Buscar

Aplicação da Lei no Tempo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Esquema simplificado de aplicação da lei no tempo:
	NOTA: Os casos práticos de aplicação da lei no tempo só têm relevância para as situações em curso, ou 
	seja, situações constituídas durante vigência de LA mas que também produzem efeitos durante LN. 
 
PASSO 1 - Há Direito Transitório Material? Ou seja, a LN prevê um regime transitório para as situações em curso, distinto de LA e LN? 
 
SIM (e não é inconstitucional) - caso resolvido. 
NÃO - ver passos seguintes (aplica-se LA ou LN). 
 
 
PASSO 2 - Estamos perante um Ramo do Direito específico, como o Direito Penal (29º/4 CRP), o Direito Processual (aplicação imediata de LN) ou o Direito Fiscal (103º/3 CRP)? 
Especial em relação ao artigo 12.º que estabelece os princípios basilares de aplicação da lei no tempo.
 
SIM - aplicam-se os princípios desse ramo; caso resolvido.
NÃO - ver passos seguintes (aplica-se 12º CC e ss.). 
 
 
PASSO 3 - LN atribui eficácia retroativa a si mesma? 
 
SIM – ver passos seguintes. 
NÃO – saltar p/ PASSO 6. 
 
 
PASSO 4 – Há proibição da retroatividade? (29º/1, 18º/3, 32º/9, 103º/3 CRP; tutela da confiança; violação de direitos fundamentais; 282º/3 CRP – limite do caso julgado p/ retroatividade extrema?) 
 
SIM – norma é inconstitucional; caso resolvido. 
NÃO – ver passos seguintes. 
 
 
PASSO 5 – Quanto aos efeitos: LN prevê o seu grau de retroatividade? 
 
SIM – (e não é inconstitucional: este passo pressupõe que não estamos perante retroatividade extrema, pois esta tem limites – cf. 282º CRP) aplica-se LN com o grau de retroatividade que dela resultar; caso resolvido. 
NÃO - aplica-se o artigo 12º/1/2ª parte CC e presume-se ser retroatividade ordinária; caso resolvido. 
 
	 Graus de retroatividade 
	Extrema – não tem limites, nem mesmo o caso julgado. 
Quase extrema – o único limite é o caso julgado. 
	Agravada – os limites são os que têm um título especial reconhecido pela LN (exemplo: artigo 13º CC). 
	Ordinária – ficam ressalvados os efeitos já produzidos dos factos a regular (artigo 12º/1/2ª parte CC). 
 
PASSO 6 – LN não refere a sua eficácia retroativa: “A lei só dispõe para o futuro” (artigo 12º/1/1ª parte CC) + artigo 12º/2/… CC 
 
1ª parte – LN apenas se aplica aos factos novos; LA aplica-se aos factos antigos; caso resolvido. 
2ª parte – aplicação imediata de LN às situações em curso; caso resolvido. 
 
Como se sabe qual a parte do artigo 12º/2 CC que se deve aplicar? 
PASSO 6.1– Artigo 12º/2/1ª parte CC: “Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos”. 
 
1. Condições de validade formal → Requisitos de forma (como é exteriorizado?) que o facto jurídico deve observar para ser válido. 
 
Exemplo: LA – “O contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for celebrado por escritura pública ou por documento particular autenticado”; LN – “O contrato de compra e venda só é válido se for celebrado por escritura pública”. Os contratos que tenham sido celebrados por documento particular autenticado, ao abrigo de LA, não se tornam inválidos com o início de vigência da LN, pois esta dispõe sobre uma condição de validade formal, logo só visa os factos novos. 
 
2. Condições de validade substancial → Requisitos substanciais, não relacionados com a exteriorização do facto jurídico, que devem ser observados: 
· Capacidade jurídica das partes (maioridade, interdição, inabilitação, etc.); 
· Legitimidade das partes para praticar o ato; 
· Vontade das partes (vícios da vontade, etc.); 
· Objeto ou conteúdo do ato (objeto do negócio jurídico, etc.); etc… 
 
Exemplos: 
LA – “A paternidade do filho pode ser impugnada pelo marido da mãe, por esta, pelo filho ou pelo Ministério Público”. LN – “A paternidade do filho pode ser impugnada pela mãe, pelo filho ou pelo Ministério Público”. Uma ação intentada pelo marido da mãe, durante o período de vigência de LA, não se torna ilegítima apenas porque LN entrou em vigor e ainda não foi decretada sentença; isto porque LN dispõe sobre uma condição de validade substancial (legitimidade das partes para praticar o ato), logo só visa os factos novos. 
 
LA – “O contrato simulado é nulo, mas o contrato dissimulado pelas partes é válido”. LN – “Tanto o contrato simulado como o contrato dissimulado pelas partes são nulos”. Se durante a vigência de LA for celebrado um contrato de doação, com o intuito de este se fazer passar por uma compra e venda (inválida, por ser simulada), este não se torna inválido com o início de vigência de LN, pois esta dispõe sobre uma condição de validade substancial (vícios da vontade negocial das partes), logo só visa os factos novos. 
 
LA – “É nulo o negócio cujo objeto seja fisicamente impossível”. LN – “É nulo o negócio cujo objeto seja fisicamente impossível ou ofensivo dos bons costumes”. Um negócio celebrado durante a vigência de LA não se tornaria inválido por ser ofensivo dos bons costumes após o início de vigência de LN, pois esta dispõe sobre uma condição de validade substancial (objeto ou conteúdo do ato), logo só visa os factos novos. 
 
