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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ Camilo Sobreira de Santana GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS Sandro Luciano Caron de Moraes SECRETÁRIO DA SSPDS POLÍCIA CIVIL DO CEARÁ - PCCE Marcus Vinicius Sabóia Rattacaso DELEGADO GERAL DA PCCE ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE Antônio Clairton Alves de Abreu DIRETOR-GERAL DA AESP|CE Nartan da Costa Andrade SECRETÁRIO EXECUTIVO DA AESP|CE Humberto Rodrigues Dias COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE José Roberto Moura Correia COORDENADOR PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca Adeirla Freitas da Silva SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE Alana Dutra do Carmo ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO PARA ESCRIVÃO DE CLASSE C DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ - 2020 DISCIPLINA Estatística e Análise Criminal CONTEUDISTA José Aías de Sousa Silva REVISÃO Paulo Ramon Rodrigues Tavares FORMATAÇÃO Joelson Pimentel da Silva • 2020 • 3 SUMÁRIO ESTATÍSTICA E ANÁLISE CRIMINAL ...................................................................................... 4 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 4 UNIDADE I .......................................................................................................................... 6 1. FUNDAMENTOS DE ANÁLISE CRIMINAL.......................................................................... 6 1.1 Conceito de Análise Criminal ..................................................................................... 6 1.2 Tipos de Análise Criminal ........................................................................................... 8 1.3 Finalidade da Análise Criminal ................................................................................. 11 1.4 A Análise Criminal na Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS/CE) ........................................................................................................... 11 UNIDADE II ....................................................................................................................... 15 2. AS ESTATÍSTICAS CRIMINAIS E OS ESTUDOS PARA A REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE ..... 15 2.1 Conceitos Básicos ..................................................................................................... 16 2.2 Séries Estatísticas ..................................................................................................... 17 2.3 Apresentação dos Dados .......................................................................................... 19 2.4 Estatística Descritiva ................................................................................................ 22 UNIDADE III ...................................................................................................................... 22 3. OPERACIONALIZAÇÃO DA ANÁLISE CRIMINAL E COLETA DE DADOS ............................. 22 3.1 Modelo de Análise Criminal ..................................................................................... 24 3.2 Final da Análise ........................................................................................................ 26 3.3 Coleta de Dados ....................................................................................................... 27 3.4 Métodos de Abordagem .......................................................................................... 28 3.5 Especificidades da Análise Estatística na Segurança Pública ..................................... 29 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 34 4 ESTATÍSTICA E ANÁLISE CRIMINAL APRESENTAÇÃO A presente disciplina tem como escopo propiciar ao profissional de Segurança Pública o desenvolvimento de habilidades teóricas e práticas que auxiliem na compreensão de uma das ferramentas de valor bastante significativo para a tomada de decisão e execução tanto das políticas de Segurança Pública (nível macro) como a operacionalização das ações policiais (nível micro), a citar a Análise de Estatísticas Criminais. A utilização de dados estatísticos criminais, bem como o emprego de análises criminais qualitativas, vem fortalecendo o conhecimento científico dentro das instituições, contribuindo para uma maior profissionalização das ações preventivas e repressivas e adequando ainda mais os resultados obtidos ao principio constitucional da Eficiência da Administração Pública. Com isto, tem-se que a Análise Criminal é, genericamente, a coleta e análise de informação pertinente ao fenômeno da criminalidade. Por meio dela, grandes quantidades de dados criminais podem ser analisadas para detecção de padrões criminais; estabelecer correlações entre delitos e autores; determinar perfis de alvos e respectivos delinqüentes habituais e, mesmo, fazer previsões sobre fenômenos criminais. Tais informações, providas pelo analista, são utilizadas para o dimensionamento e posicionamento de recursos, bem como para a realização de ações gerais de gestão em relação ao patrulhamento e investigação policial, bem como para suporte às decisões estratégicas da organização. A moderna prática da Análise Criminal está hoje fundamentada no uso intensivo da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), nela incluídos os chamados aplicativos de estatística computadorizada e de sistemas de informação geográfica (Georreferenciamento), tendo como objeto de análise, coleções de dados organizados em bases agregadas. Por meio da análise das bases de dados agregados, é possível estabelecer relações entre várias categorias de dados e informações criminais, determinando padrões e tendências humanamente impossíveis de serem detectados manualmente. 