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1 ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA 2 MAQUINOGRAMA NÃO É HEMOGRAMA. CUIDADO! A busca por diagnósticos rápidos na medicina veterinária está em ampla expansão. Assim, os exames laboratoriais já figuram no dia a dia das Clínicas e Hospitais como algo imprescindível para o bom exercício da profissão.Porém, a necessidade de exames mais ágeis não pode comprometer a qualidade e a precisão das análises. Existe uma diferença enorme entre um HEMOGRAMA – realizado por um Médico Veterinário Patologista Clínico ou Hematologista Veterinário e um exame gerado por uma máquina sem qualquer análise qualitativa – seja análise pré-analítica- seja na execução do hemograma (LEITURA DAS LÂMINAS), seja na fase pós-analítica – interpretação dos achados. Existe muita diferença entre os resultados destes maquinogramas e de Hemogramas realizados por especialista. Obviamente, quem comercializa estas máquinas sempre irá dizer que é a mesma coisa, mas aqui entra o discernimento e o olhar científico de pesquisadores. Bom, caros colegas, se fosse a mesma coisa não existiria a Profissão de Patologista Clínico ou de Hematologista – profissionais que estudam para analisar cada hemograma de forma única. Hemogramas felinos, por exemplo, jamais podem ser liberados apenas por leitura de máquinas – as particularidades encontradas na leitura das lâminas em felinos são inúmeras e fundamentais para o laudo final. Um Hemograma com problemas na coleta não será devidamente analisado pela máquina e o laudo poderá ter interferências nas análises, o que pode trazer sérias consequências para o diagnóstico clínico veterinário. Visando esta segurança, os laboratórios veterinários investem cada vez mais em novas tecnologias, como aparelhos com softwares calibrados para análises das diferentes espécies e tendo, ainda, a presença de um médico veterinário hematologista como responsável técnico para a leitura de cada lâmina. Este é o profissional qualificado que conhece as particularidades das diversas espécies e assegura a qualidade do exame. Pesquisadores veterinários conseguiram definir os parâmetros fisiológicos laboratoriais, não somente nas espécies domésticas, mas também em animais silvestres, onde cada uma delas possui características próprias e diferenças que só um laboratório com médicos veterinários capacitados pode perceber e, assim, gerar o laudo correto para a espécie pesquisada. O Hematologista Veterinário é o garantidor da Qualidade do Produto final – o laudo - que será referência para a tomada de decisões pelo Clínico. A contagem diferencial de leucócitos difere entre espécies e é fornecida pela análise conjunta dos equipamentos automatizados e pela leitura do esfregaço corado pelos Hematologistas veterinários, que avaliam as diferentes formas leucocitárias e as expressam de forma relativa e absoluta. Os neutrófilos carregam consigo informações valiosas como alterações tóxicas/corpúsculos de Dohlle. Os Linfócitos também carregam informações que a máquina não fornece, como a reatividade por estímulo antigênico, atipias devido à processos neoplásicos ou hemoparasitas Ex. Erliquiose). A avaliação microscópica é essencial para detectar a presença de bastonetes (desvio à esquerda) e informações importantes que a Lâmina pode conter, como por exemplo, presença de hemoparasitas (Anaplasma sp, Babesia sp e Erlichia canis) e corpúsculos de Lenz. Tais achados são encontrados apenas com a análise das lâminas, o que reforça a necessidade de um médico veterinário devidamente capacitado para reconhecê-los e descrevê-los em seu laudo. Mediante todas essas informações e das particularidades entre espécies, conclui-se claramente que a leitura das lâminas e a análise e acompanhamento de um Médico Veterinário Hematologista ou Patologista Clinico é fundamental e imprescindível. Exames de máquinas, sem nenhuma análise por parte de médicos veterinários, são aceitáveis nas emergências – mas na rotina sempre devemos prezar pela excelência na qualidade de resultado deste importante exame. #maquinanaofazhemograma! EDITORIAL Luiz Eduardo Ristow Diretor Presidente Dr. Otávio Valério de Carvalho MV- Phd em Virologia Molecular Diretor Técnico 4 Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios. ÍNDICE Editores/Publishers: Dr. Luiz Eduardo Ristow . CRMV-SP 5560S . CRMV-MG 3708 . ristow@tecsa.com.br Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. . afonsoperez@tecsa.com.br Equipe de Médicos Veterinários TECSA . tecsa@tecsa.com.br Diagramação: Sê Comunicação . se@secomunicacao.com.br Contatos e Publicidade: comunicacao@tecsa.com.br Av. do Contorno , nº 6226 , B. Funcionários, Belo Horizonte - MG – CEP 30.110-042 PABX-(31) 3281-0500 Tiragem: 5000 revistas . Publicação Bimestral Na Internet: www.vetsciencemagazine.com.br CIRCULAÇÃO DIRIGIDA A revista VetScience® Magazine é uma publicação do Grupo TECSA dirigida somente aos médicos veterinários, como parte do Projeto JORNADA DO CONHECIMENTO, criado pelo mesmo. Este projeto visa a universalização do conhecimento em Medicina Laboratorial Veterinária. A periodicidade é Bimestral, com artigos originais de pesquisa clínica e experimental, artigos de revisão sistemática de literatura, metanálise, artigos de opinião, comunicações, imagens e cartas ao editor. Não é permitida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem a prévia autorização do TECSA. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista VetScience magazine. Grupo TECSA – Referência de precisão, tecnologia e inovação desde 1994! EXPEDIENTE ISSN: 2358-1018 ÍNDICE 40. ANEMIAS EM FELINOS 36. MEDICINA DE FELINOS 06. FLUIDOTERAPIA EM PEQUENOS ANIMAIS 11. ANESTESIA NO PACIENTE CRÍTICO 16.PRINCÍPIOS GERAIS DA CIRURGIA DE URGÊNCIA 23.EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS EM ANIMAIS DE COMPANHIA 25.SEPSE E A SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA (SARA) 28. HIPOCALCEMIA GRAVE COM SINAIS NEUROMUSCULARES PROVENIENTE DE HIPOPARATIREOIDISMO EM UM CÃO 30. RECEPÇÃO DE PACIENTES EM URGÊNCIA 35. DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS E DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM DOIS CASOS PRESUNTIVOS DE LEPTOSPIROSE CANINA COM ÓBITO PRECOCE 37. INFEÇÕES NOSOCOMIAIS 06. EMERGÊNCIAS Colaboraram neste número: Dr. Anderson C. Camargo; Dr. Cláudio Roberto S. Mattoso; Dra. Daniele Silvano Gonçalves; Dr. Guilherme Stancioli; Dra. Isabela de Oliveira Avelar; Dra. Janete Madalena da Silva; Dr. João Paulo Fernandez Ferreira; Dr. João Paulo Franco; Dr. Luiz Eduardo Ristow; Dra. Luiza França Melo; Dra. Marcela Ribeiro Gasparini; Dr. Otávio Valério de Carvalho; Dr. Thiago Luis Santos Gonçalves, todos membros da Equipe de Médicos Veterinários do TECSA Laboratórios. Além do Médico Patologista Clínico Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. Contribuíram também para este número os renomados Colegas: Dra. Alice Volpi; Dra. Ana Maria R. Ferreira; Dr. Breno Curty Barbosa; Dra. Cíntia Cristina Martins Valadares de Souza; Dra. Gracy C.G. Marcello; Dra. Karoline Figueiredo Camargo; Dra. Maria Cristina N. Castro; Dr. Marthin R. Lempek; Dra. Marília Martins Melo; Dr. Nayro X. Alencar; Dr. Nuno Paixão; Dr. Rubens Antonio Carneiro; Dra. Taiane Rodrigues; Dra. Veruschka Kellermann Brauer e Dr. José Vieira- reira; Dr. Warley Gomes dos Santos. 6 EMERGÊNCIAS FLUIDOTERAPIA EM PEQUENOS ANIMAIS Dra. Taiane Rodrigues, Médica Veterinaria, Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal. Dr. Nuno Paixao, Médico Veterinario, Diretor do Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal - Contacto: nunopaixao@hospvetcentral.pt base de água, com moléculas pequenas, às quais, a membrana capilar é permeável, fazendo-os capazes de entrar em todos os compartimentoscorpóreos (KIRBY & RUDLOFF, 2008). A translocação desses fluidos do capilar ao espaço intersticial ocorre devido às forças de Starling. A solução de Ringer Lactato, por exemplo, quando administrada por via endovenosa, retém apenas 20% no espaço intravascular, tendo os 80% restantes localizados no interstício após, cerca de 1 hora. O fato do cristaloide participar de todo o plano de terapia hídrica que ocorre, ajudando o líquido intersticial a desempenhar seu papel no metabolismo e na sobrevivência da célula, o torna de grande importância (KIRBY & RUDLOFF, 2008). Estas soluções, ainda podem ser divididas em: Soluções de manutenção e soluções de reposição. As soluções de reposição são isotônicas, alcalinizantes ou acidificantes, e mesmo apresentando composição de eletrólitos semelhante ao plasma, possuem o sódio como base de constituição. Foram desenvolvidos para corrigir falhas específicas na concentração plasmática, assim como, na quantidade corporal total de eletrólitos e álcalis (Sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, cálcio e fósforo). Por isso, podem ser utilizadas de forma rápida e em quantidades consideráveis, mas cuidadosas, sem interferir nas concentrações hidroeletrolíticas normais do plasma (MORAIS & TRAPP, 1998; MONTIANI-FERREIRA & PACHALY, 2000). No entanto, a administração de grandes volumes pode causar uma redução na pressão oncótica plasmática, diluindo sua concentração de bicarbonato e resultando em uma acidemia dilucional, que poderá ser evitada se forem empregadas soluções que contenham lactato, acetato ou gluconato. Isto porque, estes, são precursores metabólicos do bicarbonato via biotransformação nos músculos, fígado e maioria dos tecidos (MONTIANI-FERREIRA & PACHALY, 2000). As principais soluções de reposição e os comentários relevantes estão no Quadro 2. Soluções de manutenção são administradas a pacientes ainda