, resultaram nada menos que 700 pareceres. A partir deles, os documentos originais puderam ser referidos, chegando-se, assim, à versão atual (BRASIL. MEC, 1999a). Quanto aos PCNs de 5ª a 8ª séries, estes figuram na Rede (BRASIL. MEC, 1999b) como resultado de um processo de consulta a especialistas e instituições a quem foram solicitados 443 e 1327 pareceres, respectivamente, sobre os documentos de 5ª a 8ª séries. Interessante registrar que retornaram ao Ministério 210 pareceres de especialistas e 335 institucionais, 47% e 25%, respectivamente, dos solicitados em cada caso4. Esses são percentuais muito baixos de resposta, considerando a magnitude do assunto em questão. Talvez outras instituições e pesquisadores tenham tido as mesmas dificuldades que as apontadas pela ANPEd (1996) e por CUNHA (1996) em devolver seus pareceres. O parecer da ANPEd sobre a Versão Preliminar dos PCNs afirma ainda que “os PCNs são [por um lado] excessivamente genéricos quanto à definição de objetivos e conteúdos, e por outro verifica- se que, em determinados momentos, as formas de operacionalização são bastante detalhadas, não contemplando as diversas realidades e culturas regionais e locais” (ANPEd, 1996: 87-88). José Mário AZANHA (s/d), também sobre a Versão Preliminar (BRASIL. MEC, 1995) chega a apontar no documento um aspecto de “comunicação de verdades”, quando o documento prefere a concepção construtivista de aprendizagem e ensino a outras. Observando as opiniões acima referidas, da ANPEd e de José Mário AZANHA, e concordando com o fato de que os aspectos por elas mencionados realmente estão presentes no documento ministerial e permanecem presentes em sua versão final, cabe perguntar a que mesmo vieram os PCNs. Enquanto os PCNs, por um lado, exigem o esclarecimento de alguns conceitos presentes no documento, essenciais quando se pensa numa educação para a cidadania democrática; por outro, indicam um método que produziria os resultados almejados com o ensino fundamental. (“Método seguro de ensinar tudo a todos”?) Uma certa “indeterminação” pode ser proveitosa enquanto um “espaço” para adequação da proposta ministerial aos projetos das escolas e de negociação, se 24 considerarmos que programas políticos são também “textos” (ver SACRISTÁN, 1998: 91-95). Já o “dirigismo” pode indicar a tentativa de imposição de certos pontos de vista aos partícipes do processo educacional – o que não estaria de acordo com a idéia de se construir escolas democráticas ou uma base comum nacional. No que diz respeito mais propriamente à “educação para a cidadania”, os PCNs elegeram “a cidadania como eixo vertebrador da educação escolar” e admitem que isso implica tratar de valores (PCN1, v. 8: 25). Afirmam que A escola não muda a sociedade, mas pode, partilhando esse projeto com segmentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se a eles, constituir-se não apenas como espaço de reprodução mas também como espaço de transformação. (...) A concretização desse projeto passa pela compreensão de que as práticas pedagógicas são sociais e políticas e de que não se trata de educar para a democracia – para o futuro. Na ação mesmada educação, educadores e educandos estabelecem uma determinada relação com o trabalho que fazem (ensinar e aprender) e a natureza dessa relação pode conter (em maior ou menor medida) os princípios democráticos (PCN1, v. 8: 25-26, grifos meus). O trecho acima citado é extremamente significativo quando se avalia os PCNs enquanto possível orientação para a formulação do currículo de uma escola democrática. Quando a proposta é formar cidadãos que ainda hoje, nas suas relações dentro da própria escola, procurem pautar sua ação em princípios democráticos; quando se elege como princípios para a educação escolar a dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participação, a co- responsabilidade pela vida social; e, quando não se limitam os objetivos do ensino fundamental à aquisição de um conjunto de informações “que permita ao indivíduo, enquanto governado, ter conhecimento de seus direitos e deveres, para a eles conformar-se com escrúpulo e inteligência”, mas “fornecer-lhe, além dessa informação, uma educação que corresponda à sua posição de governante potencial” (CANIVEZ, 1991:31, itálicos do autor), estar-se-ia constituindo uma escola democrática (cf. APPLE; BEANE, 1997). A elaboração dos projetos pedagógicos das escolas deveria estar de acordo com a idéia de que “na ação mesma da educação, educadores e educandos estabelecem uma determinada relação com o trabalho que fazem (ensinar e aprender) e a natureza dessa relação pode conter (em maior ou menor medida) os princípios democráticos” (PCN1, v. 8:25-26). Sua formulação pode ser importante momento de exercício democrático. Essa “regra” os PCNs estendem à formulação dos projetos educacionais em uma sociedade democrática, e aí poderia estar incluída a produção do documento ministerial (cf. PCN2, Introdução: 50). O Parecer 04/1998 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (BRASIL.MEC.CNE, 1998a), sobre a fixação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, é bastante esclarecedor a respeito da função dos PCNs e de uma base nacional comum. Explicitando alguns conceitos, o que julga necessário para a compreensão do que são as Diretrizes Curriculares, afirma: Base Nacional Comum: refere-se ao conjunto de conteúdos mínimos das Áreas de Conhecimento articulados aos aspectos da Vida Cidadã de acordo com o art.26 [da Lei nº 9.394/1996 – LDB]. Por ser a dimensão obrigatória dos currículos nacionais – certamente âmbito privilegiado da avaliação nacional do rendimento escolar – a Base Nacional Comum deve preponderar substancialmente sobre a dimensão diversificada. É certo que o art. 15 [da mesma LDB] indica um modo de se fazer a travessia, em vista da autonomia responsável dos estabelecimentos escolares. A autonomia, como objetivo de uma escola consolidada, saberá resumir em sua proposta pedagógica (art. 12 da LDB) a integração da Base Nacional Comum e da Parte Diversificada, face às finalidades da Educação Fundamental (BRASIL.MEC.CNE, 1998a: 6, negritos no original). O Parecer da Conselheira Regina Alcântara de Assis, em outro momento, orienta que 25 (...) para elaborar suas propostas pedagógicas, as Escolas devem examinar, para posterior escolha, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Propostas Curriculares de seus Estados e Municípios, buscando definir com clareza a finalidade de seu trabalho, para a variedade de alunos presentes em suas salas de aula. Tópicos regionais e locais muito enriquecerão suas propostas, incluídos na Parte Diversificada, mas integrando-se à Base Nacional Comum (BRASIL.MEC.CNE, 1998a: 11, grifo meu). A Conselheira da Câmara de Educação Básica do CNE, em entrevista ao Jornal do Brasil, é ainda mais enfática em definir o papel dos PCNs e esclarece o que seriam Diretrizes Curriculares Nacionais: As diretrizes definem uma política de Estado, que não depende das gestões de governo. Os parâmetros são uma decisão de política educacional da atual administração que pode persistir ou não. As diretrizes são obrigatórias, os parâmetros não. Mas esperemos que as redes públicas tenham maturidade para avaliar esses parâmetros e aperfeiçoá-los. As diretrizes saíram do Conselho Nacional de Educação, que é um órgão de Estado e não de governo (ASSIS, 1999: 1) . Depreende-se das citações acima que os PCNs têm a pretensão de serem uma base nacional comum para o ensino fundamental, mas são a proposta do MEC. Poderão ser considerados na elaboração dos projetos pedagógicos das escolas, assim como outros “parâmetros” construídos nas várias instâncias da Federação. E esse entendimento é reforçado pelo Parecer CEB 04/1998 em outro trecho, onde afirma que “embora os Parâmetros Curriculares propostos e encaminhados às escolas pelo MEC sejam Nacionais, não têm, no entanto, caráter obrigatório, respeitando o princípio federativo de colaboração nacional. De todo modo, cabe à União, através do próprio MEC o estabelecimento de conteúdos mínimos para a chamada Base Nacional Comum” (BRASIL.MEC.CNE, 1998a: 7, grifos meus). Parece claro, portanto, que os PCNs – a partir de seu próprio texto e do Parecer CEB 04/1998 – são uma proposta do MEC para a construção de uma base comum nacional, o que se daria pela articulação com outras propostas curriculares de escolas, estados e municípios. Respeitar-se-iam as escolhas dos sistemas educacionais dos vários níveis da Federação e a autonomia das escolas, conforme o Artigo 15º da Lei nº 9.394/1996. E isto significa respeitar, inclusive, o direito de que os PCNs não sejam utilizados pelas escolas na elaboração de seus projetos pedagógicos. A autonomia escolar garante, desde que a instituição se responsabilize por isso, a não aceitação de uma proposta ou outra que não lhe for conveniente ou adequada ao desenvolvimento de um processo educativo condizente com as necessidades da população que atende, observadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino (Lei nº 9.394/1996, Art. 12º). Mas esse autonomia sobre a qual dispõe a Lei, e reconhecida pelos PCNs e pelo Parecer CEB 04/1998, cai por terra quando são observados outros instrumentos da legislação educacional, em nível federal. O Decreto nº 3.276, de 6 de dezembro de 1999, da Presidência da República – que dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica, e dá outras providências – prescreve que Art. 5o O Conselho Nacional de Educação, mediante proposta do Ministro de Estado da Educação, definirá as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica. (...). § 2o As diretrizes curriculares nacionais definidas para formação dos professores devem assegurar formação básica comum, distribuída ao longo do curso, tendo como referência os parâmetros curriculares nacionais, sem prejuízo de adaptações às peculiaridades regionais, estabelecidas pelos sistemas de educação (BRASIL, 1999, grifos meus). Por decreto, os PCNs começam a cumprir um de seus objetivos: orientar a formação de professores. “Sem prejuízo de adaptações às peculiaridades regionais”, todas as instituições de formação de professores terão que utilizar os Parâmetros como referência na instrução dos futuros profissionais do magistério. Exercício de autonomia, que poderia ser até mesmo a recusa aos PCNs 26 como conteúdo para a formação de professores, vira, nesse caso, descumprimento da Lei. O que antes parecia facultativo começa a ser obrigatório. E assim, via formação de professores, é assegurada a “chegada” dos PCNs às escolas, quando os professores forem utilizar na sala de aula as habilidades adquiridas durante sua preparação para a docência. A possibilidade de escolha ou não dos PCNs torna-se ainda mais remota quando se considera o Parecer do Relator Deputado Nelson Marchezan, na Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, apresentando o Substitutivoao Projeto de Lei nº 4.173/1999, apensado ao Projeto de Lei nº 4.155/1998, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE). Entre as metas estabelecidas para o ensino fundamental figuram: (...) 4. Elaborar, no prazo de um ano, padrões mínimos nacionais de infraestrutura para o ensino fundamental, compatíveis com o tamanho dos estabelecimentos e com as realidades regionais, incluindo: a) espaço, iluminação, insolação, ventilação, água potável, rede elétrica, segurança e temperatura ambiente; b) instalações sanitárias e para higiene; c) espaços para esporte, recreação, biblioteca e serviço de merenda escolar; d) adaptação dos edifícios escolares para o atendimento dos alunos portadores de necessidades especiais; e) atualização e ampliação do acervo das bibliotecas; f) mobiliário, equipamentos e materiais pedagógicos; g) telefone e serviço de reprodução de textos; h) informática e equipamento multimídia para o ensino. (...) 6. Assegurar que, em cinco anos, todas as escolas atendam os itens de ‘a’ a ‘d’ e, em dez anos, a totalidade dos itens. 7. Estabelecer, em todos os sistemas de ensino e com o apoio da União e da comunidade escolar, programas para equipar todas as escolas, gradualmente, com os equipamentos discriminados nos itens de ‘e’ a ‘h’. 8. Assegurar que, em três anos, todas as escolas tenham formulado seus projetos pedagógicos, com observância das Diretrizes Curriculares para o ensino fundamental e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000a). O texto é muito claro: “assegurar”. Isso significa que, cumprindo o dispositivo legal, todas as escolas terão que elaborar seus projetos pedagógicos de acordo com os PCNs. Caso contrário, estarão ferindo a lei. Haverá alguma punição para isso? Onde foi parar a autonomia que os PCNs, o Parecer CEB 04/1998, a LDB e toda a legislação educacional reconhecem como condição para que as escolas desenvolvam seu trabalho voltadas ao atendimento da população que atendem? Os PCNs serão, então, a base comum nacional? A oitava meta do PNE, caso seja aprovado pelo Congresso Nacional o Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998, era a quinta meta disposta para o ensino fundamental na proposta de Plano Nacional de Educação elaborada pelo Executivo, formulada na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados com mais determinação5. 5. Estabelecer medidas para assegurar que, em três anos, todos os estados e municípios tenham estabelecido suas diretrizes curriculares e que todas as escolas tenham formulado seus projetos pedagógicos, observando as sugestões dos parâmetros curriculares nacionais e as diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Educação, dos Conselhos Estaduais de Educação e, quando for o caso, dos Conselhos Municipais de Educação (BRASIL. MEC, 2000: 32). E as metas acima citadas para o ensino fundamental, no Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998, guardam até uma certa ironia se confrontadas. As escolas terão cinco anos para construir banheiros, oferecer merenda, arrumar janelas, enfim, oferecer infraestrutura básica. Terão dez anos para montar bibliotecas, adquirir carteiras (mobiliário), materiais pedagógicos e um equipamento de xerox, por exemplo. No entanto, em três anos deverão ter elaborado projetos pedagógicos com base nos PCNs, que requerem todas essas condições materiais para que suas orientações possam resultar em ensino de qualidade. 27 Primeiro faz-se o projeto, depois constróem-se as condições para sua execução e nesse meio tempo ele vira letra morta, motivo de frustração para professores, pais e alunos, e tudo fica do mesmo jeito, ou pior, do que sempre foi. A prevalecer o que está disposto nos dois textos legais acima citados – o Decreto nº 3.276/1999 e o Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998 –, o papel dos PCNs como uma orientação para a formulação dos currículos escolares ou proposta do MEC para a formação de uma base comum nacional vira “promessa não cumprida”. Por que, em escolas que não gozam de autonomia – ainda que relativa, dificilmente se constrói um projeto educacional com a fisionomia dos que nela atuam, e onde esse projeto não pode ser articulado dificilmente se empreende uma educação democrática. Será descumprida a promessa da autonomia das escolas e também a prometida formação para uma cidadania democrática, objetivo do ensino fundamental posto pelos PCNs, se for aprovado o Plano Nacional de Educação com a redação da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A necessidade de que seja construído um consenso na formulação e aplicação de uma base comum nacional parece condição essencial para o sucesso do processo educacional por ela orientado. É fundamental estarmos de acordo quanto à importância do desenvolvimento de um sentimento de solidariedade, de respeito mútuo, de igualdade para que formemos cidadãos que pautem sua ação na sociedade por princípios democráticos. E isso não se faz “por decreto” 28 UNIDADE 04 – Inferências acadêmicas sobre o Plano Nacional de Educação CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Refletir sobre a influência dos PCNs na organização do Projeto Pedagógico e na autonomia das escolas ESTUDANDO E REFLETINDO Conhecer alguns documentos que norteiam a política educacional brasileira, bem como a ação dos educadores nas escolas das diferentes regiões do país, é uma etapa bastante importante na formação dos professores. Por essa razão, selecionamos a segunda parte do texto a seguir, intitulado “Parâmetros Curriculares Nacionais, Plano Nacional de Educação e autonomia da Escola”, de autoria de Beatriz de Basto Teixeira. (Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/0503t.pdf, acesso 05 de março de 2012.) Leia-o atentamente, pois ele servirá de subsídio para a realização da atividade que será solicitada no “interagindo com o conhecimento” desta unidade. BUSCANDO SABERES PNE confirma existência de um lado “perverso” nos PCNs? Apresentando como objetivo maior do ensino fundamental a formação do cidadão, os PCNs afirmam que vieram apenas cumprir o que estava disposto na LDB, Lei 9.394/96. Entretanto, essa Lei não sugere a existência de parâmetros curriculares nacionais. A lei que rege a educação no país (Lei n. 9394/96), em nenhum momento, sugere a existência de parâmetros nacionais. O que se pode encontrar em alguns de seus artigos que falam de currículo para os diversos graus de ensino são as noções de base nacional comum e diretrizes – art. 26, 27 e 36 quanto à educação básica; art. 38, quanto à educação de jovens e adultos; art. 53, quanto 29 ao ensino superior – e a de base comum nacional, para a formação dos profissionais da educação, especialmente aqueles que vão atuar na administração, no planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica – art. 64 (ALVES, 1998: 46, itálicos da autora). De onde vem a proposta dos PCNs? Segundo CUNHA (1995: 53-54), a Proposta de Governo do candidato Fernando Henrique Cardoso, em 1994, já previa “a manutenção centralizada do controle da qualidade do ensino, implicando um currículo nacional e um sistema nacional de aferição de aprendizagem”, tal como vinha acontecendo na Inglaterra de Margareth Thatcher . Isso não exclui o fato de que a formulação de parâmetros curriculares nacionais tenha tido outras “fontes de inspiração”, o que já teria motivado a presença dessa idéia na própria plataforma do candidato. Vários autores apontam influências para a concepção dos PCNs. AGUIAR (1996: 507) faz referência aos documentos da CEPAL que orientam as políticas educacionais no sentido de “adequar os sistemas de ensino dos diversos países aos ditames das políticas de ajuste econômico inscritas no continente [latino-americano]”. Afirma que “(...) as teses esboçadas dão sustentação à reformado sistema educacional como estratégia principal para formar cidadãos produtivos. Para isso algumas estratégias são propostas. Entre outras, estão colocadas: a descentralização da gestão educacional, as reformas curriculares e a implantação de sistemas de avaliação” (AGUIAR, 1996: 507, grifos meus). OLIVEIRA e SOUSA (1996), a partir da Versão Preliminar dos PCNs (BRASIL, MEC: 1995), relacionam essa iniciativa ao compromisso assumido pelo governo brasileiro quando de sua participação na primeira Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, convocada pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Desta Conferência e da Declaração de Nova Delhi resultaram, segundo o documento, ‘posições consensuais de luta pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos tornando universal a educação fundamental’, o que é expresso no documento introdutório do PCN (pág. 3). (...) Os PCNs e o Sistema Nacional de Avaliação aparecem dentro deste corolário como mecanismos de controle e viabilidade de um projeto de gestão de sistema de ensino que, ao contrário do que se propaga, não representa os anseios dos setores populares, mas muito mais a subordinação da política educacional brasileira às exigências externas (OLIVEIRA; SOUSA, 1996: 150-151, itálicos das autoras). A título de ilustração, tentando compreender como se dá a relação entre um currículo nacional e um sistema de avaliação na política educacional do MEC - vista de forma mais ampla -, são interessantes alguns trechos da entrevista dada pela Professora Iara Prado, Secretária de Educação Fundamental do MEC, à Revista Nova Escola em 1995. (...) A existência de parâmetros curriculares facilita a avaliação do ensino, a formação de professores em âmbito nacional e a produção de livros didáticos. É uma política de curto, médio e longo prazos, que se desenvolverá pelos quatro anos de governo, permitindo atingir nosso principal objetivo que é a qualidade do ensino. (...) Um dos grandes problemas que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), organismo do MEC, tem enfrentado é justamente a inexistência de um parâmetro curricular nacional. Nestes últimos dez anos, vinte unidades da Federação, o Distrito Federal inclusive, vêm adotando suas próprias propostas curriculares, o que ocorre também com alguns municípios, como São Paulo e Rio de Janeiro. São currículos regionais. Quando o SAEB define o conteúdo com que vai trabalhar para avaliar o ensino, ele esbarra na questão de que alguns Estados não o adotam ou então não aplicam determinado conteúdo 30 da forma que o SAEB quer analisar. Agora nós vamos dar um parâmetro para os Estados (apud GERALDI, 1996: 132-133, grifos da autora). A junção de sistema de avaliação com currículo nacional também faria parte de uma certa tendência internacional em termos de política educacional para Michael APPLE (1995). Além de se referir ao mesmo processo “paradigmático” da Inglaterra – já mencionado por CUNHA (1995), diz que, num quadro político e social de avanço do neoliberalismo e neoconservadorismo, um currículo nacional tem seu principal papel em “prover a estrutura que permitirá o funcionamento do sistema nacional de avaliação” (APPLE, 1995: 74). Tínhamos o SAEB, faltavam os PCNs? É possível crer que as afirmações correspondam à realidade se compararmos, por exemplo, como a Constituição Federal de 1988 figura nos PCNs e na Exposição de Motivos formulada pelo Ministro da Educação que justificava o envio da Proposta de Emenda Constitucional 233 (PEC 233), propositora da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – FUNDEF (BRASIL, 1995). Nos PCNs, a Constituição Federal de 1988 é tratada como avançada nos temas da cidadania (PCN1,v. 10: 37), norteadora da discussão no tema transversal “ética” (PCN1, v. 8: 70), fundamento dos direitos subjacentes aos conteúdos de relevância social que devem ser abordados ao longo do ensino fundamental7. Quando o que está em jogo são os recursos que a União deve destinar ao financiamento da educação, tudo muda de figura. Na Exposição de Motivos da PEC 233, o Ministro da Educação diz que a “Carta não explicita de forma coerente as responsabilidades e competências de cada uma das esferas, de forma que o cidadão comum saiba a quem cobrar o cumprimento das garantias constitucionais” (BRASIL, 1995: 8). E prossegue considerando que “a Constituição gerou compromissos que ampliam em muito a complexidade da gestão da Educação, nas três esferas do Poder Público” (BRASIL, 1995: 8). Diante disso, permanece atualíssimo o artigo de Anísio Teixeira (1962). Proclamemos os direitos, mas não há o menor compromisso em satisfazê-los. Os PCNs confirmam essa posição quando, “num descuido”, afirmam que o papel do Estado é “facilitar o acesso à educação” (PCN2, v. 1: 19). Por que não garantir o acesso à educação, depois de tanto defender o ensino fundamental como recurso privilegiado para a instituição da cidadania? A ANPEd afirma, ainda com relação à Versão Preliminar dos PCNs (BRASIL. MEC, 1995), que “não está suficientemente enfatizada a necessidade de investimentos públicos importantes na melhoria das condições físicas das redes de ensino”, na aquisição de recursos materiais e na qualificação de seus recursos humanos, essenciais ao desenvolvimento do processo pedagógico (ANPEd, 1996: 88). Essas preocupações foram, de certa forma, incorporadas ao documento final dos PCNs, tanto no de 1ª a 4ª séries (PCN1, Introdução: 19-31), como nos de 5ª a 8ª séries (PCN2: Introdução, 38-39). No entanto, a proposta de Plano Nacional de Educação elaborada pelo Executivo (BRASIL. MEC, 2000) apresenta uma estranha “ordem” para a resolução dos problemas do ensino fundamental brasileiro, que acabou figurando no Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998 – o que já foi anteriormente por mim mencionado, e faz com que se reacendam as preocupações postas pela ANPEd em 1996. Para corrigir este conjunto de deficiências [as dificuldades enfrentadas pela educação no Brasil], especialmente os fenômenos associados de repetência, distorção série/idade e evasão, o Plano Nacional de Educação deve contemplar medidas que não se restrinjam à oferta de vagas. Em primeiro lugar, é preciso um investimento na qualificação dos professores, de forma a capacitá-los para oferecer um ensino adequado. De outro lado, é necessária uma reforma curricular, como a que está sendo proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que torne o ensino mais relevante e mais interessante para os alunos. Finalmente, deve-se promover a melhoria da infra-estrutura física das escolas, generalizando inclusive as condições para a utilização das tecnologias educacionais em multimídia (BRASIL. MEC, 2000: 31, grifos meus). 31 Compreendo que nem sempre é possível tudo ao mesmo tempo. Mas diante das dificuldades enfrentadas pela educação brasileira e das necessidades para que se processe um ensino de qualidade, como afirmam almejar os PCNs, é difícil imaginar que a ordem de prioridades determinada no PNE (do MEC ou do Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998) seja a mais adequada. Talvez este seja o momento – quiçá já não é há muito tempo – de “atacar em várias frentes”. 32 O que fazer com os PCNs? Diante dessas várias peças da política educacional do Governo Federal, o mais indicado seria que explorássemos o que chamei de “indeterminação” nos PCNs para construirmos, em cada escola, a proposta curricular mais adequada ao atendimento das necessidades educacionais de alunos, professores, pais, funcionários e da sociedade, num sentido bem geral. Esse caminho serve ainda, na minha opinião, a outros fins. Pode ser um meio de evitar que aquele lado chamado por mim de “perverso”, possivelmente presentenos PCNs, se manifeste. Trazer a diversidade da realidade brasileira para a reflexão sobre os Parâmetros pode salvar os diversos sistemas de ensino de municípios e estados de uma tentativa de equalizá-los que seria desastrosa. Não considerar essa diversidade só poderia servir ao intento de oferecer um tratamento igual ao que é absolutamente diferente, em termos culturais, históricos e de necessidades de investimento, com prejuízo para quem precisa mais. Além do que, submeter a uma “competição” indivíduos com “pontos de partida” muito distintos – através de um sistema de avaliação que não considere essas desigualdades, é um problema de (in)justiça social. Uma outra serventia da alternativa por mim indicada é lutar para que prevaleça a autonomia da escola, noção presente nos PCNs, e que se vê ameaçada quando o Parecer sobre o Substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.173/1998, que aprova o PNE, quer ver assegurado que num prazo de três anos as escolas tenham elaborado seus projetos pedagógicos com base nos PCNs. Podemos nos ater ao caráter não obrigatório dos PCNs e incorporá-los ou não aos projetos escolares, depois que o terceiro e quarto níveis de sua concretização – escola e professores, respectivamente – tiverem se manifestado a esse respeito. Um terceiro serviço que o caminho sugerido pode prestar é a criação da própria oportunidade da discussão de um projeto escolar. Esse é o momento da edificação do consenso sobre valores, normas, o que se deseja do processo educativo, quem aprende, quem ensina e como. E finalmente, percorrida essa trajetória, teremos dado um largo passo na construção de uma escola democrática. Um projeto pedagógico construído com a participação de todos os envolvidos no processo educativo, de posse das informações necessárias para tentarmos fazer as melhores escolhas, de valor inclusive. Um sentimento de um projeto compartilhado que deve ser implementado para o bem de todos nós. Uma escola com a “nossa fisionomia”, um espaço de exercício da nossa autonomia, condição essencial para que nossa escola seja democrática. Trabalho apresentado no GT Currículo, Anais da 21ª Reunião Anual da ANPEd, Caxambu/MG, 20 a 24 de setembro, mimeo. 