Buscar

apostila Ucam sobre envelhecimento

Prévia do material em texto

AT 1
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - Envelhecimento: Uma Experiência Individual
9 UNIDADE 3 - Alterações Decorrentes do Envelhecimento
9 3.1 Modificações anatômicas
12 3.2 Modificações funcionais
14 3.3 Alterações emocionais
16 UNIDADE 4 - Avaliação Física / Antropométrica no Idoso
23 UNIDADE 5 - Avaliação Nutricional/ Dietética
28 UNIDADE 6 - Aspectos Psicológicos e Neurológicos
28 6.1 Aspectos psicológicos 
30 6.2 Aspectos neuropsicológicos
32 6.3 Avaliação psicológica e neuropsicológica do idoso
35 6.4 Caminhando para a depressão
38 6.5 Características da Depressão no Idoso
41 REFERÊNCIAS
44 ANEXOS
2 33
UNIDADE 1 - Introdução
Um dos primeiros passos a dar quando o 
foco é trabalhar com pessoas idosas ou no 
ambiente voltado para elas é conhecer os 
meandros dessa fase da vida que para al-
guns pode ser realmente a melhor idade, 
enquanto para outros é uma fase cercada de 
problemas físicos, biológicos e psicológicos, 
inspirando e requerendo muitos cuidados, 
ou seja, quando pensamos o processo do en-
velhecimento em termos de tempo, é preci-
so considerar vários aspectos, dentre eles:
 físico – também chamado de tempo 
objetivo, é medido em calendários, relógios, 
data de nascimento e outros. Mensurável e 
quantificável, pode ser relacionado à idade 
do organismo. O tempo físico não correspon-
de ao tempo biológico;
 biológico – é aquele que se refere aos 
relógios biológicos, ritmos circadianos e me-
tabólicos de sincronização individual. A idade 
biológica reflete as variações entre indivídu-
os com a mesma idade cronológica e se defi-
ne como a posição do indivíduo em relação à 
sua expectativa de vida. O envelhecimento, 
neste caso, poderia refletir modificações ou 
dessincronização dos relógios internos;
 psicológico – definido como a expe-
riência subjetiva do tempo, e o modo como 
é percebido e vivenciado pelo indivíduo. No 
idoso encontra-se uma vivência interna de 
lentificação da passagem do tempo, ao pas-
so que externamente este parece acelerado;
 social – refere-se à posição e hábitos 
sociais adquiridos e sentidos pelo indivíduo 
como pertencentes ao papel social e cultu-
ral, esperado para a idade. O envelhecimen-
to, por este parâmetro, é avaliado de acordo 
com o papel social desempenhado pelo indi-
víduo (VELASCO, 2006).
Embora a definição dada pelos geronto-
logistas reporte ao envelhecimento como o 
responsável por diminuir a capacidade de so-
brevivência do organismo, ela é muito vaga, 
nos diz muito pouco sobre o envelhecimento.
A principal dificuldade está em separar 
o processo biológico primário do envelhe-
cimento, das doenças associadas e fatores 
ambientais. Essa separação é fundamental 
para o entendimento do processo em nossa 
vida. Velasco (2006) chama a atenção tam-
bém sobre o fator desuso, ou seja, a utili-
zação inadequada dos sistemas orgânicos, 
geneticamente determinados para a rea-
lização de diversas funções e atividades; o 
sedentarismo atual diante das característi-
cas ancestrais da espécie humana de caça e 
coleta implicando em grande atividade física; 
os níveis de colesterol nas diferentes popu-
lações, além do elevado índice de doenças 
cardiovasculares, da fragilidade musculoes-
quelética, da obesidade, do envelhecimento 
precoce e da depressão.
Somar esses fatores ou promover um ba-
lanço entre eles, com certeza generalizando, 
podemos creditar 20% para a herança gené-
tica; 10% para o meio ambiente e 70% para 
o estilo de vida.
Essas percentagens nos mostram tam-
bém que o envelhecimento é um processo 
altamente individual, com os indivíduos en-
velhecendo em ritmos que podem ser muito 
diferentes dos de outros com a mesma idade 
cronológica. Na verdade, as diferenças indi-
viduais são uma marca do envelhecimento 
tanto quanto o declínio na função relaciona-
do à idade. São medidas calculando-se o des-
4 54
vio-padrão dos indivíduos dentro de um gru-
po de pessoas mensuradas. As diferenças 
individuais também podem ser mostradas 
graficamente e analisadas como distribuição 
de frequência cumulativa.
As várias fontes de diferenças individuais 
incluem diferenças genéticas, doenças e di-
versos índices de envelhecimento dos siste-
mas fisiológicos e biológicos nos indivíduos. 
Variações no estilo de vida e comportamen-
tos compensatórios dos adultos mais idosos 
também criam diferenças. Outras fontes são 
o sexo, a cultura, a educação e a condição so-
cioeconômica.
Mudanças na função e desempenho re-
lacionadas ao tempo seguem padrões dife-
rentes: nenhuma mudança (estabilidade), 
mudança relacionada a doença, declínio 
constante na função, manifestação precipi-
tada de doença, mudança compensatória e 
mudanças culturais. Essa diversidade de ma-
neiras em que uma mudança pode ocorrer 
(ou não ocorrer) nos e entre os indivíduos, 
aumenta as diferenças individuais.
Pois bem, estes aspectos e fatores dividi-
dos aqui em físicos, psicológicos e nutricio-
nais que, digamos, determinam e/ou influen-
ciam o envelhecimento serão abordados ao 
longo deste módulo.
Em anexo disponibilizamos alguns mode-
los de ficha para avaliação física e funcional 
do idoso que podem auxiliar na elaboração 
de sua própria ficha.
Ressaltamos em primeiro lugar que embo-
ra a escrita acadêmica tenha como premissa 
ser científica, baseada em normas e padrões 
da academia, fugiremos um pouco às regras 
para nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira 
clara e objetiva, mas não menos científicos. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este 
módulo é uma compilação das ideias de vá-
rios autores, incluindo aqueles que conside-
ramos clássicos, não se tratando, portanto, 
de uma redação original e tendo em vista o 
caráter didático da obra, não serão expres-
sas opiniões pessoais.
Ao final do módulo, além da lista de refe-
rências básicas, encontram-se outras que 
foram ora utilizadas, ora somente consulta-
das, mas que, de todo modo, podem servir 
para sanar lacunas que por ventura venham 
a surgir ao longo dos estudos.
 
4 55
UNIDADE 2 - Envelhecimento: Uma 
Experiência Individual
Segundo Spirduso (2005), o envelheci-
mento é uma experiência individual, uma vez 
que as pessoas diferem não só em suas ca-
racterísticas e comportamentos, mas tam-
bém na maneira como elas mudam com o 
tempo. Os resultados de centenas de expe-
rimentos e de projetos de pesquisa usando 
tanto animais como humanos demonstra-
ram que a idade cronológica não é uma boa 
forma para prever-se a função ou o desem-
penho de um indivíduo na maioria das variá-
veis.
O envelhecimento é um processo alta-
mente pessoal, não só com indivíduos di-
ferentes um dos outros, mas também com 
sistemas fisiológicos com índices de enve-
lhecimento diferentes. A pressão arterial 
média, por exemplo, aumenta gradualmen-
te em uma coorte de idade, com o passar do 
tempo. Contudo, quando os indivíduos são 
medidos longitudinalmente, a pressão arte-
rial não aumenta de jeito nenhum em algu-
mas pessoas, todavia, nesses indivíduos cuja 
pressão arterial não muda outros sistemas 
podem estar deteriorando-se mais rapida-
mente.
As diferenças individuais originam-se de 
muitas fontes. Os indivíduos herdam carac-
terísticas, comportamentos e predisposi-
ções diferentes, e uma vida inteira de inte-
ração com o meio ambiente, desenvolvendo 
comportamentos únicos de compensação, 
que magnificam essas diferenças. As pesso-
as diferem na idade, peso, altura, sexo, cor 
da pele e dos olhos, força, inteligência e uma 
série de outras variáveis. Cada uma dessas 
variáveis, sozinhas ou combinadas, contribui 
para as diferenças individuais. Além disso, os 
sistemas fisiológicos envelhecem em ritmos 
diferentes para cada pessoa, também, con-
forme ficam mais idosas, as pessoas têm um 
desempenhomenos consistente em vários 
tipos de testes. Sexo, diferenças culturais, 
educação e condição socioeconômica são 
fontes adicionais de diferenças individuais. 
Os modelos de pesquisa adotados na avalia-
ção gerontológica também contribuem para 
as observações das diferenças individuais.
As pessoas nascem com genótipos úni-
cos (formações genéticas), que variam em 
muitas dimensões e centenas de caracterís-
ticas. Não só muitas diferenças individuais 
de características e função são expressas 
geneticamente, mas estudos de comporta-
mento genético das crianças mostraram que 
os hábitos de atividades físicas e sociais são 
também determinados pela hereditarieda-
de (BUSS e PLOMIN, 1984 apud SPIRDUSO, 
2005). Estudos de gêmeos adultos também 
indicaram que a influência genética na ativi-
dade física perdura até a segunda metade do 
tempo de vida.
Em outras palavras, alguns padrões de 
comportamento pelos quais os indivíduos 
interagem com seu meio ambiente são rela-
tivamente estáveis durante todo o tempo de 
vida, e muitas evidências sugerem que esses 
padrões podem refletir uma tendência da 
diferença individual para certos comporta-
mentos que se originam na herança genética 
e primeiras experiências.
Outro contribuinte para as discrepâncias 
individuais é a diferente taxa, na qual os sis-
temas fisiológicos e comportamentais enve-
lhecem dentro do indivíduo. A deterioração 
dos sistemas é progressiva, mas não na mes-
ma taxa em todas as modalidades sensoriais 
6 7
e sistemas fisiológicos. Em nenhum lugar 
isso está tão claramente demostrado quan-
to no clássico gráfico publicado por Shock, 
em 1962. Veja abaixo:
Por exemplo, a velocidade de condução do 
nervo diminui relativamente pouco durante 
o tempo de vida, porém a capacidade respi-
ratória máxima deteriora-se muito. A capaci-
dade vital diminui significativamente, mas o 
índice cardíaco diminui muito menos. Mesmo 
em um sistema único, por exemplo, o siste-
ma cardiovascular, a frequência cardíaca 
máxima diminui lenta, mas gradualmente no 
adulto idoso ativo, o que não se dá com ou-
tros componentes cardiovasculares, como 
o débito cardíaco. Alguns aspectos da fun-
ção psicomotora, como a memória de longo 
prazo, são mantidos, enquanto outros, como 
uma tomada de decisão rápida, deterioram-
-se.