enfermos, porém, após a recuperação do déficit hídrico. Foram formuladas com o intuito de repor as perdas diárias normais de eletrólitos e líquidos hipotônicos, e também satisfazem as necessidades de potássio em pacientes que necessitem do mesmo. Caso sejam utilizados fluidos de reposição na terapia de manutenção, o excesso de eletrólitos é eliminado graças à função renal. Porém, se utilizados de forma prolongada, isso pode resultar em hipocalemia. Para evitarmos tal desequilíbrio, as soluções de reposição deverão ser adicionadas com cloreto de potássio (Figura 1), de forma que a concentração final deste eletrólito seja 20-30 mEq/L. Em comparação ao plasma, as soluções possuem uma quantidade mais elevada de potássio e muito mais baixa de sódio e de cloreto. Soluções de manutenção não são elaboradas para infusões rápidas (MORAIS et al., 2003). Para formular líquidos de manutenção próprios, estima-se que a necessidade seja de 40-60 mEq / L de sódio e 20- 30 mEq / L de potássio. A solução fisiológica de Nacl 0.9% tem 0 mEq / L, enquanto o Ringer Lactato tem 4mEq / L de potássio. Sendo assim, 1. Introdução. Perdas volêmicas são distúrbios comuns na prática veterinária e estão associadas a inúmeros fatores. Sua identificação é fácil e o seu tratamento, embora possa parecer simples, requer boa dose de critério e conhecimento. O sucesso desta terapia depende da escolha correta do fluido de acordo com o tipo de necessidade do paciente. E para isto, é necessário tanto o entendimento da fisiologia dos líquidos corporais, quanto da farmacologia das soluções empregadas. 2. Soluções empregadas na fluidoterapia. Os cristaloides e colóides são as duas principais classes de líquidos utilizadas na fluidoterapia. Para uma visão geral da classificação destas soluções de acordo com critérios variáveis, o quadro abaixo (Quadro1) mostra, de forma simples, como podem ser divididas. Quadro 1. Classificação das soluções utilizadas em fluidoterapia 1.De acordo com o tamanho molecular e permeabilidade capilar 1.1 Cristalóide 1.2 Colóide 2. De acordo com a osmolaridade ou tonicidade 2.1 Hipotônico 2.2 Isotônico 3. De acordo com a função pretendida 3.1 Manutenção 3.2 Reposição Normalmente, os cristaloides, como as soluções de NaCl 0,9%, NaCl 0,45%, Ringer Lactato e Glicose 5%, são as soluções mais empregadas na fluidoterapia por serem constituídos à https://www.facebook.com/veruschka.kellermannbrauer?fref=nf 7 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA todos os pacientes que são submetidos à fluidoterapia e que não apresentem hipercalemia, devem ter a fluido suplementada com KCl diluído. Para isto, temos que 15 ml de KCl a 10% fornecem 20mEq de potássio. Logo, para obtenção de uma solução com 15 mEq / L de potássio são necessários cerca de 10 mL de KCl a 10% por litro de Ringer Lactato (MORAIS et al, 2000). Figura1. Solução de Cloreto de potássio empregada para suplementação de algumas soluções cristalóides. A solução glicosada a 5% deve ser aplicada sempre de forma lenta, seja para repor déficits calculados, na administração de fármacos de infusão a uma velocidade constante ou em combinação com líquidos de reposição. No último caso, cria-se uma solução de ajuste para manutenção, o que resulta em um líquido de reposição parcialmente concentrado com glicose a 5%. Para isto, podemos adicionar 5 ampolas de glicse 50% em 500mL de Ringer Lactato (Kirby e Rudloff, 2004). Tal solução, não deve ser utilizada como “fonte de calorias” para pacientes, pois, além de propiciar apenas 15% das necessidades calóricas de manutenção, a glicose é metabolizada e serve, somente, como fonte de água. Pode ser administrada a pacientes que apresentam alto-risco de desenvolver hipoglicemia, como aqueles com insulinomas ou choque séptico (MORAIS, 2002). Quadro 2. Principais soluções de reposição e manutenção empregadas na fluidoterapia. S o l u ç ã o isotônica de Ringer Lactato - Composição similar ao L.E.C; - pH 6.5; - Características alcalinizantes, uma vez que o lactato sofre biotransformação hepática em bicarbonato, sendo, portanto, indicada para as acidoses metabólicas; - É a mais versátil das soluções Empregadas; - Por conter cálcio está contra indicada para pacientes hipercalcêmicos; - Não deve ser administrada junto com hemoderivados, no mesmo cateter, pois causa precipitação do cálcio com o anticoagulante; S o l u ç ã o isotônica de Ringer - Características similares ao Ringer Lactato; - Não contém lactato; - Contém mais cloreto e mais cálcio que outras soluções, tornando-a levemente acidificante (ph 5,5); - É a solução mais indicada para alcaloses metabólicas; S o l u ç ã o isotônica de Nacl a 0,9% - Não é uma solução balanceada, pois contém apenas sódio, cloro e água; - É acidificante, sendo indicada para pacientes com alcalose,hipoadrenocorticismo, insuficiência renal , oligúrica-anúrica e hipercalcemia; S o l u ç ã o de Glicose 5% - Tem composição semelhante à solução de Nacl a 0,9%; - Apresenta, porém, maior osmolalidade e ph 4,0; A utilização de colóides está indicada, quando se necessita melhorar o quadro de hipotensão e contribuir para manter a pressão oncótica (MAZZAFERRO, 2011) como, por exemplo, no tratamento da hipovolemia, já que resulta, rapidamente, em uma estabilidade hemodinâmica, assim como, em oxigenação tecidual adequada. A expansão dessas soluções além de ser mais duradoura, necessita de volumes menores se comparada às soluções salinas isotônicas. Por exemplo, a perda de 1 ml de sangue pode ser reposta com 1 ml de coloide, porém, se utilizarmos soluções cristaloides, essa proporção é passa de 1:1 à 1:3 até 1:4 (PETTIFER, 2007; FANTONI, 2008). Seu volume de expansão é definido pela distribuição, peso molecular, pressão oncótica, taxa de degradação, carga elétrica e limiar de eliminação (FANTONI & CARDOZO, 2012). A administraçãosem cuidados pode resultar em efeitos colaterais como coagulopatias, falência renal, reações anafiláticas e disfunção hepática. Por outro lado, a probabilidade Por outro lado, os colóides, conhecidos por seu alto peso molecular, exercem efeito expansor, por possuírem macro moléculas incapazes de atravessar o endotélio capilar, permanecendo, assim, no espaço intravascular. (FANTONI, 2008; CORTOPASSI & PATRICIO, 2009). Podem ser classificados em naturais ou sintéticos (Quadro 3), de acordo com sua origem. Diferente da albumina no plasma, que contém moléculas de tamanho e peso iguais, os coloides sintéticos apresentam moléculas de peso e tamanho diversificados (PETTIFER, 2007; FANTONI & CARDOZO, 2012). Os tipos mais comuns de soluções coloidais e suas principais características, estão identificados no Quadro 4. Quadro 3. Classificação dos colóides 1.Colóides Naturais - Sangue fresco - Albumina 2.Colóides Sintéticos - Amidos - Gelatina 8 EMERGÊNCIAS de edema pulmonar ou edema periférico é menor com as soluções coloidais, assim como, o efeito deletério sobre a coagulação em decorrência da hemodiluição (FANTONI & CARDOZO, 2012). Também estão associados a menor neutrofilia e ação inflamatória e diminuiem a lesão endotelial coibindo o extravasamento de plasma para o interstício (FANTONI & CARDOZO, 2012). Quadro 4. Tipos e características das soluções coloidais. Amidos - Menor risco de reações anafiláticas entre os colóides sintéticos; - Relacionados à menor neutrofilia e reação inflamatória; - Diminuem a lesão endotelial coibindo o extravasamento de plasma para o interstício; Gelatina - Grandes riscos de reações anafiláticas; - Produzidas a partir do colágeno bovino; - Podem ocorrer coagulopatias dilucionais após administração de grandes volumes; - Respostas inflamatórias exacerbadas; - Baixo custo; Plasma - Capaz de aumentar o volume intravascular em até 5x o volume infundido devido à quantidade de albumina; - Podem ser administrados por meio de transfusões; - Por se tratar de um coloide natural apresenta menor risco de interferir na coagulação sanguínea; -Menor risco de reações anafiláticas; - Alto custo; Sangue Fresco - Indicado quando além de restabelecer a volemia, é necessário repor eritrócitos; - Alta capacidade de restabelecer o volume vascular; - Devem ser realizados testes de compatibilidade antes do procedimento; - Baixo risco de reações anafiláticas; Figura 1. Solução colóide (Hidroxietilamido), Soluções cristaloides de Ringer Lactato e Nacl 0,9%, respectivamente. 