5 Ante o exposto a presente disciplina tem como principais objetivos pedagógicos: 1. Apresentar a importância da Análise Criminal; 2. Descrever conceitos básicos de aplicações da Estatística Criminal e suas aplicações; 3. Apontar de forma panorâmica elementos conceituais e metodológicos da Estatística Criminal para fins de operacionalização da análise criminal; 4. Aprimorar o conhecimento sobre a existência e atuação dos principais órgãos de Análise Criminal pertencentes a estrutura da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará – SSPDS. Para isto, a presente apostila contará com 03 unidades de conteúdo, tendo ao final um referencial bibliográfico sugestivo para o aprofundamento e solidificação do aprendizado. Desta forma, antes de iniciar, oportuno é, fazer uma reflexão sobre a frase abaixo: https://cdn.pensador.com/img/frase/we/dw/w_edwards_deming_sem_dados_voce_e_apenas_mais_uma_pesso_ljj5jdp.jpg 6 UNIDADE I 1. FUNDAMENTOS DE ANÁLISE CRIMINAL 1.1 Conceito de Análise Criminal http://acgesp.blogspot.com/2010/07/o-futuro-do-geoprocessamento.html A Análise Criminal não se resume na apresentação de números absolutos de violência e criminalidade de uma determinada região para o conhecimento das autoridades ou gestores. Não se confunde Análise Criminal com Estatística. Enquanto a Estatística é o instrumento objetivo eficaz para coleta e sistematização de dados quantitativos, a Análise Criminal utiliza os recursos oferecidos por esta ciência exata para constituir uma metodologia voltada para a compreensão do fenômeno da criminalidade, de uma forma qualitativa, com vistas a articulação de esforços devidamente distribuídos e aplicados, no sentido de favorecer a tomada de decisões de forma eficaz, para a sua redução e controle. Conforme cita Gottlieb,1994 Traduzido e Adaptado por Dantas e Souza, 2004: “A análise criminalé entendida como um conjunto de processos sistemáticos direcionados para o provimento de informação oportuna e pertinente sobre os padrões do crime e suas correlações de tendências, de modo a apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento e distribuição de recursos para prevenção e supressão de atividades criminais.¨ 7 Assim, pode-se conceituar Análise Criminal como uma metodologia de produção de conhecimento, realizada através do conjunto de atividades de coleta, organização e interpretação de dados, buscando identificar a existência, o surgimento ou a evolução de padrões e tendências de crimes, objetivando subsidiar o planejamento estratégico e tático/operacional, a investigação criminal, e a pronta resposta dos demais órgãos vinculados à segurança pública no combate à criminalidade. Isto posto, cumpre afirmar que a Análise Criminal estabelece uma visão critica sobre os frios dados numéricos coletados, suscitando assim do analista um conhecimento teórico muitas vezes interdisciplinar com destque sociológico, para uma compreensão mais técnica do fenômeno que se está verificando, pois a simples observação dos resultados estatísticos finais podem ofuscar uma compreensão mais complexa da realidade que está por trás destes números (fatores sociodemográficos, espaciais, temporais entre outros). Desta forma, ao se escolher o fenômeno criminal para fins de análise, é imprescindível que após a quantificação da análise, tenha-se sequencialmente a análise qualitativa da amostra coletada; Tal procedimento viabilizará sua utilização em diversas circunstâncias, tais como na prevenção criminal, redução de crime e desordem, prisão de criminosos e avaliação de eficácia e efetividade de ações policiais ou políticas públicas. 8 Análise criminal, na moderna doutrina de inteligência policial, pode ser conceituada como uma metodologia de produção de conhecimento; incorpora técnicas da atividade de inteligência associada com a tecnologia da informação, com propósito de apoiar a área operacional e de gestão administrativa das organizações policiais, orientando o planejamento e a aplicação de recursos humanos e materiais no sentido da prevenção e repressão do fenômeno da criminalidade e da violência (Ferro, 2008). Seguem abaixo, algumas correspondências estabelecidas de atividade relacionadas com análise criminal por Gottlieb (1994): Análise Criminal: quem está fazendo o quê contra quem? Análise de Inteligência: quem está fazendo o quê junto com quem? Análise de Operações: como a organização está utilizando seus recursos? Análise Investigativa: por que alguém está fazendo tal coisa? 1.2 Tipos de Análise Criminal Podemos destacar três grandes caminhos no trabalho de produção de conhecimento voltado para a segurança pública, a saber: Análise Criminal Estratégica – ACE http://4.bp.blogspot.com 9 Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas influências no longo prazo. Dente seus principais focos estão: Formulação de políticas públicas; Produção de conhecimento para redução da criminalidade; Planejamento e desenvolvimento de soluções; Interação com outras secretarias na construção de ações de segurança pública; Direcionamento de investimentos; Formulação do plano orçamentário; Controle e acompanhamento de ações e projetos; Formulação de indicadores de desempenho. Seu principal objetivo é trabalhar identificação das tendências da criminalidade. Análise Criminal Tática – ACT http://www.sinpol-ma.com.br Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e suas influências no médio prazo. Essa vertente estuda o fenômeno criminal visando fornecer subsídios para os operadores de segurança pública que atuam diretamente “nas ruas”. Nesse sentido, o conhecimento é utilizado pelas polícias ostensivas e investigativas. Dentre seus principais focos estão a: 10 Produção de conhecimento para orientar as atividades de policiamento nas atividades preventivas e repressivas. Produção de conhecimento para subsidiar a polícia investigativa nas soluções das ocorrências criminais, principalmente na busca da autoria e materialidade dos delitos. Seu principal objetivo é trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais. Análise Criminal Administrativa – ACA. http://1.bp.blogspot.com Trata-se da atividade de produção do conhecimento voltada para o público alvo, ou seja, sua atividade assemelha a de um editor chefe que seleciona os assuntos que serão divulgados para cada cliente. Dentre seus principais focos estão: Fornecimento de informações sumarizadas para seus diversos públicos – cidadãos, gestores públicos, instituições públicas, organismos internacionais, organizações não-governamentais, etc.; Elaboração de estatísticas descritivas; Elaboração de informações gerais sobre tendências criminais; Comparação com períodos similares passados; e Comparações com outras cidades similares. 11 Seu principal objetivo é trabalhar as estatísticas criminais de forma descritiva. 