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A DIDÁTICA: CONCEITUALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS A escola se transformou em sua essência. O que, antes, era um espaço de ensino, no qual professores eram os supremos conhecedores da cognição científica, os alunos, meros expectadores, e a reprodução do conhecimento, a base do trabalho pedagógico, hoje se transformou em uma área de desafios constantes. O professor já não consegue garantir o aprendizado com apenas a transmissão do conhecimento em aulas expositivas, como fazia antes. Até meados do século XX, a tendência pedagógica tradicional dominou o cenário brasileiro. Dentro dessa perspectiva, a função do professor centrase na transmissão dos conhecimentos científicos visando à adaptação do aluno à sociedade. Na abordagem tradicional, é o professor quem ocupa o centro do processo educativo, sendo o único detentor do conhecimento. O seu papel é garantir que, por meio da memorização e da repetição de exercícios, o aluno memorize os conteúdos estudados. Os procedimentos didáticos não levam em conta o contexto escolar nem os problemas reais vivenciados na realidade social. A diversidade cultural encontrada atualmente nas escolas teve sua origem na democratização do ensino. Antes, os professores lidavam com alunos oriundos das classes sociais mais abastadas. Com a Constituição de 1988, a educação tornou-se um direito de todos e um dever do Estado. Com isso, encontramos nas escolas pessoas com diversas características e situações socioeconômicas múltiplas. A tecnologia, a violência e as transformações da sociedade trazem um desafio crescente para o educador. Como trabalhar conteúdos e competências com alunos que não desejam estar no espaço escolar? Como motivá-los? Como usar essa tecnologia como apoio didático? Para responder a essa pergunta, precisamos mergulhar no universo da didática, que abreviadamente pode ser entendida como a prática de ensino que o professor escolhe para que ocorra a aprendizagem. A palavra “Didática” vem do grego Téchne Didaktike, que significa o dom de ensinar. Com o surgimento da Pedagogia Moderna, rompeu-se a ideia de que para ensinar basta ter um dom ou gostar de crianças. A Pedagogia como “a ciência que investiga a teoria e a prática da educação tem como um ramo de estudo a Didática. A Didática, nesse sentido, é entendida como a Prática do Ensino” (LIBÂNEO, 2013, p. 24). A Didática é um ramo de estudo exclusivo da Pedagogia. Sendo assim, seu objeto de estudo é o ensinoaprendizagem. A Didática vem do campo das ciências humanas, da relação interpessoal “eu e o outro”, isto é, da empatia do ato de ensinar. Define-se a Didática a partir do tempo e do espaço dos fatos históricos, sociais e econômicos que determinaram o processo de ensino e aprendizagem. O que o ensino e a aprendizagem têm a ver com a Didática? Apesar de serem palavras com sentidos diferentes, a ideia de ensino e aprendizagem são congruentes e se complementam. E é na didática que encontramos essa ponte entre teoria e prática. A didática abrange o ato de ensinar e os métodos empregados no ensino. O ensino está pautado no trabalho do professor. A aprendizagem, por sua vez, refere-se ao resultado do esforço cognitivo do aluno. Um depende do outro. Em tempos atuais, há uma variedade de concepções de aprendizagem no contexto da educação, cada um deles decorrente de variadas correntes epistemológicas e psicológicas. A aprendizagem pode acontecer diante de uma vivência ou um diálogo informal. Já o ensino é intencional e precisa ser planejado didaticamente. Segundo Pimenta e Carvalho: “Quando narramos um acontecimento numa roda de amigos ou quando a mãe relata aos filhos o seu dia de trabalho na hora do jantar, não há intenção do falante de produzir uma aprendizagem nos seus ouvintes. Já no ensino, todas as atividades são concebidas e planejadas em função desse objetivo. Portanto, a compreensão do conceito de ensino só pode ser feita em referência ao conceito de aprendizagem.” (PIMENTA E CARAVALHO apud CORDEIRO, 2007, p. 21) Considerando essa realidade que abordamos, a Didática atualmente transborda a prática de ensino e se afeta pela aprendizagem. Dessa forma, sua conceitualização continua evoluindo. Figura 1: Ensino é diferente de aprendizagem Para Zabalza, Didática é, hoje em dia, esse campo de conhecimentos, pesquisas, propostas teóricas e práticas que se centram, principalmente, nos processos de ensino e aprendizagem. O desafio central da escola é garantir o aprendizado. Será que a educação brasileira está atingindo esse objetivo? Quais são seus resultados no ranking mundial? Diante da realidade atual em que o Brasil se encontra, em situação de rebaixamento em seus resultados no Programa Internacional de Avaliação (PISA), devemos nos preocupar com a forma como garantir o aprendizado dos alunos. Na última edição do programa de avaliação, realizada em 2015, em que 70 países foram analisados, o Brasil ficou entre os dez últimos no ranking. Um caminho é certo e deve ser percorrido nas escolas: a formação dos professores. Prepará-los para a realidade da sala de aula, instrumentalizando-os com caminhos didáticos, é fundamental. As universidades formam, nos dias de hoje, professores conhecedores de algumas teorias, mas poucas encaminham uma prática voltada para o trabalho que o professor deve realizar em sala de aula. Sabe-se que a articulação entre teoria e prática constitui um ponto crucial na formação de qualquer educador (lembrando que a teoria se ocupa da pesquisa a partir de problemas reais que aparecem no dia a dia do professor). Dentro dessa perspectiva, a didática deve ocupar posição central nos currículos de formação de professores. Considerando essa realidade, as escolas e os coordenadores pedagógicos devem assumir a responsabilidade formativa do corpo docente. É fundamental que essa formação continuada dos professores seja organizada nas escolas com base em uma reflexão conjunta sobre a teoria e a prática pedagógica. Claro que, para isso, o coordenador pedagógico também deverá receber formação, pois normalmente ele fica totalmente imerso na logística da escola, em detrimento da aprendizagem. Por isso, ele precisa também ter encaminhamentos de como se organizar e o que priorizar em sua atuação. Nesse contexto, vamos, na sequência, buscar a conceitualização da palavra “didática” e como ela interfere na educação escolar. Conceitualizando a Didática Alguma vez você ouviu alguém dizendo: “aquele professor não tem Didática”? Ou então: “a Didática daquele professor é perfeita”? O que essas pessoas estão querendo dizer? Sem dúvida, a primeira está questionando a capacidade do professor de ensinar e a segunda está reconhecendo sua habilidade de ensinar. Libâneo (1992, p. 25) define Didática como “teoria do ensino por investigar os fundamentos, as condições e as formas de realização do ensino”. A Didática representa a prática que o professor escolhe para ensinar e, consequentemente, garantir a aprendizagem dos alunos. A Didática escolhida pelo professor deve estar em consonância com a realidade do aluno e facilitar o aprendizado. Figura 3: Didática a serviço da aprendizagem Para Libâneo (1994), a Didática trata dos objetivos, condições e formas de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico-didáticos a objetivos sociopolíticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, isto é, sem uma competência técnica para realizála educacionalmente; portanto, o ensino deve ser planejado e ter propósitos claros, preparando os alunos para viver em sociedade. Segundo o autor, não existe neutralidade no fazer pedagógico, pois, quando o professor planeja sua aula, ele deixa explícita sua concepção de mundo e sociedade. Para Libâneo, a prática pedagógica está vinculada a condicionantes de natureza social e política. Pesquisas Didáticasbuscam encontrar alternativas que transformem as aulas em um espaço de aprendizagem. É preciso conhecer o aluno, o conteúdo, o objetivo e as formas de abordar esse conteúdo para, dessa forma, garantir a aprendizagem. Será que existe uma receita que ajude os professores a ensinarem com garantias de aprendizagem? Algum teórico já garantiu que determinada forma de ensinar assegura a aprendizagem? Com certeza a resposta para essas perguntas é “não”. Como sabemos, cada escola tem suas próprias características. Cada sala de aula é um espaço diferente. Portanto, é impossível garantir sucesso com uma única forma de ensino. Fundamental é compreender que as ações dos professores não podem ser improvisadas. É necessário que haja um plano de aula que atenda a Didática escolhida, com um objetivo específico e uma estratégia que leve os alunos a esse objetivo. Sua ausência pode incorrer em aulas monótonas, desmotivadoras e ineficientes. Como um ator, que nos emociona ou faz rir com sua atuação, o professor deve garantir o aprendizado. O ator tem um script muito bem orientado, o qual ele estuda para demonstrar a emoção do autor. O professor, da mesma forma, precisa ter um plano de aula e pensar nos detalhes para que seus alunos se sintam contemplados por sua atuação. Por não ser uma questão tão simples, propomos o entendimento da variação que a palavra Didática apresenta. Em uma perspectiva de investigação, a Didática, como um campo teórico da Pedagogia, estuda os procedimentos de ensino, entre eles os materiais didáticos, como os livros