Outra fonte de diferenças individuais é a 
variabilidade interna do sujeito, ou consis-
tência do sujeito. Quando os pesquisadores 
medem as funções ou os comportamentos 
dos indivíduos, eles esperam que suas men-
surações representem o valor real dessa 
função ou desse comportamento. Contudo, 
resultados verdadeiros de uma função ou de 
um comportamento só podem ser estima-
dos obtendo duas ou mais medidas do mes-
mo indivíduo e usando a média dessas várias 
observações.
A quantidade de variação que ocorre em 
várias mensurações de uma variável de um 
mesmo indivíduo é chamada de variabilidade 
interna do sujeito. Essa variação é descrita 
como o desvio-padrão de todas as tentativas 
do sujeito em relação à média do sujeito. O 
princípio é o mesmo usado para determinar 
as diferenças individuais dentro de um gru-
po: para determinar as diferenças individu-
ais, calcula-se a distância média do resultado 
de cada pessoa em relação à média do grupo. 
Para determinar a variabilidade interna do 
sujeito, calcula-se a distância média de cada 
resultado do sujeito em relação à média do 
próprio sujeito.
Em algumas variáveis, a variação interna 
do sujeito é muito pequena. Medidas varia-
das da velocidade de condução do nervo, por 
exemplo, proporcionam valores quase idên-
ticos, a não ser que as mensurações sejam 
realizadas em horários diferentes do dia. Se 
a frequência cardíaca em repouso for medi-
da dez vezes durante um minuto, o resultado 
não será igual, nas dez tomadas, mas as me-
didas serão muito próximas. A variabilidade 
interna do sujeito pode ocorrer em razão da 
natureza das oscilações dos sistemas bioló-
gicos ou pode ser causada por erros de men-
suração. Em outras variáveis, como o tempo 
de reação, as respostas dos sujeitos são tão 
variadas que um número maior de tentati-
vas tem de ser realizado para que a média ou 
mediana dessas tentativas possa ser usada 
para estimar a verdadeira velocidade de res-
posta do sujeito.
A motivação, o cansaço, o aprendizado do 
sujeito e o uso experimental de estratégias 
diferentes em vários testes explicam algu-
mas das variabilidades internas do sujeito 
6 7
nesses comportamentos.
As diferenças individuais na juventude e 
na meia-idade também podem ser acentu-
adas com o aumento da idade, porque em 
muitas culturas as restrições sobre as pes-
soas mais idosas são abrandadas. Pessoas 
mais idosas, na maioria das culturas, têm 
mais liberdade para comportar-se da manei-
ra como desejarem.
Uma outra forma de diferença individual 
é a educação. O histórico educacional extre-
mamente diferente dos indivíduos com 70 
e 80 anos, comparados aos indivíduos com 
20 anos, torna excepcionalmente difícil en-
tender mudanças cognitivas relacionadas à 
idade que sejam independentes do histórico 
educacional. Se os pesquisadores simples-
mente comparam o desempenho cognitivo 
de indivíduos com 20 e 80 anos, eles tam-
bém comparam grupos que têm experiên-
cias educacionais extremamente diferentes. 
Contrariamente, se comparam o nível edu-
cacional, para observar apenas sujeitos que 
tenham o mesmo nível de educação, eles es-
tão estudando um grupo de indivíduos com 
80 anos que representa uma faixa mais eliti-
zada da população, em termos de educação, 
do que o grupo de indivíduos com 20 anos. 
Isso é especialmente verdadeiro quando se 
estudam as mulheres. Tão poucas mulheres 
fizeram faculdade nos anos 1930, que aque-
las com 80 anos que fizeram curso superior 
podem representar uma população com um 
perfil intelectual e de personalidade muito 
diferente. A influência do nível educacional 
não está restrita a testes cognitivos, está re-
lacionada também a muitos tipos de desem-
penho físico.
A condição socioeconômica proporciona 
um ambiente totalmente diferente para os 
indivíduos e é, portanto, outra fonte de dife-
renças individuais. Ainda outra maneira pela 
qual a condição socioeconômica pode in-
fluenciar a análise das diferenças individuais 
feita por um pesquisador é que adultos ido-
sos com baixa renda, que estão estressados 
“financeiramente”, podem ser voluntários de 
um estudo apenas pelo incentivo monetário, 
enquanto adultos jovens podem ser volun-
tários por outras razões (SPIRDUSO, 2005).
Vale a pena conferir os quatro tipos de en-
velhecimento individual, proposto por Mora-
es; Moraes e Lima (2010) que dependerá do 
grau de fragilidade do organismo e psiquis-
mo.
 São eles:
1. Robustez física e cristalização psíqui-
ca: o envelhecimento somático não está as-
sociado a alguma perda física limitante, mas 
o indivíduo apresenta perturbação do seu 
psiquismo, que o impede de compreender o 
sentido da vida.
2. Robustez física e maturidade psíqui-
ca: o envelhecimento somático não está as-
sociado a alguma perda física limitante e o 
psiquismo atinge a maturidade mental, a paz 
e a sabedoria.
3. Fragilidade física e cristalização psí-
quica: o envelhecimento somático é patogê-
nico, com limitações e/ou incapacidades físi-
cas e seu psiquismo encontra-se cristalizado 
na infância psíquica.
4. Fragilidade física e maturidade psí-
quica: o envelhecimento somático é pato-
gênico, com limitações e/ou incapacidades 
físicas. Todavia, o psiquismo do indivíduo 
evoluiu, conquistando a maturidade mental. 
O seu viver é pautado na aceitação da reali-
dade e na tolerância à dor e seus estados de 
equilíbrio são cada vez mais flexíveis, pois 
seus dispositivos de segurança são cada vez 
8 98
mais eficazes na relação com o mundo. A fe-
licidade pode ocorrer, casoas limitações físi-
cas não sejam suficientemente graves para 
comprometer os mecanismos homeostáti-
cos do organismo (ilustrado a seguir).
 Tipos de envelhecimento individual
 Fonte: Moraes; Moraes; Lima (2010, p. 72).
De todo modo, é preciso termos claro que 
o envelhecimento é individualizado, pesso-
al e as médias de função e comportamento 
para diferentes faixas etárias cronológicas 
são apenas médias, que dão ideia das capa-
cidades de um grande número de pessoas 
para certa idade, tanto que aquele que estu-
da e trabalha o envelhecimento deve inter-
pretá-lo dentro das estruturas das diferen-
ças individuais.
8 99
UNIDADE 3 - Alterações Decorrentes 
do Envelhecimento
No processo natural do envelhecimento, 
há peculiaridades anatômicas, funcionais e 
emocionais. Por essa razão, é preciso saber 
discernir, com precisão, os efeitos naturais 
deste processo (senescência) das alterações 
produzidas pelas inúmeras afecções que po-
dem acometer o idoso (senilidade).
Jacob Filho e Souza (2000), no capítulo 3 
do livro “Anatomia e Fisiologia do Envelheci-
mento”, apresentam as principais modifica-
ções anatômicas e funcionais hoje atribuí-
das, exclusivamente ao processo natural de 
envelhecimento.
3.1 Modificações anatômi-
cas
Nem sempre o que os olhos veem é a rea-
lidade. Não são todas as pessoas a aparenta-
rem fisicamente a idade que possuem, mas 
as alterações anatômicas ocorrem, indepen-
dentemente das “intervenções plásticas”.
a) Composição e forma do corpo
A estatura começa a diminuir, a partir dos 
30 anos, cerca de 1 cm por década. Tal perda 
se deve à diminuição dos arcos do pé e ao au-
mento das curvaturas da coluna, além de um 
encurtamento da coluna vertebral devido a 
alterações nos discos intervertebrais. Os diâ-
metros da caixa torácica e do crânio tendem 
a aumentar. O nariz e os pavilhões auditivos 
continuam a crescer, dando a conformação 
típica do idoso. Há alterações evidentes na 
composição do corpo e, com a perda de mas-
sa corpórea, os órgãos internos mais afeta-
dos são os rins e o fígado. Os músculos são 
os que mais sofrem prejuízo com o passar do 
tempo.
b) Pele e pelos
As fibras elásticas da derme formam fei-
xes dispostos segundo direções preferen-
ciais, conforme as linhas de tensão. Por este 
motivo, quando se perfura a pele com cilin-
dros, obtém-se uma fenda e não um orifício 
circular; daí a noção das linhas de fenda. Com 
o envelhecimento, estas fibras se alteram, 
a elastina fica “porosa”, perdendo a elasti-
cidade. Estas alterações são mais intensas 
na pele exposta à luz solar, que, somadas à 
diminuição das espessuras da pele e do sub-
cutâneo, dão origem às rugas. A pele torna-
-se seca, áspera e pálida. No dorso das mãos 
surgem as manchas hiperpigmentadas.
Ocorre diminuição geral de pelos no corpo, 
com exceção das narinas, orelhas e sobran-
celhas. Dependendo de vários fatores, ocor-
re diminuição numérica de bulbos ativos, 
surgindo a calvície.
c) Sistema ósseo
O osso contém dois aspectos: compacto 
e esponjoso, havendo alterações de ambos 
no envelhecimento. A perda de tecido ósseo 
ocorre de maneira diferente no homem e na 
mulher. Nesta não há perda óssea significa-
tiva antes da menopausa. Porém, após este 
fenômeno, o processo é mais intenso do que 
nos homens.
d) Sistema articular
Nas suturas do crânio, os ossos são unidos 
por tecido fibroso. Com o envelhecimento, o 
tecido vai sendo substituído por osso, pro-
cesso que começa por volta dos 30 anos, 
desaparecendo por completo em épocas 
diferentes em cada sutura. O crânio tende, 
portanto, a apresentar menor número de os-
10 11
sos, diminuindo sua resistência a fraturas.
A espessura dos discos intervertebrais 
diminui, acentuam-se as curvas da coluna, 
especialmente a torácica, contribuindo para 
a cifose, comumente observada entre os 
idosos. As cartilagens ficam mais delgadas 
e surgem rachaduras e fendas na superfície, 
prejudicando os movimentos articulares.
e) Sistema muscular
O músculo é formado por fibras vermelhas 
e brancas. Essas fibras se degeneram com o 
passar dos anos. As que desaparecem são 
substituídas por tecido conjuntivo, haven-
do um aumento do colágeno intersticial no 
músculo do idoso. O peso do músculo diminui 
junto à sua área de secção, demonstrando 
perda de massa muscular – a chamada sar-
copenia. Os mecanismos que levam a essa 
perda são vários: diminuição da secreção 
do hormônio de crescimento, aumento da 
massa lipídica corporal, inatividade física, 
perda de unidades motoras alfa, alteração 
da atividade da unidade motora, diminuição 
de estrógenos e andrógenos, produção de 
citoquinas inflamatórias interleukinas e TNF 
e diminuição da ingestão de proteínas.
