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RESUMO A presente investigação tem como objetivo identificar os fatores determinantes, sob o ponto de vista do cliente e no contexto de serviço de ensino superior, que contribuem para o sucesso da manutenção do relacionamento entre os clientes e os estabelecimentos de ensino superior. O estudo foi realizado a alunos que se encontravam no último ano do 1º ciclo de estudos, da Universidade de Aveiro. As respostas às entrevistas foram analisadas usando a análise temática de conteúdo. ABSTRACT The aim of the present research is to identify the factors that lead to a satisfactory relationship between the customer and the organization in the context of Higher Education. In order to evaluate customer loyalty a ques- tionnaire was applied to the students in the last year of Undergraduate Studies at the Aveiro University in Portugal. The answers to the interviews were analyzed using the textual content analysis. SANDRA FILIPE PhD Student, Investigadora da Unidade de Investigação GOVCOPP, Universidade de Aveiro. Portugal MARIA BARBOSA PhD Student, Investigadora do CIGEST e Assistente no Instituto Superior de Gestão. Portugal PALAVRA-CHAVE: Marketing Relacional, Marketing de Serviços, Relacionamento B2B, Perceção do Cliente, Fidelização KEYWORD Relationship Marketing, Services Marketing, B2B Relationship, Customer Perception, Customer Loyalty O MARKETING RELACIONAL SOB A PERCEÇÃO DO CLIENTE NO CONTEXTO DO ENSINO SUPE- RIOR: ESTUDO EXPLORATÓRIO RELATIONSHIP MARKETING BASED ON CLIENT'S PERCEPTION IN THE CONTEXT OF HIGHER EDUCATION: AN EXPLORATORY STUDY AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 262 AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 263 Nos últimos anos, tem sido percetível o destaque que a literatura académica e os profissionais de marketing têm dado ao conceito de marketing relacional (Cristop- her, Payne, & Ballantine, 1994). Estes foram impulsio- nados pelo novo meio envolvente que se caracteriza pela elevada intensidade da concorrência, elevada preocupa- ção pela qualidade, excesso da capacidade produtiva e acentuado desenvolvimento tecnológico (Berry, 1995; Sheth & Parvatiyar, 1995). A primeira definição de marketing relacional é atribuída a Berry (1983) ao afirmar que “o marketing relacional consiste em atrair, manter e intensificar as relações com os clientes”. Para Berry (2002), as atividades tradicionais do marketing, que se baseiam em atrair clientes, são ape- nas uma parcela das atividades do marketing relacional das quais fazem também parte todas as atividades dire- cionadas para manter e consolidar o intercâmbio com a outra parte, ao longo do tempo. Esta perspetiva de longo prazo foi nitidamente reconhecida no marketing de ser- viços (Grönroos, 1980) e no marketing industrial (Jack- son, 1985). A abordagem de marketing relacional da década de 90, segundo Gummesson (1987) surge por oposição à abor- dagem de marketing transacional de anos anteriores e assenta: (1) na relação (orientação do marketing para a criação, manutenção e desenvolvimento de relações com os clientes); (2) na interatividade das partes (forte processo de comunicação entre vendedores e clientes para a criação e entrega mútua de valor); (3) e no longo prazo (exigência de um espaço temporal longo para a criação, manutenção e desenvolvimento da relação). Na comunidade académica, o marketing relacional apre- senta-se como um novo paradigma, centrando-se na construção de relações estáveis e duradouras com os seus clientes, em contraste com a abordagem tradicio- nal orientada para promover transações (Grönroos, 1994, 1997, 2006; Gummesson, 1987, 1997). Do ponto de vista empresarial, as organizações sentiram a necessidade de satisfazer, reter e fidelizar os seus clientes através de uma orientação para as relações a longo prazo. O grande indicador de posicionamento es- tratégico passa a ser a carteira de clientes, em detri- mento da quota de mercado, sendo crucial a capacidade detida pela