didáticos utilizados por professores e alunos. O que são livros didáticos? Normalmente, as pessoas se remetem à ideia do livro que o professor usa para ensinar. Sim, o livro didático é um apoio para ensinar. Ele também tem sofrido muitas transformações. Houve uma época em que os livros didáticos eram apenas textos que fundamentavam a aula expositiva do professor. Com o tempo, as editoras foram aperfeiçoando esse instrumento e, atualmente, os livros, em sua maioria, trazem imagens, dicas, perguntas e sugestões de leitura. Existem, inclusive, livros chamados consumíveis, ou seja, os quais já apresentam atividades a serem realizadas como fixação de aprendizagem. O livro produzido nesse formato deve ser usado apenas por um aluno. Como escolher o livro didático? Tudo vai depender da escola, sua concepção de educação e currículo. Por exemplo: uma escola pode simplesmente abrir mão do uso de livros e adotar apostilas Didáticas. Essas apostilas trarão a proposta de ensino que a escola defende. “[...] são os livros didáticos que estabelecem grande parte das condições materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula de muitos países através do mundo e considerando que são os textos destes livros que frequentemente definem qual é a cultura legítima a ser transmitida” (APPLE, 1995, p. 82). O livro didático deve trazer a concepção de educação na qual a escola acredita, ajudando na aprendizagem dos alunos, e não ser mais um “peso” na mochila das crianças. O livro didático é um recurso didático a mais. ensando em recursos didáticos, seria importante esclarecer até onde podemos explorar essa expressão. Recursos didáticos são todos os apoios que o professor usa para realizar sua aula. Estamos falando de todo tipo de recursos. Pode ser um apagador, a lousa, um livro, computador, sites de pesquisa, apostilas. Se um professor ministrar uma aula de educação física, ele precisará de alguns recursos, como bola, quadra e demais equipamentos específicos. Se um professor ministrar aula de química, precisará de instrumentos como tubos, materiais químicos, microscópio etc. A teoria da educação está diretamente ligada à Didática. Por ser um ramo de estudo da Pedagogia, sua fundamentação teórica deve ser conhecida pelo professor, assim como sua história e os grandes educadores que obtiveram bons resultados para orientar seu trabalho como mediadores do ensino. Libâneo reforça sobre a Didática: “A ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos (...) trata da teoria geral do ensino.” (LIBÂNEO, 1990, p.26). GRANDES EDUCADORES E A DIDÁTICA Ser educador é uma profissão para poucos. Esses poucos indivíduos que dedicam suas vidas à educação devem ter em mente que o desafio é grande. Muitos acham que é preciso ser alguém apaixonado pelos alunos e pela profissão. Não desprestigiando a importância do amor à educação, precisamos de profissionais competentes para realizar um trabalho de grande influência na sociedade. Atualmente, não podemos aceitar a ideia de que basta gostar de crianças para ser professor. Os desafios contemporâneos exigem uma profissionalização cada vez maior dos profissionais da educação. Mais que aprender conteúdos, hoje, os professores são mentores, exemplos, inspiradores que podem construir excelentes cidadãos no futuro, ou então destruí-los em algumas aulas. Iniciaremos com um pequeno resumo histórico sobre a Didática, pois olhar para o passado nos permite encontrar as explicações das variações e transformações vividas no presente. É muito importante conhecer como se deram as mudanças que justificam a pluralidade de propostas pedagógicas presentes em nossa realidade. Esses personagens foram além da mesmice e estudaram, pesquisaram e ousaram em suas práticas pedagógicas. Escreveram sobre elas, foram criticados, admirados, rejeitados, contestados, mas tentaram criar caminhos diferenciados para que o trabalho educativo fosse mais significativo. Segundo Freire (1996, p. 39): “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Cabe-nos conhecer alguns nomes importantes desses estudiosos, nos inspirar com seus trabalhos e talvez aperfeiçoar o que as suas teorias trouxeram, com a nossa determinação e vontade de acertar. Vamos conhecê-los? Esses teóricos contribuíram significativamente para a educação. No Brasil, eles inspiraram o movimento conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, que ocorreu na Europa e aqui no Brasil na metade do século XX. No Brasil, o objetivo do Manifesto era renovar o sistema educacional nacional. O documento do Manifesto foi escrito por 26 educadores brasileiros, assinado e liderado por Fernando de Azevedo, e apoiado por Aluízio de Azevedo, Anísio Teixeira, Cecília Meireles e várias outras personalidades. Esses educadores acreditavam em uma educação pública e de qualidade, que questionasse a escola tradicional, elitizada e com matérias distantes da realidade concreta do estudante. Comecemos por John Dewey (1859-1952), um filósofo norte-americano que foi o grande precursor das ideias progressistas. Dewey iniciou uma verdadeira reflexão sobre a importância de uma escola útil, que ouvisse os alunos e ensinasse aquilo que é importante, trabalhando a partir de problemas reais. Defendia os trabalhos manuais e o desenvolvimento com base na vivência dos alunos com o conteúdo, explorando e expondo suas visões. Ele acreditava que a democracia seria possível com um trabalho na escola que estimulasse os alunos na percepção, reflexão, crítica e definição do seu próprio “eu”. Ovide Decroly (1871-1932) foi um médico belga que defendeu o que entendemos agora como metodologia ativa. Ele defendeu que o: Conhecimento deveria partir do todo, e não das partes, como é feito normalmente até os dias de hoje; Aluno é capaz de conduzir sua aprendizagem, reforçando a importância do “aprender a aprender”. Foi um dos inspiradores do método global de alfabetização. "A criança tem espírito de observação; basta não matá-lo", escreveu Decroly. Na sequência, vamos falar de um dos pensadores que foram muito influenciados por Dewey:Anísio Teixeira (1900-1971). Anísio Teixeira foi um grande defensor da democratização do ensino gratuito no Brasil. Seguindo as ideias de Dewey, ele foi um constante questionador da arte de ensinar, reforçando a relevância de pesquisa e inovação. Anísio defendia a importância de que os alunos conseguissem transferir os conhecimentos da escola para a vida e da educação integral, ou seja, todos os aspectos do cidadão deveriam ser abordados, refletidos e discutidos na escola. Maria Montessori (1870-1952) nasceu na Itália, era médica e pesquisadora. Acreditava que nascíamos com a capacidade de nos ensinar e aprender. Defendia o potencial da criança, desde a primeira infância, e a importância de estimular o aspecto criativo. Para ela, o conhecimento deveria servir como instrumento de desenvolvimento pessoal, por meio do qual os indivíduos fazem suas escolhas conscientes. Seus métodos são usados atualmente nas escolas infantis, permitindo à criança explorar diversas propriedades que a cercam, como o cheiro, as cores, as brincadeiras etc. Celestin Freinet (1896- 1966), um pedagogo francês , defendeu que o que deve guiar a escola é o trabalho. A escola deve formar o aluno de forma a torná- lo um trabalhador criativo e reflexivo. Ele acreditava na importância do desenvolvimento afetivo e preocupava-se com o desestímulo dos alunos, após o erro. Incentivou aulas em locais abertos, como em passeios, visitas etc., e ainda valorizava o diálogo entre professor e aluno. Carl Roger (1902-1987), psicólogo norte-americano, argumentava que o professor tem a tarefa de facilitar o aprendizado, o qual o aluno conduz a seu modo. Sustentava que o ser humano aprende o que sente necessidade de aprender, e assim, na escola, aprenderá o que julgar ser importante para sua vida. Dessa forma, o ensino deve ser significativo para o aluno. Rudolf Steiner (1861-1925), austríaco, criou a linha de pensamento que enxerga além do que é material e, com base na Antroposofia, criou a Pedagogia Waldorf (muito conhecida por suas escolas espalhadas pelo Brasil). Ele considerava a espiritualidade, a individualidade, a criatividade e o exemplo dos professores como influenciadores da aprendizagem. As formas de organizar a educação são diferentes. Os alunos têm apenas um professor do 1º ao 8º ano, ensinando todas as disciplinas. A partir do 9º ano, surge a figura do tutor, que deverá acompanhar o aluno com autorização legitimada pela amizade. Anton Seminionovich Makanko (1888-1939), educador ucraniano, ajudou com suas pesquisas e seu trabalho centenas de crianças e adolescentes marginalizados, transformando-os em cidadãos. A escola de Anton baseouse em exercícios físicos, trabalhos manuais, recreação, excursões, aulas de música e idas ao teatro. Dessa forma, desenvolvia-se o contato com a sociedade. As conhecidas assembleias de escola, usadas atualmente para discutir sobre situações comuns no cotidiano escolar, eram realizadas desenvolvendo a cidadania e o poder de decisão coletivo dos alunos. Anton criou personalidades sem rigidez, e sua obra serve de inspiração para as escolas atuais. Muitas escolas se esforçam para mudar seus padrões em função de sua teoria, na qual as habilidades e competências individuais devem ser desenvolvidas por meio de uma metodologia que contemple cada indivíduo. Jean Piaget (1896-1980), um biólogo sueco, investiu