3. Etapas da fluidoterapia Depois de realizar a avaliação clínica do paciente, pode-se classificar o tipo e porcentagem de desidratação e/ ou hipovolemia que este apresenta. Sabendo disto, parte-se para a escolha do fluido a ser utilizado e como deve ser utilizado, levando em consideração que o programa de fluidoterapia compreende quatro etapas: Reanimação, reidratação, manutenção e reposição de perdas. A reanimação, normalmente, é crucial nos casos de urgência, onde se devem repor perdas ocorridas, de forma rápida, através de bolus, como por exemplo, nos casos de choque, que necessitam de reposição de grande volume de fluido em um pequeno espaço de tempo. O volume administrado deve ser o volume necessário para expandir o espaço intravascular, restabelecer a volemia e, consequentemente, perfusão e valores de pressões sanguíneas. A segunda fase, a reidratação, é a etapa de reposição, onde se calcula os déficits de fluidos e o percentual de desidratação do paciente, sendo realizada a administração da quantidade de fluido necessária para reidratá-lo. Esta reposição é feita, baseada na fórmula: VR (ml)= DH% x P x 10, onde “DH%” é o percentual de desidratação e “P” o peso. O tempo que essa reposição vai ocorrer, depende do tempo em que ocorreu a perda. Lembrando que em animais jovens a reposição pode ser feita em um intervalo mais curto, já em animais idosos, esta reposição não pode ser realizada tão rapidamente. Na manutenção, deve ser administrada a quantidade de fluido diária necessária. Geralmente, os valores calculados são de 40 ml/kg/dia para cães grandes e 60 ml/kg/dia para cães pequenos e gatos. A reposição de perdas corresponde às perdas posteriores, como por exemplo, nos casos de gastroenterites, onde se repõe a quantidade de fluido, através de bolus, para cada perda como vômito ou diarreia. Isto é um tanto quanto subjetivo, se levarmos em consideração que existem pacientes que não apresentam perdas posteriores como vômito, diarreia, hipertermia ou 9 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA poliúria. Nesses casos, o volume total de fluidos administrados a tal paciente, será o de reidratação acrescido ao de manutenção. Se, por acaso, o paciente tem perdas posteriores baixas, como, por exemplo, hipertermia, esse volume pode ser aumentado em 10%, porque para cada grau de temperatura elevada que ele apresenta mais perda de fluidos vai ocorrer. Se as perdas são moderadas, com alguns vômitos e diarreias, o volume aumenta em 15 %. E para perdas posteriores elevadas, aumentamos para 20%. De acordo com um estudo realizado sobre a quantidade média de líquido que um paciente perde para cada episódio de vômito ou diarreia, os valores obtidos foram de 2,5ml/kg e 5ml/kg, respectivamente. Valores estes, que devem ser repostos em bolus, na mesma quantidade, utilizando cristaloides. É de suma importância lembrar que as taxas nunca são constantes, necessitando, de reavaliação e readaptação, sempre que seja necessário. Normalmente, os pacientes que estão a receber fluidos, devem ser avaliados a cada 6-8h para um plano terapêutico mais eficaz. 4. Vias de administração Cateter Periférico • V. Cefálica • V. Safena Medial / Lateral Cateter Central • V. Jugular• V. Femoral Cateter Intra-Ósseo • Úmero • Fossa da Tíbia 5. Tipos de Cateter Teflon - Rígido;- Reatividade moderada; Silicone - Quimicamente inerte; - Suave; - Flexível; - Reatividade muito baixa; - Reutilizável; - Alto custo; Poliuretanos - Suave; - Flexível; - Reatividade moderada; Polivinilclorado - Extremamente reativo;- Não deve ser utilizado; Polipropileno - Extremamente reativo;- Não deve ser utilizado; Polietileno - Extremamente reativo;- Não deve ser utilizado; Figura 3. Cateteres venosos e seus respectivos calibres e tamanhos. 10 EMERGÊNCIAS 6. Conclusão A terapia fluídica não é a panacéia universal e não substitui o diagnóstico correto e tratamento das causas primárias do desequilíbrio hidroeletrolítico. Além disso, devemos levar em consideração que é a solução que se adapta ao paciente e não o contrário. O que muitas vezes acontece, é que o profissional submete o paciente a um protocolo de administração de soluções, que nem sempre são adequadas, resultando em sérios distúrbios iatrogênicos. O emprego correto da fluidoterapia e do seu manejo depende do conhecimento da fisiologia dos líquidos corporais, da escolha do fluido e das causas relacionadas. Garantidamente, se isto ocorrer, a taxa de sucesso no tratamento aumenta consideravelmente. Referências: RUDLOFF, E.; KIRBY R. Fluid Resuscitation and the Trauma Patient. Veterinary Clinical Small Animal, v.38, p.645–652, 2008. MORAIS, H.S.A.; TRAPP, S.M. Fluidoterapia: ¿Qué? ¿Cuándo?¿Cómo? Revista de Medicina Veterinaria, v.79, n.6, p.435-438, 1998. MONTIANI-FERREIRA, F..; PACHALY, J.R. Manual de fluidoterapia em pequenos animais. São Paulo: Editora Guará, 2000. 79 p. MORAIS, H.A.; DEARO, A.C.O.; PEREIRA, P.M.; REICHMANN, P. Fluidoterapia e Transfusão Sangüínea. In: ANDRADE, S.F. Manual de Terapêutica Veterinária. São Paulo: Roca, 2003, cap. 19, p.477-501. FANTONI, D.T. Colóides e produtos sanguíneos. In: Congreso Latinoamericano de Emergência y Cuidados Intensivos, 12, 2008, Riode Janeiro. Proceedings… Rio de Janeiro: LAVECCS, 2008. FANTONI, D.T.; CARDOZO L.B. Choque hipovolêmico In: RABELO, R.C. Emergência de pequenos animais: condutas clínicas e cirúrgicas no paciente grave. 14 Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p.282-291. PETIFFER, G. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais: Terapia hídrica, eletrolítica e ácido-básica. Barueri: Manole, 2007. v.3, p.17-43. MAZZAFERRO, E.M. Fluid therapy: it’s more than just lrs these days. In: Latin American Veterinary Conference, 10, 2011, Lima. Proceedings… Lima: LAVC, 2011. EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS COD EXAMES DIAS 570 CHECK-UP GLOBAL DE FUNÇÕES 0 856 CHECK-UP CARDIORRENAL 2 233 CHECK-UP EMERGÊNCIA 0 331 PERFIL ELETROLÍTICO 1 788 CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES COM HEMOGRAMA 0 235 CHECK-UP PÓS-OPERATÓRIO 1 591 COAGULOGRAMA 0 11 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA ANESTESIA NO PACIENTE CRÍTICO Dra. Juliana Meireles, Médica Veterinária, Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal. Dr. Nuno Paixao, Médico Veterinário, Director do Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal Contacto: nunopaixao@hospvetcentral.pt Avaliação do Paciente Sistema respiratório Deve-se avaliar frequência, padrão e esforço respiratório. Deve ser realizada também auscultação pulmonar, que fornecerá informações sobre a função respiratória do paciente. Qualquer anormalidade na auscultação (como sibilos, sons abafados e crepitação) deve ser investigada, sempre que possível, antes do procedimento anestésico, pois pode gerar complicações com risco de vida. A capacidade de transportar oxigênio também deve ser avaliada, mediante verificação dos níveis mínimos de hemoglobina. Sistema cardiovascular Deve-se avaliar a cor das mucosas, o tempo de preenchimento capilar, a frequência cardíaca, o ritmo, a qualidade e a sincronicidade do pulso, além da pressão arterial. Assim como em relação ao sistema respiratório, qualquer anormalidade deve ser investigada, sempre que possível, antes do procedimento anestésico, com a finalidade de tornar o procedimento mais seguro para o paciente. Sistema nervoso A anestesia é a depressão reversível do sistema nervoso central, e o anestesista baseia-se inclusive na avaliação deste sistema para avaliar a profundidade da anestesia através dos reflexos e tônus muscular. O desenvolvimento de um plano anestésico seguro e eficaz para os pacientes em questão requer o conhecimento do estado neurológico basal, ou seja, aquele anterior à administração de qualquer fármaco. Alguns medicamentos anestésicos podem resultar em alterações significativas na pressão intracraniana, com possibilidade de agravamento dos efeitos de eventual traumatismo craniano ou doença cerebral, razão pela qual se deve ter cuidado na escolha do protocolo a ser utilizado. Sistema renal Para todos os pacientes, não só os em estado crítico, a anestesia pode afetar a função renal, através da diminuição da filtração glomerular ou diminuição do fluxo sanguíneo renal. Concretamente, uma má função renal com azotemia pode afetar a resposta aos agentes anestésicos, ocasionando maior sensibilidade do SNC. A insuficiência renal também pode afetar o estado ácido-base do paciente, resultando em um aumento do potássio sérico. Pacientes com níveis séricos de potássio maiores do que 5,5 mEq/l não devem ser anestesiados, até que os níveis séricos do potássio tenham sido reduzidos. Por isso, os resultados da bioquímica sérica pré-anestesia devem ser analisados com o objetivo de se avaliar a função hepática, renal, estado ácido-base e os eletrólitos. Manejo da dor O tratamento da dor é uma questão importante a ser considerada após o exame inicial do paciente crítico, porque ela se mostrou um fator poderoso na produção de instabilidade fisiológica nesses pacientes. Por isso, é fundamental que o seu controle seja tomado como uma das prioridades. A principal preocupação que se tem quando se inicia o tratamento da dor é que ocorra “desestabilização” do paciente, devido aos efeitos dos analgésicos. No entanto, essa preocupação é injustificada na maioria dos casos. Para o tratamento da dor, podem ser utilizados fármacos opióides, AINES, anestésicos locais e dissociativos. Eles devem ser escolhidos de acordo com suas propriedades farmacocinéticas e possíveis efeitos adversos. Vale ressaltar que os opióides são os fármacos mais Introdução O paciente gravemente enfermo ou ferido representa um verdadeiro desafio no gerenciamento de anestesia e controle da dor, uma vez que, em razão do quadro instável, respondem de forma anormal a esses procedimentos. As reservas físicas e os mecanismos compensatórios estão, muitas vezes, reduzidos, resultando em pacientes mais frágeis, propensos a complicações e possivelmente incapazes de responder aos estresses adicionais da anestesia. Hipotensão, hipovolemia, hipercapnia, hipoxia, hipotermia, dor, arritmias e anormalidades eletrolíticas são alguns dos problemas potenciais para esses pacientes e que devem ser considerados na elaboração do protocolo anestésico, assim como o histórico do animal, os medicamentos previamente utilizados, o exame físico completo, os exames complementares necessários, os exames de emergência (glicemia, lactato, hematócrito, sólidos totais e eletrólitos) e o procedimento a ser realizado. É comum que surjam dúvidas acerca dos fármacos a escolher, das doses a serem utilizadas e em que ordem administrá-los. O conhecimento das particularidades dos diferentes compostos disponíveis, associado com a experiência clínica, influenciará diretamente nos índices de sucesso. É importante lembrar que, sempre que possível, a escolha dos fármacos deve ser feita após avaliação completa e detalhada do paciente, assim como estabilização respiratória e hemodinâmica. Ou seja, a tentação de apressar os pacientes instáveis para a anestesia/cirurgia deve ser evitada sempre que o risco da anestesia em um animal crítico for maior do que o do adiamento da cirurgia ou do procedimento, até que o animal seja estabilizado. 