33 UNIDADE 05 – Objetivos dos PCNs para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os objetivos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do 1º ao 9º ano (anteriormente denominados 1ª a 8ª séries) para cada área de conhecimento. ESTUDANDO E REFLETINDO Os Parâmetros Curriculares são subdivididos por área e por ciclos de escolaridade, compreendendo o Ciclo I como 1ª e 2ª séries e o Ciclo II como 3ª e 4ª séries. Conforme proposto no documento em questão, estes objetivos procuram contemplar o desenvolvimento de capacidades relacionadas a diversos aspectos, como: cognitivo, afetivo, físico, ético, estético, de atuação e de inserção social. Nesta unidade, serão apresentados os objetivos de cada área de conhecimento propostos pelos PCNs para o Ciclo I e para o Ciclo II, sendo as mesmas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte, Educação Física e Língua Estrangeira (apenas para o Ciclo II). Tais objetivos devem ser atingidos ao longo dos 8 anos do Ensino Fundamental. São objetivos do Ensino Fundamental, • compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; 34 • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; • utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. Língua Portuguesa • expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados; • utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam; • conhecer e respeitar as diferentes variedades lingüísticas do português falado; • compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; • valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos; • utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.; • valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário; 35 • usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica; • conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. Matemática • identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidadepara resolver problemas; • fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos do ponto de vista do conhecimento e estabelecer o maior número possível de relações entre eles, utilizando para isso o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico); selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente; • resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como dedução, indução, intuição, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis; • comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações matemáticas; • estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares; • sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a perseverança na busca de soluções; • interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente na busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectos consensuais ou não na discussão de um assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles. Ciências Naturais • compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive; • identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica; • formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar; • saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida; • saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organização, comunicação e discussão de fatos e informações; • valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento; 36 • compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação coletiva; • compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem. História Os objetivos desta área de conhecimento forma geral são: São objetivos gerais para o ensino de História: identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços; • organizar alguns repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa multiplicidade de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões do presente e do passado; • conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles; • reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas, presentes na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço; • questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções, reconhecendo formas de atuação política, institucionais e organizações coletivas da sociedade civil; • utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e como um elemento de fortalecimento da democracia. Geografia São objetivos gerais para o ensino de Geografia: • conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; • identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais; • compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; • compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las; • conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições; 37 • fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens; • saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. Arte • expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas; • interagir com materiais, instrumentos e procedimentos variados em artes (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), experimentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los nos trabalhos pessoais; • edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções; • compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos; • observar as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade, exercitando a discussão, indagando, argumentando e apreciando arte de modo sensível; • compreender e saber identificar aspectos da função e dos resultados do trabalho do artista, reconhecendo, em sua própria experiência de aprendiz, aspectos do processo percorrido pelo artista; • buscar e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas, documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas, jornais, ilustrações, diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos (museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, videotecas, cinematecas), reconhecendo e compreendendo a variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias. Educação Física • participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; • adotar atitudes de respeitomútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência; • conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais; 38 • reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva; • solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo saudável e equilibrado; • reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, não as aceitando para si nem para os outros, reivindicando condições de vida dignas; • conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão. Língua Estrangeira Os objetivos são orientados para a sensibilização do aluno em relação à Língua Estrangeira pelos seguintes focos: o mundo multilíngüe e multicultural em que vive; a compreensão global (escrita e oral); o empenho na negociação do significado e não na correção. Ao longo dos quatro anos do ensino fundamental, espera-se com o ensino de Língua Estrangeira que o aluno seja capaz de: identificar no universo que o cerca as línguas estrangeiras que cooperam nos sistemas de comunicação, percebendo-se como parte integrante de um mundo plurilíngüe e compreendendo o papel hegemônico que algumas línguas desempenham em determinado momento histórico; vivenciar uma experiência de comunicação humana, pelo uso de uma língua estrangeira, no que se refere a novas maneiras de se expressar e de ver o mundo, refletindo sobre os costumes ou maneiras de agir e interagir e as visões de seu próprio mundo, possibilitando maior entendimento de um mundo plural e de seu próprio papel como cidadão de seu país e do mundo; reconhecer que o aprendizado de uma ou mais línguas lhe possibilita o acesso a bens culturais da humanidade construídos em outras partes do mundo; construir conhecimento sistêmico, sobre a organização textual e sobre como e quando utilizar a linguagem nas situações de comunicação, tendo como base os conhecimentos da língua materna; construir consciência lingüística e consciência crítica dos usos que se fazem da língua estrangeira que está aprendendo; ler e valorizar a leitura como fonte de informação e prazer, utilizando-a como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avançados; 39 utilizar outras habilidades comunicativas de modo a poder atuar em situações diversas. BUSCANDO SABERES Leia o documento introdutório dos Parâmetros Curriculares Nacionais disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf, entre as páginas 47 e 49, para responder a questão que se encontra em “Interagindo com o Conhecimento” desta Unidade 05. 40 UNIDADE 06 – Conteúdos de Arte e Educação Física para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os blocos de conteúdos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental. ESTUDANDO E REFLETINDO Os PCNs propõem conteúdos gerais para cada área de conhecimento. Alguns deles são divididos em conteúdos gerais para o ensino da área específica e outros são divididos por ciclos, conforme apresentaremos ao longo desta unidade. BUSCANDO SABERES Arte Os conteúdos gerais para o ensino da Arte no Ensino Fundamental são: • a arte como expressão e comunicação dos indivíduos; • elementos básicos das formas artísticas, modos de articulação formal, técnicas, materiais e procedimentos na criação em arte; • produtores em arte: vidas, épocas e produtos em conexões; • diversidade das formas de arte e concepções estéticas da cultura regional, nacional e internacional: produções, reproduções e suas histórias; • a arte na sociedade, considerando os produtores em arte, as produções e suas formas de documentação, preservação e divulgação em diferentes culturas e momentos históricos. Em Arte, ao longo do processo de escolaridade, devem ser trabalhadas as seguintes especificidades da Arte: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, e os seus respectivos conteúdos são: CONTEÚDOS DE ARTES VISUAIS • A produção artística visual em espaços diversos por meio de: desenho, pintura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação, fotografia, cinema, vídeo, meios eletroeletrônicos,design, artes gráficas e outros. 41 • Observação, análise, utilização dos elementos da linguagem visual e suas articulações nas imagens produzidas. • Representação e comunicação das formas visuais, concretizando as próprias intenções e aprimorando o domínio dessas ações. • Conhecimento e utilização dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pessoais, explorando e pesquisando suas qualidades expressivas e construtivas. • Experimentação, investigação, utilização e capacidade de escolha de suportes, técnicas e materiais diversos, convencionais e não-convencionais, naturais e manufaturados, para realizar trabalhos individuais e de grupo. CONTEÚDOS DE MÚSICA • Expressão e comunicação em Música: improvisação, composição e interpretação. • Apreciação significativa em Música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical. • Compreensão da Música como produto cultural e histórico. • Identificação da transformação dos sistemas musicais (modal, tonal, serial), ao longo da história e em diferentes grupos e etnias, e sua relação com a história da humanidade. CONTEÚDOS DE TEATRO • Teatro como comunicação e produção coletiva. • Teatro como apreciação. • Teatro como produto histórico-cultural. Uma das propostas para o trabalho didático com Arte, segundo os PCNs é por meio de Projetos consolidando a prática interdisciplinar em educação. Os projetos podem ser divididos em equipes e cada uma delas pode escolher uma das linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro). O projeto cativa os alunos pela oportunidade de trabalhar com autonomia, tomando decisões e escolhendo temas e ações a serem desenvolvidos sob orientação do professor. Logo, em um projeto há uma negociação entre professores e alunos, que elegem temas e produtos de interesse, passíveis de serem estudados e concretizados. (BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: arte/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC / SEF, 1998, p. 102). 42 Educação Física Os conteúdos de Educação Física estão organizados da seguinte forma: Fonte: PCN de Educação Física, Ensino Fundamental, 1997, p. 35. Os conteúdos de “Conhecimento sobre o corpo” são entendidos como aqueles que dizem respeito ao conhecimento de seu corpo como algo orgânico, não fragmentado em partes, com conhecimento em anatomia (estrutura muscular e óssea, sua bioquímica e biomecânica). Os conteúdos relativos ao bloco de “Esportes, jogos, lutas e ginásticas”são aqueles que dependem do contexto para serem classificados em uma destas categorias. Uma prática pode ser vivida ou classificada em função do contexto em que ocorre e das intenções de seus praticantes. Por exemplo, o futebol pode ser praticado como um esporte, de forma competitiva, considerando as regras oficiais que são estabelecidas internacionalmente (que incluem as dimensões do campo, o número de participantes, o diâmetro e peso da bola, entre outros aspectos), com platéia, técnicos e árbitros. Pode ser considerado um jogo, quando ocorre na praia, ao final da tarde, com times compostos na hora, sem árbitro, nem torcida, com fins puramente recreativos. Pode ser vivido também como uma luta, quando os times são compostos por meninos de ruas vizinhas e rivais, ou numa final de campeonato, por exemplo, entre times cuja rivalidade é histórica. Em muitos casos, esses aspectos podem estar presentes simultaneamente. (BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: arte/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC / SEF, 1998, pp. 37-38). Os conteúdos relativos ao bloco “Atividades rítmicas e expressivas” dizem respeito àquelas atividades em que se usa o corpo, a expressão e a atividade sonora, com o intuito de movimentação ritmada, como por exemplo, em danças e brincadeiras cantadas. 43 A lista a seguir é uma sugestão de danças e outras atividades rítmicas e/ou expressivas que podem ser abordadas e deverão ser adaptadas a cada contexto: • danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, catira, bumba- meu-boi, maracatu, xaxado, etc.; • danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão; • danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz; • danças e coreografias associadas a manifestações musicais: blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos, escolas de samba; • lengalengas; • brincadeiras de roda, cirandas; escravos-de-jó. (BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: arte/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC / SEF, 1998, p. 40). 44 UNIDADE 07 – Conteúdos de História e Geografia para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os conteúdos para o ensino de História e Geografia no Ensino Fundamental. ESTUDANDO E REFLETINDO Visando uma responsabilidade com a formação de futuros cidadãos, o ensino de História e Geografia deve ter como meta, o desenvolvimento social, cultural, científico e crítico dos estudantes, possibilitando aos mesmos, o conhecimento de si mesmo, dos outros, do seu grupo e de sua região. Considera-se, então, que o ensino de História envolve relações e compromissos com o conhecimento histórico, de caráter científico, com reflexões que se processam no nível pedagógico e com a construção de uma identidade social pelo estudante, relacionada às complexidades inerentes à realidade com que convive. (BRASIL, 1997, p. 27). Há uma articulação entre os conteúdos destas áreas de conhecimento com os temas transversais, sendo estes: • as relações de trabalho existentes entre os indivíduos e as classes, por meio do conhecimento sobre como se processam as produções, as comercializações e a distribuição de bens, as desigualdades sociais, as transformações das técnicas e das tecnologias e a apropriação ou a desapropriação dos meios de produção pelos trabalhadores; • as diferenças culturais, étnicas, de idade, religião, costumes, gêneros, sistemas econômicos e políticos; • as lutas e as conquistas políticas, travadas por indivíduos, por classes e movimentos sociais; • as relações entre os homens e a natureza, numa dimensão individual e coletiva, contemporânea e histórica, envolvendo discernimento quanto às formas de dominação e preservação da fauna, flora e recursos naturais; • reflexões sobre a constituição da cidadania, em diferentes sociedades e tempos, relacionadas à saúde, à higiene, às concepções sobre a vida e a morte, às doenças endêmicas e epidêmicas; 45 • as imagens e os valores em relação ao corpo, relacionados à história da sexualidade, dos tabus coletivos, da organização das famílias, da educação sexual e da distribuição de papéis entre os gêneros nas diferentes sociedades historicamente constituídas. Nesta perspectiva, resumidamente, os conteúdos específicos de ensino destas áreas propostas pelos PCNs são: HISTÓRIA – CICLO I A localidade Comunidade indígena Deslocamentos populacionais Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos Organizações políticas e administrações urbanas Organização histórica e temporal HISTÓRIA – CICLO III As relações sociais, a natureza e a terra As relações de trabalho HISTÓRIA – CICLO IV Nações, povos, lutas, guerras e revoluções Cidadania e cultura no mundo contemporâneo GEOGRAFIA – CICLO I • observação e descrição de diferentes formas pelas quais a natureza se apresenta na paisagem local: nas construções e moradias, na distribuição da população, na organização dos bairros, nos modos de vida, nas formas de lazer, nas artes plásticas; • identificação de motivos e técnicas pelos quais sua coletividade e a sociedade de forma geral transforma a natureza: por meio do trabalho, da tecnologia, da cultura e da política, no passado e no presente; • caracterização da paisagem local: suas origens e organização, as manifestações da natureza em seus aspectos biofísicos, as transformações sofridas ao longo do tempo; • conhecimento das relações entre as pessoas e o lugar: as condições de vida, as histórias, as relações afetivas e de identidade com o lugar onde vivem; • identificação da situação ambiental da sua localidade: proteção e preservação do ambiente e sua relação com a qualidade de vida e saúde; • produção de mapas ou roteiros simples considerando características da linguagem cartográfica como as relações de distância e direção e o sistema de cores e legendas; • leitura inicial de mapas políticos, atlas e globo terrestre; 46 • valorização de formas não-predatórias de exploração, transformação e uso dos recursos naturais; • organização, com auxílio do professor, de suas pesquisas e das conquistas de seus conhecimentos em obras individuais ou coletivas: textos, exposições, desenhos, dramatizações, entre outras. GEOGRAFIA – CICLO II • identificação de processos de organização e construção de paisagens urbanas e rurais ao longo do tempo; • caracterização e comparação entre as paisagens urbanas e rurais de diferentes regiões do Brasil, considerando os aspectos da espacialização e especialização do trabalho, a interdependência entre as cidades e o campo, os elementos biofísicos da natureza, os limites e as possibilidades dos recursos naturais; • comparação entre o uso de técnicas e tecnologias por meio do trabalho humano nas cidades e no campo, envolvendo modos de vida de diferentes grupos sociais, aproximando-se do debate entre o moderno e o tradicional; • reconhecimento do papel das tecnologias na transformação e apropriação da natureza e na construção de paisagens distintas; • reconhecimento do papel da informação e da comunicação nas dinâmicas existentes entre as cidades e o campo; • compreensão das funções que o transporte assume nas relações entre as cidades e o campo, observando seu papel na interdependência que existe entre ambos; • comparação entre os diferentes meios de transporte presentes no lugar onde se vive, suas implicações na organização da vida em sociedade e nas transformações da natureza; • levantamento, seleção e organização de informações a partir de fontes variadas, como fotografias, mapas, notícias de jornal, filmes, entrevistas, obras literárias, músicas, etc.; • representação em linguagemcartográfica das características das paisagens estudadas por meio da confecção de diferentes tipos de mapas, observando a necessidade de indicar a direção, a distância, a proporção para garantir a legibilidade das informações; • leitura e compreensão das informações expressas em linguagem cartográfica e em outras formas de representação do espaço, como fotografias aéreas, plantas maquetes, entre outras; • organização de pesquisas e reapresentação dos conhecimentos adquiridos em obras individuais ou coletivas: textos, exposições, desenhos, dramatizações, seminários, etc.; • valorização do uso refletido da técnica e da tecnologia em prol da reabilitação e conservação do meio ambiente e da manutenção da qualidade de vida; • respeito e tolerância por modos de vida e valores de outras coletividades distantes no tempo e no espaço. 47 GEOGRAFIA CICLOS III E IV Para o terceiro ciclo são propostos os seguintes eixos temáticos: • A Geografia como uma possibilidade de leitura e compreensão do mundo. • O estudo da natureza e sua importância para o homem. • O campo e a cidade como formações socioespaciais. • A cartografia como instrumento na aproximação dos lugares e do mundo. Para o quarto ciclo são propostos os seguintes eixos temáticos: • A evolução das tecnologias e as novas territorialidades em redes. • Um só mundo e muitos cenários geográficos. • Modernização, modo de vida e problemática ambiental. BUSCANDO SABERES Leia o excerto do texto a seguir com atenção, para poder responder à questão disponível em “Interagindo com o conhecimento”, ao final desta Unidade. A GEOGRAFIA E A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA: DE NADA ADIANTA SABER LER UM MAPA SE NÃO SE SABE AONDE QUER CHEGAR Profa. Dra. Andrea Coelho Lastória - FFCLRP/USP Profa. Dra. Sílvia A. Souza Fernandes - FFC/UNESP Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/143754220/A-GEOGRAFIA-E-A-LINGUAGEM- CARTOGRAFICA-DE-NADA-ADIANTA-SABER-LER-UM-MAPA-SE-NAO-SE-SABE-AONDE-QUER- CHEGAR As crianças na faixa dos seis aos dez anos de idade, aproximadamente, estão em processo de desenvolvimento e apropriação de diversas linguagens. A linguagem escrita e a linguagem matemática, sem dúvida, são reconhecidamente valorizadas pelos professores, pais e até mesmo pelas crianças. Os pais preocupam-se quando o filho de sete anos ainda não lê palavras ou copia frases. Eles dizem que a criança ainda não foi “alfabetizada”. A falta de entendimento a respeito da aquisição da leitura e da escrita como um processo constante e complexo, e não como um ato de decodificação do alfabeto, é a principal causa de tal preocupação. Segundo (ALMEIDA, 1999, p. 131), 48 O ensino da leitura e escrita, geralmente chamado de alfabetização – que significa ‘ação de ensinar o código alfabético’ - não consiste apenas em levar o aprendiz a codificar a língua escrita. Nesse processo interagem fatores pedagógicos, psicomotores, lingüísticos e sociais cuja abrangência reveste o domínio da língua escrita de maior complexidade. Essa é uma das razões de encontrarmos, na literatura estrangeira específica da área, a expressão: ‘leitura e escrita’ com maior freqüencia do que ‘alfabetização’, que predomina em português. Para a autora, ser alfabetizado não se limita a possuir habilidade em decodificar palavras, já que envolve uma maior complexidade. A referida preocupação dos pais nos revela, portanto, que a aquisição de diferentes linguagens é pouco reconhecida nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Callai (2005) coloca que a Geografia precisa ser compreendida como parte do processo de alfabetização, pois ela é importante para aprender a ler o mundo. Para compreender as relações entre as ações humanas e os fenômenos naturais. Também Fonseca (2009) enfatiza sobre o mesmo tema em seu texto “É possível alfabetizar sem ‘História”? Ou... como ensinar História alfabetizando?”Essas duas autoras, nos explicam que não faz sendo separar a leitura e a escrita “da palavra”, da leitura “do mundo” se pretendemos educar para a atualidade. Para aprender “a ler” o mundo de hoje é fundamental o desenvolvimento de diversas linguagens, dentre elas, a cartográfica. A linguagem cartográfica é popularmente conhecida como a linguagem dos mapas, mas não se restringe apenas a eles. As plantas, os croquis, os gráficos, os globos terrestres, as anamorfoses (representações com formas alteradas), as fotografias aéreas e as imagens de satélite, são alguns exemplos de materiais que envolvem tal linguagem. Os mapas são, contudo, os mais usuais nas práticas escolares. Castellar (2005ª, 2007) utiliza o termo “letramento cartográfico” para se referir ao processo de aquisição da linguagem cartográfica na escola de Ensino Fundamental. Outros pesquisadores (LESANN, 2009; SIMIELLI, 2007; PASSINI, 1994; ALMEIDA, 1999) utilizam outros diversos termos para se referirem ao mesmo processo. São eles: “alfabetização cartográfica”, “educação cartográfica” ou “iniciação cartográfica”. Todos giram em torno da valorização de se trabalhar a Cartografia “para” e “com” as crianças e escolares. Os pesquisadores brasileiros da área da Cartografia escolar têm destacado a importância que o ensino de mapas (e não apenas o ensino “com” mapas) possui nos anos iniciais e na Educação Infantil. Alguns destes estudos buscam novas metodologias para se trabalhar a Cartografia com crianças. Várias questões estão ocupando a atenção desses pesquisadores. Algumas delas são: como ensinar a pensar o espaço por meio das maquetes, plantas e mapas? Como ler o mundo por meio da leitura dos mapas? É possível trabalhar a linguagem cartográfica desde a Educação Infantil? A prática educativa apresentada a seguir foi desenvolvida na Espanha para crianças da Educação Infantil e dos anos iniciais. Trata-se de um exemplo simples que permite desenvolveras noções de localização e orientação espacial de modo lúdico. Possibilita, ainda, que as crianças comecem a entender a “passagem” da tridimensionalidade para a bidimensionalidade por meio da observação de maquete e sua representação no plano bidimensional. A maquete apresentada na FIG. 1, construída com madeira e tecido, representa um dormitório completo com cama, armário, espelho, penteadeira, cadeira, mesa, etc. Apenas três lados do dormitório foram construídos, buscando facilitar o manuseio dos objetos pelas crianças. 49 FIGURA 1: Maquete de um dormitório. FOTO de Daniel Bueno Junta. Esta prática foi desenvolvida pela professora Dra. María Del Rosario Pineiro Peteleiro da Universidad de Oviedo, em Oviedo, Principado de Asturias, Espanha. Tal experiência foi readaptada por Daniel Bueno Junta, sob orientação da primeira autora, durante o Projeto “Produção de materiais didáticos para o ensino de História e Geociências”, desenvolvido no Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador (LAIFE), na FFCLRP/USP. Projeto financiado pelo Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP, durante os anos de 2008 e 2009. Cada um dos objetos foi representado numa base plana, respeitando seu exato tamanho e sua forma do ponto de vista vertical, ou seja, “de cima” da maquete, num ângulo exato de 90 graus. A FIG. 2 exibe tal base. FIGURA 2 : Representação do dormitório em um plano. 