organização para constituir um conjunto de relacionamentos assentes numa base de confiança. No que respeita o contexto do ensino superior, na atua- lidade este apresenta características completamente diferentes decorrentes da reformulação segundo a De- claração de Bolonha1. A adoção de um sistema de ensino assente em 3 ciclos de estudos, comparável e compatí- vel, confronta os estabelecimentos de Ensino Superior Portugueses2 com um novo problema: a não “obrigato- riedade” dos seus alunos serem utilizadores dos seus serviços por um período mínimo de 5 anos. Face à crescente importância do marketing relacional a nível internacional, mas cuja investigação ainda está muito centrada nas relações Business-to-Business, e face aos novos desafios com que são confrontados os estabelecimentos do Ensino Superior, urge fazer um es- tudo empírico exploratório de análise de conteúdo no contexto Business-to-Consumer, especificamente no serviço de Ensino Superior. 1. INTRODUÇÃO 1 A Declaração de Bolonha, datada de Junho de 1999, teve como objetivo tornar inteligíveis e comparáveis as formações ministradas no ensino superior nos diversos países que a subscreve- ram. Inicialmente subscrita por 29 estados europeus em Junho de 1999, e atualmente subscrita por 45 estados, visava a constituição, até 2010 do Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES) caracterizado globalmente pelo seguinte: (1) Um sistema de graus académicos comparável e compatível, isto é, automaticamente reconhecidos em todos os estados aderentes, faci- litando, desta forma, o reconhecimento das qualificações e a mobilidade das pessoas.; (2) Dois ciclos de estudo de pré-doutoramento, um primeiro ciclo, que em Portugal conduz ao grau de licenciado, com uma duração compreendida entre seis e oito semestres, e um segundo ciclo, que em Portugal conduz ao grau de mestre, com uma duração compreendida entre três e quatro semestres; (3) Sistema de créditos; (4) Suplemento ao diploma. Pretende promover a dimensão europeia do ensino superior, a mobilidade e a cooperação, em particular nos domínios da ava- liação e da qualidade, e tornar assim o Espaço Europeu de Ensino Superior mais competitivo e coeso (DEGES). http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estudantes/Processo+de+Bolonha/Pro- cesso+de+Bolonha/ consultado em 11 de Outubro de 2011 2 Entre 2006 e 2008, a maioria dos cursos portugueses abriram pela primeira vez reformulados de acordo com a declaração de Bolonha. AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 264 A investigação tem como objetivo identificar os fatores determinantes, sob a ótica do cliente e no contexto de serviço de Ensino Superior, que contribuem para o su- cesso da manutenção do relacionamento entre os clientes e os estabelecimentos de ensino superior. Con- cretamente, pretende compreender o processo de re- lacionamento percecionado pelo cliente face à organização fornecedora do serviço destacando todos os fatores importantes que são conducentes à sua fi- delização à mesma. A definição de marketing, proposta e aceite pela Ameri- can Marketing Association (AMA), em 1985, assumiu que o marketing seria “o processo de planeamento e exe- cução da conceção, fixação de preços, comunicação e distribuição de ideias, bens e serviços para criar inter- câmbios que satisfaçam os objetivos individuais e orga- nizacionais” (AMA, 1985). Já em 2007, a American Marketing Association redefiniu o marketing como “con- junto de atividades e estabelecimento de processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que têm valor para os consumidores, clientes, sócios e sociedade em geral” (AMA, 2007). Confrontando a definição de mar- keting proposta pela AMA em 1985 com a redefinição de 2007, nota-se uma clara renovação do conteúdo do con- ceito de marketing, quer nas variáveis chave do marke- ting, quer na amplitude da sua finalidade. A definição de marketing da AMA (1985) baseava a sua filosofia na gestão dos intercâmbios satisfazendo as ne- cessidades