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C) DIDÁTICA GERAL AUTORES MARIA DE NAZARÉ DE LIMA RAMOS CARLOS VICTOR LAMARÃO PEREIRA Didática Geral 125 Introdução Palavras dos professores autores Introdução A Disciplina Didática Geral apresenta-se como uma importante contribuição no processo de formação do professor através de conhecimentos e fundamentos teóricos, buscando possibilitar a compreensão da relevância de uma prática pedagógica consciente, criativa e democrática, consubstanciada na valorização de si e do outro. Para tanto, faz-se necessário que saibamos a origem do termo e sua significação bem como refletirmos sobre as diversas tendências que professores e educadores adotaram no contexto educacional ao longo da história. Um dos pontos relevantes da disciplina é a reflexão da Didática enquanto elemento fundamental no processo ensino e aprendizagem, em busca de se compreender como o trabalho pedagógico pode ser desenvolvido a partir da concepção de que a práxis somente ocorre através do entendimento de que o professor, o aluno e o conhecimento não podem ser compreendidos de forma dissociada. Dessa forma, os fundamentos teóricos trabalhados nesta disciplina são conhecimentos pertinentes à reflexão de que a ação do professor consciente jamais pode ser concebida como uma ação neutra e descomprometida, mas antes uma prática consubstanciada no saber fazer, gostar de fazer e no sentir prazer nesse fazer com os outros, de forma crítica, criativa e participativa. Palavras dos professores autores Caro aluno, A disciplina que iremos trabalhar apresenta-se como um excelente momento para que possamos refletir juntos sobre as diversas formas de atuação do professor em sala de aula, além de reconhecermos a relevância da tecnologia como instrumento viável e facilitador de nossa comunicação pedagógica. Através de nossas leituras e discussões, espero que você possa perceber como as salas de aula podem se transformar em um acontecer dinâmico, em cujo espaço transpareça a cumplicidade entre alunos (as) e professor (a), nesse eterno buscar, criar, recriar, errar, acertar, vibrar, contestar, ousar, assumir, expor-se e sorrir. Nesse sentido, é válido salientar que para que você assuma realmente uma postura crítica e dialógica, faz-se necessário que se sinta disponível a adentrar no mundo invisível da criatividade e do virtual, além de mostrar sutileza para perceber e entender que a beleza do mundo Didática Geral 126 Ementa Orientações para estudo sensível e criativo não pode ser ensinada, mas despertada e motivada à medida que facilitamos a entrada e permanência dos que ousam habitá-lo e à medida que oportunizamos aos outros a experimentarem e descobrirem suas potencialidades. Um abraço. Maria de Nazaré de Lima Ramos Carlos Victor Lamarão Pereira Ementa A Didática e o processo ensino-aprendizagem. Planejamento didático: estudo dos componentes básicos, objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos e avaliação. Operações de planejamento. Objetivos de ensino-aprendizagem 1.Compreender o objeto e papel da didática, considerando suas diversas concepções e práticas no contexto histórico educacional. 2.Analisar as diferentes concepções pedagógicas; 3.Demonstrar através de atividades compreensão do processo evolutivo da didática, considerando a relação intrínseca entre teoria e prática; 4.Identificar os componentes do plano escolar, reconhecendo sua importância para a sistematização e organização da atuação do professor em sala de aula. 5.Refletir sobre a importância do saber fazer, do gostar de fazer e fazer com prazer, tanto para aquele que ensina como para o que aprende. Orientações para o estudo Caro aluno, O impresso que você está recebendo está estruturado em unidades e subunidades que o auxiliarão na reflexão da atuação do professor em sala de aula, buscando promover sua compreensão e identificação do objeto da Didática e as diversas concepções e práticas pedagógicas adotadas ao longo do contexto histórico educacional. Para que você possa compreender melhor como esses conteúdos estão dispostos e de que forma poderá realizar as atividades solicitadas pelo professor, apresentaremos a seguir as unidades do caderno, explicitando os caminhos que você deverá seguir para realizar o que lhe for solicitado. Didádica Geral 127 Unidade 1 Didática Na primeira unidade, conheceremos a etimologia, o objeto e o papel da Didática, através de leitura de texto. A segunda unidade apresenta as posturas assumidas pelos professores, considerando as diversas tendências vivenciadas no contexto pedagógico. É um estudo interessante e motivará você à reflexão da prática do professor em sala de aula; sendo, portanto, lembrá-lo de que para uma das atividades desta unidade, é necessário que você assista aos filmes indicados e disponibilizados no ambiente virtual. Na terceira unidade, estudaremos os componentes básicos da Didática buscando compreender a atuação e a importância de cada um no acontecer pedagógico. Após a leitura do texto, participe aos colegas a sua compreensão sobre o assunto, através da sala de bate papo e exponha suas possíveis dúvidas. As atividades referentes a esta unidade, como as outras, deverão ser postadas no ambiente para que o professor (a) possa avaliá-las. Na quarta unidade, refletiremos sobre a relevância do planejamento para o professor e os variados tipos de planos que este pode utilizar na efetivação e organização de seu trabalho em sala de aula. Ao término desta unidade, as atividade solicitadas deverão ser enviadas ao professor (a) e as dúvidas poderão ser tiradas através de consultas no ambiente. Na quinta unidade, para que possamos fechar a disciplina de forma bastante reflexiva e participativa, discutiremos a diferença entre prática e práxis e a diferença que podemos fazer na sala de aula quando realmente nos identificamos com o que estamos realizando e, também, quando nos comprometemos com todos aqueles que estão realizando junto conosco. Assim, esperamos que você ao participar de atividades no ambiente, socialize suas idéias e reflexões e possíveis dúvidas. Um ótimo estudo para você! Unidade 1 Didática Síntese: Nessa unidade, você verá uma breve análise histórica da ferramenta didática, principal tema de debate de sua disciplina. O objetivo maior de nossa disciplina é compreender o objeto e o papel da Didática, considerando suas diversas concepções e práticas no contexto histórico educacional. Para tanto, será necessário que façamos Didática Geral 128 Unidade 1 Didática uma rápida trajetória histórica sobre sua origem e a forma que foi compreendida no contexto educativo. Preparado? Então vamos lá! De acordo com dados históricos, o termo “didática” vem da expressão grega Τεχνή διδακτική. Calma, não presisa se assustar. Pronuncie comigo: techné didaktiké; ou seja, arte ou técnica de ensinar. A Didática é o componente da pedagogia que tem como objeto os métodos e as técnicas pedagógicas experenciadas no processo de ensino e aprendizagem. Historicamente, Jan Amos Komenský (Figura 1), mais conhecido como Comenius - ou mesmo Comênio – consagrou-se como o pai da Didática, no secúlo XVII, ao escrever o livro Didática Magna, propondo uma educação na qual todos tivessem acesso às ciências e às artes, e as experiências do cotidiano fossem consideradas e respeitadas. Figura 1 - Jan Amos Komenský. Fonte: Palmer (2011). Então, de repente até você pode se questionar: quer dizer que antes de Comênio não havia Didática? Ora, certamente que havia. Entretanto, não de forma sistematizada, ordenada, e tampouco como uma disciplina pedagógica. Os professores até então ensinavam de maneira puramente intuitiva. Você pode, então, imaginar a ousadia e a contribuição de Comênio à pedagogia ao afirmar e defender que as crianças não poderiam ser compreendidas como adultos em miniaturas, e que a escola, não mais somente a família, através do ensino formal, auxilia no processo de sua formação. Pois é, não foi fácil.Mas esse professor de origem checa, revolucionou a pedagogia ao apresentar-se como sendo o primeiro educador a expressar preocupação em estabelecer a diferença entre o ato de ensinar e o ato de aprender. A partir daí, a infância foi concebida de outra forma, e as escolas maternais tiveram sua preconização. Surge assim, a era da Didática moderna. Atualmente, a Didática é mais que uma parte da pedagogia que apenas tem a preocupação com Didádica Geral 129 Unidade 1 Didática método e técnicas de ensino que promovam a praticidade de toda e qualquer teoria pedagógica. A Didática é mais que isso. Diz respeito à forma como o professor observa e compreende o mundo; como se aceita neste mundo e compreende os outros que vivem com ele. Diz respeito a saber buscar caminhos e sentir-se disposto a caminhá-los. Além disso, é não ter medo de mostrar-se sensível e disponível ao outro; é reconhecer que existem diversas maneiras de se ver o mundo e que as verdades não podem ser compreendidas como absolutas. Segundo Freire (2006) estar disponível é estar sensível aos chamamentos que nos chegam, aos sinais mais diversos que nos apelam, ao canto do pássaro, à chuva que cai ou que se anuncia na nuvem escura, ao riso manso da inocência, à cara carrancuda de reprovação, aos braços que se abrem para acolher ou ao corpo que se fecha na recusa. Mas longe de ser um dom, a didática é um acontecer esquematizado, organizado e que exige reflexão. Para se concretizar é necessário que o ato de ensinar e o de aprender não sejam compreendidos como situações consecutivas; ou seja, primeiro o professor ensina para que depois o aluno aprenda. O aprender e o ensinar são atos simultâneos, pois à medida que ensinamos também