Em relação à força muscular, existem 
algumas características conservadas:
 a força dos músculos envolvidos nas ati-
vidades diárias;
 a força isométrica;
 as contrações excêntricas;
 as contrações de velocidade lenta;
 as contrações repetidas de baixa inten-
sidade;
 a força angular de pequenas articula-
ções; e,
 a força muscular no sexo masculino.
Por outro lado, com o envelhecimento, há 
o declínio:
 da força muscular dos músculos de ati-
vidades especializadas;
 da força dinâmica;
 das contrações concêntricas;
 das contrações de velocidade rápida;
 da produção de potência;
 da força angular de grandes articula-
ções; e,
 da força muscular no sexo feminino.
f) Sistema nervoso
O peso e o volume do cérebro diminuem 
com a idade. Verifica-se certo grau de atrofia 
cerebral com o passar do tempo, ocorrendo 
também o aumento volumétrico dos ventrí-
culos encefálicos. As contagens de neurô-
nios, em várias idades, mostram uma perda 
contínua e muitas células neuronais mos-
tram alterações variáveis, podendo evoluir 
até a sua morte completa.
Convém mencionarmos que há também 
diversas alterações em sistemas neuro-
transmissores com o envelhecimento, mas 
as repercussões causadas na função cere-
bral ainda é material de muitas pesquisas 
científicas, assim como na doença de Parkin-
son, de Alzheimer, na diminuição do contro-
le motor, no esquecimento da senescência, 
nos distúrbios do sono, etc.
Resumidamente, podemos afirmar que 
nas pesquisas realizadas, tem se constata-
do a ocorrência da diminuição em todos os 
neurotransmissores (acetilcolina, dopamina, 
serotonina, noradrenalina e GABA), promo-
vendo alterações bastante complexas no 
10 11
mecanismo cerebral.
g) Sistema circulatório
Em se tratando dos vasos, com o envelhe-
cimento, a aorta se dilata e seu diâmetro in-
terno aumenta. Tal artéria se caracteriza por 
possuir grande quantidade de fibras elás-
ticas nas suas paredes. Com a idade, essas 
fibras diminuem em números, enquanto o 
colágeno aumenta. Ocorre, ainda, deposição 
de cálcio em toda sua parede.
Os processos arteroescleróticos atingem, 
também, as artérias menores e as arteríolas, 
sofrendo transformações idênticas a da aor-
ta. Por exemplo, as carótidas se estreitam 
com o envelhecimento assim como as co-
ronárias, sendo o processo mais intenso no 
homem do que na mulher. Portanto, a pres-
são das artérias, em geral, aumenta. Nas ar-
teríolas renais, mesmo sem hipertensão, o 
diâmetro é sempre menor no idoso do que 
no jovem. A arteríola do labirinto, no ouvido 
interno, também mostra, com a idade, pro-
gressivo espessamento da parede.
No coração, as alterações mais importan-
tes ocorrem no miocárdio, nodo sinoatrial 
e aparelho valvar. Em relação ao miocárdio, 
contrariamente ao que acontece em outros 
órgãos, com o passar da idade, há um aumen-
to no peso do coração e na espessura da pa-
rede ventricular esquerda. O nodo sinoatrial, 
no jovem, é constituído por células muscula-
res pequenas, fibras de tecido conjuntivo em 
quantidade moderada e fibroblastos. No ido-
so ocorreinfiltração de gordura, aumento do 
conjuntivo e diminuição das células muscula-
res. Nas valvas, as alterações são mais inten-
sas nas cúspides da mitral e nas válvulas da 
aorta. No idoso aparecem placas arteroes-
cleróticas, as cordas tendineas se espessam 
e o grau de esclerose aumenta.
h) Sistema respiratório
Os elementos que compõe a caixa toráci-
ca são muito importantes para a mecânica 
respiratória. Entre o esterno e as cartilagens 
costais há articulações sinoviais. Com o en-
velhecimento, elas desaparecem, os ele-
mentos ósseos e cartilaginosos se fundem. 
Nas cartilagens costais, muitos condrócitos 
degeneram, diminuindo seu número, as fi-
bras colágenas se espessam, o depósito de 
cálcio aumenta e a cartilagem fica mais rí-
gida. O manúbrio e o corpo do esterno são 
unidos por fibrocartilagem. Com a idade, ela 
pode desaparecer, unindo-se às duas partes 
ósseas.
Como a mobilidade da caixa torácica na 
respiração depende dessas articulações, as 
alterações citadas provocam importante di-
minuição em todo o sistema.
No pulmão, a superfície total alveolar 
mostra discreta diminuição com a idade. Há 
frequente presença de alvéolos dilatados 
em meio a outros normais, bem como fusão 
dos mesmos, formando cistos, devido à rup-
tura dos septos interalveolares. O conteúdo 
de elastina no pulmão aumenta com a idade, 
embora não esteja claro em quais partes do 
tecido.
i) Sistema digestivo
No tubo digestivo o epitélio escamoso es-
tratificado, na parte distal do esôfago, às ve-
zes, é substituído, com a idade, por epitélio 
colunar. Por ser resultado de repetidas des-
nudações epiteliais – pelo reflexo do ácido 
gástrico – há substituição das células parie-
tais no estômago e diminuição da superfície 
do jejuno. A musculatura do colo se espessa, 
e a musculatura da parede intestinal parece 
degenerar-se discretamente no idoso.
O peso absoluto do fígado diminui após os 
12 13
65 anos, ocorrendo, também, com o número 
de células; portanto sua função passa a não 
ter a mesma eficiência.
j) Sistema urinário
O fato mais evidente no envelhecimento 
anatômico do rim é a diminuição do número 
de glomérulos com aumento do tecido fibro-
so que os substitui. Porém, convém lembrar 
que cada rim necessita apenas de 25% do 
seu tecido original para funcionar normal-
mente. Em cerca de 75% dos idosos, a prós-
tata aumenta de volume, independente-
mente da ocorrência de enfermidades.
k) Sistema reprodutor
Na mulher, com o envelhecimento, os 
órgãos diminuem de peso e se atrofiam. A 
menopausa ocorre entre os 40 e 50 anos. 
A vagina diminui de comprimento e largura; 
seu revestimento interno normalmente tor-
na-se menos umidificado, atrófico, podendo 
favorecer a ocorrência de infecções. O tecido 
fibroso torna-se mais abundante, os cistos 
ovarianos são comuns e os vasos ficam en-
durecidos. O útero, aos 50 anos, pesa meta-
de do que aos 30, e sua elasticidade é perdida 
à medida que o tecido elástico é substituído 
por feixe de tecido colágeno fibroso. Os li-
gamentos que mantém o útero, bexiga e o 
reto em posição podem tornar-se fracos na 
mulher idosa, possibilitando-os cair. As glân-
dulas mamárias são substituídas por tecido 
fibroso, enquanto ocorre a perda do tecido 
gorduroso. Já os ligamentos que suportam 
as mamas tornam-se fracos, com isso elas 
ficam pendentes e flácidas. A quantidade de 
pelos púbicos gradualmente diminui, à se-
melhança do tecido adiposo na região.
No homem, as alterações nos órgãos re-
produtores masculinos são menos eviden-
tes. Embora o tamanho e o peso dos testí-
culos não diminuam necessariamente com 
a idade, as células da parede dos túbulos 
seminíferos, envolvidas na reprodução e nu-
trição dos gametas masculinos, tornam-se 
maiores e menos ativas. O número de esper-
matozoides cai à metade, mas a fertilidade, 
frequentemente, perdura até o extremo da 
vida. Glândulas, como as vesículas seminais 
e próstata, podem atrofiar-se, e a secreção 
de testosterona diminui sem ultrapassar os 
limites da normalidade. A túnica albugínea 
do corpo cavernoso do pênis diminui de es-
pessura com a idade, não ocorrendo o mes-
mo com o corpo esponjoso, permanecendo 
inalterável.
l) Sistema endócrino
O sistema endócrino é fundamental na 
ativação e modulação de diversos órgãos e 
sistemas. As alterações associadas ao pro-
cesso de envelhecimento são significativas 
na interpretação, resultantes de provas la-
boratoriais e de diversas queixas e sintomas 
apresentados pelos idosos. Existem alte-
rações importantes na produção, metabo-
lização e atividade biológica dos principais 
hormônios – relacionados às funções repro-
dutivas – ao metabolismo do cálcio e à regu-
lação homeostática da glicose.
3.2 Modificações funcionais
Fisiologicamente, o envelhecimento tem 
início no término da fase de desenvolvimen-
to e estabilização, perdurando por longo 
período – pouco perceptível – até que as al-
terações estruturais e funcionais tornam-se 
grosseiramente evidentes. As primeiras al-
terações atribuídas ao envelhecimento são 
detectadas ao fim da terceira década de vida.
Geralmente discretas e progressivas, as 
modificações não causam insuficiência ab-
soluta do órgão ou do aparelho. Há exceção 
12 13
de pelo menos dois órgãos, cujas funções 
declinam ou desaparecem em período relati-
vamente precoce: os ovários e o timo.
Nos demais sistemas, porém, ocorre uma 
diminuição da reserva funcional, compro-
metendo a capacidade de adaptação às mo-
dificações ao meio externo e/ou interno, 
prejudicando a eficácia dos mecanismos de 
manutenção da homeostasia. Tais mecanis-
mos compõem-se fundamentalmente de 
sensores, responsáveis pela detecção do 
desequilíbrio, centros reguladores, encarre-
gados da modulação da resposta, e efetores, 
capazes de executar as devidas correções. 
O processo natural de envelhecimento se 
acompanha de alterações no número de 
sensibilidade dos sensores, no linear de exci-
tabilidade dos centros reguladores e na efi-
ciência dos efetores. A quantidade de água 
corporal total declina, há o incremento do 
componente lipídico, diminuição do metabo-
lismo basal, alteração da tolerância à glicose, 
redução da síntese de aldosterona, concomi-
tante a um aumento da síntese de hormônio 
antidiurético.
