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Introdução ao Estudo do Direito 2

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Anotações de Aula – II 
 
Introdução ao Estudo do Direito 
 
2º bimestre 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rodolfo Arruda 
Curso de Direito 
Faculdade de Americana - FAM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Americana - 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observação acerca da segunda parte: 
 
As anotações aqui apresentadas, referentes aos materiais trabalhados em sala de aula no 
segundo bimestre, finalizam o conteúdo programático previsto para a disciplina de 
I.E.D. Ela complementa, portanto, as primeiras anotações, porém não recebeu o mesmo 
desenvolvimento da anterior. Esta segunda parte das anotações se encontra mais 
simplificada e esquemática, devendo ser utilizada como um roteiro para os estudos, a 
ser complementado com os livros de doutrina já indicados. 
Sugestões, complementações, críticas e correções são muito bem vindas e podem ser 
enviadas para o e-mail: 
 
rodolfoarruda1@yahoo.com.br 
 
Validade das Normas Jurídicas – Validade Formal, ou Vigência 
 
Vigência – designa a existência específica da norma em determinada época; sua 
capacidade de produzir efeitos e obrigar condutas – (obrigatoriedade) 
 
Processo Legislativo – compreende várias etapas (estudadas em matérias específicas) 
Citamos de modo exemplificativo, algumas de suas fases: - Iniciativa / discussão / 
deliberação / Sanção ou Veto / - 
 
Promulgação – é o ato pelo qual o Poder Executivo autentica a Lei, atestando sua 
existência; 
 
Publicação – é o ato de tornar pública a nova Lei (em qualquer meio de publicação 
reconhecido). 
 
Vacatio Legis – O período entre a data da Publicação e a data de entrada em vigor da 
Lei é chamado de vacatio legis. 
 
Contagem do Prazo da vacatio legis: 
 
Inclusão do dia da publicação 
+ 
Último dia do prazo 
= 
Vigência no dia subseqüente. 
 
Critérios da vacatio legis: 
• Único: entra em vigor simultaneamente – válido de modo uniforme; 
o No território nacional: 45 dias após a publicação; 
o É válida 3 meses após a sua publicação (no País de origem) nos países 
estrangeiros. 
• Progressivo: entra em vigor em diferentes momentos, nas diferentes regiões do 
País. – (critério abandonado pela LICC atual) 
 
Modificação da Lei no período da vacatio legis: 
Em casos de modificação, edição, alteração e correção do texto normativo (3§ do art.1º 
LICC): 
• Renovação do prazo da vacatio legis; 
• Será considerada Lei nova. 
 
 
Duração da Vigência da Lei: 
Princípio da Continuidade: a norma de direito possui vigência para o futuro, sem prazo 
determinado de cessação de seu vigor. 
 
Normas de Vigência temporária: são normas que o legislador já fixou, no texto legal, o 
tempo de sua duração. Ex: Leis de Orçamento Fiscal – Válidas por um ano. 
 
Revogação – é o ato de tornar sem efeito uma norma, de retirar a sua obrigatoriedade. 
Revogação 
• Ab-rogação – supressão total da norma anterior 
• Derrogação – tornar sem efeito uma parte da norma 
 
Formas de Revogação 
• Expressa – quando o legislador declara, no texto normativo, a norma jurídica 
que foi revogada; 
• Tácita – ocorre quando existir incompatibilidade entre a Lei nova e a Lei antiga, 
no caso de a Lei nova regular inteiramente a matéria tratada pela anterior. 
 
O Legislador pátrio, por meio de dispositivos normativos, tem evitado a situação da 
revogação tácita: art. 9º da Lei Complementar 107/2001. 
 
Efeito Repristinatório: 
 
É a possibilidade de uma Lei antiga voltar a produzir efeitos, na situação de revogação 
de sua Lei Revogadora. 
A legislação brasileira, em regra, não admite o efeito repristinatório. 
O efeito repristinatório está previsto no § 3º do art. 2º da LICC: 
“Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora 
perdido a vigência.” 
 
Critérios para solucionar conflitos de Leis no Tempo: 
 
Em situações em que a Lei nova modifica ou regula, de forma diferente, a matéria 
versada pela Lei anterior, podem surgir conflitos entre as disposições de ambos 
dispositivos. 
 