12 EMERGÊNCIAS utilizados para promover analgesia em pacientes críticos, porque são hemodinamicamente seguros. Medicação pré-anestésica A MPA não é comumente utilizada em pacientes traumatizados ou criticamente doentes, se o tratamento sistêmico da dor tiver sido implementado no período de avaliação. Se nenhuma analgesia foi previamente administrada, os opióides estão indicados e devem ser administrados, por serem fármacos seguros do ponto de vista cardiorrespiratório, embora possam causar uma depressão respiratória dose- dependente. Fármacos tranquilizantes, principalmente os benzodiazepínicos, podem ser necessários nos casos em que o animal está agitado ou que se deseja promover relaxamento muscular. Os fenotiazínicos também podem ser utilizados, desde que em baixas doses e em animais normovolêmicos. Os fármacos a serem utilizados devem ser escolhidos de acordo com o impacto hemodinâmico que promovem no paciente, a depressão cardiovascular e respiratória que causam, a eficiência do organismo para os metabolizar e eliminar e a incidência de afecções gástricas que promovem (náusea, regurgitação, salivação ou vômito). Nos pacientes letárgicos, deprimidos ou instáveis, a dose da maioria dos fármacos deve ser diminuída. Inclusive a MPA deve ser evitada nos casos em que seja desnecessária ou perigosa, passando-se imediatamente à indução anestésica. Tabela 1. Doses recomendadas de analgésicos, tranquilizantes e sedativos para uso em pacientes críticos. Drogas Doses Comentários OPIÓIDES Morfina 0,1 a 1 mg/kg IM, SC, IV a cada 4-6 horas 0,1 a 0,5 mg/kg/h (infusão) É agonista total dos receptoresmu. Pode causar salivação, vômito, retenção urinária, constipação intestinal e depressão respiratória leve. Possue baixo impacto cardiovascular, bom efeito sedativo, analgésico potente e efeito antitussígeno. Quando administrada pela via IV, pode causar liberação de histamina. Fentanil 0,002 a 0,01 mg/kg IV a cada 20-30 minutos 0,0001 a 0,0007 mg/kg/min (infusão) É agonista total dos receptores mu. Promove impacto cardiovascular e depressão respiratória de forma dose-dependente. Pode causar salivação. É muito utilizado em pacientes críticos. Analgésico potente e bom efeito sedativo. Butorfanol 0,1 a 0,8 mg/kg IM, SC, IV a cada 1-2 horas 0,1 a 0,2 mg/kg/min (infusão) É antagonista dos receptores mu e agonista dos receptores kappa. Possui efeito antitussígeno e sedativo leve. Recomendado para tratamento de dor leve. Promove baixo impacto cardiovascular e depressão respiratória, assim como menor ocorrência de efeitos gastrointestinais. Buprenorfina 0,01 a 0,03 mg/kg IM, SC, IV a cada 6-8 horas É agonista parcial dos receptores mu. Promove baixo impacto cardiovascular e depressão respiratória, assim como menor ocorrência de efeitos gastrointestinais. Muito utilizada para tratar dor pós-operatória leve a moderada. Metadona 0,2 a 1 mg/kg IM, IV, SC a cada 4-6 horas É agonista total dos receptores mu. Pode causar bradicardia, mas não demonstra depressão respiratória relevante. Promove sedação média e analgesia potente. Menor ocorrência de efeitos gastrointestinais. Meperidina 2 a 5 mg/kg IM, IV, SC a cada 1-2 horas É agonista total dos receptores mu. Promove menor atividade hipnótica, efeito constipante e ação sobre o centro da tosse, quando comparada à morfina. A depressão respiratória é semelhante a da morfina, assim como as alterações cardiovasculares. Promove sedação média e analgesia potente. Quando administrada pela via IV, pode causar liberação de histamina. Naloxona 0,01 a 0,02 mg/kg IM, IV, SC Antagonista dos receptores mu e kappa e delta. 13 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA BENZODIAZEPÍNICOS Diazepam 0,1 a 0,5 mg/kg IV Mínima depressão cardiorrespiratória. Não promovem analgesia. Indicados para pacientes críticos e podem se combinar com opióides ou dissociativos. Promovem adequado relaxamento muscular, sedação e efeito anticonvulsivante. Midazolam 0,1 a 0,5 mg/kg IM, SC, IV 0,1 a 0,5 mg/kg/h (infusão) Flumazenil 0,01 a 0,05 mg/kg IM, IV Antagonista FENOTIAZÍNICOS Acepromazina 0,01 a 0,05 mg/kg IM, SC, IV Seu uso não está recomendado em pacientes críticos devido ao impacto negativo a nível cardiovascular (hipotensão e vasodilatação). Promovem boa sedação, são antieméticos e não possuem efeito analgésico. Efeito prolongado. Não existe antagonista. São antiarrítmicos. ALFA 2 AGONISTAS Medetomidina 0,01 a 0,04 mg/kg IM, IV Promovem excelente analgesia, sedação e relaxamento muscular. Efeitos cardiovascular e respiratório relevantes, com hipertensão inicial seguida de hipotensão, bradicardia, vasoconstrição periférica intensa, arritmias e depressão respiratória. Podem provocar vômitos, hiperglicemia e diurese. Não recomendado para uso em pacientes críticos. Dexmedetomidina 0,001 a 0,01 mg/kg IM, IV Atipamezole 0,05 a 0,1 mg/kg IM, IV Antagonistas DISSOCIATIVO Ketamina 2 a 5 mg/kg IV 5 a 10 mg/kg IM Aumento da FC, contratilidade miocárdica, consumo de oxigênio pelo miocárdio e pressão arterial. Depressor do miocárdio em pacientes com sepse ou hipovolemia descompensada. Uso acompanhado de relaxante muscular. Promove boa analgesia. Deve-se ter cuidado com seu uso em pacientes com trauma crânioencefálico, devido ao aumento da PIC e pressão intra ocular. Indução e Manutenção Anestésica Os pacientes traumatizados devem ser considerados com estômago cheio, de modo que a proteção das vias aéreas é uma prioridade. A lesão do SNC deve ser assumida, a menos que seja comprovado o contrário, e os medicamentos anestésicos devem ser selecionados de acordo. A pré- oxigenação deve ser realizada antes da indução, pois permitirá tempo adicional para entubar o animal, o que se torna importante em animais com dificuldades respiratórias ou com via aérea de difícil entubação. É importante que a entubação seja realizada em todos os casos de anestesia geral, para controlar a ventilação e proteger a via aérea de possível aspiração. A indução anestésica, de maneira geral, requer menores doses nos pacientes críticos, quando comparados aos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos eletivos. A indução com propofol ou etomidato deve ser feita de maneira lenta, para permitir a identificação da dose mínima necessária a entubação endotraqueal. A indução com propofol, entretanto, causa hipotensão, e isso aumenta o risco anestésico em pacientes hipovolêmicos ou com baixas reservas cardíacas. Uma alternativa de indução mais segura para pacientes hemodinamicamente instáveis é o uso de opióides, principalmente fentanil, associados aos benzodiazepínicos, para promover o relaxamento muscular adequado. Para facilitar a entubação pode-se realizar a dessensibilização tópica da laringe com lidocaína. Todos os anestésicos inalatórios 14 EMERGÊNCIAS promovem depressão cardiovascular, respiratória, diminuição do metabolismo cerebral, aumento do fluxo sanguíneo cerebral e aumento da PIC de forma dose dependente. Por isso, deve-se encontram a CAM mínima necessária para manter o paciente em plano anestésico/ cirúrgico com mínimos efeitos secundários. Nesse sentido, o uso de analgesia multimodal é o mais indicado. Técnicas de bloqueio locorregional são recomendadas para diminuir o requerimento dos anestésicos gerais e os fármacos mais utilizados nesses bloqueios são lidocaína e bupivacaína, sendo que o tempo de início da ação da lidocaína é menor (5 minutos), quando comparado ao da bupivacaína (15 minutos), enquanto que a duração da bupivacaína é maior (4 horas), quando comparada a da lidocaína (2 horas). Outra alternativa para diminuir o requerimento dos agentes inalatórios é fornecer analgesia parenteral usando fármacos que tenham menos efeitos deletérios no desempenho cardíaco. A forma mais simples é administrar, de forma contínua, fármacos que tenham efeito analgésico pela via IV, sendo os mais utilizados os opióides, lidocaína e ketamina. Em pacientes com trauma crânioencefálico e aumento da PIC, a manutenção anestésica com agentes inalatórios não é indicada, pois pode induzir a desregulação do fluxo cerebral, como consequência da vasodilatação cerebrovascular. Nesses casos, pode ser mais seguro o uso do propofol em infusão contínua, como forma de manutenção anestésica. Tabela 2. Doses recomendadas de anestésicos para uso em pacientes críticos. Drogas Doses Comentários BARBITÚRICOS Propofol 1 a 10 mg/kg IV (dose dependente) 0,005 a 0,2 mg/kg/min (infusão contínua) Rápida indução anestésica (30 segundos) e curta duração (5 a 10 minutos). Importante depressor cardiorrespiratório dose-dependente. Anticonvulsivante. Diminui a PIC. Não promove analgesia. Etomidato 0,5 a 2 mg/kg IV Rápida indução anestésica e eliminação. Pobre relaxamento muscular, por isso deve ser associado a sedativos ou tranquilizantes. Promove mínima depressão. Pode induzir aumento da PIC, por isso seu uso deve ser evitado em pacientes com trauma craniano. Não promove analgesia. INALATÓRIOS Isofluorano/ Sevofluorano/ Desfluorano --- Promovem depressão cardiorrespiratória dose-dependente. Requerem adequada ventilação alveolar e débito cardíaco para serem absorvidos. Monitoração O suporte transcirúrgico deve ser individualizado para cada paciente e orientado também por fatores identificados durante o período pré-cirúrgico. É importante que a monitorização seja a mais completa possível, avaliando principalmente eletrocardiografia (avaliaa função