Com tanto sobe e desce, as funções dos 
órgãos ficam desequilibradas, promovendo 
alterações significativas.
a) Alterações cardiorrespiratórias
O coração envelhece e, com isso, ocorrem 
alterações no fluxo sanguíneo. Em estado de 
repouso ou de mínima solicitação, as condi-
ções circulatórias do idoso saudável estarão 
perfeitamente adequadas à demanda. Mas, 
quando avaliamos a reserva funcional do 
aparelho cardiocirculatório do idoso, verifi-
camos que esta se encontra bastante limita-
da, em comparação aos 20 anos de idade. O 
fato se deve, principalmente, às alterações 
estruturais do miocárdio – reduzindo o volu-
me sistólico máximo – e ao já conhecido de-
clínio da frequência cardíaca máxima.
b) Alterações respiratórias
Com a diminuição da elasticidade pulmo-
nar, há uma menor capacidade de expiração, 
favorecendo o incremento do volume resi-
dual. Portanto, a capacidade ventilatória é 
alterada de maneira geral. Somam-se às al-
terações modificações musculoesqueléticas 
do arcabouço torácico. Daí fica fácil entender 
como um processo fisiológico pode ser res-
ponsável pela ocorrência de fenômenos pa-
tológicos, como a retenção de secreção brô-
nquica, e sua possível infecção.
c) Alterações renais
Em consequência das alterações na reser-
va funcional do sistema, o rim do idoso apre-
senta diminuição capacitativa de concentra-
ção e diluição urinária, de absorção de sódio 
e da excreção de radicais ácidos. Por isso, o 
idoso requer maior tempo para equilibrar o 
meio interno, em função da menor eficiência 
dos seus mecanismoscompensatórios.
A insuficiência renal não deve ser atribuí-
da pela senescência, porém, esta cria condi-
ções para que agressões pouco importantes 
aos jovens possam ser responsáveis por gra-
ves disfunções em idosos.
Não contradizendo um pouco o exposto 
sobre o envelhecimento ser individual, ele é 
um processo natural, absolutamente fisio-
lógico e caracterizado pela manutenção de 
quase todas as funções orgânicas, em condi-
ções habituais, com progressiva redução da 
reserva funcional dos órgãos e aparelhos.
Portanto, as disfunções encontradas nos 
idosos, devem ser interpretadas como fruto 
de excessiva demanda, imposta a um siste-
ma fisiologicamente incapaz de supri-la, ou 
pela existência de processos patológicos 
14 15
que, embora geralmente camuflados nesta 
faixa etária, merecem toda a atenção diag-
nóstica e terapêutica.
3.3 Alterações emocionais
A velhice para muitas pessoas também é 
uma triste coleção de perdas e limitações, 
que diminuem visão e audição, força e pre-
cisão manuais, robustez e flexibilidade, ra-
pidez na execução de tarefas, memória, 
imaginação, criatividade, adaptação, aten-
ção, energia, iniciativa e sociabilidade. Aquilo 
que é normal no idoso, seria deficiência no 
homem adulto. O idoso tenta justificar suas 
limitações através da doença. Para muitos é 
fácil acreditar que estão doentes e não ve-
lhos.
A velhice, esta anomalia normal, parece 
ser vivida no plano da saúde com um misto 
de indiferença e mal-estar. Afasta-se a ideia 
de doença invocando a idade, omite-se a no-
ção de idade invocando a doença e, nesse 
deslizamento, chega-se a não acreditar nem 
numa coisa nem noutra.
Além disso, as próteses dentárias, os ócu-
los, os aparelhos acústicos, as meias elás-
ticas e as cintas anti-hérnias, entre outras, 
dão ao velho a sensação de inautenticidade.
A sexualidade é também fonte de angús-
tias e contradições: para o homem é desejar 
sem ter como concretizar seu desejo, ao pas-
so que para a mulher, a quem a cultura mui-
tas vezes interdita a própria possibilidade do 
desejo, é chegar à velhice e não ser sequer 
desejada. Mas convém ressaltarmos que a 
idade não dessexualiza ninguém, apenas 
requer aceitação da mudança de padrões. 
Envelhecer deve ser a reinvenção criativa de 
si mesmo e a busca de novas fontes de satis-
fação.
O idoso, quando consciente de sua reali-
dade, não pode ter projetos, não se permite 
pensar num depois, já que o depois da ve-
lhice é a morte. Dessa forma, essa doença, 
que é a velhice, não oferece alternativas. 
Quase sempre, a única saída desse impasse 
é alienação ou enfermidade física (real ou 
imaginária) criando um falso depois; porque 
depois da cura restará a doença incurável – a 
velhice (VELASCO, 2006).
A cultura ocidental valoriza excessiva-
mente a capacidade de produção e consumo, 
retirando do idoso, que pouco produz e con-
some, seu significado e importância social. 
Mas precisamos entender que a velhice não 
é necessariamente uma experiência desas-
trosa, a não ser que se generalize o conceito 
que a idade adulta caminha para a senescên-
cia. O desejo de manter na velhice o desem-
penho e as aspirações da idade adulta é tão 
impróprio quanto este continuar vivendo em 
função de suas fantasias infantis. Apesar de 
todas as dificuldades de adaptação que o 
idoso pode enfrentar, a velhice não é neces-
sariamente uma perda. É, também, a possi-
bilidade de poder continuar desenvolvendo 
sua personalidade.
Existem também alterações cognitivas na 
velhice, mas ainda encontramos divergên-
cias entre os autores relacionadas à inteli-
gência e às perdas em algumas habilidades 
intelectuais. Pode-se fazer uma observação 
importante em relação à memória, pois os 
idosos são menos capazes de manipular e 
organizar de forma adequada a memória de 
curta duração, e apresentam certa deterio-
ração da lembrança. Em relação à linguagem, 
podemos afirmar que as habilidades verbais 
não deterioram com a idade, pelo contrário, 
muitos idosos têm algumas habilidades ver-
bais superiores as dos jovens.
Os idosos apresentam baixo desempenho 
14 15
em tarefas que requeiram iniciativa, contro-
le, planejamento e avaliação de comporta-
mentos complexos, apontando, assim, para 
um envolvimento do córtex frontal.
Apresentam também diminuição do de-
sempenho intelectual, memória, capacidade 
de resolução de problemas e percepção, ten-
do alguns parâmetros mais deteriorados que 
outros. Consequentemente, o desequilíbrio 
emocional se instala e a autoestima diminui.
Isso tudo poderá promover o adoecer 
psíquico do idoso, assim como as principais 
síndromes psiquiátricas: Síndromes Depres-
sivas, Mentais, Orgânicas, Delirantes, Neu-
roses, Distúrbios Ansiosos, Somatoformes 
e Dissociativos, Distúrbios pelo Uso de Subs-
tâncias Psicoativas e Distúrbios do Sono.
Além do fato de estarem sujeitos a múl-
tiplas variações que podem modificar subs-
tancialmente o desenvolvimento esperado. 
Torna-se, portanto, bastante difícil distin-
guir alterações fisiológicas da idade, de dimi-
nuição de atividade física, motivação, expec-
tativas sociais e a ocorrência de doenças.
Em relação ao desempenho psicomotor, 
os efeitos da idade são diferentes para os 
diversos sistemas do organismo, para cada 
indivíduo e cada tarefa. Alguns aspectos da 
função psicomotora mantêm-se inalterados, 
como a memória de longo prazo para ativida-
des motoras, enquanto outras, como deco-
dificação e seleção de resposta, deterioram. 
Velocidade de resposta e coordenação de 
movimentos também são, aparentemente, 
deteriorados com a idade. Sendo que, de 
acordo com Velasco (2006), todos esses ele-
mentos juntos nos dão uma fotografia (em 
branco e preto) da velhice e do processo de 
envelhecimento. 
16 1716
UNIDADE 4 - Avaliação Física / Antropo-
métrica no Idoso
Vimos frisando ao longo do curso que o 
aumento da expectativa de vida leva à ne-
cessidade de intervenção na população ge-
riátrica.
Hoje, sente-se a necessidade de dados 
específicos para esta população, pois no pro-
cesso de envelhecimento normal ocorrem 
alterações fisiológicas e biológicas que afe-
tam de modo geral a composição corporal do 
idoso. Entre estas podemos citar o aumento 
do tecido adiposo, a redução da massa mus-
cular e a redução da água corporal total.
Para uma adequada avaliação nutricional 
do idoso, os indicadores antropométricos 
são essenciais, mas para isto devemos tomar 
cuidados específicos e considerar as altera-
ções que ocorrem com o envelhecimento, a 
fim de não comprometer a determinação de 
um diagnóstico antropométrico preciso.
Nos idosos, a antropometria apresenta 
algumas limitações na aplicação dos méto-
dos, como também na interpretação dos re-
sultados, e é preciso lembrar que não existe 
um padrão ouro para avaliação nutricional do 
idoso.
Na prática clínica, as medidas antropomé-
tricas utilizadas na avaliação do estado nu-
tricional de idosos, por possuírem uma boa 
correlação com a composição corpórea dos 
indivíduos e ainda pela facilidade de aplica-
ção, baixo custo e fácil aquisição, são: esta-
tura, peso, circunferência da cintura, circun-
ferência do braço, pregas cutâneas tricipital 
e subescapular e circunferência muscular do 
braço. As medidas de peso, da circunferência 
do braço e da circunferência da cintura pre-
dizem tanto a massa muscular como o tecido 
adiposo, enquanto as pregas cutâneas trici-
pital e subescapular determinam a massa de 
gordura corporal.
Devido às alterações anatômicas asso-
ciadas à idade, que afetam a postura e a es-
tatura dos idosos, tais como: osteoporose, 
cifose dorsal, escolioses, arqueamento dos 
membros inferiores e do arco plantar, acha-
tamento dos discos de cartilagens entre as 
vértebras, a altura é uma medida de difícil 
aferição entre a população idosa.
a) Altura
Estudosapontam uma redução na altura 
com a idade, que se inicia por volta dos 40 
anos e torna-se mais acentuada com o avan-
çar do tempo. Enquanto alguns autores fa-
lam em decréscimo de 1 cm a cada década, 
Perissinotto et al. (2002 apud CABISTANI, 
2007) fala em 2 a 3 cm de decréscimo por dé-
cada de vida.