À princípio, a Lei nova se destina a ter vigência e a regular situações para o futuro, mas 
há situações em que ela pode retroceder. 
 
Para solucionar este problema, a doutrina estabelece dois critérios: 
 
• O critério das Disposições Transitórias – chamadas de Direito Intertemporal, 
que são descritas no próprio texto normativo, em que o legislador já estabelece 
medidas para evitar situações de conflito. 
• O critério dos Princípios da Retroatividade e o da Irretroatividade. 
o Retroativa é a norma que atinge os efeitos de atos jurídicos praticados 
sob o império da Lei Revogada; 
o Irretroativa é aquela que não se aplica a nenhuma situação jurídica já 
constituída anteriormente. 
 
A Irretroatividade pode ser visualizada no inciso XXXVI do art. 5º (“a lei não 
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”) da 
Constituição Federal – que resguardou contra a retroatividade as hipóteses: 
 
• Ato jurídico perfeito: é o ato que já se consumou de acordo com a norma 
anterior (art. 6º da LICC “§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado 
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.”); 
• Direito adquirido: é aquele que já se incorporou definitivamente ao patrimônio, 
ou à personalidade de seu titular (§ 2º do art. 6º da LICC “Consideram-se 
adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, 
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.”); 
• Coisa julgada: é a decisão jurídica de que já não cabe mais recurso (§ 3º do art. 
6º da LICC: “Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que 
já não caiba recurso.”). 
 
Retroatividade e Irretroatividade não podem ser vistos como princípios absolutos, uma 
vez que a Lei considera importante situações em que a Lei retroage: 
 
Ex: a Lei que permite o reconhecimento dos filhos alcança os que nasceram ao tempo 
da Lei anterior que proibia esse reconhecimento. Efeito retroativo. 
Ex 02: se uma Lei futura proibir o reconhecimento, o reconhecimento adquirido sob a 
vigência da Lei anterior não será anulado – Principio da Irretroatividade. 
 
Critérios de vigência da norma quanto ao Espaço: 
 
Sob esta questão, o Brasil adotou o critério da Territorialidade Moderada. 
 
Critério da Territorialidade –é o princípio que afirma que a norma deve ser aplicada 
no espaço delimitado pelas fronteiras do Estado (apenas no território que a promulgou). 
Inclui-se, na noção de território: embaixadas, consulados, navios de guerra, navios 
mercantes, entre outros. 
Deve ser mitigado ante a consideração de que as relações humanas se alargam para além 
das fronteiras dos Estados. (art. 8º e 9º da LICC) 
 
Critério da Extraterritorialidade: consiste na hipótese de aplicação da Lei de outro 
Estado em dado País. Também é referido como a situação em que a norma de um 
Estado acompanha o cidadão no estrangeiro (permite que se apliquem normas 
estrangeiras). 
 
Ex: art. 17 da LICC: proíbe o princípio da extraterritorialidade – Atos, sentenças e leis 
de países estrangeiros não serão aceitos quando ofenderem a soberania nacional. 
 
Do art. 7º ao art. 19º da LICC – destina-se a regular conflitos da Lei no Espaço: são 
situações reguladas pela disciplina do Direito Internacional Privado. 
 
Aplicação do Direito 
 
Uma vez que as normas jurídicas possuem vigência (ou seja, possuem existência no 
mundo jurídico) é admissível que as mesmas sejam aplicadas ou estejam em situação de 
aplicação. 
 
Em regra, a teoria jurídica admite o processo de aplicação da Lei como um ato de 
subsunção: a equação (fusão) de um caso individual (do mundo social) ao preceito 
normativo (principio teórico abstrato – conceito normativo). 
 
Para a devida determinação da Norma que deve prevalecer ao caso individual, é 
necessário que o aplicador do direito identifiquea existência do direito aplicável, a sua 
correta extensão e a sua adequação ao fato específico – esta operação – na Teoria Geral 
do Direito – denomina-se Interpretação. 
 
A interpretação, no âmbito jurídico, não pode ser feita de qualquer maneira. Sob este 
aspecto, a doutrina estabelece métodos e modelos de interpretação, para que o jurista 
possa proceder de forma correta e rigorosa (não arbitrária). 
 