e desejos do consumidor como viapara o al- cance dos objetivos organizacionais. Reforça as variáveis-chave do marketing-mix ou modelo dos 4 Pvs, numa vertente mais operacional (Boss, 2011). Além disso, reflete uma abordagem transacional do marke- ting, orientada ainda muito para o produto e para a tran- sação e menos para o cliente e para a relação. Esta conceptualização prevaleceu durante anos como um conceito imutável do marketing (Constantinides, 2006; Harker, 1999; Harker & Egan, 2006). No entanto, ao longo do tempo alguns estudos começaram a criticar a abordagem transacional e a referir que esta só se pode aplicar a determinados tipos de empresas e mercados (Grönroos, 1994; Gummesson, 1987). Do mesmo modo, outros estudos colocavam em evidência a debilidade e insuficiência da abordagem do marketing-mix para con- cretizar uma verdadeira orientação de mercado (Cons- tantinides, 2006; Cristopher, Payne & Ballantine, 1994). Na nova definição da AMA (2007) há uma expansão da visão tradicional, sendo realçado o valor que é transmi- tido para todos os diversos públicos e não se limitando apenas aos clientes (Andreasen, Lee, & Rothschild, INTERNATIONAL BUSINESS AND ECONOMICS REVIEW 264 . 265 2. OBJECTIVOS DA INVESTI- GAÇÃO 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. A EMERGÊNCIA DO MARKETING RELACIONAL A revisão da literatura de marketing relacional implica, em primeiro lugar, que se faça uma breve resenha dos domínios do marketing que conduziram à emergência do marketing relacional, nomeadamente, no âmbito do re- lacionamento Business-to-Consumer. AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 265 2008). Por outro lado, reflete uma mudança na aborda- gem de marketing que sustenta de algum modo a defi- nição de marketing relacional (Harker & Egan, 2006). Ainda que a designação de marketing relacional tenha sido primeiramente apresentada por Berry, em 1983, existe um certo consenso em considerar que os antece- dentes conceptuais originais desta nova abordagem en- contram-se nos contributos que surgem a partir de duas grandes linhas de investigação que se desenvolveram na Escandinávia e no Norte da Europa. Essas linhas de in- vestigação foram desenvolvidas pela Escola Nórdica de Serviços, assim como pelo IMP (Industrial Marketing and Purchasing Group).3 O marketing relacional desenvolveu-se a partir de um conjunto de reflexões obtidas de diferentes extensões do marketing e como resultado da convergência de vá- rias linhas de investigação, nas quais se destacam as contribuições realizadas tanto no âmbito dos serviços como na perspetiva do marketing industrial. Das dife- rentes críticas e reflexões desenvolvidas verificou-se que a análise dos mercados industriais e de serviços exi- gia uma perspetiva diferente da análise dos mercados de consumo. Perante a evolução do ambiente, a liberali- zação do mercados e a intensificação da concorrência, o conceito e abordagem do marketing foi-se expandindo, levando a que surgisse e se desenvolvesse uma nova linha de investigação: o marketing relacional. Começa pois a reconhecer-se uma nova realidade orien- tada para a criação de valor, que se traduz no desenvol- vimento de um marketing personalizado que satisfaça as necessidades dos consumidores. Investigadores como Gummesson (1987, 1998) e Grönroos (1994, 1997) referem a necessidade de alteração de para- digma, passando da abordagem transacional para outra, baseada nas relações a longo prazo com os clientes. A emergência do marketing relacional é assim interpre- tada como uma mudança de paradigma necessária para todas as situações de marketing, e não apenas restrita ao marketing de serviços e ao marketing industrial. 