“Leis confirmativas” → LN vem aligeirar condições de validade formal ou substancial de um ato jurídico, possibilitando que atos inválidos se tornem válidos. Poderá haver retroatividade in mitius tácita? 
 
BAPTISTA MACHADO – Sim, sempre que LN seja mais favorável aos interessados e não se prejudiquem os interesses da contraparte ou de terceiros. Exemplo: LA – “O negócio celebrado sob coação moral é anulável”. LN – “O negócio celebrado sob coação moral é válido”. Neste caso, não há retroatividade in mitius porque se prejudicaria o interesse da pessoa que foi coagida (apesar de ser mais favorável à parte que recorreu à coação). 
 
TEIXEIRA DE SOUSA – Sim, se o ato estiver a ser executado e a invalidade nunca ter sido decretada. Exemplo: LA – “A compra e venda de bens imóveis está sujeita a escritura pública”. LN – “A compra e venda de bens imóveis é consensual”. Não haveria retroatividade in mitius se, por exemplo, o comprador nunca tiver vivido no imóvel nem pago o preço (o ato de compra e venda nunca foi executado, logo seria inválido ao abrigo de LA). 
3. Efeitos instantâneos – verificam-se num único momento → factos constitutivos ou extintivos de situações jurídicas (exemplo: transmissão da propriedade pela celebração de um contrato de compra e venda). 
 
PASSO 6.2 – Artigo 12º/2/2ª parte CC: “mas, quando dispuser sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor”. 
 
NOTA: Por «relações jurídicas», devem-se entender «situações jurídicas» (doutrina civilista dominante). 
Relações duradouras – a sua produção prolonga-se no tempo → situações jurídicas e seus efeitos após a sua constituição (exemplos: direitos de personalidade, direitos de crédito, dever de prestar). 
 
 
PASSO 6.2.1 – O conteúdo da LN é determinado pelo facto jurídico que lhe deu origem? 
 
SIM → 12º/2/1ª parte CC (não se abstrai do facto que lhe deu origem); caso resolvido. 
NÃO → 12º/2/2ª parte CC (abstrai-se do facto que lhe deu origem); caso resolvido. 
 
Os efeitos da LN que abstraem dos factos que lhe deram origem são os que se encontram de tal modo autonomizados do facto constitutivo, que não implicam nenhuma valoração desse mesmo facto – de modo que não faz sentido aplicar-se-lhes a lei que rege o facto constitutivo. 
Um indício para se saber se esse requisito está preenchido é através do recurso às regras relativas às diferentes matérias de direito civil. 
 
Estados Pessoais (66º CC e ss.) 
· Constituição de um estado pessoal – facto constitutivo ou condição de validade formal / substancial → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera os requisitos da interdição e inabilitação) 
· Conteúdo de um estado pessoal – efeito que abstrai do facto constitutivo → 12º/2/2ª parte CC (exemplo: LN altera o regime de administração debens do inabilitado) 
 
Responsabilidade Civil Extracontratual (483º CC e ss.) – facto constitutivo (facto ilícito e culposo que gera um dano) → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera a norma sobre a obrigação de indemnização por danos causados por animais) 
 
Direito das Obrigações – Contratos (762º CC e ss.) 
· Celebração do contrato – condição de validade formal ou substancial → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera forma de celebração do contrato de compra e venda de bens imóveis) 
· Conteúdo do contrato – o critério geral é o da autonomia privada, logo os efeitos não abstraem do facto que lhes deu origem → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera os requisitos do direito de resolução após incumprimento definitivo do contrato → aplicação de LA aos factos passados); mas no caso de norma imperativa que tutela interesses sociais fundamentais, os efeitos abstraem do facto que lhes deu origem → 12º/2/2ª parte CC (exemplo: LN altera regras sobre condições de despejo no contrato de arrendamento) 
 
Direitos Reais (1251º CC e ss.) 
· Aquisição de direitos reais – facto constitutivo → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera o modo de aquisição do direito de propriedade) 
· Conteúdo dos direitos reais – efeito que abstrai do facto constitutivo → 12º/2/2ª parte CC (exemplo: LN altera os termos em que pode ser feita a plantação de árvores e arbustos pelo proprietário) 
 
Direito da Família (1576º CC e ss.) 
· Celebração do casamento – facto constitutivo e condições de validade formal / substancial → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera a norma relativa aos casamentos sujeitos a registo) 
· Conteúdo das relações jurídico-familiares - o critério geral é o da existência de norma imperativa que tutela interesses sociais fundamentais, pelo que os efeitos abstraem do facto que lhes deu origem → 12º/2/2ª parte CC (exemplo: LN altera o regime da administração de bens do casal e dos deveres conjugais – fidelidade, assistência, etc.); mas quando prevalece a autonomia privada das partes, os efeitos não se abstraem do facto que lhes deu origem → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera o regime supletivo de bens do casamento e as regras de conteúdo da convenção antenupcial) 
 
Direito das Sucessões (2024º CC e ss.) 
· Sucessão legal (sem testamento) – facto constitutivo (morte do de cujus e consequente abertura da sucessão) → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera o elenco de herdeiros legitimários) 
· Validade formal do testamento e capacidade para testar – requisitos de validade formal e substancial → 12º/2/1ª parte CC (exemplo: LN altera a capacidade das pessoas coletivas para testar) 
· Conteúdo do testamento – efeito que abstrai do facto que lhe dá origem (os interesses socialmente relevantes são os do momento da abertura da sucessão e não o da feitura do testamento) → 12º/2/2ª parte CC (exemplo: LN altera a norma relativa ao legado de coisa pertencente só em parte ao testador)

Continue navegando