Técnicas Interpretativas 
 
Técnica Gramatical – busca do sentido literal do texto normativo. Consiste no ato de 
verificar o sentido dos vocábulos do texto. Dentre eles podemos encontrar os 
significados: técnico e comum, devendo o operador optar pelo último. 
 
Processo Lógico – busca desvendar o sentido e o alcance da norma, de modo a evitar 
situações de conflito ou contradição na aplicação da lei. 
 
Processo Sistemático – é aquele que considera o sistema em que se insere a norma no 
momento de sua interpretação, de modo a relacioná-la com outras esferas normativas. É 
uma interpretação que visa encontrar sentidos que são próprios da norma, mas que não 
estão definidos explicitamente no texto normativo. 
 
“Deve-se, portanto, comparar o texto normativo, em exame, com outros do mesmo 
diploma legal ou de leis diversas, mas referentes ao mesmo objeto, pois por uma das 
normas pode-se desvendar o sentido de outras. Examinando as normas, conjuntamente, 
é possível verificar o sentido de cada uma delas.” Pág. 426 DINIZ 
 
Técnica Interpretativa Histórica – baseia-se na investigação dos antecedentes da 
norma, que deram ensejo a sua elaboração. Busca-se descobrir a razão da lei (ratio 
legis) (que efeito a lei pretendia produzir em vista daquela situação), de modo a adaptar 
a lei às novas situações. 
 
Técnica Sociológica ou Teleológica (finalista) – consiste na interpretação que visa 
adaptar a finalidade da norma às exigências sociais. A interpretação correta da norma 
deve compreender a sua aplicação ao mundo social, com vistas a adequação de seus 
efeitos (execução de suas finalidades). 
 
 
 
 
Efeitos do Ato Interpretativo 
 
As Técnicas de Interpretação podem produzir diferentes resultados no momento da 
Aplicação do Direito, os quais a doutrina identifica como os Efeitos do Ato 
Interpretativo. 
 
Interpretação Extensiva 
 
“A interpretação extensiva desenvolve-se em torno do preceito normativo, para nele 
compreender casos que não estão expressos em sua letra, mas que nela se encontram, 
virtualmente, incluídos, conferindo, assim, à norma o mais amplo raio de ação possível, 
todavia sempre dentro de seu sentido literal.” 
 
Interpretação Restritiva 
 
É a interpretação que limita a incidência da norma com vistas a impedir que a norma 
produza efeitos danosos na ordem jurídica 
 
Interpretação Declarativa – busca adequar a expressão lingüística da lei com o seu 
correto conteúdo normativo. É um tipo de interpretação voltado para esclarecer o 
alcance da norma e não para a sua aplicação. 
 
Ex: “o proprietário tem direito a pedir o prédio para seu uso” 
 
Extensiva – deve ser incluído o usufrutuário: tem o direito de reivindicar o prédio para 
seu uso; 
 
Restritiva – o nu-proprietário não pode pedir o prédio para seu uso – possui apenas a 
propriedade e não o direito de uso e gozo do bem. 
 
Aplicação do Direito - II 
 
Quando surge o problema das lacunas: no período do século XIX, com a 
consolidação política dos Estados (soberania nacional, divisão de poderes) e das Teorias 
Jurídicas Modernas (preponderância da lei como fonte do Direito, controle da legalidade 
das decisões judiciárias, concepção do Direito como sistema). 
 
Processos: 
 
Subsunção: é a aplicação da norma geral ao caso individual. Apresenta duas 
dificuldades: 
• Falta informações sobre o caso – presunções legais/ônus da prova 
• Indeterminação semântica – inclusão das definições explícitas contidas na 
norma. 
 
1. Operações Técnicas 
o Construção de conceitos jurídicos e ordenação sistemática 
o Determinação da existência da norma no tempo e espaço 
o Interpretação pelo órgão e pelo jurista 
o Integração pelo órgão 
o Investigação corretiva pelo operador jurídico 
o Determinação da norma aplicável 
o Estabelecimento da relação de uma norma ao caso concreto 
 
 
Integração: trata-se de um desenvolvimento aberto do direito (dirigido metodicamente) 
quando não se encontra a norma aplicável ao caso – segue os arts 4º e 5º da LICC. 
 