elétrica do coração), capnografia (método não invasivo para avaliar ventilação alveolar e perfusão pulmonar), oximetria de pulso (mede a saturação arterial de hemoglobina com oxigênio), controle da pressão arterial (oscilômetro, Doppler ou pressão arterial invasiva) e temperatura corporal (monitorada para definir quando são necessárias medidas de suporte). Mesmo após o término do período anestésico/cirúrgico o paciente crítico requer a mesma intensidade de monitoração e supervisão, sendo essencial uma unidade de cuidados intensivos, até que a recuperação do paciente seja completa. A administração de fluidos é necessária nesses pacientes, devido às perdas normais, somadas, eventualmente, às perdas excessivas e associadas às hemorragias, perdas gastrointestinais e consumo de água diminuído. Dessa forma, pacientes críticos geralmente se beneficiam quando têm mais de um acesso venoso (via de administração de escolha), possibilitando que múltiplos agentes e fluidos possam ser administrados durante e após o período anestésico. Ambos os fluidos, cristaloides (5-15 ml/kg/h) e coloides (4ml/kg/bolus), podem ser apropriados, dependendo do caso. Animais com hipoalbunemia e hipovolemia se beneficiam de bolus de coloide, que pode aumentar o volume plasmático entre 2 e 4 ml por ml de colóide administrado. As perdas de sangue estimadas superiores a 25% indicam a necessidade de administração de componentes sanguíneos ou sangue 15 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA total, como forma de fornecer equilíbrio coloidal adequado e proporcionar capacidade de transporte de oxigênio aos tecidos. Além dos cuidados para manutenção do equilíbrio coloidal, pode ser necessária uma terapia específica para tratar a hipotensão. Agentes inotrópicos, como dopamina (0,003- 0,007 mg/kg/min) ou dobutamina (0,002-0,005 mg/kg/min), podem ser utilizados para aumentar a pressão sanguínea e estabelecer hemodinâmica estável. Referências Aldrigde, P., & O’dwyer, L. (2013). Analgesia and anaesthesia of the emergency and critical patient. Em P. Aldrigde, & L. O’dwyer, Practical emergency and critical care veterinary nursing (pp. 52-62). West Sussex: Wiley-Brackwell. Araos, J., Portela, D. A., & Otero, P. E. (2013). Considerações anestésicas no paciente crítico. Em R. Rabelo, Emergências de pequenos animais: condutas clínicas e cirúrgicas no paciente grave (pp. 743-750). Rio de Janeiro: Elsevier. EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS COD EXAMES DIAS 581 PERFIL GLICÊMICO 1 333 PERFIL HEPÁTICO 0 233 CHECK-UP EMERGÊNCIA 0 788 CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES COM HEMOGRAMA 0 570 CHECK-UP GLOBAL DE FUNÇÕES 0 324 PERFIL BIOQUÍMICO 0 801 PERFIL CHECK-UP GLOBAL PLUS 1 331 PERFIL ELETROLÍTICO 1 348 PERFIL PRÉ-ANESTÉSICO I 0 345 PERFIL PRÉ-OPERATÓRIO 0 Kushner, L. I. (2010). Anesthetic protocols for systemically healthy cats. Em K. J. Drobatz, & M. F. Costello, Feline emergency and critical care medicine (pp. 53-61). Ames: Wiley-Blackwell. Kushner, L. I. (2010). Guidelines for anesthesia in critically ill feline patients. Em K. J. Drobatz, & M. F. Costello, Feline emergency and critical care medicine (pp. 39-52). Ames: Wiley- Blackwell. Perkowski, S. Z. (2009). Sedation of the critically ill patient. Em D. C. Silverstein, & K. Hopper, Small animal critical care medicine (pp. 700- 704). St. Louis: Saunders elsevier. Raiser, A. G., Castro, J. L., & Santalucia, S. (2015). Trauma - avaliação e manejo. Em A. G. Raiser, J. L. Castro, & S. Santalucia, Trauma: uma abordagem clínico-cirúrgica (pp. 20-34). Curitiba: Medvep. 16 EMERGÊNCIAS PRINCÍPIOS GERAIS DA CIRURGIA DE URGÊNCIA Dra. Karoline Figueiredo Camargo, Médica Veterinaria, Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal Dr. Nuno Paixao, Médico Veterinario, Director do Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal Dra. Alice Volpi, Médica Veterinaria, Serviço de Urgência, Cuidados Intensivos e Anestesia do Hospital VetCentral, Portugal 1) Pacientes que necessitam cirurgia imediata para evitar a morte; 2) Pacientes hemodinamicamente instáveis e com lesões que contribuem significativamente para a morbilidade e que exigem intervenção cirúrgica; 3) Pacientes hemodinamicamente estáveis e podem ser operados conforme a gravidade das lesões. Em pacientes gravemente traumatizados onde há necessidade de intervenção cirúrgica urgente, pode ser realizado com pouca consideração pela assepsia, no entanto, preconizar ao máximo uma cirurgia limpa. Em casos que não é necessária uma cirurgia de salvação iminente, a reanimação apropriada e estabilização do paciente são essenciais antes da indução anestésica. Se o animal não estiver respondendo a reanimação volêmica e aos cuidados de suporte, deve-se ter em mente que o procedimento cirúrgico pode ser essencial para a estabilização.A determinação da estabilidade do paciente é crítica e é uma área de investigação em curso na medicina humana. Há pouca literatura na medicina veterinária sobre o momento ideal para a intervenção cirúrgica. Complicações em paciente com trauma severo são frequentemente associadas à lesões teciduais graves e desenvolvimento de um estado inflamatório geral. O trauma induzido pela cirurgia contribui para a inflamação e se for realizada durante a fase inflamatória sistêmica, podem ocorrer efeitos adversos. A complicação mais significativa da cirurgia com tempo inadequado é o potencial para desenvolver falha de múltiplos órgãos (MOF). Todo hospital ou clínica veterinária admite frequentemente pacientes em estado de urgência, no qual alguns podem exigir intervenção cirúrgica de emergência em minutos a horas de chegada. Garantir que o hospital esteja preparado para receber esses animais é primordial para um resultado bem sucedido. Esta preparação inclui assegurar que o estabelecimento esteja adequadamente equipado e com uma equipe de médicos veterinários competentes com conhecimentos e habilidades necessárias para avaliar, priorizar, estabilizar e proporcionar cuidados definitivos. O Médico Veterinário deve ser rápido e eficiente em sua triagem e avaliação inicial do paciente para determinar a gravidade do quadro clínico e se há necessidade de intervenção cirúrgica. É primordial haver prontidão para realização de procedimentos cirúrgicos potencialmente vitais, incluindo acesso vascular, manobras para controle de hemorragias ativas e toracotomia de emergência para reanimação cardiopulmonar aberta. Celiotomia de emergência pode ser necessária para controle de hemorragias, dilatação vólvulo-gástrica, remoções de corpos estranhos no trato gastrointestinal, rupturas em sistema urinário, cesarianas de emergência, por exemplo. Procedimentos cirúrgicos, onde a morte é iminente, não devem ser adiados por qualquer motivo. O bom julgamento deve ser exercido, isso porque os riscos de realizar o procedimento devem ser ponderados contra os riscos de transporte e a cirurgia tardia. Os pacientes traumatizados podem ser classificados em três categorias: FIGURA 1: Trauma torácico em um cão. Fonte: Hospital Veterinário Vetcentral. 17 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA Ambiente Hospitalar Organizado e Equipado É primordial um centro cirúrgico organizado e equipado em casos que a intervenção cirúrgica de emergência é indicada. Uma sala equipada, incluindo monitores cardiorrespiratórios, ventilador anestésico, anestesia inalatória, bombas de fluidos, aquecedores de fluidos, aspirador cirúrgico e eletrocautério. Fluidos intravenosos devem estar disponíveis, incluindo cristalóides, colóidese sangue total, juntamente com materiais para autotransfusão, se necessário no paciente gravemente hemorrágico. O material cirúrgico deve estar devidamente esterilizado, juntamente com a vestimenta. Uma caixa cirúrgica básica deve conter todos os instrumentos para realizar qualquer celiotomia exploratória. Os instrumentos curvos são preferidos sobre os retos, pois permitem uma melhor visualização dos tecidos a serem incisados. O uso de grampos cirúrgicos é útil para diminuir o tempo operatório e prevenir a morbidade quando usados adequadamente. Clipes vasculares proporcionam uma rápida e segura ligação vascular, desde que os vasos estejam entre um terço e dois terços do diâmetro do grampo. A prontidão não se refere apenas às instalações físicas, mas também à equipe. Esta deve ser composta por, no mínimo, três pessoas, incluindo o cirurgião, auxiliar e anestesista. O treinamento da equipe é vital, onde deve assumir a forma de sessões didáticas além de situações de emergências simuladas. Avaliação inicial do paciente A avaliação primária de emergência deve ser rápida, direta e é regida pelo ABCD (Aiway – Breathing – Circulation – Disability) do trauma, com objetivo de avaliação da patência da via aérea, ventilação e respiração, estado hemodinâmico e por fim, avaliação da capacidade neurológica. A avaliação do sistema respiratório está focada na determinação da presença ou ausência de hipoxemia ou hipoventilação. A hipoxemia prolongada e o mau fornecimento de oxigênio no tecido podem resultar em falência de órgãos, portanto, devem ser tratados imediatamente. A permeabilidade da via aérea superior deve ser avaliada primeiro. A presença de estridor juntamente com dispnéia inspiratória, pode ser indicativo de obstrução de vias aéreas superiores. Todos os animais traumatizados, mesmo que não apresentem quadros de alterações respiratórias, a oxigenioterapia deve ser iniciada até sua estabilização. Se o paciente estiver com dispnéia grave ou apneia, a entubação endotraqueal imediata deve ser realizada e a ventilação por pressão positiva deve ser iniciada. A entubação endotraqueal