na observação científica rigorosa com relação à aquisição do conhecimento. Ele defendia que o pensamento infantil passa por quatro estágios, até a adolescência, quando o raciocínio se torna pleno. Henri Wallon (1879-1962), um médico, psicólogo e filósofo francês, considerava o corpo, a mente e as emoções das crianças na educação. A reprovação era altamente condenável em sua obra, pois, segundo ele, o emocional é preponderante no desenvolvimento da pessoa. Wallon afirmava que a aprendizagem não é linear, e sim marcada por instabilidades, e provém das vivências, podendo sofrer avanços ou recuos. Crítico da escola tradicional, Henri Wallon incentivava uma sociedade democrática, justa, cooperativa e solidária. Figura7: Imagem de Wallon e Durkeim Até aqui conhecemos diversos nomes que fizeram diferença na educação, contribuindo com reflexões muitas vezes similares e outras paralelas. No entanto, ainda existem muitos outros nomes para estudar, como Johann Pestalozzi, Philippe Perrenoud, Burrhus Frederic Skinner e outros educadores cujas obras contribuíram para a evolução do pensar a Didática. Cabe-nos sempre pesquisar e aprofundar nossos conhecimentos sobre esses estudiosos, pois, com isso, poderemos ampliar nossas visões de educação. Figura 8: Inteligências múltiplas de Philippe Perrenoud Dados históricos e tendências pedagógicas A história, sua evolução e forte persuasão política sempre influenciaram a escola e sua forma de ensinar. Conhecer sinteticamente dados históricos e tendências pedagógicas nos fará entender melhor as características contemporâneas e os processos que ainda poderão surgir para renovar a Didática escolar. Para iniciarmos essa navegação histórica, partiremos do início no século XVII, quando a burguesia apoiava a monarquia. Jan Amos Comenius (séc. XVII) era um bispo protestante que acreditava que a Didática poderia mudar a Escola e que a educação poderia criar uma sociedade mais justa e pacífica. Ele foi um dos primeiros a expressar, em pleno século XVII, que a educação deveria ser pública, e que todos, homens e mulheres, tinham o direito de aprender a ler. Para Comenius, todas as pessoas deveriam poder ler a Bíblia e fazer sua própria interpretação. Foi ele quem sistematizou um tratado de educação em que a Didática era posta como a arte de ensinar tudo a todos, em seu livro conhecido como Didática Magna, a arte universal de ensinar tudo a todos. Ele foi considerado o primeiro pedagogo ocidental, e seu trabalho contemplava a ideia de que todos os seres humanos deveriam ter possibilidade de aprender. A concepção da Didática Moderna nasceu com Comenius e teve o respaldo de Jean Jacques Rousseau. Em 1762, Rousseau publicou um livro conhecido como Emilio ou da Educação. Esse romance pedagógico revolucionou a Pedagogia e serviu de inspiração para as teorias de todos os grandes educadores dos séculos XIX e XX. De acordo com Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Toda a sua proposta fundamentava-se na ideia de que, se a criança tiver a educação fortalecida na infância e na adolescência, ela se tornará um ser incorruptível. No século XIX, com a consolidação do modo de produção capitalista, as empresas começaram a precisar de uma educação que fornecesse profissionais para ocupar os cargos desse tipo de produção. Ter somente a elite capacitada não produzia mão de obra necessária. Johann Friedrich Herbart surgiu adotando a ideia de que o indivíduo é formado pelas percepções que vêm do exterior. Assim, o aluno deve ser preparado intelectual e fisicamente. Para Herbart, o ensino deve percorrer as seguintes etapas: preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação. Herbart pode ser considerado um dos responsáveis por organizar a Pedagogia como ciência. Nesse sentido, ele resgatou a ideia do ensino por meio da instrução e da disciplina. As escolas herbartianas transmitiam um ensino totalmente receptivo, sem diálogo entre professor e aluno e com aulas que obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos. Ele é uma das referências na tendência pedagógica tradicional. Essas teorias se instalaram no século XIX pelas escolas públicas mundiais.Com a abertura de espaço na educação para mais pessoas, a burguesia se sentiu fragilizada, pois as classes mais baixas passaram a ter acesso ao conhecimento. John Dewey surgiu com a Escola Nova, que contestava a escola tradicional e apontava a necessidade de um novo homem social. Sua proposta adotou métodos de pesquisacomo método didático. Contudo, apesar de defender a democracia dentro da sala de aula, a Escola Nova ainda era elitista e não se preocupava com o que acontecia socialmente fora da escola. No Brasil Colônia, as escolas jesuítas cumpriram o papel de atender às necessidades políticas da coroa portuguesa, explorando indígenas e os menos abastados financeiramente. O ensinamento cristão fundamentou os trabalhos. Manoel da Nóbrega inseriu as “escolas de ler e escrever”, as quais foram contestadas inclusive pelos jesuítas. Os professores eram formados pelos jesuítas e a ciência deveria ser interpretada como imutável. A aprendizagem era avaliada pela memorização. Em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e causou retrocesso na organização escolar. Na Primeira República, o ensino continuava reforçando a supremacia da classe dominante. O trabalho escravo era explorado intensamente no país. O Estado de São Paulo foi o primeiro a preocuparse com a educação pública, e em 1983 regulamentou a escola preocupada na formação para o magistério. Esse acontecimento influenciou diversos outros estados a buscarem um aperfeiçoamento educacional. Na década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, a escola brasileira iniciou seu encontro com a Escola Nova. O êxodo rural e as necessidades de mão de obra especializada foram motivos para a abertura de mais escolas. A Didática era compreendida como regras que asseguravam boas aulas que orientassem o trabalho. Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, e a oferta de escolas gratuitas foi ampliada. Nessa época, acontecia uma renovação Didática em detrimento da tradicional. Com a Constituição de 1934, foi elaborado o Plano Nacional da Educação, que determinou a obrigatoriedade da escola do ensino primário. Em 1932, surgiu a primeira universidade brasileira. A origem da Didática como disciplina na formação de professores aconteceu em 1934, com a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. A Constituição de 1937 abordou a educação introduzindo o ensino profissional para atender às necessidades industriais. A Carta tornou obrigatórias as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira. Ainda na década de 1930, foi criado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, do qual Anísio Teixeira foi diretor por duas décadas, aproximadamente. Nesse período, ele realizou grandes reformas no ensino. Em 1941, a Didática passou a ser um curso à parte, como uma especialização. Na Era Vargas, a educação estagnou-se e condicionouse às posições políticas. Com a redemocratização, a Constituição de 1946 instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ao final da década de 1950, com a expansão econômica e industrial, a escola defendeu a liberdade, a iniciativa e a autonomia, e enfatizou a atenção às diferenças individuais. Segundo Saviani, entre 1930 e 1960, ideias da Escola Nova predominaram na educação brasileira. Já a partir daí se iniciou um período tecnicista. Candau (1983) escreveu: “O ensino da Didática assume certamente uma perspectiva idealista e centrada na dimensão tecnicista do processo de ensino-aprendizagem. É idealista porque a análise da prática pedagógica concreta na maioria das escolas não é objeto de reflexão. Considerada tradicional ela justificada pela ignorância dos professores que, uma vez conhecedores dos princípios e técnicas escalavonistas, a transformariam. Para reforças esta tese, experiências pedagógicas que representa, exceções dentro do sistema e que, mesmo quando realizadas no sistema oficial de ensino, se dão em circunstâncias excepcionais, são observadas e analisadas. Os condicionamentos socioeconômicos e estruturais da educação não são levados em consideração. A prática pedagógica depende exclusivamente da vontade e do conhecimento dos professores que, uma vez dominando os métodos e técnicas que desenvolvidos pelas experiências escalavonovistas, poderão aplica-los às diferentes realidades em que se encontram. A base científica desta perspectiva se apoia fundamentalmente na psicologia.” (CANDAU, 1983, p.49). Na década de 1960, Paulo Freire iniciou seu trabalho de alfabetização de jovens e adultos com a metodologia em que acreditava e que repercutiu em todo o mundo da educação. “Penso em um dos capítulos tão fecundos na história da educação latino-americana: a educação popular e o pensamento de Paulo Freire. Eles nasceram colados à terra e foram cultivados em contato estreito com os camponeses, com suas redes de socialização, de reinvenção da vida e da cultura. Nasceram percebendo que o povo do campo tem também seu saber, seus mestres e sua sabedoria.” (ARROYO, 2000, p. 14) Depois do Golpe Militar de 1964, a educação foi vinculada à Segurança Nacional, e passou a sofrer controle e repressão, causando um retrocesso no desenvolvimento educacional do país. O professor retornou à Didática tradicional. A partir de 1974, mesmo com a