Correção: se existir incoerência no sistema jurídico (casos de antinomia) deve lançar 
mão de uma interpretação corretiva. 
 
 
 
Interpretação 
 
Considera-se um ato necessário em toda e qualquer aplicação do Direito – caráter 
necessário da Interpretação. 
 
• Conceito amplo: é descobrir o sentido e o alcance da norma. 
• Jurídico-científica: identifica os conceitos e significados da norma jurídica e 
define as situações possível aplicação 
• Autêntica: é aquela realizada pelo Órgão Judicial, por ser aquela que se efetua, 
que decide efetivamente qual das alternativas deverá ser tomada. 
 
Funções: 
• Conferir aplicabilidade das normas em relação aos fatos sociais 
• Estender o sentido da norma a situações novas 
• Balancear o alcance do preceito normativo – fazê-lo se adequar as 
especificidades da realidade social. 
 
Critérios de Interpretação: 
 
Uma das primeiras discussões jurídicas a respeito dos problemas referentes à correta 
interpretação se polariza entre duas correntes: a teoria subjetiva e a teoria objetiva. 
 
Teoria Subjetiva: (F. C. Von Savigny) a meta da interpretação é estudar a vontade 
histórico-política do Legislador no momento (anterior a existência da norma) em que 
propôs a norma – ex tunc. 
 
Teoria Objetiva: a norma deve-se desligar da vontade do legislador que a deu origem. 
A interpretação deve-se pautar pela extração do sentido da norma, ela mesma, em vista 
de sua sistematicidade. Ela compreende, desta forma, o papel do intérprete como central 
na construção do Direito. Ex nunc. 
 
 
 
 “A norma seria uma vontade transformada em palavras, uma 
força objetivada independente do seu autor, por isso, deve-se 
procurar o sentido imanente no texto e não o que o seu prolator 
teve em mira.” DINIZ – pág. 419 CICD 
 
 
 
Posicionamentos: 
 
A teoria Subjetiva, em oposição às premissas da teoria Objetiva, defende que: 
a) o recurso à interpretação histórica revela o verdadeiro sentido do surgimento da lei 
b) os fatores (situações, hipóteses) regulados pela lei podem, como todos os fatos 
históricos, perderem sua significação – as leis seriam entendidas somente com a 
reconstrução destes sentidos. 
c) a segurança da interpretação da norma ficaria arbitrária, pois os posteriores 
intérpretes teriam mais poder do que o próprio legislador na aplicação da norma. 
 
A teoria Objetiva, em oposição às premissas da teoria Subjetiva, defende que: 
a) vontade do legislador é uma mera ficção – o legislador é uma “entidade formal”; 
b) o intérprete, no momento em que realiza a extração do sentido da lei, 
recria/reinterpreta/revive o Direito; 
c) uma vez que uma norma jurídica entra no ordenamento jurídico, ela ganha vida. 
 
Obs: 
“ex tunc” – expressão de origem latina que significa “desde então”, ou “desde o início”. 
Significa dizer que possui efeito retroativo relacionados à época da origem dos fatos. 
“ex nunc” – “desde agora” – significa que os efeitos jurídicos não retroagem – só 
produz efeito a partir da decisão em diante. 
 
O Debate leva a duas colocações: 
Uma teoria radical da interpretação – afeita ao Dogma – que conduz a uma restrição do 
poder interpretativo do jurista. 
 
A uma posição Finalista-valorativa acerca do papel do intérprete – que confere uma 
liberdade grande ao papel interpretativo do jurista, tendo em vista a sua atuação social e 
seu papel transformador. 
 
Grande parte da Teoria Jurídica resolve o embate entre as duas posições com a noção de 
Dogmática Jurídica.Há situações, porém, em que esta operação (subsunção) não se realiza. O fato específico 
não se encaixa perfeitamente nos preceitos jurídicos, ou o operador do direito não 
encontra um preceito (norma jurídica) nitidamente aplicável ao caso. Esta hipótese é o 
que a doutrina identifica como o caso de Lacuna na Lei. 
 