3.2. A FIDELIZAÇÃO COMO ELEMENTO- CHAVE DO MARKETING RELACIONAL O marketing relacional segundo Morgan & Hunt (1994, p. 22) é visto como “Todas as atividades de marketing di- recionadas para a criação, desenvolvimento e manuten- ção de trocas relacionais de sucesso”. Os princípios fundamentais em que assenta o marketing relacional são a criação de valor mútuo, confiança e compromisso, ad- mitindo que quanto maior for o nível de satisfação do cliente com o relacionamento, não apenas com o produto ou serviço, maior será a probabilidade do cliente se tornar fiel à empresa prestadora desse produto ou serviço. A fidelização passa a ser considerada como o elemento- chave do marketing relacional. Diversos estudos consi- deram a fidelização dos clientes como fator essencial para medir a eficácia do marketing relacional, como por exemplo, Lawson-Body (2000), Meyer-Waarden & Be- navent (2006, 2008, 2009), Wang (2006) e O'Loughlin & Szmigin (2006a, 2006b). Estes autores baseiam-se na dupla convicção de que tem custos muito mais acres- cidos angariar um novo cliente do que manter um cliente atual e, por outro lado, com o passar do tempo, aumenta a repetição de compra. A fidelização de clientes leva também a um incremento das referências positivas (passa a palavra) a outros potenciais clientes (Grönroos, 2004; Palmatier, Dant, Grewal & Evans, 2006). Com base nos estudos de marketing relacional, é ampla- mente aceite na literatura que a confiança e o compro- misso são as principais variáveis que influenciam a fidelização dos clientes no contexto do desenvolvimento da fidelização (Morgan & Hunt, 1994). Confiança e com- promisso parecem ser inseparáveis, afirmando que, se ambos não estão presentes num relacionamento é pro- 3 O IMP (Industrial Marketing and Purchasing Group) é um grupo que foi constituído em 1970 com o objetivo de desenvolver os conhecimentos de marketing de bens industriais. Posterior- mente, este mesmo grupo estendeu a sua investigação à interação e relacionamentos em redes empresariais. AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 266 vável que seja um fraco e instável relacionamento, sendo a confiança considerada como antecedente do compromisso (Garbarino & Johnson, 1999; Morgan & Hunt, 1994). A confiança deriva de um mecanismo no qual as carac- terísticas, motivações e intenções são atribuídas aos parceiros da troca, com a avaliação do seu potencial a ser facilitada pela suposição de que o seu comporta- mento é previsível e corresponde ao que foi prometido (Doney & Cannon, 1997; Rempel, Ross & Holmes, 2001). O compromisso é o desejo permanente das partes pros- seguirem uma relação em que o cliente faz de bom grado o esforço em mantê-la (Morgan & Hunt, 1994). Por outro lado, a revisão da literatura sugere que a fideli- zação deriva de uma reputação e imagem organizacional construída a longo prazo e decorre da responsabilidade social assumida por parte da organização e do impacto na qualidade percebida dos produtos oferecidos, satisfação e fidelização dos clientes da criação de confiança na em- presa (Pivato, Misani, Tencati, 2008; Swaen & Chumpitaz, 2008), da identificação e compromisso com a empresa (Bhattacharya, Korschun & Sen, 2009). A satisfação pode ser definida como a avaliação subje- tiva realizada após o consumo de que a alternativa es- colhida correspondeu ou excedeu as expectativas (Kotler, 2000; Meuter, Ostrom, Roundtree, & Bitner, 2000; Mohr & Bitner, 1995). 3.3. PERCEÇÃO DO RELACIONAMENTO SOB O CLIENTE NO CONTEXTO DE SERVIÇOS De acordo com Holmlund (1997) e um relacionamento é contituído por uma série de interações inter-relaciona- das entre duas ou mais partes. Fournier (1998, 2002) admite ainda que o comportamento de cada participante no relacionamento é de certa forma coordenado e in- fluenciado pelo comportamento do outro. Sendo assim, o encontro de serviço (base a partir da qual os relacionamentos se constituem e se desenvol- vem) pode ser encarado como uma ocasião na qual os atores estabelecem uma “realidade negociada” através da comunicação de símbolos que são desenvolvidos na própria interação, mas que também a moldam (Neto & de Mello, 2009). Com o objetivo de caracterização das diferenças das re- lações diádicas estabelecidas entre empresa-empresa, empresa-clientee indivíduo-indivíduo, Iacobucci & Os- trom (1996) adaptam pela primeira vez os estudos de Wish (1976) e de Wish, Deutsch & Kaplan (1976)4 para o contexto de consumo e analisam o impacto de cada forma de relação diádica na natureza dos relacionamen- tos vividos nos seus contextos específicos. Como resultado desta investigação, a natureza da rela- ção diádica empresa-cliente foi considerada interme- diária em relação à natureza dos relacionamentos empresa-empresa e indivíduo-indivíduo, pois apresentou características pertencentes a ambos. Paralelamente, no relacionamento empresa-cliente verificou-se uma grande semelhança com a relação indivíduo-indivíduo (Iacobucci & Ostrom, 1996). No contexto de serviços, esta característica de similari- dade com a relação individuo-individuo ainda tem um destaque maior, dado que o cliente participa, dentro de certos limites, no próprio processo de produção de ser- viços (Grönroos, 2000). No relacionamento entre o cliente e a empresa prestadora de serviço, o fator inter- pessoal pode ser de algum modo inerente à relação (Berry, 1995; Czepiel, 1990). A literatura afirma ainda que existem serviços eminen- temente relacionais, dada a sua complexidade ou perio- dicidade (Berry, 2002; Lovelock & Gummesson, 2004; Lovelock, 1983), e ainda na circunstância em que a pres- tação do serviço é muito importante para o consumidor ou envolve muitas incertezas quanto ao resultado final INTERNATIONAL BUSINESS AND ECONOMICS REVIEW 266 . 267 4 A abordagem psicológica desenvolvida por Wish (1976) e Wish, Deutsch & Kaplan (1976) facultou uma das primeiras avaliações empíricas sobre as propriedades de alguns relacionamen- tos estabelecidos no cotidiano: por exemplo, pai-filho e marido-esposa. Estes autores identificaram quatro dimensões caracterizadoras das relações interpessoais: (1) simetria-assimetria de poder; (2) valência; (3) intensidade; (4) orientação. AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 267 do desempenho (Berry, 1995; Bitner, 1995). Podemos apontar como exemplos, o serviço de ensino, ginásio e o serviço bancário. Neste estudo foi utilizada a metodologia qualitativa, con- cretamente a análise de conteúdo. As razões que leva- ram à opção por esta metodologia, prendem-se com o fato de a investigação realizada constituir um estudo ex- ploratório que pretende obter uma perceção e com- preensão da realidade em estudo de um modo metódico, rigoroso e em profundidade. Para uma primeira aborda- gem da investigação, esta perceção e compreensão pro- funda, não seria possível utilizando uma metodologia quantitativa. De acordo com Holloway (2005), a base da investigação qualitativa reside na abordagem interpretativa da reali- dade social. No mesmo sentido, Mayring (2002) identi- fica 5 princípios base do pensamento qualitativo: a exigência de uma maior relação com o sujeito da pes- quisa; a descrição exata e completa do contexto de es- tudo; a ênfase na interpretação dos sujeitos da pesquisa; a procura de tratamento dos sujeitos no seu ambiente natural; a consideração da generalidade dos resultados como um processo de generalização. A análise de conteúdo segundo a conhecida definição de Berelson (1952), é “uma técnica de investigação para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do con- teúdo manifesto da comunicação”. Trata-se de um mé- todo de análise textual que se utiliza no discurso direto com o objetivo de compreender, não só o que se diz, mas o sentido do que se diz. O ponto de partida é a mensa- gem, mas tendo em consideração as condições contex- tuais dos seus produtores e assenta na concepção crítica e dinâmica da linguagem (Puglisi & Franco, 2005). É uma metodologia de análise utilizada para ex- trair sentido de dados textuais recolhidos de material 4. HIPÓTESES DE INVESTI- GAÇÃO Com base na revisão da literatura e de modo a sistema- tizar as pretensões do estudo, podemos afirmar que tem por base as seguintes hipóteses de investigação: H1: A elevada satisfação é um fator determinante da fi- delização do cliente à organização. H2: A elevada confiança é um fator determinante da fi- delização do cliente à organização. H3: O eminente compromisso é um fator determinante da fidelização do cliente à organização. Estas hipóteses de investigação poderão ser rejeitadas ou não rejeitadas por via da análise dos resultados. Os resultados devem permitir identificar os fatores deter- minantes e perceber o tipo de expectativas, valores e ati- tudes que poderão ter influência no relacionamento percecionados pelo estudante universitário e serão con- ducentes à sua fidelização ao estabelecimento de ensino superior. 