50 FOTO de Daniel Bueno Junta. A intenção da prática é partir de uma história infantil. Ela pode ser criada pelo professor e pelos alunos, com personagens fictícios. No exemplo que criamos, dois pequenos bonecos são utilizados para “ocupar” tal maquete. Um deles possui uma pequena bolsa que é “perdida” no dormitório para que o outro possa procurá-la. Uma das crianças, fazendo o papel da boneca, esconde tal objeto em qualquer lugar do dormitório e as demais devem procurar. A “brincadeira” de esconder e procurar abolsa é realizada namaquete. É possível esconder “encima” do armário, “embaixo” da cama, “atrás” da porta, em frente o abajur, etc. Assim, a ordem espacial de direita/esquerda, frente/atrás e acima/abaixo são desenvolvidas a partir da maquete. Essa atividade pode ser justificada pela ideia de Le Sann (2007, p. 117) a respeito da noção de localização anteceder a de espaço. Segundo a autora “A localização é o conjunto das características de um ponto preciso no espaço. A noção de espaço é suporte para qualquer estudo geográfico: não há geografia sem espaço, assim como não há escala sem espaço.” Após esta fase, as crianças são convidadas a reorganizar o dormitório, alterando a localização de seus móveis, diminuindo ou aumentando a quantidade deles no restrito espaço físico do mesmo. Essa “brincadeira” permite que a criança estabeleça critérios para organizar tal espaço de acordo com seus interesses imediatos ou de acordo com as sugestões do professor e dos outros alunos. Entendemos que essa é uma maneira de explorar ludicamente o conceito de espaço como lugar de vivência. Assim como, introduzir a ideia de que um determinado território pode ser reorganizado e alterado. Outra possibilidade que a prática com a referida maquete permite é a associação que a criança pode fazer com os objetos (que são tridimensionais) e os da base plana (que são bidimensionais). A pergunta para desenvolver tal associação pode ser: se a bolsa da boneca está sobre a cama no dormitório onde ela estaria nessa representação? Salientamos que a inversão facilita a “descoberta”, ou seja, colocamos a bolsa sobre um objeto da representação plana e pedimos para a criança colocá-lo no lugar equivalente na maquete. 51 A prática colabora com o ensino e a aprendizagem de uma difícil compreensão a respeito da passagem de algo que está no mundo tridimensional (vivido por nós) para o bidimensional (que é o dos mapas) com crianças da Educação Infantil e dos anos iniciais. 52 UNIDADE 08 – Conteúdos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O objetivo desta Unidade é o de conhecer quais são os conteúdos de ensino da área de Ciência Naturais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. ESTUDANDO E REFLETINDO A fim de levar o estudante a compreender o mundo e suas transformações, situando o homem como indivíduo participativo e parte integrante do Universo, os conteúdos das Ciências Naturais propostos pelos PCNs são: CICLOS I E II Blocos temáticos São quatro os blocos temáticos propostos para o ensino fundamental: Ambiente; Ser humano e saúde; Recursos tecnológicos; e Terra e Universo. Os três primeiros blocos se desenvolvem ao longo de todo o ensino fundamental, apresentando alcances diferentes nos diferentes ciclos. O bloco Terra e Universo só será destacado a partir do terceiro ciclo. Cada bloco sugere conteúdos, indicando também as perspectivas de abordagem. Tais conteúdos podem ser organizados em temas, compostos pelo professor ao desenhar seu planejamento. Na composição dos temas podem articular-se conteúdos dos diferentes blocos. AMBIENTE Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes: • comparação de diferentes ambientes naturais e construídos, investigando características comuns e diferentes, para verificar que todos os ambientes apresentam seres vivos, água, luz, calor, solo e outros componentes e fatos que se apresentam de modo distinto em cada ambiente; 53 • comparação dos modos com que diferentes seres vivos, no espaço e no tempo, realizam as funções de alimentação, sustentação, locomoção e reprodução, em relação às condições do ambiente em que vivem; • comparação do desenvolvimento e da reprodução de diferentes seres vivos para compreender o ciclo vital como característica comum a todos os seres vivos; • formulação de perguntas e suposições sobre os ambientes e os modos de vida dos seres vivos; • busca e coleta de informações por meio de observação direta e indireta, experimentação, entrevistas, leitura de textos selecionados; • organização e registro de informações por meio de desenhos, quadros, esquemas, listas e pequenos textos, sob orientação do professor; • interpretação das informações por intermédio do estabelecimento de relações, de semelhanças e diferenças e de seqüências de fatos; • utilização das informações obtidas para justificar suas idéias; • comunicação oral e escrita de suposições, dados e conclusões, respeitando diferentes opiniões. SER HUMANO E SAÚDE Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes: • comparação do corpo e de alguns comportamentos de homens e mulheres nas diferentes fases de vida — ao nascer, na infância, na juventude, na idade adulta e na velhice — para compreender algumas transformações, valorizar e respeitar as diferenças individuais; • conhecimento de condições para o desenvolvimento e preservação da saúde: atitudes e comportamentos favoráveis à saúde em relação a alimentação, higiene ambiental e asseio corporal; modos de transmissão e prevenção de doenças contagiosas, particularmente a AIDS; • comparação do corpo e dos comportamentos do ser humano e de outros animais para estabelecer semelhanças e diferenças; • elaboração de perguntas e suposições acerca das características das diferentes fases da vida e dos hábitos de alimentação e de higiene para a manutenção da saúde, em cada uma delas; • observação, representação e comparação das condições de higiene dos diferentes espaços habitados, desenvolvendo cuidados e responsabilidades para com esses espaços; • busca e coleta de informações por meio de leituras realizadas pelo professor para a classe, interpretação de imagens, entrevistas a familiares, pessoas da comunidade e especialistas em saúde; • confrontação das suposições individuais e coletivas com as informações obtidas; • organização e registro de informações por meio de desenhos, quadros, listas e pequenos textos, sob orientação do professor; • comunicação oral e escrita de suposições, dados e conclusões, respeitando diferentes opiniões. 54 RECURSOS TECNOLÓGICOS Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes: • investigação de processos artesanais ou industriais da produção de objetos e alimentos, reconhecendo a matéria-prima, algumas etapas e características de determinados processos; • conhecimento de origens e algumas propriedades de determinados materiais e formas de energia, para relacioná-las aos seus usos; • formulação de perguntas e suposições sobre os processos de transformação de materiais em objetos; • busca e coleta de informações por meio de observação direta e indireta, experimentação, interpretação de imagens e textos selecionados; • organização e registro de informações por intermédio de desenhos, quadros, esquemas, listas e pequenos textos; • interpretação das informações por meio do estabelecimento de regularidades e das relações de causa e efeito; • utilização das informações obtidas para justificar suas idéias; • comunicação oral e escrita de suposições, dados e conclusões, respeitando diferentes opiniões. CICLOS III E IV Os conteúdos para os Ciclos III e IV são elaborados a partir de 4 eixos temáticos, sendo eles: Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde e Tecnologia e Sociedade. TERRA E UNIVERSO Foram selecionados os seguintes conteúdos centrais para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes: . observação direta, busca e organização de informações sobre a duração do dia em diferentes épocas do ano e sobre os horáriosde nascimento e ocaso do Sol, da Lua e das estrelas ao longo do tempo, reconhecendo a natureza cíclica desses eventos e associando-os a ciclos dos seres vivos e ao calendário; . busca e organização de informações sobre cometas, planetas e satélites do sistema Solar e outros corpos celestes para elaborar uma concepção de Universo; . caracterização da constituição da Terra e das condições existentes para a presença de vida; . valorização dos conhecimentos de povos antigos para explicar os fenômenos celestes. 55 VIDA E AMBIENTE Foram selecionados os seguintes conteúdos centrais para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes: . coleta, organização, interpretação e divulgação de informações sobre transformações nos ambientes provocadas pela ação humana e medidas de proteção e recuperação, particularmente da região em que vivem e em outras regiões brasileiras, valorizando medidas de proteção ao meio ambiente; . investigação da diversidade dos seres vivos compreendendo cadeias alimentares e características adaptativas dos seres vivos, valorizando-os e respeitando-os; . comparação de diferentes ambientes em ecossistemas brasileiros quanto a vegetação e fauna, suas inter-relações e interações com o solo, o clima, a disponibilidade de luz e de água e com as sociedades humanas; . investigação de diferentes explicações sobre a vida na Terra, sobre a formação dos fósseis e comparação entre espécies extintas e atuais. SER HUMANO E SAÚDE Foram selecionados os seguintes conteúdos centrais para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes: . distinção de alimentos que são fontes ricas de nutrientes plásticos, energéticos e reguladores, caracterizando o papel de cada grupo no organismo humano, avaliando sua própria dieta, reconhecendo as conseqüências de carências nutricionais e valorizando os direitos do consumidor; . compreensão de processos envolvidos na nutrição do organismo estabelecendo relações entre os fenômenos da digestão dos alimentos, a absorção de nutrientes e sua distribuição pela circulação sangüínea para todos os tecidos do organismo; . caracterização do ciclo menstrual e da ejaculação, associando-os à gravidez, estabelecendo relações entre o uso de preservativos, a contracepção e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, valorizando o sexo seguro. TECNOLOGIA E SOCIEDADE Foram selecionados os seguintes conteúdos centrais para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes: . investigação de tecnologias usuais e tradicionais de mesma finalidade, comparando-as quanto à qualidade das soluções obtidas e outras vantagens ou problemas ligados ao ambiente e ao conforto, valorizando os direitos do consumidor e a qualidade de vida; . comparação e classificação de diferentes equipamentos de uso cotidiano segundo sua finalidade, energias envolvidas e princípios de funcionamento, estabelecendo a seqüência de transformações de energia, valorizando o consumo criterioso de energia, os direitos do consumidor e a qualidade de vida; . comparação e classificação de diferentes materiais segundo sua finalidade, a origem de sua matéria-prima e os processos de produção, investigando a seqüência de separação e preparação de misturas ou síntese de substâncias, na indústria ou artesanato de bem de consumo, valorizando o consumo criterioso de materiais; 56 . investigação dos modos de conservação de alimentos . cozimento, adição de substâncias, refrigeração e desidratação . quanto ao modo de atuação específico, à importância social histórica e local, descrevendo processos industriais e artesanais para este fim. BUSCANDO SABERES Para melhor conhecimento dos conteúdos, sugerimos que você leia na íntegra os PCNs, os quais estão disponíveis em: Primeiro e segundo ciclos: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro04.pdf Terceiro e quarto ciclos: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencias.pdf. 57 UNIDADE 09 – Conteúdos de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os conteúdos de ensino de Língua Portuguesa para os quatro ciclos do Ensino Fundamental que são propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. ESTUDANDO E REFLETINDO Conforme é proposto nos PCNs, o ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa na escola resulta de uma tríade composta pelo aluno, a língua e o ensino. O primeiro elemento dessa tríade, o aluno, é o sujeito da ação de aprender, aquele que age sobre o objeto de conhecimento. O segundo elemento, o objeto de conhecimento, é a Língua Portuguesa, tal como se fala e se escreve fora da escola, a língua que se fala em instâncias públicas e a que existe nos textos escritos que circulam socialmente. E o terceiro elemento da tríade, o ensino, é, neste enfoque teórico, concebido como a prática educacional que organiza a mediação entre sujeito e objeto do conhecimento. Para que essa mediação aconteça, o professor deverá planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno. (BRASIL, 1997, p. 25). O documento propõe que se trabalhe com uma diversidade de textos, a prática de reflexão sobre a língua, fazendo com que o aluno se torne progressivamente competente em linguagem de modo a ser capaz de “resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado” 58 (idem, p. 33), propondo o uso da língua, a reflexão sobre a mesma para compor do discurso. Para tal, os conteúdos de ensino desta área de conhecimento são propostos em blocos, sendo eles: CONTEÚDOS GERAIS PARA O CICLO I VALORES, NORMAS E ATITUDES • Interesse por ouvir e manifestar sentimentos, experiências, idéias e opiniões. • Preocupação com a comunicação nos intercâmbios: fazer-se entender e procurar entender os outros. • Respeito diante de colocações de outras pessoas, tanto no que se refere às idéias quanto ao modo de falar. • Valorização da cooperação como forma de dar qualidade aos intercâmbios comunicativos. • Reconhecimento da necessidade da língua escrita (a partir de organização coletiva e com ajuda) para planejar e realizar tarefas concretas. • Valorização da leitura como fonte de fruição estética e entretenimento. • Interesse por ler ou ouvir a leitura especialmente de textos literários e informativos e por compartilhar opiniões, idéias e preferências (ainda que com ajuda). • Interesse em tomar emprestado livros do acervo da classe e da biblioteca escolar. • Cuidado com os livros e demais materiais escritos. • Atitude crítica diante de textos persuasivos dos quais é destinatário direto ou indireto (ainda que em atividades coletivas ou com a ajuda do professor). • Preocupação com a qualidade das produções escritas próprias, tanto no que se refere aos aspectos textuais como à apresentação gráfica. • Respeito aos diferentes modos de falar. GÊNEROS DISCURSIVOS Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral: • contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares; • poemas, canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-línguas, piadas; • saudações, instruções, relatos; • entrevistas, notícias, anúncios (via rádio e televisão); • seminários, palestras. 59 Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita: • receitas, instruções de uso, listas; • textos impressos em embalagens, rótulos, calendários; • cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Natal, etc.), convites, diários (pessoais, da classe, de viagem, etc.); • quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis: títulos, lides, notícias, classificados, etc.; • anúncios, slogans, cartazes, folhetos;• parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, piadas; • contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas; • textos teatrais; • relatos históricos, textos de enciclopédia, verbetes de dicionário, textos expositivos de diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de consulta, didáticos, etc.). CONTEÚDOS GERAIS PARA O CICLO II VALORES, NORMAS E ATITUDES • Interesse por ouvir e manifestar sentimentos, experiências, idéias e opiniões. • Preocupação com a comunicação nos intercâmbios: fazer-se entender e procurar entender os outros. • Segurança na defesa de argumentos próprios e flexibilidade para modificá-los, quando for o caso. • Respeito diante de colocações de outras pessoas, no que se refere tanto às idéias quanto ao modo de falar. • Valorização da cooperação como forma de dar qualidade aos intercâmbios comunicativos. • Reconhecimento do valor da língua escrita como meio de informação e transmissão da cultura. • Valorização da leitura como fonte de fruição estética e entretenimento. • Interesse, iniciativa e autonomia para ler, especialmente textos literários e informativos. • Interesse por compartilhar opiniões, idéias e preferências sobre leituras realizadas. • Interesse em tomar emprestado livros do acervo da classe e da biblioteca escolar. • Manuseio cuidadoso de livros e demais materiais escritos. • Interesse no uso e conhecimento das regras de utilização de bibliotecas, centros de documentação e redes de informação. • Sensibilidade para reconhecer e capacidade de questionar, com ajuda do professor, conteúdos discriminatórios, veiculados por intermédio da linguagem. • Atitude crítica diante de textos persuasivos dos quais é destinatário direto ou indireto. • Exigência de qualidade com relação às produções escritas próprias, no que se refere tanto aos aspectos textuais como à apresentação gráfica. • Interesse em explorar a dimensão estética da linguagem. • Respeito aos diferentes modos de falar. GÊNEROS DISCURSIVOS Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral: • contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares; 60 • poemas, canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-línguas, piadas, provérbios; • saudações, instruções, relatos; • entrevistas, debates, notícias, anúncios (via rádio e televisão); • seminários, palestras. Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita: • cartas (formais e informais), bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Natal, etc.), convites, diários (pessoais, da classe, de viagem, etc.); quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis: títulos, lides, notícias, resenhas, classificados, etc.; • anúncios, slogans, cartazes, folhetos; • parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, piadas; • contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas; • textos teatrais; • relatos históricos, textos de enciclopédia, verbetes de dicionário, textos expositivos de diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de consulta, didáticos, etc.), textos expositivos de outras áreas e textos normativos, tais como estatutos, declarações de direitos, etc. CONTEÚDOS GERAIS PARA OS CILOS III E IV . Escuta de textos orais: . compreensão dos gêneros do oral previstos para os ciclos articulando elementos lingüísticos a outros de natureza não verbal; . identificação de marcas discursivas para o reconhecimento de intenções, valores, preconceitos veiculados no discurso; . emprego de estratégias de registro e documentação escrita na compreensão de textos orais, quando necessário; . identificação das formas particulares dos gêneros literários do oral que se distinguem do falar cotidiano. . Leitura de textos escritos: . explicitação de expectativas quanto à forma e ao conteúdo do texto em função das características do gênero, do suporte, do autor etc.; . seleção de procedimentos de leitura em função dos diferentes objetivos e interesses do sujeito (estudo, formação pessoal, entretenimento, realização de tarefa) e das características do gênero e suporte: * leitura integral: fazer a leitura seqüenciada e extensiva de um texto; * leitura inspecional: utilizar expedientes de escolha de textos para leitura posterior; * leitura tópica: identificar informações pontuais no texto, localizar verbetes em um dicionário ou enciclopédia; * leitura de revisão: identificar e corrigir, num texto dado, determinadas inadequações em relação a um padrão estabelecido; * leitura item a item: realizar uma tarefa seguindo comandos que pressupõem uma ordenação necessária; . emprego de estratégias não-lineares durante o processamento de leitura: * formular hipóteses a respeito do conteúdo do texto, antes ou durante a leitura; * validar ou reformular as hipóteses levantadas a partir das novas informações obtidas durante o processo da leitura; 61 * avançar ou retroceder durante a leitura em busca de informações esclarecedoras; * construir sínteses parciais de partes do texto para poder prosseguir na leitura; * inferir o sentido de palavras a partir do contexto; * consultar outras fontes em busca de informações complementares (dicionários, enciclopédias, outro leitor); . articulação entre conhecimentos prévios e informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências (semânticas, pragmáticas) autorizadas pelo texto, para dar conta de ambigüidades, ironias e expressões figuradas, opiniões e valores implícitos, bem como das intenções do autor; . estabelecimento de relações entre os diversos segmentos do próprio texto, entre o texto e outros textos diretamente implicados pelo primeiro, a partir de informações adicionais oferecidas pelo professor ou conseqüentes da história de leitura do sujeito; . articulação dos enunciados estabelecendo a progressão temática, em função das características das sequências predominantes (narrativa, descritiva, expositiva, argumentativa e conversacional) e de suas especificidades no interior do gênero; . estabelecimento da progressão temática em função das marcas de segmentação textual, tais como: mudança de capítulo ou de parágrafo, títulos e subtítulos, para textos em prosa; colocação em estrofes e versos, para textos em versos; . estabelecimento das relações necessárias entre o texto e outros textos e recursos de natureza suplementar que o acompanham (gráficos, tabelas, desenhos, fotos, boxes) no processo de compreensão e interpretação do texto; . levantamento e análise de indicadores lingüísticos e extralingüísticos presentes no texto para identificar as várias vozes do discurso e o ponto de vista que determina o tratamento dado ao conteúdo, com a finalidade de: * confrontá-lo com o de outros textos; * confrontá-lo com outras opiniões; * posicionar-se criticamente diante dele; . reconhecimento dos diferentes recursos expressivos utilizados na produção de um texto e seu papel no estabelecimento do estilo do próprio texto ou de seu autor. . Produção de textos orais: . planejamento prévio da fala em função da intencionalidade do locutor, das características do receptor, das exigências da situação e dos objetivos estabelecidos; . seleção, adequada ao gênero, de recursos discursivos, semânticos e gramaticais, prosódicos e gestuais; . emprego de recursos escritos (gráficos, esquemas, tabelas) como apoio para a manutenção da continuidade da exposição; . ajuste da fala em função da reação dos interlocutores, como levar em conta o ponto de vista do outro para acatá-lo, refutá- lo ou negociá-lo. . Produção de textos escritos: . redação de textos considerando suas condições de produção: * finalidade; * especificidade do gênero; * lugares preferenciais de circulação; * interlocutor eleito; . utilização deprocedimentos diferenciados para a elaboração do texto: * estabelecimento de tema; * levantamento de idéias e dados; 62 * planejamento; * rascunho; * revisão (com intervenção do professor); * versão final; . utilização de mecanismos discursivos e lingüísticos de coerência e coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto, desenvolvendo diferentes critérios: * de manutenção da continuidade do tema e ordenação de suas partes; * de seleção apropriada do léxico em função do eixo temático; * de manutenção do paralelismo sintático e/ou semântico; * de suficiência (economia) e relevância dos tópicos e informações em relação ao tema e ao ponto de vista assumido; * de avaliação da orientação e força dos argumentos; * de propriedade dos recursos lingüísticos (repetição, retomadas, anáforas, conectivos) na expressão da relação entre constituintes do texto; . utilização de marcas de segmentação em função do projeto textual: * título e subtítulo; * paragrafação; * periodização; * pontuação (ponto, vírgula, ponto-e-vírgula, dois-pontos, ponto-de-exclamação, ponto- de-interrogação, reticências); * outros sinais gráficos (aspas, travessão, parênteses); . utilização de recursos gráficos orientadores da interpretação do interlocutor, possíveis aos instrumentos empregados no registro do texto (lápis, caneta, máquina de escrever, computador): * fonte (tipo de letra, estilo . negrito, itálico, tamanho da letra, sublinhado, caixa alta, cor); * divisão em colunas; * caixa de texto; * marcadores de enumeração; . utilização dos padrões da escrita em função do projeto textual e das condições de produção. Prática de análise lingüística . Reconhecimento das características dos diferentes gêneros de texto, quanto ao conteúdo temático, construção composicional e ao estilo: * reconhecimento do universo discursivo dentro do qual cada texto e gêneros de texto se inserem, considerando as intenções do enunciador, os interlocutores, os procedimentos narrativos, descritivos, expositivos, argumentativos e conversacionais que privilegiam, e a intertextualidade (explícita ou não); * levantamento das restrições que diferentes suportes e espaços de circulação impõem à estruturação de textos; * análise das seqüências discursivas predominantes (narrativa, descritiva, expositiva, argumentativa e conversacional) e dos recursos expressivos recorrentes no interior de cada gênero; * reconhecimento das marcas lingüísticas específicas (seleção de processos anafóricos, marcadores temporais, operadores lógicos e argumentativos, esquema dos tempos verbais, dêiticos etc.). . Observação da língua em uso de maneira a dar conta da variação intrínseca ao processo lingüístico, no que diz respeito: 63 * aos fatores geográficos (variedades regionais, variedades urbanas e rurais), históricos (linguagem do passado e do presente), sociológicos (gênero, gerações, classe social), técnicos (diferentes domínios da ciência e da tecnologia); * às diferenças entre os padrões da linguagem oral e os padrões da linguagem escrita; * à seleção de registros em função da situação interlocutiva (formal, informal); * aos diferentes componentes do sistema lingüístico em que a variação se manifesta: na fonética (diferentes pronúncias), no léxico (diferentes empregos de palavras), na morfologia (variantes e reduções no sistema flexional e derivacional), na sintaxe (estruturação das sentenças e concordância). . Comparação dos fenômenos lingüísticos observados na fala e na escrita nas diferentes variedades, privilegiando os seguintes domínios: * sistema pronominal (diferentes quadros pronominais em função do gênero): preenchimento da posição de sujeito, extensão do emprego dos pronomes tônicos na posição de objeto, desaparecimento dos clíticos, emprego dos reflexivos etc.; * sistema dos tempos verbais (redução do paradigma no vernáculo) e emprego dos tempos verbais (predominância das formas compostas no futuro e no mais que perfeito, emprego do imperfeito pelo .condicional., predominância do modo indicativo etc.); * predominância de verbos de significação mais abrangente (ser, ter, estar, ficar, pôr, dar) em vez de verbos com significação mais específica; * emprego de elementos dêiticos e de elementos anafóricos sem relação explícita com situações ou expressões que permitam identificar a referência; * casos mais gerais de concordância nominal e verbal para recuperação da referência e manutenção da coesão; * predominância da parataxe e da coordenação sobre as estruturas de subordinação. . Realização de operações sintáticas que permitam analisar as implicações discursivas decorrentes de possíveis relações estabelecidas entre forma e sentido, de modo a ampliar os recursos expressivos: * expansão dos sintagmas para expressar sinteticamente elementos dispersos no texto que predicam um mesmo núcleo ou o modificam ; * integração à sentença mediante nominalizações da expressão de eventos, resultados de eventos, qualificações e relações; * reordenação dos constituintes da sentença e do texto para expressar diferentes pontos de vista discursivos, como a topicalidade, a informação nova, a ênfase ; * expansão mediante coordenação e subordinação de relações entre sentenças em parataxe (simplesmente colocadas lado a lado na seqüência discursiva); * utilização de recursos sintáticos e morfológicos que permitam alterar a estrutura da sentença para expressar diferentes pontos de vista discursivos, como, por exemplo, uma diferente topicalidade ou o ocultamento do agente (construções passivas, utilização do clítico .se. ou verbo na terceira pessoa do plural), o efeito do emprego ou não de operadores argumentativos e de modalizadores; * redução do texto (omissões, apagamentos, elipses) seja como marca de estilo, seja para diminuir redundâncias ou para evitar recorrências que não tenham caráter funcional ou não produzam desejados efeitos de sentido. . Ampliação do repertório lexical pelo ensino-aprendizagem de novas palavras, de modo a permitir: 64 * escolha, entre diferentes palavras, daquelas que sejam mais apropriadas ao que se quer dizer ou em relação de sinonímia no contexto em que se inserem ou mais genéricas/mais específicas (hiperônimos e hipônimos); * escolha mais adequada em relação à modalidade falada ou escrita ou no nível de formalidade e finalidade social do texto; * organização das palavras em conjuntos estruturados em relação a um determinado tema, acontecimento, processo, fenômeno ou mesmo objeto, como possíveis elementos de um texto; * capacidade de projetar, a partir do elemento lexical (sobretudo verbos), a estrutura complexa associada a seu sentido, bem como os traços de sentido que atribuem aos elementos (sujeito, complementos) que preencham essa estrutura; * emprego adequado de palavras limitadas a certas condições histórico-sociais (regionalismos, estrangeirismos, arcaísmos, neologismos, jargões, gíria); * elaboração de glossários, identificação de palavras-chave, consulta ao dicionário. . Descrição de fenômenos lingüísticos com os quais os alunos tenham operado, por meio de agrupamento, aplicação de modelos, comparações e análise das formas lingüísticas, de modo a inventariar elementos de uma mesma classe de fenômenos e construir paradigmas contrastivos em diferentes modalidades de fala e escrita, com base: * em propriedades morfológicas (flexão nominal, verbal; processos derivacionais de prefixação e de sufixação); * no papel funcional assumido pelos elementos na estrutura da sentença ou nos sintagmas constituintes (sujeito, predicado, complemento, adjunto, determinante, quantificador); * no significado prototípico dessas classes. . Utilização da intuição sobre unidades lingüísticas (períodos, sentenças, sintagmas) como parte das estratégias de solução de problemas de pontuação. . Utilizaçãodas regularidades observadas em paradigmas morfológicos como parte das estratégias de solução de problemas de ortografia e de acentuação gráfica. BUSCANDO SABERES Leia a reportagem “O que ensinar em Língua Portuguesa” da Revista Nova Escola disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua- portuguesa/fundamentos/papel-letras-interacao-social-432174.shtml, incluindo a continuidade da reportagem (dos itens 1 ao 7). Após esta leitura, responda a questão a seguir, no item “Interagindo com o conhecimento”. 