aprendemos, seja através de um questionamento em sala de aula, uma experiência relatada ou mesmo um simples olhar. Nas Ciências Agrárias, um exemplo do exposto acima, relaciona- se a duas situações que comumente o profissional de licenciatura em Ciências Agrárias encontrará em sala de aula, onde uma refere-se ao conhecimento de senso comum e outra ao conhecimento científico. O aluno de Ciências Agrárias traz em si um know how que foi passado de geração em geração, por exemplo, sobre um determinado modo de manejar uma cultura de mandioca no campo (conhecimento de senso comum), sendo que quase sempre tal conhecimento é baseado apenas em experiências adquiridas ao longo do tempo. Porém, através de uma didática bem desenvolvida e direcionada a este aluno, o professor terá que tentar somar esse conhecimento adquirido pelo aluno a partir de experiências próprias oriundas do dia- a-dia no campo ao saber técnico, ou melhor, ao saber da agronomia (conhecimento científico). Assim, o aluno terá condições de aplicar, em seu cotidiano durante o manejo da mandioca, por exemplo, novas técnicas que aprimorarão sua produtividade. Nesse sentido, podemos dizer que a ação didática encontra- se estruturada a partir de cincos elementos: o professor, o aluno, os Didática Geral 130 Unidade 1 Didática conteúdos trabalhados, a realidade pedagógica e as metodologias utilizadas no contexto escolar. Esses cinco elementos tornam-se fatores fundamentais de reflexão quando realmente percebemos e compreendemos a responsabilidade que um professor assume ao adentrar a sala de aula. Tem que partir dele a compreensão de que ensinar é um verdadeiro ato de conquista, e que o aluno não é uma presa. Fundamentalmente necessita perceber que o ensinar e o aprender merecem um envolvimento com olhos nos olhos, com diálogo, com confiança e respeito mútuos. Só assim o aluno das Ciências Agrárias terá confiança suficiente para entender que o ato de preparar a terra para receber as sementes deve ser uma ação que necessita estar baseada em estudos profundos advindos do conhecimento científico, por exemplo. Quanto a isso, Freire (2006) diz que o fundamental é o professor e os alunos saberem que a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. Por tudo isso, ser professor e ser didático não é tarefa tão fácil, pois implica em ser ao mesmo tempo compromissado, atualizado, crítico, dialógico, dinâmico e, principalmente, capaz de despertar o querer saber e o gostar desse querer. Pois, antes de qualquer tentativa de discussão de técnicas, de materiais, de métodos para uma aula dinâmica assim, é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache “repousado” no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer (FREIRE, 2006). Então, por que muitos professores não oferecem oportunidade para que os alunos se sintam encorajados a perguntar? Você já parou para refletir por que vários são os professores que ainda deixam claramente evidente à turma que aquele que muito pergunta é justamente o que menos sabe na sala de aula? Qual aluno gostaria de ganhar tal título? Assim, infelizmente, a pedagogia do silêncio toma espaço e a pedagogia da pergunta cala diante de tamanha barbárie pedagógica. Por isso, refletir sobre a importância da Didática no processo educativo se faz tão importante. E, para tanto, necessitamos compreender que nós não nascemos humanos; nós nos humanizamos à medida que nos relacionamos com os outros, mais ainda, à medida que nos tornamos capazes de perceber os outros em nós. Didádica Geral 131 Unidade 1 Didática No espaço pedagógico, portanto, não podemos admitir o ato de ensinar sem considerar a ação de aprender; pois ambos se concretizam através de uma concepção de unidade. Ensinar e aprender são ações de um processo de significado real, belo, afetivo e prazeroso. É como Freire (2006), em sua Pedagogia da Autonomia, postula que a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem acontecer fora da procura, fora da beleza e da alegria. O desrespeito quanto à educação, aos educandos, aos educadores e às educadoras corrói ou deteriora em nós, de um lado, a sensibilidade ou a abertura ao bem querer da própria prática educativa, de outro, a alegria necessária ao que-fazer docente. É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. E Snyders (1993) ressalta que é por meio da alegria assim sentida – e que provoca o desejo de se envolver numa “interpretação” – que o aluno deixa de ser submisso e dominado. Ele concilia em si a parcela do sujeito autônomo e a parcela da herança recebida, das influências sofridas, da autoridade. Nesse sentido, professores e alunos devem participar, no cenário pedagógico, como atores, atuando sem máscaras. Além disso, eles devem utilizar a alegria, o compromisso para consigo e os outros, a confiança e a compreensão de que se a sala de aula pode ser percebida como um palco, não há atuação solitária, mas atores que agem e interagem, personagens de igual significância; palco-platéia, sem mocinhos e bandidos, sem vencidos e vencedores. Quão interessante será quando a partir de uma didática bem elaborada e que considere aluno e professor como atores que interagem nessa relação importante. No curso de licenciatura de Ciências Agrárias, você, professor, poderá ai observar que seus pupilos começam a compreender que entender, por exemplo, quais nutrientes e a quantidade deles necessários para o bom desenvolvimento de um dado cultivo, não é uma escolha aleatória e baseada apenas em percepções; pelo contrário, é uma escolha fundamentada em cálculos matemáticos e estudos de solo. Em outras palavras, sua didática será aprovada quando esses alunos notarem da importância de realizarem pesquisas, tomando o solo para se conhecer a concentração de potássio, uréia e outrassubstâncias químicas no solo; pois, quando isto ocorrer, eles estarão se servindo de cálculos matemáticos para terem noção das necessidades desses nutrientes para alavancar a produtividade de uma cultura, como a da banana, por exemplo. Didática Geral 132 Unidade 2 Tendências pedagógicas Você se recorda de algum momento assim em sua vida acadêmica? Espero que sim. Em nossa próxima unidade, você verá como as posturas pedagógicas se registraram ao longo de nosso processo histórico pedagógico. Observará também, através das leituras, que a Didática, assim como a Filosofia, deve ser compreendida não como um amontoado de teorias, mas pura prática. Afinal de contas, pensar, refletir e procurar por respostas, são ações de todo aquele que não aceita o mundo como um espaço imutável. Até lá! Unidade 2 Tendências pedagógicas Síntese: Você estudará nessa unidade o binômio importante existente na relação entre comportamento do professor em sala de aula a partir de cada tendência pedagógica existente no processo histórico da sociedade. Na unidade anterior você conheceu como foi importante a comtribuição de Comênio no processo educativo e a relevância da Didática no processo de ensino e aprendizagem. Nesta segunda unidade, estendo o convite a você para juntos conhcermos e refletirmos sobre o comportamento dos professores a partir de cada tendência pedagógica registrada em nossa História, considerando principalmente a postura dos professores que atuavam no ensino das Artes. Mas, antes de adentrarmos nosso estudo, você sabe o que significa a expressão tendência pedagógica? Se sua resposta for positiva, muito bem. Se você ainda tem dúvidas a esse respeito, não se aflija; começaremos nosso estudo dando explicação dessa expressão. Tendência pedagógica nada mais é do que a expressão das concepções e práticas, de forma mais ou menos sistematizadas, constituidas de diferentes alternativas de organização do processo ensino- aprendizagem. Para que possamos, então, compreender como esse fenômeno pedagógico ocorre, iniciaremos nosso estudo dizendo que existem fundamentalmente duas tendências pedagógicas: uma idealista-liberal e outra denominada realista-progressista. Didática Geral 133 Unidade 2 Tendências pedagógicas Tendência idealista-liberal A tendência idealista-liberal sustenta que a educação escolar por si só pode operar mudanças nas práticas sociais, podendo ser compreendida como uma manifestação advinda do sistema capitalista. Apresenta-se composta pelas seguintes pedagogias: tradicional, nova e tecnicista. O acontecer pedagógico em cada uma delas deu-se da seguinte forma: Pedagogia tradicional Por volta do século XIX, fortificada pelos ideais liberais, a prática pedagógica seguiu-se fundamentada numa pedagogia que compreendia a escola como sendo a instituição principal e capaz de realizar tarefa de educar o homem a partir dos objetivos que o Estado acreditava como certos. Dessa forma, a grande maioria dos educadores acreditaram e defenderam o pensamento de que a escola apresentava-se como o caminho mais adequado para o fortalecimento da ideologia do Estado e o resgate da moralidade. Esse fato, favoreceu diretamente para que a pedagogia tradicional adquirisse caráter de tendência pedagógica. Assim, essa tendência se fez valer da seguinte forma: em sala de aula, os conteúdos eram trabalhados de forma mecanizada, sem relação com o cotidiano do aluno, centrado exclusivamente na pessoa do professor, assumindo, por sua vez, o papel de dono da verdade. A didática nesse período era concebida, segundo Libâneo (1994), como uma disciplina normativa, constituindo-se em um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. Nesse período, a atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Quanto ao aluno; bem, ele é um recebedor da matéria e sua tarefa é decorar as informações recebidas. Os objetivos explícitos ou implícitos referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculados da realidade. A matéria de ensino é tratada isoladamente, isto é, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais e da vida. A sala de aula era um lugar austero e sem alegria. Era um espaço no qual os conhecimentos eram apenas repassados, tidos como informações verdadeiras e sem chances de contestação. A esse proceder Freire (1981) intitulou de educação bancária, prevalecendo a pedagogia do oprimido. Você já ouviu falar a respeito disso? Pois bem. A educação bancária é o processo em que a escola é entendida como uma agência Didática Geral 134 Unidade 2 Tendências pedagógicas bancária, o professor é o eterno e único depositante, sendo o aluno uma espécie de caixa, com a função única e exclusiva de receber. Daí a expressão pedagogia do oprimido. Você pode imaginar um lugar tão triste assim? Nesse contexto, durante as aulas de história e evolução da agricultura, por exemplo, o professor apresentava a ideia de que este período foi dividido em antigo, medieval, moderno e contemporâneo, e o aluno, sem contestar, tinha que copiá-lo e/ou memorizá-lo por diversas vezes, para que, assim, conseguisse compreender esse assunto. Porém, não caberia a este aluno indagar o por quê dessa divisão e o que caracterizou cada época da história e evolução da agricultura. O método de ensino, nas palavras de Libâneo (1994), era calcado na lógica e sequência da matéria. Isto fazia com que o método se consitutisse no meio para que o professor simplesmente comunicasse os conteúdos da matéria, não havendo, na realidade, uma preocupação com a aprendizagem real dos alunos. Fusari e Ferraz (1993) reforçam essa ideia quando colocam que, do ponto de vista metodológico, os professores eram simples elementos que informavam conteúdos, sendo eles apreendidos por atividades que podiam ser repetitivas, e que tinha por finalidade exercitar a vista, a mão, a inteligência, a memorização , o gosto e o senso moral”. Esta prática pedagógica era fundamentada nos preceitos teóricos da estética mimética; ou seja, tentativa de se imitar a natureza. Para que você compreenda a origem dessas idéias, basta dizer que surgiram de critérios estéticos impostos pela Missão Francesa e diretamente influênciados pela concepção do ensino jesuítico. Assim sendo, quando o conhecimento era centrado na transmissão de padrões inquestionáveis e modelos indicados pelas classes dominantes, o ensino em nosso país, infelizmente, apenas tratava em atender a uma realidade a qual impunha a valorização do desenvolvimento de habilidades técnicas e gráficas, exigência fundamental das indústrias que ansiavam por desenvolvimento, por volta de 1816. Desse modo, geralmente os professores utilizavam exercícios e textos padronizados, anteriormente selecionados por eles; o ensino era voltado totalmente para o domínio de técnicas e o conhecimento era centrado naquele que ensinava. Restava, portanto, aos alunos submeterem- se à severa autoridade de seu mestre. Vale ressaltar que, considerando tal realidade pedagógica, o conhecimento técnico não era entendido pelo professor como uma junção de meios e atuações necessárias no acontecer expressivo dos alunos, mas, contraditoriamente, interpretado como verdades absolutas e Didática Geral 135 Unidade 2 Tendências pedagógicas procedimentos altamente corretos. Fundamentava-se com isso a relevância do fazer técnico e científico, através de uma pedagogia fortemente embasada no reprodutivismo, autoritarismo e necessidades de mercado. Pedagogia Nova Diante do que acabamos de ler sobre a pedagogia tradicional, espero que você esteja curioso para saber qual a nova postura adotada pelos educadores no século seguinte. Pois bem, vamos lá. Como uma resposta negativa aos anos e anos de tortura pedagógica, na qual o professor garantia a obdiência e a passividade dos alunos, um novo pensamento pedagógico propagou-se e tomou espaço significativo, na tentativa de se fazer uma verdadeira renovaçãono processo de ensino. Também conhecida como Renovadora Progressiva, a pedagogia nova surgiu no Brasil por volta de 1930, sendo realmente propagada durante as décadas de 50 e 60. Esta tendência expressou-se como uma contradição à pedagogia tradicional e abertamente apresentou uma nova dimensão acerca do ensino, da aprendizagem, da experimentação e do papel do professor. Dentre os mais diversos defensores deste pensamento pedagógico, podemos destacar os nomes de Dewey, Decroly e Montessori. Na concepção de Saviani (1992), essa pedagogia deslocou o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o inerente; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental, baseada, principalmente, nas contribuições da Biologia e da Psicologia. Na pedagogia novista, foi dado ênfase à expressão como um dado subjetivo e individual em toda atividade desempenhada na escola, já que os aspectos afetivos ganharam espaço e interesse em detrimento dos aspectos intelectuais. Para que você possa entender melhor a Escola Nova, apontaremos três principais aspectos que fundamentalmente a caracterizaram: * a nova concepção de infância e, respectivamente, a repercussão que esta concepção teve no processo educativo; * a nova concepção do professor e seu papel na educação; * a renovação da metodologia. Didática Geral 136 Unidade 2 Tendências pedagógicas A partir desses pressupostos, o ensino, então, preocupou-se com o desenvolvimento natural da criança, respeitando suas necessidades e aspirações, além de valorizar as variadas formas dela expressar sua interpretação de mundo. Razão pela qual muitos educadores procuraram conhecer e aprofundar estudos nas idéias de John Dewey, a fim de que pudessem melhor compreender o que realmente viria a ser aprender fazendo. Mas é bom que você compreenda que esse “aprender fazendo” não se tratava meramente de “colocar a mão na massa”. A esse respeito, Libâneo (1994) diz que a idéia é a de que o aluno aprende melhor o que faz por si próprio. Não se trata apenas de aprender fazendo, no sentido manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifeste em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plástica ou de outro tipo. Nesse sentido, numa tentativa de se desvincular, a nova concepção de ensino, busca amparar-se numa visão moderna de educação, assim, a pedagogia moderna demonstrou interesse relevante pela inspiração, sensibilidade, subjetividade e individualidade do aluno. É nesse contexto que se valoriza o fazer criativo, a individualidade do sujeito, e os envolvidos no processo pedagógico. Com isso, o acontecer nas salas de aulas se contextualizam assumindo condição mais expressiva, buscando valorizar o crescimento ativo e gradual do educando assim como sua espontaneidade nesse processo. Durante essas aulas todas as atividades se apresentavam como momento oportuno e convidativo a descobertas, autonomia, liberdade de expressão e aprender experimentando. Sobre isso, Fusari e Ferraz (1992) se colocam dizendo que conhecer significa conhecer a si mesmo. Visto como ser criativo, o aluno recebe todas as estimulações possíveis para expressar-se. Esse aprender fazendo o capacitaria a atuar cooperativamente na sociedade. A didática da Escola Nova ou Didática ativa, portanto, segundo Libâneo (1994), é entendida como “direção da aprendizagem”, considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O centro da atividade ecolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor o incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Em seu discurso ainda sobre a Didática, o autor sabiamente expressa que o melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. Didática Geral 137 Unidade 2 Tendências pedagógicas Você concorda com Libâneo? Espero que sim. Para que haja uma estreita relação com o que estamos estudando e a sua vida, você consegue recordar dos momentos em que sua professora oportunizava a hora na qual poderia elaborar uma composição, contar uma história de sua autoria, narrar um filme, desenhar, pintar, recortar e colar? Pode analisar esses momentos como momentos de prazer, criatividade e liberdade de expressão? De fato, durante a aula podem sim haver momentos onde o prazer e a critividade andam lado a lado. Pensem, por exemplo, em uma aula sobre a origem da agricultura. Já sabemos que as mesmas foram pontuadas por épocas distintas, mas antes da existência da agricultura, como a sociedade se portava ou se organizava para poder se alimentar? Eis um exemplo de aula que permite a participação dos alunos de maneira irrestrita, pois as literaturas da área dão inúmeras informações que os alunos de licenciatura em Ciências Agrárias podem utilizar para fundamentar seus pensamentos e assim realizar uma discussão bem acalorada. De fato, essa discussão, mesmo sendo para uma área tão técnica, pode acontecer não apenas a partir de seminários e conversas, mas também a partir de poesias, desenhos, maquetes e muitas outras ferramentas. Mas não pense que já encerramos. Antes mesmo de passarmos para a próxima tendência pedagógica, faremos uma breve apresentação dos principais defensores da Escola Nova, citados no início desta explicação. ●John Dewey (Figura 2) nasceu em 1859 e até hoje é considerado por muitos educadores como o pai do movimento escolanovista ao defender que a criança deve ser a meta principal da educação, e que esta, por sua vez, atua como transmissor dos ideais sociais. Dewey sempre defendeu a importância do papel social do professor no ambiente escolar, acentuando sua atuação no que diz respeito ao favorecer um clima de colaboração de ajuda mútua. Figura 2 – Jhon Dewey. Fonte:Lima (2010). Didática Geral 138 Unidade 2 Tendências pedagógicas Para ele, a escola podia