Para aferição da estatura, deve ser usa-
do um antropômetro. Os indivíduos devem 
estar descalços, de costas para o marcador, 
com os pés unidos, com os braços ao longo 
do corpo e em posição ereta, com a cabeça 
erguida, olhando para um ponto fixo na altu-
ra dos olhos. A leitura deve ser feita quando 
a haste horizontal da escala encostar na ca-
beça, e o indivíduo estiver no máximo de sua 
inspiração.
Na impossibilidade de o indivíduo postar-
-se na posição adequada, podemos utilizar 
medidas alternativas de estimativa de altura 
como a do comprimento da perna (altura do 
joelho ou Knee height) que apresenta boa 
correlação com a altura. Para a realização da 
altura do joelho (AJ), o indivíduo deve estar 
sentado ou deitado, com a perna flexiona-
da, formando um ângulo de 90° com o joe-
16 1717
lho (CHUMLEA et al., 1985 apud CABISTANI, 
2007). O instrumento utilizado para a reali-
zação desta medida pode ser do tipo estadi-
ômetro infantil, que deverá ter a parte fixa 
colocada embaixo do calcanhar e a haste es-
tendida até a base da cabeça da fíbula.
Recomenda-se também a utilização das 
equações de Chumlea para estimar a estatu-
ra a partir do comprimento da perna:
Homens: [2,02 x AJ (cm)] - [0,04 x idade (anos)] + 64,19
Mulheres: [1,83 x AJ (cm)] - [0,24 x idade (anos)] + 84,88
b) Peso
Quando utilizamos o peso como indica-
dor nutricional, devemos considerar que 
o mesmo representa a soma de todos os 
componentes corporais, refletindo, assim, o 
equilíbrio energético-proteico do indivíduo. 
Estudos têm demonstrado que os homens 
ganham peso até os 65 anos de idade, e que, 
a partir daí passam a perder, e as mulheres 
têm um ganho de peso até os 75 anos, só en-
tão iniciando a perda ponderal (GOING et al., 
1998 apud CABISTANI, 2007).
O peso é uma medida de simples realiza-
ção. Para a sua obtenção, o indivíduo deve 
estar com o mínimo de roupa possível e, des-
calço, posicionar-se em pé no centro da base 
de uma balança de plataforma ou eletrônica 
calibrada.
No caso de impossibilidade do idoso em 
posicionar-se na balança, é possível esti-
mar o peso corporal através da equação de 
Chumlea.
Homens: (0,98 x CP) + (1,16 x AJ) + (1,73 x CB) + ( 0,37 x PCSE) - 81,69
Mulheres: (1,27 x CP) + (0,87 x AJ) + (0,98 x CB) + (0,4 x PCSE) - 62,35
Esta equação apresenta limitações devi-
do à quantidade de medidas corporais que 
utiliza: comprimento da perna (AJ), prega 
cutânea subescapular (PCSE), circunferência 
do braço (CB) e circunferência da panturrilha 
(CP).
As variações do peso corporal, baixo peso, 
sobrepeso e obesidade são bons indicadores 
para diferentes patologias e estão relacio-
nados com aumento no risco de morbimor-
talidade. A perda de peso ou mudanças na 
composição corporal, verificada ou referida 
pelo idoso, devem ser sempre consideradas 
(GRANT et al., 2002 apud CABISTANI, 2007).
Para avaliarmos o percentual de perda de 
peso, utilizamos a fórmula:
Perda de peso (%) = (peso usual - peso atual) x 100 / peso usual 
Através do resultado obtido podemos ve-
rificar a perda de peso em relação ao tempo 
e a sua gravidade, como demonstra a tabela 
abaixo.
Tempo
Perda 
significativa 
de peso (%)
Perda grave 
 de peso (%)
1 semana 1-2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
18 19
Mesmo que a recomendação para avalia-
ção do estado nutricional do idoso seja o uso 
associado de medidas, esta forma de avalia-
ção pode ser aplicada em todos os níveis de 
assistência.
Os idosos que mantêm o peso constante 
ao longo do tempo podem apresentar um 
risco menor de serem acometidos por doen-
ças crônico-degenerativas do que as pesso-
as que engordam ou emagrecem, é o que su-
gere alguns estudos realizados com homens 
e mulheres idosos acompanhados por vários 
anos. Os pesquisadores sugerem, ainda, que 
estes deveriam ser monitorados cuidadosa-
mente.
c) Índice de massa corporal
Para o Índice de Massa Corporal (IMC) tam-
bém chamado de índice de Quetelet, deve-
mos utilizar o peso atual (em quilos) e dividir 
pela altura (em metros) ao quadrado. Este 
índice, apesar de ter uma boa relação com 
o peso e apresentar um bom parâmetro de 
avaliação do estado nutricional, no caso do 
idoso, ele deve estar associado a outros indi-
cadores, pois o mesmo não reflete as modi-
ficações na distribuição da gordura ocorridas 
no processo de envelhecimento (PERISSI-
NOTTO et al., 2002 apud CABISTANI, 2007). 
Para classificação do estado nutricional, 
segundo o IMC, utilizam-se os seguintes cri-
térios e diagnóstico nutricional, sugeridos 
por Lipschirz (1994 apud CABISTANI, 2007), 
como apresentado na tabela abaixo:
Estes pontos de corte para o IMC dife-
rem dos sugeridos pela OMS, em 1995, para 
a população adulta, com limites de eutro-
fia menores entre 8,5 kg/m2 e 25,0 kg/m2, 
permitindo uma intervenção precoce nas 
alterações do estado nutricional do idoso, 
que apresenta uma necessidade maior de 
reservas, prevenindo assim formas graves 
de desnutrição. Valores baixos de IMC no ido-
so geralmente estão relacionados a doenças 
graves como o câncer.
E, ainda, o IMC acima de 27 kg/m2 em ho-
mens e mulheres idosas pode estar relacio-
nado com a piora da glicemia, da insulinemia, 
do colesterol HDL e dos triglicérides.
d) Pregas cutâneas e circunferências
Medidas de pregas cutâneas podem for-
necer uma estimativa razoável da gordura 
corporal total, pois apresentam um bom pa-
râmetro para avaliação do tecido adiposo 
subcutâneo. Entretanto, estas medidas es-
tão sujeitas à variação inter e intraobserva-
dor e, por isso, seus avaliadores devem ser 
treinados sobre suas técnicas de aplicação e 
seguir protocolos de padronização dos pro-
cedimentos, a fim de que sejam minimizados 
os possíveis erros de aferição.
A utilização de medida das pregas cutâne-
as não é indicada caso o indivíduo apresente 
edema ou obesidade mórbida. Nos idosos, o 
processo de envelhecimento traz perda de 
água corporal, redução do tecido muscular 
e mudança na quantidade e distribuição da 
gordura subcutânea, ocorrendo diminuição 
da elasticidade e podendo, assim, modificar a 
compressibilidade do tecido conjuntivo e da 
gordura subcutânea. Isto pode levar a maior 
dificuldade na separação do tecido muscular 
e adiposo, interferindo na verificação das 
pregas cutâneas. Apesar disso, nos idosos, 
existe uma correlação significativa entre a 
quantidade total de gordura subcutânea e 
as pregas tricipital e subescapular.
Diagnóstico IMC (kg/m2)
Desnutrição <22,0
Eutrofia 22,0 a 27,00
Obesidade >27,0
18 19
A OMS recomenda o uso de padrões refe-
rências específico da prega cutânea tricip-
tal (PCT) de idosos, como as desenvolvidas 
pelo NHANES III (National Health and Nutri-
tion Examination Survey), conforme as duas 
tabelas a seguir, a partir de um estudo com 
uma amostra representativa de idosos.
Circunferência do braço, prega cutânea tricipital e circunferência muscular do braço 
para mulheres de 60 anos ou mais, avaliadas no NHANES III.
 Obs: Todos os grupos étnicos; °Erro-padrão: CB= circunferência do braço; PCT = prega cutânea tricipital; EMB= circun-
ferência muscular do braço.
Fonte: Kuczmarski et al. (s.d. apud CABISTANI, 2007).
Circunferência do braço, prega cutânea tricipital e circunferência muscular do braço 
para homens de 60 anos ou mais, avaliadas no NHANES III.
 Obs: Todos os grupos étnicos; °Erro-padrão; CB= circunferência do braço; PCT = prega cutânea tricipital; EMB= circun-
ferência muscular do braço.
Fonte: Kuczmarski etaI. apud CABISTANI, 2007).
20 21
A técnica empregada para a realização da 
medição das pregas cutâneas segue àque-
las descritas por Lonhan em 1991 (s.d. apud 
CABISTANI, 2007), como apresentamos a se-
guir:
Prega cutânea tricipital (PCT): a medida 
deve ser feita no braço não dominante, no 
ponto médio entre o acrômio da escápula e 
o olécrano da ulna (entre o ombro e o coto-
velo). O ponto médio deve ser obtido com o 
braço flexionado a 90°.
Com o braço relaxado e solto ao longo do 
corpo, separa-se levemente a prega do bra-
ço, desprendendo-a do tecido muscular; apli-
ca-se então o calibrador formando um ângu-
lo reto.
Prega cutânea subescapular (PCSUB): a 
espessura da PCSUB deve ser obtida 2 cm 
abaixo do ângulo inferior da escápula, obli-
quamente ao eixo longitudinal, seguindo as 
orientações dos arcos costais. O indivíduo 
deverá estar com os ombros e braços relaxa-
dos para a aplicação do calibrador.
Circunferência do braço (CB): a medida 
da CB representa o somatório das áreas que 
constituem o braço, e nos dá uma estimati-
va das reservas proteico-calóricas. Deve ser 
feita no ponto médio do braço não dominan-
te como descrito anteriormente para a me-
dida da PCT, utilizando-se uma fita métrica 
inextensível e flexível, e o resultado deve 
ser avaliado de acordo com os valores de re-
ferência apresentados, em percentis, nas ta-
belas apresentadas anteriormente.
Circunferência muscular do braço 
(EMB): a circunferência muscular do braço 
nos fornece uma estimativa das reservas 
proteicas do organismo, mas não utiliza a 
correção da área óssea, e é obtida através da 
CB e da PCT de acordo com a fórmula a seguir:
EMB(cm) = CB(cm) - TI x [ PCT(mm) 10]
Igualmente ao CB, os resultados devem 
ser avaliados de acordo com os valores de 
referência do NHANES III, como recomenda 
a OMS.