1.3 Finalidade da Análise Criminal Conforme os conceitos acima se pode afirmar que a finalidade da Análise Criminal, de uma forma abrangente, é estabelecer correlações para detecção de padrões criminais, como, data, hora e característica do local onde ocorre o crime, perfil das vítimas de interesse aos criminosos, perfil dos autores, modus operandi, dentre outros fatores significativos que podem contribuir para identificação de um padrão de uma determinada atividade criminosa. Ou seja, a depender do foco de estudo a análise é feita em cima do delito, delinqüente, vítima ou controle social. Havendo para cada ator social inúmeras teorias criminológicas que poderão auxiliar o analista criminal na compreensão dos fenômenos observados, estabelecendo assim uma cientificidade para a teorização dos resultados e uma melhor coerência teórica para as ações que possam ser sugestionadas ou executadas. Os resultados dessa análise são imprescindíveis para a atividade de polícia, pois favorecem a tomada de decisões, o planejamento estratégico e operacional, possibilitando uma melhor distribuição de recursos materiais de servidores, direcionando as operações especiais de unidades táticas e de operações preventivas, subsidiando, assim, o desenvolvimento das ações de segurança pública com vistas à redução dos índices de violência e de criminalidade. 1.4 A Análise Criminal na Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS/CE) Criada pelo Decreto nº 32.796 de 30 de agosto de 2018 a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança pública do Estado do Ceará – SUPESP constituiu um fortalecimento da produção de conhecimento criminal no Estado do Ceará, avançando de forma centralizada e institucional agora em nível de secretaria de estado. A padronização de métodos de coleta e análise de dados da criminalidade, reorganizou um arcabouço informativo à disposição dos diversos atores sociais que queiram se apropriar destas 12 informações e assim contribuírem para a construção de soluções para a Segurança Pública do Estado. Com isto, Integrando a estrutura da Secretaria da Segurança Pública do Estado do Ceará - SSPDS a SUPESP vem sendo responsável pela coleta dos diversos dados criminais extraídos de diversas fontes, entre estas estão os relatórios confeccionados pelas vinculadas da SSPDS (PMCE, PCCE,CBMCE e PEFOCE) além de fontes institucionais congruentes aos trabalhos da área de segurança pública. O capítulo II do referido decreto apresenta as finalidades e características deste órgão, conforme recorte abaixo: CAPÍTULO II DA MISSÃO INSTITUCIONAL,DA COMPETÊNCIA E DOS VALORES Art. 2º A Supesp tem como missão realizar pesquisas, estudos, projetos estratégicos e análise criminal para o fortalecimento da formulação das políticas de segurança pública, competindo-lhe: I - realizar estudos para subsidiar a elaboração, acompanhamento e avaliação das políticas públicas de prevenção à violência e contribuir na formulação de estratégias para a segurança pública e para o Pacto por um Ceará Pacífico; II - produzir, analisar e disponibilizar estatísticas e informações relacionadas à segurança pública do Estado, referentes a: a) construção e manutenção de banco de dados; b) estudos sociodemográficos e territoriais relacionados à segurança pública; c) estudos setoriais especiais; d) estudos conjunturais; e) mapas socioeconômicos criminais; f) modelos criminais; g) estratégias de desenvolvimento de ações de combate ao crime; h) anuário estatístico de segurança pública; i) indicadores criminais; j) estudos geoespaciais; k) cálculo de indicadores socioeconômicos criminais; III - assessorar o Governo Estadual no acompanhamento e desenvolvimento das políticas setoriais relacionadas à segurança pública; IV - desenvolver e disponibilizar metodologias e técnicas de concepção, elaboração, monitoramento e avaliação de políticas voltadas para diminuição do crime; V - prestar consultoria técnica em assuntos relacionados à segurança pública a outros órgãos e entidades da administração estadual e dos municípios; VI - contratar diretamente com órgãos e entidades públicas ou privadas serviços técnicos e estudos, quando forem necessários para auxiliar as atividades de sua 13 competência, respeitada a legislação pertinente; VII - manter intercâmbios e parcerias, celebrar diretamente termos de cooperação e instrumentos congêneres com órgãos e entidades nacionais e internacionais; VIII - celebrar diretamente convênios com órgãos federais e estaduais para recebimento de recursos financeiros destinados ao exercício de suas competências; IX - pesquisar práticas de sucessos que possam contribuir para o desenvolvimento de ações e estratégias de segurança pública, promovendo a competente divulgação das ideias e práticas; X - auxiliar as forças policiais com estudos e trabalhos específicos relacionados com o planejamento e opções de ações estratégicas, táticas e operacionais de segurança pública; XI - produzir, analisar e disponibilizar estratégias para apoio investigativo policial à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social; XII - realizar estudos de custo-benefício dos investimentos na área da segurança pública. (https://www.jusbrasil.com.br/diarios/206591539/doece-31-08-2018- pg-1) Compondo a estrutura orgânica da SUPESP, tem-se a Assessoria de Análise e Estatística Criminal da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social a qual trabalha diretamente com os diversos relatórios produzidos pelos órgãos de segurança pública. Todavia, esses relatórios começaram a ser produzidos somente no ano de 2010, quando da criação da Central de Estatística e Análise Criminal da SSPDS. Anteriormente, realizava- se apenas o levantamento estatístico descritivo pelos órgãos de segurança pública utilizando as bases de dados do SIP 3W (Sistema de Informações Policiais da Polícia Civil, Dados da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança, da Coordenadoria Médico Legal, da Coordenadoria de Perícia Criminal, do Comando de Policiamento do Interior Norte e Sul). Hoje, verifica-se o desenvolvimento da Análise Criminal também em Delegacias de Polícia e Especializadas em suas áreas específicas, para diagnóstico da situação de uma determinada natureza criminal ou da violência geral de uma determinada cidade ou área geográfica. Com relação às unidades circunscricionais, essa necessidade justifica-se pelo fato dos policiais estarem mais próximos da comunidade, conhecendo seus anseios, seus problemas, principalmente aqueles relacionados com a segurança, com condições de desenvolver a análise