ser considerada e compreendida como uma pequena sociedade e, para tanto, exaltou a relevância da educação voltada para o trabalho, a utilização de ferramentas, o trabalho manual, as atividades recreativas e o jogo. Afinal de contas, o importante era aprender fazendo, e o papel primordial do professor deveria ser o de proporcionar um meio que despertasse o aluno a buscar as respostas e ou possíveis soluções para a necessidade apresentada. Em uma forma sistemática de caracterizarmos a pedagogia de Dewey, podemos dizer que apresenta-se estruturada em três partes: a genética, a funcional e a social. Sua pedagogia pode ser considerada genética porque defende que o processo educativo tem seu ponto de partida no instinto infantil, sendo tal processo guiado unicamente pela casualidade e o interesse do aluno. É funcional porque preocupa-se com o desenvolvimento dos processos mentais do aluno, considerando essas atividades psíquicas como instrumentos necessários no acontecer de sua vida. E, por fim, adquire seu caráter social, no momento em que entende que o aluno deve experimentar situações que o ajudem a preparar- se para se sentir capaz de atuar na sociedade. Dewey foi filósofo e pedagogo, colocou suas idéias em prática por volta de 1896 e faleceu aos 93 anos. ●Montessori (Figura 3) tinha origem italiana e nasceu em 1870. Diferentemente de Dewey, era médica e seu trabalho inicial foi com crianças que apresentavam deficiência mental. Justamente por isso, seu interesse maior foi buscar meios que pudessem proporcionar a essas crianças, condições de se sentirem inseridas socialmente, defendendo que o toque apresentava-se comosendo o movimento impulsionador do intelecto, porque é exatamente através das mãos que a criança explora tudo a seu redor e torna-se capaz de conhecer os elementos que fazem parte de seu mundo. Figura 3 – Montessori. Fonte: Grandes... (2008). Didática Geral 139 Unidade 2 Tendências pedagógicas Acreditando firmemente que assim como a vida, a educação jamais poderia ser limitadamente justificada pelas conquistas materiais, defendia que todos nós temos um lugar na sociedade e que o trabalho gratificante era a base para encontrarmos a paz interior e o caminho para encontrarmos nossa capacidade de amar. A pedagogia de Montessori tem seu ponto de partida no concreto, e está fundamentada na idéia de que através da observação a criança que experimenta, e se sente estimulada a descobrir, aprende melhor e mais rapidamente. A médica italiana, buscando favorecer um processo de aprendizagem mais rico e estimulante, desenvolveu diversos materiais didáticos, os quais tornaram-se elementos fundamentais na caracterização de seu trabalho. Lamentavelmente e coincidentemente, assim como Dewey, faleceu em 1952, aos 82 anos. ● Decroly (Figura 4) foi um médico belga e era um ano mais novo que Montessori. Como princípio fundamental de sua teoria, defendeu a educação individual, considerando os aspectos físico e psicológico de cada criança. Dessa forma, postulava que o interesse natural infantil era a alavanca principal para o processo educativo acontecer enquanto tal, e que isso somente se daria se a infância fosse estruturada num ambiente de completa liberdade, capaz de mostrar-se como elemento estimulador às atividades criativas. A pedagogia decroliana, de forma clara e direta, tinha como princípio a globalização; ou seja, Decroly acreditava que tornava-se mais fácil a criança aprender do todo para as partes, do caos à desordem. Nesse sentido, defendia que a aprendizagem da leitura iniciava-se a partir de associações de significados, de sentenças completas, desvalorizando totalmente os métodos silábico e alfabético. Em 1871, infelizmente, deixa sua contibuição registrada na história da pedagogia mundial ao falecer aos 61 anos. Figura 4 – Decroly. Fonte:Paiva (2007). Didática Geral 140 Unidade 2 Tendências pedagógicas Pedagogia Tecnicista Essa pedagogia marcou fortemente o Brasil durante as décadas de 60 e 70, momento este em que a educação no país era entendida como insuficiente no concernente ao preparo de profissionais que deveriam atender à demanda do mercado tecnológico em expansão. Desta forma, sob a orientação de uma pedagogia cuja técnica era o eixo norteador, os professores sistematizaram de forma racional e mecânica, os elementos curriculares mais essenciais à operacionalização de seus planos de curso; ou seja, os objetivos, os conteúdos, as estratégias, os procedimentos e a avaliação. Além disso, como se objetivava expandir a eficiência da escola face ao crescimento tecnológico e demonstrar a modernização do ensino, o fazer pedagógico não poderia concretizar-se sem o auxílio dos recursos audiovisuais oferecidos pela tecnologia. O ensino centrou-se nas técnicas que deveriam ser utilizadas em sala e nas habilidades que poderiam ser desenvolvidas nos alunos; sendo delegado ao professor a função de trabalhar conjuntamente com seu aluno, o domínio dos materiais que seriam manuseados e utilizados nas atividades de “auto-expressão”. Assim, em sala de aula, os professores interpretavam os conteúdos de forma operacional, considerando como aspectos fundamentais a serem trabalhados nas atividades em sala (uso de tesouras e/ou pincéis) a coordenação motora do educando. Em síntese, pode-se dizer que as aulas na pedagogia tecnicista, ocorreram de forma fragmentada e superficiais; pois, se por um lado se enfatizava um saber baseado na ‘construção’- mas que estava reduzido aos aspectos técnicos e uso de material diversificado – por outro, buscava- se um saber centrado na expressão espontânea – mas que, por sua vez, se apresentava grandemente carente de aprofundamento teórico- metodológico. Diante disso tudo, você acredita que os instrumentos tecnológicos podem ser utilizados no ambiente escolar de outra forma? Acredito que você deva ter muito a pensar sobre isso. Para tanto, reflita sobre o poema: O homem é técnica. Os outros são apenas cópias. São homens-caixa cuja ação é funcional. Não sabem ser poetas. Não conseguem romper amarras Com o pensar e o fazer tradicional. Didática Geral 141 Unidade 2 Tendências pedagógicas O homem respira. Mas não exala a liberdade Do criativo e de pensar o seu fazer De um jeito novo, Diferente do já feito, Fundamentado na essência do prazer. Tendência realista-progressista A tendência realista-progressista, por sua vez, mostrando- se contraditoriamente à primeira, defendeu que a educação escolar, embora possua elementos capazes de promover mudanças sociais, jamais será auto-suficiente a ponto de conseguir sozinha essa transformação. O pensamento defendido é o de que a educação é determinada pela sociedade e suas práticas. Esta tendência originou-se a partir das preocupações de educadores em relação ao rumo que a educação escolar estava tomando. Assim, na tentativa de se estabelecer caminhos que pudessem apontar para a melhoria das práticas sociais e o adeus ao pensamento liberal, deu-se espaço a novas teorias que, enfim, viessem oferecer condições de mobilizar propostas pedagógicas mais críticas e democráticas. Sua composição apresenta o seguinte grupo de pedagogias: libertadora, libertária e histórico-crítica. Pedagogia Libertadora Foi proposta pelo educador Paulo Freire (Figura 5) na década de 60, e o objetivo principal da mesma é a transformação da prática social das classes populares através da conscientização e da alfabetização dos que se encontram em idade avançada. Figura 5 – Paulo Freire. Fonte: Matuck (2007). Didática Geral 142 Unidade 2 Tendências pedagógicas Freire acreditava que através da leitura da palavra associada à leitura da vida, poderia chegar-se à libertação da ignorância e, por conseguinte, da opressão da dominação. Com metodologia dialógica, propõe uma relação de confiança, compromisso e respeito mútuo em sala de aula, onde a relação professor-aluno aconteça em clima de igualdade e consciência crítica. Consciente de sua prática, o professor deve ser aquele que convida e estimula seu alunoseu aluno a compreender que a conscência do saber que se sabe encontra-se exatamente na conciência da humildade em reconhecer que pouco sabemos e que aprendemos todos os dias, mesmo com aquele que é inconsciente de seu próprio saber. Ele, o professor, deve encontrar-se sempre disposto a junto com seus alunos propiciar, por meio da contextualização histórica e da reflexão crítica. Com isso, o professor estaria favoredendo um clima estimulador ao debate crítico e à compreensão das relações de classe e poder. É correto dizer que ao aluno de licenciatura em ciências agrárias exigi-se não apenas o conhecimento teórico, mas também um conhecimento mais abrangente sobre a agronomia e sua implicação na sociedade e economia regional ou nacional. Portanto, o professor em sala de aula, assim como Freire diz, deve sim estimular em seus alunos o nascimento de um senso crítico mais apurado no que concerne as ciências agrárias. Através dessa metodologia, durante as atividades realizadas, o aluno poderia perceber a importância de participar fazendo; apreendendo que através da arte, por exemplo, o homem pode deixar registrados seus pensamentos, aspectos culturais e políticos; conseguindo visualizar, ainda, que através das diversas modalidades artísticas, o indivíduo pode expressar suas alegrias, seus medos, contradições e compreensão do mundo que o rodeia. Além disso, contextualizando para as Ciências Agrárias, o homem também deixou suas impressões, pois na época da agricultura na era medieval, por exemplo, a agriculturapassou por mudanças importantes, onde a tração animal passou a ser mais utilizada; houve os primeiros implementos (uso) de ferro na agricutura, e isso facilitou