O problema das Lacunas na Lei: 
 
A possibilidade de existência de espaços não iluminados pelo Direito, ou de vácuos no 
ordenamento jurídico, conflita diretamente com toda a teoria jurídica que postula o 
Direito como um sistema completo e organizado. A possibilidade de situações não 
resolvidas coloca em cheque a idéia de segurança do sistema jurídico e sua 
sistematicidade. 
 
Diante desta situação, com o objetivo de evitar essas lacunas, de modo a preservar a sua 
segurança jurídica, o Direito estabelece princípios para suprir esses espaços vazios. 
Toda a teoria que visa orientar o modo de preenchimento destes “espaços vazios” – 
denomina-se, em âmbito da doutrina, como o Problema da Lacuna das Leis. 
 
Fontes do Direito 
 
Conceito – 
Expõe a doutrina que o termo fonte refere-se, de modo amplo, a idéia de origem, ponto 
de procedência de algo. De modo semelhante, no Direito, o estudo das fontes aponta 
para a investigação dos pontos nos quais se originam as regras de Direito e os princípios 
do ordenamento jurídico, sobretudo, àqueles que gozam de um status diferenciando, a 
dizer, possuem legitimidade e obrigatoriedade no ordenamento jurídico. 
 
As fontes do Direito podem ser identificadas como os processos ou meios em virtude 
dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com 
vigência e eficácia no contexto da estrutura normativa (Reale). 
 
Antes de abordarmos a estruturas das fontes jurídicas do nosso ordenamento jurídico, 
podemos fazer referência a duas grandes tradições jurídicas do mundo ocidental. 
 
De um lado, temos a tradição do Direito Romanístico (de Roma – Direito Romano) – 
Germânico, que envolve países como Itália, Alemanha e França. Esta tradição é 
marcada pelo Direito Codificado e Escrito. Nesta perspectiva, o ideal é que todas as 
noções de direito numa sociedade estejam evidenciadas (escritas e definidas) em 
formato de Leis e Códigos. 
 
Já na tradição da “Common Law” (Lei comum do povo – também chamado de Direito 
Costumeiro/Consuetudinário) que caracteriza os países de origem anglo-saxã (Inglaterra 
e EUA). Nesta tradição, há um espaço maior de atuação e participação dos usos e 
costumes que permeiam a cultura jurídico-política da nação. Proporcionalmente, há 
poucas leis codificadas, e existe um destaque especial para a questão dos julgamentos 
anteriores, que lá são chamados de precedentes, e que se assemelham, em nossa 
tradição, à jurisprudência. 
 
Estes dois modelos nos servem para uma breve contextualização sobre a discussão 
sobre as Fontes do Direito. De forma análoga, em nosso próprio ordenamento jurídico, 
podemos notar que a classificação acerca das fontes tomará um caminho semelhante, 
classificando as fontes jurídicas conforme sua vinculação com a Lei ou com as demais 
fontes produtoras não oficializadas na Lei. 
 
Nas Fontes do Direito, em primeiro plano, temos: 
 
Fontes Materiais – 
 
Fontes de produção do Direito Positivo que não estão formalizadas (declaradas na Lei – 
Legitimadas de forma explícita): fatos sociais – valores – princípios de Justiça. De 
modo geral, podemos dizer que são elementos sociais, políticos, históricos e culturais 
que influenciam no surgimento do Direito, mas que não aparecem de forma explícita e 
formalizada no processo legislativo da produção das Leis no Direito. 
 
Estas fontes materiais não são objeto privilegiado de estudo do Direito Objetivo. Elas 
serão objeto de estudos mais detalhados de disciplinas como a Sociologia do Direito e a 
Filosofia do Direito. 
 
Fontes Formais – 
São as fontes que constam expressamente no ordenamento jurídico. 
As fontes formais também são classificadas conforme o seu órgão produtor, ficando, 
desta forma como: Formais Estatais (diretas) / Não-estatais (indiretas). 
 