abertura do regime político, instaurou- se um pessimismo em função da influência política que se estabelecia a cada governo. A partir da década de 1980, a escola começou a se reinventar, questionando velhos métodos e redefinindo a política educacional. A Didática passou a centrar seus esforços na formação integral do aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) foi reorganizada com grandes inovações. Atualmente, a educação já é vista com o vínculo sociopolítico e preocupa-se com a formação social do cidadão. A busca é pela união entre teoria e prática, conteúdo e forma, técnico e político, ensino e pesquisa, professor e aluno. A Didática precisa evoluir e acompanhar as mudanças paradigmáticas que estão se instalando na sociedade. Para que essa evolução continue, é preciso que os professores se conscientizem da necessidade de serem pesquisadores de outras práticas que não as historicamente conhecidas e também de sua própria prática. É necessário fundamentarse teoricamente, ousar no ato de planejar, errar ou acertar, refletir e novamente ousar em planejar. A Didática só evoluirá e será funcional se nossos educadores se entenderem como eternos aprendizes. EDUCAÇÃO, SUAS DEFINIÇÕES E PROCESSOS O direito a educação é assegurado por lei, independentemente da procedência do cidadão. Esse direito é um caminho que garante outros direitos. Não é possível lutar por um direito que não se conhece, e a escola nos traz informações essenciais sobre o que nos resguarda constitucionalmente. Se a escola não cumpre esse papel, deverá repensar seus caminhos. A escola deve ser um dos principais caminhos de acesso à informação verdadeira, consistente e útil para a formação cidadã. Mas o que é educação? Como conceitualizar uma palavra que traz percepções diversas? Figura 11: Fatores que envolvem a palavra “educação” Normalmente, quando as pessoas falam em educação, estão se referindo à forma como se estabelece a convivência interpessoal. É comum chamar alguém de “mal-educado”. Isso significa que a pessoa não foi “bem educada” e não sabe tratar as pessoas das formas especificadas pela sociedade como “educadas”. No entanto, a palavra “educação” pode ser empregada de diversas maneiras, como educação cultural, educação filosófica, educação científica, educação moral, educação profissional, entre outras. Entendendo a educação como o objeto de estudo da Pedagogia, Libâneo (1990) define a educação como um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento, envolvendo a formação de qualidades humanas, físicas, morais, intelectuais e estéticas dentro de um contexto de relações sociais. Etimologicamente falando, a palavra “educação” provém de educare, que, em Latim, significa alimentar, cuidar, criar. Por outro lado, para alguns professores, a palavra se refere ao processo educacional oferecido formalmente na escola. Comotivemos a oportunidade de conhecer a história da Didática, vimos que cada teórico enxergou a educação de uma forma. Para alguns, é o saber acumulado; para outros, o desenvolvimento da cidadania. No Brasil, temos a Constituição Federal, que, no capítulo III, artigo 205, apresenta o seguinte texto: “Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988, p. xx). Nesse artigo, podemos verificar que a educação escolar é algo que abrange o desenvolvimento integral do aluno, mas muitos professores resistem a essa concepção alegando que na escola se deve aprender disciplinas como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências. Complementam ainda que educação social é responsabilidade da família. Mas será que é só da família? Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), em seu artigo 1º “Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. §1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social.” (BRASIL, 1996, p. XX). Como se pode notar, a LDB confirma a Constituição Federal e entende a educação também como desenvolvimento social. Somos educados a partir do momento em que nascemos. Aprendemos a chorar para pedir alimento, pedir para trocar a fralda e mostrar nossa insatisfação com alguma coisa. A vivência e a convivência nos trazem educação. Também as formas culturais em que cada cidadão estiver inserido serão fontes educativas. A religião que frequentamos, os esportes que praticamos, a convivência e os exemplos que desfrutamos sempre nos trarão formas de educação. Figura 12: BNCC Para a escola e, atualmente, com a Base Nacional Comum Curricular, o desenvolvimento social, isto é, a educação integral, já não é mais uma sugestão, e sim uma determinação. Sendo assim, os professores podem achar que devem se eximir dessa obrigação, mas a lei deixa clara a importância do desenvolvimento de 10 competências gerais. São elas: 1. Conhecimento – reforço da importância da metacognição e da transformação do aluno, que reconhece a importância do que foi aprendido. 2. Pensamento científico, crítico e criativo – desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e da transferência do conhecimento para o mundo real. Capacidade de correlacionar, questionar ideias, criar novas soluções a partir de diferentes caminhos. 3. Repertório cultural – reconhecimento de diversas formas de expressões culturais. Trata-se de ter conciência multicultural. 4. Comunicação – uso de diferentes linguagens, desenvolvendo a escuta, a expressão, a discussão, o multiletramento e a contextualização sociocultural. 5. Cultura digital – uso de tecnologias de forma crítica e consciente. 6. Trabalho e projeto de vida – compreensão das relações próprias do mundo trabalho e das escolhas a serem feitas para o seu projeto de vida. 7. Argumentação – desenvolvimento de opiniões e argumentos com base em dados e evidências. 8. Autoconhecimento e autocuidado – conhecimento de si, identificação de características próprias e aprendizagem emocional. 9. Empatia e cooperação – exercício para a convivência respeitosa. 10. Responsabilidade e cidadania – desenvolvimento da flexibilidade, resiliência, tomada de decisões, princípios éticos etc. Talvez a maior dificuldade das escolas, hoje, seja capacitar os professores para trabalharem essas questões, principalmente por meio do exemplo, que deve ser dado em cada ação e movimento institucional. Mas isso não é tão fácil. Devemos considerar que muitos professores têm suas próprias “visões de mundo”, e muitas vezes sua conduta não é exemplo para que se alcancem os objetivos esperados. As Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional é de competência da União. As escolas, subordinadas aos estados e cidades, podem realizar adequações, porém jamais mudar uma lei como essa. EDUCAÇÃO COMO FORMA DE DOMINAÇÃO Todos os sentidos da palavra educação nos remetem ao caminho de formação do indivíduo. Consideremos agora que a escola pode ser manipuladora e reforçar cada vez mais o desnivelamento social. Enquanto alguns alunos agradecem os professores pela forma como abordaram temas políticos na sala de aula, fazendo-os enxergar criticamente os diversos aspectos sociais, outros reclamam daqueles que aproveitam a oportunidade para convencer os alunos de suas convicções pessoais. Sim, a educação pode ser usada como forma de manipulação política e, por isso, reforça-se a importância de que os professores passem por formações constantes, sendo orientados acerca da maneira como realizar um trabalho póscrítico, ou seja, sem posicionamento, mas com respeito e aceitação às diferenças. Dessa forma, leva-se o aluno a se posicionar segundo suas próprias convicções, sem desrespeitar as pessoas cujas convicções são diferentes das suas. Nesse contexto, alguns defendem, atualmente, a chamada “Escola sem partido”. Figura 13: Escola sem partido O projeto de lei é claro, porém muitas pessoas ainda não acreditam que seja possível trabalhar o senso crítico do aluno sem, com isso, influenciá-lo em alguns aspectos. Essa é uma questão a ser estudada e refletida incessantemente. Como exemplo, citamos agora parte do artigo 3º desse projeto: “Art. 3º. No exercício de suas funções, o professor: I - não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias; II - não favorecerá, não prejudicará e não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas; III - não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas; IV - ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito;” (RIO DE JANEIRO, 2019) Considerando esse exemplo, é possível entender a neutralidade da escola em relação às escolhas pessoais, porém muitos acreditam que isso tirará do professor a possibilidade de trabalhar temas transversais, como sexualidade e saúde. O que precisa ficar claro em todas as questões abordadas é que a escola poderá ajudar a educação integral, mas sozinha não dará conta de tantas responsabilidades. É preciso que haja apoio da sociedade, da família e da política. É claro que a escola influenciará todas esses seguimentos também. Ainda é possível verificar que a escola influenciará a sociedade, de uma forma que poderá ser benéfica ou não. Citando Saldanha, 1980, p.147: “Se nos regimes democráticos a educação forme homens livres, deixando livre a escolha da profissão e até preparando o cidadão para a crítica social e para a vida partidária, nos regimes ditatoriais a educação padroniza opressivamente o educando. Na Alemanha nazista, por exemplo, a juventude era formada no fanatismo belicoso e exaltada quase magicamente para o culto do “Fuhrer”.” (SALDANHA, 