dos pacientes críticos deve ser em posição dorsal ou lateral, com a cabeça na mesma altura que o coração para preservar a oxigenação cerebral, já que na posição ventral ocorre diminuição do fluxo sanguíneo. Avaliar o estado hemodinâmico do animal, isto é, coloração das mucosas, tempo de preenchimento capilar, temperatura corporal, frequência cardíaca e respiratória, pressões sanguíneas, pulso femoral e metatarsal e estado de hidratação. Os pacientes devem ser estabilizados o máximo possível antes da cirurgia. A estabilização do paciente se dá através do controle da hipoperfusão e hipoxigenação, com o objetivo de normalizar a oxigenação dos tecidos e a perfusão sanguínea. A hipoxigenação é revertida quando garantimos uma via aérea viável e uma respiração eficaz, juntamente com a oxigenioterapia. A hipoperfusão é revertida com fluidoterapia, controle das pressões sanguíneas e hemorragias ativas, restaurando assim, um volume efetivo de circulação e mantendo a capacidade de transporte de oxigênio. O cateter venoso deve ser o maior calibre possível para melhor administração de fluidos. Diante de uma intervenção cirúrgica de urgência, devem ser priorizadas a reposição de fluidos e correção das anormalidades ácido-base e eletrólitos antes da indução anestésica. Na avaliação do paciente, incluir a inspeção, palpação, auscultação e percussão do abdome, com objetivo de localizar a dor e detectar presença de fluidos, órgãos com gases, massas sólidas, corpo estranho ou hérnias. Lembrando que, a manipulação de felinos deve ser realizada de forma gentil para evitar o estresse, em local silencioso e a quantidade mínima de pessoas no ambiente. A palpação abdominal é realizada para localizar a dor e obtermos diagnósticos diferenciais de acordo com a sua disseminação e localização anatomicamente. Além dos sinais gerais, os sinais de dor abdominal, como taquicardia, taquipnéia, ganidos ou gemidos e o enrijecimento dos músculos abdominais, espontaneamente ou em resposta à palpação. Deve-se saber que nem todos os felinos irão demonstrar dor na palpação, mesmo na presença de doença intra-abdominal significativa. Na inspeção visual é importante avaliar se há distensão abdominal, realizar o balotamento suave do abdômen para verificar se há presença de líquido livre. Presença de hematomas e lesões periumbilicais (Sinal de Cullen) podem ser sugestivos de injúrias, porém, trombocitopenia ou trombocitopatias devem ser considerados. Petéquias e equimoses pode ser sugestivo de coagulopatias. Realizar palpação retal para observar presença de sangue, melena, fraturas pélvicas ou outras patologias. Os sinais clínicos podem ser variados de acordo com a enfermidade acometida. O animal pode apresentar letargia ou depressão, anorexia, vômitos, desidratação, hipersalivação, hipertermia, taquipnéia, taquicardia e distensão abdominal. Os felinos podem apresentar uma postura com cotovelos abduzidos e pescoço distendido devido a dor, mudanças de comportamento como agressividade e relutância para se movimentar. Porém, alguns gatos podem não expressar dor à palpação abdominal mas não se deve descartar doença abdominal aguda. Os cães podem apresentar a “posição de oração” em casos de dor abdominal cranial 18 EMERGÊNCIAS intensa, como na pancreatite, por exemplo. No caso das obstruções intestinais, os sinais clínicos dependem do tempo decorrido entre a instalação da obstrução e a apresentação, da sua localização anatômica e se está completa ou parcialmente obstruído. estranhos, obstruções, perfurações ou neoplasias e também, coletar amostras guiadas. Entretanto é importante ressaltar a importância do lavado peritoneal diagnóstico (LPD) na ausência do método FAST, uma vez que o método apresenta índices de acurácia superiores a 95%. As principais indicações do método incluem os casos de abdome agudo, trauma abdominal, bem como nos casos que é preciso avaliar a presença de peritonite secundária a deiscência de pontos em pós cirúrgicos de enterotomia ou enteroanastomoses, por exemplo. O fluido abdominal deve ser analisado através da mensuração de glicemia, lactato, hematócrito, sólidos totais, creatinina, potássio e citologia do líquido. Efusões hemorrágicas são classificadas como traumática (traumas fechados, traumas penetrantes, mordeduras e armas de fogo) ou espontânea. A realização do hematócrito do fluido pode revelar hemorragia intra- abdominal se revelar valores acima de 2% a 5%. Em um estudo de 16 casos de felinos com hemoperitôneo espontâneo, 12 casos (75%) foram associados em patologias hepáticas como neoplasias, necrose e amiloidose. Em outro estudo de 65 casos de hemoperitôneo espontâneo, 46% dos gatos tinham neoplasia abdominal e 54% não tinham neoplasias associada e sim, apresentavam necrose hepática ou coagulopatias. Hemangiossarcoma foi a neoplasia mais comumente diagnosticada. A análise bioquímica do fluido abdominal não diluído é uma importante ferramenta de diagnóstico para identificar a origem da causa. Valores de creatinina e potássio no líquido peritoneal acima dos valores séricos indicam ruptura em algum segmento do trato urinário – uroperitôneo. Valores de lactato superior a 2,5 mg/dL sugere peritonite séptica no cão. Valores de bilirrubina superior ao sérico sugere ruptura do trato biliar, geralmente nesses casos o fluido tem coloração esverdeado. A FIGURA 2: Obstrução intestinal em um cão devido a corpo estranho. FIGURA 3: Presença de áreas de necroses nas alças intestinais. Fonte: Hospital Veterinário Vetcentral. Exames Complementares Exames complementares são frequentemente necessários para se determinar a extensão da doença e confirmar o diagnóstico e a necessidade de intervenção cirúrgica, na qual incluem as análises sanguíneas, examesradiográficos e ultrassonográfico, abdominocentese, lavagem peritoneal e até avançar para celiotomia exploratória. Lactato, hematócrito, proteínas totais, glicemia, gases sanguíneos, eletrólitos e uma tira de urina são extremamente úteis na determinação da gravidade do quadro clínico. Outros exames incluem perfil bioquímico, hemograma completo, cultura de líquido abdominal/torácico e cultura de feridas. O uso do ultrassom na emergência através do AFAST e TFAST é um método de avaliação rápido e não invasivo, ao contrário do lavado peritoneal diagnóstico (LPD). É útil para detectar presença de líquido e ar livre, peritonite, organomegalia e alterações gastrointestinais diretas ou indiretas compatíveis com corpo 19 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA diminuição da glicose no sangue pode estar associada a quadro de sepse e associada ao sintoma de dor abdominal aguda pode ser sugestivo de peritonite séptica. A mensuração de glicose entre o líquido abdominal e o sangue é uma forma de diagnostico bastante sensível (86%) e altamente especifico (100%) para peritonite séptica em gatos. Os valores de glicose superiores a 20 mg/ dL do sangue periférico para o fluido abdominal são sugestivos para a doença. No entanto, o diagnóstico definitivo de peritonite séptica deve-se basear na integração de exames citológicos, bioquímico e de imagem. Preparação Cirúrgica do Paciente É sempre indicada a preparação ampla da pele no paciente emergente, pois pode ser necessário a implantação de tubos ou drenos fora do campo cirúrgico. As dimensões do campo cirúrgico variam com a cirurgia em individual, mas em geral, deve-se incluir o mínimo de 15-20 cm da extensão mais distante da incisão de pele. Assepsia cirúrgica adequada com Cloridrato de hexidina e o iodo povidona são os mais utilizados na rotina. O posicionamento adequado do paciente na mesa é essencial para garantir uma boa exposição. No entanto, a posição pode ter consequências negativas na ventilação e no estado hemodinâmico. As massas abdominais ou útero gravídico podem ocultar a veia cava abdominal quando o paciente é posicionado dorsalmente, diminuindo assim, a pré-carga e consequentemente o débito cardíaco. Colocar o animal em um ligeiro ângulo pode evitar essa complicação. Os pacientes colocados em decúbito dorsal com os membros mantidos em posição amplamente estendida não conseguem manter uma boa ventilação. Uma maneira de diminuir o comprometimento ventilatório é dobrando os membros torácicos nos cotovelos até um ângulo de 90°. Tempo Cirúrgico O tempo operatório prolongado foi associado a uma maior morbilidade e mortalidade principalmente nos pacientes críticos. Em traumas graves, o tempo operatório não se deve exceder mais de uma hora. O tempo cirúrgico prolongado promove hipotermia, agrava a acidose e o quadro de coagulação, além de, dobrar a taxa de infecção a cada hora a mais de cirurgia. A cada hora de procedimento cirúrgico leva à perda de 4,6°C de temperatura corporal devido à exposição da cavidade. É primordial que o cirurgião tenha conhecimento profundo de anatomia, pois a cirurgia em pacientes traumatizados pode ser complicada e desafiadora, exigindo maior agilidade, delicadeza e competência da equipe. A técnica cirúrgica deve ser tão precisa quanto possível e os tecidos devem ser manipulados suavemente. Controle de Hemorragias O hemoperitôneo é definido como uma acumulação patológica de sangue extravasado dentro da cavidade peritoneal que pode ser classificado em duas categorias: traumático e espontâneo. O hemoperitôneo traumático é resultado de traumatismo contundente ou penetrante e o espontâneo pode ser associado aos processos neoplásicos, coagulopatias congênitas ou adquiridas, torções hepáticas/esplênicas e dilatação vólvulo-gástrica.A decisão de prosseguir para intervenção cirúrgica deve ser feita uma vez que a terapia médica não seja efetiva, como por exemplo, quando há hipotensão não