65 UNIDADE 10 – Conteúdos de Matemática para o Ensino Fundamental CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Transformar as aulas de matemática em fonte de prazer e motivação orientada para uma verdadeira aprendizagem implica em substituir as atividades repetitivas e as respostas mecanizadas pelos desafios que levam o aluno a pensar, experimentar, arriscar, testar as próprias ideias. Implica, ainda, banir o medo do erro, seja do aluno ou do professor. O objetivo desta unidade e o de conhecer os conteúdos propostos pelos PCNs, a serem trabalhados na matemática para os quatro ciclos de escolaridade. ESTUDANDO E REFLETINDO A MATEMÁTICA NO PRIMEIRO CICLO Os conteúdos encontram-se organizados da seguinte maneira: CONTEÚDOS CONCEITUAIS E PROCEDIMENTAIS 1. NÚMEROS NATURAIS E SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL: a) Reconhecimento dos números do cotidiano (cardinais, ordinais, representativos – Ex.: trazer revistas e jornais e analisar o contexto de uso dos números – para quantificar, ordenar ou representar: nº de telefone etc.); b) Uso da contagem, estimativa, correspondência de termos, emparelhamento; c) Uso de estratégias variadas para identificação de números em situações próprias de contagem e medidas; 66 d) Comparação entre coleções de objetos e ordenação de grandezas por meio da medida; e) Percepção da grandeza de um número pela quantidade de algarismos e pelo valor posicional dos mesmos (Ex.: comparar número de meninos e meninas da classe- perceber algarismos e quantidade); f) Leitura, escrita, comparação e ordenação de números conhecidos; g) Desenvolvimento de critérios que definam uma classificação de números (maior que, menor que, estar entre) e regras usadas em seriações (mais 1, mais 2, dobro, metade); h) Contagem em escalas ascendentes e descendentes (um em um, dois em dois, cinco em cinco etc., a partir de qualquer número dado); i) Identificação de regularidades na série numérica para nomear, ler e escrever números não tão usados; j) Uso da calculadora para produzir e comparar escritas numéricas; k) Realização de agrupamentos para facilitar a contagem e a comparação nas coleções; l) Leitura, escrita, comparação e ordenação de notações numéricas pela compreensão das características do sistema de numeração decimal (base, valor posicional). 2. OPERAÇÕES COM NÚMEROS NATURAIS: a) Compreender o significado das operações, sobretudo da adição e subtração; b) Utilizar os sinais convencionais nas operações; c) Perceber que problemas diferentes podem ser resolvidos por uma mesma operação e que diferentes operações podem ser utilizadas para resolver um mesmo problema. Por exemplo, temos vários problemas que são solucionados pela operação da soma e, por outro lado, observamos que um mesmo problema pode ser solucionado pela soma e/ou pela multiplicação; 67 d) Usar a decomposição numérica para o cálculo mental exato e aproximado (fazer os alunos chegarem à decomposição, por exemplo: 186= 100+80+6); e) Realizar estimativas de resultados a partir das operações (Ex.: mostre a operação e dê sugestões de resultados para os alunos escolherem e justificarem suas escolhas, sem que, para isso, tenham que efetuar a operação propriamente) e uso da calculadora para verificação; f) Cálculo da adição e subtração por técnicas e estratégias pessoais; g) Cálculo de multiplicação e divisão por meio de estratégias pessoais. 3. ESPAÇO E FORMA: a) Localizar e descrever pessoas/objetos no espaço com base em pontos de referência; b) Compreender movimentações de pessoas/objetos conforme indicações de direção; c) Dimensionar espaços, percebendo tamanho e forma; d) Perceber formas geométricas em objetos diversos; e) Construir e representar formas geométricas f) Comparar tamanhos e formas de objetos; g) Conhecer semelhanças e diferenças entre: cubos e quadrados; paralelepípedos e retângulos; pirâmides e triângulos, esferas e cubos; 4. GRANDEZAS E MEDIDAS: a) Comparação de grandezas de mesma natureza por meio de estratégias pessoais e instrumentos de medida comuns; b) Reconhecimento e relação entre unidades de tempo: dia, semana, quinzena, mês, bimestre, semestre, ano; c) Uso do calendário; d) Reconhecer cédulas/moedas e fazer trocas entre elas, considerando seus valores; 68 d) Percepção da relação entre medida e unidade. (Não é obrigatório o pleno domínio da medida padrão, pode-se optar pelo uso de medidas não convencionais: barbante, pegadas, mãos etc.); e) Descrição da medição utilizada; e) Leitura de horas, comparação entre digitais e analógicos. 5. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES: a) Leitura/Interpretação de informações em imagens; coleta e organização de dados; b) Registros pessoais para informação de dados; c) Exploração do número como um meio de organização e representação na vida (Ex.: números nos ônibus, telefones, placas, RG, bibliotecas, roupas, calçados etc.); d) Interpretação e construção de tabelas simples – gráficos de barras (Ex.: tabelas de peso, idade, altura da turma etc.); e) Produção de textos para interpretação de gráficos e tabelas. Como forma de ilustrar os conteúdos desenvolvidos no primeiro ciclo, assista aos vídeos abaixo: “Escola on line - Matemática é D+”. 1) Avançando na Multiplicação – 2ª série 2) Aprendendo a explicar – 2ª série A MATEMÁTICA NO SEGUNDO CICLO Os conteúdos encontram-se organizados da seguinte maneira: 69 CONTEÚDOS CONCEITUAIS E PROCEDIMENTAIS 1. NÚMEROS NATURAIS, SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL E NÚMEROS RACIONAIS: a) Aprofundar noções de escrita, contagem, comparação de quantidades, ordenação e estimativas dos números naturais; b) Reconhecer números naturais, decimais e racionais em situações do cotidiano (jornais, filmes, comércio, revistas etc.); c) Compreensão, leitura e representação de números racionais escritos na forma decimal (vírgula); d) Comparar e ordenar números racionais na forma decimal; e) Localizar na reta numérica os números racionais na forma decimal; f) Ler, escrever, comparar e ordenar frações de uso cotidiano; g) Compreender que o número racional na forma fracionária possui representações diversas (frações equivalentes – formas decimais/centesimais) – Ex.: fazer uma tira de 10 cm inteira para representar uma unidade (cor laranja), dividir essa tira em dez partes iguais (decimais- cor azul) e depois dividir em 100 tiras (centesimal - cor vermelha): fazer comparações. h) Reconhecer o uso da porcentagem no cotidiano. 2. OPERAÇÕES COM NÚMEROS NATURAIS E RACIONAIS: a) Desenvolvimento do cálculo mental e escrito em todas as operações com números naturais; b) Análise e resolução de problemas com os números racionais (calculadora pode ser usada); c) Adição e subtração de números racionais na forma decimal – uso de técnicas convencionais; d) Capacidade de decisão sobre o uso do cálculo mental ou da operação convencional de acordo com a situação e problema apresentados; 70 e) Cálculo de porcentagens simples. 3. ESPAÇO E FORMA: a) Uso do quadriculado para representar a posição de pessoas/objetos; b) Descrever, interpretar e representar os movimentos de pessoas/objetos noespaço, construir itinerários; c) Fazer uso de maquetes como forma de representação; d) Reconhecer as formas geométricas (triângulo, quadrado, losango, retângulo, círculo etc.); e) Identificar semelhanças e diferenças entre polígonos (números de lado, ângulo e simetria). 4. GRANDEZAS E MEDIDAS: a) Identificar e comparar grandezas mensuráveis, optando pela medida mais adequada (Ex.: metro para comprimento, quilograma para massa etc.); b) Conhecer e fazer uso de medidas como metro, centímetro, quilômetro, grama, miligrama, quilograma, litro, mililitro, metro quadrado e alqueire. 5. ANÁLISE E TRATAMENTO DE INFORMAÇÕES: a) Coletar, organizar e descrever dados; b) Ler e interpretar dados apresentados de maneira formal: tabelas, listas, diagramas, gráficos; c) Fazer previsões e estabelecer relações, atentando para a frequência de um evento, a fim de resolver problemas simples de probabilidade; d) Desenvolver formas pessoais de combinar elementos de uma coleção e contabilizá-los. 71 BUSCANDO SABERES Um documento importante para pensarmos o trabalho com a matemática no Ensino Fundamental é o documento intitulado “Orientações Curriculares do Estado de São Paulo: Língua Portuguesa e Matemática”, que contem: objetivos do ensino, expectativas de aprendizagem e orientações didáticas. Apresentamos a seguir, as expectativas de aprendizagem propostas por este documento para a área de Matemática. EXPECATIVAS DE APRENDIZAGEM Ao final da 1ª série do Ciclo I, os alunos deverão ser capazes de: Conteúdos Expectativas de aprendizagem Números Utilizar números para expressar quantidades de elementos de uma coleção e para expressar a ordem numa sequência. Utilizar diferentes estratégias para quantificar elementos de uma coleção: contagem, formar pares, estimativa e correspondência de agrupamentos. Organizar agrupamentos para facilitar a contagem e a comparação entre coleções. Contar em escalas ascendentes e descendentes de um em um, de dois em dois, de cinco em cinco, de dez em dez etc. Reconhecer grandezas numéricas pela identificação da quantidade de algarismos e da posição ocupada por eles na escrita numérica. Produzir escritas numéricas identificando regularidades e regras do sistema de numeração decimal. Ler, escrever, comparar e ordenar números pela compreensão das características do sistema de numeração. Contar em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número dado. Operações Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo significados da adição. Construir fatos básicos da adição a partir de situações-problema, para constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo. Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a adição. Interpretar, resolver e formular situações-problema, compreendendo significados da subtração. Construir fatos básicos da subtração a partir de situações-problema para a constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo. Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a subtração. Resolver situações-problema, compreendendo significados da multiplicação e da divisão, utilizando estratégias pessoais. Espaço e forma Localizar pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referência e também em indicações de posição. Identificar 72 a movimentação de pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referência e também em indicações de direção e sentido. Observar e reconhecer figuras geométricas tridimensionais presentes em elementos naturais e nos objetos criados pelo homem e identificar algumas de suas características. Grandeza e medidas Identificar unidades de tempo – dia, semana, mês, bimestre, semestre, ano – e utilizar calendários. Comparar grandezas de mesma natureza, por meio do uso de instrumentos de medida conhecidos – fita métrica, balança, recipientes de um litro etc. Tratamento da informação Coletar e organizar informações, por meio de registros pessoais (idade, números de irmãos, meses de nascimento, esportes preferidos etc.). Ao final da 2ª série do Ciclo I, os alunos deverão ser capazes de: Conteúdos Expectativas de aprendizagem Números - Ler, escrever, comparar e ordenar números pela compreensão das características do sistema de numeração. - Contar em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número dado. Operações - Interpretar e resolver situações-problema, envolvendo adição e subtração. - Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo mental e exato das adições. - Calcular a soma de números naturais, utilizando técnica convencional ou não. - Utilizar estimativas para avaliar a adequação do resultado de uma adição. - Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo mental e exato das subtrações. - Calcular a subtração entre dois números naturais, utilizando técnica convencional ou não. - Utilizar estimativas para avaliar a adequação do resultado de uma subtração. - Interpretar e resolver e situações-problema, compreendendo significados da multiplicação, utilizando estratégias pessoais. - Calcular resultados de multiplicação, por meio de estratégias pessoais. - Construir fatos básicos da multiplicação (por 2, por 3, por 4, por 5) a partir de situações-problema, para constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo. - Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo significados da divisão, utilizando estratégias pessoais. Espaço e forma - Representar a localização de um objeto ou pessoa no espaço pela análise de maquetes, esboços, croquis. - Representar a movimentação de um objeto ou pessoa no espaço por meio de esboços, croquis que mostrem trajetos. - Diferenciar figuras tridimensionais das figuras bidimensionais. - Perceber semelhanças e diferenças entre cubos e quadrados, 73 paralelepípedos e retângulos. - Perceber semelhanças e diferenças entre pirâmides e triângulos, esferas e círculos. Grandezas e medidas - Reconhecer cédulas e moedas que circulam no Brasil e realizar possíveis trocas entre cédulas e moedas em função de seus valores; - Estabelecer relação entre unidades de tempo - dia, semana, mês, bimestre, semestre, ano e fazer leitura de horas; - Produzir escritas que representem o resultado de uma medição, comunicando o resultado por meio de seus elementos constitutivos. Tratamento da informação - Ler e interpretar tabelas simples. - Ler e compreender gráficos de coluna. Ao final da 3ª série do Ciclo I, os alunos deverão ser capazes de: Conteúdos Expectativas de aprendizagem Números - Contar em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número natural dado. - Reconhecer números naturais e números racionais no contexto diário. - Ler números racionais de uso frequente na representação fracionária e decimal. - Reconhecer as regras do sistema de numeração decimal. Operações Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números naturais. - Construir fatos básicos da multiplicação (por 6, por 7, por 8 e por 9) a partir de situações-problema para constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo. - Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a multiplicação. - Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a divisão. - Calcular o resultado de operações com os números naturais por meio de estratégias pessoais e pelo uso de técnicas operatórias convencionais. Espaço e forma - Interpretar no plano a posição de umapessoa ou objeto. - Representar no plano a movimentação de uma pessoa ou objeto. - Reconhecer semelhanças e diferenças entre corpos redondos (esfera, cone e o cilindro). - Reconhecer semelhanças e diferenças entre poliedros (prismas e pirâmides) e identificar elementos como faces, vértices e arestas. - Explorar planificações de figuras tridimensionais. - Identificar figuras poligonais e circulares nas superfícies planas das figuras tridimensionais. Grandezas e medidas - Reconhecer as unidades usuais de medida (metro, centímetro, quilômetro, grama, miligrama, quilograma, litro, mililitro). - Utilizar em situações-problema unidades usuais de medida (metro, centímetro, quilômetro, grama, miligrama, quilograma, litro, mililitro). 74 - Utilizar unidades usuais de temperatura em situações-problema. - Utilizar medidas de tempo (dias e semanas, horas e dias, semanas e meses). - Utilizar o sistema monetário brasileiro em situações-problema. - Estabelecer relações entre unidades usuais de medida de uma mesma grandeza (metro e centímetro, metro e quilômetro, litro e mililitro, grama e quilograma). - Calcular o perímetro e a área de figuras planas. Tratamento da informação - Resolver situações-problema com dados apresentados de maneira organizada por meio de tabelas simples e gráficos de colunas. - Interpretar gráficos e tabelas com base em informações contidas em textos jornalísticos, científicos ou outros. Ao final da 4ª série do Ciclo I, os alunos deverão ser capazes de: Conteúdos Expectativas de aprendizagem Números - Compreender e utilizar as regras do sistema de numeração decimal. - Reconhecer e representar números racionais. - Explorar diferentes significados das frações em situações-problema: parte-todo, quociente e razão. - Escrever e comparar números racionais de uso frequente, nas representações fracionária e decimal. - Identificar e produzir frações equivalentes. Operações - Compreender diferentes significados das operações envolvendo números naturais. - Resolver adições e subtrações com números naturais, por meio de estratégias pessoais e do uso de técnicas operatórias convencionais. - Resolver multiplicações e divisões com números naturais, por meio de estratégias pessoais e do uso de técnicas operatórias convencionais. - Compreender diferentes significados da adição e subtração, envolvendo números racionais escritos na forma decimal. - Resolver operações de adição e subtração de números racionais na forma decimal, por meio de estratégias pessoais e pelo uso de técnicas operatórias convencionais. - Resolver problemas que envolvem o uso da porcentagem no contexto diário, como 10%, 20%, 25%, 50%. Espaço e forma - Interpretar e representar a posição ou a movimentação de uma pessoa ou objeto no espaço e construir itinerários. - Reconhecer semelhanças e diferenças entre poliedros. - Identificar elementos como faces, vértices e arestas de poliedros. - Identificar semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critérios como número de lados, número de ângulos, eixos de simetria, rigidez. - Compor e decompor figuras planas. - Ampliar e reduzir figuras planas. Grandezas e medidas - Utilizar unidades usuais de tempo e temperatura em situações- problema. - Utilizar o sistema monetário brasileiro em situações-problema. 75 - Utilizar unidades usuais de comprimento, massa e capacidade em situações-problema. - Calcular perímetro de figuras. - Calcular área de retângulos ou quadrados. - Utilizar medidas como cm², m², km² e alqueire. Tratamento da informação - Resolver problemas com dados apresentados de maneira organizada por meio de tabelas simples, gráficos de colunas, tabelas de dupla entrada e gráficos de barras. - Ler informações apresentadas de maneira organizada por meio de gráficos de linha e de setor. - Construir gráficos e tabelas com base em informações contidas em textos jornalísticos, científicos ou outros. - Identificar as possíveis maneiras de combinar elementos de uma coleção e de contabilizá-las por meio de estratégias pessoais. - Utilizar a noção de probabilidade em situações-problema simples. 76 UNIDADE 11 – Temas Transversais – Meio Ambiente e Saúde CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, busca-se compreender, em primeiro lugar, o conceito constituído pelo termo “meio ambiente” que tem sido utilizado para indicar um “espaço” (com seus componentes bióticos e abióticos e suas interações) em que um ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o. No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço” sociocultural. Interagindo com os elementos do seu ambiente, a humanidade provoca tipos de modificação que se transformam com o passar da história. E, ao transformar o ambiente, o homem também muda sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. (BRASIL, PCN, 1997, p. 26). Este conteúdo dedica-se a compreender essas estreitas relações. ESTUDANDO E REFLETINDO Com base nas considerações e reflexões propostas no PCN de 1997 sobre Meio ambiente, tem-se o que segue. É preciso reconhecer a incidência cada vez mais marcante da temática sobre o meio ambiente que perpassa todos os espaços sociais. Da pequena comunidade rural aos bancos da academia, essa temática está presente ou pelo pedido de chuva que está estragando a lavoura familiar ou pelo discurso da ciência que preconiza dificuldades para nossa morada, o Planeta Terra. A questão ambiental vem sendo considerada como cada vez mais urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis. À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e 77 conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos em função da tecnologia disponível. Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, trazendo a industrialização, com sua forma de produção e organização do trabalho, além da mecanização da agricultura, que inclui o uso intenso de agrotóxicos, e a urbanização, com um processo de concentração populacional nas cidades. A tecnologia empregada evoluiu rapidamente com conseqüências indesejáveis que se agravam com igual rapidez. A exploração dos recursos naturais passou a ser feita de forma demasiadamente intensa. Recursos não- renováveis, como o petróleo, ameaçam escassear. De onde se retirava uma árvore, agora retiram-se centenas. Onde moravam algumas famílias, consumindo alguma água e produzindo poucos detritos, agora moram milhões de famílias, exigindo imensos mananciais e gerando milhares de toneladas de lixo por dia. Essas diferenças são determinantes para a degradação do meio onde se insere o homem. Sistemas inteiros de vida vegetal e animal são tirados de seu equilíbrio. E a riqueza, gerada num modelo econômico que propicia a concentração da renda, não impede o crescimento da miséria e da fome. Algumas das consequências indesejáveis desse tipo de ação humana são, por exemplo, o esgotamento do solo, a contaminação da água e a crescente violência nos centros urbanos, além da perda da saúde de grandes segmentos populacionais. Por falar em saúde, vamos remeter este momento ao que fala o Ministério da Educação por seu PCN. O ensino de saúde tem sido um desafio para a educação, no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida. As experiências mostram que transmitir informações a respeito do funcionamento do corpoe descrição das características das doenças, bem como um elenco de hábitos de higiene, não é suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes de vida saudável. 78 É preciso educar para a saúde levando em conta todos os aspectos envolvidos na formação de hábitos e atitudes que acontecem no dia-a-dia da escola. Por esta razão, a educação para a Saúde será tratada como tema transversal, permeando todas as áreas que compõem o currículo escolar, inclusive referindo-se aos cuidados com o meio ambiente onde todos os seres vivos habitam e devem ter sua saúde preservada. BUSCANDO SABERES De fato, quando se trata de decidir e agir com relação à qualidade de vida das pessoas, é fundamental trabalhar a partir da visão que cada grupo social tem do significado do termo “meio ambiente” e, principalmente, de como cada grupo percebe o seu ambiente e os ambientes mais abrangentes em que está inserido. São fundamentais, na formação de opiniões e no estabelecimento de atitudes individuais, as representações coletivas dos grupos sociais aos quais os indivíduos pertencem. E essas representações sociais são dinâmicas, evoluindo rapidamente. Daí a importância de se identificar qual representação social cada parcela da sociedade tem do meio ambiente, para se trabalhar tanto com os alunos como nas relações escola-comunidade. De qualquer forma, o termo “meio ambiente” tem sido utilizado para indicar um “espaço” (com seus componentes bióticos e abióticos e suas interações) em que um ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o. No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço” sociocultural. Interagindo com os elementos do seu ambiente, a humanidade provoca tipos de modificação que se transformam com o passar da história. Componentes bióticos e abióticos são os componentes de um ecossistema. Componentes bióticos são os seres vivos: animais (inclusive o homem), vegetais, 79 fungos, protozoários e bactérias, bem como as substâncias que os compõem ou são geradas por eles. Componentes abióticos são aqueles não-vivos: água, gases atmosféricos, sais minerais e todos os tipos de radiação De um lado, distinguem-se aqueles elementos que são “como a natureza os fez”, sem a intervenção direta do homem: desde cada recurso natural presente num sistema, até conjuntos de plantas e animais nativos, silvestres; paisagens mantidas quase sem nenhuma intervenção humana; nascentes, rios e lagos não atingidos pela ação humana; etc. Mas, de fato, não existe uma natureza intocada pelo homem, uma vez que a espécie humana faz parte da trama toda da vida no planeta e vem habitando e interagindo com os mais diferentes ecossistemas há mais de um milhão de anos. Essa visão permite discutir a necessidade, de um lado, de preservar e cuidar do patrimônio natural para garantir a sobrevivência das espécies, a biodiversidade, conservar saudáveis os recursos naturais como a água, o ar e o solo; e, de outro lado, preservar e cuidar do patrimônio cultural, construído pelas sociedades em diferentes lugares e épocas. Tudo isso é importante para garantir a qualidade de vida e a saúde da população, ainda que se discuta o conceito saúde. . Diversas tentativas vêm sendo feitas a fim de se construir um conceito mais dinâmico, que dê conta de tratar a saúde não como imagem complementar da doença e sim como construção permanente de cada indivíduo e da coletividade, que se expressa na luta pela ampliação do uso das potencialidades de cada pessoa e da sociedade, refletindo sua capacidade de defender a vida. Assumido o conceito da OMS, nenhum ser humano (ou população) será totalmente saudável ou totalmente doente. Ao longo de sua existência, viverá condições de saúde/doença, de acordo com suas potencialidades, suas condições de vida e sua interação com elas, inclusive levando-se em consideração as condições objetivas do meio ambiente em que vivem. 