da criminalidade local ou de uma determinada natureza criminal 14 com maior riqueza de detalhes, auxiliando a tomada de decisões, planejamento de operações e direcionamento de investigações. Sabe-se que muitos crimes que ocorrem em uma determinada comunidade não chegam ao conhecimento das autoridades por falta do registro da ocorrência. É aí mais uma razão para a análise criminal ser fomentada para as para as Delegacias Circunscricionais, o que representaria para os dirigentes das unidades policiais, informações jamais alcançadas através de números frios retirados do bojo das ocorrências policiais registradas. Análise criminal envolve números, pesquisas de campo, entrevistas, observação de comportamentos, e outros dados importantes para a definição de padrões de atividades criminosas e correlação de tendências, favorecendo o desenvolvimento de ações no sentido de combater a criminalidade e até impedir o aumento da prática de uma determinada natureza criminal. Relatório de análise criminal produzidos pela Assessoria de Análise Estatística e Criminal (AAESC – SSPDS) Os relatórios de análise criminal são produzidos pela Assessoria de Análise Estatística e Criminal da SSPDS (AAESC) e tem como finalidade apresentar a situação da criminalidade em nosso Estado, Região Metropolitana, Cidade de Fortaleza, demais municípios do Ceará, Áreas Integradas de Segurança, Áreas circunscricionais, Bairros de Fortaleza e de outras cidades, mostrando, por exemplo, tipos de criminais, pontos quentes de criminalidade, comparativos entre períodos temporais, áreas de criminalidade, dados com faixa horária, faixa etária, dias com maior incidência, etc. Sendo também desenvolvidos relatórios com análise de padrões e tendências de algumas naturezas criminais, tais como: homicídios, latrocínios (roubo seguido de morte), roubos a bancos, apreensões de armas, tráfico de entorpecentes, roubos em geral, “seqüestro relâmpago”, roubos a estabelecimentos comerciais, roubos a coletivos, etc, trazendo informações de suma importância para o desenvolvimento de ações especificas no combate a certos tipos de crimes que se correlacionam, sendo estas informações repassadas por meio de solicitações ou por meio de reuniões semanais, quinzenais e mensais na SSPDS. 15 Figura 01 – Tela do SIP3W – Sistema de Informações Policiais / PC. UNIDADE II 2. AS ESTATÍSTICAS CRIMINAIS E OS ESTUDOS PARA A REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE http://veja.abril.com.br 16 As estatísticas criminais têm como objetivo levantamento de dados e/ou informações relacionadas ao cometimento de delitos específicos, em um determinado período em uma determinada área, a fim de se obter correlações para elaboração de análises para servir de orientação aos gestores quanto ao planejamento, execução e redirecionamento das ações do sistema de segurança pública, contribuindo para uma melhor distribuição dos recursos materiais e humanos, bem como combater a criminalidade que atinge a área estudada. A análise de estatísticas criminais em prol da segurança pública é um processo sistemático de produção de conhecimento, realizado a partir do estabelecimento de correlações entre fatos delituosos ocorridos (constantes de boletins de ocorrências policiais) e padrões e tendências da criminalidade num determinado tempo e lugar. 2.1 Conceitos Básicos População: É um conjunto de indivíduos ou objetos que apresentam pelo menos uma característica em comum. Censo: É uma coleção de dados relativos a todos os elementos de uma população. Amostra: É uma coleção de dados relativos a uma parte da população que representa. É utilizada quando os custos são muito elevados ou por impossibilidade de se levantar toda a população. Variáveis: São objetos que servem para guardar informações e permitem dar nomes a cada uma das partes dainformação que queremos guardar, ou seja, são características que são medidas, controladas ou manipuladas em uma pesquisa. 17 Estatística descritiva: São técnicas analíticas utilizadas para resumir e apresentar os dados de uma pesquisa, visando descrevê-las. 2.2 Séries Estatísticas Constitui uma coleção de dados estatísticos referidos a uma mesma ordem de classificação, ou seja, uma seqüência de números que se refere a certa variável. Três são os fatores básicos que a constituem: época – fator temporal ou cronológico que se refere ao fenômeno analisado; local – fator espacial ou geográfico onde o fenômeno acontece; e fenômeno – espécie do fator que é descrito. Citamos aqui, três tipos de séries estatísticas: Série temporal (cronológica, histórica, evolutiva ou marcha): Identifica-se pelo caráter variável do fator cronológico. FONTE: SIP/CIOPS/CPI/PEFOCE/GEESP/SUPESP/SSPDS. Série geográfica (territoriais, espaciais ou de localização): Identifica-se pelo caráter do fator local/geográfico, conforme imagem a seguir. 18 FONTE:Atlas da Violência 2020, p.21 Endereço: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/08/atlas-da-violencia-2020.pdf Acesso em: 15/10/2020 Série Específica (categoria ou por categoria): Identifica-se pelo caráter variável do fator fenômeno. 19 Quadro 1: Síntese dos Tipos de Séries Estatísticas SITUAÇÃO TEMPORAL GEOGRÁFICA ESPECÍFICA Parte Variável Época Local Fenômeno Parte Fixa Local e fenômeno Época e fenômeno Época e local 2.3 Apresentação dos Dados Uma vez que os dados foram coletados, muitas vezes o conjunto de valores é extenso e desorganizado e seu exame requer atenção, pois há risco de perdemos a visão global do fenômeno analisado. Para que não ocorra é interessante reunir os valores em tabelas, gráficos ou mapas, facilitando sua compreensão. Construção de tabelas Um dos objetivos da construção de tabelas é sistematizar os valores que uma ou mais variáveis podem assumir, para que tenhamos uma visão global de sua variação. Desta forma, tabela é uma maneira de apresentar resumidamente um conjunto de dados. Abaixo, mostramos os elementos de uma tabela. Elementos da tabela TÍTULO DA TABELA – conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às perguntas: O que? Quando? E Onde? Localizado no topo da tabela, além de contar a palavra “TABELA” e sua respectiva numeração. CORPO DA TABELA – é o conjunto de linhas e colunas que contem informações sobre variável em estudo. A substituição de uma informação da tabela pode ser feita pelos seguintes sinais: (...) informação é coletada, mas não está disponível; (-) informação não coletada e (?) quando temos dúvida da validade da informação. RODAPÉ – elementos complementares da tabela: a) Fonte: identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados numéricos, b) Notas: é o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo da tabela, e C) Chamadas: símbolos remissivo atribuído a algum elemento de uma tabela que necessita de uma nota especifica. 