o preparo do solo; o uso de adubo orgânico passou a ser mais utilizado e os habitantes daquela época passaram a utilizar com mais frequência a adubação verde. Ou seja, os alunos (por quê não considerá-los alunos?) daquela época medieval aprenderam novas técnicas e mais ainda, colocaram as mesmas em práticas que de certa forma definiram a agricultura de hoje, pois houve um aumento da fertilidade do solo e, consequentemente, da produção. Didática Geral 143 Unidade 2 Tendências pedagógicas Assim, o “aprender fazendo” defendido por Freire pode ser perfeitamente aplicado hoje em dia, pois a agricultura carece de alunos que ponham em práticas suas ideias muitas vezes restritas a ensaios laboratoriais. É papel do professor em licenciatura em ciências agrárias despertar esse interesse em seus alunos. Pedagogia Libertária Tem como principais representantes, Celéstin Freinet, Maurício Tragtemberg, Michel Lobrot e Miguel Arroyo. Seu eixo norteador foi a relevância às experiências de autogestão, a não diretividade e autonomia experimentadas no contexto escolar. Os professores que tiveram suas práticas pautadas na pedagogia libertária, depositaram plena credibilidade na independência teórica e metodológica, sem mais vínculos às práticas tradicionais e autoritárias vividas no passado. Para melhor entendermos tais postulados pedagógicos, citaremos o acontecer de aula segundo os ideais de Freinet (Figura 6). Toda atividade realizada pelo aluno não incorpora objetivo de nota, mas como uma atividade criativa a qual, finalizada, receberá comentários críticos e sugestões. Como a livre expressão, em suas mais diversas formas, é concebida como ponto fundamental para qualquer ação educativa, é desenvolvida através de atividades prazerosas, dinâmicas e criativas. Figura 6 – Freinet. Fonte: Freinet (s.d.) Na concepção freiniana, a livre expressão é estimulada e percebida como elemento propulsor de toda atividade realizada na escola; e, embora o professor assuma o papel de assessor técnico em sala de aula, esta se configura em uma espécie de oficina, onde quem decide o que o vai ser produzido (criado ou pesquisado) é exatamente aqueles que vão produzi-lo; ou seja, os próprios alunos. Didática Geral 144 Unidade 2 Tendências pedagógicas Esse proceder está fundamentado no pensamento de que tal metodologia favorece o respeito aos interesses e ritmos de cada aluno, estimula o manuseio de materiais variados, além de proporcionar condições, através da livre escolha de atividades, para o exercício de sua autonomia e trocas de experiências. Pedagogia Histórico-Crítica É também conhecida como Pedagogia Sóciopolítica ou Crítico- Social dos Conteúdos e teve origens no final da década de 70, quando um grupo de professores começou a denunciar a escola sendo um veículo reprodutor das desigualdades sociais. No início dos anos 80, esses professores perceberam que denunciar apenas não mudaria os rumos da educação escolar pública, mas que se faziam necessárias a mobilização política dos professores e a conscientização da importância para a escola das práticas sociais; passos esses de fundamental importância para se alcançar uma educação escolar realmente competente. A pedagogia histórico-crítica, segundo Saviani (1980), apresenta-se revestida de métodos que estimulam as iniciativas do aluno e professor, assim como a relação dialógica entre a cultura acumulada ao longo da história e as práticas sociais em processo (saber socialmente significativo). É uma tendência pedagógica que procura respeitar o aluno partindo do ponto de vista que ele é um ser consciente e crítico de suas ações, e pode participar do processo educativo de forma mais ativa e critica. Nesse contexto, o professor articula o conteúdo programático à contextualização histórica, estimulando o aluno a viajar na história e a perceber as infinitas possibilidades de expressão humana, através das variadas formas de se estimular a expressão. Até hoje, a pedagogia histórico-crítica é tema de discussões e amplos debates por grupos de educadores interessados em encontrar caminhos que indiquem possibilidades de transformação, contextualização, conscientização e qualidade do ensino na escola pública. Você já pensou como seria prazeroso aprender Formas de Agricultura a partir de outras linguagens? Sabe-se que a agricultura pode ser apresentada através de diferentes fases de seu aperfeiçoamento, e mostrar as formas que correspondem aos vários estágios de sua evolução. A partir disso, a literatura diz que existem três tipos de agricultura, sendo elas: agricultura extensiva (Figura 7), agricultura intensiva (Figura 8) e agricultura itinerante (Figura 9). Didática Geral 145 Unidade 2 Tendências pedagógicas Figura 7 – Agricultura extensiva. Fonte: Mabiala (2010). Figura 8 – Agricultura Intensiva. Fonte: Agricultura... (2002). Figura 9 – Agricultura itinerante. Fonte: Torres (2011). Assim, a partir da observação dos exemplos, há possibilidade de caracterizar cada tipo de agricultura apenas pela observação de fotogramas? Você identifica a aplicação de uma delas em sua cidade? O conhecimento adquirido em sala de aula sobre esse tema não pode ser medido com uso dessa metodologia de ensino? Essa mesma metodologia pode ser aplicada para diferentes assuntos das ciências agrárias, querem ver? Didática Geral 146 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática Pensem em como seria interessante estudar o tópico Limpeza da área para plantio a partir da observação de fotogramas de áreas de palntio já existentes. O tópico Tipos de vegetação natural também pode ser ensinado a partir desse novo tipo de metodologia, pois pela observação de fotogramas, os alunos saberiam reconhecer mata virgem, mata secundária, capoeira, cerradão, cerrado e campo limpo. A sugestão aqui não é o suprimento da aula teórica, mas tornar esta mais divertida ao aluno. Os exemplo citados servem para ressaltar a característica da pedagogia discutida nesse subtópico. Gostaram desse experimento? Não é tão fácil deixar a aula de agronomia mais envolvente! Em nossa próxima unidade estudaremos os componentes básicos da Didática. Você sabe quais são? Não responda agora. Isso é assunto para nossa próxima unidade. Até lá. Unidade 3 Os Componentes básicos da Didática Síntese: Nesta unidade você terá acesso às características principais da diática e sua estreita correlação com o ensino. Agora que você já sabe como se caracterizou a postura dos professores de acordo com cada uma das tendências pedagógicas, passaremos a estudar os componentes básicos da Didática. Para tanto, se faz necessário lembrar que o objeto da Didática, ou seja, o tema principal da Didática é o processo de ensino. Ainda não sabe o porquê? Ora, simplesmente porque é justamente no processo de ensino que se evidenciam as atividades pedagógicas articuladas pelos professores, a relação professor/aluno, as posturas desses profissionais, os métodos que eles utilizam, quais os objetivos apontados e almejados, além dos caminhos que norteiam a prática e o processo educativos. Sendo assim, para que você compreenda de uma forma bem simples, começaremos nosso estudo por partes. Preparado? Então, vamos lá. A palavra educação advém da conjunção de dois verbos latinos: educere + educare. E se formos tentar entender seu significado da forma mais pura possível, podemos dizer que, na verdade, há duas formas etimológicas. Didática Geral 147 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática A primeira concebe o termo educar como sendo o ato de “tirar de dentro”; ou seja, colocar para fora o que o indivíduo guarda dentro de si. A segunda, por sua vez, buscando a raiz etimológica da palavra, indica que seu significado encontra-se no ato decuidar, amar, amamentar. Assim, os termos educador (educator) e educadora (educatrix) têm suas origens no verbo educare (educar). Mas, você deve estar perguntando aos seus “botões”: e a palavra professor? De onde vem? Ser professor é o mesmo que ser educador? Reflita um pouquinho sobre isso, mas não se desespere se não conseguir chegar a uma resposta definitiva. Lembre-se de que para tudo há uma explicação. Por isso, respire fundo e vamos continuar nossa leitura. Pois bem, embora muitos compreendam que o termo professor significa “jardineiro”, e que também advenha do termo latino educatore, é mais certo dizer que esta palavra tem origem no verbo latino profiteri que, por sua vez, está diretamente relacionado com o ato de confessar os votos religiosos ou mesmo escolher e declarar um determinado estilo de vida; forma de vida esta que ao ser adotada exigia total dedicação e doação, daí estar ligada diretamente à questão religiosa. Segundo Rossato (2002), no começo, portanto, professor era aquele que se identificava por um modo de vida próprio e que tinha um estilo próprio de viver. Havia, pois, uma identidade entre profissão e vida, e professor era aquele que tinha uma doutrina própria e oferecia algo de novo aos seus alunos, formando discípulos e seguidores. Somente mais tarde, passou-se a aceitar e designar como professor todo aquele que se dedicava ao ensino. Dá para imaginar agora de onde surgiu aquela velha idéia de que o “magistério é um sacerdócio”? Talvez seja exatamente por isso que algumas pessoas queiram acreditar até hoje que nosso salário deva ser apenas uma contribuição pastoral mensal. Mas, e você? Considerando a explicação dos termos professor e educador, consegue encontrar diferença? Para que tudo fique exatamente claro, podemos dizer que, numa visão atual, o termo professor está direcionado àquele que tem a profissão de ensinar, e o educador àquele que, sem ter a intenção de ministrar aula, orienta e cuida. Por