80 O conceito de “Cidade Saudável”, originado no Canadá na década de 80, serve hoje como parâmetro para nortear projetos de saúde que vêm se desenvolvendo em diversas partes do mundo, a partir da sua incorporação pela OMS. Considera-se que uma “Cidade Saudável” deve ter: •a)uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, na qual ocorre alto grau de participação da população nas decisões do poder público; •b) ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro; satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, incluídos a alimentação, a moradia, o trabalho, o acesso a serviços de qualidade em saúde, à educação e à assistência social; •c) vida cultural ativa, sendo promovidos o contato com a herança cultural e a participação numa grande variedade de experiências; •d) economia forte, diversificada e inovadora. Nesse contexto, falar de saúde implica levar em conta, por exemplo, a qualidade da água que se consome e do ar que se respira, as condições de fabricação e uso de equipamentos nucleares ou bélicos, o consumismo desenfreado e a miséria, a degradação social ou a desnutrição, estilos de vida pessoais e formas de inserção das diferentes parcelas da população no mundo do trabalho; envolve aspectos éticos relacionados ao direito à vida e à saúde, direitos e deveres, ações e omissões de indivíduos e grupos sociais, dos serviços privados e do poder público. A saúde é produto e parte do estilo de vida e das condições de existência, sendo a vivência do processo saúde/doença uma forma de representação da inserção humana no mundo. 81 UNIDADE 12 – Temas Transversais – Ética e Pluralidade Cultural CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Na perspectiva do que propõe o PCN, documento fundamental desta unidade, podemos ler e compreender os objetivos deste tema transversal. A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. ESTUDANDO E REFLETINDO É importante distinguir diversidade cultural, a que o tema se refere, de desigualdade social. As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de 82 poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação, articulam-se no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmenteo Brasil tem produzido também experiências de convívio, reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. A singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais justa. Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto, para a própria nação. Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e 83 funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se veem expostas. Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas, desenvolveram uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e sedimentavam injustiças. Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na Constituição Federal de 19881 , da discriminação racial como crime. Mais ainda, há mecanismos de proteção e de promoção de identidades étnicas, como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais, assim como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais. Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo. A escola tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo. Em primeiro lugar, porque é um espaço em que pode se dar a convivência entre estudantes de diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família. BUSCANDO SABERES Convivem hoje no território nacional cerca de 210 etnias indígenas5 , cada uma com identidade própria e representando riquíssima diversidade sociocultural, junto a uma imensa população formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de imigrantes e descendentes de povos de vários continentes, com diferentes tradições culturais e religiosas. A dificuldade para categorizar os grupos que vieram para o Brasil e formaram sua população é indicativo da diversidade, seja o recorte continental, ou regional, nacional, religioso, cultural, linguístico, racial/étnico. Portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, italianos, alemães, poloneses, húngaros, lituanos, egípcios, sírios, libaneses, armênios, indianos, japoneses, chineses, coreanos, 84 ciganos, latino-americanos, católicos, evangélicos, batistas, budistas, judeus, muçulmanos, tradições africanas, situam-se entre outras inumeráveis categorias de identificação. Além disso, um mesmo indivíduo pode vincular-se a diferentes grupos ao mesmo tempo, reportando-se a cada um deles com igual sentido de pertinência. A diversidade marca a vida social brasileira. Diferentes características regionais e manifestações de cosmologias ordenam de maneiras diferenciadas a apreensão do mundo, a organização social nos grupos e regiões, os modos de relação com a natureza, a vivência do sagrado e sua relação com o profano. O campo e a cidade propiciam às suas populações vivências e respostas culturais diversas, que implicam ritmos de vida, ensinamentos de valores e formas de solidariedade distintas. Os processos migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças de fala, de costumes, de valores, de projetos de vida. Frequentemente, porém, esse processo complexo presente na vida brasileira é ignorado e/ou descaracterizado. Na escola, onde a diversidade está presente diretamente naqueles que constituem a comunidade, essa presença tem sido ignorada, silenciada ou minimizada. 85 UNIDADE 13 – Temas Transversais – Orientação Sexual CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Mais uma vez o documento oficial PCN fornece a base desta unidade para servir de fundamentação aos conteúdos teóricos a serem oferecidos. A seguir pode-se ler o que realmente o tema em pauta deve abordar e deve prevalecer para as reflexões e para o debate entre todos que de alguma forma estão envolvidos com essa temática em âmbito da unidade escolar. Ao tratar do tema Orientação Sexual, busca-se considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento até a morte. Relaciona-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade com responsabilidade. Engloba as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao outro e à diversidade de crenças, valores e expressões culturais existentes numa sociedade democrática e pluralista. Inclui a importância da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis/Aids e da gravidez indesejada na adolescência, entre outras questões polêmicas. Pretende contribuir para a superação de tabus e preconceitos ainda arraigados no contexto sociocultural brasileiro. O objetivo deste documento é promover reflexões e discussões de técnicos, professores, equipes pedagógicas, bem como de pais e responsáveis, com a finalidade de sistematizar a ação pedagógica da escola no trato de questões da sexualidade. ESTUDANDO E REFLETINDO A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de ensino fundamental e médio vem se intensificando desde a década de 70, provavelmente em função das mudanças comportamentais dos jovens dos 86 anos 60, dos movimentos feministas e de grupos que pregavam o controle da natalidade. Com diferentes enfoques e ênfases, há registros de discussões e de trabalhos em escolas desde a década de 20. A retomada contemporânea dessa questão deu-se juntamente com os movimentos sociais que se propunham, com a abertura política, repensar o papel da escola e dos conteúdos por ela trabalhados. Mesmo assim não foram muitas as iniciativas tanto na rede pública como na rede privada de ensino. A partir de meados dos anos 80, a demanda por trabalhos na área da sexualidade nas escolas aumentou em virtude da preocupação dos educadores com o grande crescimento da incidência de gravidez indesejada entre as adolescentes e com o risco da infecção pelo HIV (vírus da Aids1) entre os jovens. Antes, acreditava-se que as famílias apresentavam resistência à abordagem dessas questões no âmbito escolar, mas atualmente sabe-se que os pais reivindicam a orientação sexual nas escolas, pois reconhecem não só a sua importância para crianças e jovens, como também a dificuldade de falar abertamente sobre o assunto em casa. Uma pesquisa do Instituto DataFolha, realizada em dez capitais brasileiras e divulgada em junho de 1993, constatou que 86% das pessoas ouvidas eram favoráveis à inclusão de Orientação Sexual nos currículos escolares. As manifestações da sexualidade afloram em todas as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são respostas habituais dadas por profissionais da escola, baseados na ideia de que a sexualidade é assuntopara ser lidado apenas pela família. Os temas polêmicos da sexualidade abrangem uma compreensão ampla da realidade, demandam estudo, são fontes de reflexão e desenvolvimento do pensamento crítico e, portanto, exigem maior preparo dos educadores. É importante, porém, que a escola possa oferecer um espaço específico dentro da rotina escolar para essa finalidade (ver, neste PCN, o tópico sobre trabalho com Orientação Sexual em espaço específico). 87 Ao questionar tabus e preconceitos ligados à sexualidade e trabalhar com conhecimentos e informações que visam à promoção do bem-estar e da saúde, o trabalho de Orientação Sexual se entrelaça com objetivos e conteúdos contemplados também nos outros temas transversais (Ética, Saúde, Trabalho e Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente). BUSCANDO SABERES Os temas polêmicos da sexualidade abrangem uma compreensão ampla da realidade, demandam estudo, são fontes de reflexão e desenvolvimento do pensamento crítico e, portanto, exigem maior preparo dos educadores. É importante, porém, que a escola possa oferecer um espaço específico dentro da rotina escolar para essa finalidade (ver, neste documento, o tópico sobre trabalho com Orientação Sexual em espaço específico). Ao questionar tabus e preconceitos ligados à sexualidade e trabalhar com conhecimentos e informações que visam à promoção do bem-estar e da saúde, o trabalho de Orientação Sexual se entrelaça com objetivos e conteúdos contemplados também nos outros temas transversais (Ética, Saúde, Trabalho e Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente). Os conteúdos foram organizados em três blocos ou eixos norteadores: • Corpo: matriz da sexualidade • Relações de Gênero • Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids A abordagem destes temas com os alunos buscará favorecer a apropriação do próprio corpo pelos adolescentes, assim como contribuir para o fortalecimento da autoestima e conquista de maior autonomia, dada a importância do corpo na identidade pessoal. Do ponto de vista dos alunos, isso implica construir noções, imagens, conceitos e valores a respeito do corpo em que esteja incluída a sexualidade como algo inerente, necessário e fonte de prazer na vida humana. As ideias e concepções veiculadas pelas diferentes áreas (Língua Portuguesa, Matemática, 88 Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física) contribuem para a construção dessa visão do corpo por meio da explicitação das dimensões da sexualidade nos seus conteúdos. Por exemplo, em História, a inclusão de conteúdos a respeito de como a sexualidade é vivida em diferentes culturas, em diferentes tempos, em diferentes lugares e como se expressa pelo vestuário, cuidados pessoais, regras, interdições e valorização do comportamento (o hábito presente em algumas culturas de as mulheres tomarem banho vestidas, a nudez e a liberdade entre as crianças indígenas brasileiras etc.) permitirá compreender que, apesar de parecer algo tão “natural”, o corpo e os modos de usá-lo, representá-lo e valorizá-lo tem determinações sociais de várias ordens: econômica, política e cultural. E que, por outro lado, ainda que das formas mais diversas, a sexualidade sempre teve papel importante na vida do ser humano. É sempre importante investigar o conhecimento prévio que os alunos têm sobre o assunto a ser tratado. Em geral, mesmo quando não têm informações objetivas, eles imaginam algo a respeito, pois são questões muito significativas, que mobilizam neles grande curiosidade e ansiedade. A explicitação dessas informações e fantasias relacionadas com as mudanças do corpo e com a reprodução possibilita tratar o assunto de modo claro, diminuir a ansiedade e assimilar noções corretas do ponto de vista científico. Os educadores precisam estar atentos para a necessidade de repetir conteúdos já abordados. Os alunos vivem suas curiosidades e interesses na área da sexualidade em momentos próprios e diferentes uns dos outros, ocorrendo muitas vezes estudo e discussão de um tema com pouca apropriação desse conhecimento para alguns. A retomada é importante e deve ser feita sempre que as questões trazidas pelos alunos apontarem sua pertinência. Na dinâmica dessa prática, o papel do coordenador é, portanto, de propositor em alguns tópicos e mediador em outros, devendo sempre estar atento para as radicalizações tão frequentes entre os adolescentes. O momento de discussão das regras é uma excelente oportunidade de exercitar o convívio democrático. 89 Coerentemente com a metodologia em questão e proposta para a discussão de sexualidade na escola, não há programas “prontos” a serem apresentados aos alunos. Eles é que devem ser convidados a trazer suas demandas e interesses ao educador. Muitas vezes se faz necessário facilitar a explicitação dessas questões, como com a introdução de uma “caixa” de perguntas anônimas. É muito comum que os alunos tragam suas dúvidas, angústias e questionamentos em sexualidade com perguntas diretas. É função do coordenador, em vez de respondê-las uma a uma, retirar dessas perguntas o tema proposto. Por exemplo: perguntas do tipo “o que é tesão?”, “quando a gente está preparado para transar?”, “ter relações sexuais na gravidez prejudica o bebê?”, “como nascem os gêmeos?”, “por que a mulher grávida não menstrua?” ou “é possível engravidar mesmo sendo virgem?” trazem como temas a serem discutidos, além do prazer, os mecanismos de concepção, gravidez e parto. A montagem do programa é singular para cada turma, a partir de seus interesses. Isso não significa um papel passivo do coordenador. Pelo contrário, sua função é ativa. Cabe a ele a organização dos temas de forma didática, explicitando que alguns tópicos são “pré-requisito” para outros, assim como a proposição de temáticas fundamentais não trazidas naquele momento pelos alunos e os três eixos básicos do trabalho: Corpo: matriz da sexualidade, Relações de Gênero e Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids. Uma vez organizado o programa, ele não precisa ser seguido de forma rígida, podendo ser alterado caso algo significativo indique a introdução de novo assunto ou a alteração da ordem inicialmente prevista. Esse programa constitui guia para o trabalho subseqüente e preparação das aulas. 90 UNIDADE 14 – Temas Transversais – Trabalho e Consumo CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Ainda com base no documento oficial PCN, deve ser reconhecido que o tema transversal Trabalho/Consumo torna-se adequado para preparar os jovens para a sua inclusão no mundo do trabalho, e é apropriado para discutir assuntos como consumo, direitos, desemprego etc. A discussão sobre trabalho e consumo na escola busca explicitar as relações sociais nas quais se produzem as necessidades e os desejos, e os produtos e serviços que irão satisfazê-los. Conhecer e discutir as formas de realização e organização do trabalho e do consumo, compreendendo suas relações, dependências, interações, os direitos vinculados, as contradições e os valores a eles associados, subsidiará a compreensão da própria realidade, a construção de uma auto-imagem positiva e uma atitude crítica, para a valorização de formas de ação que favoreçam uma melhor distribuição da riqueza produzida socialmente. ESTUDANDO E REFLETINDO As relações que os seres humanos estabelecem entre si e com a natureza, de caráter econômico, político, cultural, produzem modos de ser e de viver e definem, a cada momento, o que será considerado imprescindível ao bem viver: um conjunto de bens e serviços, produzidos por toda a sociedade, que poderão ser usufruídos. Materializado nos objetos de consumo, nos produtos e bens materiais ou simbólicos e nos serviços, encontra-se o trabalho humano, realizado sob determinadas relações e condições.As relações existentes entre os homens em sociedade podem ser analisadas a partir das relações de trabalho e consumo, 91 mas ficam muitas vezes obscurecidas pela frequente afirmação de que todos são igualmente livres tanto para trabalhar e escolher um tipo de trabalho como para consumir. Essa afirmação não considera as desigualdades de acesso ao trabalho, aos bens de consumo e aos serviços, ou a distribuição diferenciada entre as classes sociais. Consumir, portanto, não é um ato “neutro”: significa participar de um cenário de disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo, tornando-se um momento em que os conflitos, originados pela desigual participação na estrutura produtiva, ganham continuidade por meio da distribuição e apropriação de bens e serviços. A história do movimento dos consumidores (consumerismo) reflete esta compreensão. Considera-se que o movimento dos consumidores iniciou-se em Nova York, em 1891, quando surgiu uma associação de consumidores denominada New York Consumers League, cuja luta era pela melhoria das condições de trabalho locais, contra a exploração do trabalho feminino e infantil em fábricas e comércio. Essa associação elaborava “Listas Brancas”, contendo o nome dos produtos que os consumidores deveriam escolher preferencialmente, pois as empresas que os produziam e comercializavam respeitavam os direitos dos trabalhadores, como salário mínimo, horários de trabalho razoáveis e condições de higiene condignas. Era uma forma de influenciar a conduta das empresas pelo poder de compra dos consumidores. Se individualmente e de forma isolada pouco se pode fazer em relações marcadas pela desigualdade de forças e de poder, trabalhadores e consumidores conquistam formas de organização, e, por meio delas, garantias e direitos concretizados em lei. As relações de trabalho e consumo produzem e reproduzem as tensões entre desigualdade e luta pela igualdade, injustiça e luta pela justiça. É assim que se constrói, a cada momento, a cidadania, como uma série de lutas em prol da afirmação dos direitos ligados à liberdade, à participação nas decisões públicas e à igualdade de condições dignas de vida, modificando, dessa forma, a distribuição de riqueza e poder na sociedade. 92 Ao se conceber a educação escolar como uma prática que tem a possibilidade de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades, é papel da escola discutir como poderá atuar na educação das crianças e dos jovens na perspectiva da participação em relações sociais, políticas e culturais cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente. BUSCANDO SABERES De forma sucinta, o trabalho pode ser definido como a modificação da natureza operada pelos seres humanos de forma a satisfazer suas necessidades. Nessa relação, os homens modificam e interferem nas coisas naturais, transformando-as em produtos do trabalho. O trabalho, ao mesmo tempo que organiza e transforma a natureza, organiza e transforma o próprio homem e sua sociedade. O trabalho não é uma categoria abstrata ou sem localização histórica. Cada sociedade cria suas formas de divisão e organização do trabalho, de regimes de trabalho e de relação entre as pessoas no e para o trabalho, além de instrumentos e técnicas para realizá-lo. Por isso varia também aquilo que é considerado trabalho e o valor a ele atribuído. Ao tomar um copo de leite em casa, pouca atenção se dá aos significados dessa ação. O gostoso líquido foi produzido, embalado, transportado e vendido até chegar ao copo para ser consumido. Aliás, o copo também foi produzido, embalado, transportado e vendido, envolvendo um grande número de trabalhadores de diversas esferas da produção, distribuição e comercialização, esferas que, por sua vez, consumiram quantidades de energia e matéria-prima. Como então esse leite chegou até o momento de poder ser consumido? Nas cidades, provavelmente seu filho ou outra pessoa — dependendo da divisão e organização do trabalho doméstico — foi até a padaria comprar um litro de leite. Seguramente pediu a um balconista aquilo que precisava. Esse balconista 93 teve como primeira tarefa do seu dia de trabalho guardar o lote de leite, que chegou de madrugada, na geladeira, para que não estragasse. Ele é um trabalhador, funcionário do dono do estabelecimento. Pode ser um empregado com registro na Carteira de Trabalho conforme manda a lei, ou, caso contrário, fazer parte do contingente de trabalhadores que vivem relações de trabalho marcadas pela precarização. Hoje o direito ao trabalho é o ponto central, pois ameaçado por um modelo de desenvolvimento gerador de desemprego. Por outra parte, toda a temática dos direitos conquistados está na pauta, pois esse mesmo modelo tende à precarização das relações de trabalho. Convive-se, portanto com a luta contra o desemprego e pela manutenção e criação de novos empregos, a defesa dos direitos já conquistados, a extensão dos direitos previdenciários aos trabalhadores do mercado “informal”, e com conquistas mais recentes, contra as formas de discriminação por etnia, sexo e idade e ao portador de necessidades especiais. Paralelamente, todo trabalhador é também um consumidor. Se pode ser prejudicado enquanto trabalhador, também poderá ser prejudicado enquanto consumidor. Por essa razão, organizações governamentais e não-governamentais desenvolvem um trabalho de proteção e defesa dos direitos dos consumidores que antecede a própria promulgação do Código de Defesa do Consumidor, de 11 de setembro de 1990. Esta lei, ainda pouco conhecida por um conjunto significativo da população, tem como objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida. Os direitos básicos do consumidor são: a) a proteção da vida, saúde e segurança contra riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 94 b) a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços assegurada a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; c) a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; d) a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de bens e serviços; e) a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; f) a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais individuais, coletivos ou difusos; g) o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; h) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil; i) a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 95 UNIDADE 15 – O novo Ensino Médio segundo os PCN (PCNEM) CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Esta unidade tem como objetivo o de conhecer algumas propostas que têm sido discutidas sobre uma nova reestruturação curricular para o Ensino Médio, com ênfase na do PCNEM. ESTUDANDO E REFLETINDO Em 2011, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) revelou resultados insuficientes das escolas do Ensino Médio,o que levou o MEC a planejar uma modernização no currículo. A discussão sobre uma reorganização do currículo não é nova. Em 2011º Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio que propõem uma flexibilização do formato atual. “O diagnóstico é que o currículo do ensino médio é muito inchado - em média são 13 disciplinas”. (http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/08/17/novo-curriculo-do-ensino- medio-podera-ser-inspirado-no-enem.htm, acesso em 18 de setembro de 21014). Conforme os PCNs do Ensino Médio: Dois fatores de natureza muito diversa, mas que mantêm entre si relações observáveis, passam a determinar a urgência em se repensar as diretrizes gerais e os parâmetros curriculares que orientam esse nível de ensino. Primeiramente, o fator econômico se apresenta e se define pela ruptura tecnológica característica da chamada terceira revolução técnico-industrial, na qual os avanços da microeletrônica têm um papel preponderante, e, a partir década de 80, se acentuam no País. A denominada “revolução informática” promove mudanças radicais na área do conhecimento, que passa a ocupar um lugar central nos processos de desenvolvimento, em geral. É possível afirmar que, nas próximas décadas, a educação vá se transformar mais rapidamente do que em muitas outras, em 96 função de uma nova compreensão teórica sobre o papel da escola, estimulada pela incorporação das novas tecnologias. As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio se pautam nas constatações sobre as mudanças no conhecimento e seus desdobramentos, no que se refere à produção e às relações sociais de modo geral. Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de desenvolvimento da industrialização na América Latina, a política educacional vigente priorizou, como finalidade para o Ensino Médio, a formação de especialistas capazes de dominar a utilização de maquinarias ou de dirigir processos de produção. Esta tendência levou o Brasil, na década de 70, a propor a profissionalização compulsória, estratégia que também visava a diminuir a pressão da demanda sobre o Ensino Superior. Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização. São estes os princípios mais gerais que orientam a reformulação curricular do Ensino Médio e que se expressam na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96. Se é necessário pensar em reformas curriculares, levando em conta as mudanças estruturais que alteram a produção e a própria organização da sociedade que identificamos como fator econômico, não é menos importante conhecer e analisar as condições em que se desenvolve o sistema educacional do País. No Brasil, o Ensino Médio foi o que mais se expandiu, considerando como ponto de partida a década de 80. De 1988 a 1997, o crescimento da demanda superou 90% das matrículas até então existentes. Em apenas um ano, de 1996 a 1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%. É importante destacar, entretanto, que o índice de escolarização líquida neste nível de ensino, considerada a população de 15 a 17 anos, não ultrapassa 25%, o que coloca o Brasil em situação de desigualdade em relação a muitos países, inclusive da América Latina. Nos países do Cone Sul, por exemplo, o índice de escolarização alcança de 55% a 60%, e na maioria dos países de língua inglesa do Caribe, cerca de 70%. O padrão de crescimento das matrículas no Ensino Médio no Brasil, entretanto, tem características que nos permitem destacar as suas relações com as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade. 97 As matrículas se concentram nas redes públicas estaduais e no período noturno. Os estudos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), quando da avaliação dos concluintes do Ensino Médio em nove Estados, revelam que 54% dos alunos são originários de famílias com renda mensal de até seis salários mínimos e, na Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, mais de 50% destes têm renda familiar de até três salários mínimos. É possível concluir que parte dos grupos sociais até então excluídos tenha tido oportunidade de continuar os estudos em função do término do Ensino Fundamental, ou que esse mesmo grupo esteja retornando à escola, dada a compreensão sobre a importância da escolaridade, em função das novas exigências do mundo do trabalho. Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca em presença estes dois fatores: as mudanças estruturais que decorrem da chamada “revolução do conhecimento”, alterando o modo de organização do trabalho e as relações sociais; e a expansão crescente da rede pública, que deverá atender a padrões de qualidade que se coadunem com as exigências desta sociedade. (BRASIL, 1999, p. 15-16). A discussão sobre a necessidade da reforma do Ensino Médio é vista sobre vários pontos de vista: para Gentil Faria o problema deve-se à centralização. “Não dá para um secretário que fica lá na Praça da República dirigir 6 mil escolas. Nos anos iniciais, o ensino é melhor porque quem coordena está no município, diferente dos anos finais, que é administrado pelo Estado”, explica. Debora Cristina Piotto, da USP Ribeirão Preto, acredita que as baixas notas também podem ser atribuídas aos baixos salários, precárias condições de trabalho e desrespeito por parte de governantes “que gestões após gestões renovam a prática de elaborar "pacotes pedagógicos" ordenando aos docentes que os cumpram sem ouvir os professores e sem investir seriamente na formação continuada desse profissional”. (http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Educacao/206608,,Ideb+repro va+7+em+cada+10+cidades+na+regiao.aspx, acesso em 15 de setembro de 2014). 