1980, p.147). Considerando essas informações, é possível entender que a escola não resolverá tudo na sociedade, porém poderá ser grande influenciadora. Ainda pensando nos processos que se desenvolvem na escola, haverá sempre uma dependência da legislação, que poderá mudar conforme a influência política, as concepções de educação, a Didática, a forma de encaminharas situações cotidianas, o Projeto Político Pedagógico construído periodicamente e a comunidade escolar, que precisará ser ouvida, entendida, considerada em suas características gerais e necessidades. “Nesse contexto, o Plano de Educação tem ‘um caráter reflexivo, organizador e articulador e não acontece em um percurso linear’, sua implementação “depende da criação de mecanismos para sua gestão, processo que se inicia no interior da Secretaria de Educação, na análise de sua estrutura, organização e funcionamento.” (CENPEC, 2009, p. 25). Os processos educacionais são norteados por: Didática – em que se escolhem as formas de ensino em função das necessidades locais e as formas de aprendizagem. Avaliação da aprendizagem – que poderá ser entendida como forma de repressão, ou mesmo forma de acompanhamento e fonte, para repensar a Didática escolhida pelo professor. Legislação - que fornecerá todo o apoio legal para os demais processos educacionais. Resumo A Didática pode ser entendida como o caminho escolhido pelo professor para ensinar e concretizar a aprendizagem dos alunos. As formas de trabalho atuais continuam muito tradicionais, mas os pensadores da história nos mostraram vários caminhos e concepções diversas de como ensinar. Todos eles foram fortemente influenciados pela evolução histórica e sociopolítica da humanidade. Os processos educacionais dependerão das concepções adotadas nas escolas e definirão as metodologias e objetivos do ensino. A partir dos conhecimentos adquiridos nesta unidade, considerandose como um professor em sala de aula, qual Didática você adotaria para ensinar? Considere as referências históricas, a BNCC, a LDB. Bom trabalho! TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO Considerando a didática como estudos, técnicas, percepções que contribuem para o ensino de forma mais eficaz, ressalta-se a importância de sua aplicação, ou seja, discutir a prática em sala de aula. Entendemos como tendência pedagógica as diversas teorias filosóficas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana (LUCKESI, 1990, p. 53). Já tivemos a possibilidade de explorarmos o termo “didática”, de onde provém, suas interpretações e algumas correntes filosóficas sobre o assunto. Agora, cabe-nos verificar como aplicá-la, e para isso vamos avançar em algumas questões importantes, como as tendências que afetam a pedagogia. Algumas tendências foram fortemente influenciadoras das práticas pedagógicas e por isso vamos explorá-las, onde poderemos retomar alguns pontos já estudados e conhecer outros detalhes muito significativos para o trabalho do professor. Espera-se que esse estudo ajude o futuro professor a pensar em sua prática, pautado em conhecimentos e experiências de grandes personagens da pedagogia. De acordo com Paulo Freire: O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda e que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. Há professores e professoras cientificamente preparados, mas autoritários a toda a prova. O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor (FREIRE, 1996, p.36). Para isso vamos conhecer as tendências pedagógicas e refletir sobre elas que são as Tendências Liberais e Tendências Progressistas. Vamos explorá-las? Tendências Liberais As Tendências Pedagógicas Liberais surgiram no século XIX, sob forte influência das ideias trazidas pela Revolução Francesa (1789), de “igualdade, liberdade, fraternidade”. Receberam também, contribuições do liberalismo no mundo ocidental e do sistema capitalista. Para os liberais, a educação e o saber já produzidos (conteúdo), são mais importantes que a experiência vivida pelos educandos no processo pelo qual ele aprende. Dessa forma, os liberais, contribuíram para manter o saber como instrumento de poder entre dominador e dominado. As tendências pedagógicas liberais mais importantes são: Liberal Tradicional e Tendência Liberal Renovada, vamos ver o que defendem cada uma destas Surgidas no século XIX e forjadas com o capitalismo, a tendência Liberal entende o conhecimento como conteúdos fechados, sem reflexão. A Manutenção do poder se manter com a manutenção de classes, onde quem tem possibilidade de estudos tem mais poder que os demais. As mais importantes tendências são liberais são: Tradicional, Liberal Renovada, Tecnicista e Renovada nãodiretiva. A Tendência Liberal Tradicional Encontrada até hoje nas escolas, essa prática defende que o professor é o detentor do saber, senhor da sala de aula, manterá a ordem e a disciplina através de ações impositivas e castradoras, onde o aluno é visto como um ser inferior, que deverá ser moldado para a sociedade que manterá suas características sem posicionamentos contrários. A prática é garantida pela exposição de conteúdos e memorização. Como apontava os estudos de Skinner, o aluno seria condicionado por punição e recompensas. A punição consistia em notas baixas e a recompensa em notas altas. Nessa prática eram desconsiderados os conhecimentos prévios dos alunos, suas vivências, cultura, etc. Figura 1- Tendência Liberal Tradicional Um aluno que participa desse tipo de educação sente-se motivado para aprender e ir à escola? Reflita sobre as características do povo brasileiro e sua cultura. Como isso pode ser trabalhado com esse tipo de educação? Tendência liberal-renovada Vista como o mais forte movimento renovador, defende a escola pública para todos, e mesmo assim reforça a divisão classes e garante mais privilégios aos elitizados. O objetivo inicial era garantir que um indivíduo livre, social e ativo. Por educação nova entendemos a corrente que trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a esse movimento o nome de `escola ativa´” (LUZURIAGA, 1980, p. 227). Com essa nova forma de olhar a educação o professor sai do papel centralizador e o conhecimento passa a ser visto como fruto da pesquisa e não um conhecimento fechado. Alimenta-se ideias de proporcionar aos alunos a criatividade, inventividade, experimentação, curiosidade estimulados por um professor que deva estimular esses comportamentos. Desdobra-se assim algumas escolas consideradas construtivistas. Entendidas de forma arbitrária por alguns educadores, os alunos ficaram livres demais e muito se perdeu nessa caminhada. “Do ponto de vista da Escola Nova, os conhecimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanidade não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois acreditava-se que, passando por esses métodos, eles seriam naturalmente encontrados e organizados” (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 28). Figura 2- Tendência Liberal Renovada Tendências Liberal-tecnicista Influenciados pela força do militarismo, a escola sofre um retrocesso e volta a trabalhar com uma educação tradicional, behaviorista, que consequentemente ampliam garantias às elites, e assim mantem a posição dominante na sociedade. O tecnicismo volta a reafirmar o professor como centralidade de poder e os conteúdos são trabalhados de forma fechada e sem reflexões. A ideia é garantir a mão de obra para o mercado de trabalho e as classes sem possibilidades de movimentação. A compartimentalização do trabalho é reforçada pela compartimentalização das disciplinas que são transmitidas com técnicas de repetição. O professor passou a ser refém de técnicas exigidas através de materiais didáticos previamenteestabelecidos. Cabe dizer que esse movimento ainda insiste em acontecer nas escolas. Professores aprenderam assim e ensinam assim. Figura 3 - Tendência Liberal Tecnicista Tendências progressistas Com o período de abertura política surgem as tendências progressistas. Tendo Paulo Freire como seu maior inspirador, a educação caracteriza-se pela valorização do sujeito no processo de aprendizagem, progredindo a partir das experiencias pessoais e o professor volta ao seu papel de mediador. Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros. Portanto, nessa concepção de escola, o aluno deve desenvolver seu senso-crítico e ser capaz de se posicionar na sociedade, estimulando o questionamento de classes. Por esse motivo é uma prática que de certa forma influencia o posicionamento político-social. Tendência progressista-libertadora Advogando pela ideia de que as discussões e reflexões sobre temas sociais e políticos deveria ser o foco central da educação, o professor deve agir como um organizador de problematizações sobre a realidade e o trabalho. Não havia uma didática explícita para essas ações e essas reflexões ocorriam mais em escolas públicas, já que nas escolas particulares os interesses eram outros. Figura 4 - Tendência Libertadora Tendência progressista libertária A crescente abertura política incentiva a democracia na educação, propiciando condições mais igualitárias a todos. Nesse momento é ampliada a abertura nas escolas, permitindo que a comunidade escolar tivesse mais acesso as decisões, atuando em conselhos escolares, cooperando com a gestão democrática e outras formas de participação. O aluno e o professor são parceiros de descobertas, e apesar dos conteúdos serem explorados, não são exigidos. Figura 5- Tendência Progressista Libertária A aprendizagem que se dará informalmente é uma forma de negar a repressão e pretendem que as pessoas sejam mais livres e críticas. Tendência progressista crítico-social Em oposição a escola libertária e acreditando que os conhecimentos historicamente adquiridos não devem ser menosprezados, essa tendência defende que a função social e política deve ser explorado a partir dos conhecimentos sistematizados. Prioriza os conhecimentos científicos, a didática, a construção de raciocínio lógico e habilidades críticas que os ajudem a socialmente provocar modificações. Conforme Libâneo (1990), a tendência progressista crítico-social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Figura 5- Tendência Progressista Libertária Diante dessas constatações sobre as tendências pedagógicas, podemos verificar que muitas ideias vão e vem, ou seja, são pensadas, aplicadas, negadas e depois reinseridas com ajustes objetivando o aprimoramento. Todos esses conhecimentos nos levam a pensar sobre a educação que tivemos e que podemos oferecer. Qual você escolhe para você como profissional da educação? CONTEÚDOS OPERACIONAIS DA DIDATICA Quando pensamos em ensinar, parece tudo muito simples, mas o ensino se garante através de alguns conteúdos operacionais. Vamos agora explorar esse mundo. Para falarmos de didática devemos pensar em objetivos de ensino, conteúdos escolares, metodologia de ensino, relação professor-aluno, avaliação e planejamento de ensino. Não vamos nos estender em todos os itens nessa unidade. Alguns aspectos já foram discutidos ou serão ainda nesta disciplina em outras unidades de ensino. Objetivo Iniciaremos pelos objetivos de ensino, que serão citados e explorados novamente na próxima unidade. Cabe neste momento entender sua preponderância nesse contexto de aula. Objetivos, em geral, discriminam aonde queremos chegar. Se vou viajar, tenho um objetivo que é conhecer um determinado lugar. Figura 7- Objetivos Na escola, a palavra “objetivo” se apresenta em diversos documentos. Temos os objetivos do Projeto Político Pedagógico, que é como se fosse um farol, que iluminará os caminhos a serem trilhados. Cada disciplina deve ter seu objetivo geral, que geram os objetivos gerais de cada ano ou série e depois devem gerar objetivos específicos da aula. O objetivo geral nos direciona sobre o que queremos que o aluno saiba ao final de um contexto, que pode ser um curso ou uma série. Vamos ser mais específicos e exemplificar. Em relação a um curso de pedagogia temos por objetivo geral, ou seja, ao final do curso queremos: Preparar profissionais para responder às diferenciadas demandas educativas da sociedade contemporânea atuando em uma complexa gama de atividades. Considerando que esse é um objetivo que deve ser atingido em um período de quatro anos, devemos pensar em organizá-lo em objetivos menores, ou seja para cada ano cursado. Podemos dar um exemplo de objetivo que poderá ser explorado de diversas formas. Compreender a educação como fenômeno social e cultural em seu dinamismo e diversidade. Para esse objetivo podemos pensar em disciplinas variadas como: aspectos antropológicos e sociológicos da educação, filosofia da educação, história da educação, psicologia da educação, etc.. Cada disciplina citada terá um objetivo geral e será recortado em outros mais específicos. O principal dessa exploração por objetivos e suas variações, é entender que ele deve nos nortear para o desenvolvimento do conhecimento sobre determinada prática. A definição de objetivos ajudará a determinar os conteúdos a serem explorados. Existem alguns cuidados essenciais para serem garantidos na formulação de objetivos. A primeira questão a ser garantida, é verificar se é possível desenvolver determinado objetivo. Podemos citar alguns objetivos que não se pode garantir, por exemplo: Garantir que o professor se forme com todas as condições necessárias para ensinar em salas de diferentes tipos e diferentes disciplinas. Como alguém pode garantir que outro individuo saberá tudo ao final de um curso? Como alguém pode saber ensinar tudo? Considerando essa informação devemos pensar em objetivos viáveis, ou seja, possíveis de serem realizados e em um determinado período. Outro aspecto é poder mensurá-lo. Se não tenho como mensurar, como saberei que o objetivo foi atingido. Vamos a outro exemplo? o Transformar a postura do aluno para que se torne um cidadão compreensível, colaborador, respeitoso. É possível oferecermos alguns contextos onde o aluno irá refletir sobre essas posturas, porém como garantir que ele se transformou? Qual avaliação pode garantir isso? Dessa forma, é preciso que o objetivo seja algo palpável e de preferência que atenda ao objetivo geral e as premissas da legislação e do Projeto Político Pedagógico, onde afinal teremos o produto esperado. Os objetivos específicos devem apoiar os objetivos gerais. Cabe lembrar que os objetivos, sejam quais forem, devem ser iniciados com um verbo no infinitivo. Existem vários verbos que podem ser explorados, conforme seu nível de exigência, na Taxonomia de Bloom e na atual Base Nacional Comum Curricular. Os verbos usados em objetivos devem ter uma coerência que respeite as características do aluno, suas possibilidades seus préviosconhecimentos. Por exemplo, não é possível solicitar um aluno que analise se ele ainda não consegue identificar. Conteúdos escolares Neste ponto, passaremos brevemente sobre o assunto, pois como já foi explanado, será foco de uma próxima unidade, onde teremos a oportunidade de explorarmos com mais profundidade. Devemos, no entanto, deixar claro algumas questões. Os conteúdos devem ser gerados a partir dos objetivos e não o contrário. É muito comum que os professores tenham prontos os conteúdos de cada série e, se forem obrigados, irão pensar em objetivos. Justamente por esse motivo que as avaliações e as metodologias usadas muitas vezes não estão alinhadas aos objetivos. Figura 8 – Alinhamento de aspectos importantes para o planejamento A reflexão deve ser a seguinte: se tenho determinado objetivo, qual o conteúdo que deve ser ensinado para atingir esse conteúdo? Do que adianta eu ensinar a inferir sobre um texto, se meu objetivo é que esse aluno saiba decodificar uma palavra? O que ajudará a inferência para atingir esse objetivo? Com isso, podemos afirmar que o objetivo e o conteúdo devem estar coerentes e levar ao mesmo sentido. Metodologia de ensino A metodologia de ensino consiste na aplicação de diferentes métodos no processo de ensino- aprendizagem. Segundo o dicionário Aurélio, metodologia consiste na arte de dirigir o espírito na investigação da verdade. Aplicação do método no ensino. Método vem do latim “methodus” cujo significado é caminho ou via para realização de algo. Meta (objetivo, finalidade) somado a Hodos (caminho, intermediação). Em nosso contexto, a metodologia vem complementar as ideias iniciais apresentadas nessa unidade. Se eu tenho um objetivo, já defini os conteúdos a serem trabalhados, de que forma vou fazer isso, para garantir a aprendizagem dos alunos? Metodologia de ensino são os estudos das diferentes trajetórias seguidas para se atingir os objetivos de ensino. Quando um professor tem um objetivo a ser atingido ele precisa pensar: quem são meus alunos? O que os atrairia para trabalhar esses conceitos? Qual a aplicabilidade desses conceitos que eles poderiam considerar relevantes? O que é significativo para eles? Quais estudos já existem e fundamental essa aprendizagem? Posso usá-los nesse contexto? Se o professor de matemática tem por objetivo que os alunos tenham decorado a tabuada, ele precisará de recursos de repetição. O que ele pode fazer para que os alunos repitam as tabuadas? Antigamente nós copiávamos várias vezes a mesma tabuada até decorá-las. Hoje, antes da ação de decorar devemos garantir o entendimento do que é multiplicação. Isso resolvido, o professor pode proporcionar diversos exercícios em que o aluno consulta a tabuada para resolver. Isso pode ajudar na decoração, porém existem muitos outros caminhos como jogos, desafios, etc.. O professor deve verificar o que mais atraí o interesse do aluno. Cabe ainda ressaltar que um método não é uma solução geral para todos os alunos. Em uma determinada classe um método pode ser eficiente, porém em outra, o professor precisará procurar outro caminho. Tudo depende da caracterização dos alunos que influenciará o desempenho do professor. Outro aspecto importante é que o professor deve dominar o que vai ensinar, mas isso também não garante que ela saiba ensinar. É preciso saber ensinar e a escolha da metodologia do ensino trará ao professor alguns desafios e poderá ser marcado por escolhas erradas. Já ouviram as seguintes falas? Fulano é um professor tirano. Ciclano ensina por cópias sem fim. Beltrano é um animador de aulas. A escolha da metodologia influenciara a forma como será visto e como a aprendizagem do aluno. Por esse motivo, existe a necessidade de o professor ser muito responsável e comprometido. Estar disposto a estudar sempre, entender a dinâmica da escola em que trabalha, participar da construção do Projeto Político Pedagógico, conhecer diferentes métodos de ensino e sua relação histórica cultural, e saber escolher caminhos em que as metodologias usadas abracem as necessidades locais. Relação Professor-Aluno Para