Como o que nos interessa são as Fontes Formais, estas se classificam em1: 
 
1 Observação: a classificação das Fontes do Direito aqui apresentada segue o critério formal-legal da Lei, 
enquanto elemento diferenciador das fontes estatais e não-estatais. Deste modo, tudo o que a lei 
expressamente declarar como fonte, será considerado como fonte formal (ex: art. 4º da LICC) aqueles 
elementos que a lei expressamente declara como tais. Há divergência quanto a estes critérios de 
classificação na doutrina, de modo que não é incomum encontrar classificações diferentes baseadas em 
 
• Formais Estatais – 
 
1. Leis (legislação) - as leis propriamente ditas (códigos, artigos, etc.) Legislação – 
Processo de produção de leis (atividade legiferante). Todas as formas de leis em 
vigência e com eficácia no ordenamento jurídico; 
2. Costumes (costume jurídico) – prática reiterada de atos, práticas judiciárias e 
modos de resolução de conflitos. Ex: “pacta sunt servanda” (cumpra-se o 
acordado). Para se caracterizar como costume, o Direito exige: continuidade, 
uniformidade e obrigatoriedade das decisões. Por sua vez, os costumes se 
dividem em: praeter legem (incorporados na lei), secundum legem (segundo a 
lei) e contra legem (contra a lei – em situações em que o operador do direito 
decide de modo a contrariar a lei); 
3. Analogia – aplicação do Direito pelo qual o Juiz, por meio de um raciocínio 
lógico-jurídico, estende um preceito legal a casos não diretamente 
compreendidos nas descrições legais vigentes; 
4. Princípios Gerais de Direito – princípios de aplicação e de fundamentação que 
compõem a cultura jurídica e que podem ser utilizados para a resolução de casos 
lacunosos. Como exemplo deste tipo de princípios, a doutrina cita algumas 
máximas do Direito Romano: “viver honestamente / dar a cada um aquilo que é 
seu / não lesar a ninguém”. 
5. Eqüidade – é a forma de aplicação do Direito que tem como função atenuar a 
rigidez da regra jurídica. 
 
 
• Formais Não-Estatais – 
 
1. Doutrina – é o produto decorrente da atividade jurídico-científica dos 
estudiosos, tratadistas, teóricos do direito e juristas enquanto teóricos do 
Direito. Corresponde ao conjunto de estudos, conceitos, teorização, 
classificação e interpretação das variadas leis e institutos no Direito; 
 
critérios distintos. Vide: Mª Helena Diniz (Compêndio de Introdução à Ciência do Direito) e Miguel 
Reale (Lições preliminares de Direito), para visualizar classificações diferentes. 
2. Jurisprudência – é o conjunto de decisões uniformes e constantes dos Tribunais, 
resultante das decisões e das aplicações das normas aos casos concretos (litígios 
que demandam decisões do poder judiciário). 
 
 
 
Antinomia Jurídica 
 
Conceito – segundo Tércio Sampaio Ferraz “é a oposição que ocorre entre duas normas 
contraditórias (total ou parcialmente), emanadas de autoridades competentes num 
mesmo âmbito normativo, que colocam o sujeito numa posição insustentável pela 
ausência ou inconsistência de critérios aptos a permitir-lhe uma saída nos quadros de 
um ordenamento dado.” 
 
Ex: hipótese – Código Militar prescreve que a obediência incondicionada às ordens de 
um superior – 
 
Enquanto 
 
O Código Penal proíbe a prática de certos atos (matar, privar alguém de liberdade, etc) 
 
Numa circunstância hipotética: 
 
Quando um capitão ordena o fuzilamento de um prisioneiro de guerra, o soldado se vê 
às voltas de um conflito – ou uma situação de duas normas conflitantes. 
 
A respeito do Conceito de Antinomia, também é importante frisar que o ordenamento 
jurídico prevê vários tipos deocorrência de conflitos entre normas, que variam 
conforme a natureza destas incompatibilidades. 
 