exemplo, nossos pais podem não ser professores, mas nos indicam os caminhos que acreditam ser os certos a seguir, procuram nos proteger de qualquer mal, explicam como compreendem o mundo e se responsabilizam por nosso bem estar geral. Assumem, portanto, a condição de educadores em nossas vidas. Didática Geral 148 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática Ao fazermos parte de uma instituição denominada escola, quem nos orienta é aquele que estudou para isso. É aquele que além de fortificar os conceitos e regras sociais já introduzidos em casa, estimula novos caminhos para novos saberes, utilizando-se de métodos e metodologias que favoreçam e despertem novas formas de se entender o mundo além das de nossos pais. Mas você ainda pode estar se perguntando: pode um professor ser educador? Obviamente que sim, embora não necessariamente. Você em algum momento já foi os dois? Bem, mas como ainda estamos trabalhando em cima de conceitos, e agora já discutimos sobre o que é ser educador e professor, vamos conhecer a origem do termo educando. Se formos buscar a origem etimológica desta palavra, iremos novamente encontrá-la no verbo latino educare. E se nos ativermos apenas ao Aurélio, poderemos simplesmente dizer que educando é aquele que “está sendo educado”. Então educando é o mesmo que aluno? Num sentido de designação, sim. Mas no etimológico, não. Compliquei? Então, não fique nervoso. Procure esticar o corpo, dê um suspiro profundo e tenha fé. Sua explicação vem agora. Preparado? Pois bem. Quando disse que educando e aluno possuem origens etimológicas bem diferentes, foi porque realmente têm. Etimologicamente, a palavra aluno tem origem latina (a = sem, ausente / luno = luz), significando, portanto, aquele que não tem conhecimento, aquele sem luz. Mas se há muito Piaget comprovou cientificamente que quando nascemos jamais poderemos ser considerados tábulas rasas, então também não podemos da mesma forma aceitar a idéia de que ao irmos para a escola não sabemos absolutamente de nada; ou seja, não possuímos nenhum saber ou experiência que nos leve a tal. Assim, como em todos os momentos de nossas vidas estamos aprendendo a conhecer o mundo e os outros e, mesmo sem percebermos, estamos mostrando algo novo para alguém, indicando algum caminho, ou promovendo mudanças, indiscutivelmente, jamais deixaremos de ser alunos e professores, jamais poderemos deixar de reconhecer que à medida que promovemos mudanças nos outros, estamos, conseqüentemente, também nos mudando. Segundo Freire (2006), ensinar inexiste sem aprender e vice- versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente Didática Geral 149 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Mas para que isso aconteça de forma consciente, se faz necessário aceitarmos o fato de que não conhecemos tudo e que tampouco alguém tem desconhecimento total de algo. É preciso que sejamos sensíveis o bastante para percebermos que o processo ensinar e aprender só ocorre plenamente quando quem ensina tem a humildade de reconhecer seus próprios limites, e quem aprende necessita estar disposto e aberto a esse aprender. Pois, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina alguma coisa ensina a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto – alguma coisa – e um objeto indireto – a alguém (FREIRE, 2006). Assim, se formos analisar a ação pedagógica, podemos chegar à conclusão de que esta pode ser considerada num verdadeiro ato de conquista; pois professor e aluno precisam do “olho no olho”, da confiança mútua, do querer ficar com, do gostar de estar junto, de demonstrar interesse pelo interesse do outro, do procurar chamar a atenção e desejar fazer parte fazendo sua parte junto. É como eu disse: verdadeiro ato de sedução. Mas uma sedução crítica, pedagógica, democrática e consciente de seu próprio poder e extensão. Do contrário, está tudo perdido e a relação transforma-se em puro ódio e desejo de extermínio. Sim, porque se isso acontece, acaba-se com o desejo de descoberta, com o incentivo à construção, a vontade de aprender fica terrivelmente abalada e a motivação para ensinar apresenta- se seriamente comprometida. E é exatamente neste momento que podemos começar a falar sobre a importância do método. O que é método? Você já parou para refletir se existe diferença entre método e metodologia? Se recorrermos a Ferreira (1993, p.56), veremos que entre os vários conceitos do termo método, podendo destacar os seguintes: “[...] procedimento organizado que conduz a um certo resultado”, e “[...] processo ou técnica de ensino”. Quanto à palavra metodologia, o autor citado explica que podemos entender como sendo “[...] conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em determinada disciplina e sua aplicação”. (1993, p.56). Assim, em uma linguagem mais simplificada, podemos compreender método como um determinado caminho que alguém nos Didática Geral 150 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática indica para chegarmos a algum lugar desejado; e metodologia como sendo a forma que iremos realizar nossa caminhada, pois ao fazê-la estaremos considerando nossas experiências, concepções que já temos e o conhecimento adquirido em outros caminhos anteriormente percorridos. Vejam um exemplo prático em ciências agrárias, no que concerne, por exemplo, ao ensino da propagação vegetativa assexuada das plantas correlacionada com método e metodologia. Em um experimento em campo, como trabalhar isso? Qual (is) método (s) pode (m) (riam) ser utilizados pelo professor para fazer o aluno entender esse assunto? É fácil, vejam só: de fato existem diversos métodos que o professor de licenciaturaem ciências agrárias pode trabalhar com seus alunos para enfatizar esse assunto, entre eles: estaquia, enxertia, mergulhia, alporquia, divisão de touceira, brotações laterais e poliembrionia. Mas e a metodologia, de que forma ela estaria embutida em cada um desses métodos de propagação vegetativa assexuada das plantas? É simples, a metodologia vai estar inserida no roteiro preparado pelo professor aos alunos durante a condução prática de cada método. Por exemplo, a metodologia para o método de mergulhia (Figura 10) consiste em se dobrar os ramos da planta até o solo e enterrar uma parte deste ramo para que o mesmo forme raízes. Figura 10 – Técnica de Mergulhia. Fonte: Oliveira (2010). Após a formação das raízes, o ramo é separado da planta matriz, e ele enraizado passa a formar uma muda, que será plantada para formar uma nova planta. Ficou claro agora? Espero que sim. Mas se ainda lhe resta alguma dúvida, assista ao filme “O clube do Imperador” e perceberá que, embora o método de ensino adotado pela Escola “San Beneditict” tenha sido o tradicional, a metodologia utilizada pelo professor H. respeitava uma concepção metodológica bem mais moderna. Você pode lembrar-se do método que sua professora ou professor utilizou quando aprendeu ler as primeiras palavras? Foi pelas sílabas, pelo alfabeto, pelos sons ou por sentenças? Poderia recordar a forma como Didática Geral 151 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática ela tomava sua lição, o jeito que tratava a turma e a forma como ela costumava falar? Às vezes, essa relação nos marcou como um acontecer tão gratificante e saudoso, que chegamos até a lembrar-lhe do nome. Por isso, a prática pedagógica deve ser sempre um eterno refletir. O professor educador é aquele que tenta sempre fazer o certo sem ter medo de analisar mais tarde o que fez de errado. É aquele que está constantemente buscando respostas reconhecendo, ao mesmo tempo, que as verdades não são absolutas; que não existe um só caminho, mas sim muitas maneiras deste caminho ser percorrido. Entretanto, infelizmente, o número de profissionais da educação adeptos da “pedagogia cuscuz” ainda é reconhecidamente grande. Você já ouviu falar da pedagogia cuscuz? Acredito que não, embora já deva haver experimentado tal processo. Bem, é muito simples: na pedagogia cuscuz o professor na sala de aula acredita firmemente que sua postura pedagógica está abafando. E está, só que os outros. A sala de aula torna-se um ambiente sufocante, onde os alunos se sentem reféns do professor – e este, indiferente ao contexto, ainda sai com a consciência tranqüila, acreditando que fez tudo isso para o bem dos educandos e que seu fazer em sala de aula é simplesmente o “máximo”. Tente lembrar-se de uma situação assim. Não precisa ser exatamente em uma sala de aula; pode haver acontecido num grupo de amigos ou mesmo em casa com sua família. Contudo, seja onde for que tenha sucedido, não esqueça que a melhor coisa para não sermos adeptos da pedagogia cuscuz é perguntarmos sempre que possível: será que estou abafando alguém? Será que de alguma forma estou contribuindo para que alguém esteja se sentindo abafado, sem espaço para refletir e expressar- se? Mas voltemos ao nosso estudo sobre mais um dos componentes básicos da Didática: o conteúdo programático. Vale ressaltar que o método de ensino adotado pelo professor tem muito a ver com o que ele planejou para ser trabalhado em sala de aula, considerando sua devida importância para seus alunos e, conseqüentemente, o que ele espera conseguir ao final de seu trabalho. Portanto, o método, os conteúdos e os objetivos jamais poderão ser pensados e planejados de forma isolada. No momento de planejar, o professor deve sempre se ater às seguintes questões: - para quem ensino? - o que ensino? Didática Geral 152 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática - Por que ensino? - Como ensino? E para que toda essa reflexão? Para que seu trabalho não seja apenas um período de meras repetições de