muitos esse é um aspecto que não tem valor. Professores que aprenderam nas décadas de 1970, 1980, 1990, ainda têm em si o registro do que eram como alunos. Respeitosos, e os professores sendo a autoridade máxima de uma sala de aula. Com a evolução humana as relações mudaram, e não se pretende aqui estender os vários aspectos que levaram essas relações em sala de aula a mudar tanto, mas aceitá-las e verificar de que forma tudo isso influencia no cotidiano escolar e principalmente na aprendizagem. O que se constata é que nas salas dos professores e que se ouve muito sobre a irreverência e deboche dos alunos, a falta de interesse, as consequentes notas baixas e muitas vezes o medo de se enfrentar algumas classes, por terem alunos agressivos e que chegaram até a agredir seus professores. É possível ensinar ou aprender nesse contexto? Será que estamos dando muita liberdade? Pensar nessa relação é tão importante assim? Como os professores devem se comportar nessa relação? A princípio devemos reforçar que o professor tem a responsabilidade de, apresentar aulas que sejam envolventes e motivadoras aos alunos. Um bom plano de aula poderá ajudar muito nesse aspecto. Por outro lado, o professor já não é mais um mero transmissor de conteúdo. Sua função se ampliou e agora ele deve ser um educador, preparado para, além de ensinar a disciplina, propiciar reflexões nos alunos que os ajudem com a postura cidadã. Teríamos que conseguir que os outros acreditem no que somos. Um processo social complicado, lento, de desencontros entre o que somos para nós e o que somos para fora [...] Somos a imagem social que foi construída sobre o ofício de mestre, sobre as formas diversas de exercer este ofício. Sabemos pouco sobre a nossa história (ARROIO, 2000, p.29). Para que tenhamos professores com essas competências é preciso que haja uma equipe técnico- pedagógica muito comprometida com a formação continuada. Uma característica de professores bem aceitos pelos alunos é daquele profissional que permite abertura ao diálogo. Será que professores conseguem dialogar sem impor suas “visões de mundo”? Tudo isso fará parte de um trabalho formativo e reflexivo processual e que será um desafio aos coordenadores de cada escola. É preciso muita determinação para insistir nesse tema e abrir diálogo com o professor para que ele entenda o que se espera dele. [...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 2005, p. 91). A perspectiva de haver diálogo em sala de aula permite desmistificar o professor como o que sabe tudo e concebê- lo como um mediador da aprendizagem. Acreditem, que esse professor aprenderá muito com os alunos, também. Já a afetividade é outro aspecto muito importante e valorizado por diversos estudiosos da educação. Para Wallon, a aprendizagem está diretamente ligada a afetividade que se cria dentro da sala de aula. Considerando alguns alunos extremamente agressivos, devemos pensar o que levou esse individuo a esse comportamento. Será que sofreu agressão em sua vida? Como é sua casa e as relações que lá se efetivam? Na escola esse aluno já foi valorizado alguma vez? O que ele pensa sobre os professores? São muitas as respostas, mas várias experiências mostram que alunos podem mudar sua postura diante de atenção, e ao notar que alguém se interessa por ele. Muitas vezes um professor muda um destino com o respeito e atenção que demonstra ao aluno. Inquestionável é que o aluno sente o que o professor pensa. Se sente desprezo porparte do professor, desprezará a disciplina, o conhecimento oferecido e o professor. Cabe aqui os professores refletirem sobre suas práticas, mas isso não descarta a realidade que muitas vezes é surpreendente. Aquele aluno quietinho poderá de repente ficar agressivo e por isso uma boa dose de observação individual é importante. Um ponto muito importante é a imposição de algumas questões. Nenhum ser humano aceita certas imposições sem entender primeiro o motivo. Dessa forma, considere-se recebendo uma ordem arbitrária que você, mesmo como professor, não concorda. Essa geralmente é a motivação para adesões fracas em propostas escolares. Deve-se reservar um tempo para fundamentar as regras, dialogar sobre elas, ouvir outros pontos de vista. Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual (FREIRE, 1996, p. 146). Considerando a citação acima também é importante reafirmar que ser afetivo não está diretamente ligado a ser permissivo. O professor deve ser afetivo, porém manter a postura respeitosa e a cultura que em sala de aula devemos estudar. Cada professor deverá achar a medida correta para que um ponto não suprima o outro. Avaliação O que é avaliar? Para que avaliamos? O que fazemos com os resultados obtidos? Essas são perguntas fundamentais para serem realizadas com os professores. Será que pensam da mesma forma? Normalmente a avaliação é vista como uma forma de repressão, onde o aluno que não atinge a nota estabelecida como “boa” será rotulado como ineficiente, preguiçoso, desinteressado e que não estuda. Essa visão de avaliação é consequência da educação tradicional. Lembram como Skinner condicionava os ratos? Por recompensa e punição. Assim, fomos condicionados que ter uma nota baixa é uma punição e ter uma nota alta é uma recompensa. O prazer de aprender desaparece quando a aprendizagem é reduzida a provas e notas; os alunos passam a estudar para se dar bem na prova e para isso têm de memorizar as respostas consideradas certas pelo professor ou professora. Desaparecem o debate, a polêmica, as diferentes leituras do mesmo texto, o exercício da dúvida e do pensamento divergente, a pluralidade. A sala de aula se torna um pobre espaço de repetição, sem possibilidade de criação e circulação de novas ideias. (GARCIA, 1999, p. 41) Mas o que é e para avaliar? No dicionário “Aurélio” encontramos as seguintes definições: determinar o valor de; compreender; apreciar, prezar; reputar-se; conhecer o seu valor. Avaliar é investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a melhoria dos resultados, caso seja necessária. (Luckesi, 2005) Na educação esperamos que a palavra avaliar venha ao encontro de refletir sobre um resultado. Eu avalio, tabulo os resultados, analiso no individual e no grupo, e depois penso em como corrigir algumas rotas realizadas e assim possibilitando aos alunos que não atingiram o objetivo, que por outros meios se apropriem desse conhecimento. Figura 10- Para que avaliar? Como corrigir resultados? Analisando sobre os motivos de cada resultado. O professor deve perguntar-se se aquele aluno conseguiu entender a forma como ensinou, se precisa de algum recurso especial para atingir o objetivo das aulas, se existem alguns motivos que o professor possa resolver. É comum em conselhos de classe os professores justificarem notas baixas com desinteresse, falta de estudo, falta de atenção. O que não é comum é serem questionados nesse momento os motivos desses comportamentos. Caberia aos professores analisarem com muita atenção algumas questões. Em sua sala de aula, quantos alunos atingiram a média mínima? Se forem poucos, ou seja, abaixo de 10% da classe, o professor pode pensar em formas que levem o aluno a entender melhor o conteúdo trabalhado, considerando suas dificuldades específicas. Se for um número grande de aluno, talvez seja o momento desse professor verificar a metodologia que tem usado em sala de aula, pois muitos alunos não apresentam aprendizagem. Figura 11- Acompanhamento das expectativas de aprendizagem Observando a imagem acima e entendendo que o que está pintado em verde refere-se a expectativa atingida, e vermelho como expectativa não atingida, Como você analisa a situação de Fátima e Hélio? É possível constatar que Fátima e Hélio não conseguiram atingir nenhuma expectativa de aprendizagem. Importante que o professor verifique as dificuldades individuais para proporcionar o aprendizado. A metacognição é proporcionar ao estudante uma reflexão de como ele aprende. Nem todos aprendem das mesmas formas. Alguns aprender pelo visual, outros pela escrita, outros pela audição, etc.. Em casos assim, como o de Hélio e Fátima, é muito importante que o professor entenda como esse aluno aprende e estimule que ele próprio perceba isso. Essa é uma forma de preparar atividades que ajudem os alunos a atingirem os objetivos. Quando analisamos a expectativa: “Entender o significado dos valores de cada número”, podemos afirmar que a professora deverá refletir sobre sua aula e buscar outras formas de atingir esse objetivo, pois a maioria não conseguiu apropriar-se dos conceitos da forma como foram oferecidos, o que nos leva a pensar que haverá outros encaminhamentos que podem proporcionar essa aprendizagem. Muito comum que professores realizem períodos de recuperação com alunos que estão abaixo das médias. É preciso entender que esse deve ser um momento de recuperar aprendizagem e não somente a nota. Antes de avançarmos em nossos conhecimentos ainda se faz necessário explorar os tipos de avaliação que conhecemos. Avaliação diagnóstica Essa forma de avaliação normalmente é usada no início do ano, onde os professores conseguem identificar os pré-conhecimentos dos alunos. A partir dessa análise o professor dever delinear os conteúdos e níveis de aprofundamento que realizará. A avaliação diagnóstica não se propõe e nem existe uma forma solta isolada. É condição de sua existência e articulação com uma