responsiva à reanimação volêmica com fluidos. Outras indicações para prosseguir com cirurgia incluem identificação de massa abdominal hemorrágica, ferida abdominal penetrante, sinais de isquemia de órgãos devido à torção. Os principais objetivos no tratamento de hemorragias incluem a redução do fluxo sanguíneo para a área afetada e o uso de agentes hemostáticos. Com técnicas hemostáticas apropriadas, a redução do fluxo sanguíneo permite que haja formação de coágulos. Os grandes vasos – incluindo aorta, artérias renais, veia cava e a artéria hepática e veia porta – podem ser temporariamente ocluídos de forma segura e por curto período de tempo (Tabela 1). Os meios de oclusão incluem o tamponamento digital ou com compressas, torniquete de Rummel ou por pinças vasculares atraumáticas (Satinsky ou Bulldog). Tabela 1: Tempo limite para oclusão vascular para auxiliar na hemostasia cirúrgica. TEMPO LIMITE PARA OCLUSÃO VASCULAR VASO SANGUÍNEO TEMPO DE OCLUSÃO Aorta ascendente (proximal à subclávia esquerda) Aorta torácica descendente Tríade Portal Artéria hepática Artéria e veia esplênica Artéria e veia renal Aorta abdominal Veia cava caudal (distal do fígado) 2 – 3 minutos 5 – 10 minutos 10 – 15 minutos 30 minutos 15 – 20 minutos 30 minutos 30 minutos Sem tempo limite 20 EMERGÊNCIAS Em casos de hemorragia hepática grave, o controle temporário pode ser alcançado através da realização da Manobra de Pringle modificada, que tem como objetivo ocluir a tríade que compõe a veia porta, artéria hepática e o ducto biliar comum. A manobra controlará aproximadamente 70% do fluxo sanguíneo para o fígado e proporcionara um curto período de tempo para identificar claramente a lesão e assim, controlar definitivamente a hemorragia. A hemostasia definitiva pode ser atingida com pressão direta, suturas de feridas, ligaduras de vasos, clipes vasculares, tamponamento com omento viável, eletrocauterização, seladores de vasos (EnSeal®, Harmonic Scalpel®) ou remoção do tecido hemorrágico. Os materiais hemostáticos tópicos também podem auxiliar para o controle de hemorragias em determinadas situações. Colas de fibrinas, esponjas hemostáticas e celulose oxidada são produtos disponíveis. Nos casos de hemoperitôneo sem origem neoplásica ou séptica, a autotransfusão da hemorragia peritoneal pode ser realizada quando não há bolsas de sangue fresco disponíveis. Se o sangue autotransfundido estiver presente na cavidade por mais de uma hora, não é uma boa fonte de fatores de coagulação, pois estes foram esgotados pela hemorragia. Por esse motivo, os pacientes que recebem transfusões maciças de sangue autotransfundido, precisam de transfusão de plasma congelado fresco para fornecer fatores de coagulação. O sangue deve ser coletado de forma mais asséptica possível, em recipientes estéreis e administrado intravenoso com filtro acoplado para remover contaminantes. Idealmente, o sangue do abdômen não é recomendado para uso de autotransfusão até que tenha sido determinado que não há contaminação grosseira do trato gastrointestinal, trato biliar ou neoplasias (hemangiossarcoma, por exemplo). Porém, em situações graves, o sangue deve ser coletado mesmo contaminado com organismos infecciosos ou células neoplásicas.A hemostasia precisa é importante em todos os pacientes, porém em pacientes críticos esta se torna mais complicada. As coagulopatias são comuns nesses animais. Coágulos sanguíneos e hematomas devem ser evitados porque ambos podem levar a um retardo na cicatrização e uma maior probabilidade de infecção. Tubos de Alimentação e Descompressão Nasogástrica Deve-se tomar uma decisão consciente em relação à colocação de um tubo de alimentação em cada paciente submetido a cirurgia de urgência. Idealmente, um tubo nasogástrico deve ser colocado para descompressãopós-operatória, alimentação enteral precoce e quando há suspeita de gastroparesia. Tubos gástricos ou em jejuno em pós operatórios de cirurgias gastrointestinal superior, incluindo a cirurgia hepatobiliar e pancreática, se caso houver dúvida de que a nutrição enteral não será tolerada dentro de 24 a 48 horas. Lavagem Peritoneal Antes de fechar o abdômen, deve-se lavar com fluidos isotônicos aquecidos na quantidade proporcional ao grau de contaminação. Recomenda-se 200 a 300 ml/kg de peso mínimo ou até que o efluente de lavagem seja limpo. Antibióticos intraperitoneais não são indicados, pois não demonstraram efeitos benéficos, além de causarem irritação à serosa dos órgãos. Assim como o uso de anti-sépticos no líquido de lavagem que podem levar a peritonite química, aumento da formação de adesão e retardo na cicatrização. Drenagem Peritoneal Em casos de peritonite, a drenagem peritoneal é indicada se a fonte de contaminação não for completamente controlada. Se a infecção anaeróbica for provável, uma segunda celiotomia deve ser planejada. Há duas opções de drenagem peritoneal descritas, aberta ou fechada. A drenagem abdominal aberta tem muitas desvantagens, incluído perda de proteínas, anormalidade eletrolíticas, perda de fluidos, potencial para infecção ascendente e risco de evisceração. A drenagem fechada é uma alternativa efetiva, onde drenos são implantados em abdômen cranial. Os drenos devem permanecer até a quantidade de fluidos produzidos esteja dentro dos limites fisiológicos (1-2 ml/kg/dia) e a citologia do fluido não apresente sinais de inflamação ou infecção ativa. Este método de drenagem é eficaz e minimiza a morbidade. Controle de Danos Todos os pacientes traumatizados estão sujeitos a apresentarem a tríade da morte que é composta por um quadro de acidose, hipotermia e coagulopatia. Portanto, diante de um paciente em emergência, a rapidez e eficiência é primordial para evitarmos a piora do quadro. Há pacientes politraumatizados que apresentam maior probabilidade de morte em um procedimento cirúrgico definitivo em relação a procedimentos cirúrgicos de reparação. A cirurgia de controle de danos tem como finalidade o controle de hemorragias, prevenção de infecções e evitando assim, mais danos ao paciente. Nos casos de trauma severo que requerem intervenção para controlar a hemorragia com risco de vida, as recomendações humanas atuais são para manter o tempo operacional de 90 minutos ou menos para evitar a tríade da morte. Diante de um paciente com hemorragia massiva de difícil resolução definitiva é recomendado realizar uma hemostasia transitória compressiva mediante a utilização de compressas, que proporcionam pressão direta sobre os sangramentos. A aplicação deve ser feita por fora do órgão lesado e realizar pressão contra o parênquima do órgão. Alguns cuidados devem ser ressaltados com a pressão exercida das compressas em vasos principais como a veia cava, no qual pode prejudicar o retorno venoso e aumentar a pressão intra-abdominal. O aumento na 21 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA pressão intra-abdominal pode levar à síndrome do compartilhamento, com diminuição da perfusão de órgãos, dificuldade respiratória e insuficiência renal e intestinal, secundariamente. Para evitar a pressão excessiva, deve ser colocado um material estéril - como por exemplo, plástico de soro fisiológico cortado em forma plana – e suturado nas bordas da linha alba como um curativo impermeável, o que ajuda a prevenir a perda de calor e perda de proteína, evitando assim, o desenvolvimento da síndrome compartimental. O tamponamento não tem efeito em hemorragias arteriais. Ao fechar a cavidade abdominal deve- se certificar se não há sangramentos e verificar se não há aumento da pressão intra-abdominal. As compressas devem ser retiradas em, no máximo, 48 horas. Estudos comprovam que a incidência de sepse é de 16% quando estas são retiradas em 48 horas e o índice aumenta para 60% quando são removidas em 4 dias. A temperatura corporal deve ser controlada e acidose tratada. Uma vez que o paciente se encontra mais estável, o abdômen é reexplorado e uma cirurgia definitiva é realizada como indicado. Para controle de vazamentos de órgãos são necessários procedimentos simples como ligadura de alças intestinais com fita cardíaca, sutura contínua ou grampeamento gástrico e intestinal. Anastomoses intestinais são evitadas nessa fase. A cirurgia de controle de danos ortopédicos (“Damage Control Orthopedics” – DCO) é definido como uma intervenção minimamente traumática, menos agressiva a tecidos moles e menor perda sanguínea, com o objetivo de uma estabilização ortopédica para diminuir a resposta inflamatória. A osteossíntese pode ser feita com fixadores externos após a reanimação inicial do paciente. Após estabilização dos parâmetros clínicos, a cirurgia definitiva é então realizada com maior segurança. Nos casos de fratura pélvica, há necessidade extrema de checagem por toque retal para avaliar se há presença de extremidade de ossos da fratura, perfurações e sangramento retal, com o objetivo de definir a necessidade de intervenção imediata, sempre acompanhada da avaliação AFAST ultrassonográfica de urgência. Tríade da Morte Todos os pacientes traumatizados estão sujeitos a desenvolver a tríade da morte, na qual é definida pelo quadro de hipotermia, coagulopatia e acidose. Em estudos em medicina humana, cita que aproximadamente 50% dos pacientes traumatizados apresentam algum grau de hipotermia. É citado que a hipoperfusão causa a queda de 4° a 5 ° C por hora de perda de calor corporal, ainda mais exacerbado pela exposição de cavidades abertas ou órgãos, perda da capacidade de termorregulação em pacientes intoxicados ou com danos neurológicos e administração de fluidoterapia à temperatura ambiente, no qual a cada litro de fluido administrado diminui a temperatura corporal