20 Exemplo: Tabela 4 – Ocorrências de Furto no Ceará em 2020. Área Integrada de Segurança Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Total AIS 1 559 365 190 120 141 193 180 169 202 2.119 AIS 2 123 119 104 73 87 110 94 90 98 898 AIS 3 146 151 147 107 97 170 169 201 163 1.351 AIS 4 565 466 332 145 133 384 394 445 444 3.308 AIS 5 515 383 281 203 189 339 327 268 250 2.755 AIS 6 249 225 200 145 155 231 230 196 226 1.857 AIS 7 199 254 166 156 134 196 131 199 191 1.626 AIS 8 72 66 60 45 57 70 66 70 58 564 AIS 9 127 138 104 91 85 116 110 117 133 1.021 AIS 10 179 161 159 115 135 165 178 165 159 1.416 2.734 2.328 1.743 1.200 1.213 1.974 1.879 1.920 1.924 16.915 FONTE: SIP/CIOPS/CPI/PEFOCE/GEESP/SUPESP/SSPDS. Construção de gráficos A construção de gráficos atende as mesmas finalidades da construção das tabelas, representar os resultados de forma simples, clara e verdadeira, demonstrar a evolução do fenômeno em estudo e observar a relação dos valores analisados. A disposição dos elementos é idêntica à das tabelas: Elementos do Gráfico TÍTULO DO GRÁFICO – conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às perguntas: O que? Quando? E Onde? Localizado no topo da tabela, além de contar a palavra “GRÁFICO” e sua respectiva numeração. CORPO DO GRÁFICO – é a representação gráfica da análise efetuada. RODAPÉ – elementos complementares da gráfico: a) Fonte: identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados numéricos, b) Notas: é o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo do gráfico, e C) Chamadas: símbolos remissivo atribuído a algum elemento do gráfico que necessita de uma nota especifica. 21 Na figura abaixo extraída de um dos Relatórios da Gerência de Estatística e Geoprocessamento da SUPESP disponibilizados no site da SSPDS podem-se visualizar alguns tipos de gráficos, cuja função, permite uma melhor compreensão da informação contida, estabelecendo uma apresentação visual acessível ao público que dele tem acesso, acompanhada da devida cientificidade dos dados analisados. Outrossim, Segue abaixo os devidos conceitos destes gráficos: Gráfico de Colunas: construção de retângulos dispostos verticalmente, separados por um espaço.(Ver Gráfico 02) Gráfico em Setores: representação através de um círculo, por meio de setores, sendo muito utilizado quando pretendemos comparar cada valor de uma série com o seu total - proporção. (Ver Gráfico 03) Gráfico de Linhas ou Curvas: utilizado principalmente para representar séries temporais. (Ver Gráfico 01) FONTE: Indicadores da criminalidade 2020. 22 Além destes há o Gráfico de Barras definido como um conjunto de retângulos dispostos horizontalmente, separados por um espaço, assemelha-se ao gráfico de colunas visualmente diferenciado por este posicionamento horizontal. 2.4 Estatística Descritiva A análise descritiva envolve técnicas para organizar, resumir e descrever os dados de uma pesquisa. Apresentamos, a seguir, os parâmetros mais usados para descrever os dados de segurança pública. Distribuiremos estes parâmetros em cinco grupos: Parâmetros para comparação Relativa (razão, proporção, percentagem), Distribuição de Freqüência, Medidas de Tendência Central (média, moda, mediana), Medidas de Dispersão (amplitude, variância, desvio padrão) e Análise de Correlação (coeficiente de correlação). UNIDADE III 3. OPERACIONALIZAÇÃO DA ANÁLISE CRIMINAL E COLETA DE DADOS A operacionalização da Análise Criminal envolve a formulação de um quadro de compreensão sobre o problema analisado, buscando identificar suas causas. Esse quadro é responsável por criar os subsídios necessários para o processo de tomada de decisão quanto às estratégias adotadas para solucionar o problema. De acordo com fatores determinantes da incidência da criminalidade, estudaremos as correntes mais importantes na estruturação do trabalho a ser feito pelo analista criminal, e a metodologia de coleta, análise e interpretação dos dados apresentados. Um trabalho de Análise Criminal pode ser usado à abordagem a ecológica, que é a tentativa de se fazer um mapeamento para visualizar a distribuição espacial de um determinado fenômeno, que apresenta como correntes teóricas, as seguintes: Teoria das Atividades Rotineiras, que é aquela no qual o cálculo racional do agente ofensor, possui três elementos básicos: ofensor motivado, alvo disponível e ausência de 23 guardião. Na escolha racional, Felson (1997) argumenta que a vítima tem um papel importante na determinação da circunstânciado crime e que a identificação dos fatores ambientais facilitam a ação criminosa, sendo a vulnerabilidade da vítima determinada principalmente pela vigilância capaz de conter o crime, modelo: Os princípios da escolha racional são utilizados na construção da cena do crime, no qual são estruturas surpresa no meio físico e essas se relacionam tanto às situações e exposição da vítima como as oportunidades de ação do criminoso. Em suma o infrator busca o menos esforço para a escolha mais obvia para sua ação delituosa. A segunda teoria é a dos Lugares Desviantes, ou seja, só as características das populações não conseguem, por si só, explicar a variação das taxas de crime entre as diferentes regiões, sendo necessário levar em conta as condições físicas delas. Segundo Stark (1987), existem cinco aspectos que caracterizam as áreas urbanas com lugares desviantes: densidade demográfica; pobreza; mistura do tipo de utilização da área urbana; variação na composição da vizinhança e a degradação da área urbana. Sendo que a conjugação desses fatores leva a quatro processos sociais diferentes: cinismo moral entre residentes de uma mesma área; aumento nas oportunidades de crime; aumento na motivação para a ação desviante e diminuição no controle social. Esta teoria propõe uma forma de analisar com uma reunião desses quatro processos irá resultar no aumento de pessoas e atividades desviantes para uma região e num aumento da intensidade do grau de desvio dessas atividades. 