concepção pedagógica progressista”. (Luckesi 2003, p.82) É preciso ter cuidado em não rotular um aluno a partir dessa avaliação. A ideia é perguntar, como posso corrigir possíveis distorções na aprendizagem? A avaliação diagnóstica também pode ser usada como processual, trazendo informações contínuas sobre o aprendizado dos alunos. Avaliação Processual ou Formativa Vista como um meio regulatório, a avaliação processual visa orientar o professor em suas atividades. Por meio desse tipo de avaliação é possível entender quais foram as expectativas que não foram correspondidas em tempo de corrigi-las. Elas devem ocorrer processualmente, ou seja, ao final de cada módulo de ensino, o processo deve avaliar se o conteúdo foi apropriado pelos alunos. Importante que avaliar não necessariamente deva ser uma prova. A avaliação processual pode ocorrer através da observação do professor nas atividades oferecidas aos alunos diariamente. A avaliação formativa consiste na prática da avaliação contínua realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por meio de um processo de regulação permanente. Professores e alunos estão empenhados em verificar o que se sabe, como se aprende o que não se sabe para indicar os passos a seguir, o que favorece o desenvolvimento pelo aluno da prática de aprender a aprender. A avaliação formativa é um procedimento de regulação permanente da aprendizagem realizado por aquele que aprende. (BONIOL E VIAL APUD WACHOWICZ E ROMANOWSKI, 2003,p. 126). Avaliação somativa A avaliação somativa é aquela aplicada ao final de um determinado ciclo ou período. Nas escolas normalmente ocorrem ao final de um bimestre, trimestre ou semestre. A avaliação somativa visa um balanço somatório dos resultados dos trabalhos realizados. Normalmente são resultados classificatórios que indicam o prosseguimento ou retenção dos estudos dos alunos. Apesar de ser importante é preciso ter cuidado para que a avaliação não seja muito longa, pois muitas vezes o aluno tem todo o conhecimento necessário, mas não encontra tempo para realizar todos os processos solicitados no tempo oferecido para a avaliação. Uma avaliação pontual, que geralmente ocorre no final do curso, de uma disciplina, ou de uma unidade de ensino, visando determinar o alcance dos objetivos previamente estabelecidos. Visa elaborar um balanço somatório de uma ou várias sequências de um trabalho de formação e pode ser realizada num processo cumulativo, quando esse balanço final leva em consideração vários balanços parciais. (GIL, 2006,p. 248). Cuidados com as avaliações Avaliar é uma responsabilidade complexa que exige do professor alguns cuidados. Podemos citar algumas situações que podem ser evitadas ao elaborar uma avaliação. O professor deve ter claro o objetivo da aprendizagem. Dessa forma, sua avaliação será em função desse objetivo. De que adiantar ensinar a pescar e cobrar na prova como cozinhar o peixe? As perguntas ou reflexões solicitadas devem ser claras aos alunos. Usar um vocabulário familiar aos alunos é importante. Para o entendimento da questão, ela deve ser conduzida com o vocabulário usado no desenvolvimento de aula. Perguntas devem ser elaboradas para que tenham apenas uma resposta. Não posso perguntas por exemplo: o que pensa sobre...? Qualquer resposta estará correta. A não ser que queira apenas avaliar a posição dos alunos frente a uma determinada situação. Se for fazer várias perguntas em uma única questão procure organizar de forma que o aluno seja capaz de identificar cada uma e organizar em sua resposta. Atualmente usamos perguntas contextualizadas para que o aluno consiga mostrar a transferência do que aprendeu para a realidade ou outras situações- problema. Nesse caso, cuide para que não seja uma pré-textualização, ou seja, apenas um texto usado sem ligação com o conteúdo ou questão solicitada. Contextualizar é transformar a questão em uma reflexão significativa para os alunos. Planejamento de ensino Conforme dicionário Aurélio a palavra ensinar é definida como: instruir, dar lições a; dar lições de; indicar; adestrar.; castigar; educar. Ensino pressupõe uma ação deliberada, planejada pelo professor, para que ao final garanta-se a aprendizagem. Planejar o ensino é fundamental para garantir a qualidade da aula, o bom aproveitamento do tempo, e para se atingir os objetivos. Planejamos para tudo. Vamos verificar no caso de uma viagem. Se quero conhecer a América do Sul e moro na Europa, vou planejar a compra das passagens, a reserva nos hotéis, as roupas que devo levar para suportar o clima local, o tipo de alimentação que me será proporcionada, etc.. No caso do planejamento de ensino, existem algumas recomendações importantes e vou citar algumas indicadas por Doug Lemov em seu Livro “Aula nota 10”, que vem ao encontro do que consideramos importante nesse momento. Para iniciar, Lemov cita a importância de se iniciar pelo fim, ou seja, como mencionamos, o professor precisa ter claro o que quer que seu aluno saiba ao final de cada aula. Nesse momento ele inclui a ideia de que prever como avaliará, ajudará no alinhamento entre objetivo, procedimentos e avaliação, não causando ao aluno distorções entre o que aprendeu e o que foi avaliado. Tendo objetivo e avaliação alinhadas é preciso pensar nos procedimentos que levarão a atingir esse objetivo. Para isso o professor deve se perguntar: o que farei, em cada momento para que meus alunos atinjam o objetivo de aprendizagem? Detalhando mais, o professor precisa saber o local, como disporá as cadeiras em cada atividade, que materiais usará e providenciará previamente, o que ele fará e o que os alunos farão enquanto ele faz sua parte e os tempos de cada atividade. Figura 13- Componentes de um plano de aula Tudo isso? Sim. Mas não necessariamente em todo planejamento. O que o professor precisa é entender a complexidade de uma aula e garantir que ela ocorra de forma produtiva. Quando falamos em organizar grupos para realizar uma discussão, deve prever o tempo que levará para organizar a sala como pensou, se os alunos serão indicados por ele, se se organizarão com os mais próximos. Tudo isso evita desperdício de tempo. Outra questão é pensar nos materiais que serão usados. Se vou dar um texto para cada grupo, tenho de ter as cópias necessárias já prontas em mãos no momento da aula. Tudo isso evitará que o seu objetivo seja suprimido por urgências, como sair correndo da sala para tirar xerox, ou pedir para um técnico ajustar o computador onde exporá sua apresentação. Propiciar uma oficina com os professores onde poderão realizar esse tipo de planejamento em grupos, ou duplas ajudará com que eles se apropriem dessa forma de organização. COMPONENTES DO PROCESSOS ENSINO-APRENDIZAGEM (PRÁXIS PEDAGÓGICAS) O ensino deve levar a aprendizagem e para isso, cada professor deve escolher uma forma de atingir seus objetivos de aprendizagem, através do ensino que proporcionará. A teoria é o que deve embasar a prática. Adquirimos um conhecimento para ser útil em nossas vidas. No caso dos professores, eles estudam muitas teorias de ensino e aprendizagem que deverá fundamentar a sua práxis pedagógica. A práxis pedagógica é o elemento que efetiva a aprendizagem. O educador precisa pensar em ações que propiciem a aprendizagem, e ainda ter consciência do que fundamenta cada ação. Quando entendemos que a prática será tanto mais coerente e consistente, será tanto mais qualitativa, será tanto mais desenvolvida quanto mais consistente for a teoria que a embasa, e que uma prática será transformada à medida que exista uma elaboração teórica que justifique a necessidade da sua transformação e que proponha as formas de transformação, estamos pensando a prática a partir da teoria. Mas é preciso também fazer o movimento inverso, ou seja, pensar a teoria a partir da prática, porque se a prática é o fundamento da teoria, seu critério de verdade e sua finalidade, isto significa que o desenvolvimento da teoria depende da prática (SAVIANI, 2005, p.107). Para além de colocar em prática uma teoria, o professor deverá aperfeiçoá-la, analisando seus resultados e procurando, através da pesquisa de sua própria prática, encontrar elementos que possam aprimorá-la. Mas se estamos diante de uma escola que se transformou em muitas de suas características, onde os alunos são totalmente diferentes dos antigos, é preciso que o professor saiba implantar métodos e adequá- los a realidade em que desenvolve sua aula. “a práxis é, na verdade, atividade teórico-prática; ou seja, tem um lado ideal, teórico, e um lado material, propriamente prático, com a particularidade de que só parcialmente, por um processo de abstração, podemos separar, isolar um do outro”. (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977, p. 241) Considerando essas possibilidades o professor deve mediar o conhecimento de forma a respeitar a comunidade em que trabalha e entender os alunos no grupo e individualmente. Para isso o professor mediador precisa muito do diálogo. Com o diálogo, o professor perceberá e conhecerá cada aluno, podendo assim realizar ações que o afetem e ajudem a se apropriar do conhecimento. Figura 14- Sala de aula É preciso que as atividades propostas em sala de aula tenham significado e sentido aos alunos. O aprendizado deve ser entendido como relevante e que podem contribuir na vida dos alunos de alguma forma.
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