98 O secretário de Educação Básica do MEC César Cagliari afirma que o currículo inchado do Ensino Médio prejudica a aprendizagem e propõe que o mesmo ode ser inspirado no ENEM. Segundo ele "o Enem é uma referência importante, mas não é o currículo, ele avalia o currículo [...] ele traz novidades que têm sido bem assimiladas pelas escolas". A ideia é propor uma complementação às diretrizes aprovadas pelo CNE, organizando as diferentes disciplinas em grandes áreas. "O que tem que ficar claro é que não estamos propondo a eliminação de disciplinas, mas a integração articulada dos componentes curriculares do ensino médio nas quatro áreas do conhecimento em vez do fracionamento que ocorre hoje", explica. (http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/08/17/novo-curriculo-do-ensino- medio-podera-ser-inspirado-no-enem.htm, acesso em 18 de setembro de 2014). BUSCANDO SABERES Leia o texto a seguir e em seguida (excertos dos PCNs do Ensino Médio) e em seguida, o texto “O Ensino Médio agora é para a vida: Entre o pretendido, o dito e o feito”, de Acacia Zeneida Kuenzer, disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v21n70/a03v2170.pdf, e faça sua análise sobre a necessidade de reformas no ensino médio. Você precisará desta leitura para responder a questão colocada em “Interagindo com o conhecimento” O processo de trabalho O projeto de reforma curricular do Ensino Médio teve como estrutura, desde sua origem, um modelo cuja principal preocupação era proporcionarum diálogo constante entre os dirigentes da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, a 99 equipe técnica coordenadora do projeto da reforma e os diversos setores da sociedade civil, ligados direta ou indiretamente à educação. Definiu-se que, para a formulação de uma nova concepção do Ensino Médio, seria fundamental a participação de professores e técnicos de diferentes níveis de ensino. A primeira reunião entre os dirigentes, a equipe técnica da Secretaria de Educação Média e Tecnológica e professores convidados de várias universidades do País apontou para a necessidade de se elaborar uma proposta que, incorporando os pressupostos acima citados e respeitando o princípio de flexibilidade, orientador da Lei de Diretrizes e Bases, se mostrasse exeqüível por todos os Estados da Federação, considerando as desigualdades regionais. Na primeira versão propôs-se, numa primeira abordagem, a reorganização curricular em áreas de conhecimento, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização. Foram convidados a participar do processo de elaboração da proposta de reforma curricular professores universitários com reconhecida experiência nas áreas de ensino e pesquisa, os quais atuaram como consultores especialistas. As reuniões subseqüentes foram organizadas com a participação da equipe Concluída esta primeira etapa, os documentos foram submetidos à apreciação dos Secretários de Estado em reuniões do CONSED e outras, organizadas pela Secretaria de Educação Média e Tecnológica com esse objetivo específico. O debate ampliou-se por meio da participação dos consultores especialistas em diversas reuniões nos Estados e pela divulgação dos textos de fundamentação das áreas entre os professores de outras universidades. Concomitantemente à reformulação dos textos teóricos que fundamentavam cada área de conhecimento, foram realizadas duas reuniões nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro com professores que lecionavam nas redes públicas, escolhidos aleatoriamente, com a finalidade de verificar a compreensão e a receptividade, em relação aos documentos produzidos. O projeto foi também discutido em debates abertos à população, como o organizado pelo jornal Folha de S. Paulo no início de 1997. Neste debate, do qual participaram os sindicatos de professores, a associação de estudantes secundaristas, representantes de escolas particulares e outros segmentos da sociedade civil, o professor Ruy Leite Berger Filho apresentou a proposta de reforma curricular, que obteve dos participantes uma aprovação consensual. Os trabalhos de elaboração da reforma foram concluídos em junho de 1997, a partir de uma série de discussões internas que envolveram os dirigentes, a equipe técnica de coordenação do projeto e os professores consultores. O documento produzido foi apresentado aos Secretários de Educação das Unidades Federadas e encaminhado ao Conselho Nacional de Educação em 7 de 100 julho de 1997, solicitando-se o respectivo parecer. Nessa etapa, a Secretaria de Educação Média e Tecnológica trabalhou integradamente com a relatora indicada pelo Conselho, a professora Guiomar Namo de Mello, em reuniões especialmente agendadas para este fim e por meio de assessorias específicas dos professores consultores especialistas. O Parecer do Conselho Nacional de Educação foi aprovado em 1/06/98 – Parecer nº 15/98 da Câmara de Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE), seguindo-se a elaboração da Resolução que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Resolução CEB/CNE nº 03/98 e à qual o Parecer se integra. Os textos de fundamentação das áreas de conhecimento, elaborados pelos professores especialistas, foram submetidos à apreciação de consultores visando ao aperfeiçoamento dos mesmos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi a principal referência legal para a formulação das mudanças propostas, na medida em que estabelece os princípios e finalidades da Educação Nacional. Para compreender melhor a proposta desta Unidade, assista ao vídeo “A crise do Ensino Médio: o problema do currículo”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=487vXXnD4J4, e reflita sobre a proposta de modificação na estrutura curricular do Ensino Médio. 101 UNIDADE 16 – Objetivos para o Ensino Médio CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os objetivos de áreas propostos pelos PCNEM para as três séries do Ensino Médio. ESTUDANDO E REFLETINDO Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional (LDB, Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996), o Ensino Médio passou a integrar a Educação Básica, o que significa que ele é parte da formação que o jovem brasileiro deve ter. Desta forma, os PCNEM, em conformidade com a LDB e com as Diretrizes curriculares Nacionais para o Ensino Médio, propôs um currículo baseado no domínio de competências básicas, tendo vínculos com os contextos de vida dos alunos. A fim de cumprir com o ensejo de reformular este nível de ensino, os componentes curriculares foram divididos em: - Linguagens, códigos e suas Tecnologias; - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, e - Ciências Humanas e suas Tecnologias. “As três áreas – Ciências da Natureza e Matemática, Ciências Humanas, Linguagens e Códigos – organizam e interligam disciplinas, mas não as diluem nem as eliminam. Cada disciplina ou área de saber abrange um conjunto de conhecimentos, que não se restringem a tópicos disciplinares ou a competências gerais ou habilidades, mas constituem-se em sínteses de ambas as intenções 102 formativas.” (Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, p. 8-13). Descrição das áreas As três áreas descritas a seguir devem estar presentes na Base Nacional Comum dos currículos das escolas de Ensino Médio, cujas propostas pedagógicas estabelecerão: • as proporções de cada área no conjunto do currículo; • os conteúdos a serem incluídos em cada uma delas, tomando como referência as competências descritas; • os conteúdos e competências a serem incluídos na parte diversificada, os quais poderão ser selecionados em uma ou mais áreas, reagrupados e organizados de acordo com critérios que satisfaçam às necessidades da clientela e da região. • Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, objetivando a constituição de competências e habilidades que permitam ao educando: • compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de: organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação; • confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas; • analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização e estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção; • compreender e usar a Língua Portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade; • conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais; • entender os princípios das tecnologias da comunicação e da informação, associá-las aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte e aos problemas que se propõem solucionar; • entender a natureza das tecnologias da informação como integração de diferentes meios de comunicação, linguagens e códigos, bem como a função integradora que elas exercem na sua relação com as demais tecnologias; • entender o impacto das tecnologias da comunicaçãoe da informação na sua vida, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social; • aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. 103 • Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, objetivando a constituição de habilidades e competências que permitam ao educando: • compreender as ciências como construções humanas, entendendo como elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o desenvolvimento científico com a transformação da sociedade; • entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências Naturais; • identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para produção, análise e interpretação de resultados de processos ou experimentos científicos e tecnológicos; • apropriar-se dos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia, e aplicar esses conhecimentos para explicar o funcionamento do mundo natural, planejar, executar e avaliar ações de intervenção na realidade natural; • compreender o caráter aleatório e não-determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculo de probabilidades; • identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando previsão de tendências, extrapolações e interpolações, e interpretações; • analisar qualitativamente dados quantitativos, representados gráfica ou algebricamente, relacionados a contextos sócio-econômicos, científicos ou cotidianos; • identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para o aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade; • entender a relação entre o desenvolvimento das Ciências Naturais e o desenvolvimento tecnológico, e associar as diferentes tecnologias aos problemas que se propuseram e propõem solucionar; • entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Naturais na sua vida pessoal, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. • aplicar as tecnologias associadas às Ciências Naturais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida; • compreender conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas, e aplicá-las a situações diversas no contexto das ciências, da tecnologia e das atividades cotidianas. • Ciências Humanas e suas Tecnologias, objetivando a constituição de competências e habilidades que permitam ao educando: • compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a identidade própria e a dos outros; • compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm, como produtos da ação humana; a si mesmo como agente 104 social; e os processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos; • compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos político-sociais, culturais, econômicos e humanos; • compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos; • traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural; • entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão, trabalho de equipe, e associá-las aos problemas que se propõem resolver; • entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social; • entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para planejamento, gestão, organização, fortalecimento do trabalho de equipe; • aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. BUSCANDO SABERES Os saberes das áreas curriculares Na área de LINGUAGENS E CÓDIGOS estão destacadas as competências que dizem respeito à constituição de significados que serão de grande valia para a aquisição e formalização de todos os conteúdos curriculares, para a constituição da identidade e o exercício da cidadania. As escolas certamente identificarão nesta área as disciplinas, atividades e conteúdos relacionados às diferentes formas de expressão, das quais a Língua Portuguesa é imprescindível. Mas é importante destacar que o agrupamento das linguagens busca estabelecer correspondência não apenas entre as formas de comunicação – das quais as artes, as atividades físicas e a informática fazem parte inseparável – como evidenciar a importância de todas as linguagens enquanto constituintes dos conhecimentos e das identidades dos alunos, de modo a contemplar as 105 possibilidades artísticas, lúdicas e motoras de conhecer o mundo. A utilização dos códigos que dão suporte às linguagens não visa apenas ao domínio técnico, mas principalmente à competência de desempenho, ao saber usar as linguagens em diferentes situações ou contextos, considerando inclusive os interlocutores ou públicos. Na área das CIÊNCIAS DA NATUREZA E MATEMÁTICA incluem-se as competências relacionadas à apropriação de conhecimentos da Física, da Química, da Biologia e suas interações ou desdobramentos como formas indispensáveis de entender e significar o mundo de modo organizado e racional, e também de participar do encantamento que os mistérios da natureza exercem sobre o espírito que aprende a ser curioso, a indagar e descobrir. O agrupamento das Ciências da Natureza tem ainda o objetivo de contribuir para a compreensão do significado da ciência e da tecnologia na vida humana e social, de modo a gerar protagonismo diante das inúmeras questões políticas e sociais para cujo entendimento e solução as Ciências da Natureza são uma referência relevante. A presença da Matemática nessa área se justifica pelo que de ciência tem a Matemática, por sua afinidade com as Ciências da Natureza, na medida em que é um dos principais recursos de constituição e expressão dos conhecimentos destas últimas, e finalmente pela importância de integrar a Matemática com os conhecimentos que lhe são mais afins. Esta última justificativa é, sem dúvida, mais pedagógica do que epistemológica, e pretende retirar a Matemática do isolamento didático em que tradicionalmente se confina no contexto escolar. Na área das CIÊNCIAS HUMANAS, da mesma forma, destacam-se as competências relacionadas à apropriação dos conhecimentos dessas ciências com suas particularidades metodológicas, nas quais o exercício da indução é indispensável. Pela constituição dos significados de seus objetos e métodos, o ensino das Ciências Humanas e Sociais deverá desenvolver a compreensão do significado da identidade, da sociedade e da cultura, que configuram os campos de conhecimentos de História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito, entre outros. Nesta área incluir-se-ão também os estudos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania, para cumprimento do que manda a letra da lei. No entanto, é indispensável lembrar que o espírito da LDB é muito mais generoso com a constituiçãoda cidadania e não a confina a nenhuma disciplina específica, como poderia dar a entender uma interpretação literal da recomendação do inciso III do Parágrafo primeiro do Artigo 36. Neste sentido, todos os conteúdos curriculares desta área, embora não exclusivamente dela, deverão contribuir para a constituição da identidade dos alunos e para o desenvolvimento de um protagonismo social solidário, responsável e pautado na igualdade política. 106 A presença das TECNOLOGIAS em cada uma das áreas merece um comentário mais longo. A opção por integrar os campos ou atividades de aplicação, isto é, os processos tecnológicos próprios de cada área de conhecimento, resulta da importância que ela adquire na educação geral – e não mais apenas na profissional –, em especial no nível do Ensino Médio. Neste, a tecnologia é o tema por excelência que permite contextualizar os conhecimentos de todas as áreas e disciplinas no mundo do trabalho. Como analisa Menezes, no Ensino Fundamental, a tecnologia comparece como “alfabetização científico-tecnológica”, compreendida como a familiarização com o manuseio e com a nomenclatura das tecnologias de uso universalizado, como, por exemplo, os cartões magnéticos. No Ensino Médio, a presença da tecnologia responde a objetivos mais ambiciosos. Ela comparece integrada às Ciências da Natureza, uma vez que uma compreensão contemporânea do universo físico, da vida planetária e da vida humana não pode prescindir do entendimento dos instrumentos pelos quais o ser humano maneja e investiga o mundo natural. Com isso se dá continuidade à compreensão do significado da tecnologia enquanto produto, num sentido amplo. No documento “Orientações Educacionais Complementares” do Ensino Médio, encontramos diretrizes para trabalhar com as demais áreas integradas ao currículo, como é possível verificar a seguir: A articulação entre as disciplinas em cada uma das áreas Aparentemente, seria bem mais fácil estabelecer uma articulação entre as disciplinas de uma mesma área do que entre áreas diferentes, pois há elementos de identidade e proximidade no interior de cada área. Há uma temática comum, que é a própria definição da área, e há conceitos comuns decorrentes disso – como as noções de escala, nas Ciências e na Matemática, de estilo, nas Linguagens e Códigos, ou as diferentes noções de cultura, nas Ciências Humanas. Há ainda procedimentos comuns, como a experimentação praticada nas ciências da natureza, ou como as técnicas de entrevistas e levantamentos, de algumas das ciências humanas, e há aspectos metodológicos comuns, como os exercícios de criação, nas linguagens e nas artes. A despeito de todas estas convergências, para se compor um programa de trabalho articulado em uma área, há difíceis obstáculos que precisam ser transpostos: • primeiro, é preciso encontrar os pontos de contato reais entre as disciplinas da área, a exemplo dos acima enumerados; • em seguida, a partir desses pontos, é preciso estabelecer as pontes e o trânsito entre as disciplinas, que nem sempre interligarão todas da mesma forma; • finalmente, é preciso identificar, analisar e desfazer falsas semelhanças, traduzir linguagens diferentes usadas para o mesmo objeto ou distinguir linguagens iguais usadas para identificar conceitos diferentes. Em suma, há que se compreender e trabalhar convergências e divergências, reais ou aparentes, determinar e desenvolver temáticas e métodos comuns e, com esse conhecimento, preparar o trabalho de cada disciplina e de seu conjunto. Essa articulação 107 interdisciplinar intra-área não deveria ser vista simplesmente como um produto novo, a ser apresentado à escola pois, sob certos aspectos, é uma dívida antiga que se tem com o aluno. Uma parcela dessa dívida poderia ser paga com a apresentação de uma linguagem e da nomenclatura realmente comuns entre várias das disciplinas. Alguns exemplos: 1. Quando na Biologia se fala em energia da célula, na Química, em energia da reação e, na Física, em energia da partícula, não basta que tenham a mesma grafia ou as mesmas unidades de medida. Os três temas são tratados em contextos tão distintos que o aluno não pode ser deixado solitário no esforço de ligar as “coisas diferentes” designadas pela mesma palavra. 2. Quando em Língua Portuguesa se fala em signos verbais, em Arte se fala em signo icônico, em Educação Física se fala em signo corporal, não se pode esperar que o aluno relacione espontaneamente coisas diferentes. Como no exemplo anterior, nem mesmo os professores que os utilizam estão à vontade para interpretar seu significado em outra disciplina que não a sua. É preciso, pois, esforço no sentido de relacionar nomenclaturas e, na medida do possível, partilhar culturas. 3. Alguns conceitos gerais das ciências, como os de unidades e de escalas, ou de transformação e de conservação, presentes de diferentes formas na Matemática, na Biologia, na Física e na Química, seriam muito mais facilmente compreendidos e generalizados se fossem objeto de um tratamento de caráter unificado, feito de comum acordo pelos professores da área. Com certeza, são diferentes as conotações destes conceitos nas distintas disciplinas, mas uma interpretação unificada em uma tradução interdisciplinar enriqueceria a compreensão de cada uma das disciplinas. 4. Nas Ciências Humanas, a problemática da identidade, por exemplo, é objeto de estudo da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia e da História. A identidade estará presente na afirmação e na autoestima do jovem estudante, no estudo antropológico das organizações familiares, das culturas alimentares, musicais ou religiosas, nas questões de identidade nacional diante da globalização cultural. Seu tratamento articulado, resultante de um entendimento entre professores de uma mesma escola, poderia promover um recíproco reforço no trabalho dessas e de outras disciplinas da área. As questões relativas à identidade podem ser abordadas até mesmo em termos das “tribos” nas quais alunos de muitas escolas urbanas se associam – em função de preferências musicais, de comportamento ou modo de vestir, da utilização peculiar que fazem de códigos comuns a toda a comunidade, como a língua portuguesa –, facilitando a percepção de problemáticas sociais, antropológicas e psicológicas. Mas o que vale para uma escola metropolitana pode não valer para uma cidade do interior, e é cada região, ou mesmo cada escola, que será capaz de descobrir seus temas mais significativos. 5. Por meio de um trabalho compartilhado, Geografia, História, Sociologia e Filosofia podem desenvolver um tratamento articulado da temática das disparidades econômicas e sociais, em sua atualidade e em sua gênese. Ao serem revistas as raízes de nossa sociedade, paralelamente ao estudo da história de outros povos, ao se comparar a evolução de movimentos sociais e ordens econômicas com a história das ideias políticas, podem ser desenvolvidos instrumentos que permitam aos estudantes discutir a ainda tão pouco compreendida sociedade pós-industrial, neste mundo em que internet, cereais transgênicos e veículos informatizados convivem com intermináveis guerras étnicas e religiosas, com o drama da fome e das guerras tribais na África, o desmanche político do Leste Europeu, o caldeirão bélico do Oriente 22 108 Médio, os impasses econômicos e políticos da América Latina, o desafio das reformas econômicas na China. Compreender o sentido dos grandes blocos econômicos e “da velha e da nova economia” pode ser parte de um mesmo exercício, que permitiria formular hipóteses, propostas e modelos, em torno da possibilidade de se superar a exclusão social e econômica, dominante em grande parte do mundo. 6. A identidade cultural em associação com o conceito de estética pode articular ainda as disciplinas da área de Linguagens e Códigos. Por sua vizinhançae caráter complementar, artes ou jogos, literatura ou teatro, dança ou esporte, figura ou cena, música ou gesto podem ser apreendidos como integrantes de um todo expressivo, não como mero mosaico de formas de representação. A tradução de mensagens, expressas em distintas linguagens ou o uso concomitante de várias delas podem, a um só tempo, desenvolver a sensibilidade artística e também dar instrumentos práticos e críticos, para compreender melhor os recursos da publicidade ou a intrincada sintaxe da linguagem jurídica. 109 UNIDADE 17 – Conhecimentos, Competências e Habilidades da Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias para o Ensino Médio CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer a visão da área, os conceitos, as competências e habilidades gerais e específicas das disciplinas potenciais propostas pelos PCNEM. O documento utilizado como fonte para esta unidade é o PCN + - Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/linguagens02.pdf). ESTUDANDO E REFLETINDO Na nova organização do ensino médio, Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Arte, Educação Física e Informática integram uma mesma área de conhecimento: a área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. As características comuns a essas disciplinas ou campos do conhecimento possibilitam a articulação didático-pedagógica interna da área. Decorre daí a possibilidade não só de enfatizar os conceitos explícitos ou subjacentes às linguagens e códigos que sustentam a área como também de promover os procedimentos metodológicos comuns às disciplinas que a constituem. Para cada disciplina da área, por sua vez, os conceitos citados integram conteúdos específicos. Linguagem. Em Língua Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna, a língua falada e escrita é o objeto prioritário de estudo; em Arte, estudam-se predominantemente as linguagens não-verbais; em Educação Física, o estudo da linguagem corporal é fundamento da disciplina. Isso sem falar na linguagem digital, que estrutura a Informática. Texto. As linguagens só se concretizam em textos. Para todas as disciplinas da área exige- se o domínio do conceito de texto, em sentido amplo e não aquele que considera apenas a língua escrita ou falada. Um quadro, uma letra de música em língua estrangeira, um número de dança, uma partida de determinado esporte, o hipertexto são tipos específicos de texto. O domínio deste conceito dependerá de abstrações feitas a partir de textos estruturados nas linguagens específicas e predominantes nas disciplinas da área. Contexto. Em cada disciplina é necessário considerar o contexto, que particulariza a análise e a interpretação, além de permitir que os recursos expressivos sejam categorizados (em eficazes ou não-eficazes, por exemplo), considerando a intenção do 110 interlocutor no momento de utilização desses recursos. O emprego de uma metáfora, por exemplo, pode ser extremamente eficaz num contexto, mas desastrosamente ineficaz em outro. LINGUA PORTUGUESA Representação e Comunicação Conceitos 1. Linguagens: verbal, não-verbal e digital 2. Signo e símbolo 3. Denotação e conotação 4. Gramática 5. Texto 6. Interlocução, significação, dialogismo 7. Protagonismo Competências e habilidades Atuando em rede, os conceitos brevemente comentados acima estruturam conteúdos cuja construção mobiliza as competências que mencionamos a seguir. 1. Utilizar linguagens nos três níveis de competência: interativa, gramatical e textual 2. Ler e interpretar 3. Colocar-se como protagonista na produção e recepção de textos 4. Aplicar tecnologias da comunicação e da informação em situações relevantes Investigação e Compreensão Conceitos 1. Correlação 2. Análise e síntese 3. Identidade 4. Integração 5. Classificação 6. Informação versus redundância 7. Hipertexto Competências e habilidades Nunca é demais insistir no fato de que, também na aquisição e desenvolvimento destas competências, os conceitos atuam em rede, e não isoladamente. 1. Analisar e interpretar no contexto de interlocução 2. Reconhecer recursos expressivos das linguagens 3. Identificar manifestações culturais no eixo temporal, reconhecendo os momentos de tradição e de ruptura 4. Emitir juízos críticos sobre manifestações culturais 5. Identificar-se como usuário e interlocutor de linguagens que estruturam uma identidade cultural própria 6. Analisar metalingüisticamente as diversas linguagens 111 Contextualização Sociocultural Conceitos 1. Cultura 2. Globalização versus localização 3. Arbitrariedade versus motivação dos signos e símbolos. Negociação de sentidos. 