teorias; para que tudo que for trabalhado e vivenciado em sala de aula seja do interesse dos alunos e seja útil na vida de cada um deles. Além disso, toda essa reflexão se faz devidamente necessária para que o professor não perca de vista seus objetivos enquanto profissional crítico e compromissado com o processo educativo, estando alerta para as novas metodologias, novos caminhos e novas descobertas. Afinal de contas, ele tem que estar pronto para perceber e conhecer o novo, considerando criticamente suas vantagens, avanços e possíveis desvantagens. Os objetivos pedagógicos, como você já deve saber, é a meta que se deseja alcançar ao final de determinada aula, unidade ou uma simples atividade. Se estes forem metas de conteúdos trabalhados ao final de uma aula ou mesmo uma atividade, então são denominados de objetivos específicos; pois se tratam de objetivos que o professor deseja alcançar diretamente ao final daquele conteúdo específico trabalhado, ou daquela atividade realizada naquele momento. Em outras palavras, você pode compreender os objetivos específicos do planejamento pedagógico como sendo pequenos desdobramentos do objetivo geral. O objetivo geral, por sua vez, é a meta maior que se deseja alcançar ao final de todo o trabalho realizado, seja este um projeto de pequena ou grande extensão, um plano de ensino ou qualquer atividade que abranja etapas menores para sua total execução. Gostaria de um exemplo? Então vamos lá. Imagine que você possui um terreno e quer construir uma casa. Para isso, terá que, no mínimo, planejar considerando sua possibilidade econômica, tempo para dedicação ou fiscalização da obra, contratação de mão-de-obra e qualidade dos materiais necessários. Ao fazer isso, você terá bastante claro que, embora surjam dificuldades e o trabalho não seja fácil, seu objetivo maior é o de construir uma casa naquele terreno. Este, então, é seu objetivo geral. Consultar preços, efetuar compras de material em lugares que ofereçam um valor mais em conta, providenciar o material para que não haja atraso no trabalho do pedreiro ou carpinteiro, podem ser identificados como sendo seus respectivos objetivos específicos; pois, nada mais são que etapas perseguidas e alcançadas para que você, enfim, possa ter seu desejo maior realizado: sua casa prontinha. Didática Geral 153 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática Uma aplicação prática desse assunto nas Ciências Agrárias também pode ser explicitado, por exemplo, no estudo da propagação por sementes, onde, aqui, o objetivo principal do tópico de estudo é considerar os elementos necessários para a propagação das sementes, enquanto que os objetivos específicos correlacionam-se ao ato de conhecer a qualidade das sementes, compreender o processo de formação, germinação e deterioração das sementes das sementes, entre outros. E agora, esse exemplo facilitou a vida de vocês? Nesse sentido, é necessário que o professor compreenda a relevância do planejamento e saiba identificar a importância de cada etapa e a ligação que uma tem com a outra, reconhecendo, principalmente, que o ato de planejar é um fazer político, crítico, dialógico e revolucionário. É um fazer político porque se tratando de educação não há neutralidade. Pois, para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos modos de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser posto em prática e aos valores a serem encarnados. Era preciso que não houvesse, em nosso caso, por exemplo, nenhuma divergência em face da fome e da miséria no Brasil e no mundo. Para que a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano (FREIRE, 2006). É um fazer crítico exatamente porque – ele, o professor - reconhece seu papel na educação e admite-se como um ser reflexivo, pesquisador e grandemente curioso; sendo, porisso mesmo, capaz de diferenciar o discurso da prática e, conseqüentemente, perceber quando sua prática é estruturada em seu discurso. Torna-se um fazer dialógico quando sente a necessidade de agir em parceria, de coletivizar pensamentos, argumentos e sugestões de mudança; quando percebe que as diferenças são absolutamente necessárias para sua identificação e identificação de outros; quando lida de forma certa com a democracia, o diferente e a importância de estar disponível a mais ouvir que a falar. E é nessa construção do ser crítico e dialógico que se encontra o fazer revolucionário. O fazer consciente de que a inquietude é parte necessária à compreensão de que as mudanças somente acontecem quando estamos disponíveis a ela, e que, acima de tudo, não se dão de forma unilateral. Ser revolucionário exige ser paciente e tolerante, pois implica diretamente em saber lidar com o inacabado, com a consciência de que as mudanças precisam existir, mas que não podem se dar de um momento para o outro. Didática Geral 154 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática Você percebe, então, a importância do planejamento na concretização da ação docente? É muita responsabilidade e compromisso, não é mesmo? Planejar exige tempo, pesquisa, prática e reflexão dessa prática. É, consequentemente, através da prática e sua constante análise, que o educador consegue discernir que a alegria de ensinar pode muito bem representar a extinção da tristeza no momento do aprender; que o ato de ensinar e o de aprender jamais podem ocorrer de forma solitária e egoísta. Sabe-se que por muito tempo o fazer pedagógico tradicional permaneceu substanciado no poder do professor, na submissão do aluno e, por conseguinte, na concepção de que o ato de aprender e a ação de ensinar tinham como características inerentes, respectivamente, o sofrimento e a dificuldade, a opressão e a austeridade. Isso ocorreu, pode-se até mesmo dizer, porque um dia “educadores” entenderam que ensinar, teria, necessariamente, que ser um ato austero; que aprender, obrigatoriamente, seria um eterno subjugar-se. Fazer pedagógico este que inspirou gerações de professores a transformarem o ato de ensinar numa eterna tortura pedagógica; onde atuavam como algozes e os alunos como vítimas inquestionáveis do processo educativo. Dessa feita, durante anos, ensinar significou empunhar a espada e espetá-la devagarzinho, de forma a fazer com que o aluno aceitasse que cada estocada era uma necessidade; que as dores, os castigos impostos pelo professor, nada mais eram que instrumentos indicados e necessários à aprendizagem e crescimento intelectual do mesmo. Acreditou-se, assim, por tempo demais, que a escola jamais poderia ser o local onde qualquer pessoa pudesse esboçar o sorriso brejeiro de quem aprende ou o sorriso de satisfação daquele que ensina. Ignorou- se, também, por um longo período, que quando um professor é percebido pela turma como autoritário ou “carrasco” em sala de aula, a dificuldade dos alunos em se envolverem e realmente se interessarem pela matéria, torna-se cada vez maior e evidente. Esses momentos, como já discutimos anteriormente, não passarão de uma grande tortura pedagógica. Além disso, tais momentos contribuirão diretamente à construção de uma perigosa barreira à aprendizagem e ao prazer em estar na escola. Entretanto, se o professor conquistar a turma através de seu comportamento envolvente, democrático, amigo e responsável, terá subsídios suficientes para, a cada aula, fortalecer um clima de afetuosidade, Didática Geral 155 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática respeito, cumplicidade e bem-estar; fatores estes, sem sombra de dúvida, essenciais à produtividade, aprendizagem, criatividade e criticidade; pois ensinar requer um processo de conquista, análise e paciência. Torna-se válido ressaltar, que alguns estudos realizados demonstraram claramente que, enquanto crianças cujos professores têm comportamento autoritário, ao se sentirem livres de seu controle tendem, através da insubordinação e brincadeiras de mau gosto, a comportamentos explicitamente violentos; enquanto que outras, cujos professores agem de forma democrática em sala de aula, comportam-se menos agressivas e irritáveis, além de manifestarem maior expressão de diferenças individuais. Hoje se torna facilmente perceptível que o medo em se permitir que a escola possa ser um ambiente aprazível do saber, implica no terror da perda do controle, do autoritarismo e do descrédito no próprio ato de ensinar. Por que será que, até em nossos dias, encontramos professores que confundem satisfação com anarquia, e que interpretam um gesto de amizade entre professor e aluno, como um sinal de desrespeito ou má postura pedagógica? É necessário que, enfim, se compreenda que quando o professor já tem despertado um clima de confiança, carinho e respeito na sala de aula, o processo de ensino e aprendizagem acontece sem perdas e de forma gratificante para todos. Mas para tanto, torna-se imprescindível que ele perceba que antes mesmo de querer conquistar alguém nesse processo, se faz necessário que se sinta conquistado, carente do outro, aberto a novas experiências, mas fiel e compromissado com o já conquistado. Felizmente, a cada dia cresce o número de professores que acredita que através da humildade, do não ter medo de ousar, da vontade de acreditar no outro e no querer facilitar, pode proporcionar um clima que desperte o interesse de seus alunos pelo o que está sendo trabalhado em sala de aula, humanizar o ambiente escolar, além de, inteligentemente, trabalhar as diferenças fazendo relação com o que acontece em sala e a realidade do mundo lá fora. Daí a importância do educador, consciente de sua ação, constantemente refletir sobre sua prática para não cair na tentação de trabalhar de forma solitária e ausente no ambiente