Diante disto, as Antinomias Jurídicas podem ser classificadas: 
 
Quanto ao critério de solução – 
 
• Antinomia Aparente – quando os critérios de sua solução forem normas 
internas do ordenamento jurídico 
 
• Antinomia Real – quando não houver na ordem jurídica critério para solucioná-
la, sendo necessária a edição de outra norma 
 
 
 
Quanto ao âmbito das normas 
 
• Antinomia de Direito Interno – aparece entre normas de diferentes ramos do 
direito 
 
• Antinomia de Direito Internacional – aparece entre convenções, tratados, 
acordos internacionais, princípios gerais de direito de diferentes soberanias 
 
• Antinomia de Direito Interno-Internacional – ocorre em situações em que 
uma matéria pode sofrer regulação de normas internas e externas (de Direito 
Interno e de Direito Internacional) 
 
 
Critérios de Solução de Antinomias 
 
 
• Hierárquico – lei superior derroga a lei inferior; 
 
• Cronológico – lei posterior derroga lei anterior; 
 
• Critério de Especialidade – lei especial derroga lei geral. 
 
Dos três critérios apresentados, o mais aplicado, que em regra prevalece sobre os 
demais, é o critério Hierárquico. 
 
Todavia, há situações no ordenamento jurídico em que as leis entram em conflito em 
mais de um nível. Nestes casos, a contradição entre as Leis se dá em diversos níveis ( 
conflitos hierárquicos, cronológicos e de especialidade) de modo a colocar dúvidas 
quanto ao tipo de critério que será aplicado para resolução da antinomia. 
 
Por conta desta diferença, de conflitos simples ( que envolvem apenas um critério ) e 
conflitos compostos (que envolvem mais de um critério), a doutrina estabelece uma 
diferença entre Antinomias de 1º grau e Antinomias de 2º. 
 
As antinomias de 1º grau são aquelas que podem ser resolvidas com a aplicação de um 
critério – o que equivale a dizer que o conflito delas aparece em um único nível ( 
hierárquico, cronológico ou especialidade). 
Ex: 
Elemento do Conflito Elemento do Conflito Solução da Antinomia 
Lei 1 (superior - norma 
Constitucional) 
Lei 2 (inferior – Lei 
Ordinária) 
Critério Hierárquico 
Lei 1 (antiga) Lei 2 (nova) Critério Cronológico 
Lei 1 (especial – Código do 
Consumidor) 
Lei 2 (Lei geral – Código 
Civil) 
Critério da Especialidade 
 
 
 
As antinomias de 2º grau são conflitos entre normas que ocorrem envolvendo mais de 
um tipo de conflito, o que coloca o operador jurídico na necessidade de estabelecer 
regras de solução para o conflito entre os critérios (também chamados de meta-
critérios). 
 
Como não é possível, nas antinomias de 2º grau, a solução pelo uso de apenas um 
critério (tal como nas antinomias de 1º grau), é necessário desenvolver soluções para os 
conflitos entre os próprios critérios. A doutrina expõe: 
 
Hierárquico X Cronológico: 
Lei superior-anterior prevalece sobre Lei posterior-inferior: prevalece o critério 
Hierárquico. 
Hierárquico X Especialidade: 
Lei superior-geral prevalece sobre Lei especial-inferior: prevalece o critério 
Hierárquico. 
 
Cronológico X Especialidade: 
Lei especial-anterior em conflito com Lei posterior-geral: dúvidas quanto ao meta-
critério. 
 
Há muitas discussões sobre a possibilidade de estabelecer um meta-critério único de 
solução para este conflito. A maioria dos autores afirma que as situações em que este 
tipo de conflito apareça devem ser solucionadas de forma particular, buscando soluções 
adequadas e diferentes para cada caso (DINIZ). Há autores que defendem que o 
cronológico deve prevalecer, com a possibilidade de complementação com o critério da 
Especialidade (ex: artigo de Kümpel que foi trabalhado na atididade em sala de aula, a 
respeito da antinomia entre o novo e o antigo código civil). 
 
Ex: 
ELEMENTOS do 
Conflito 
ELEMENTOS do 
Conflito 
Critérios de 
Solução 
Solução do conflito 
entre Critérios 
(meta-critérios) 
Lei 1 ( antiga-
superior) 
Lei 2 (posterior-
inferior) 
Hierárquico 
Cronológico 
Prevalece o 
Hierárquico 
Lei 1 (especial-
inferior) 
Lei 2 (superior-
geral) 
Hierárquico 
Especialidade 
Prevalece o 
Hierárquico 
Lei 1 (especial-
anterior) 
Lei 2 (geral-
posterior) 
Cronológico 
Especialidade 
Solução especial 
para cada caso

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