5. ESTUDO EMPÍRICO AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 268 não estruturado de modo sistemático, através de um sis- tema de categorias teoricamente orientadas (Ketele & Roegiers, 1999). Como já foi referido anteriormente, nesta investigação é fundamental uma perceção e compreensão da reali- dade em estudo, e nesse sentido foi realizado este es- tudo exploratório por via de entrevista a uma amostra pertinente alvo da correspondente análise de conteúdo por recurso ao software MAXqda®. Este método de en- trevista foi selecionado por ser o mais adequado face aos objetivos do estudo, e segundo Machado (1991) quando é corretamente utilizado permite ao investigador retirar elementos de reflexão muito ricos. O corpus do estudo é constituído pelas 28 entrevistas abertas e em profundidade, realizadas em Março de 2011 a alunos da Licenciatura em Marketing da Univer- sidade de Aveiro, transcritas para Word e posterior- mente importadas para o MAXqda®. De acordo com a revisão da literatura (Berry, 1995, 2002; Bitner, 1995; Lovelock & Gummesson, 2004; Lo- velock, 1983), dada a sua complexidade e periodicidade do serviço em análise, classificamos o ensino superior como um serviço eminentemente relacional. De forma a permitir avaliar a perceção, por parte do es- tudante, do relacionamento construído com a organiza- ção no mais longo prazo possível e as suas expetativas de fidelização acerca do futuro o mais próximo possível da realidade, selecionamos dentro do horizonte tempo- ral previsível do relacionamento entre as partes, o úl- timo semestre de estudo. Deste modo, o estudo foi realizado a alunos que já tinham frequentado 5 semes- tres do curso de licenciatura e que estavam no início do último semestre para concluir este 1º ciclo de estudos. Fazendo uma breve caracterização sociodemográfica dos alunos participantes da amostra: os participantes eram oriundos de diversos pontos do país; com idades compreendidas entre os 20 e os 47 anos e uma média de idade de 29 anos; sendo a maioria dos participantes do sexo feminino (61%); e a maioria não tendo qualquer ocupação profissional para além de ser estudante do en- sino superior (68%). A avaliação da amostra permite- nos concluir que é suficientemente madura para o es- tudo em questão, além disso o facto de 31% dos participantes ser trabalhador-estudante permite uma maior heterogeneidade da amostra. INTERNATIONAL BUSINESS AND ECONOMICS REVIEW 268 . 269 6. RESULTADOS A análise qualitativa dos dados obtidos com o estudo empírico revela resultados bastantes interessantes. O primordial fator determinante da fidelização dos es- tudantes ao estabelecimento de ensino identificado foi a elevada satisfação. Segundo os participantes da inves- tigação, contribuem para a sua elevada satisfação por ordem de importância: a qualidade do serviço prestado; o sistema de ensino; os recursos humanos; as infraes- truturas físicas; a inovação. Concluímos também que os participantes que apresentaram índices elevados de sa- tisfação, manifestam intenções de serem fiéis à organi- zação e prosseguirem os seus estudos na mesma. Face ao exposto, a nossa primeira hipótese é suportada: a elevada satisfação é um fator determinante da fideli- zação do cliente à organização. A análise de resultados destacacomo segundo fator de- terminante da fidelização, a elevada confiança deposi- tada na organização. As fontes da criação dessa confiança apontadas