em 0,5°C. Outros fatores que interferem na hipotermia é a idade do animal, peso corporal, severidade do trauma e anestésicos/sedativos. Um meio para minimizar esta questão, são o uso de circuitos de aquecimento em máquinas anestésicas, fluidoterapia aquecida e uso de colchões térmicos (aquecimento passivo) e secador (aquecimento ativo). A temperatura da sala de tratamento deve permanecer entre 25° - 30°C, o suficiente para permitir a termogênese e evitar a perda de calor. A l g u m a s consequências do quadro hipotérmico incluem: diminuição do débito cardíaco e isquemia do miocárdio, diminuição da resposta cardiovascular para catecolaminas (epinefrina), hipoxigenação tecidual e arritmias como fibrilação atrial e ventricular. A nível sanguíneo, ocorre diminuição da função dos fatores de coagulação e das plaquetas, dificultando a hemostasia e diminuição do número e função dos glóbulos brancos, aumentando assim, o risco de infecção, pneumonia e sepse. O quadro de acidose tem como o principal contribuidor a hipoperfusão tecidual. A anemia pela perda de sangue, a vasoconstrição periférica em resposta a hipotermia e hipovolemia, a diminuição geral do débito cardíaco, prejudicam gravemente a liberação de oxigênio para os tecidos. Isso resulta uma demanda excessivamente superior de oxigênio para os tecidos. Devido a isso, as células do organismo iniciam o metabolismo anaeróbio, resultando na produção de ácido lático como subproduto. A medida que a perfusão do paciente traumático agrava, o ácido lático rapidamente se acumula nos tecidos, resultando em acidose metabólica grave. É importante ressaltar que esse processo ocorre frequentemente na presença de sinais vitais normais ou ligeiramente anormais. As consequências da acidose ocorrem em diversos sistemas do organismo. No cardiovascular ocorre diminuiçãodo débito cardíaco e pressões sanguíneas, diminuição da resposta cardiovascular para catecolaminas (epinefrina), redução do limite para o desenvolvimento de fibrilação ventricular. Já no sistema respiratório causa hiperventilação e fadiga dos músculos respiratórios. No sistema nervoso central leva a diminuição do estado mental e coma. Alterações na função dos fatores de coagulação e das plaquetas também pode ocorrer. Uma causa adicional de acidose no paciente com trauma é a reanimação volêmica excessiva utilizando soluções cristalóides desequilibradas, como a solução salina que é acidificante. Essa acidose metabólica hiperclorêmica só serve para agravar a acidose lática existente do trauma. Além disso, há evidências de que o uso excessivo de cloreto pode aumentar a inflamação do tecido sistêmico e assim contribuir para a coagulopatia do trauma. Por último, o trauma também pode ter acidose respiratória. Isto é resultado de hipoventilação devido à depressão ou obstrução das vias respiratórias, resultando em hipercapnia. Em estudo na Medicina Humana mostrou que a função do sistema de coagulação foi 22 EMERGÊNCIAS reduzida em 55-70% quando o pH caiu de 7.4 para 7.0. O sistema de coagulação é uma série de reações enzimáticas complexas dependentes da temperatura e do pH que resultam na formação de coágulos sanguíneos responsáveis pela hemostasia. A coagulopatia pode ocorrer por algumas razões, no entanto, independente da causa especifica, a coagulopatia resulta no potencial de hemorragia continua no paciente com trauma hemorrágico. A coagulopatia no trauma ocorre não só pela hipotermia e acidose, mas também como resultado da perda de fatores de coagulação por hemorragia e hemodiluição. A coagulopatia devido à hemodiluição se dá quando reanimamos um paciente hemorrágico com fluidoterapia que não contem os mesmos fatores de coagulação que foram perdidos. Além disso, em pacientes críticos, uma série de reações enzimáticas pode levar a uma ativação anormal e excessiva do sistema de coagulação, causando a formação excessiva de coágulos. As transfusões sanguíneas são indicadas quando houver perdas agudas de sangue de mais de 20% do volume sanguíneo do paciente, ou se os parâmetros de perfusão não estão melhorando com reanimação volêmica com fluidos. Quando há suspeita que o paciente esteja com distúrbios hemorrágicos, recomenda- se a administração de plasma fresco congelado antes de sinais clínicos de coagulopatias. Referências SILVERSTEIN, D.; HOPPER, K. Small animal critical care medicine. 2 ed. St Louis: Saunders, 2015. DEMPSEY, S.M; EWING, P.J. A review of the pathophysiology, classification, and analysis of canine and feline cavitary effusions. JAm Anim Hosp Assoc. 47:1, 2011. NORSWORTH, G.; GRACE, S.; CRYSTAL, M. et al. Linear Foreign Body. In: NORSWORTHY, G. The Feline Patient. 4 ed.Iowa: Wiley – Blackwell. P.304, 2011. EDELMUTH, R.; BUCARIOLLI, Y. Cirurgia para controle de danos: estado atual. Revista do Colegio Brasileiro de Cirurgiões. Rio de Janeiro, v.40, n2, 2013. DROBATZ, K.; COSTELLO, M. General approach to the acute abdômen. In: SNOW, S.; BEAL, M. Feline Emergency & Critical Care Medicine. Iowa: Wiley – Blackwell, 2011. p. 229. LITTLE, S. Approach to the cat with ascites and diseases affecting the peritoneal cavity. In: BARAL, R. The cat: Clinical Medicine and Management. St Louis: Saunders, 2012. p. 538. NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 1468p. SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 2009.2v. 2714pp. OLIVEIRA, A.L.A. Técnicas cirúrgicas em pequenos animais. Rio de Janeiro. Elsevier. 2012. 492p. FOSSUM, T.W. Small animal surgery. 3. ed. St. Louis: Mosby, 2008. 1195p. EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS COD EXAMES DIAS 581 PERFIL GLICÊMICO 1 836 PERFIL PRÉ-ANESTÉSICO II 0 331 PERFIL ELETROLÍTICO 1 570 CHECK-UP GLOBAL DE FUNÇÕES 0 801 PERFIL CHECK-UP GLOBAL PLUS 1 333 PERFIL HEPÁTICO 0 233 CHECK-UP EMERGÊNCIA 0 23 EMERGÊNCIAS ISSN 2358-1018 www.vetsciencemagazine.com.br EMERGÊNCIAS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CONDUTAS QUE SALVAM VIDAS! Número 18 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS EM ANIMAIS DE COMPANHIA Dr. Warley Gomes dos SANTOS1; Dra. Marília Martins MELO2 MV, MSc, DSc Ciência Animal, área de concentração Toxicologia e Plantas tóxicas pela Escola de Veterinária, UFMG. Professora titular de Toxicologia e Plantas tóxicas - Laboratório de Toxicologia Veterinária, EV, UFMG respondido. Foram feitas as seguintes perguntas: Descreva o nome popular das serpentes que tem causado acidentes em sua rotina: Você já atendeu algum animal picado por serpentes? Algum animal que você atendeu picado por serpente foi a óbito? Há soro antiofídico no seu serviço médico-veterinário? Qual a via que você administra o soro antiofídico? Resultados e Discussão Neste inquérito epidemiológico, foram obtidas respostas com abrangência de grande parte do território nacional, com respostas oriundas de 14 Unidades Federativas como a seguir: Amazonas: 1 Bahia: 1 Distrito Federal: 2 Espírito Santo: 3 Goiânia: 1 Minas Gerais: 29 Pará: 4 Paraná: 5 Pernambuco: 16 Rio de Janeiro: 4 Rio Grande do Sul: 2 São Paulo: 24 Santa Catarina: 2 Tocantins: 1 Para a pergunta: Descreva o nome popular das serpentes que tem causado acidentes em sua rotina: Foram obtidos 64 nomes de serpentes como causa de acidente na região do veterinário que respondeu. Deste universo de resposta, segue a seguinte distribuição: Bothrops spp 35 (54,68%); Crotalus spp 21 (32,81%); Micrurus spp 6 (9,37%); Lachesis spp 2 (3,12%). As serpentes do gênero Bothrops foram descritas pelos colegas quase na totalidade com o nome popular de jararaca. Ainda foi reportada como jararaquinha do rabo branco, jararacussu, urutu e cruzeira. As serpentes do gênero Crotalus, foram referidas em sua totalidade como cascavel. Para as serpentes do gênero Micrurus como coral e gênero Lachesis como surucucu. Entre as 2 respostas por acidente por surucucu, uma resposta é do estado do Pará e a outra do interior do estado de São Paulo. Em relação às respostas para acidentes por serpentes coral, 3 respostas são do estado de Pernambuco (50%); 1 resposta do estado do Pará; 1 Minas Gerais e 1 São Paulo. Para a pergunta se você já atendeu algum animal picado por serpentes, houve um total de 92 respostas, sendo que 53,3% afirmam já ter atendido algum animal vítima de acidente ofídico. Introdução O ofidismo é uma doença tropical comum que faz parte da lista das doenças negligenciadas, pois constitui um relevante problema de saúde coletiva, com mortalidade mundial estimada em cerca de 50.000 óbitos de pessoas por ano (Chippaux, 1998).No Brasil, as serpentes da família Viperidae são as principais envolvidas nos acidentes ofídicos que podem culminar com complicações e até mesmo o óbito (SINAN NET, 2016). Em medicina veterinária, por não haver um sistema de notificação de agravos obrigatório nos casos de acidentes ofídicos, detalhes epidemiológicos são desconhecidos. Outro fato, é que há muitas crenças e mitos em relação ao manejo clínico dos animais envenenados por serpentes, pois quase sempre ocorre um atraso ou não administração do soro antiofídico na vítima (Santos et al., 2013).O presente estudo objetiva conhecer o perfil epidemiológico aliado a outras características do acidente ofídico bem como utilização de soro antiofídico em cães e gatos. Materiais e métodos No presente estudo, foi realizado um inquérito epidemiológico e para isto, houve a aplicação de um breve questionário com perguntas com respostas fechadas. As perguntas envolviam aspectos epidemiológicos importantes para se conhecer em relação aos acidentes ofídicos em cães e gatos e também quanto à aspectos do tratamento nos envenenamentos ofídicos. O questionário foi
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