4. Significado e visão de mundo 5. Desfrute (fruição) 6. Ética 7. Cidadania 8. Conhecimento: construção coletiva e dinâmica 9. Imaginário coletivo Competências e habilidades 1. Usar as diferentes linguagens nos eixos da representação simbólica – expressão, comunicação e informação – nos três níveis de competências 2. Analisar as linguagens como fontes de legitimação de acordos sociais 3. Identificar a motivação social dos produtos culturais na sua perspectiva sincrônica e diacrônica 4. Usufruir do patrimônio cultural nacional e internacional 5. Contextualizar e comparar esse patrimônio, respeitando as visões de mundo nele implícitas 6. Entender, analisar criticamente e contextualizar a natureza, o uso e o impacto das tecnologias de informação LINGUA ESTRANGEIRA MODERNA A seleção de conteúdos em Língua Estrangeira Moderna O pequeno número de aulas semanais e a heterogeneidade das classes (compostas por alunos em diferentes estágios de aprendizado do idioma estrangeiro) indicam a suma importância de criar estratégias para que as competências e os conteúdos selecionados possam ser desenvolvidos nos três anos do ensino médio. Metodologicamente, sugere-se que o professor trabalhe a partir de três frentes: • a estrutura lingüística; • a aquisição de repertório vocabular; • a leitura e a interpretação de textos. O último item é o mais importante e se utilizará dos dois primeiros para efetivar-se de modo eficaz. O trabalho com a estrutura lingüística e a aquisição de vocabulário só se revestirá de significado se partir do texto e remeter novamente ao texto como totalidade. É, pois, a partir do texto e de sua leitura e interpretação que se propõe a seleção de conteúdos gramaticais e de vocabulário a serem desenvolvidos no ensino médio. Competências abrangentes a serem trabalhadas em Língua Estrangeira • Ser capaz de compreender e produzir enunciados corretos e apropriados a seus contextos em língua estrangeira, fazendo uso de competências gramaticais, estratégicas, sociolingüísticas e discursivas. 112 • Saber distinguir norma culta de linguagem informal e, especialmente, os contextos de uso em que uma e outra devem ser empregadas. O uso de gírias é apropriado, desde que o contexto assim o permita. É importante, pois, selecionar vocabulário adequado para uso oral e escrito, a partir de um repertório que se amplia gradualmente ao longo dos três anos de curso. • Relacionar textos e seus contextos por meio da análise dos recursos expressivos da linguagem verbal, segundo intenção, época, local e estatuto dos interlocutores, fatores de intertextualidade e tecnologias disponíveis. • Perceber características quanto à produção dos enunciados, os quais são reflexo da forma de ser e pensar de quem os produziu. • Perceber o texto como um todo coeso e coerente, no qual certas expressões e vocábulos são empregados em razão de aspectos socioculturais inerentes à idéia que se quer comunicar. A percepção da coerência e da coesão textuais dar-se-á pela aquisiçãode competências e habilidades conquistadas em atividades de decodificação e interpretação de elementos intrínsecos à estrutura textual: • conectivos (linkers), ordenação frasal (word order), uso de expressões idiomáticas, de phrasal verbs e de vocabulário adequado ao contexto comunicativo como, por exemplo, o emprego de palavras ligadas ao avanço tecnológico ou vocábulos próprios da esfera da informática. • Compreender que a finalidade última da análise estrutural e organizacional da língua é dar suporte à comunicação efetiva e prática – ou seja, a produção de sentido é a meta final dos atos de linguagem, quer se empreguem estratégias verbais, quer não-verbais. • Perceber que o domínio de idiomas estrangeiros no ensino médio, ainda que se dê de forma parcial, permite acesso a informações diversificadas, a outras culturas e a realidades de diferentes grupos sociais. EDUCAÇÃO FÍSICA Conceitos, competências e habilidades a serem desenvolvidos Em Educação Física, os conceitos estruturantes e as competências mais diretamente relacionadas a cada um deles podem traduzir-se, de acordo com os três eixos que organizam a disciplina, da maneira exposta a seguir. Representação e Comunicação Conceitos 1. Linguagem corporal Quando os homens se comunicam, lançam mão de um vasto repertório: usam todo o corpo e todos os textos nele manifestos. Essas comunicações são textos, isto é, gestos – tomados num sentido mais amplo do que apenas movimentação de partes do corpo. Incluem desde o sutil franzir de sobrancelhas até o vigoroso acenar dos braços, o jeito de andar e de se sentar. Gestos são textos, movimentos comunicativos do corpo impressos por uma determinada cultura, como ressalta Campelo (1996, 8). Como se sabe, a comunicação humana pode efetivar-se por meio de palavras (linguagem verbal) ou por meio de outros signos (linguagem não-verbal). Há substratos comuns entre todos esses signos, com destaque para o fato de terem sido criados pelo homem com finalidades específicas. Trata-se, pois, de convenções, variáveis de acordo com as 113 necessidades e interesses do grupo social. Essas convenções podem ser agrupadas em conjuntos conhecidos como códigos. Os gestos e os movimentos fazem parte dos recursos de comunicação que o ser humano utiliza para expressar suas emoções e sua personalidade, comunicar atitudes interpessoalmente e transmitir informações. A capacidade de gesticular é universal, faz parte da faculdade humana de se expressar e comunicar. Todavia, essa capacidade concretiza-se em inúmeras diversidades – que, no plano das linguagem verbal, corresponderia às línguas particulares e aos muitos dialetos. Pode-se pretender “dizer” uma coisa com o corpo e ser compreendido de modo inadequado – até contrário – por um interlocutor que possua outro repertório gestual. Por isso, além da linguagem dos gestos de nossa cultura, devemos aprender a de outros grupos culturais, num processo semelhante ao do aprendizado de uma língua estrangeira. ARTE Conceitos, competências e habilidades a serem desenvolvidos Três grandes eixos baseiam a divisão de competências e habilidades gerais – que darão suporte à inclusão dos conteúdos das áreas – proposta nos PCNEM: representação e comunicação; investigação e compreensão; e contextualização sociocultural. É importante que se reflita sobre tais eixos visando à articulação dos conteúdos e competências mais apropriada a cada contexto educativo. Buscando contribuir para essa reflexão e considerando a diversidade de nosso país, apresentam-se, a seguir, sugestões de temas e conteúdos específicos de Arte, articulados a esses eixos e aos conceitos que os integram. Representação e Comunicação Conceitos Os conceitos gerais da área, abaixo enumerados, podem ser desdobrados para a disciplina da seguinte forma: 1. Linguagem verbal, não-verbal e digital • As linguagens da arte: artes visuais, audiovisuais, dança, música, teatro. • Integração e articulação entre as linguagens. • Experiência estética: processo perceptivo, sensível, reflexivo e integrador de conhecimentos culturais. • Arte e tecnologia: criação de novas poéticas que articulam imagens, sons, animações e possibilitam um novo tipo de interatividade, decorrente não só da codificação da linguagem digital (de base matemática) como também das tecnologias que suportam e veiculam essa linguagem (os multimídia). Videoclipes, trabalhos artísticos em CD-ROM, instalações com dispositivos interativos, digitalizações são, entre outros, exemplos dessa interação. 2. Signo e símbolo • Signo artístico: visual, sonoro, corporal. Das possibilidades de articulação desses signos e das motivações (sociais, culturais, psicológicas e científicas, entre outras) de seus 114 usuários (indivíduos e grupos) resultam construções simbólicas. Por exemplo: a pintura corporal de indígenas brasileiros apresenta formas variadas, dependendo da nação a que pertencem, dos propósitos de sua elaboração (festa, dança, luta...), das disponibilidades materiais, das articulações específicas de determinados signos... • Códigos visuais, sonoros, verbais, audiovisuais, verbo-visuais, corporais, para cuja compreensão adequada deve-se levar em conta o contexto histórico e social em que são produzidos. 3. Denotação e conotação • Informações decorrentes das conexões entre as linguagens da arte, a comunicação visual e a sonora, incluindo as especificidades da publicidade e do design. Observe-se, neste campo, a correspondência entre os signos e códigos das linguagens da arte e de outros sistemas sígnicos. Por exemplo: os pictogramas utilizados nas placas de trânsito indicativas de que há escola nas imediações e naquelas que sinalizam homens trabalhando. Em ambos os casos, as informações vão além das imagens representadas. Nelas estão orientações implícitas (conotativas) que os motoristas devem seguir: atenção, cuidado, redução de velocidade etc. Há outras ocorrências cuja análise depende do domínio desses conceitos. Por exemplo: a representação pictórica da linguagem gestual e suas conotações por vários artistas, em épocas e regiões diversas. Um bom exemplo pode ser dado pela análise do quadro O casamento de Giovanni Arnolfini, de Jan Van Eyck (século 15). Há uma reprodução dessa obra em www.ibiblio.org/wm/paint/auth/eyck/arnolfini/jpg As mãos entrelaçadas do casal, representadas como uma mancha clara localizada no plano central do quadro, conotam a afeição que os envolve, enquanto os seres e objetos que compõem a cena – o cachorro aos pés do casal, o candelabro com uma única vela visto de frente e não de baixo, como seria esperado, e o espelho convexo, demarcado no fundo – sugerem diversos processos de significação: • na imagem refletida no espelho aparecem uma parte da sala, o casal de costas e, além disso, duas pessoas que seriam as testemunhas do casamento, uma delas talvez o próprio pintor; • sobre o espelho está escrito Jan Van Eyck esteve presente, reiterando e simbolizando que o quadro testemunha o casamento. 4. Gramática • Elementos constitutivos das linguagens artísticas. Articulação dos elementos formais, estéticos, materiais e técnicos, organizados na produção e apreciação da arte. • Iconologia e iconografia. 5. Texto Em Arte, a organização dos elementos e códigos das linguagens artísticas de acordo com sistemas de representação, expressão e comunicação resulta em texto: visual, sonoro, teatral, coreográfico, audiovisual. Para tanto, os alunos devem se apropriar de conceitos essenciais aos sistemas de representação e às linguagens artísticas. 115 Imagem: conceito fundamental para, por exemplo, evitar que o aluno adquira a falsa impressão de que uma obra é figurativa em virtude de sua adesão ao real imediato, já que toda imagem é uma ficção. A idéia de que os conceitos operamem rede se explicita melhor quando, por exemplo, nas estruturas do imaginário de uma determinada época, observam-se elementos “preparados” por estruturas antigas; ou quando a introdução de elementos complementares ao imaginário já conhecido acaba alterando o próprio o conceito de imaginário. Por exemplo: conhecer arte brasileira do século 19 é essencial para compreender por que o modernismo brasileiro, nas imagens de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lasar Segall e outros, representou uma proposta poética inovadora. Movimento: conceito fundamental no estudo das artes cênicas, já que os movimentos do corpo são indispensáveis à atuação no palco. “Um caráter, uma atmosfera, um estado de espírito ou uma situação não podem ser eficientemente representadas no palco sem o movimento e sua inerente expressividade.” (Laban, 1978, pp. 20-21) Este conceito fundamenta ainda os conceitos de forma e ritmo, essenciais para caracterizar tanto um estado de espírito, uma reação, quanto traços mais constantes da personalidade. Som: conceito indispensável para a música. A definição consagrada pela Física não é suficiente para dar conta da amplitude que o conceito adquire em Arte, já que na contemporaneidade artística concorrem sons arrítmicos e sem altura definida. A questão torna-se ainda mais complexa quando o professor abordar os procedimentos aleatórios em música. 6. Interlocução, significação e dialogismo Estes conceitos implicam o leitor, ouvinte ou espectador de produtos artísticos vazados em diferentes linguagens, mobilizando suas motivações pessoais, culturais, estéticas, suas idiossincrasias – sua história própria, enfim. São conceitos importantes para compreender o diálogo que a arte estabelece com seus receptores, diálogo este em constante revisão. Há diferenças históricas marcantes na dinâmica entre o autor, a obra e o público. Basta, por exemplo, comparar a relação entre esses elementos na época do surgimento da tragédia grega e numa representação atual, do mesmo gênero dramatúrgico. Protagonismo Além desses conceitos, é necessário que o professor tenha em mente também a idéia de protagonismo que, no caso da Arte, abrange produtores, autores, artistas – compreendidos tanto individual como coletivamente: suas vidas, motivações pessoais, culturais, estéticas, artísticas. Nesse universo, o aluno pode despontar como agente da produção de diversas linguagens artísticas ou da apreciação de manifestações de arte. Competências e habilidades Os conceitos comentados devem estruturar conteúdos em cuja construção serão mobilizadas as competências e habilidades apresentadas a seguir. 1. Utilizar linguagens nos três níveis de competência: interativa, gramatical e textual. Saber realizar produções artísticas nas linguagens da arte (artes visuais, audiovisuais, dança, música, teatro), individual ou coletivamente, requer do aluno: • dominar aspectos relativos à construção e execução prática das produções artísticas, considerando as categorias materiais, ideais e virtuais; • identificar formas da natureza e da cultura, integrando-as às práticas artísticas e estéticas; 116 • comunicar, receber e difundir as produções artísticas por várias mídias e tecnologias; • compreender e saber articular a arte a outros componentes do currículo escolar. 2. Ler e interpretar Saber ler e interpretar produções artísticas e culturais requer do aluno: • apurar a observação e percepção sensíveis e reflexivas; • conhecer práticas e teorias das linguagens artísticas, bem como familiarizar-se com seus códigos e articulações formais, aspectos expressivos, técnicas, materiais, contextualizando-os em diversos âmbitos – geográfico, social, histórico, cultural, psicológico; • compreender as linguagens artísticas como manifestações sensíveis, cognitivas e integradoras da identidade. Em outras palavras, saber ler produções artísticas significa fazer apreciações críticas de trabalhos de arte, com atribuição de significados e estabelecimento de relações com variados conhecimentos. Como afirma Manguel, “quando lemos imagens – de qualquer tipo, sejam pintadas, esculpidas, fotografadas, edificadas ou encenadas –, atribuímos a elas o caráter temporal da narrativa”. (2001, p. 27) Exemplos de atividades relacionadas a estas competências: a apreciação crítica e a discussão sobre os trabalhos dos próprios alunos, em várias linguagens artísticas; observação do mundo natural em suas correlações com o universo da arte. 3. Colocar-se como protagonista na produção e recepção Para o aluno que se situe como protagonista na produção e apreciação crítica de trabalhos de arte nas diversas linguagens pressupõe-se que saiba: • expressar e comunicar idéias e sentimentos por meio de linguagens artísticas; • articular os elementos constitutivos das linguagens da arte, tanto na produção como na fruição de obras, produtos ou objetos; • fazer trabalhos artísticos individuais ou coletivos, criando, improvisando, compondo, experimentando, atuando, interpretando com diferentes materiais, meios e técnicas; • concretizar apresentações, obras, produtos e espetáculos, considerando as perspectivas estéticas e comunicacionais; • selecionar e produzir trabalhos de arte em diferentes meios e tecnologias, como processos fotográficos, informatizados e outras mídias, entre as quais o vídeo, o cinema, o CD-ROM, entre outros; • trabalhar com imagens e sons disponíveis nas redes informatizadas, reconstruindo-os ou integrando-os em textos criados no espaço virtual ou dele recortados. 4. Aplicar tecnologias da informação em situações relevantes Trata-se aqui de integrar à arte o uso das novas tecnologias da comunicação e de informação (NTCI), analisando as possibilidades de criação, apreciação e documentação que os novos meios oferecem. Para isso, cabe estimular o aluno a refletir sobre a produção de poéticas que se valem de meios como rádio, vídeo, gravador, instrumentos acústicos, eletrônicos, filmadoras, telas informáticas, assim como outras tecnologias integrantes das artes visuais, audiovisuais, música, dança e teatro. 117 INFORMÁTICA Competências e habilidades da área A inserção de Informática no primeiro eixo da área, em termos de competências e habilidades, pode ser assim sintetizada como se segue. 1. Utilizar linguagens nos três níveis de competência comunicacional: interativa, gramatical e textual No caso da informática, essa competência traduz-se em ler e interpretar as informações disponíveis na internet, efetuando com autonomia a busca, a troca de informações e a apresentação de conclusões, utilizando os recursos da linguagem digital mais adequados para cada canal de comunicação existente na internet (fórum, chat, email e lista de discussão). 2. Ler e interpretar Com a criação de redes de computadores, e principalmente da internet, não basta apenas o aluno aprender a lidar com as informações gerais. É preciso aprofundá-las, analisando- as em toda sua complexidade. Dominar a leitura de diversos programas é ferramenta indispensável para interagir no ambiente digital. O professor deve ainda considerar a importância do domínio dessas competências numa realidade em que o computador assume a função de “tecnologia mediadora a partir da qual vemos o mundo e construímos conhecimento” (Ramal, 2002). 3. Posicionar-se como protagonista na produção e recepção de textos Na sociedade atual, chamada de sociedade da informação, o aluno não pode ser mero receptor passivo de informações: deve ser também produtor, ou seja, tem de criar informações. Isso significa que o estudante deve ser capaz de resolver questões relativas às atividades escolares do dia-a-dia, solucionando problemas e apresentando suas idéias em diferentes linguagens comunicacionais, presencial ou virtualmente. Nas situações de interlocução virtuais em tempo real,o protagonismo exige competências e habilidades diversas de todas as outras situações de interlocução, como o domínio de uma língua escrita que é híbrida com a falada e que incorpora, aos códigos, signos não-verbais como os “emoticons”, por exemplo. 4. Aplicar tecnologias da informação em situações relevantes O domínio dos conceitos que até agora estamos analisando deverá constituir uma rede cuja significação só se efetivará à medida que o aluno for construindo a competência tanto de acessar criticamente as diferentes fontes de informação (sites, portais, CD-ROM), discutindo o processo de busca em cada uma delas, suas vantagens e desvantagens, quanto de aplicá-las na resolução de problemas. 118 BUSCANDO SABERES Conforme o PCN+ Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/linguagens02.pdf): É possível estabelecer diversas relações entre saúde e atividade física pela integração das áreas de conhecimento em torno de um projeto interdisciplinar: • A área de Ciências da Natureza pode subsidiar o conhecimento necessário à compreensão do funcionamento do corpo humano e propiciar o estabelecimento das relações entre alimentação e gasto energético; • A área de Língua Portuguesa pode organizar, com os alunos, roteiros de entrevista para buscar informações de campo sobre práticas de atividade física entre a população da área: quantos a realizam, que tipo de atividade, os locais onde elas são praticadas, quantas vezes por semana ocorrem etc. Essas informações poderão subsidiar a produção de textos sobre o conhecimento adquirido, além, evidentemente, de enfatizar aqueles conceitos do eixo da Comunicação e Expressão necessários a uma leitura adequada da linguagem corporal; • A Matemática poderia participar, colaborando na interpretação das informações coletadas e na construção de gráficos com os dados, o que também configura um exercício de leitura e produção textual, lato sensu, para os quais também concorrem os conceitos específicos da área. 119 Fonte: http://educador.brasilescola.com/orientacoes/promovendo- interdisciplinaridade-na-escola.htm. Acesso em 11de outubro de 2014. Os projetos didáticos são formas de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos envolvendo uma situação problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna a garotada corresponsável pela própria aprendizagem. (Revista Escola, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/14-perguntas- respostas-projetos-didaticos-626646.shtml). Procure pensar e elaborar uma proposta de projeto em que possam ser trabalhados todos os conteúdos integradores da área de “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”. Para complementar a aprendizagem desta unidade, assista ao vídeo “Cursos USP - Tópicos de Epistemologia e Didática - Aula 6 (2/2)”, 120 apresentado pelo professor da USP, Dr. Nilson Machado, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ycTsjYrusZs. 121 UNIDADE 18 – Conhecimentos, Competências e Habilidades de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias para o Ensino Médio CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer a visão da área, as competências e habilidades gerais e específicas das disciplinas potenciais propostas pelos PCNEM, para Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. O documento utilizado como fonte para esta unidade é o PCN + - Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/linguagens02.pdf). ESTUDANDO E REFLETINDO De acordo com o PCN+, que nos fornecem orientações complementares aos PCNEM, No âmbito de cada disciplina – Biologia, Física, Química e Matemática –, os temas com os quais se pode organizar ou estruturar o ensino constituem uma composição de elementos curriculares com competências e habilidades, no sentido em que esses termos são utilizados nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Cada disciplina ou área de saber abrange um conjunto de conhecimentos que não se restringem a tópicos disciplinares ou a competências gerais ou habilidades, mas constituem-se em sínteses de ambas as intenções formativas. Conhecimentos, competências, disciplinas e seus temas estruturadores O novo ensino médio deve estar atento para superar contradições reais ou aparentes entre conhecimentos e competências. Para quem possa temer que se estejam violando os limites disciplinares, quando estes se compõem com conhecimentos e competências, vale lembrar que as próprias formas de organização do conhecimento, as disciplinas, têm passado por contínuos rearranjos. Muitas disciplinas acadêmicas e muitos campos da cultura resultam de processos recentes de sistematização de conhecimentos práticos ou teóricos, reunindo elementos que, em outras épocas, estavam dispersos em distintas especialidades. 122 • A Biologia, por exemplo, herdeira mais próxima do que se chamou até há algum tempo de História Natural, hoje incorpora entre suas especialidades a Botânica e a Zoologia, e encampa um debate filosófico sobre origem e significado da vida, assim como fundamenta saberes práticos profissionais que eram, de forma autônoma, próprios da medicina, da pecuária, da agricultura e da manufatura de alimentos. • A divisão de territórios entre as distintas ciências humanas é outro exemplo de como, a organização disciplinar do conhecimento, não há demarcações absolutas, pois há mesmo aspectos comuns da Geografia Humana e da Sociologia, ou também da História e da Antropologia, tanto na perspectiva da temática quanto na de instrumentos analíticos. A filosofia partilha com as ciências humanas e com as ciências da natureza alguns de seus temas centrais. • As linguagens, por sua vez, dos idiomas às artes, têm seus recortes temáticos e disciplinares em permanente transformação, além de que, em um mesmo local e período, convivem visões diferentes ou mesmo divergentes sobre quais são seus temas centrais de aprendizado e sobre as formas mais recomendáveis para seu ensino. Competências e habilidades da área Representação e comunicação Desenvolver a capacidade de comunicação. • Ler e interpretar textos de interesse científico e tecnológico. • Interpretar e utilizar diferentes formas de representação (tabelas, gráficos, expressões, ícones...). • Exprimir-se oralmente com correção e clareza, usando a terminologia correta. • Produzir textos adequados para relatar experiências, formular dúvidas ou apresentar conclusões. • Utilizar as tecnologias básicas de redação e informação, como computadores. • Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para a produção, análise e interpretação de resultados de processos e experimentos científicos e tecnológicos. • Identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade. • Identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando previsão de tendências, extrapolações e interpolações e interpretações. • Analisar qualitativamente dados quantitativos representados gráfica ou algebricamente relacionados a contextos sócio-econômicos,científicos ou cotidianos. 123 Investigação e compreensão Desenvolver a capacidade de questionar processos naturais e tecnológicos, identificando regularidades, apresentando interpretações e prevendo evoluções. Desenvolver o raciocínio e a capacidade de aprender. • Formular questões a partir de situações reais e compreender aquelas já enunciadas. • Desenvolver modelos explicativos para sistemas tecnológicos e naturais. • Utilizar instrumentos de medição e de cálculo. • Procurar e sistematizar informações relevantes para a compreensão da situação- problema. • Formular hipóteses e prever resultados. • Elaborar estratégias de enfrentamento das questões. • Interpretar e criticar resultados a partir de experimentos e demonstrações. • Articular o conhecimento científico e tecnológico numa perspectiva interdisciplinar. • Entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências Naturais. • Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculo de probabilidades. • Fazer uso dos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia para explicar o mundo natural e para planejar, executar e avaliar intervenções práticas. • Aplicar as tecnologias associadas às Ciências Naturais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Biologia Representação e comunicação • Descrever processos e características do ambiente ou de seres vivos, observados em microscópio ou a olho nu. • Perceber e utilizar os códigos intrínsecos da Biologia. • Apresentar suposições e hipóteses acerca dos fenômenos biológicos em estudo. • Apresentar, de forma organizada, o conhecimento biológico apreendido, através de textos, desenhos, esquemas, gráficos, tabelas, maquetes etc. • Conhecer diferentes formas de obter informações (observação, experimento, leitura de texto e imagem, entrevista), selecionando aquelas pertinentes ao tema biológico em estudo. • Expressar dúvidas, idéias e conclusões acerca dos fenômenos biológicos. Investigação e compreensão 124 • Relacionar fenômenos, fatos, processos e idéias em Biologia, elaborando conceitos, identificando regularidades e diferenças, construindo generalizações. • Utilizar critérios científicos para realizar classificações de animais, vegetais etc. • Relacionar os diversos conteúdos conceituais de Biologia (lógica interna) na compreensão de fenômenos. • Estabelecer relações entre parte e todo de um fenômeno ou processo biológico. • Selecionar e utilizar metodologias científicas adequadas para a resolução de problemas, fazendo uso, quando for o caso, de tratamento estatístico na análise de dados coletados. • Formular questões, diagnósticos e propor soluções para problemas apresentados, utilizando elementos da Biologia. • Utilizar noções e conceitos da Biologia em novas situações de aprendizado (existencial ou escolar). • Relacionar o conhecimento das diversas disciplinas para o entendimento de fatos ou processos biológicos (lógica externa). Contextualização sócio-cultural • Reconhecer a Biologia como um fazer humano e, portanto, histórico, fruto da conjunção de fatores sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos e tecnológicos. • Identificar a interferência de aspectos místicos e culturais nos conhecimentos do senso comum relacionados a aspectos biológicos. • Reconhecer o ser humano como agente e paciente de transformações intencionais por ele produzidas no seu ambiente. • Julgar ações de intervenção, identificando aquelas que visam à preservação e à implementação da saúde individual, coletiva e do ambiente. • Identificar as relações entre o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico, considerando a preservação da vida, as condições de vida e as concepções de desenvolvimento sustentável. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Física Representação e comunicação • Compreender enunciados que envolvam códigos e símbolos físicos. Compreender manuais de instalação e utilização de aparelhos. • Utilizar e compreender tabelas, gráficos e relações matemáticas gráficas para a expressão do saber físico. Ser capaz de discriminar e traduzir as linguagens matemática e discursiva entre si. • Expressar-se corretamente utilizando a linguagem física adequada e elementos de sua representação simbólica. Apresentar de forma clara e objetiva o conhecimento apreendido, através de tal linguagem. • Conhecer fontes de informações e formas de obter informações relevantes, sabendo interpretar notícias científicas. • Elaborar sínteses ou esquemas estruturados dos temas físicos trabalhados. Investigação e compreensão • Desenvolver a capacidade de investigação física. Classificar, organizar, sistematizar. 125 Identificar regularidades. Observar, estimar ordens de grandeza, compreender o conceito de medir, fazer hipóteses, testar. • Conhecer e utilizar conceitos físicos. Relacionar grandezas, quantificar, identificar parâmetros relevantes. Compreender e utilizar leis e teorias físicas. • Compreender a Física presente no mundo vivencial e nos equipamentos e procedimentos tecnológicos. Descobrir o “como funciona” de aparelhos. • Construir e investigar situações-problema, identificar a situação física, utilizar modelos físicos, generalizar de uma a outra situação, prever, avaliar, analisar previsões. • Articular o conhecimento físico com conhecimentos de outras áreas do saber científico. Contextualização sócio-cultural • Reconhecer a Física enquanto construção humana, aspectos de sua história e relações com o contexto cultural, social, político e econômico. • Reconhecer o papel da Física no sistema produtivo, compreendendo a evolução dos meios tecnológicos e sua relação dinâmica com a evolução do conhecimento científico. • Dimensionar a capacidade crescente do homem propiciada pela tecnologia. • Estabelecer relações entre o conhecimento físico e outras formas de expressão da cultura humana. • Ser capaz de emitir juízos de valor em relação a situações sociais que envolvam aspectos físicos e/ou tecnológicos relevantes. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Química Representação e comunicação • Descrever as transformações químicas em linguagens discursivas. • Compreender os códigos e símbolos próprios da Química atual. • Traduzir a linguagem discursiva em linguagem simbólica da Química e vice-versa. Utilizar a representação simbólica das transformações químicas e reconhecer suas modificações ao longo do tempo. • Traduzir a linguagem discursiva em outras linguagens usadas em Química: gráficos, tabelas e relações matemáticas. • Identificar fontes de informação e formas de obter informações relevantes para o conhecimento da Química (livro, computador, jornais, manuais etc). Investigação e compreensão • Compreender e utilizar conceitos químicos dentro de uma visão macroscópica (lógico empírica). • Compreender os fatos químicos dentro de uma visão macroscópica (lógico-formal). • Compreender dados quantitativos, estimativa e medidas, compreender relações proporcionais presentes na Química (raciocínio proporcional). • Reconhecer tendências e relações a partir de dados experimentais ou outros (classificação, seriação e correspondência em Química). • Selecionar e utilizar idéias e procedimentos científicos (leis, teorias, modelos) para a resolução de problemas qualitativos e quantitativos em Química, identificando e acompanhando as variáveis relevantes. 126 • Reconhecer ou propor a investigação de um problema relacionado à Química, selecionando procedimentos experimentais pertinentes. • Desenvolver conexões hipotético-lógicas que possibilitem previsões acerca das transformaçõesquímicas. Contextualização sócio-cultural • Reconhecer aspectos químicos relevantes na interação individual e coletiva do ser humano com o ambiente. • Reconhecer o papel da Química no sistema produtivo, industrial e rural. • Reconhecer as relações entre o desenvolvimento científico e tecnológico da Química e aspectos sócio-político-culturais. • Reconhecer os limites éticos e morais que podem estar envolvidos no desenvolvimento da Química e da tecnologia. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Matemática Representação e comunicação • Ler e interpretar textos de Matemática. • Ler, interpretar e utilizar representações matemáticas (tabelas, gráficos, expressões etc). • Transcrever mensagens matemáticas da linguagem corrente para linguagem simbólica (equações, gráficos, diagramas, fórmulas, tabelas etc.) e vice-versa. • Exprimir-se com correção e clareza, tanto na língua materna, como na linguagem matemática, usando a terminologia correta. • Produzir textos matemáticos adequados. • Utilizar adequadamente os recursos tecnológicos como instrumentos de produção e de comunicação. • Utilizar corretamente instrumentos de medição e de desenho. Investigação e compreensão • Identificar o problema (compreender enunciados, formular questões etc). • Procurar, selecionar e interpretar informações relativas ao problema. • Formular hipóteses e prever resultados. • Selecionar estratégias de resolução de problemas. • Interpretar e criticar resultados numa situação concreta. • Distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos. • Fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos, esboços, fatos conhecidos, relações e propriedades. • Discutir idéias e produzir argumentos convincentes. Contextualização sócio-cultural • Desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real. • Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais, em especial em outras áreas do conhecimento. • Relacionar etapas da história da Matemática com a evolução da humanidade. 127 • Utilizar adequadamente calculadoras e computador, reconhecendo suas limitações e potencialidades. BUSCANDO SABERES O ensino articulado das ciências e sua avaliação A articulação das várias áreas do conhecimento e das disciplinas da área das ciências, partilhando linguagens, procedimentos e contextos, converge para o trabalho educativo da escola como um todo, ao promover competências gerais dos alunos. Isso se reflete, como acabamos de acompanhar no caso das ciências, na preparação para o ensino de cada uma das disciplinas. O projeto pedagógico da escola, em última análise, orientaria essa ação das disciplinas e do conjunto da escola, com alunos e professores conscientes e participantes da execução do projeto; professores que compreendem suas disciplinas em função de metas mais gerais e alunos motivados para o aprendizado, porque atendidos em suas expectativas culturais e de continuidade no aprendizado – no ensino superior, diretamente no mundo do trabalho, ou em formação técnica. Para cumprir esses pressupostos, é recomendável, por um lado, promover atividades coletivas ou individuais dos alunos, em que suas preferências e interesses possam se manifestar, suas diferenças individuais possam se revelar e serem valorizadas, o que também contribui significativamente para a motivação, ou seja, para o desejo de aprender. Por outro lado, isso requer que os conteúdos formativos das muitas disciplinas tenham uma unidade, em termos de contextos comuns e das competências desenvolvidas, que o jovem possa identificar, não no discurso, mas na prática, em procedimentos comuns em sala de aula e no planejamento coerente de ações. É preciso construir essa articulação num trabalho conjunto, mas sem a necessidade de se definir um tema único, em cada uma das etapas, que se torne objeto de estudo de todas as disciplinas, ou de se conduzir, permanentemente, projetos interdisciplinares, envolvendo toda a escola de forma artificial, o que dificulta a programação das disciplinas. A articulação por competências, como no exercício feito nas disciplinas da área, na seção anterior, é uma alternativa que permite um tipo de organização do trabalho disciplinar em sala de aula ao longo dos três anos do ensino médio, e ainda possibilita coordenar o conjunto das disciplinas da área. Todas as competências são objeto de todas as séries, de forma que não há uma ordem cronológica entre elas, mas se pode promover uma progressão do trabalho, ao longo das três séries, em termos dos níveis de elaboração de cada um dos temas estruturadores do ensino, crescendo a partir de percepções mais concretas ou imediatas em direção a conceituações mais gerais e abstratas, que usem instrumentos mais sofisticados e que permitam sínteses e visões mais complexas. Para uma organização como essa, é essencial que todos os envolvidos, dos professores das disciplinas à coordenação pedagógica, desenvolvam o trabalho em conjunto, com consciência de seus objetivos, o que só se consegue com sua participação tanto no 128 planejamento quanto no acompanhamento da execução. Isso pode envolver a montagem de um programa, coerente com o projeto pedagógico, em que os temas e as competências sejam explicitados e articulados em progressão, levando-se em conta as condições reais da escola, ou seja, quadro geral de horários, número semanal de aulas de cada disciplina, formação dos docentes, perfil cultural dos alunos e características da região. É importante levar em conta todos esses aspectos para ficar claro que a tabela apresentada a seguir é apenas um exemplo de organização curricular conjunta, entre as disciplinas da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Não é currículo mínimo, nem currículo máximo; não se pretende uma organização ideal dos temas, nem se espera que, se ela servir de referência, os temas ou as unidades sejam tomados como de relevância equivalente, ou trabalhados com igual intensidade. A tabela representa simplesmente um exercício para uma escola idealizada, coerente com as intenções gerais explicitadas, a partir de uma seqüência plena de temas e tópicos de cada uma das quatro disciplinas da área, selecionados entre os que foram apresentados nas seções anteriores. 129 Fonte: PCN+, disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf, acesso em 10 de outubro de 2014. 130 UNIDADE 19 – Conhecimentos, Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias para o Ensino Médio CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer a visão da área, as competências e habilidades gerais e específicas das disciplinas potenciais propostas pelos PCNEM, para Ciências Humanas e suas Tecnologias para o Ensino Médio. ESTUDANDO E REFLETINDO A presença da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias na organização curricular do Ensino Médio tem por objetivo a constituição de competências que permitam ao educando: • Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a identidade própria e a dos outros. • Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm, como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e aos processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos. • Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos político sociais, culturais, econômicos e humanos. • Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a convivência emsociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos. • Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural. • Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão e trabalho de equipe, e associá-los aos problemas que se propõem resolver. • Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social. • Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho de equipe. • Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. 131 Procuramos agrupar as competências básicas e específicas da área, que foram acima descritas, com base em três grandes campos de competências de caráter geral que se aplicam às três áreas da organização curricular do Ensino Médio, compreendidas a partir de sua essência enquanto campos de conhecimento. O objetivo desse rearranjo é auxiliar as equipes escolares na tarefa de construir uma proposta curricular de caráter efetivamente interdisciplinar, cruzando os diversos conhecimentos específicos. Assim, temos competências ligadas a representação e comunicação, investigação e compreensão e contextualização sóciocultural. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em História Representação e comunicação • Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa, reconhecendo o papel das diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos diferentes contextos envolvidos em sua produção. • Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir das categorias e procedimentos próprios do discurso historiográfico. Investigação e compreensão • Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização do tempo cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas. • Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos processos históricos. • Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do reconhecimento do papel do indivíduo nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto dos mesmos. • Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos “lugares de memória” socialmente instituídos. Contextualização sócio-cultural • Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências, as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua constituição e significação. • Situar os momentos históricos nos diversos ritmos da duração e nas relações de sucessão e/ou de simultaneidade. • Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos. • Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado. 132 Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Geografia Representação e comunicação • Ler, analisar e interpretar os códigos específicos da Geografia (mapas, gráficos, tabelas etc.), considerando-os como elementos de representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou espacializados. • Reconhecer e aplicar o uso das escalas cartográfica e geográfica, como formas de organizar e conhecer a localização, distribuição e freqüência dos fenômenos naturais e humanos. Investigação e compreensão • Reconhecer os fenômenos espaciais a partir da seleção, comparação e interpretação, identificando as singularidades ou generalidades de cada lugar, paisagem ou território. • Selecionar e elaborar esquemas de investigação que desenvolvam a observação dos processos de formação e transformação dos territórios, tendo em vista as relações de trabalho, a incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento de redes sociais. • Analisar e comparar, interdisciplinarmente, as relações entre preservação e degradação da vida no planeta, tendo em vista o conhecimento da sua dinâmica e a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, tecnológicos e políticos que incidem sobre a natureza, nas diferentes escalas – local, regional, nacional e global. Contextualização sócio-cultural • Reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográfico atual a sua essência, ou seja, os processos históricos, construídos em diferentes tempos, e os processos contemporâneos, conjunto de práticas dos diferentes agentes, que resultam em profundas mudanças na organização e no conteúdo do espaço. • Compreender e aplicar no cotidiano os conceitos básicos da Geografia. • Identificar, analisar e avaliar o impacto das transformações naturais, sociais, econômicas, culturais e políticas no seu “lugar-mundo”, comparando, analisando e sintetizando a densidade das relações e transformações que tornam concreta e vivida a realidade. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Sociologia, Antropologia e Política Representação e comunicação • Identificar, analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e as do senso comum. • Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sociais, a partir das observações e reflexões realizadas. Investigação e compreensão 133 • Construir instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana, ampliando a “visão de mundo” e o “horizonte de expectativas”, nas relações interpessoais com os vários grupos sociais. • Construir uma visão mais crítica da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa, avaliando o papel ideológico do “marketing” enquanto estratégia de persuasão do consumidor e do próprio eleitor. • Compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e segmentos sociais, agindo de modo a preservar o direito à diversidade, enquanto princípio estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual. Contextualização sócio-cultural • Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica. • Construir a identidade social e política, de modo a viabilizar o exercício da cidadania plena, no contexto do Estado de Direito, atuando para que haja, efetivamente, uma reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e também entre os diferentes grupos. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Filosofia Representação e comunicação • Ler textos filosóficos de modo significativo. • Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros. • Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo. • Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes. Investigação e compreensão • Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais. Contextualização sócio-cultural • Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica. 134 BUSCANDO SABERES Fonte: https://www.google.com.br/search?q=forma%C3%A7%C3%A3o+do+professor&espv.Formação profissional permanente dos professores Não haveria razão aparente para discutir a formação inicial docente – competência do ensino superior – num documento dirigido a educadores que atuam no ensino médio. No entanto, há vários motivos para justificar que se levante essa problemática aqui e agora. Primeiro, porque crônicos e reconhecidos problemas da formação docente constituem obstáculos para o desempenho do professor, e a escola deve tomar iniciativas para superá-los. Segundo, porque as novas orientações promulgadas para a formação dos professores ainda não se efetivaram, já que constituem um processo que demanda ajustes de transição a serem encaminhados na escola. Terceiro, porque em qualquer circunstância a formação profissional contínua ou permanente do professor deve se dar enquanto ele exerce sua profissão, ou seja, na escola, paralelamente a seu trabalho escolar. As questões a serem enfrentadas na formação são históricas. No caso da formação nos cursos de licenciatura, em seus moldes tradicionais, a ênfase está contida na formação nos conteúdos da área, onde o bacharelado surge como a opção natural [...], sendo que a atuação como “licenciados” é vista [...] como “inferior”, passando muito mais como atividade “vocacional” ou que permitiria grande dose de improviso [...].(Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (8/5/2001). Ao se envolver na formação, a escola deverá promover essas qualidades docentes, eventualmente já estimuladas na formação inicial, mas podem ser até mais eficazmente desenvolvidas no próprio ambiente de trabalho, se esse for culturalmente ativo, socialmente solidário, permanentemente cooperativo e aberto ao questionamento. A 135 criação de um ambiente com essas características depende do projeto pedagógico da escola e isso revela, ao mesmo tempo, uma convergência para o que propôs a própria LDBEN de 1996, em seu artigo 13, como responsabilidade dos professores: [...] participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; zelar pela aprendizagem dos alunos; estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Se a escola funcionar em bases nas quais seus professores possam cumprir esses preceitos legais, já estará dando os passos mais importantes para implementar ao menos parte de um programa de transição, para suprir deficiências na formação inicial de seus professores, assim como para realizar uma tarefa sua, essencial em qualquer circunstância, que é a formação profissional permanente de seus professores. O que se deseja, afinal, são professores reflexivos e críticos, ou seja, professores com um conhecimento satisfatório das questões relacionadas ao ensino-aprendizagem e em contínuo processo de auto formação, além de autônomos e competentes para desenvolver o trabalho interdisciplinar. Um dos instrumentos úteis a essa reflexão baseia- se em procedimentos de auto-observação e análise, em que se destaca a importância de o professor saber o que faz em sala de aula e de saber por que faz dessa forma e não de outra. Na reflexão sobre a própria prática, acabam emergindo também traços da história de vida dos profissionais, que podem conduzir reflexões sobre as crenças que permeiam seu conceito de ensino e aprendizagem. Pensar e repensar o discurso e a prática, individual ou coletivamente, nos relatos em grupos da biografia profissional de cada professor, num movimento cooperativo, de co-responsabilidade e negociação, poderá levar à convergência para o aperfeiçoamento profissional e, em última análise, para a construção da escola pretendida. Os professores com essas novas atitudes são promotores e partícipes de escolas que se reconhecem como espaços de formação profissional ininterrupta. Essas escolas estão reinventando o ensino médio e a educação básica no Brasil. 136 UNIDADE 20 – Questão das relações étnico raciais CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Com base no documento Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, esta unidade tem como objetivo trazer para o debate as questões que permeiam a sociedade brasileira desde seu início, tendo em vista os componentes de diferentes povos que colonizaram o Brasil e constituíram sua sociedade humana. O Brasil, ao longo de sua história, estabeleceu um modelo de desenvolvimento excludente, impedindo que milhões de brasileiros de etnias diferenciadas (especialmente negros, índios e pobres) tivessem acesso à escola ou nela permanecessem. Com a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), o Ministério da Educação dá um grande passo para enfrentar a injustiça nos sistemas educacionais do país. A constituição da Secad traduz uma inovação institucional. Pela primeira vez, estão reunidos os programas de alfabetização e de educação de jovens e adultos, as coordenações de educação indígena, diversidade e inclusão educacional, educação no campo e educação ambiental. Esta estrutura permite a articulação de programas de combate à discriminação racial e sexual com projetos de valorização da diversidade étnica. Um dos seus objetivos é tornar a multiplicidade de experiências pedagógicas dessas áreas em modos de renovação nas práticas educacionais. 137 ESTUDANDO E REFLETINDO O Brasil, Colônia, Império e República, teve historicamente, no aspecto legal, uma postura ativa e permissiva diante da discriminação e do racismo que atinge a população afro-descendente brasileira até hoje. O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. Após a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil busca efetivar a condição de um Estado democrático de direito com ênfase na cidadania e na dignidade da pessoa humana, contudo, ainda possui uma realidade marcada por posturas subjetivas e objetivas de preconceito, racismo e discriminação aos afro-descendentes, que, historicamente, enfrentam dificuldades para o acesso e a permanência nas escolas. A educação constitui-se um dos principais ativos e mecanismos de transformação de um povo e é papel da escola, de forma democrática e comprometida com a promoção do ser humano na sua integralidade, estimular a formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças e as características próprias de grupos e minorias. O governo federal sancionou, em março de 2003, a Lei nº 10.639/03-MEC, que altera a LDB (Lei Diretrizes e Bases) e estabelece as Diretrizes Curriculares para a implementação da mesma. A 10.639 instituiu a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio. Essa decisão resgata historicamente a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. Criou, em 21 de março de 2003, a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e instituiu a Política Nacional de Promoção da 138Igualdade Racial. Desta forma, recolocou a questão racial na agenda nacional e a importância de se adotarem políticas públicas afirmativas de forma democrática, descentralizada e transversal. O principal objetivo desses atos é promover alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e trilhar rumo a uma sociedade democrática, justa e igualitária, revertendo os perversos efeitos de séculos de preconceito, discriminação e racismo. A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós- abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações. BUSCANDO SABERES O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e pedagógicas, visando a reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros depende necessariamente de condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para aprendizagens; em outras palavras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. Depende também, de maneira decisiva, da reeducação das relações entre negros e brancos, o que aqui estamos designando como relações étnico-raciais. Depende, ainda, de trabalho conjunto, de articulação entre processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola. É importante destacar que se entende por raça a construção social forjada nas tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes simuladas como 139 harmoniosas, nada tendo a ver com o conceito biológico de raça cunhado no século XVIII e hoje sobejamente superado. Cabe esclarecer que o termo raça é utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira. Contudo, o termo foi ressignificado pelo Movimento Negro que, em várias situações, o utiliza com um sentido político e de valorização do legado deixado pelos africanos. É importante, também, explicar que o emprego do termo étnico, na expressão étnico-racial, serve para marcar que essas relações tensas devidas a diferenças na cor da pele e traços fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e princípios das de origem indígena, européia e asiática. Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro e africano e um padrão estético e cultural branco europeu. Porém, a presença da cultura negra e o fato de 45% da população brasileira ser composta de negros (de acordo com o censo do IBGE) não têm sido suficientes para eliminar ideologias, desigualdades e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um imaginário étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raízes européias da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras, que são a indígena, a africana, a asiática. Para conduzir suas ações, os sistemas de ensino, os estabelecimentos e os professores terão como referência, entre outros pertinentes às bases filosóficas e pedagógicas que assumem, os princípios a seguir explicitados. CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE Este princípio deve conduzir: a) à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos; b) à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, 140 igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história; c) ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira; d) à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratados; e) à desconstrução, por meio de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, idéias, comportamentos veiculados pela ideologia do branqueamento, pelo mito da democracia racial, que tanto mal fazem a negros e brancos; f) à busca, da parte de pessoas, em particular de professores não familiarizados com a análise das relações étnico-raciais e sociais com o estudo de história e cultura afro-brasileira e africana, de informações e subsídios que lhes permitam formular concepções não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas; g) ao diálogo, via fundamental para entendimento entre diferentes, com a finalidade de negociações, tendo em vista objetivos comuns, visando a uma sociedade justa. 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