pelos participantes são essencial- mente a reputação da organização (alicerçada na noto- riedade e imagem modelo), a segurança, e por fim, a intimidade e o otimismo. Deste modo, a nossa segunda hipótese é suportada: a elevada confiança é um fator determinante da fideliza- ção do cliente à organização. Por fim, os resultados indicam quer a responsabilidade social assumida pela organização quer o eminente com- AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 269 bretudo desenvolver esforços para prestar um serviço de qualidade e deter uma grande preocupação com o sis- tema de ensino. No caso da confiança, devem privilegiar a construção de uma boa reputação da organização e a criação de segurança. Este estudo pretende contribuir e incentivar a inves- tigação científica do marketing relacional e, cumula- tivamente, facultar aos gestores das organizações prestadoras de serviços iminentemente relacionais, informações sobre as perceções dos clientes nos re- lacionamentos nesse contexto, que lhes possam ser úteis para maximizar o sucesso das suas estratégias de marketing relacional. A utilização devida do Marketing Relacional no contexto dos serviços do Ensino Superior pode ter um efeito ex- tremamente positivo quer na continuidade de estudos por parte dos clientes atuais, quer na angariação de po- tenciais clientes pelo efeito passa a palavra. Este estudo exploratório permite avaliar a perceção do cliente neste contexto e proporcionar às universidades ideias de es- tratégias possíveis que possam conduzir a fidelização dos seus clientes. promisso (empenhamento e implicação) como fatores igualmente determinantes da fidelização. No entanto, ambos com um peso relativo muito inferior à elevada sa- tisfação e à elevada confiança. Sendo assim, considera- mos que a nossa terceira hipótese é parcialmente suportada, dado que o eminente compromisso é um fator determinante da fidelização, mas em igual circunstância com um quarto fator não previsto na investigação. 7. CONCLUSÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Hoje em dia, após a implementação da declaração de Bo- lonha em Portugal, é prática comum os estudantes con- cluírem o 1º ciclo de estudos do ensino superior e prosseguirem os seus estudos frequentando um 2º ciclo de estudos. Para além disso, os licenciados pré-Bolonha que já se encontram no mercado de trabalho sentem-se aliciados por retomar os estudos para se valorizarem pessoalmente e obterem o mesmo grau académico dos atuais estudantes. Esta conjuntura educacional lança um novo desafio às uni- versidades que consiste em definirem estratégias de mar- keting para manterem os seus clientes e atraírem os seus ex-clientes. Daí a relevância do marketing relacional. Os resultados da investigação destacam como principais fatores determinantes da fidelização a elevada satisfa- ção e confiança. Para que os estabelecimentos de ensino superior obtenham uma elevada satisfação, devem so- 8. LIMITAÇÕES E INVESTIGA- ÇÃO FUTURA A investigação apresenta algumas limitações relaciona- das com a escolha da amostra. Uma das limitações está relacionada com a participação exclusiva no estudo de estudantes do ensino superior e de uma única universi- dade. Para além disso, poderão ter ocorrido problemas AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 270 metodológicos derivados do facto de os alunos da amos- tra serem estudantes do curso de marketing que pode- rão ter aumentado a magnitude dos efeitos esperados. As conclusões deste trabalho de investigação poderão ser aprofundadas incidindo numa amostra mais repre- sentativa constituída por estudantes e ex-estudantes de uma diversidade de cursos e universidades. INTERNATIONAL BUSINESS AND ECONOMICS REVIEW 270 . 271 AF_02_Project_2012_INP 12/03/30 11:58 Page 271 BIBLIOGRAFIA American Marketing Association. (1985). AMA Board aprroves new marketing definition American Marketing Association News, 19 (5). American Marketing Association. 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