24 A terceira teoria e a da Desorganização Social – Segundo Shaw e Mckay (1942) propõem que existem três principais fatores estruturais relacionados com a criminalidade: baixo status sócio-econômico; heterogeneidade étnica e mobilidade residencial. Esses padrões levam à concentração de desvantagens sociais em certas comunidades, sendo isto observado com efeito de concentração, resultante do conjunto de oportunidades e limitações usufruídas pelos residentes de uma região em termos de acesso a empregos, escolas de qualidade, famílias estruturadas e exposição a modelos de papéis sociais convencionais. O efeito de concentração cria barreiras estruturais e culturais que enfraquecem a ordem social e o controle sobre a atividade criminosa na sociedade. A quebra da estrutura familiar, o desemprego dos homens e a maior presença das mulheres com chefe de família, estão ligadas à presença da criminalidade independente da renda, raças, região, densidade populacional, desemprego, privação econômica, etc. O conceito de Desorganização Social está ligado à incapacidade de uma comunidade de garantir a realização de valores comuns de seus membros, resultando na incapacidade de realizar um controle social efetivo. Pobreza, heterogeneidade, anonimato, descrédito mútuo e instabilidade institucional impedem a comunicação entre os membros de uma comunidade, intensificando o processo de diversificação cultural e obstruindo o processo de formação de valores comuns e de identidade no grupo. 3.1 Modelo de Análise Criminal PREVENÇÃO DE HOMICÍDIOS DOLOSOS http://flitparalisante.files.wordpress.com 25 O que fazer quando se está inserido em uma situação onde a região está marcada por alta incidência delituosa de homicídios dolosos? Inicia-se com o processo de caracterização de um problema em termos de tempo e espaço dos contextos de maior incidência. No caso, homicídios dolosos, é importante identificar onde ocorre o maior número de homicídios, identificando as áreas – bairros, ruas – os se concentram essas incidências. Para uma melhor qualificação devem-se buscar as horas, dias da semana, tipo de arma utilizada, característica do agressor, etc. 1 - Identificação do número de homicídios dolosos em Fortaleza. Elaboração de uma distribuição de freqüência dos homicídios dolosos de janeiro a março na cidade de Fortaleza. Tabela 1 – Distribuição de freqüência de homicídios dolosos em Fortaleza (Janeiro a abril de 2020). MÊS / 2020 OCORRENCIAS PERCENTUAL Janeiro 151 32 % Fevereiro 121 26 % Março 128 27 % Abril 58 15 % Total 458 100 % Fonte: Elaborada pelo autor. 2 - Identificação do bairro com maior incidência. Elaboração de uma distribuição de freqüência dos homicídios dolosos de janeiro a abril de 2020. Tabela 2 – Distribuição de freqüência de homicídios dolosos nos 05 bairros de maior incidência (janeiro a abril de 2020). BAIRRO OCORRÊNCIAS PERCENTUAL Jangurussú 30 32 % Ancuri 18 20 % Cajazeiras 18 20 % Bom Jardim 14 14 % Barra do Ceará 14 14 % Total 94 100 % Fonte: Elaborada pelo autor. 26 3 - Identificação do horário de maior incidência. Elaboração de uma distribuição de freqüência dos homicídios dolosos de janeiro a abril de 2020. Tabela 3 – Distribuição de freqüência de homicídios dolosos nos 05 bairros de maior incidência (janeiro a abril de 2020). HORARIO OCORRENCIAS PERCENTUAL 00:00 às 06:00 14 14 % 06:01 às 12:00 10 10 % 12:01 às 18:00 09 09 % 18:01 às 23:59 61 67 % Total 94 100 % Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 4 – Distribuição de freqüência de homicídios dolosos por dia da semana (janeiro a abril de 2020). HORARIO OCORRÊNCIAS PERCENTUAL DOMINGO 70 15 % SEGUNDA 52 11 % TERÇA 20 04 % QUARTA 52 10 % QUINTA 71 16 % SEXTA 62 15 % SÁBADO 131 29 % Total 458 100 % Fonte: Elaborada pelo autor. 3.2 Final da Análise Ao final da execução da análise, verifica-se que, do total de 663 homicídios dolosos em Fortaleza, em janeiro houve o maior índice sendo de 151 homicídios, no qual o bairro do Jangurussú apresentou uma incidência de 30 registros no período de janeiro a abril de 2020, mostrando assim que as forças policiais proativas devem ser deslocadas principalmente para estes bairros. Relacionado ao horário e bairro de maior incidência percebeu-se que 67 %, ou seja, 61 registros ocorreram no horário compreendido 18h01 e 23h59, levando aos gestores desta área a efetuarem uma distribuição do efetivo para uma maior prevenção deste tipo criminal, e por fim percebemos que o dia da semana de maior atendimento de homicídios foi o sábado, e percebe-se sutilmente que a variação 27 semanal cresce a medida que se aproxima o final de semana. De acordo com a análise acima, pode-se complementar as informações de acordo com os dados constantes dos registros, verificando ainda, tipo de infrator, se adulto ou menos de idade, causas das mortes, ou seja, por tráfico de entorpecentes, rixa, dívidas de drogas, crimes passional, mas uma análise só se torna efetiva se depois dos levantamentos necessários se faça a devida divulgação aos órgãos ou gestores responsáveis para a utilização desta análise criminal. 3.3 Coleta de Dados http://4.bp.blogspot.com Estudaremos alguns métodos de abordagem dos fenômenos sociais que podem ser utilizados para a elaboração de diagnósticos da segurança pública e monitoramento de resultados das ações e políticas. Cabe destacar que um método não exclui outro. Muitas vezes é preciso combiná-los, pois cada um possui vantagens e limitações; a combinação possibilita que completem. 