Área Muscular do Braço Corrigida 
(Ambc): a área muscular do braço corrigida 
também fornece uma estimativa das reser-
vas proteicas do organismo, só que descon-
tando a massa óssea, refletindo assim mais 
adequadamente o tecido muscular, e obtém-
-se através da seguinte fórmula:
Homens: AMB (cm2) = [ CB (cm) - π x PCT (mm) 10] – 10 / 4π
Mulheres: AMB (cm2) = [ CB (cm) - π x PCT (mm) 10)2 - 6,5 / 4π
Quanto o percentil >15 temos AMBc nor-
mal, enquanto percentil entre 5 e 15 temos 
uma desnutrição leve a moderada e percen-
til <5, um quadro de desnutrição grave.
Circunferência da Panturrilha: esta 
medida é um bom indicador das modifica-
ções que ocorrem na massa magra com o 
envelhecimento. Nos idosos é a medida mais 
sensível da massa muscular, de acordo com 
a OMS. A medida deve ser feita na maior cir-
cunferência da panturrilha entre o tornoze-
lo e o joelho, com fita métrica inextensível e 
flexível, com o joelho dobrado em ângulo de 
90°.
De acordo com a OMS 1995, valores me-
nores de 35 cm indicam perda de massa mus-
cular.
Circunferência da Cintura (CC): dife-
rentes estudos têm apontado a medida da 
circunferência da cintura como um dos me-
lhores indicadores antropométricos de gor-
dura visceral. E, ainda, têm demonstrado 
que a circunferência da cintura apresenta 
20 21
relação com várias alterações metabólicas, 
e é um bom preditor no desenvolvimento do 
diabetes, além de ser um fator de risco para 
doença cardiovascular. Para sua medida de-
vemos utilizar fita métrica flexível e inexten-
sível, colocada em plano horizontal na linha 
natural da cintura, no ponto médio entre a 
crista ilíaca e a última costela, e a leitura deve 
ser feita no momento da expiração.
Não existem parâmetros específicos des-
ta medida para idosos, por isto a OMS reco-
menda a utilização dos padrões estipulados 
para adultos como demonstrado na tabela 
abaixo:
Grau de risco associado a complica-
ções metabólicas de acordo com a cir-
cunferência da cintura por sexo
e) Bioimpedância elétrica (BIA)
A bioimpedância é um método que, de-
vido a sua precisão, a sua simplicidade e ao 
seu baixo custo, substitui na prática clínica 
os métodos mais sofisticados. O método da 
bioimpedância pode avaliar a quantidade de 
fluidos, de gordura e da massa magra corpo-
ral através da condutividade elétrica.
Existem estudos que demonstram uma 
boa correlação da BIA com outros métodos 
como diluição de radioisótopos e densitome-
tria. Para que se obtenha um bom resultado 
na aplicação do método, algumas orienta-
ções sobre alimentação, ingestão de líqui-
dos, medicações e exercícios físicos devem 
ser seguidas pelo paciente antes do teste 
(CABISTANI, 2007).
Para a realização da avaliação, o paciente 
deve estar em posição supina, com as pernas 
e os braços afastados em paralelo ao tronco. 
Os eletrodos devem ser colocados em locais 
específicos da mão e do pé no lado dominan-
te do corpo:
Na mão: o primeiro (M1) com a borda de 
corte do eletrodo em uma linha imaginária 
que divide a cabeça da ulna e que se inicia na 
protuberância óssea do punho, o segundo 
(M2), acima dos nós dos dedos da mão.
No pé: o primeiro (P1) com a borda de cor-
te do eletrodo em uma linha imaginária que 
divide os maléolos medial e lateral, o segun-
do (P2), acima dos nós dos dedos dos pés. Os 
valores da resistência e reactância obtidos 
são utilizados para os cálculos dos comparti-
mentos de acordo com o software do equi-
pamento.
Apesar do uso de métodos e equações va-
lidados para a estimativa da gordura corporal 
por BIA, não existe um padrão-ouro a ser uti-
lizado para os idosos.
 f) Raios - X de Dupla - Varredura (DEXA)
É um método não invasivo, rápido e preci-
so que vem se tornando uma medida popu-
lar na avaliação da composição corporal, em 
países desenvolvidos. Esse método permite 
a avaliação estrutural da composição corpo-
ral, dividindo a massa corporal em três com-
ponentes básicos: tecido macio livre de mi-
nerais e gordura, conteúdo mineral ósseo e 
gordura.
Existem três tipos de sistemas DEXA mais 
usados (Lunar DPX, Hologic e Norland) que 
apresentam diferenças em seus princípios 
físicos, na calibração e detecção da configu-
ração óssea e na de hardware e de softwa-
re, podendo por isto gerar variações nos re-
sultados do percentual de gordura, mesmo 
Sexo Aumentado (cm)
Muito 
aumentado 
(cm)
Masculino ≥94 ≥102
Feminino ≥80 ≥88
22 2322
quando os métodos utilizados forem os mes-
mos, mas os aparelhos diferentes.
Apesar das limitações na realização das 
medidas antropométricas nos idosos, a an-
tropometria ainda constitui uma maneira 
simples, barata e de fácil aplicabilidade na 
avaliação nutricional dos idosos e sempre 
que possível deve estar associada à avalia-
ção bioquímica e clínica, para uma melhor 
definição do diagnóstico nutricional do pa-
ciente idoso.
Embora nossa intenção não fosse mes-
mo estudar pormenores da avaliação física, 
uma vez termos profissionais específicos 
para tais avaliações, esperamos que tenham 
compreendido o quão largo é o universo de 
possibilidades para cuidarmos da saúde do 
idoso (CABISTANI, 2007).
22 2323
UNIDADE 5 - Avaliação Nutricional/ 
Dietética
Segundo Faustino Neto (2003), o grande 
desafio da sociedade é saber manter a saú-
de e a qualidade de vida de uma população 
em processo de envelhecimento. Uma boa 
alimentação e um estado nutricional ade-
quado beneficiam tanto o indivíduo idoso 
como a sociedade, já que a boa nutrição está 
associada a um menor grau de dependência 
e menor tempo de recuperação de doenças, 
diminuindo o uso de recursos da saúde.
Mais uma vez afirmamos que o aumento 
do envelhecimento mundial das populações 
gera maior necessidade em aprofundar a 
compreensão sobre o papel da nutrição na 
promoção e manutenção da independência 
e autonomia dos idosos, tornando-se ne-
cessário produzir informações nutricionais 
referentes ao grupo para começar a avaliar 
sua problemática específica eenfrentar os 
desafios da pesquisa no campo de nutrição 
e envelhecimento dentro das peculiaridades 
do país. (SAMPAIO, 2004; TAVARES; ANJOS, 
1999).
De acordo com Sampaio (2004), a avalia-
ção do estado nutricional do idoso é consi-
derada complexa em razão da influência de 
uma série de fatores, os quais necessitam 
ser investigados, detalhadamente, visando 
diagnóstico nutricional acurado, possibili-
tando uma intervenção nutricional efetiva. 
A ausência de uma rotina de avaliação nutri-
cional e incapacidade de distinguir diferen-
ças entre os sinais e sintomas de subnutri-
ção com os do envelhecimento, destacam-se 
como causas de subdiagnóstico nutricional 
nesta faixa etária.
Lauffer e Wierck (2007) também ressal-
tam as várias peculiaridades que afetam o 
consumo alimentar de indivíduos idosos e, 
consequentemente, o estado nutricional 
que devem ser levadas em conta juntamen-
te com a análise da ingestão alimentar. Al-
gumas são devido às alterações fisiológicas 
características do envelhecimento; enquan-
to outras, influenciadas pelas enfermidades 
presentes, como síndrome depressiva, ne-
oplasias e artrite reumatoide, denominadas 
anorexia patológica, bem como as relaciona-
das com a situação socioeconômica e a fami-
liar que não podem ser esquecidas em estu-
dos sobre a análise do consumo alimentar, 
seja qualitativos ou quantitativas.
Quanto aos fatores fisiológicos que inter-
ferem no estado nutricional, pode-se con-
siderar a diminuição do metabolismo basal 
associada à menor atividade, redistribuição 
da massa corporal, alterações no funciona-
mento digestivo, alterações na percepção 
sensorial e diminuição da sensibilidade à 
sede, interação entre drogas e nutrientes. 
Com exceção das duas primeiras, todas as 
outras podem interferir diretamente no con-
sumo alimentar, e, quando se analisa a inges-
tão alimentar com o objetivo de determinar 
a ingestão de nutrientes específicos de for-
ma quantitativa, as alterações fisiológicas 
secundárias ao envelhecimento podem se 
tornar cruciais, pois a quantidade do nutrien-
te ingerido pode não necessariamente estar 
sendo bem aproveitada pelo organismo do 
idoso.
As modificações intestinais, por exemplo, 
são observadas no idoso em função de um 
certo grau de atrofiamento da mucosa e re-
vestimento musculares que resulta na defi-
ciência de absorção de nutrientes, entre ou-
tras complicações. Quanto à sua absorção, o 
24 25
mais prejudicado parece ser o cálcio, em am-
bos os sexos, secundário, provavelmente, às 
alterações nos mecanismos de transporte.
Inclusive o crescimento bacteriano exces-
sivo no intestino pode ocorrer resultante da 
menor secreção ácida, interferindo, desse 
modo, na disponibilidade biológica dos nu-
trientes, podendo resultar em ação diminu-
ída dos sais biliares, má absorção de gordura 
e na diarreia. Estudos também vêm apontan-
do que, com a idade, pode ocorrer uma dimi-
nuição na capacidade de digestão e absorção 
de carboidratos.
Segundo o estudo desenvolvido pelo 
NHANES II (Second National Health and Nu-
trition Examination Survey, 1976-1980), que 
avaliou a dieta-padrão de adultos idosos (65 
a 74 anos) dos Estados Unidos, a análise de 
indicadores de qualidade da dieta foi inges-
tão calórica, grupos alimentares e a frequên-
cia, e número de refeições omitidas. O padrão 
dietético mais favorável foi associado com a 
convivência com seu companheiro, especial-
mente para os homens idosos. Os que viviam 
sozinhos e com baixa renda apresentaram 
alto risco de ingestão alimentar inadequada. 
Já as mulheres idosas, a renda foi mais for-
temente associada ao padrão dietético que 
com o aspecto de ter ou não um companhei-
ro. E, inclusive, pessoas idosas com perda da 
autonomia tendem a ter mais problemas nu-
tricionais que indivíduos saudáveis.