escolar. É necessário que ele perceba a importância de seu papel no acontecer pedagógico dessa instituição; sua responsabilidade para com aqueles que esperam mais que “blá-blá-blá” e atividades quase ou sem nenhuma originalidade. Num contexto escolar, onde uma das metas principais apresenta- se como o desenvolver integral do aluno, atividades prazerosas e dinâmicas, não devem ser descartadas, ou simplesmente ser consideradas elementos Didática Geral 156 Unidade 3 Os Componetes básicos da Didática supérfluos. Pois é exatamente nesse ponto que a necessidade do gostar de, querer que, e realizar e sentir com, no acontecer pedagógico fincam argumentação indiscutivelmente relevante. Há alguns anos, seria muitíssimo difícil um professor de matemática entrar em sala de aula de “bem com a vida”, ou mesmo realizar uma atividade que convidasse ao prazer. Atualmente, não se constitui em novidade e nem mesmo caso de espanto, professores (dessa disciplina) trabalharem a geometria por meio de atividades artísticas ou utilizarem recursos do gênero, a fim de garantir interesse, qualidade, maior aprendizado e satisfação sua e de seus alunos; como se o triângulo amoroso (ensino, aprendizagem e satisfação) pudesse harmoniosamente somar seus catetos, sem risco de perdas ou falsas equações. Para enfatizar esse posicionamento, consideremos o que Freire (2000) em seus livros nos diz sobre o assunto. Para ele, o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. A aula dele é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. Ser um bom professor, assim, é contextualizar pedagogicamente, é contribuir, oferecendo ao mesmo tempo oportunidade de contribuição aos outros. É reconhecer a importância do diálogo e o significado real do silêncio. É criar e recriar, é falar e ouvir, é descobrir-se num palco como ser integrante da ação e capaz de mudar o próximo ato.Desse modo, pode-se dizer que o quadrilátero da sala de aula pode extrapolar suas dimensões e realmente fazer parte do círculo da vida daquele que, por muitas vezes, encontra-se em posição paralela ao despertar crítico e reflexivo do acontecer pedagógico, como, talvez, a esperar esse encontro no infinito. Pois o que torna o ato de aprender prazeroso, não é apenas a novidade do que está sendo tratado, mas a forma pela qual o tema está sendo abordado. É certo dizer, portanto, que o número dos professores que acreditam que a educação é um processo dinâmico que pode e deve acontecer de forma prazerosa, se torna cada vez maior a cada momento de reflexão pedagógica, intensificando a legião de educadores que percebem e propõem uma pedagogia cujo prazer e a criticidade apresentem-se como elementos beneficentes à aprendizagem, à curiosidade e a permanência do aluno no ambiente escolar. Didática Geral 157 Unidade 4 Planejamento escolar Por tudo isso, é extremamente necessário que se perceba que trabalhar tais elementos em sala de aula é, atualmente, o grande passo a ser dado e, ao mesmo tempo, o grande desafio do acontecer pedagógico. Você considera estar pronto para enfrentar esse desafio? Em nossa próxima unidade, estaremos estudando sobre planejamento. Mas, por enquanto, procure participar das atividades propostas nesta unidade e no ambiente virtual. Até lá. Unidade 4 Planejamento escolar Síntese: Nesta unidade você aprenderá sobre a importância da prática do planejamento durante a didática. Na unidade anterior, você conheceu os elementos essenciais da Didática e a importância de cada um no processo ensino e aprendizagem. Mas, para que a ação do professor aconteça de forma comprometida com um acontecer dinâmico, participativo e competente, se faz necessário que ele, o professor, reconheça a relevância do planejamento escolar como elemento constitutivo de sua prática. E o que é planejar. Ora, nada mais, nada menos, que refletir sobre as ações que devemos tomar; levantarmos possíveis questionamentos e suas possíveis soluções. Planejar pedagogicamente é pesquisar; é saber associar a teoria à prática. É reconhecer o significado de flexibilidade, e estabelecer relação direta entre o texto estudado e o contexto apresentado. É nessa ação que os valores culturais, morais e sociais se fazem transparentes na prática pedagógica; pois se trata de uma ação fundamentada no entendimento de que a escola é uma instituição social e real. Em outras palavras, jamais poderá ficar à parte dos acontecimentos sociais (econômicos, culturais e políticos). O professor que não planeja, portanto, não consegue dar continuidade a seu trabalho, tendo, consequentemente, maiores chances de se perder em seu próprio território; ou seja, sua sala de aula. Quanto ao planejamento escolar, Libâneo (1994) nos coloca que ele vem a se constituir em uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. Em sendo assim, podemos dizer que o planejamento é Didática Geral 158 Unidade 4 Planejamento escolar um meio para se programar as ações docentes, levando-se em conta que ai pode-se conceber a pesquisa e a reflexão, as quais nos permitirão fazer uma melhor avaliação do processo educativo. Dessa maneira, pode-se compreender o planejamento escolar como uma etapa que destacará quais os objetivos que se quer alcançar no contexto pedagógico e, por conseguinte, as estratégias que devem ser efetuadas nesse processo, considerando as possibilidades e a realidade apresentada. Para tanto, ao planejar, o professor deverá estar constantemente atualizado, ser criativo, reflexivo, sentir-se aberto ao novo e capaz de colocar-se no lugar do outro – o outro aluno, o outro colega de trabalho, o outro que não se sabe o nome, mas se tem consciência de sua existência enquanto sujeito de mudança. Para Libâneo, as principais funções do planejamento escolar, são: a) Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos de trabalho docente que assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigências do contexto social e do processo de participação democrática. b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico, político-pedagógico e profissional e as ações efetivas que o professor irá realizar na sala de aula, através de objetivos, conteúdos e formas organizadas de ensino. c) Assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho docente, de forma que a previsão das ações docentes possibilite ao professor a realização de um ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina. d) Prever objetivos conteúdos e métodos a partir da consideração das exigências postas pela realidade social, do nível de preparo e das condições sócio-culturais e individuais dos alunos. e) Assegurar a unidade e coerência do trabalho docente, uma vez que torna possível inter-relacionar, num plano, os elementos que compõem o processo de ensino [...]. f) Atualizar o conteúdo do plano sempre que é revisto, aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no campo de conhecimentos, adequando-os às condições de aprendizagem dos alunos, aos métodos, técnicas e recursos de ensino que vão sendo incorporados na experiência cotidiana. g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didático em tempo hábil, saber que tarefas o professor e alunos devem executar, replanejar o trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer das aulas. (1994, p.65). Mas para que você perceba as características principais do planejamento escolar, podemos dizer simplesmente que ele deve: ● orientar - pois não se trata de um guia de receita - a prática do professor, tendo como ponto de partida seu fazer pedagógico; ● oferecer uma sequência lógica de ações; Didática Geral 159 Unidade 4 Planejamento escolar ● apresentar objetividade; ou seja, o plano tem que estar voltado para a realidade; ● estabelecer efetiva coerência entre os elementos constitutivos do plano (objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdos, metodologias e formas de avaliação); ● proporcionar compreensão de flexibilidade. Vale ainda salientar que para o professor conseguir planejar suas ações pedagógicas, necessita considerar o que se propõe ensinar; como irá proporcionar esse ensino (metodologias); quando o processo acontecerá; e, não menos importante, quais as formas que utilizará para avaliar, o que fará parte dessa avaliação e quando esta etapa poderá efetivar-se. Agora você está esclarecido quanto à importância do planejamento para a nossa prática pedagógica? Espero que sim, pois a partir de agora veremos os tipos de planos que podemos executar no contexto escolar. Plano escolar O plano escolar ou plano da escola. Caracteriza-se em ser um documento que apresenta a relação que existente entre os objetivos da escola e o sistema educacional, orientando ainda acerca do projeto político pedagógico e como este se encontra relacionado com os demais planos pedagógicos. Para que você tenha maior compreensão e não fique com a idéia de que o plano da escola é um “bicho de sete cabeças”, apresentaremos como basicamente é composto: • nome da instituição • nível de ensino • nome do plano (plano escolar) • sumário • identificação da escola • fins e objetivos da instituição • apresentação da autorização de funcionamento • alunos e comunidade • organização administrativa e técnica • organização pedagógica • corpo docente • organização física da escola • conselhos escolares e de representação • organização da vida escolar • fins e objetivos dos cursos oferecidos • duração dos cursos e carga horária Didática Geral 160 Unidade 4 Planejamento escolar • calendário escolar • grade curricular • organização e composição curriculares • avaliação – verificação do rendimento escolar • matrículas • transferências • proposta pedagógica
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