28 3.4 Métodos de Abordagem http://1.bp.blogspot.com A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens. Para cada uma das abordagens há algumas técnicas de análise especificas, segue abaixo: Métodos de abordagem Técnicas de análise Observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real. Análise de conteúdo, o estudo de caso e análise de dados secundários. Criar situações artificiais e observar o comportamento antes das tarefas definidas para as situações. Avaliação de impacto (laboratórios). Perguntar às pessoas sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram). Survey (questionário) e estudo de caso. Fonte: SENASP / MJ. Análise de conteúdoAlguns tópicos de pesquisa são suscetíveis de documentos, como romances, poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências, etc. As informações trazidas pelos documentos são sistematizadas buscando a existência de semelhanças. Mas este método apresenta algumas desvantagens: o tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida apropriada da questão ou fenômeno a ser estudado e a análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade. 29 Estudo de caso Envolve a descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação social. Num estudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo de informações possíveis sobre o tema. Se o estudo é sobre comunidade, você aborda a sua história, seus aspectos religiosos, políticos, econômicos, geográficos, composição racial, etc. Em suma, você procura a descrição mais abrangente e tenta determinar as inter-relações lógicas dos seus vários componentes. Enquanto na maioria das pesquisas busca-se o conhecimento abrangente de um só caso. Já no estudo de caso existe a participação do observador, podendo o mesmo na prática informar ou não, pois esta decisão tem importantes implicações metodológicas e éticas, se este admitir que está realizando o estudo, pois este pode afetar diretamente o fenômeno que pretende estudar. Com o estudo de caso, a observação participante busca colher informações muito detalhadas. Análise de dados secundários A realização de pesquisas cientificas não envolve, necessariamente, a coleta e análise de dados originais (pesquisa de campo). Alguns tópicos de pesquisa podem ser estudados analisando dados já coletados e compilados. A análise dos dados secundários tem a grande vantagem de economia. O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas, codificações, recrutamento de sujeitos experimentais, etc. A principal desvantagem do método é que o pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados por outros, que podem não representar adequadamente a questão que lhe interessa. 3.5 Especificidades da Análise Estatística na Segurança Pública Elencamos abaixo problemas comuns de análise de dados destacados por Túlio Kahn que levam a interpretações imprecisas das estatísticas de segurança pública. 30 1) Sazonalidade: A passagem do tempo não é linear, pois implica em mudanças climáticas, alteração das atividades sociais e econômicas, favorecendo ou inibindo a ocorrência de determinados crimes. Em outras palavras, existem diversas situações e fatores ligados ao calendário anual que explicam porque a criminalidade sobe ou desce, sistematicamente, em certos momentos. No verão, os dias são mais longos e as pessoas vão mais às ruas, aumentando as oportunidades para o cometimento de crimes; nas férias, as pessoas viajam e deixam as casas desprotegidas, facilitando os arrombamentos; também aumentam nas férias, os mortos em acidentes em estradas. A recomendação é, sempre que possível, comparar períodos de tempo equivalente: comparação entre anos inteiros ou entre mesmos períodos de meses de dois ou mais anos. 2) O problema da unidade de análise: É um fato conhecido na criminologia que um grupo pequeno de locais é responsável por uma proporção grande dos crimes que ocorrem na sociedade. Trata-se do fenômeno da concentração espacial do crime, determinada por características sócio-demográficas, geográficas, econômicas e históricas dos locais – aqui entendidos como bairros, cidades ou Estados. É falacioso comparar as taxas de criminalidade de um bairro com as de uma cidade, de uma cidade com as de um Estado, de um Estado com as de um país, pois as unidades são bastante desiguais. A recomendação é que se busque sempre comparar apenas unidades territoriais que sejam equivalentes administrativamente; rua com rua, bairro com bairro, delegacia de polícia com delegacia de polícia, Estado com Estado, etc, e sempre que possível com características sociais, econômicas e culturais semelhantes. 3) A escolha do período base de interpretação: Dependendo do crime que se escolha e do período usado com base para a comparação, pode-se tanto “provar” que a criminalidade está caindo como o contrário, dependendo da interpretação. Por isso, a seleção do período base é uma questão de grande importância e, em sua escolha, devem-se considerar dois aspectos: A) Deve-se tomar como base um período “normal”, onde os valores não sejam nem altos nem muito baixos. Se o período base tomado for atípico, o crime poderá estar superestimado ou subestimado nos meses de comparação; 31 B) Deve-se tomar um período base não muito distante do período de comparação. É difícil estipular a priori quão próximo ou distante deva este período, pois esta escolha depende, entre outros fatores, da escala e do tamanho da série temporal. O melhor guia aqui é o bom senso, ou então a utilização de algum marco simbólico, como mudanças de administrações, ou alguma outra data que represente um evento marcante. 4) Cálculos de porcentagens e taxas com bases muito pequenas: É freqüente encontrarmos manchetes alardeando aumentos elevados no percentual de crimes, que foram baseadas em números absolutos pequenos, transmitindo uma sensação de insegurança que nem sempre condiz com a realidade. Embora não seja obrigatória, uma regra de etiqueta estatística recomenda cautela no cálculo percentual se a base for inferior a 100 casos e precaução redobrada com números absolutos inferiores a 30. Quanto maior a base, menores as oscilações percentuais. 5) Tomar dados de notificação de crimes com se fossem o universo dos crimes. As estatísticas oficiais estariam corretas se todos os cidadãos vitimados relatassem às autoridades os crimes de que foram vítimas, mas a experiência em diversos países, desenvolvidos ou não, revela que isto raramente ocorre. A propensão por parte das vítimas em notificar o crime sofrido varia com uma série de fatores e circunstâncias, relacionadas às percepções da vítima, ao sistema policial ou ao tipo de crime e do bem roubado. Assim, é possível que o aumento da estatística de determinado crime esteja refletindo um aumento de “notificação”. Medidas como a criação da Delegacia da Mulher, da Delegacia da Criança e do Adolescente, Delegacia do Idoso, Delegacia do Estudante, do Boletim de ocorrência pela Internet, do termo de ocorrência preenchido pela polícia militar rodoviária, podem implicar num incentivo à notificação do crime, o que é algo positivo, mas que pode aparentar um aumento da criminalidade que não ocorreu. Por esta razão, antes de interpretar inequivocadamente o aumento dos índices de criminalidade como aumento de crime, é preciso levantar que mudanças foram feitas que podem estar refletindo apenas um aumento na notificação de crimes. 