Existem vários métodos para avaliar 
o estado nutricional de idosos, sendo 
estes os principais segundo Brandão 
(2008):
a) Avaliação antropométrica: é essen-
cial para a avaliação nutricional, entretanto 
algumas alterações que ocorrem no envelhe-
cimento podem comprometer a determina-
ção de um diagnóstico antropométrico acu-
rado e preciso. Cita-se: Estatura e altura do 
joelho, Peso, IMC, Prega cutânea tricipital, 
subescapular e circunferência do braço, cir-
cunferência muscular do braço, área mus-
cular do braço corrigida, circunferência da 
panturrilha, circunferência da cintura, Bioim-
pedância elétrica e Raio X de dupla varredura 
(DEXA). (CABISTANI, 2007).
b) Avaliação dietética - inquéritos ali-
mentares: As peculiaridades que afetam 
o consumo alimentar do idoso e seu estado 
nutricional devem ser levadas em conta jun-
to com a análise da ingestão alimentar. Utili-
za-se o questionário de frequência alimen-
tar, história alimentar, registros alimentares 
e índices de qualidade global da dieta (LAUF-
FER; WIECK, 2007).
c) Avaliação bioquímica: os principais 
marcadores bioquímicos são divididos em 
duas categorias, a avaliação de massa mus-
cular corporal (índice creatinina-altura) e 
estado nutricional proteico (Albumina, pré-
-albumina, transferrina, hematócrito, hemo-
globina, ferritina) (MOULIN, 2007).
Como não existe um instrumento preciso 
para avaliação, é necessário uma abordagem 
conjunta de indicadores que possibilitem 
uma avaliação nutricional mais fidedigna. 
Entre os métodos que utilizam conjunta-
mente os componentes da avaliação clínica 
bioquímica, antropométrica da composição 
corporal e da ingestão dietética podemos 
citar a Avaliação Global Subjetiva (AGS) e a 
Mini avaliação Nutricional (MAN) (SILVEIRA; 
LOPES; CAIAFFA, 2007).
A AGS é um método simples, de baixo cus-
to, validado, podendo ser realizado rapida-
mente a beira do leito. Em estudo realizado 
com idosos utilizando a AGS, concluiu-se que 
este se trata de um bom método para avalia-
ção do estado nutricional de idosos e de fácil 
24 25
reprodução (BARBOSA SILVA, 2000; DUERK-
SEN et al., 2000 apud BRANDÃO, 2008).
Todos os métodos disponíveis têm suas 
vantagens e desvantagens, sendo impor-
tante avaliar previamente a fim de evitar 
problemas metodológicos na análise do con-
sumo alimentar.
Sobre os inquéritos alimentares, vale con-
siderar algumas especificidades na investi-
gação dietética, em pessoas idosas, dentre 
as quais se ressalta a ocorrência de enfer-
midades que comprometem a memória do 
indivíduo e, por conseguinte, a validade das 
informações obtidas.
Acrescente-se ainda que, em geral, a 
maioria dos idosos, no Brasil, tem um baixo 
nível de escolaridade, aspecto que exerce 
marcante influência na escolha do método e 
sua forma de aplicação, se autoadministrado 
ou por meio da técnica de entrevista.
Outra avaliação importante a ser consi-
derada em pesquisas de consumo alimentar 
com idosos é que eles têm um padrão ali-
mentar diferente que a contraparte mais jo-
vem. As características alimentares incluem 
alta frequência de consumo de alimentos 
étnicos ou tradicionais, tamanhos de por-
ções menores e maior organização: realizam, 
tradicionalmente, três refeições ao dia, as-
sim, é importante que esses aspectos sejam 
considerados tanto para avaliação de estado 
nutricional do idoso quanto para a escolha 
do método do inquérito alimentar mais apro-
priado a ser utilizado na pesquisa.
Com a finalidade de obter informações 
sobre o consumo alimentar em nível indivi-
dual, as metodologias podem ser classifica-
das conforme o período de tempo em que as 
informações são colhidas, portanto, o consu-
mo alimentar pode ser estimado mediante a 
aplicação de técnicas subdivididas em dois 
grupos:
1. Métodos prospectivos: utilizados para 
avaliar o consumo alimentar atual ou presen-
te (registros de alimentos e recordatórios).
2. Métodos retrospectivos: avaliam o 
consumo alimentar do passado imediato ou 
a longo prazo e são frequentementeadota-
dos para avaliar a ingestão habitual de gru-
pos específicos de alimentos e verificar a 
associação entre consumo alimentar e ocor-
rência de enfermidades (história dietética e 
questionário de frequência alimentar).
Tendo em vista que todos os métodos que 
avaliam o consumo alimentar são, em algum 
momento, imperfeitos, não existe padrão-
-ouro em nutrição. É importante também 
saber que o método escolhido pode avaliar 
a dieta habitual, definida como a média do 
consumo alimentar em um período de tempo 
determinado (meses ou anos), ou usual, que 
significa a média do consumo alimentar em 
curto período de tempo.
O Método Recordatório de 24 horas (R24h) 
consiste em recordar, definir e quantificar 
todos os alimentos e bebidas, consumidos 
no dia anterior (24 horas anteriores). É uma 
entrevista pessoal profunda conduzida por 
profissional treinado, podendo ser realizada 
também por telefone, ou autoadministrada.
São vantagens desse método:
 é sensível às diferenças culturais e des-
creve amplo número de alimentos e hábitos 
alimentares;
 é de rápida administração;
 não altera a ingestão do indivíduo ou o 
comportamento alimentar;
 se for aplicado de forma seriada, pode 
26 27
estimar a ingestão habitual;
 pode ser aplicado em qualquer faixa 
etária e em analfabetos;
 tem baixo custo;
 pode ser aplicado pelo telefone, o que 
dá a vantagem de o entrevistador não estar 
olhando diretamente para o entrevistado, 
que não se sente intimidado, mantendo o 
anonimato do mesmo.
Desvantagens:
 a qualidade da informação vai depender 
da memória e da cooperação do entrevista-
do e de um bom canal de comunicação;
 a habilidade de recordar de forma pre-
cisa o consumo de alimentos é influenciada 
pelas idades extremas, sexo e nível de esco-
laridade, entre outros fatores, como algum 
tipo de deficiência;
 não estima a ingestão habitual;
 existe dificuldade em estimar o tama-
nho das porções, o que pode ser minimiza-
do através de instrumentos utilizados como 
modelos, fotos e utensílios para orientar o 
entrevistado a estimar corretamente as por-
ções consumidas;
 pode ocorrer o fenômeno flat slope (fe-
nômeno de superestimar porções pequenas 
ou subestimar porções grandes).
O questionário de frequência alimentar 
(QFA) consiste em uma lista de alimentos e 
um espaço (categorias de frequência) em 
que o indivíduo responde com qual frequên-
cia os consome e sugere-se que tenha for-
mato de perguntas simples e fechadas, com 
5 a 10 opções.
A inclusão do tamanho da porção consu-
mida dentro do QFA vem sendo discutida e 
alguns autores não consideram esse tópico 
significativo para a validade do questionário. 
Portanto, o QFA pode ser apresentado na 
sua forma simples, sem porções dos alimen-
tos (de caráter qualitativo), ou com opção de 
uma porção-padrão baseada nas porções 
médias informadas pelos participantes nos 
recordatórios (por ex.: cinco unidades de bis-
coito salgado; dois pedaços de pizza).
São vantagens do QFA:
 não necessita entrevistador treinado, 
pode ser autoadministrado ou enviado pelo 
correio;
 tem baixo custo;
 é de rápida e simples aplicação e efi-
ciente;
 fornece informação global da ingestão 
alimentar por um período amplo de tempo;
 estima a ingestão habitual do indivíduo;
 classifica os indivíduos em categorias 
de consumo;
 minimiza a variação intrapessoal ao lon-
go dos dias.
Desvantagens:
 depende da memória dos hábitos ali-
mentares passados, o que pode se tornar 
uma limitação para idosos;
 o desenho do instrumento requer es-
forço e tempo;
 pode haver limitações em analfabetos;
 a validade pode ser testada a cada novo 
questionário;
 dificuldade para o entrevistador con-
forme o número e a complexidade da lista de 
alimentos;
26 27
 quantificação pouco exata.
Estudos mostram que a associação entre 
R24h e QFA é método de avaliação de fácil 
aplicação e acurácia na população idosa, que 
tendem a ter maior nível de iletrados, pouca 
memória, dificuldade de audição ou visão 
prejudicada, bem como outras populações 
semelhantes (LAUFFER; WIECK, 2007).
28 2928
UNIDADE 6 - Aspectos Psicológicos e 
Neurológicos
Que os problemas de saúde do idoso po-
dem ser graves já sabemos! Prejuízos re-
lacionados à visão, audição, demência são 
alguns dos problemas que podem compro-
meter seriamente a autonomia dos indivídu-
os, além de desencadear mudanças (tanto 
no indivíduo quanto no ambiente) em seus 
aspectos psicológicos, sociais, físicos e neu-
ropsicológicos.
6.1 Aspectos psicológicos 
O envelhecimento é um processo pro-
gressivo, com modificações morfológicas, 
fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que 
determinam a perda progressiva da capa-
cidade de adaptação do indivíduo ao meio 
ambiente, ocasionando maior incidência de 
processos patológicos, que terminam con-
duzindo- o à morte (BORGONOVI; PAPALEO 
NETTO, 2002).
De acordo com Aranha (2003), o homem 
envelhece de modo conforme àquele com 
que tenha vivido cada etapa anterior de sua 
vida e reage às angústias e dificuldades de 
cada uma delas geralmente da mesma for-
ma, valendo-se dos mesmos recursos.
Para Brandão et al (2002), as caracterís-
ticas psicológicas estão relacionadas com a 
hereditariedade, com a história e com a ati-
tude de cada indivíduo ao longo de sua vida. 
Assim, pessoas mais saudáveis e otimistas 
apresentam melhores condições de adapta-
ção às transformações trazidas pelo enve-
lhecimento.
Frequentemente, a identidade é constru-
ída a partir do corpo. A identidade do idoso 
origina-se do corpo simbólico, que encontra 
suporte no corpo real. À medida que o cor-
po real começa a sofrer modificações im-
portantes, pode acontecer um progressivo 
comprometimento da identidade, com risco 
de conflitos e dificuldades, que poderão ser 
tão mais importantes quanto tenha a pessoa 
desenvolvido sua personalidade baseada 
na imagem do seu corpo real. A relação com 
o corpo é uma expressão reveladora do re-
lacionamento do indivíduo consigo mesmo 
(CAVALCANTE, 2002). Assim, o “eu físico” 
pode ser um referencial importante da pró-
pria identidade da pessoa (ALBERTO, 1998).
Aspecto a ser também considerado é a 
vivência da sexualidade pelo idoso. A sexu-
alidade, forma de expressão pessoal, tem 
relevância na senescência, mas não deve ser 
vista como restrita entre a puberdade e a 
andropausa/menopausa (CANÇADO, 1994). 
Para os idosos, ela tem um grande significado 
físico e emocional. A satisfação na experiên-
cia sexual corresponde a uma boa qualidade 
de vida. Consequentemente, colabora com a 
intimidade e a comunicação entre homens e 
mulheres idosos (WEISSBACH-RIEGER, 1987 
apud SCHLINDWEIN-ZANINI, 2009).
A dimensão econômica também tem uma 
importância significativa na estabilidade 
psíquica do idoso. Nela se apoiam, em gran-
de parte, o conceito de liberdade e o direito 
de expressão – muito importantes para ele 
– que poderão manter e alimentar sua inde-
pendência e autonomia. O idoso normal não 
quer o isolamento, mas o círculo de amizades 
vai-se restringindo e as perdas são relevan-
tes. A primeira grande redução do campo so-
cial é a aposentadoria, principalmente para 
o idoso do sexo masculino (CAVALCANTE, 
2002).
28 2929
Segundo Oliveira, Pasian e Jacquemin 
(2001), no intuito de superar obstáculos, o 
idoso reorganiza sua existência às custas de 
determinados mecanismos defensivos, ob-
jetivando o alcance de uma nova adaptação 
psicossocial.
Sobre esses mecanismos, Keyes, Shmo-
tkin e Ryff (2002 apud SCHLINDWEIN-ZA-
NINI, 2009) comentam que a consciência do 
indivíduo da existência de um processo de 
constante deslocamento de metas em rela-
ção a objetivos mais elevados, favorece seu 
ajustamento e maturidade individual.
Queroz e Neri (2005) estudaram as re-
lações entre bem-estarpsicológico e inte-
ligência emocional em idosos, notando as 
influências de idade e nível de escolaridade 
nas combinações de bem-estar. Idosos com 
alto nível de escolaridade são provavelmen-
te mais prósperos na vida e têm melhor per-
cepção da qualidade de sua vida.
O termo maturidade, no contexto do de-
senvolvimento do adulto e do idoso, é usa-
do principalmente com três sentidos: cum-
primento de normas etárias de que o grupo 
dispõe para essas idades; alcance de uma 
qualidade ou virtude do ego; e indicador de 
saúde mental na meia-idade e na senescên-
cia (Neri, 2002 apud SCHLINDWEIN-ZANINI, 
2009). Por outro lado, há outras manifesta-
ções na faixa etária idosa.
Blay (1989 apud SCHLINDWEIN-ZANINI, 
2009) diz que a minoria dos indivíduos tem 
um envelhecimento patológico. Tanto que 
estudos indicaram uma prevalência de 15 a 
30% dos transtornos mentais nos idosos. 
Zimerman (2000) afirma que as alterações 
psicológicas podem ter como consequência:
 dificuldade na adaptação a novos pa-
péis;
 falta de motivação e dificuldade de pla-
nejar o futuro;
 necessidade de trabalhar as perdas or-
gânicas, afetivas e sociais;
 dificuldade na adaptação às mudanças 
rápidas;
 alterações psicológicas que exigem tra-
tamento;
 baixa autoestima e autoimagem distor-
cida;
 depressão, hipocondria, somatização, 
paranoia, suicídio.
É válido destacar que a qualidade de vida 
do idoso não depende apenas de sua idade, 
mas também da atitude das pessoas que o 
cercam, isto é, da estrutura emocional pro-
porcionada a ele. Duarte e Santos (2004) 
explicam que a ocupação e a sociabilidade 
influem na percepção do cuidado do idoso, 
apontando a família, os programas comuni-
tários e religiosos como as principais redes 
de suporte psicossocial. É válida uma inter-
venção psicoterapêutica que objetive ajus-
tar as relações sociais dos idosos com fami-
liares e amigos, possibilitando a formação 
de novas relações e atendendo à necessi-
dade de aprendizagem de um novo estilo de 
vida para que as perdas sejam minimizadas 
(BRANDÃO et al., 2002). Nesse sentido, são 
de suma importância iniciativas que levem o 
idoso a perceber que a senescência deve ser 
vivida plenamente.
Confiança e segurança são fundamentais 
para o equilíbrio psicológico do idoso, a fim 
de que ele possa sentir-se útil e amado, in-
tegrando um grupo social sólido e solidário 
(CAVALCANTE, 2002). Já que atitudes vincu-
ladas ao bem-estar do idoso estimulam au-
topreocupação, a autonomia, a autoestima 
30 31
e a sociabilidade, constituem práticas sociais 
preventivas em saúde mental (DUARTE; 
SANTOS, 2004).
6.2 Aspectos neuropsicoló-
gicos
O ingresso na faixa etária considerada ido-
sa traz muitas mudanças no ser humano. No 
caso do cérebro, ocorrem modificações mor-
fológicas. O cérebro do indivíduo idoso, em 
média, é menor e tem menos peso do que o 
de uma pessoa jovem. Alguns giros são mais 
finos e separados por sulcos mais profundos 
e abertos, resultando em menor espessura 
das regiões corticais. Nota-se diminuição do 
número de neurônios e sinapses, além da 
existência de sintomas psicológicos e físicos, 
como lapsos de memória, menor velocidade 
de raciocínio, episódios passageiros de con-
fusão, tremor, dificuldade de locomoção, in-
sônia noturna com sonolência diurna e falta 
de equilíbrio (LENT, 2001).
A demência (a ser tratada em maiores 
detalhes noutro módulo) é uma síndrome 
que se caracteriza pelo declínio da memó-
ria associado a déficit de, pelo menos, uma 
outra função cognitiva (linguagem, gnosias, 
praxias ou funções executivas) com intensi-
dade suficiente para interferir no desempe-
nho social ou profissional do indivíduo (Ame-
rican Psychiatric Association, 1994 apud 
SCHLINDWEIN-ZANINI, 2004).
Frequentemente, as manifestações ini-
ciais do comprometimento cognitivo leve 
amnéstico (CCL amnéstico) consistem em 
disfunção da memória de trabalho, geral-
mente leve, e em diminuição da capacidade 
de memória de curta duração. A redução da 
memória de trabalho obedece a perdas neu-
ronais no córtex pré-frontal; e a diminuição 
da capacidade de memória de curta duração, 
a perdas neuronais no hipocampo, no córtex 
entorrinal ou eventualmente parietal. É im-
portante lembrar que não se deve confundir 
amnésia senil com a tendência das pesso-
as idosas a relembrar memórias antigas em 
detrimento das mais recentes, já que há, 
muitas vezes, a preferência por evocar fatos 
da infância ou juventude, em que sentiam-
-se mais fortes, felizes e belos (IZQUIERDO, 
2002). Entretanto, deve-se considerar o fato 
de o sistema límbico, com suas memórias 
mais recentes, ser uma das regiões mais afe-
tadas pelo envelhecimento.
Caramelli e Barbosa (2002) apontam vá-
rias causas de demência, cujo diagnóstico 
específico depende de conhecimento das 
diferentes manifestações clínicas e de uma 
sequência específica e obrigatória de exa-
mes complementares.
As quatro causas mais frequentes de de-
mência são: a doença de Alzheimer (DA), a 
demência vascular (DV), a demência com 
corpos de Lewy (DEL) e a demência fronto-
temporal (DFT).
O primeiro sintoma da DA é o declínio da 
memória, sobretudo para fatos recentes 
(memória episódica), e a desorientação es-
pacial, aspectos cognitivos em boa parte de-
pendentes da formação hipocampal. A insta-
lação desses sintomas é insidiosa, com piora 
lentamente progressiva, apesar de que perí-
odos de relativa estabilidade clínica possam 
ocorrer. A partir da evolução do quadro, há 
o aparecimento de alterações de linguagem 
(destaca-se a anomia), distúrbios de planeja-
mento (funções executivas) e de habilidades 
visuoespaciais (KERTESZ; MOHS, 2001 apud 
SCHLINDWEIN-ZANINI, 2004). 
A DA é caracterizada por processo dege-
nerativo que acomete inicialmente a for-
mação hipocampal, com posterior compro-
30 31
metimento de áreas corticais associativas e 
relativa preservação dos córtices primários. 
Tal distribuição patológica faz com que o 
quadro clínico da DA seja caracterizado por 
alterações cognitivas e comportamentais, 
com preservação do funcionamento motor e 
sensorial até as fases mais avançadas da do-
ença. Na faixa pré-senil (antes dos 65 anos), 
os distúrbios de linguagem podem ser a ma-
nifestação predominante do processo de-
mencial, enquanto a sintomatologia psicóti-
ca (como ideias delirantes, especialmente de 
caráter persecutório, e alucinações) é mais 
frequente em pessoas mais idosas (CARA-
MELLI; BARBOSA, 2002).
O termo “demência vascular” (DV) refere-
-se aos quadros causados pela presença de 
doença cerebrovascular (DEV). É mais utili-
zado quando associado aos efeitos de gran-
des lesões tromboembólicas (demência por 
múltiplos infartos), mas inclui também os es-
tados lacunares e as lesões únicas em locais 
estratégicos (tálamo, giro angular esquerdo, 
núcleo caudado), demência associada a le-
sões extensas da substância branca (doença 
de Binswanger), angiopatia amiloide e de-
mência por acidentes vasculares cerebrais 
hemorrágicos (ROMAN et al., 1993 apud 
SCHLINDWEIN-ZANINI, 2004).
A DEL indica a ocorrência de um quadro 
demencial com flutuação dos déficits cog-
nitivos em questão de minutos ou horas, 
alucinações visuais detalhadas, vívidas e 
recorrentes e sintomas parkinsonianos, ge-
ralmente do tipo rígido-acinético, de distri-
buição simétrica. Duas manifestações são 
necessárias para o diagnóstico de DEL pro-
vável (MCKEITH et al., 1996 apud SCHLIN-
DWEIN-ZANINI, 2004). 
A maior predominância ocorre no sexo 
masculino, tendo manifestações compor-
tamentais importantes, como, por exem-
plo, alucinações (auditivas, visuais), delírio 
de identidade e distúrbios de memória (GIL, 
2002). A DEL tem um declínio cognitivo pro-
gressivo e interfere na capacidade funcional 
do indivíduo (funções executivas, capacida-
de de resolução de problemas

Continue navegando