32 6) Atividade policial: A magnitude dos indicadores de atividade policial de resultados (veículos recuperados, armas aprendidas, prisões, apreensão de drogas, flagrantes delito, etc) varia com a quantidade de crimes. Por isso, esses indicadores devem ser vistos, quando possível, em relação aos crimes, pois quanto mais crimes, maior probabilidade de que a polícia consiga mais flagrantes, mais entorpecentes, mais cargas e veículos recuperados. Se analisarmos do ponto de vista de sua magnitude absoluta, estes indicadores podem ser enganosos. Por exemplo, se o volume absoluto de veículos roubados está caindo, é claro que o volume absoluto de veículos recuperados também cairá. Aqui o correto é verificar qual porcentagem de veículos recuperados sobre o total de veículos roubados e furtados. 7) Certos indicadores refletem simultaneamente atividade policial e fenômenos criminais: Quando os homicídios aumentam ou caem, temos forte convicção de que realmente o indicador está refletindoo fenômeno retratado, pois a notificação é elevada e o homicídio não varia bruscamente pela ação policial. Por outro lado, apreensões de entorpecentes ou de armas de fogo têm uma interpretação ambígua: quando aumentam, pode ser tanto porque há mais drogas e armas circulando quanto porque houve um aumento da atividade policial relacionada à repressão destes crimes. Em outras palavras, estatísticas relacionadas a entorpecentes, armas, contravenções, crimes de trânsito e várias outras podem ser “positivas” quando estão aumentando, se o aumento for reflexo da intensidade do trabalho policial. 8) Diferenças conceituais entre as estatísticas de homicídio da Segurança Pública e outros órgãos. A respeito da discrepância verificada entre os números de homicídio divulgados por diferentes instituições da área de segurança pública e saúde, cabe esclarecer que: A) Cada instituição usa uma fonte e tem uma metodologia própria de coleta e análise dos dados. Desta forma, os dados sempre conterão diferenças, pois algumas instituições utilizam como fonte primária seus dados de homicídio, a declaração de óbito, enquanto outras têm como fonte o Boletim de Ocorrência; 33 B) Na esfera da saúde, a preocupação está em identificar a natureza da morte do ponto de vista sanitário, enquanto na segurança a preocupação é de natureza jurídica e criminológica. Assim, na declaração de óbito, poderá constar como causa básica da morte “perfuração do abdome por objeto contundente”, sendo classificado como homicídio. Já pelo Boletim de ocorrência, dependendo da situação, poderá ser classificado como: homicídio doloso, homicídio culposo, latrocínio, auto de resistência a prisão, morte a esclarecer, suicídio, lesão corporal seguida de morte ou lesão corporal grave (pois naquele momento a vítima ainda não havia morrido); C) Por fim, resta esclarecer que a declaração de óbito utiliza o endereço de residência da vítima, enquanto o Boletim de Ocorrência, o endereço da ocorrência. Assim, se a vítima mora em um lugar, mas morre em outro, num local se contabilizará um homicídio a menos e em outro um a mais, dependendo da fonte. 9) Identificação de tendências: Para que possamos falar com algum grau de confiabilidade sobre uma tendência de aumento ou queda de um indicador, é aconselhável verificar se existem pelo menos três observações consecutivas na mesma direção, de preferência usando séries “estacionárias”, isto é, descontados os efeitos sazonais e outros. Quanto maior o número de observações consecutivas na mesma direção, maior a certeza de que se está realmente diante de uma tendência. 10) População flutuante e pendular: Alguns municípios, principalmente os turísticos, ou alguns bairros – nas áreas centrais e comerciais das cidades – sofrem com o problema da elevada população flutuante ou pendular, que faz com que durante os finais de semana e verões, ou durante o horário de trabalho, circulem pelo local uma quantidade de pessoas muito maior do que aquela que reside no local. No momento de calcular por 100 mil habitantes para estes locais específicos frequentemente se esquece que o denominador de base é de fato muito maior, pois deve incluir a população flutuante. Não apenas a população, mas também a frota de veículos pode ser flutuante ou pendular, de modo que é preciso levar em conta o tamanho da frota ao analisar a incidência de roubo e furto de veículos. É preciso atentar finalmente para o fato de que alguns crimes – tais como maus tratos, tortura, lesão corporal e homicídios – crescem em determinadas localidades devido à concentração de presídios ou unidades com criança ou adolescentes infratores, locais com grande número de pessoas e onde é comum o 34 cometimento de crimes. 11) Hierarquização de cidades, bairros e outros rankings: Quando estatísticas são divulgadas, muitas entidades – jornais, agências de turismo, e outros grupos com interesse em crimes – utilizam-se para compilar rankings de cidades e Estados. Vale destacar que estes rankings não possuem nenhuma percepção sobre muitas variáveis que moldam o crime numa cidade ou região em particular. Com os dados acima, percebemos que estas hierarquizações levam a interpretações simplistas ou incompletas da realidade, que frequentemente criam percepções enganosas que afetam negativamente algumas cidades e seus residentes. O leitor, por conseguinte, deve ser alertado para evitar comparar dados estatísticos apenas com base no tamanho da população. Sem examinar todas as variáveis que afetam o crime num determinado local, o usuário do dado pode fazer comparações bastante errôneas. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. V.; PEIXOTO, B. T. Cost Effectiveness of violence programs in Brazil. Washington: World Nank Report, n. 36525, junho, 2006. ATLAS DA VIOLÊNCIA : 2020. Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP): IPEA, 2020- . 2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/atlas-da- violencia-2020/. Acesso em: 12 out. 2020. CERQUEIRA, D; LOBÃO W. Criminalidade: Social vesus Polícia. Texto para Discussão IPEA, Rio de Janeiro: n. 958, jun 2003. CERQUEIRA, D. Causa e consequências do crime no Brasil. 2014. Tese (Doutorado) – Departamento de Economia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. CLARKE, R. e ECK, J. Crime Analysi for Problem Solvers In 60 Small Steps. 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